Eterno Amor

Escrito por Giulia Krein | Revisado por Mariana

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  - Eu estou com medo, . - falou, me abraçando com força.
  - Medo do quê, minha pequena? - Eu a envolvia em meus braços fortemente, tentando passá-la confiança, mesmo sabendo que nada ficaria bem.
  - Medo de nunca mais ver você outra vez. - Já conseguia sentir minha camiseta ficando ensopada com as lágrimas inacabáveis de .
  - É apenas uma cirurgia, meu amor. - Eu acariciava seus cabelos e tentava não deixar lágrima alguma cair. - De risco, mas só uma. Depois tudo isso acaba, eu estarei livre dessa doença horrível e nós continuaremos felizes pelo resto de nossas vidas.

  Ponha pra fora as sensações internas/ Enxaqueca agridoce na minha cabeça/ É como uma dor de dente pulsando na cabeça/ Eu não aguento mais esse sentimento

  - Mas e se... - Ela não conseguiu terminar a frase e começou a soluçar novamente.
  - E se nada. Caso algo pior aconteça, eu terei a certeza que namorei a garota mais bonita do universo, a única que me fez feliz durante todos os minutos que eu passei ao lado. Se algo horrível acontecer, saiba que eu em minuto algum parei de amar você. Obrigado por cada minuto de felicidade que você me deu. Eu te amo, .
  - Eu amo você, , por favor, não deixe as pessoas que te amam. - Ela falou, apertando cada vez mais forte a minha camiseta.
  - Eu não deixarei. Isso é uma promessa.
  - Não, . Não prometa algo que você não tem certeza que irá cumprir. - se afastou do abraço, encarando meus olhos cheios de água.
  - Então me prometa você. Prometa que nunca me esquecerá.
  - É claro que eu nunca esquecerei você, bobo. Como eu posso esquecer o amor da minha vida? Nem em um milhão de anos. Não enquanto eu estiver respirando.
  Eu por fim sorri. Afinal, era o que restava, certo? Não iria passar o resto dos meus dias lamentando. Iria passar ao lado da pessoa que me fez amar o amor. Bastava.
  - Então me beije e diga que ficará tudo bem. - Falei, e ela sorriu junto a mim.

  Drene a pressão do inchaço/ Essa sensação irresistível/ Me dê um longo beijo de boa noite e todo o resto ficará bem/ Me diga que eu não vou sentir nada Me dê Novocaína.

   selou nossos lábios em um beijo que, juro por Deus, queria que nunca tivesse acabado. Parecia tão bom, tão infinito e tão nosso. Talvez a última coisa nossa que poderia existir dali a poucas horas. Mas ainda assim nosso.
  - Eu não direi que ficará tudo bem. - Ela falou, ainda sorrindo.
  - Não? - Questionei.
  - Eu direi que você não sentirá nada. Green Day, lembra? - Ela deixou cair mais uma lágrima, mas mesmo assim não tirou o sorriso do rosto.
  - A nossa música. É claro que eu me lembro, boba. Quando eu tirei você para dançar naquele baile de primavera, era a música que estava tocando. Give Me a Novacaine.
  - Sempre foi a nossa música, não foi? - Ela falou, sorrindo.
  - Então me conceda essa nossa música. - Eu a estendi a mão, fazendo-a mais uma sorrir. E é exatamente assim que eu quero me lembrar dela: Sorrindo e me amando.

  Fora do corpo e fora da mente/ Beije os demônios dos meus sonhos/ Estou sentindo o sentimento engraçado e está tudo bem/ Jimmy diz que é melhor do que o ar/ Eu vou te dizer porque.

  Dançamos por um bom tempo, tornando aquilo infinitamente nosso por alguns minutos que ainda me restava ao seu lado.
  Fomos interrompidos por uma enfermeira abrindo a porta.
  - Eu sinto muitíssimo, senhor , mas não podemos mais esperar. - Ela falou e eu abaixei a cabeça, assentindo.
  - Tudo bem, vamos acabar com isso de uma vez. - Eu dei um beijo no topo da cabeça de e me afastei, caminhando até a mulher de branco.
  No meio do caminho fui interrompido por me abraçando fortemente por trás. Não consegui conter as lágrimas e me virei para poder a abraçar também.
  - Vai dar tudo certo, não vai? - Ela perguntou, soluçando.
  - Te prometo que sim. - Eu não queria que as minhas últimas palavras fossem mentiras, mas foi o que aconteceu dali para frente. A enfermeira separou nosso abraço, me guiando até uma maca para ser sedado. Depois disso, nunca mais me lembro de ter a visto novamente. Meus últimos pensamentos eram que, a única promessa que eu não cumpri a minha namorada, era a de vê-la novamente.
  Tinha a certeza de que, na hora da minha partida, meus pais me olhavam do outro lado daquela sala escura, mas eu não me lembro de vê-la nesse momento, mas não a culpo, eu também evitaria ver o grande amor da minha vida sendo aberta ao meio sem quaisquer chances de sobrevivência.
  Eu a cuido todo dia aqui de cima, vendo seguir sua vida, completar seus estudos e logo em seguida namorar um homem elegante, de boa índole. Ela enfim formou sua família, se casando alguns anos depois e criando seu pequeno e adorável .
  Eu a escuto rezando todo dia por mim, pedindo que Deus cuidasse da minha alma e no início perguntava se eu estava melhor aqui em cima do que junto a ela.
  Fico cada dia mais feliz ao ver que ela pensa cada vez menos em mim, fazendo assim, a vida arrancar-lhe alguns sorrisos. E valeu cada minuto ao seu lado, assim eu tenho certeza que a fiz feliz.
  Aprendi que nem sempre podemos fazer o que queremos, nem ter o que desejamos, mas precisamos dar valor aquilo que conquistamos e agradecer por tudo o que ganhamos. É isso que eu faço, sei que fiz o melhor ao lado da , e agradeço por ela ter conseguido a vida que tem hoje, a família que tanto ama e tudo o que sonhou.

FIM



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