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#010 Temporada

Lush Life
Zara Larsson




Exuberante

Escrita por Natchu Bane | Revisada por Mariana

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  Você já teve um coração partido?
  Imagino que mesmo se você, por sorte, não teve seu coração partido deve ter pelo menos escutado uma das milhares de músicas sobre o tema ou assistido aqueles filmes românticos horríveis onde a mocinha passa dez minutos mal, chorando pelo carinha que a traiu/trocou por outra para depois ter um final feliz.
  Não sei quanto a você, mas eu tive meu coração partido e sei que a experiência não se parece em nada com a dos filmes.
  – Pelo amor de qualquer entidade na qual você acredite, sai dessa! – Abigail, minha melhor amiga e única companheira nesse momento desolador, grita enquanto me chuta na barriga.
  – Aí – murmuro com a cara enfiada em uma almofada no chão – Doeu.
  – Amiga, acho que você só não chegou no fundo do poço porque caiu no chão e do chão ninguém passa! – a ouço suspirar – Já faz três dias que você pegou o Lucas te traindo, não acha que está na hora de superar?
  Superar? Como posso superar depois de ter tido meu coração pisoteado como o chão de um salão de dança?
  Só de lembrar da imagem do meu ex-namorado traidor beijando a minha inimiga mortal, Marcela, meu estômago se revira inteiro.
  – Eu achei que ele era o cara certo – choramingo com a cara ainda enfiada no travesseiro.
  – Julia, olha pra mim que vou ser sincera contigo – faço como ela pediu e ergo a cabeça para observa-la – Ele foi uma paixão de verão, não existe essa de “cara certo”.
  – Mas ficamos juntos por todo o verão!
  – E daí? – Abi aproveita a deixa e segura meus ombros – Você é uma mulher maravilhosa, não pode deixar que uma paixão de verão acabe com a sua alegria!
  Sinto lágrimas surgirem nos meus olhos.
  – Como vou encará-los na faculdade depois do que vi? – pergunto.
  Para Abi é fácil falar sobre superar uma paixão de verão, não é ela que estuda na mesma faculdade da paixão de verão e a pessoa com quem a paixão de verão a traiu.
  Abigail me olha com ternura e sorri de maneira meiga.
  – Ah, Julia – ela fala com a voz doce pouco antes de apertar com força meus ombros e começar a me chacoalhar como se eu fosse uma boneca de pano – Para de sofrer e vai aproveitar o final de semana ou eu chuto a sua bunda como se fosse uma bola de futebol!
  Essa ameaça vinda de qualquer pessoa pode até ser engraçada, mas Abigail é uma jogadora de futebol profissional conhecida por marcar gols a distâncias impossíveis graças a força de suas pernas. Sinto um calafrio na espinha. Minha bunda vai demorar um mês para se recuperar de um chute da Abi.
  Mas talvez esse calafrio não seja medo da ameaça feita pela minha melhor amiga, talvez ele seja um sinal de que ela está certa e eu tenho que aproveitar meus últimos dias de verão longe do cara que, bem, foi o maior desperdício do meu verão.
  – Você tem razão, Abi – me levanto e faço a minha melhor pose de “garota decidida”, com direito a mãos na cintura e tudo – Não vou deixar que a traição daquele babaca acabe com meus últimos dias de férias e festas na piscina. A partir de agora, vou curtir como nunca antes!
  Abigail bate palmas, entusiasmada.
  – Arrasou, amiga, gosto assim: bem decidida – ela sorri para mim – Mas você vai começar a curtir a partir de amanhã porque agora são três da manhã e as festas boas já acabaram.
  Olho para o relógio na parede que marca três horas e cinco minutos, acho que agora não tem nada para aproveitar a essa hora mesmo.
  – É, você tem razão – dou de ombros e, pela primeira vez em três dias, resolvo dormir na cama ao invés de no chão – Chega de me sentir mal pelo erro de um panaca e ficar sofrendo por isso.
  Abi sorri para mim antes de apagar a luz e se deitar na cama ao meu lado.
  – Foi só uma paixão de verão – sussurro para mim como um pequeno lembrete.

Foi uma paixão, mas eu não aproveitei o suficiente
Foi precipitado, então eu desisti
Foi uma paixão, eu devo ter falado demais
Mas isso foi o que aconteceu, então eu desisti

  Acordo com o cheiro de café fresquinho, evito me olhar no grande espelho do quarto e vou para a cozinha, onde encontro Abigail servindo uma xícara de café para si.
  – Bom dia, flor do dia – ela sorri – Está animada para o melhor final de semana da sua vida?
  – Mais ou menos – murmuro. Acontece que dormir acabou com toda a minha determinação em ter um final de semana de curtidas loucas e me trouxe um pouco do desânimo costumeiro.
  – Ah, não começa a ficar borocochô que você ainda nem tentou sair para curtir – ela pega uma faca de passar manteiga e a aponta em minha direção de maneira bem ameaçadora – Pode ir falando o que você quer fazer nesse final de semana.
  Acho que só a Abi consegue ser ameaçadora com uma faca que nem ponta tem.
  Dou de ombros e sirvo uma xícara de café para mim, não me surpreendo ao dar um gole e descobrir que ela não colocou um pingo de açúcar nele. Pego uma fatia de pão e começar a passar manteiga nela.
  – Saiu um filme novo que eu queria ver, podemos ir comer pizza depois e dar uma voltinha no parque no domingo – ouço o som da faca que Abi segurava cair e ergo o olhar para encara-la.
  Minha amiga me olha como se visse um fantasma com os olhos castanhos totalmente abertos e a boca carnuda formando um “o” perfeito.
  – O que foi? – pergunto.
  – Eu vou ter que tomar as rédeas dessa situação – ela balança a cabeça movendo seus cachos escuros – Em três dias, um fora te transformou na minha avó.
  Reviro os olhos diante do drama nas palavras dela.
  – Eu e a vó Maria não temos nada a ver uma com a outra – só a paixão por filmes do George Clooney, mas isso a Abi não precisa saber.
  – Vocês têm sim! – Abi pega seu celular e começar a digitar freneticamente – Ambas tinham vinte e dois anos e de repente, pá! Estavam com setenta e dois e queriam ir ao cinema ou parque num final de semana. A diferença é que a vó Maria aproveitou bem mais antes de chegar nesse ponto.
  – E depois eu que sou a amiga dramática – reviro novamente os olhos, mas ela não vê. Todo o foco da minha amiga está na tela do smartphone em suas mãos.
  – Achei! – ela anuncia entusiasmada – Sobe e se arruma, vamos para uma festa na piscina daquele galã da novela das oito!
  Por ser jogadora de futebol profissional, Abigail conhece muitos famosos dos mais diversos meios e sempre está na festa de algum deles. Posso dizer que a minha amiga é bem popular.
  – Você sabe que eu não gosto dele, estou torcendo pelo vilão.
  Agora é a vez de Abigail revirar os olhos para mim.
  – Para de buscar desculpa para não fazer algo legal, tá na hora de curtir a vida!
  Eu sei que ela está certa, essas desculpas estão vindo de uma pequena parte do meu cérebro que tem medo de arriscar e sair da zona de conforto.
  – Tá bom, tá bom – ergo as mãos em sinal de rendição – Mas vou usar toda a sua maquiagem para esconder o quanto estou acabada – aponto para a minha cara querendo enfatizar as olheiras pelas noites mal dormidas e a eterna expressão de cansaço.
  – Pode usar tudo, é a prova d’agua mesmo.
  Meu sonho é um dia poder gastar quanto maquiagem a prova d’agua quiser sem me preocupar em comprar mais.

Altos e baixos
As águas ainda secam
Tenho que voltar pro ritmo
Eu não me preocupo
Altos e baixos
O que importa é agora

  Depois de muito esforço e discussões sobre usar biquíni ou maiô (que eu perdi e fui obrigada a usar biquíni), nós chegamos a festa que acontecia na área mais nobre da cidade.
  – Último retoque da maquiagem! – Abigail anuncia e pega seu nécessaire.
  Aproveito os minutos que Abigail passa retocando a maquiagem para excluir meu ex-namorado traidor das redes sociais e acidentalmente vejo uma foto dele com a Marcela tomando sorvete.
  – Eu não posso me distrair um instante que lá vai você fazer besteira – Abi revira os olhos – Me passa esse celular, ele está confiscado até segunda ordem.
  Faço como ela pediu porque sei que não tenho como vencer uma discussão.
  Saímos do carro e vamos direto para a escadaria que dá acesso a mansão do ator da novela das oito.
  Abigail toca a campainha e o dono da casa vem nos receber.
  – Abigail, como vai? – ele abre os braços para receber minha amiga.
  Imediatamente reconheço o anfitrião, ele faz o papel do herói sem sal da novela das oito que fica atrapalhando o romance perfeito da heroína com o vilão – um pedaço de mal caminho, diga-se de passagem.
  – Melhor agora que estou aqui – Abi pisca para ele e sei que há algum interesse além de amizade entre eles – Essa é a minha melhor amiga, Julia – ela aponta para mim – E esse é meu amigo, Eduardo Toshiro.
  Eduardo tem os olhos puxados, provavelmente é descendente de japoneses, ele é pelo menos dois palmos mais alto do que eu e não consigo descrever muito mais porque o tanquinho dele está de fora e tira meu foco.
  – É um prazer conhece-la – ele pisca para mim com todo aquele charme asiático, sorrio timidamente em resposta.
  Não demora muito para que alguém o chame e Eduardo nos deixe sozinhas.
  Olho ao redor e encontro várias celebridades e subcelebridades no local, até mesmo a última vencedora daquele reality show está aqui.
  – Quanta gente famosa! – minha boca se abre em surpresa.
  Abi passa o braço pelo meu ombro e me puxa para perto, desviamos das pessoas e vamos até a piscina nos fundos da casa onde mais famosos estão reunidos e sendo servidos por garçons vestidos com camisetas floridas.
  – Julinha, Julinha – ela balança seus cachos de um lado para o outro – Meu ciclo de conhecidos é bem mais interessante que o do seu ex-namorado-traidor-maldito.
  – Tenho que concordar – olho para as pessoas ao redor – Será que eu vou encontrar a Xuxa aqui?
  Abigail revira os olhos.
  – Não conheço pessoas tão legais assim – ela pega dois copos de coquetéis que um garçom carrega na bandeja e me entrega um – Se bem que a Xuxa era legal quando a gente tinha seis anos.
  Bebo um gole do coquetel exageradamente alcoólico. Ainda bem que não estou dirigindo hoje.
  – E quem seria “legal” hoje em dia?
  – Deixa eu pensar... – Abi bate com o indicador nos lábios como se estivesse pensativa – O atacante da seleção brasileira, aquele cantor de funk super fofinho, o Eduardo – ela ergue os dedos a cada nome dito – Mas eu já estou de olho no Dudu, então ele não vale... Ah, também tem aquele gatinho que faz o vilão na novela das oito por quem você tem um crush.
  – É muito cedo para que eu vá atrás de um crush – bebo mais um pouco do meu coquetel extremamente alcoólico – Você realmente conhece as pessoas dessa festa?
  – Nunca é cedo para superar um namorado que não presta com um carinha legal – ela dá uma piscadela em minha direção – Algumas sim, mas essa galera blogueira, youtuber ou sei lá o que eu não conheço – ergue as mãos como se estivesse mostrando sua inocência.
  É, mesmo com toda a popularidade acho que até para Abi é difícil acompanhar quem são os famosos da internet.
  Bebo mais um gole do coquetel que agora parece menos alcoólico do que antes.
  As pessoas ao nosso redor se movem ao ritmo de uma música pop animada, elas parecem não se importar se estão dançando bem ou não, só querem se divertir. Poucas pessoas estão sentadas nas cadeiras de sol que cercam a piscina, essas parecem mais discretas em suas conversas particulares cheias de sorrisos charmosos.
  Abi me apresenta rapidamente a uma conhecida, elas começam uma conversa animada cheia de fofocas sobre outros conhecidos, são tantos nomes que nem presto mais atenção. Continuo bebendo meu coquetel e observando as pessoas, quando percebo que ele acabou e trato logo de pegar outro.
  Minha primeira impressão sobre o coquetel estava era equivocada, ele não está tão forte quanto pareceu, acho até que está bem saboroso.
  Mais pessoas se aproximam da área da piscina, a temperatura aumenta rapidamente com todos aqueles corpos se movendo.
  – Nossa, que calor – murmuro.
  – Se você tá com calor – diz um rapaz aleatório que estava ao meu lado usando óculos de sol e boné – Tira a roupa e pula na piscina.
  Mesmo com a fala enrolada consigo entender o que ele diz e faz bastante sentido. Por que não pensei nisso antes?
  Entrego meu segundo copo de coquetel vazio para ele e rapidamente tiro meu vestido ficando só com o biquíni que estava por baixo.
  – BOMBARDEIO! – grito antes de correr até a borda da piscina, tropeçar e cair na água.
  Ok, talvez essa parte não tenha saído como planejado, porém, consigo ouvir os gritos e aplausos das pessoas que estavam do lado de fora louvando minha coragem de pelo menos tentar. Ou talvez eu esteja imaginando, não tenho certeza se sou capaz de ouvir algo estando imersa na água.
  Nado para a superfície e, da maneira mais sexy possível, cuspo um pouco de água que ameaçava invadir meus pulmões.
  – Julia! – ouço Abigail gritar – Você é louca!
  Sorrio para ela e bato os braços espirrando água.
  – Posso ser louca, mas essa água tá uma delícia! – grito de volta.
  Logo ouço um “uhu” e outra pessoa gritando “bombardeio!”. Os convidados começam a se jogar na piscina comigo, alguns com roupa de banho e outros com seus trajes casuais.
  Abigail diz algo para a sua amiga sobre eu ficar mais divertida alcoolizada.

Eu vou dançar até amanhecer
Mas não vou terminar quando a manhã chegar
Fazendo isso toda noite, todo verão
Aproveitando como ninguém mais

  Começamos uma guerra na piscina cheia de brincadeiras e até participo de uma briga montada nas costas de um completo estranho.
  Olho para a beira da piscina e encontro uma senhora baixinha de cabelos grisalhos com seu andador, ela nos olha como se fossemos a coisa mais pecaminosa que já viu em sua vida.
  O mesmo rapaz que me deu a ideia de pular na piscina para ao meu lado. Percebo que ele entrou na água de óculos e boné e agora ambos estão molhados.
  – Mina, cê’ também tá vendo aquela velhinha ali?
  – Pior que eu tô’ – respondo.
  – O que será que colocaram na bebida pra dar essa brisa?
  Algo me diz que a senhorinha não é uma alucinação causada por alguma droga, mas não falo nada.
  A mulher bate com seu andador no chão.
  – Mas que pouca vergonha é essa? – a senhora pergunta com aquele olhar reprovador – No meu tempo...
  – Ih, olha lá – alguém diz – A avó do Dudu veio pra festa também!
  Um coro é formado por pessoas gritando “aê” enquanto a senhora esbraveja sobre como somos pecaminosos e que nossas almas estão fadadas ao purgatório. Eduardo, nosso anfitrião, aparece e leva a avó indignada para dentro da casa.
  Vou até a borda mais próxima da piscina e saio com certa dificuldade, Abi me encontra e entrega uma toalha.
  – Eu nunca imaginei que você era tão festeira – ela sorri – Sair te fez bem, né?
  Assinto e pego um coquetel da bandeja de um garçom que passava.
  – Você sabe como superar um fora com estilo.
  Minha amiga pega o copo do coquetel das minhas mãos.
  – E também sei que você já bebeu muito sem comer – ela bebe o meu coquetel com a maior cara de pau.
  – Você podia pegar um para si! – reclamo.
  – Vai lá dentro comer algo e eu te devolvo o que sobrar desse coquetel – ela sorri de forma travessa para mim.
  Sei que quando eu voltar ela já vai ter acabado com a bebida e substituído o copo por outro, mas sei que Abi tem razão. Beber sem comer sempre é uma má combinação.
  Faço como ela disse, entro na casa e sigo em direção do que parece ser a cozinha (já que as pessoas estão saindo de lá com petiscos nas mãos).
  – Meu Deus! – exclamo ao entrar no lugar.
  A cozinha foi arrumada para que parte funcionasse como um restaurante de comida japonesa com um buffet de sushi e outro lado tivesse mesas cheias de petiscos típicos de festa.
  Pessoas ricas gostam mesmo de ostentar.
  Vou até o buffet de sushi, afinal sushi é caro e não é todo dia que alguém está distribuindo de graça por aí.
  Então eu vejo o cabelo loiro espetado, a postura de quem não se importa com nada e é relaxado, o piercing na orelha e aquele sorriso que me fazia suspirar. Lucas, meu ex-namorado beijoqueiro de Marcelas, estava trabalhando como garçom na festa e ajudando alguns convidados com suas escolhas a poucos passos de mim.
  – Que ele não me veja, que ele não me veja, que ele não me veja – murmuro rápido como uma prece silenciosa.
  Que obviamente não foi atendida.
  – Julia? – ele pergunta vindo em minha direção.
  Minhas opções nesse momento são:
  1. Fingir que sofro de alzheimer,
  2. Fazer como um avestruz e cavar um buraco para me esconder nele,
  3. Beijar alguém para parecer que já superei ele.
  Espera, o quê?
  Então meu corpo, seguindo as ordens de um cérebro alcoolizado, vira parta o lado e beija o primeiro ser humano que surge no caminho.
  Gostaria de dizer que foi um beijo apaixonado e que aquele era o cara da minha vida, mas é claro que o estranho me empurra assim que percebe o que está acontecendo.
  – O que foi isso? – ele pergunta gritando a voz rouca.
  Na mesma hora eu o reconheço, o estranho que acabo de beijar é o ator que faz o vilão na novela do Dudu. Quase fico sem palavras enquanto olho para seus olhos castanhos e o cabelo preto tão perfeitamente bagunçado, será que eu sou responsável por essa bagunça?
  Aí meu Deus, além de ataca-lo eu ainda baguncei seu cabelo?
  – É você mesmo? – gaguejo – Sou sua fã!
  – Se você é minha fã, então sabe que eu namoro – ele olha para os lados – Tem noção da confusão que isso pode dar?
  Talvez, só talvez, beijar o cara por quem tenho um crush que namora talvez não tenha sido a melhor forma de conhecê-lo.
  – Eu não acredito que você fez isso comigo! – ouço alguém gritar – Achei que você me amava, Alex!
  Olho para trás e encontro uma mulher loira de seios fartos nos encarando com repulsa, não preciso pensar muito para chegar a conclusão de que ela é a namorada do cara que acabei de beijar.
  – Eu amo você, isso foi um mal-entendido! – Alex grita e dá um passo na direção dela, mas a mulher vira e sai correndo para o andar de cima.
  Uma coisa boa é que Lucas não está mais por aqui, então pelo menos beijar outro cara serviu para não ter que falar com ele.
  Alex, o meu vilão favorito do núcleo de novelas, me encara como se fosse lançar raios laser dos olhos para me fulminar.
  – Você! – ele diz entredentes.
  – Eu sinto muito – ergo as mãos, me rendendo – Eu só te beijei porque meu ex-namorado traidor estava aqui e pareceu certo beijar um estranho.
  – Desde quando beijar um estranho é a solução para algo? – ele parece tão indignado quanto a idosa que nos olhava na piscina.
  O encaro por três segundos em silêncio antes de dizer:
  – Eu estou bêbada.
  Ele suspira pesadamente como se não pudesse acreditar no azar de ter esbarrado em mim, me sinto inclinada a concordar com ele porque agora o coloquei em maus lençóis.
  Alex segura meu braço, ele ainda parece bravo.
  – Bêbada ou não você vai comigo esclarecer as coisas – ele balança a cabeça – Não acredito que meu único namoro bom vai acabar por causa de uma maluca que beija estranhos!
  Ele começa a andar e vou seguindo-o aos tropeços.
  – Ei! – exclamo irritada – Posso ser uma maluca que beijo estranhos, mas você não precisa fazer isso parecer algo ruim.
  Começamos a subir a escada na mesma hora em que uma nova música começa a tocar.

Eu vivo o meu dia como se fosse o último
Eu vivo o meu dia como se não houvesse passado
Fazendo isso toda noite, todo verão
Fazendo isso do jeito que eu quiser

  No andar de cima, saímos em um corredor cheio de portas fechadas. Alex faz questão de ir em cada uma delas em busca de sua namorada, o tempo todo ele murmura sobre como é injusto que seu único relacionamento legal acabe por conta de um mal-entendido.
  Encontramos alguns casais buscando privacidade, um cômodo inteiro com fotos do Eduardo e outras celebridades e um quarto onde a avó dele, a senhora do andador na beira da piscina, estava escondida.
  – Aquele moleque vai se ver comigo, vou deixa-lo de castigo! – ela sai do quarto com seu andador e vai em direção ao andar debaixo, os resmungos sobre ser mantida em cárcere privado pelo neto me deixam um pouco assustada.
  Olho para Alex procurando respostas para aquilo, mas ele parece tão confuso quanto eu.
  Seguimos em frente e paramos em frente a última porta do corredor.
  – Espero encontra-la aqui – Alex suspira, abre a porta e... – Alicia?
  A namorada de Alex está aos beijos com o Dudu, assim que ouvem a voz do rapaz eles se separam ofegantes.
  – Alex, meu amor, eu posso explicar – ela passa a mão na boca para limpar o batom borrado – Ele me atacou!
  Dudu passa a mão nos cabelos e revira os olhos.
  – Eu te ataquei? Por seis meses? – ele balança a cabeça.
  – Vocês estão juntos há seis meses? – reconheço em Alex o mesmo olhar surpreso e desolador que dei quando encontrei Lucas e Marcela se beijando – Mas nós estamos juntos há três!
  – Eita – deixo escapar.
  Eles devem ter começado a namorar na mesma época que Lucas e eu. Será que essa é uma maldição de namoros de verão?
  Alicia parece pensar em alguma saída, mas logo desiste.
  – Eu admito, comecei a namorar com você enquanto estava com outro cara – ela diz – Mas, em minha defesa, você também me traiu.
  – Eu não te traí – Alex olha para mim, como se implorasse que eu o ajudasse a pelo menos limpar seu nome.
  – É verdade, ele não te traiu – digo com calma – Eu o ataquei e antes de hoje nós não tínhamos nos conhecido.
  A expressão no rosto de Alicia mostra que ela se arrependeu na mesma hora de ter dito a verdade tão cedo.
  – Alex, me desculpa – ela começa um choro forçado – Eu não queria te trair, é que o Dudu...
  Como se invocada pelo apelido do neto, a avó do Eduardo surge na porta do quarto com toda a fúria que uma idosa pode ter.
  – Dudu, seu sem-vergonha! – ela grita – Você acha bonito trancar sua avó no quarto quando ela vem te visitar? – a senhora abandona o andador e tira seu chinelo – É assim que seu pai irresponsável te ensinou a respeitar os mais velhos? Eu sempre disse que ele não era homem pra minha filha!
  Eduardo fica pálido e encara o chinelo nas mãos da avó, juro que vi sua alma querendo sair do corpo como em um desenho animado.
  – Vovózinha, a senhora me desculpa, tá? – ele faz uma voz manhosa e infantil – Agora larga esse chinelo que o chão está sujo, Vó.
  A senhora encara Eduardo e Alicia, o batom borrado dela no rosto dele e as expressões de culpa deixam claro o que estavam fazendo.
  – Quer dizer que você me trancou no quarto pra sair por aí beijando as meninas? – em meus vinte e dois anos de vida, essa foi a primeira vez que vi uma idosa tão brava – Pois agora os dois vão apanhar!
  Movida pelo ódio, a fúria e a necessidade de dar uma lição em seu neto, a senhora corre pelo cômodo jogando o chinelo em Eduardo e Alicia e acertando chineladas na bunda de ambos quando consegue alcança-los.
  Alex segura minha mão e lentamente se afasta da cena bizarra, fechando a porta do quarto assim que saímos.
  – Se fecharmos a porta eles não poderão fugir da justiça do universo – ele diz para mim.
  Balanço a cabeça concordando, acho justo que a senhorinha dê uma lição nos dois pela infidelidade e pela sacanagem de tranca-la em um quarto.
  O som de passos apressados no corredor chama minha atenção, vejo Abigail vindo em nossa direção.
  – O que aconteceu? – ela pergunta – Ouvi gritos lá de baixo e o som de pessoas correndo.
  Alex olha para mim e sei que ele quer que eu conte a história.
  – Bem, a história é bem longa – mordo o lábio inferior – Mas, em resumo, descobri que nem as pessoas famosas estão livres de serem traídas.
  Abigail revira os olhos e me encara do mesmo jeito que a minha fazia quando eu dizia que tinha perdido algo e ela achava com a maior facilidade do mundo.
  – Isso é óbvio, Julia. Ninguém está a salvo de uma traição porque pessoas são muito voláteis, elas mudam toda hora, erram e fazem muita besteira. Por isso que o seu melhor relacionamento é consigo mesma, você deve se amar primeiro e parar de esperar que alguém te ame incondicionalmente como em um filme clichê.
  – Aí – Alex murmura – Essa verdade doeu até em mim.
  Abi leva a mão a testa e depois a passa em seu cabelo.
  – Vocês parecem crianças, se esqueceram da principal regra do mundo – ela nos olha esperando uma resposta para “a principal regra”, quando percebe que nós não sabemos o que isso quer dizer, continua – A sua maior paixão tem que ser você, altos e baixos sempre vão acontecer e só você pode se ajudar a sair deles.
  – Abi, eu estou admirada com a sua sabedoria de bêbada – falo com toda a sinceridade. Minha amiga é como o mestre Yoda do álcool.
  – Bêbada? – ela pergunta confusa – Amiga, esses coquetéis não têm álcool.
  – E o que tem nisso com o gosto tão forte? – agora é minha vez de perguntar com confusão no rosto.
  – Kiwi – ela responde antes de cair na risada – Não acredito que você achou que estava bêbada esse tempo todo!
  Alex entra no embalo e começa a rir de mim com Abi, pensou em retrucar ou fingir que sabia o tempo todo que não tinha álcool nas bebidas, mas resolvo deixar como está.
  Tenho que me importar mais em me apaixonar por mim e aproveitar momentos assim, afinal, a vida é exuberante demais para não ser vivida.

Agora eu encontrei outra paixão
Essa vida exuberante é rápida
Teve uma chance pra me conquistar
A segunda vez é tarde demais
Agora eu encontrei outra paixão
Essa vida exuberante é rápida

FIM