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#009 Temporada

Faceless
Next Year’s End

Faceless

Escrita por Jozi B.

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 “Breaking myself to make you whole I'm buying flowers for a lost cause...”
  (Quebrando-me para fazer um inteiro de você... Eu comprei flores para uma causa perdida...)

   havia tido um dia longo no estúdio, as gravações de seu mais novo álbum, que seria lançado no próximo mês, estavam a todo vapor. E mesmo “tão em cima” do dia de lançamento, ele ainda gravava algumas músicas, editava outras e pensava no que mais poderia fazer para aperfeiçoar o seu trabalho já feito. Dar o melhor de si em cada novo álbum ou projeto que se envolvia era algo tão natural para ele, que nem percebia a quantidade de horas que ficava dentro do estúdio. Só notava quando o produtor que o ajudava, dizia que era hora de irem embora ou caso contrário iriam começar a criar raízes no estúdio.
  Por isso, ele estava tão cansado naquele dia. Era sexta-feira, o último dia útil da semana, e o acumulo de todo o trabalho feito durante a semana se transformara em cansaço, e ele poderia facilmente se jogar no maior sofá da sala de estar de sua casa e dormir por algumas horas.
  Mas, não podia. Não pôde.
  Quando chegou em casa, correu para tomar banho, não que ele não fosse fazê-lo em outro momento, se arrumou o quanto achou aceitável e suficiente para, pelo menos, disfarçar o cansaço que sentia e foi para a sala com os pés descalços. E então, após duas horas de sua chegada ao imóvel, além de cansado ele estava extremamente nervoso. Tão nervoso que dizer apenas que estava nervoso era o mesmo que dizer a uma criança que coelhinho da páscoa existe, ou seja, era como contar uma grande mentira. O que ele sentia era muito mais que nervosismo. Suas mãos suavam, seu coração já havia passado da fase de acelerado, o órgão parecia estar pronto para sair de sua caixa torácica sem uma cirurgia. Seus olhos não cansavam de olhar ao seu redor, que não era nada mais nada menos do que a sala de sua casa enquanto seus pés não paravam de bater no piso do chão da sala.
  Ele não tinha pensado em uma decoração extravagante, na verdade, nem pensara em uma decoração. Achava que tudo seria o suficiente, a simplicidade era o suficiente para aquela noite. O destaque deveria ser o buquê de rosas vermelhas que estava ao seu lado e o pequeno anel que estava dentro da caixinha de veludo avermelhada que não estava muito distante do buquê.
  Respirando fundo, pelo o que deveria ser a décima vez, decidiu que não poderia ficar ainda mais nervoso. Caso contrário, ele iria passar mal antes da hora e isso não poderia acontecer. E por Deus, ele não poderia esquecer o pequeno textinho que montou em sua mente para quando a hora chegasse. Ele fechou seus olhos, respirou fundo mais uma vez, dessa vez com calma para começar a se acalmar, e encostou suas costas no encosto do sofá.
  Não lhe restava muita coisa para fazer naquele momento, ele tinha que esperar.
  Esperar para que chegasse em casa do ensaio que fora fazer para uma revista, e ele pudesse fazer o pedido que vinha tomando conta de seus sonhos e pensamentos ultimamente. Não é como se nunca tivesse pensado em se casar com , é que depois do casamento de e no mês retrasado, o pensamento de viver o resto de sua vida ao lado de se intensificou dentro de si e nada parecia mais certo do que isso. Viver ao lado dela. Para sempre.
   não conseguia se imaginar sem a mulher que era sua namorada há quase cinco anos. A mulher com quem dividia sua cama, suas roupas, seus problemas e sucessos. É verdade que eles eram diferentes em uma quantidade de coisas, mas também é verdade que se entendia após todas as brigas que já tiveram ao longo desses anos de namoro. Eles haviam crescido um com o outro, um ao lado do outro, enfrentaram situações difíceis e é ok dizer que, em algum momento, até pensaram em desistir. Mas, eles se amavam. mesmo com seu jeito meio torto, amava . E ele, com seu jeito não tão torto assim, a amava ainda mais.
  Por isso era tão fácil pensar em passar o resto de sua vida ao lado dela, porque uma vida com se torna uma vida mais leve e fácil. Uma vida com amor e companheirismo. E muito mais do que isso, é uma vida verdadeira.
  Porque era a mulher mais verdadeira que já conhecera em sua vida.

++++

   acordou assustado quando ouviu um barulho vindo do segundo andar da casa. Ele realmente deu um pulo do sofá, e não demorou mais do que dez segundos para subir todos os degraus e sentir sua garganta secar quando viu que a porta do quarto de casal estava aberta. E sendo errado ou não, pediu baixinho que fosse um ladrão e não . Era melhor que fosse um ladrão querendo todo o seu dinheiro do que sua namorada que o encontrara dormindo no sofá bem na noite em que ele organizara um pedido de casamento. Ok, ela não sabia do pedido e não poderia culpa-la por chegar justo no momento em que ele estava dormindo no sofá. Mas o destino poderia ter ajudado e tê-lo acordado antes que ela chegasse, né?
  Dando passos lentos e sentindo seu coração acelerar ainda mais, agora tanto pelo susto quanto pela expectativa e por saber que era quem estava no quarto, se aproximou da porta e adentrou o quarto. O suspiro que ele soltou ao ver saindo do closet e indo para o quarto, fora de total frustração.
  - Ah. – Ele suspirou, um pouco de alivio por não ser nenhum bandido e muito de frustração por ser ela. – Você chegou.
  - Sim. – o respondeu quando o notou ali e o encarou, olhando-o dos pés a cabeça não entendendo muito bem a surpresa pela sua chegada. – Aconteceu alguma coisa? Você parece surpreso com a minha chegada.
  - Ah, não é que... Merda. – soltou o ar. Ele poderia facilmente chorar tamanha era a vergonha que sentia. Seu plano havia dado errado porque ele dormira no sofá, bem ao lado do buquê e do anel que deveria entregar a assim que ela chegasse, que incrível. – Eu não deveria ter dormido. – Afirmou, passando as mãos por seu cabelo, sem se importar em bagunçar os fios. Não se importava mais com muita coisa naquele momento, ele mesmo já tinha estragado tudo mesmo.
  - Porque você não podia ter dormido? Estamos esperando alguém? – A mulher perguntou, com uma sobrancelha arqueada deixando claro sua confusão.
  - Não, não estamos esperando ninguém. É que, bom, você deve ter visto... – respirou fundo, se sentindo ainda mais envergonhado quando sua mente lhe informou que deveria ter visto o buquê e a caixa com o anel que estavam bem ao lado dele. E mesmo não queria fazer o pedido daquele jeito, após ter acordado e sentindo suas costas doendo pela péssima posição que ficou no sofá, talvez aquele fosse o jeito que a vida reservou para eles. Talvez, lá no livro da história deles dois, o capítulo do pedido de casamento tivesse sido escrito bem ali, no quarto deles dois. Mas, antes que ele decidisse o que iria de fazer, se iria ou não arriscar com um pedido bem ali, diferente do que ele imaginara, sua atenção foi atraída pela mala de viagem que estava aberta bem em cima do colchão da cama de casal. – O que...
  - Eu vou viajar amanhã de manhã. – respondeu a pergunta que nem chegou a ser feita de verdade. Ela olhou dele para a mala, da mala para ele e suspirou enquanto o encarava.
  - Desfile? Ou mais ensaio fotográfico em outra cidade? – perguntou baixo, sentindo-se ainda mais frustrado porque além de ter arruinado seu pedido ainda teria que passar o final de semana sozinho e longe de .
  - Não, eu... Eu assinei um contrato hoje. – Explicou, olhando para o homem que não conseguia fazer outra coisa senão encara-la de volta. – Um contrato importante.
  - E você vai para onde? – questionou após um breve momento de silêncio entre os dois. O ar da casa parecia mais pesado, enquanto a cabeça de estava uma bagunça muito maior do que antes, quando ele teve que decidir se colocava a champanhe ou o vinho para gelar.
  - Londres.
  - Há doze horas de avião daqui. – Ele sussurrou, brincando com o medo que a garota ainda sentia de aviões mesmo tendo que usar o transporte tantas vezes ao longo da sua carreira de modelo.
  - Sim. – murmurou, sorrindo tão fraco que se perguntou se aquilo foi mesmo um sorriso.
  Ela o deixou sozinho no quarto por alguns segundos, indo para o closet e voltando de lá com algumas peças de roupas que foram deixadas ao lado da mala que ela arrumava pra levar para a tal viagem.
  - O final de semana inteiro? – quis confirmar suas suspeitas quando cruzou seus braços em frente ao seu corpo, e encostou-se na parede ao lado da cama.
  - Não. Inicialmente, dois anos.
   pensou não ter ouvido direito ou que estivesse fazendo alguma brincadeira, mas o olhar que ela o lançou deixava claro que era verdade. Ele não havia escutado errado e ela não estava brincando.
  - Dois anos? – Ele questionou, ganhando um aceno de cabeça que confirmou tudo. – Amanhã de manhã? Espera...
  - Eu assinei o contrato hoje de manhã. É um contrato importante, vai ser bom pra minha carreira. – explicou, suspirando e deixando de lado as roupas para dar atenção ao homem.
  - Que é importante para sua carreira eu sei, mas o ponto é... – Ele descruzou os braços, saindo do lugar quando deu dois passos para frente. – Quando eu iria saber? Quando você estivesse saindo amanhã e me dissesse que estava indo para voltar só daqui a dois anos? Ou quando eu acordasse amanhã e encontrasse somente um bilhete em cima do seu travesseiro?
  - Eu iria te contar hoje, quando cheguei em casa. Mas você estava dormindo e...
  - Você assinou o contrato hoje. Isso quer dizer que a proposta não veio hoje, e que você teve uma reunião com os superiores em algum outro momento. – Ele a interrompeu, falando como ele sabia que as coisas funcionavam. Graças a sua carreira de cantor que lhe permitira assinar alguns contratos, sabia como eram essas coisas. – Você iria simplesmente...
  - Independente de ter tido ou não uma reunião antes, eu só assinei o contrato hoje, . – Ela se defendeu, falando como se estivesse brava com ele. Como se ele fosse o errado, como se quem estivesse fazendo uma mala para a viagem de dois anos que ele não contou para ela.
  - Você sempre soube, desde o começo, que iria assinar o contrato. Você sabia que iria para Londres. – Ele apontou porque a conhecia. sabia quem era a mulher que estava ao seu lado durante todos esses anos, ele a conhecia o suficiente para saber que ela jamais iria deixar essa oportunidade passar. Só não esperava que ele fosse ser o ultimo a saber. – Eu só não entendo o porquê de não ter me contado antes? Porque não me chamou pra conversar e...
  - Porque eu não queria conversar! – afirmou, aumentando o tom de voz e assustando que não esperava aquela reação. – Eu sabia que você iria ficar assim, querendo saber detalhes e mais detalhes.
  - É claro! Você é a minha namorada, é claro que eu iria querer saber de tudo. E se é algo tão importante, é claro que eu iria querer te ajudar e...
  - Mas eu não queria a sua ajuda. – o interrompeu, tirando de toda e qualquer palavra que ele pensara em falar. – Eu queria fazer isso sozinha.
  - Você não está sozinha. – falou o que pra ele já era tão claro. – Nós estamos juntos, e eu pensei que já tivéssemos passado da fase de entendermos que temos um ao outro.
  - Se eu te falasse antes, você iria querer mudar a sua vida pra ir comigo. Ou, iria querer tentar um relacionamento à distância e... Não. 
  - Poderíamos tentar. – Ele afirmou, enquanto tentava entender o que estava acontecendo. estava confuso com todas aquelas palavras bruscas de , era como se ele fosse um peso na vida dela.
  - Não iria dar certo. E eu não iria querer tentar. – falou muito mais firme do que das outras vezes. – O que nós temos é incrível, mas eu não posso me prender aqui por um namoro. Eu precisei agarrar essa oportunidade, precisei não deixa-la escapar pelos meus dedos. É algo importante. Algo que não me permite levar bagagens.
  - Bagagens? – Ele perguntou, sentindo-se meio sonso com o peso daquela ultima frase dita pela mulher que tanto amava. A mulher que ele estava prestes a pedir em casamento naquela noite.
  - Eu não poderia ir para Londres presa a um relacionamento, . – respirou fundo, o encarando. – Eu vi o buquê e a caixa de anel que estavam ao seu lado, no sofá. Eu entendi o que você iria fazer, o que estava me esperando chegar para fazer... E se antes eu já não podia ir para Londres tendo um namorado aqui, eu não poderia ir tendo um noivo. A minha carreira é o meu foco principal, no momento. E eu vou abrir mão do que for preciso por ela.
  - Eu nunca quis que você abrisse mão da sua carreira, e você sabe disso. Se você tivesse me contado antes, teríamos dado um jeito. E se não tivéssemos encontrado um jeito, eu continuaria te apoiando e desejando o seu sucesso onde quer que você fosse. – afirmou, apontando para enquanto sentia seu coração doer com a decepção que sentia naquele momento. – Eu não me preocuparia em ir para você logo após o lançamento do meu álbum. Eu não me importaria em viajar por doze horas dentro de um avião para chegar até você. E você sabe disso. Mas, o que aconteceu foi que você decidiu o que fazer da sua vida sem me avisar. – Ele respirou fundo, segurando-se para não gritar. É que gritar com parecia muito pior do que ouvi-la o chamando de peso. – Você decidiu o futuro do nosso relacionamento sem antes me avisar. E eu não sei se você sabe, mas um relacionamento é construído por duas pessoas.
  - Você iria me pedir em casamento.
  - E você teria todo o direito de recusar o pedido. – rebateu tão rápido quanto a acusação veio. – Você teria todo o direito de me dizer não, iria doer, mas eu iria entender. Porque uma das bases de um relacionamento é o respeito. Eu iria respeitar a sua decisão. Eu juro que iria. Assim como respeito a sua decisão de assinar o contrato e de não querer viajar levando bagagens. – Ele riu fraco ao dizer a ultima palavra. Riu de nervoso, riu de dor. – Eu realmente espero que você seja muito feliz, . Porque quando amamos alguém é isso que desejamos: a felicidade do outro. Seja perto ou longe. Mas eu não posso evitar me sentir decepcionado. E de sentir que os meus sentimentos por você, não valem de nada. Eu pensei que além de namorado, fossemos amigos.
  - Eu sinto muito. – Ela se desculpou, e suspirou.
  - Eu também sinto, . Eu também sinto.
  E realmente sentia muito. Ele sentia o suficiente para não ser mais capaz de encarar e não pergunta-la novamente o porquê de tudo aquilo. Mas ela já havia explicado tudo, e não querendo soar repetitivo e nem prolongar ainda mais o gosto de ferro que sentia em sua boca enquanto olhava pra e não a reconhecia, saiu do quarto sem dizer mais nada.
  Descer as escadas do segundo para o primeiro andar foi tão rápido quanto subi-las. E mesmo estando em sua casa, saiu dali como se não fosse dono. Ele bateu a porta com uma força que em outro momento julgaria desnecessária, mas sua mente pouco se importava com aquilo naquele momento.
  Ele precisava der ar.
  Precisava se recuperar do grande tapa que o destino deu na sua cara.
  Precisava se conformar que havia outros planos para aquela noite, e para os outros dois anos.
  E que ele, , não estava incluso nos planos dela.

FIM.
  10 de setembro de 2018.

 N/A: Primeira vez que faço parte do Songfic do EC, espero que tenham gostado! Fiquei bem ansiosa quando me inscrevi, e quase chorei de desespero quando recebi essa música, confesso hahahaha. Mas, no final tudo deu certo, amém!
 Não deixem de comentar, por favor.
 Possuo mais duas fanfics aqui no EC, caso queiram ler:
 “Pray You Catch Me”: http://espacocriativo.net/web/p/prayyoucatchme/
 “It Will Be Alright”: http://espacocriativo.net/web/i/itwillbealright/

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 Até a próxima!
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