Far From Home
Escrita por Amanda A.
Eu a conheci no segundo ano da faculdade. Não que eu nunca tenha reparado no seu jeito maluco e ao mesmo tempo espontâneo. Eu não me lembro de algum dia tê-la visto sem um livro nas mãos ou debaixo dos braços, e aposto que dentro da sua mochila deveria ter pelo menos uns cinco livros de assuntos diferentes. Como eu disse, eu já havia reparado nela antes. Tivemos algumas aulas juntos, mas nunca fui além do que alguns olhares, que às vezes sem querer se encontravam com os dela. Porém, nunca vou esquecer do dia que realmente a conheci.
Era época de Halloween. O centro acadêmico preparou uma grande festa à fantasia que prometia virar a noite. Praticamente todos iriam. Eu não vou dizer que a esperava encontrá-la ou que observei suas atividades nas redes sociais, pois estaria mentindo. Eu não esperava que iria conhecê-la de verdade naquela noite. Tudo isso que aconteceu já faz um tempo e agora escrevo para guardar comigo, além de muitas outras coisas, como uma música que eu escrevi em um momento de completa insanidade. Eu sabia que se ela lesse, ela iria gostar tanto disso, quanto da música. dizia coisas que apenas um maluco poderia não acreditar. Eu era maluco, mas não desse tipo.
frequentava todas as aulas com o meu melhor amigo, . Ele estava sempre comentando sobre o quão adorável ela poderia ser e o quão inteligente ela era, mas ele também dizia que ela sabia ser sarcástica, o que condizia com toda a imagem que eu tinha dela, baseando única e exclusivamente em suas feições durante uma aula qualquer do primeiro ano. Não me surpreendi quando chegou acompanhado dela. Eu já havia reparado em antes, mas quando ela chegou apenas com um vestido preto colado ao seu corpo, eu só pude pensar “Uau. Como nunca havia a conhecido antes?” A sua imagem daquela noite é uma das poucas coisas que vale a pena guardar na minha cabeça para sempre: era linda.
- Oi - disse , batendo com força suas mãos nas minhas costas, fazendo com que eu tirasse minha atenção dela, que estava fantasiada de gata, com belos bigodes em suas bochechas rosadas. - Posso saber quem é você, meu querido?
- Eh…
- Parece algo meio Mick Jagger dos anos 70. - abriu um sorriso, aproximando-se para depositar um beijo na minha bochecha, movimentando-se rápido demais. Já ali era difícil acompanhá-la. - Oi, meu nome é . Mas pode me chamar de Townes.
- Townes? - perguntei, retribuindo o abraço. O perfume dela ficou ao meu redor, mesmo depois que ela se afastou de mim. Ela sorriu mais uma vez, quase timidamente, antes de responder:
- Sim, é como minha avó me chama. E eu gosto. Tem uma sonoridade bacana.
- Será que podemos parar de falar de elementos de análise literária? Só quero esquecer um pouco a vida universitária. Alguém quer algo para beber?
Mas àquela altura eu já não queria prestar atenção em . era interessante demais para me desviar de seus olhos.
- Eu aceito uma cerveja - ela disse, voltando-se para e tocando seu braço.
- Meu nome é . - falei, querendo chamá-la de volta para mim, não sei o que me deu naquela noite, mas eu queria a atenção dela para mim. Eu ainda lembro da sensação.
- Eu sei. fala muito de você - e ela riu, lançando um olhar para mim antes de segurar no braço do meu amigo e sair com ele, em direção às bebidas, deixando-me sozinho. Se soubesse o efeito entorpecente que causou em mim naquela noite, ela não teria ido embora.
[...]
- Pare de olhar para ela dessa maneira, cara. Ela vai achar esquisito. - disse, puxando meu braço e fazendo com que minha atenção se desviasse dela.
- Você acha esquisito?
- Eu não. Não tenho nada com ela. Vá fundo! - riu, despejando mais um pouco do conteúdo da garrafa em seu copo. Já passava da meia-noite e passava um tempo com suas amigas, depois de ter ficado quase horas conversando comigo e meu amigo, mais um pessoal que acabou se amontoando. poderia até achar esquisito, mas não sabia se podia dizer o mesmo dela, já que toda vez que eu a observava, recebia seu olhar em troca.
- E se ela me rejeitar? Acho que eu choro. - brinquei, mas por um lado era sério. Se eu recebesse um 'não' de , a noite acabaria para mim. Talvez a noite seguinte também.
- Você é o . Toda essa faculdade já ouviu falar de você, garotas sussurram seu nome nos corredores. Você já foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter. - riu e eu dei um empurrão nele, bebendo mais alguns goles da minha bebida. - A verdade é que é impossível dizer não a você!
- Céus, . Ela é tão incrível. Você viu que ela citou literatura russa? E depois falou uns nomes alemães difíceis sem ser chata! Eu não consigo parar de pensar nela desde quando ela chegou com aquele vestido preto e… Uau. Nessa noite morna de outubro, ela é tudo que eu consigo pensar.
O sorriso do desapareceu e logo entendi porque.
- Hum. Parece que alguma menina conseguiu, enfim, chamar a atenção de . - Era . Senti logo seu perfume e um arrepio correu meu corpo.
[...]
- Aqui diz que um ônibus passa daqui alguns minutos.
- Podemos perder esse ônibus.
- Assim como perdemos os outros dois antes desse?
- Não quero sair daqui. Você quer?
- Não.
- Bom, então temos ótimos desculpas para perder também os próximos dois.
respirava com calma, mas conseguia sentir seu coração batendo rápido em suas costas, encostadas contra meu peito. Seu cabelo ocupava um grande espaço em mim, assim como seu cheiro, que já permanecia em mim por uma semana inteira. A festa estava em seu ápice quando nos entregamos aos beijos. Não fiz cerimônia depois que ela me ouviu falando dela. riu e não demorou muito para que aceitasse a atração que crescera entre nós. Durante toda a semana que se passou desde a festa, ela fora minha. Passávamos a maior parte do tempo fora da faculdade juntos, e mais da metade desse tempo na cama.
Ela era intensa. E sabia disso.
Naquela altura, a música que escrevi sobre ela já estava pronta. Não que eu tenha tocado para ela, muito menos tocado no assunto. Era uma coisa minha e ao mesmo tempo era ela quando não estávamos juntos. Eu não estava apaixonado, nem estava. Mas aquilo que tínhamos era bom e ela não podia negar que gostava.
Era a terceira noite que ela passava na minha casa.
- Sabe, ? Você me lembra um pouco minha casa na minha cidade, com minha família. No meu canto mesmo. É aconchegante.
- Isso é bom?
- Claro que é. - Ela se virou em minha direção e deixou uma mão acariciando meu rosto, aproximando-se para me beijar. Me inclinei em sua direção, facilitando para ela. Eu amava seus beijos.
Não sei classificar o que tivemos. Não chegamos a namorar, nem a fazer declarações melosas um para o outro. Vivemos assim por um tempo, conciliando a faculdade com nosso não-namoro. Talvez, pensando melhor, estivéssemos mesmo apaixonados um pelo outro, mas não queríamos acreditar nessa verdade tão velada. E foi assim que as coisas esfriaram e tudo ficou só na lembrança e no cheiro dos meus lençóis. Mas ainda havia a música. Meses passaram. Eu a encontrava nos corredores e ela logo abria um grande sorriso. quem se afastou e eu aceitei. Não devia ter deixado ela partir assim. Agora, vejo que ela poderia ter sido minha por muito mais tempo do que foi. Mas já passou, não é? Às vezes cantava a música para mim. Tentei gravar diversas vezes e na iminência de mandar para ela, eu desistia. Do que adiantaria? No fim, ela escutou a música, mas anos depois, quando, depois da faculdade, eu decidi seguir carreira de música, depois de muita insistência de meus amigos e conhecidos, e foi a música que me tornou quem eu sou hoje, que enlouqueceu um produtor. Ela sabia que era para ela. Quem sabe no futuro. Temos tempo. Ela é uma boa garota. Quem sabe a gente se encontra.