Falling In Love At a Coffee Shop

Escrito por Nanda Sardinha | Revisado por Natashia Kitamura

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  Em uma tediosa e chuvosa segunda feira, estava no Café Viena, tomando um café tentando se livrar da irritante dor de cabeça que sentia desde que acordou. No dia anterior havia sido despedido e como nada está tão ruim que não possa piorar, o vocalista e o baterista de sua banda haviam brigado. A banda era o que ele mais amava e a possibilidade de perder isso estava deixando ele meio sem rumo. Estava sentado em uma mesa perto da porta e sua atenção se dividia entre seu café e a chuva que caia lá fora e que deixava tudo ainda mais depressivo. A chuva engrossou e chamou sua atenção. Passou a observar as pessoas correndo procurando marquises para se abrigar e foi ai que notou uma garota com uma sombrinha vermelha. Ela corria tentando segurar a sombrinha que parecia que seria levada pelo vento há qualquer momento. A garota chegou à porta do Café e entrou apressada completamente encharcada sacudindo a sombrinha e molhando .
  - Ei, cuidado ai. – ele falou bravo e viu a garota se virar o encarando com olhos arregalados.
  -Me desculpe. Eu não notei que você estava ai e eu... – ela ia falando gesticulando exageradamente e acabou acertando a xícara de café derrubando no tênis de que soltou um palavrão. – Ai meu Deus, eu sou tão desastrada. – ela falou pegando alguns guardanapos e se abaixando pra limpar o tênis dele. Ele se assustou com a situação e afastou o pé. Ela foi se levantar e acabou acertando a cabeça na mesa.
  - Você está bem? – ele falou ajudando ela a se levantar e viu seus olhos lacrimejarem.
  - Não. Hoje tudo está dando errado. É o pior dia da minha vida. É como se cada partícula do universo estivesse conspirando contra mim eu não sei o que fazer. E parece que minha maré de azar está se espalhando. Eu acabei de entrar aqui e já te infectei com meu azar e eu sinto muito por isso. – ela falou rápido de mais e quando parou para recuperar o fôlego ele se aproximou e a ajudou a sentar na cadeira em frente à dele.
  - Ei, fica calma. Eu já estava em uma maré de azar antes de você chegar. – falou tentando descontrair e viu que a qualquer momento a garota começaria a chorar desesperadamente. Ele era péssimo nessa história de consolar e fazer as pessoas se sentirem melhor. E a garota claramente era perigosa, considerando o quão desastrada havia demonstrado ser, e claramente estava abalada. Por um segundo considerou dar uma desculpa e sair dali, mas sabia qual era a coisa a certa a se fazer. – Você não parece bem. O que aconteceu? – falou e viu a garota suspirar.
  - Eu não quero te amolar com os meus problemas. – ela falou triste e ele viu mais uma chance de escapar da situação. Mas não seria capaz de fazer isso. A garota parecia muito fragilizada.
  - Eu sei que eu sou só o cara estranho que acabou de encontrar em um Café, mas você pode conversar comigo se quiser. – falou sorrindo de lado se esforçando para parecer simpático.
  - É que... Eu fui roubada. – ela falou segurando o choro.
  - O que? Você está bem? Está machucada? Já foi a delegacia? – ele falou elevando a voz preocupado.
  - Na verdade a minha casa foi assaltada. – ela falou dobrando um guardanapo sem olhar para ele tentando não chorar. - Eu cheguei de viagem hoje de manhã e encontrei o meu apartamento todo revirado. E a pior parte é que levaram meu notebook.
  - Você precisa ir até a delegacia. – ele falou sério
  - Eu já fui. – falou finalmente olhando pra ele. - Mas é que o maior problema dessa história é que eu perdi toda a minha monografia. Era para eu formar mês que vem e agora eu não tenho uma monografia para apresentar. O que significa mais um tempo de faculdade. Bom isso se meus pais não me matarem antes. – falou agora rasgando o guardanapo que segurava.
  - Eles vão entender. Você foi roubada. – falou como se fosse obvio.
  - Sim. O problema é que eles vão falar que eu devia ter salvado a monografia em e-mails, pendrive e CD's.
  - É. Você realmente devia ter feito isso. – ele falou e viu ela suspirar.
  - Eu sei, e agora me sinto estúpida. E em algumas horas serei uma mulher morta assim que meus pais souberem disso. Eles me ajudam a me manter aqui e tinham me dado até o mês que vem para formar e voltar para minha cidade natal. E agora eu estou aqui sem previsão de volta.
  - Fica calma. Talvez a policia encontre seu notebook. – falou tentando acalma-la mesmo sabendo que isso seria muito improvável.
  - Não acho que isso vá acontecer. – ela falou triste. – E o pior de tudo é que eu gastei meu tempo e minha saúde nessa monografia. Eu não sei o que é uma boa noite de sono a meses. Tudo que tenho feito é ler e escrever. Minhas costas estão me matando e minha bunda deve estar no formato da minha cadeira. E agora eu vou ter que começar do zero. – falou brava e percebeu que ele a olhava sem saber o que falar. – Me desculpe por te amolar com essa história toda.
  - Não está me amolando. E não tem que recomeçar do zero. Você entregou vários relatórios para o seu orientador né? – falou e viu ela balançar a cabeça afirmando. – Então, já é um começo. E seus livros provavelmente estão todos grifados com as citações que precisa. Sei que vai dar conta. Mais um período e você forma.
  - É. Você está certo. É que no momento eu estou em pânico. – falou pegando outro guardanapo, dobrando e depois rasgando. - O pior vai ser convencer meus pais que eu preciso de mais um período para formar.
  - Eles vão entender. – falou e viu ela assentir sem olhar para ele. – Quer torta? Minha mãe sempre fala que torta sempre ajuda em tempos difíceis. – falou sorrindo de lado e ela o olhou com os olhos brilhando e um sorriso enorme.
  - Eu amo torta de limão. – ela falou baixinho como se contasse um segredo e ele riu.
  - Vou pedir um pedaço para você. – ele falou e chamou a garçonete que logo trouxe um generoso pedaço de torta de limão.
  - Você me comprou torta e eu nem sei seu nome. – ela falou de boca cheia e ele riu
  - .
  - . – ela falou estendendo a mão e se cumprimentaram.
  - Então , qual é o tema da sua monografia? – falou puxando assunto ao ver que a garota estava concentrada saboreando a torta.
  - O expressionismo alemão e o surgimento do Butoh – ela falou e riu ao vê-lo franzir as sobrancelhas. – E você nem tem ideia do que é isso. – falou rindo. – Mas o que faz da vida?
  - Até ontem eu era um garçom para pagar as contas e um músico por prazer.
  - Músico? – ela falou sorrindo. – Toca o que?
  - Guitarra.
  - Que perfeito. Eu sempre quis aprender a tocar guitarra. Mas sou péssima.
  - Só precisa de pratica.
  - Não no meu caso. Meu irmão estava tentando me ensinar e eu nem consigo firmar os dedos. E como você já deve ter notado. Eu sou desastrada e acabei acertando o violão dele na parede algumas vezes. Ele me proibiu de encostar no Django de novo.
  - Django? – perguntou rindo. – Como o matador que arrasta um caixão com metralhadoras?
  - Exatamente. – ela falou rindo novamente de boca cheia. - Mas então você tem uma banda?
  - Tinha. Nós até estávamos procurando uma gravadora. Só que ontem o vocalista e o baterista brigaram e ai o baterista resolveu sair da banda. Então por enquanto o futuro da banda está meio incerto.
  - Espero que eles consigam superar as diferenças. E se vocês forem bons, tenho certeza que vão conseguir uma gravadora.
  - Nós somos incríveis. Nosso som é a melhor coisa que já aconteceu na história da música. – ele falou e ela riu.
  - Acredito em você. Então são vocês que vão criar a música que vai mudar a cabeça de todos e também trazer a paz mundial? Tipo o Bill e Ted?
  - Melhor que Bill e Ted. – ele falou rindo e tirou os tênis que estavam molhados e sujos de café. Já tinha certeza que a conversa renderia.
  - Obrigada. Por ser corajoso o suficiente para passar essa tarde comigo. – ela falou sorrindo.
  - Corajoso? – ele perguntou arqueando as sobrancelhas.
  - É. É que tem um alvo na minha cabeça atraindo desastres. E é muito corajoso da sua parte ficar perto de mim.
  - Talvez você fosse um alvo de desastres, mas não é mais. O mundo não te odeia. Hoje você teve a oportunidade de me conhecer. Isso é sinal de sorte e mudança de vida. – ele falou galanteador e ela riu.
  - Uau. Você é quase um lorde inglês. Esperou meia hora para passar uma cantada. – falou e os dois riram.
  - Eu sou um cavalheiro. – falou sorrindo de lado. - Mas sabe você não é o único alvo para desastres. Ontem além das brigas na minha banda, eu também fui despedido. E por causa de um cliente idiota que queria arrumar confusão.
  - Você está desempregado e ainda teve que me aturar reclamando da vida e me pagou uma torta?
  - Não se preocupa com isso. Tenho dinheiro suficiente para viver confortavelmente até quinta. – ele falou rindo e ela fez careta. – Amanhã vou procurar emprego. Hoje tirei o dia para sentir pena de mim mesmo. E isso foi uma sábia decisão porque acabei te encontrando. – falou e ela sorriu. – E é bom saber que não estou sozinho nesse barco.
  - Estamos juntos nesse barco de sofrimento afundando em um mar de amargura. - ela falou dramatizando e ele riu.
  - Bem filosófica hein.
  O celular de começou a tocar a música You Only Live Once do The Strokes. Olhou no visor o nome de sua mãe e desligou o celular.
  - Minha mãe. – ela falou mostrando o celular, desligando e guardando na bolsa. – Ainda não estou preparada psicologicamente para falar com ela. Mais tarde ligo de volta.
  - Tenho certeza que ela vai entender seu lado. E... uau, gostei ainda mais de você depois de ouvir seu toque.
  - Um fã de Strokes? – falou sorrindo. – Acho que você está certo. Não sou mais um alvo de desastres. – falou e viu ele sorrir. – Caramba, tá bem frio aqui. – falou apertando os braços.
  - O seu casaco ainda está molhado. – ele falou e tirou o próprio casaco. – Tira ele e veste o meu.
  - Não precisa.
  - Eu insisto. – ele falou e ela tirou o casaco e pendurou em uma cadeira vazia e vestiu o casaco dele. Aproveitou e também tirou os tênis molhados.
  - Nossa. Você é muito cheiroso. – ela falou no impulso ao se aconchegar ao casaco dele e ficou vermelha ao perceber o que tinha falado.
  - Se eu sou um lorde, você é uma lady. Esperou eu fazer uma cantada para fazer a sua. – falou sorrindo de lado e ela gargalhou.
  Ficaram horas conversando. Ambos descalços, ele sem casaco e ela com o casaco dele. Sentados naquele pequeno café enquanto a chuva ainda caia lá fora. Acabaram descobrindo muitas coisas em comum. Riam o tempo inteiro contando histórias engraçadas sobre suas vidas e amigos e era como se já se conhecessem a muito tempo. É engraçado quando isso acontece. Você está tendo um dia péssimo e ai encontra um estranho que mesmo sem saber nada sobre você, acaba se tornando exatamente o que você precisa naquele momento. Alguém para te ouvir, entender e mesmo depois de poucos minutos, alguém que se importa. E por algum tempo se esquecer de todos os problemas, e apenas aproveitar a companhia.
  - Eu amo a chuva. – ela falou olhando a chuva que havia engrossado mais uma vez.
  - Eu detesto. Deixa tudo trágico e melancólico. – ele falou também observando a chuva.
  - Na verdade a chuva traz um ar de romantismo.
  - É. Roubo e desemprego são super românticos. – ele falou sarcástico e ela rolou os olhos e riu.
  - Ok. Talvez para nós que estamos em nosso barco de sofrimento em um mar de amargura, a chuva seja trágica e melancólica. – ela falou e ele riu. – Mas não para eles. – falou apontando para um casal abraçado sentado em um canto do café. – Você podia tocar para mim. – ela falou animada mudando bruscamente de assunto o fazendo olha-la com os olhos arregalados
  - Não obrigado.
  - Ah por favorzinho. Se você for muito ruim, prometo não te vaiar. – falou e ele riu. – e se for bom eu vou ficar feliz. – falou fazendo a melhor imitação dos olhinhos suplicantes do gato de botas.
  - A gente nem sabe se o palco é aberto. – ele falou e viu ela imediatamente levantar as mãos chamando a garçonete que logo estava do lado deles.
  - Oi. – falou sorrindo. – Hoje é meu aniversário e meu namorado, que não tem muito poder aquisitivo, quer cantar pra mim como presente. – ela falou e ele segurou a risada. - Ele pode usar o palco e aquele violão?
  - Claro que sim. – a mulher falou sorrindo. – Feliz aniversário. E você pode me seguir. – falou para , que se levantou e seguiu a mulher.
  Ele foi até o palco e quando começou a cantar I’ll try anything once, sorriu. A voz dele era linda e o modo como ele cantava estava a hipnotizando.

  “Ten decisions shape your life
  You'll be aware of five about
  Seven ways to go through school
  Either you're noticed or left out
  Seven ways to get ahead
  Seven reasons to drop out”

  Quando terminou a música, se levantou e começou a aplaudir e assoviar. Logo todos do café também aplaudiram. Ela estava com as bochechas doendo pois ficou sorrindo durante toda a música. Viu ele se aproximar rindo envergonhado e se sentou na sua frente.
  - Você é muito bom. A partir de hoje sou sua fã e da sua banda. – ela falou e ele sorriu. A garçonete chegou colocando um pedaço de torta na frente dela. – Nós não pedimos torta.
  - Ah essa é por conta da casa. Pelo seu aniversário.
  - Obrigada. – falou e mulher já ia saindo. – Hey moça você pode trazer mais um garfo? Gostamos de comer juntos. É romântico. – falou e a mulher saiu e logo voltou com um garfo e o entregou a .
  - Desde quando pobreza é sinônimo de romantismo? - ele falou e viu ela dar risada.
  Comeram a torta e ficaram conversando mais um tempo, quando ela resolveu ligar o celular, viu 27 chamadas perdidas da mãe. Já era noite e ela percebeu que já era hora de rir. Precisava correr até em casa e ligar para mãe, que já devia estar querendo colocar a policia para descobrir o paradeiro da filha. Os dois calçaram seu tênis e se levantaram juntando suas coisas.
  - Espera. – falou ao ver pegando a bolsa. – Deixa eu consertar as suas costas. – ele falou e ela levantou as sobrancelhas. Ele se aproximou a abraçando por trás e a apertando até ouvir os seus ossos estalarem. Ficou abraçado a ela alguns segundos e se afastou.
  - Obrigada. – ela falou e se virou sorrindo e sentiu seu coração acelerar. Ainda estavam muito próximos. Tenho que correr. – falou entregando o casaco dele e vestindo o próprio.
  - Tem planos para mais tarde?
  - Eu estava planejando comer chocolate e chorar enquanto assisto Titanic lamentando a minha morte prematura. Assim que minha mãe souber vai me matar. – ela falou e os dois riram.
  - Já que esses provavelmente serão seus últimos momentos, que tal uma festa hoje à noite? Tem que aproveitar. – ele falou enquanto andavam lado a lado saindo do café. A chuva havia finalmente parado.
  - Ótima ideia. Me empresta seu celular. – ele entregou o celular e ela salvou o número com o nome Lady e entregou para ele que riu. - Me manda mensagem com o endereço. Tenho que ir. Foi um prazer te conhecer . – ela falou estendendo a mão para ele.
  - Foi um prazer te conhecer Lady . – ele falou rindo apertando a mão dela. Ela acenou e se afastou e ele seguiu para o lado oposto.
  Ambos andavam sorrindo, sabiam que aquilo era o começo de algo. Aquele dia tinha começado de forma deprimente para ambos, mas a chuva, aquele café e o jeito desastrado de haviam conspirado para que eles tivessem uma ótima tarde e um futuro promissor.



Comentários da autora


Espero que tenha gostado Stela. =)