Eyes Open

Escrito por Maria Eduarda | Revisado por Mah

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  - Vem, mamãe! Já estamos atrasados!
  Lá estava eu, , brasileira, 27 anos, levando meu filho Daniel para o seu primeiro dia de aula num colégio aqui perto de casa, em Londres. Danny tinha cinco anos, o meu primeiro e único filho, do primeiro e último homem que eu já amei em toda a minha vida. Edward era o nome dele, era só alguns meses mais velho do que eu e conheci-o na faculdade com a minha melhor amiga, há 7 anos atrás. Perdemos Ed para um acidente de carro, quando eu estava na maternidade. Claro que foi bem difícil cuidar de Danny sozinha, a dor de criá-lo sem o meu marido, e explicar que o pai dele não está mais entre nós. Uma das várias consequências é que eu nunca mais tive tempo para mim mesma. Agora meu filho ficava acima de tudo. Trabalho, Daniel, Trabalho, Daniel. É cansativo lidar com isso só.
  Peguei o meu celular que estava em cima do criado-mudo, o meu casaco e dei uma última olhada no espelho afim de dar o último retoque na maquiagem. Depois de entramos no carro e colocar Daniel corretamente na cadeirinha, dei a partida.
  - Chegamos!
  Parei em frente ao local bem colorido onde entravam e saíam crianças de todas as idades. Senti aquela mãozinha já conhecida segurar a minha e me guiar em direção à senhora responsável por levar os alunos para dentro do colégio.
  Lá, me despedi de Danny com um beijo em sua testa e me juntando aos pais que ficavam atrás do portão, vendo os seus filhos passarem. Voltei para o meu carro alguns minutos após ver meu filho entrar. Ainda tinha que passar no mercado depois do trabalho e buscá-lo na escola.
  Arrumei-me devidamente para trabalhar: fotografia. Você deve estar pensando: ''ah, fala sério, fotografia? Que coisa mais clichê'', mas não é assim que rola, eu sempre amei fotografar por causa do meu pai, que sempre registrava esses bons momentos fotografando.
  Ajeitei minha camisa e fui trabalhar. As horas se passaram arrastando, e eu finalmente consegui parar em casa para descansar depois de trazer várias sacolas de compras. Águas passadas não movem moinhos. Não sei se você já ouviu esse ditado, mas ele estava começando a mexer comigo. Olhei no relógio, que marcava 16h37min, eu teria que buscar Danny às 17h30min, então eu tinha tempo de sobra para assistir televisão e fazer um lanche. Coloquei num canal qualquer que passava uma série bem diferente, não permitindo que eu mudasse de canal. Permaneci assim até dar o horário de sair daqui de casa.
  Foi bem complicado encontrar um lugar para estacionar naquele lugar, era quase impossível com vários carros na minha frente buzinando bastante ou tentando dar meia-volta, impacientes. Se for para me definir em uma palavra, eu acho que seria paciente. Tá, demorou pra conseguir uma vaga, mas tudo bem. Saí do carro me juntando novamente aos pais, só que dessa vez para buscá-los. O que foi mais difícil do que estacionar o carro. Tentei entrar, mas me empurravam toda hora, só pra você saber como está cheio. Tenho que anotar na minha lista sobre chegar alguns minutos mais cedo. Em meio àquela confusão do primeiro dia de aula, um homem alto, de cabelos e olhos (não pude deixar de olhar) juntar-se a mim, um pouco frustrado.
  - Acho que vamos demorar um pouco para chegar lá na frente. – ele disse, levando a mão ao pescoço.
  - Vou chegar mais cedo na próxima vez – ri.
  - É a sua primeira vez nesse colégio?
  - Ah, sim! Estou esperando o meu filho. Prazer, , mas pode me chamar de .
  - Estou esperando a minha filha. Sou o , mas pode me chamar de . – eu poderia fitar aquele sorriso o dia todo que eu não me cansaria.
  Ficamos puxando papo até avistar a professora simpática entregando seus alunos aos responsáveis. Despedi-me de e abracei Daniel bem forte. Chegamos em casa e a primeira coisa que eu fiz foi dar um banho em Danny e servir a sua janta. O resto dessa noite foi como todas as outras: banho, assistir TV e dormir cedo.

  Três meses se passaram depois do dia em que conheci . Nós conversávamos todos os dias, quando levávamos as crianças para o colégio. Descobri que ele era um ano mais velho que eu e tinha uma filhinha da mesma idade que Daniel, chamada Samantha. E ele trabalhava como fotógrafo, assim como eu. Eu já sabia bastante sobre a vida de , mas havia uma pergunta que me matava por dentro, e nem sei se consigo resistir por muito tempo: “Você é solteiro?”. Não que eu esteja apaixonada, mas não podia negar que havia certo interesse.
  - ? Você pode responder a minha pergunta sem me levar a mal? – perguntei.
  - Claro. – ele parecia meio nervoso, ai caralho.
  - Você... É... Solteiro?... – disse um pouco envergonhada com o que eu falei, já que era uma coisa idiota (idiota até demais).
  - Hm... Divorciado – ele deu um sorriso forçado – E você?
  - Viúva.
  - Meus pêsames.
  - Tudo bem.
  Fizemos uma despedida breve e cada um foi para um canto. Aquele ditado popular que eu falei, lembra? Ele não sai da minha cabeça. A melhor opção deve ser mudar um pouco. Busquei meu celular embaixo do lençol até encontrar ele caído no chão. Ah, maneiro. Se a minha mãe estivesse em Londres, ela estaria nesse momento xingando por eu ter o deixado cair. Ri pensando nisso. Peguei o celular e disquei o nome da minha melhor amiga, , ela é o tipo de pessoa que tem a resposta na ponta da língua, pode me ajudar bastante.
  - Amiga? – ela falou meio frustrada. Acho que atrapalhei alguma coisa.
  - Estou te atrapalhando?
  - Digamos que um pouco. Mas fala.
  - O que acha de sairmos mais tarde?
  - Por exemplo?
  - Você que sabe, menina! Eu quase não saio!
  - Arrume-se, passo aí daqui a uma hora. Nós vamos para uma festa.
  Desliguei rapidamente e dei uma olhada nas roupas que eu tinha no armário. Festa, festa, festa, que roupa eu uso para ir numa festa? A única opção seria usar um vestido preto, que eu nunca usei. Ainda tem a etiqueta. Talvez fique um pouco apertado, mas é só dar um jeito ou outro.
  20h00 e eu já estava pronta, Danny ficaria com a minha vizinha e amiga de trabalho, que fez questão de cuidar dele enquanto eu saía. Eu usava um batom vermelho (que eu nem sabia que tinha), cabelos presos em um rabo de cavalo e o maior salto preto que eu tinha. parou na frente da minha casa e buzinou algumas vezes. Ela estava acompanhada de , seu marido e um grande amigo.
  A boate não era tão longe daqui, já que eu morava no centro. Não demoramos a frente. A música era incrivelmente alta e as pessoas dançavam (a maioria bêbada) animadamente. e ficaram por pouco tempo, depois saíram e até agora não voltaram, provavelmente procurando o motel mais próximo.
  Sentei-me e permaneci lá conversando com o barman, que sempre desvia a atenção dos meus olhos para o meu decote. Experimentei algumas bebidas... Até a pessoa que eu menos esperava ver naquela boate anda em minha direção.
  - O que faz aqui sozinha? – perguntou. Ele estava tão perfeito vestido daquele jeito que eu acabei travando.
  - O que VOCÊ faz aqui? – ri.
  - Procurando diversão.
  - Ah, então... Você aceita uma bebida? – ofereci.
  O tempo passava e nós não percebemos isso. Ficamos tão entretidos um com o outro. Dança e bebida, diversão, . Não conseguia me controlar, uma bebida atrás da outra, e, por impulso, eu beijei . Nós não paramos ali. Você já deve saber o que aconteceu depois.
  A luz que vinha daquela maldita cortina que não cobria porcaria nenhuma. Uma dor de cabeça insuportável veio. Eu não estava sozinha na cama. . Ah. Meu. Deus. Puxei rapidamente o único lençol que me cobria, já que estava nua.
  - , . Acorda! – eu o balançava de um lado para o outro na tentativa de acordá-lo.
  - Hm... Bom dia? – ele respondeu.
  - , você passou a noite na minha casa. Tem que sair daqui, rápido. – me sentei na cama. Tinham vários objetos caídos pelo chão e roupas espalhadas pelo quarto. Não sabia que seria capaz de fazer aquela bagunça toda.
  - Nós...?
  - Sim, nós transamos ontem de noite. Agora você precisa sair daqui – levantei-me e trazendo o lençol comigo em direção ao banheiro da suíte enquanto ele juntava suas roupas caídas pelo chão. – Espera. – falei atraindo o seu olhar para mim, e veio em minha direção até ficarmos em uma distância mínima entre nossos rostos.
  - Fale – ele sussurrou.
  - A noite foi maravilhosa. E-Eu me lembro de tudo. Obrigada mesmo – selei seus lábios, e automaticamente minhas mãos pararam em sua nuca e as dele em minha cintura.
  - Eu gosto muito de você.
  - Eu também. Agora vai. – despedi-me.
  - Até amanhã?
  - Até amanhã.

  Lembrava-me de cada detalhe do que aconteceu ontem de noite. Foi realmente maravilhoso. O estranho é que... Eu gostei, não queria parar em hipótese alguma.

  Essa foi a primeira de muitas noites maravilhosas que tive com . Com o tempo, mantivemos uma amizade colorida. Conheci sua filha Samantha e também apresentei Danny. Eles se deram muito bem. Acostumamos-nos em ver um ao outro, fazendo com que virasse rotina. Era impossível ficar sem a presença de algum deles. Com o passar do tempo, um sentimento surgiu atrás de todo aquele prazer que sentíamos.
  Depois de deixar Daniel na escola, e ter uma hora livre antes de trabalhar, resolvi passar no Starbucks. Pedi um frappuccino de caramelo, como eu sempre peço quando vou lá.
  E, mais uma vez, consegue me surpreender, aparecendo com um buquê de rosas M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A-S e me entregando.
  - Oi, ! Como você sabia que eu estava aqui? – dei um beijo no canto da sua boca, para ser mais discreta, claro.
  - Eu ia te visitar no seu trabalho, mas te vi por aqui. Quer que eu saia?
  - Tá brincando? Claro que não! Eu quero que você fique, e não é um pedido. – rimos. – Você tem que parar de me surpreender assim.
  - Nunca. Olhe, eu queria falar uma coisa com você. Não quero que isso ponha em risco a nossa amizade. – ele colocou uma mecha de cabelo minha atrás da orelha. – Tenho pensado nisso já faz um tempo e eu descobri o que é. Eu... Eu te amo, , amo muito. E eu gostaria que você fosse minha namorada. – ele olhava para baixo. Estava completamente corado.
  E a felicidade subiu, eu fiquei tão nervosa. Eu nunca mais enfrentaria os meus problemas sozinha. Eu finalmente tinha um homem que pudesse corresponder aos meus “eu te amo” todos os dias, eternamente.
  Levantei o rosto de . Seus olhos brilhavam. Abri o maior sorriso possível.
  - Eu quero uma família com você, . Eu te amo muito.
  Aquele, sem dúvidas, foi o melhor beijo da minha vida.

Fim



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