Fallen – Depois do fim

Escrito por Juliana Lovatte | Revisado por Bella

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  Luce andou de um lado para o outro no cômodo, permitindo que seus sapatos tamborilassem pelo assoalho de madeira. Ela estava tensa, e sabia muito bem o porquê. Imaginou que Daniel fosse aceitar bem, afinal, era a celebração do amor deles. Era simplesmente algo pelo qual ela ansiava há anos. E sabia que mais cedo ou mais tarde teria de contar a ele, assim como sabia que ele ficaria tão feliz quanto ela. Mas como? Como contar? Como falar aquilo para Daniel? Eles se amavam. Ele se tornou humano por ela. E embora ambos houvessem perdido todas as memórias do amor milenar que viveram, eram capazes de se recordar da primeira vez em que se viram nessa vida.
  Em poucos minutos Luce havia deixado a casa de campo e partido em direção ao centro da cidade, o local em que ela de fato morava, o lugar em que ele estava. Daniel. Lucinda ligou o rádio na música que ambos consideravam como a música do casal, cantarolando junto em seguida. Podia sentir- se num programa musical, algo como The Voice ou American Idols. Sua voz era maravilhosa e ela mesma sabia disso.
  Lucinda abriu a porta do apartamento e pode ver uma Callie toda animada.
  - Como conseguiu entrar aqui? – Luce perguntou enquanto jogava sua bolsa branca no sofá de mesma cor, aproveitando para se sentar e esticar um pouco as pernas.
  - Simples. Liguei para Daniel avisando que eu estava parada na frente do prédio e pedi para que me deixasse subir, pois eu estava passando mal, e com a quantidade de sacolas que eu tinha em mãos, seria praticamente impossível conseguir voltar para casa naquele momento. Lógico que ele me deixou entrar, e aí aproveitei para fingir uma tonteira e dizer a ele que precisava buscar um exame na SHC. Ou seja, indo até a cidade vizinha eu ganharia tempo para te ajudar a arrumar tudo e contar para ele.
  - Inventou que estava passando mal pra distrair Daniel e me ajudar? – Lucinda fez uma careta.
  - Claro. E nem me diga que já tinha outros planos em mente, pois você vai fazer tudo do jeito que eu mandar.
  - Sem querer te decepcionar, Callie, mas eu pedi que me encontrasse para me ajudar a pensar em algo. E não para simplesmente vir com tudo pronto me dizendo como devo fazer.
  - Luce, fica sentada e me escuta primeiro. Depois de ouvir tudo você pode dizer o que acha, mas antes disso não. Ah, e me agradeça por ter deixado de ir a uma reunião apenas para vir te ajudar, não é qualquer amiga que faz isso, viu? - Callie deu uma piscadinha para Luce e então começou a contar suas ideias.
  - Ok, Callie. Eu aceito, você me convenceu.
  - Sabia. Minha ideia é simplesmente fantástica. Agora vamos lá, mãos à obra. – Callie começou a tirar os materiais de dentro das sacolas, mas foi interrompida por uma Luce com um olhar cheio de dúvidas e um leve medo em sua expressão facial. – E essa cara, Sra. Grigori, pode me falar no que está pensando?
  - E se não der certo? E se Daniel achar que eu deveria ter simplesmente tido uma conversa com ele? E se achar que você o enganou e nós duas estamos de complô? E se...
  - Chega, Luce. Nada disso vai acontecer se você me ajudar a arrumar tudo o mais rápido possível. Escreva as frases e as coloque dentro desses envelopes. Vou encher os balões e acender as velas. Quando você terminar, tome um banho e vista uma roupa bonita. Deixe o resto por minha conta.
  - T...t...tudo bem, Callie. – Luce levantou do sofá, ainda tonta com tantas informações e pegou as folhas dentro dos envelopes. Escreveu umas mensagens em cada uma delas e então fez o que a amiga mandara, foi direto para o banho.
  Luce deixou que a água corresse por cada extensão de seu corpo e se lembrou de vários momentos ao lado de Daniel. Desde quando o conhecera e se apaixonara até o dia em que se casaram. Daniel era tão lindo, tão encantador, tão amável. E Luce sentiu- se privilegiada por ele ter se apaixonado por ela.
  Minutos depois Callie explicou à amiga tudo o que ela deveria fazer quando Daniel chegasse. Luce assentiu e viu a amiga desaparecer completamente pela porta.
  - Oi pra você também, Callie.
  - Daniel? Ah, Oi. Eu já estou melhor, vou pra casa.
  - Quer que eu te leve? Vou só entrar em casa e ligar pra Luce e...
  - Não, não precisa. E por falar em Luce, ela ainda não chegou da casa de campo. Estou preocupada com ela.
  - Vamos comigo atrás dela. Se algo acontecer com Luce, eu não sei o que será de mim.
  - Você a ama.
  - Amo. Todos sabem disso. Callie, ela é tudo o que eu tenho nesse mundo. Ela é a mulher da minha vida.
  - Então se prepare para amar outra pessoa.
  - Do que você está falando, Callie? Amo Luce, só ela.
  - Eu sei que não.
  - Agora me explique essa história.
  - Tchau, Daniel. Até qualquer outro dia. – E a mulher sumiu novamente. Dessa vez, porém, elevador adentro.
  Daniel ficou completamente duvidoso e então entrou em casa. As luzes apagadas, a sala iluminada apenas por umas velas em formato de flores e coração. Então viu um envelope cor de creme sob o sofá com o número 1 na frente e seu nome escrito. Tomou- o nas mãos e abriu.
  "Daniel, há dois dias preciso te contar algo. Ass: Luce."
  Não havia mais nada escrito. Então caminhou um pouco mais a frente e viu outro envelope. Este, porém, continha o número 2. Decidiu por abri- lo também.
  "Daniel, você sabe muito bem que sempre te amei. Mas..."
  - Mas o quê? – ele disse mais para si mesmo, enquanto seus olhos procuravam por mais algum envelope cor de creme. Até que finalmente o encontrou bem ao lado do porta- retratos com uma foto dele e de Luce no dia do casamento.
  "... eu e você sempre soubemos que isso um dia aconteceria.
  Sei que você deve estar se perguntando ‘isso o quê?’, então vá até a cozinha e procure outro envelope. Beijos, Luce."

  E foi exatamente isso que ele fez. Abriu o quarto envelope e sentiu seus olhos marejarem.
  "Meu coração agora pertence à outra pessoa"
  Embora Daniel não costumasse chorar, isso acabava acontecendo quando Luce o deixava emocionado ou... Agora. Agora que ela havia partido seu coração. Agora que ela havia dito, ou melhor, escrito, que seu coração pertencia à outra pessoa. Secou as lágrimas com a manga de seu suéter e esfregou os olhos.
  - Outro envelope? Já não basta ter acabado comigo nesse que acabei de ler? - sua voz estava falha e a tristeza era aparente. Mas não deixou de abrir, queria ver até onde Luce seria capaz de ir com aquilo.
  "E sei que o seu também irá"
  - Não, não irá. Meu coração será pra sempre seu, Luce. – Ele gritou para o papel em sua mão e seguiu em direção ao quarto, porém parou quando viu um envelope (este com o número 6) colado na parede direita do corredor.
  " Será à mesma pessoa. Você deve estar confuso, mas ambos os corações – o meu e o seu- a partir de agora pertencerão à outra pessoa. Quer dizer, eu espero que o seu também pertença.
  Por favor, vá até nosso quarto."

  - O que ela está fazendo? Escrevendo coisa com coisa, não entendo mais nada.
  Daniel seguiu a instrução que Luce havia escrito e encontrou a porta fechada. Mais um envelope. E para completar, estava colado à porta com uma fita dupla face. Este, porém, era diferente de todos os outros. Era vermelho. Ele abriu.
  "Não sei se já deu para você entender o que está acontecendo, mas se não conseguiu, eu posso te explicar. E não entre no quarto até que termine de ler tudo o que está escrito aqui.
  Daniel, eu lhe amo, você sabe disso. E bem, aconteceu algo e agora eu estou dividida. Não que eu lhe ame menos, muito pelo contrário, sou capaz de amar- lhe cada vez mais. Eu agora amo outra pessoa além de você. Amo vocês ao mesmo tempo. E não, eu não sei o nome da pessoa ainda, mas você pode me ajudar a decidir assim que descobrirmos se é menino ou menina.
  É, agora a responsabilidade só aumenta. Mas é uma responsabilidade boa, é a responsabilidade de educar uma criança. Nada mais pode importar. Eu tenho a você, você tem a mim e agora nós teremos ao nosso filho e ele a nós. Sim, meu amor, vamos ter um bebê.
  Desculpa por não ter sido mais direta e ter feito você ficar atrás de vários envelopes pela casa, mas eu não sabia como falar. Acho que assim foi melhor.
  EU AMO VOCÊ, DANIEL.
  Agora já pode entrar no quarto."

  Ele ficou paralisado por um tempo. Leu e releu cada palavra para ter certeza de que era real. Então ela não estava terminando com ele, estava apenas dizendo que teriam um filho? Então ela não estava dizendo que havia deixado de amá- lo, mas sim que estava grávida?
  - Eu vou ser papai, eu vou ser papai, eu vou ser papai. – Ele gritou e ouviu a música tema dele e de Luce tocar dentro do quarto. Abriu a porta e virou- se para fechá- la. Estava com o último envelope em mãos, já planejava guardá- lo para sempre. Já com a porta fechada, viu Luce sentada sobre a cama e a única iluminação presente eram as velas. Ela se levantou e foi até ele. Estava impecavelmente linda. Vestia um longo vestido branco de seda e seus olhos brilhavam de felicidade.
  - Ouvi seus gritos, papai.
  - É sério que você está grávida, é sério que vamos ter um filho?
  - Sim, meu amor, é sim. – ele a beijou. Foi um beijo doce e delicado.
  - Eu fiquei apavorado, Luce. Você me fez chorar quando disse que seu coração pertencia à outra pessoa. Juro, eu fiquei apavorado, achei que estivesse me dispensando, que não me amasse mais.
  - Larga de ser bobo, é claro que eu te amo. Quer dizer, nós te amamos.
  - Eu estou tão aliviado por você me amar.
  - Mas é claro que eu amo.
  Daniel se lembrou de sua conversa com Callie, pouco tempo antes de entrar em casa.
  "- Então se prepare para amar outra pessoa.
  - Do que você está falando, Callie? Amo Luce, só ela.
  - Eu sei que não."

  - Agora tudo faz sentido. Callie não estava doente, ela me distraiu para ter tempo de te ajudar a fazer essa surpresa para mim. E as breves palavras que trocamos lá fora quando a encontrei por acaso. Então quando ela me disse para eu ficar preparado para amar outra pessoa, ela estava falando do nosso filho. Tanto que quando eu disse que amava apenas você, ela disse que sabia que não. Ou seja, ela sabia que eu iria amar nosso filho a partir do momento que descobrisse que ele está no seu ventre. Quando ela disse que você ainda estava na casa de campo, foi para eu ficar surpreso assim que entrasse no quarto e te visse. – ele deu um leve tapa em sua própria testa.
  - Sim. Ela me ajudou a arrumar tudo isso. Na verdade, essa ideia foi dela. Eu queria te contar de uma maneira que ficasse marcada. E você tem que concordar comigo, seria muito seco se eu te contasse isso de qualquer jeito. – Luce riu.
  - Eu te amo, Luce. – disparou Daniel, fazendo com que ela sorrisse. – Quer dizer, agora eu amo vocês.
  Ele se ajoelhou e tocou seus lábios na barriga de Luce.
  - Ei, filho. Ou filha. O papai já te ama demais. Você vai ser um bebê muito amado por toda sua família e até pela maluca da tia Callie, que com certeza a mamãe vai querer que seja sua madrinha. O papai não vê a hora de lhe segurar nos braços e te dar mil abraços e beijinhos.
  Luce observou a cena com um sorriso no rosto - Tenho consulta marcada para daqui a uma semana com a ginecologista, você vai comigo?
  - Claro, meu amor, vou sim. Mas agora vamos esquecer o mundo, vamos comemorar. Nós vamos ter um filho, Luce, um filho. Eu e você sempre sonhamos tanto com isso. E agora o nosso sonho está se tornando realidade. Embora ainda faltem nove meses pra gente ver o rostinho do nosso bebê, sei que vai ser lindo.
  - Vai ser lindo tanto quanto você.
  - Vai ser um bebê lindo porque a mãe é linda.
  - E o pai também. – ambos sorriram e ele a abraçou. Ela sussurrou um eu te amo ao pé do ouvido de Daniel e encostou a cabeça em seu ombro. Dançaram uma música lenta e então se beijaram.
  Era um amor recíproco, verdadeiro e puro. E agora compartilhariam desse amor com o filho que nasceria em alguns meses.
  Então Luce pôde entender que não importa o que aconteça, ela terá a Daniel e ele, a ela. E Daniel pode entender que Luce nunca deixaria de amá- lo.
  Ele sem ela era nada. Ela sem ele era nada.
  Mas quando juntos eles eram tudo.

FIM



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