Everything Has Changed
Escrito por Letícia Santos | Revisado por Mariana
Eu não queria ir a formatura. Não queria nem ao menos olhar para a cara dele e constatar que eu estava vermelha feito um pimentão, por culpa dele. Não queria ter que lidar com a minha timidez. E olha, antes que você pergunte, não, eu não sou uma dessas garotas tímidas e entediantes que eu vejo pelos corredores da Albert Harvey - escola da qual o ano que vem estarei livre -, muito pelo contrário. Sou popular e vivo cercada de pessoas entediantes puxando meu saco para arrumar um lugarzinho de destaque na escola. Mas quando se trata de , as coisas mudam completamente. Eu me transformo. A popular e confiante que a maioria conhece se transforma em uma introvertida, com medo extremo de falar bobagem seja pra quem for, e claro, não podemos esquecer da minhas bochechas que ficam tão vermelhas quanto o meu batom favorito. Não queria ir a formatura e ter que passar por tudo isso. Não queria ir para a formatura e encontrar com .
Juro que dei o meu melhor arrumando desculpas para não ir quando - minha melhor amiga - ligou no meu celular implorando para que eu fosse. Dispensei todos os pedidos dos garotos da escola para me levarem ao baile; Eu nem ao menos mandei fazer meu vestido. Deixei minha mãe uma fera com isso? Mas é claro que deixei, mas eu não me importava. Só não queria sentir aquela sensação horrível. Não queria me sentir estupidamente timida perto dele. Mesmo assim todos os planos e desculpas foram ignorados e destruidos com sucesso por uma certa que ligou avisando - leia-se avisando e não pedindo - que íamos ao baile e que meu vestido estava pronto. Não posso negar que depois que vi o vestido, todas as minhas desculpas foram por terra. Era maravilhoso.
- Eu não disse que o vestido ia ficar perfeito em você?! - relembrou entrando no quarto, me pegando desprevenida na frente do espelho. O vestido era maravilhoso, ele era todo roxo, longo e marcava minha cintura. Era perfeito, mesmo sem muito brilho, mesmo com todo aquele tecido esvoaçante que apenas amava e eu não.
- Disse e como sempre, você acertou. - respondi me virando para encara-la. estava deslumbrante com seu vestido amarelo. Digamos que amarelo não era minha cor favorita no mundo, mas quando colocava qualquer coisa amarela ela tinha o dom de transformar aquela cor na mais bela do mundo. - E então, seu acompanhante misterioso vai vir te buscar ou não? - perguntei, curiosa. estava fazendo mistério sobre com quem iria ao baile e eu odiava com todas as minhas forças quando ela fazia isso.
- Vai sim - deu de ombros, se aproximando do espelho e soltando os cachos de seu cabelo negro. - Ele me ligou agora a pouco, avisando que já esta vindo. - completou despreocupada. A encarei com desconfiança. Algo dentro de mim gritou que havia algo errado com o acompanhante misterioso de . Não algo errado, era como se ela estivesse aprontando alguma.
- Hm, okay. - concordei tentando deixar minha leve desconfiança de lado. Voltei a me observar na frente do espelho alisando meus cabelos castanhos claros. Lisos demais para prender. Em cima da hora demais pra pensar em algum penteado elaborado.
A campainha tocou logo em seguida, seguindo a linha dos meus pensamentos. Em cima da hora demais para pensar em algo mais elaborado. soltou um gritinho de ansiedade e ficou de frente para mim.
- Promete que não vai me matar huh? - pediu me encarando ansiosa com um brilho nos olhos que eu reconhecia com facilidade. A vadia estava aprontando alguma.
- Prometo deixar você viver até o fim do baile. - debochei - Fala logo o que você tá aprontando! - mandei e riu balançando a cabeça em negativa.
- Não, vem comigo que logo você vai entender. - respondeu me puxando para fora do quarto. Nós descemos a escadas rapidamente e eu me senti incomodada. Se o acompanhante misterioso de fosse eu jamais a perdoaria por isso. Jamais.
Respirei fundo antes de abrir a porta, me preparando para o que vinha a seguir e sorri aliviada ao ver que o tal acompanhante misterioso não era , era . Ok, ele era o melhor amigo de , mas pelo menos não era o próprio. O que me fazia pensar que ele não ia ao baile, já que onde fosse ia junto. Um suspiro aliviado escorreu por meus lábios. A noite não seria tão difícil quanto eu pensava.
- ! - exclamou o abraçando com força. Logo em seguida, o beijou de leve. Encarei os dois desconfiada: eu andei perdendo algumas coisa nas ultimas semanas? - Você podia ter demorado mais um pouquinho, assim eu poderia dar um jeito no cabelo da - reclamou manhosa, falando da minha pessoa como se eu não estivesse presente. Tão atípico.
- Se você quiser, posso esperar no carro… - o interrompeu e continuou falando como se eu não estivesse presente.
- Ih, não precisa! O cabelo da todo sem graça não tem jeito. - e eu revirei os olhos interferindo. Aquela bla bla bla desnecessário sobre meu cabelo e o estranho relacionamento deles estava me deixando de saco cheio.
- Ok, e , chega de conversa fiada. - pedi encostando no batente da porta entre os dois. - Vamos logo pra essa porcaria de baile antes que eu mude de ideia - falei saindo da casa de e indo em direção ao carro um tanto acabado de . - A proposito, dona , amanhã conversamos.
riu e a acompanhou me deixando sem entender nada e logo me seguiram até o carro. Mal sabia eu o que me esperava.
***
Quando eu o vi de longe, rodeado de garotas, eu podia jurar que minha vontade era arrancar a cabeça de todas elas e de por ter me omitido o fato de que estaria sim na festa. Sem contar é claro, minha leve vontade de cavar um buraco e me esconder lá pra sempre. Me sentei em um sofá escondido em um dos muitos cantos do ginásio e peguei o celular que eu havia escondido no decote do vestido.
- Você não vai embora né, ? - perguntou enquanto eu fingia estar muito interessada em algo no celular. A verdade é que eu já estava morrendo de vergonha. Sem contar a raiva. - , eu to falando com você! - exclamou se sentando ao meu lado e tentando a todo custo me arrancar o celular. Eu fui mais rápida e guardei o celular de volta ao decote e a encarei irritada.
- Você poderia pelo menos ter me avisado. - reclamei cruzando os braços e me esparramando no sofá. Meus olhos focalizaram-se nele por um instante e foi o suficiente para perceber que ele não parava de olhar na nossa direção.
- E então você simplesmente não viria. - ela relembrou e eu dei de ombros - Só fica até anunciarem a rainha e o rei do baile. Por favor. Depois a gente vai embora, prometo. - pediu me encarando com aqueles olhos pidões que somente tinha. Eu respirei fundo e concordei me levantando, enquanto me encarava bastante confusa. - Aonde você vai?
- Buscar uma bebida, porque sem duvida vou precisar! - respondi me perdendo na multidão.
- Minha irmã nunca ligou pra essas coisas de ser rainha do baile. - expliquei, me sentando na borda da piscina da minha casa - Mas esse é quase meu único propósito de ir a formatura um dia. - sentou-se ao meu lado prestando atenção com um sorriso divertido no rosto. - Que foi? - perguntei curiosa.
- É engraçado ver você ansiosa pra ser rainha do baile. - ele deu de ombros mantendo o mesmo sorriso nos lábios - alias, ainda falta tanto pro nosso baile de formatura. - não parecia tão ansioso quanto eu. Pudera, nós só tínhamos 13, 14 anos. Era muito cedo pra pensar em formatura.
- Mas vai dizer que você não tá ansioso?- perguntei arqueando a sobrancelha. E ele riu.
- Pra ver você como rainha sim, sem duvida. - confessou me deixando sem graça. - Mas pra participar do baile, com certeza não. - deu de ombros e eu revirei os olhos. e sua mania de evitar festas a todo custo.
- Hey, eu vou estar com você no baile. Você vai comigo, esqueceu? - perguntei e ele revirou os olhos. - Ah qual é, , vai dizer que não quer ir comigo? - perguntei e ele riu me dando um empurrãozinho de leve.
- Querer eu quero, o problema é saber se até lá você não vai me trocar por qualquer filhinho de papai popular. - ele explicou e eu o encarei séria e confusa. Um silêncio chato se instalou entre nós dois e permaneceu assim até que eu decidisse quebrá-lo.
- Você é a única pessoa com a qual eu me sentiria confortável indo a um baile. - confessei encarando a água tranquila da piscina na minha frente. - Se eu não for com você então não vou com ninguém. - minhas bochechas começaram a queimar imediatamente. Definitivamente aquela conversa estava me deixando sem graça.
Sem que eu esperasse, puxou minha mão para si e apertou como sempre fazia quando percebia que eu estava sem graça ou timida. Ele sorriu pra mim daquela forma debochada que eu tanto detestava e falou:
- Me lembre de cobra-la quando o ano da formatura chegar. - pediu e eu assenti forçando uma risada sem graça. chegou logo em seguida, salvando minha pessoa de ficar ainda mais vermelha do que eu já estava.
Aquela lembrança me incomodou. éramos amigos desde os 7 anos de idade, mas quando fizemos 15 as coisas mudaram. Ele virou o capitão do time de futebol mais novo da escola e eu era quase que oficialmente a organizadora de todos os eventos da escola - exceto essa formatura que eu recusei com todas as forças -. Embora jogadores de futebol se misturassem com o comitê organizador de eventos da escola, de um dia para o outro passou a me ignorar e eu fingi não me importar. Desde então, qualquer tipo de aproximação me deixava sem graça, tímida e me sentindo completamente estúpida em tudo que eu fizesse.
Provavelmente era assim que eu me sentia naquele exato momento, quando ele passou por mim, se posicionando a frente do palco. Seria anunciado o rei e a rainha do baile e para minha total surpresa ele parecia completamente ansioso. Nos dois concorríamos juntamente com , , uma garota que eu nunca lembrava o nome e o um dos meninos do time de futebol. Mesmo assim, parecia confiante, seu sorriso demonstrava aquilo. Ele havia mudado muito. O que eu conheci jamais iria a um baile de formatura, ele sempre dizia que detestava festas; Ele jamais se tornaria o arrogante capitão do time de futebol da escola. O que eu conhecia não iria a uma festa sem minha companhia. Mas sua presença só demonstrava o quanto o passado havia sido esquecido. Lá estava , rodeado por um grupo de mais ou menos cinco ou seis meninas, cheio de si, conversando com todos e esperando que fosse anunciado o rei e a rainha do baile. Coisa pra qual alias, ele disse que jamais participaria.
- A rainha do baile da Albert Harvey School é: - anunciou o direto Jensen logo de uma vez. subiu ao palco toda contente e olhou pra mim acenando enquanto colocavam a coroa em sua cabeça. Eu ri feliz por ela e acenei de volta.
Ser rainha do baile era meu grande plano. Eu iria ao baile com e eu ganharia como rainha. Mas aquilo me fez perceber que ser rainha e ir ao baile com era só um plano bobo que eu deveria deixar pra trás. Não faria sentido ir com ele e não ser rainha e nem mesmo não ir com ele e ganhar a coroa. Ele inevitavelmente estava mais incluso nos meus antigos planos do que eu jamais fora capaz de perceber. Então tudo que eu fiz no momento seguinte foi ficar feliz pela minha melhor amiga. Se existia alguém para quem eu passaria a coroa sem duvida seria ela. fez um pequeno agradecimento antes do diretor continuar.
- E o rei do baile desse ano da Albert Harvey é: - começou, o diretor fazendo um certo suspense, mas todo o ginásio parecia saber. - ! - eu ri da ironia da situação. Ele jamais quis aquilo, mas mesmo assim subiu ao palco parecendo extremamente confortável, como se aquele titulo pertencesse a ele. recebeu a coroa e o diretor já ia lhe indicando para fazer seu discurso quando a inspetora que havia entregado o papel nas mãos do diretor, voltou ao palco lhe entregando outro papel.
- Parece que ocorreu um erro. - afirmou no microfone - A nossa rainha do baile não é e sim . - anunciou forçando a animação. Eu parei estática. Vi começar a rir olhando para que mordeu a boca segurando a risada. Provavelmente aquele era o momento em que todas as inimizades que eu fizera naquela escola se juntariam e me presenteariam com uma formatura digna de Carrie a estranha.
Caminhei em direção ao palco um pouco insegura e timida. Aquilo que eu planejei estava finalmente acontecendo e ele estava ali, me encarando meio bobo como fizera a noite inteira. Olhei para cima a procura de algum balde com algum conteúdo capaz de manchar meu vestido e me transformar na própria Carrie a estranha, mas não vi nada alem do equipamento de iluminação. entregou o buque de flores na minha mão e desceu do palco, parando ao lado de . Ambos sorriram pra mim e pra e eu mal conseguia olhar para o lado. O diretor passou o microfone pra mim, pedindo que eu fizesse algum tipo de discurso e tudo que eu consegui pensar foi:
- Obrigada por me escolherem como rainha. Não sei se eu mereço e nem se eu ainda queria estar aqui. Mas obrigada. - e o diretor Jensen apressado tirou o microfone das minhas mãos fazendo alguma piada sobre eu e termos que dançar uma ou duas musicas juntos. Mal consegui prestar atenção no que ele falava. Meus pensamentos estavam agitados demais pra qualquer outra coisa que não fosse: Ele rei do baile e eu rainha. Aquilo me deixava estranhamente eufórica e toda essa avalanche de sentimentos fazia eu me sentir estúpida.
Stay away, da charli xcx começou a tocar e tudo que fez foi me puxar pela mão, me levando para a pista de dança onde a maioria dos casais se aglomerava. Não consegui olhar nos olhos dele. eu estava sem graça e tímida demais pra dizer qualquer coisa; Pra quebrar aquele silêncio estúpido. E eu não era assim. Eu era corajosa e não tímida e retraída como estava naquele momento. Porém, aquele era o efeito que causava em mim.
- Isso é engraçado. - sussurrou no meu ouvido, enquanto eu me deixava conduzir por ele.
- Isso o quê? - perguntei respirando fundo tentando encontrar minha dignidade em alguma parte daquele palco vazio atrás de nós. - Eu e você dançando essa musica estúpida e relembrando dos meus planos mais estúpidos ainda? - falei ouvindo minha voz falhar no final da frase. riu baixo próximo ao meu ouvido e eu tremi.
- Você me tratar com frieza. - confessou - Isso era o que você queria não é? O baile, você sendo rainha e eu aqui. Não é ? - perguntou e eu respirei fundo. Eu era covarde demais pra responder a verdade. A minha vontade era de dizer que sim. Sim, , esse momento era o que eu sempre sonhei que acontecesse. Inclusive eu sou apaixonada por você desde os meus 13 anos de idade e nunca tive coragem de dizer. Estúpida e tímida demais pra tentar fazer alguma coisa a respeito.
- Não. - respondi baixo - Eu era criança mal sabia o que estava dizendo. - menti e ele riu, então eu juntei um pouco de coragem que eu tinha - Alias, eu nem faço ideia de quem você seja. , capitão do time de futebol, ex namorado de alguma oportunista do 3º ano, extrovertido e rei do baile de formatura. Não sei quem é você. - completei começando para que aquela musica terminasse logo e assim eu poderia fugir dele e ir embora. Por mais surreal que fosse ser rainha do baile de formatura, o simples fato de estar com ele tornava a noite insuportável.
- Você fala como se continuasse a mesma. - sussurrou encostando a boca de leve no meu ouvido. Um arrepio percorreu minha espinha e eu quis fugir o mais rápido possível dali - Popular, do comitê organizador de festas… desfilando por ai com as garotas mais fúteis do colégio. Ah sem falar no Daniel. a que eu conheço jamais sairia com um cara desses. - afirmou e eu ri fraco. Ah eu sairia com Daniel sim, afinal ele era bonito. E quanto as garotas fúteis, não tinha ideia do quanto era difícil suportá-las na minha cola a toda hora.
- Eu sempre fui assim. Uma pena que você só tenha percebido isso agora. - respondi um tanto nervosa. A musica não ia acabar nunca?
permaneceu em silêncio por alguns segundos. Senti seu coração bater contra o meu devido a nossa proximidade. Desejei poder fugir e mantê-lo bem longe de mim. Aquela proximidade toda me provocava uma coisa que eu vinha evitando a muito tempo.
- Eu queria entender o que aconteceu com nós dois… - murmurou como se falasse sozinho e eu tremi quando ele disse “nós dois”. Nós dois. Minhas bochechas queimaram um pouco. Estúpida. Estúpida. Sem duvida eu estava parecendo uma menininha de 15 anos apaixonada. Apaixonada e idiota.
- Ai ai, , me solta. - gritei rindo enquanto ele me jogava no sofá da minha casa - Idiota! - xinguei ainda rindo e ele se largou do meu lado.
Nos dois nos encaramos por longos segundos em silêncios e então ele sorriu de um jeito diferente, parecia meio bobo, encantado.
- Linda. - disse acariciando meu rosto, aos poucos sem que eu percebesse, aproximou seu rosto do meu me deixando completa e absolutamente sem graça.
Eu me afastei me levantando do sofá ficando de pé imediatamente, ignorando a sua investida. Tentei esconder o quanto aquele simples elogio e aquela carícia haviam me deixado um pouco sem graça, mas foi quase impossível.
- Acho melhor você ir pra casa arrumar suas coisas. - sugeri encarando o chão, no dia seguinte viajaríamos para Austrália pra passar férias com os avós dele. se levantou um pouco sem graça e respirou fundo.
- É, eu acho melhor antes que eu acabe estragando tudo. - disse atravessando a sala de estar e indo até a porta. Eu o segui não sabendo direito o que fazer. Ao mesmo tempo que eu queria que ele ficasse e continuasse com aquilo que tinha intenção de fazer, eu queria que ele simplesmente fosse embora.
- Er… eu. - tentei falar alguma coisa pra quebrar o gelo entre nos dois, mas acabou por não dando muito certo.
- Desculpa por aquilo. Você sabe. Eu não quero estragar tudo com você. - se desculpou abrindo a porta e parando do lado de fora.
Eu sorri e o encarei por um ou dois segundos antes de perceber uma certa intensidade em seus olhos e ficar completamente sem graça de novo.
- Você não estragou tudo. - respondi sem encará-lo. Vi assentir um pouco inseguro.
Ele se aproximou de mim com cuidado e me abraçou. Eu o abracei de volta embora eu estivesse envergonhada demais. Ele me afastou e meu coração quase saiu pela boca de tão acelerado.
- Se cuida. - pediu beijando minha testa carinhosamente como nunca fizera - E vê se não inventa de levar a casa inteira pra Austrália. - ele riu e eu acompanhei.
- Nada. - suspirei sentindo sua mão afrouxar o aperto na minha cintura. – Olha, eu preciso ir. - avisei o empurrando de leve pra longe de mim. foi mais rápido e me puxou perto dele com força. Nossos corpos de chocaram sem delicadeza nenhuma e eu arfei. mordeu o lábio me encarando sério.
- Nós dois podíamos acabar com essa besteira de evitar um o outro não é? - perguntou enquanto eu tentava me afastar a todo custo.
- Eu não to te evitando. Nunca te evitei. - respondi me livrando do seu abraço finalmente. Tirei a coroa da cabeça e a segurei com força, o nervosismo tomou conta de mim com a mesma facilidade que a vontade de dar um basta naquela situação.
Se eu fosse mais corajosa talvez diria que eu jamais o evitei e que tudo que eu mais queria na vida estava acontecendo naquele momento: eu e ele dançando juntos no baile. Mas a timidez não deixava. A voz não saia e minha boca simplesmente secou. Meu corpo não obedeceu nenhum dos meus comandos de seguir em frente e trazê-lo de volta pra minha vida. Tudo que eu fiz foi fazer o contrario, tentar afastá-lo ainda mais. Só que dessa vez pra sempre.
- Não? Não mente pra mim, , você mente muito mal. - relembrou me fazendo corar; Aquilo era verdade, eu mentia muito mal, mas todos acreditavam exceto , que me conhecia demais pra cair em qualquer mentirinha. - Isso vai soar presunçoso, mas eu sei que você sente minha falta tanto quanto eu sinto a tua na minha vida. - completou me deixando sem reação. Ele não precisava jogar as coisas na minha cara daquele jeito.
Permaneci em silêncio o encarando.
- Eu… - tentei responder, mas ele me cortou me puxando pelas mãos.
- Não, não precisa tentar dizer nada. - ele pediu me encarando com intensidade - Eu só quero que você saiba que todos esses anos que eu passei longe de você nada mudou em mim. Minha vida pode ter mudado, mas o que eu sinto jamais - explicou e eu desviei o olhar. Não podia suportar aquilo. Agora não era mais a timidez que me machucava, era o fato de que durante todos esses anos eu fora uma completa estúpida - cada garota que eu beijei foi pensando em você, cada garota que eu dormi foi pensando. Não me importo se você vai acreditar ou não, mas precisava falar isso agora. - finalizou e meus olhos marejaram.
Ai como eu era idiota. Orgulhosa, idiota, tímida quando não devia. Tudo de ruim nesse mundo.
- Agora é um pouco tarde demais. - respondi me arrependendo cruelmente daquilo que eu estava dizendo. Mas era verdade. Era tarde demais. Cada um de nós seguiria pra faculdades diferentes. provavelmente iria pra Austrália e eu iria pra Yale. - Você foi uma das minhas lembranças mais importantes, mas você mudou, você se afastou e nem ao menos tentou me impedir de me afastar de você. Se queria que as coisas fossem diferentes, então que tivesse tentado antes, quando ainda existia tempo. - completei e então virei às costas pra ir embora, precisava sair dali o quanto antes. Não queria desmoronar em lágrimas ali mesmo.
Nunca havia acontecido nada entre nos dois. Até porque éramos jovens demais pra qualquer coisa do tipo, mas eu gostava dele. Não, na verdade era mais do que um simples gostar. Era muito mais do que isso. Eu deveria ter dito antes, quando tive oportunidade, quando ele não ia para o outro lado do mundo, bem longe de mim. Mas infelizmente minha timidez não permitiu. Então era hora de deixar pra trás, era hora de ter um pouco de maturidade e lidar com toda aquela situação.
- E então a culpa é toda minha. - ele falou com a voz levemente tremula - Espero que você não se arrependa quando eu for embora pra sempre. - avisou e eu olhei pra trás, com os olhos já marejados.
- Eu não vou. - minha voz tremeu e as lagrimas caíram como eu desejei que não acontecesse. Deixei para trás e corri em direção a e que estava na entrada do ginásio conversando tranquilamente.
- , me leva embora, por favor. - pedi já em lágrimas e olhou para o salão e depois voltou o olhar pra mim. Provavelmente ela havia entendido a situação. - Não aguento mais isso.
- Ok, vamos. - disse passando o braço pelo meu ombro e me tirando imediatamente do ginásio com na nossa cola. A formatura tinha acabado ali pra mim.
Não havia mais lagrimas. Eu já havia chorado o suficiente por uma vida, por ele e por mim, por nós. Mesmo assim ainda doía. Doía o fato de que eu preferi deixá-lo ir do que o fazer ficar. Doía o fato de eu ser uma estúpida confusa. E foi assim perdida em pensamentos que eu mal percebi quando a porta do meu quarto se abriu e ele entrou no quarto.
- Não. Dessa vez você não vai fugir. - falou e eu levantei o rosto do travesseiro assustada - Você vai ouvir cada palavra minha. - avisou e eu me levantei já pronta pra expulsa-lo do meu quarto. se aproximou de mim do lado da cama e antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele me puxou pra perto dele pela cintura. Um arrepio percorreu meu corpo e eu corei. Minha cabeça gritava para que eu o empurrasse, mas meu coração gritava para que eu mantivesse meu corpo o mais perto do dele possível. Nenhuma palavra saiu da minha boca para impedir que ele continuasse falando.
- Eu só entrei no time de futebol pra te impressionar. Eu era um loser, uma garota popular como você jamais se interessaria por mim. Eu lutei pra ser o capitão porque eu queria que você olhasse pra mim com outros olhos, não como um irmão. - ele confessou e eu o empurrei completamente surpresa. Aquilo era demais pra mim. havia se tornado quem tinha se tornado por minha causa. Pra me impressionar. Meus olhos tornaram a se encherem de lagrimas e eu me virei de costas. Então se ele queria falar sobre segredos e sentimentos que nunca foram revelados, ele também iria me ouvir. Não me importava se minhas bochechas estava tão vermelhas quanto as flores que eu havia recebido no dia anterior, não importava a vergonha que eu sentiria. Nada importava.
- E então você ficou com outras garotas em vez de lutar por mim. - relembrei sem me virar pra encará-lo - Você ficou com algumas das meninas da minha turma e jogou isso na minha cara. Você virou justamente o tipo de cara que eu detesto. Você me afastou. - me virei deixando que as lagrimem caíssem e ele visse. Não me importava com mais nada.
- Eu não queria outra garota. Nenhuma delas era você. - se explicou e eu vi seus olhos se encherem de lagrimas - A única que eu quis de todas as maneiras possíveis era você. Mas você jamais se importou com isso. - terminou e eu respirei fundo rindo sem humor algum.
- Eu jamais me importei? Ah, faça me o favor, ! - reclamei indignada. A raiva tomou conta de mim com facilidade e eu desandei a falar coisas que eu jamais falaria pra . Nem em um milhão de anos - Eu sempre fui louca pra você. Não importava se fosse o loser do colégio ou o garoto mais popular. Feio ou bonito, gostei da pessoa que você é e não do que você mostra pro mundo. - expliquei enxugando minhas lagrimas, ele me encarava surpreso - E você ainda acha que eu nunca me importei. Tudo bem pode continuar acreditando agora não vai fazer difer… - então algo que eu não esperava aconteceu. me puxou pela cintura e me beijou. Não foi um beijo daqueles sem graça e sem nenhum tipo de sentimento que experimentei aos montes por ai. Era algo romântico, profundo e me causava sensações que eu jamais senti. Meu coração acelerou e sua mão se apertou com força minha cintura. Seus lábios macios tocaram os meus com um misto de delicadeza e desejo e eu simplesmente desejei que aquilo não acabasse nunca. Não me importava se eu estava perdendo o ar ou não. Havia esperado demais por aquele beijo pra desperdiçar qualquer segundo dele.
Inevitavelmente alguns minutos depois separou nossos lábios e riu de leve.
- Por que você não falou tudo isso antes? - perguntou e eu abaixei os olhos sem graça. Aquele gesto já respondia tudo, mas mesmo assim resolvi responder em alto e bom som.
- Timidez, vergonha, frescura. Não sei. - falei me recompondo - Na verdade não faz diferença agora, faz? - perguntei e ele fez que não com a cabeça.
- Desculpa por estragar as coisas com você. - se desculpou beijando meus lábios de leve me fazendo rir - Eu sou um idiota. - afirmou e eu o beijei com força.
- É… um pouco. - e ele riu baixinho beijando minha testa - E você não estragou nada. - falei me lembrando de quantas vezes ele tentara sutilmente alguma coisa comigo e eu me esquivara por medo e timidez.
Nos dois nos encaramos por longos minutos, abraçados de pé, ao lado da minha cama. Os olhos dele ainda tinham pequenos resquícios das lagrimas que quis derramar, mas o brilho ofuscava qualquer dor que passara por ali.
- Rainha do baile e com você do meu lado. Exatamente como eu planejei. - eu ri e ele ficou me encarando com um sorriso bobo no rosto - Que foi? - perguntei confusa.
- Isso é bom demais pra ser verdade! - ele respondeu e eu ri dando um tapa fraco em seu braço. contorceu o rosto numa careta de dor e depois riu. - Nos dois ficamos muito tempo separados e agora estamos aqui, preciso lembrar de agradecer o e a . - ele riu e eu revirei os olhos, mas é caro que aquilo era armação da . Eu precisava lembrar de dar uns tapas e agradecer .
- Eu sabia que era coisa desses dois. - confessei cruzando os braços em frente ao peito. - Vou dar na cara deles - avisei tentando me libertar dos braços de , mas ele me segurou com força.
- , esquece eles. - pediu - O importante é que a gente voltou a se falar e que não existe nada nos impedindo de ficarmos juntos, nem timidez, nem minha idiotice ou nosso dom de estragar as coisas. Vamos ficar juntos - ele completou com um sorriso fofo nos lábios e então eu me lembrei de um detalhe que nos impedia de ficar juntos. Droga.
- Exceto pelo fato de que você vai pra Austrália. - lembrei soltando um suspiro pesado. Ele me encarou sério por alguns segundos e depois me beijou com força.
- Não vou. - ele respondeu rapidamente entre um beijo e outro. Nos começamos a nos beijar novamente e eu deixei que as coisas seguissem. Eu queria aquele garoto a mais tempo do que era possível querer alguém, ainda mais tendo tantas opções como eu tinha. enroscou seus braços em volta da minha cintura e me deitou na cama. Eu estava pijama e agradeci mentalmente por ter me revoltado com o aquele vestido mais cedo. - Esquece o mundo lá fora. Hoje nada pode separar nos dois! - exclamou enquanto beijava meu pescoço e eu desabotoava sua camisa.
- Nada, nem mesmo minha timidez ou sua idiotice. - eu ri e ele jogou a camisa no chão do meu quarto. - Ah propósito, : eu te amo. - eu sussurrei antes que ele voltasse a me beijar e eu me entregasse a aquele sentimento e aquele momento que há muito tempo esperei.
FIM
Hey gente, eu ando meio enferrujada em shortfics e com certeza Behind the enemy lines ficou óh uma bosta! hahaha Qual é gente, timidez é um tema bem dificil de escrever çflkfgk Mas foi legal de escrever porque a ideia veio rápido a cabeça. Tenho que agradecer ao sr Nathaniel Buzolic por ser oh boy magia inspiração amor de minha vida que me levou a escrever essa fic em dois dias. Anyway digam ai nos comentários o que acharam e qualquer coisa venha falar comigo no twitter @whynotleticia ou @buzolicfeels. tchauzinho e até a proxima tentativa de shortfic hahahaha