Essence of Fear

Escrito por Soldada | Revisado por Lelen

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Parte 01

BROOKLYN, NOVA YORK. | AGORA

  Ele não tinha mais pesadelos.
  Não mais passava as noites em claro e tampouco acordava suando, trêmulo, em alerta, ao mísero som que ecoava por seu apartamento relativamente vazio. À espera de um ataque. Sempre à espera de um próximo ataque. Wakanda havia sido diferente. Em Wakanda ele havia tido paz. Verdadeira paz. Pura. Inquestionável. Tranquila. Mas agora... após dois meses, algo havia mudado. Bucky Barnes até mesmo considerou dormir, pela primeira vez em muito tempo, na cama. Não mais no sofá de Sarah ou no colchão que ele deixava em sua sala, próximo da porta e da janela, onde seria fácil para ele escapar se fosse necessário. Não. Ele havia considerado dormir em uma cama. Sua cama. Fazia tanto tempo que não dormia em uma cama que Bucky questionava-se se ele sequer lembrava-se de como era a sensação. Talvez, não...
  Havia sido estranho nas primeiras noites. Era como se algo estivesse fora do lugar, como se algo não estivesse certo. Como se ele não merecesse estar ali, e talvez, de fato, não merecesse. Veja, Bucky sabia, nada que ele havia feito como Soldado Invernal havia sido consensual. Ele havia sido obrigado. Sua autonomia havia sido apagada e restringida ao completo esquecimento. Ele não tinha culpa, Steve dizia... mas ele ainda o fizera. Ele ainda apertou o gatilho no final das contas, e aquilo pesava. Era estranho aceitar que ele não tinha controle sobre si e mesmo assim carregar o peso dos pecados cometidos. Mesmo que não fosse a mente por trás, sua mão ainda empunhou a arma. E talvez, o que mais o corroía fosse justamente o pensamento de que ele poderia ter feito algo diferente. Por vinte anos ele havia resistido, até que algo o quebrou. A exaustão. Se tivesse lutado mais. Se tivesse sido mais forte. Se tivesse tentado resistir por mais tempo. Se tivesse apertado o gatilho contra si mesmo...
  Ao fundo de sua mente, mesmo depois de tudo, ele ainda se questionava se poderia ter mudado algo. Sabia que não levaria a lugar nenhum. Não havia como mudar o passado e muito menos condenar-se pelo que já havia sido feito, mas o pensamento, todavia, sempre o assombrava. E, ainda assim, quando ele enterrava o rosto no travesseiro, ele não via os rostos de sempre e não sentia a necessidade de manter-se parcialmente acordado, à espera de um potencial ataque que nunca viria. Ainda guardava a faca embaixo de seu travesseiro. Precaução, dizia a si mesmo. Medo. Dê o nome que você desejar. Velhos hábitos custam a desaparecer e às vezes, sequer o faziam. Às vezes arranhava acidentalmente seu rosto ou o braço com a ponta da faca, mas não era uma surpresa que ele tivesse escoriações ou cortes por seu rosto e corpo, então, mesmo que Sam questionasse, nada dizia sobre que pudesse levantar questionamentos. Bucky Barnes estava em paz.
  Estava em casa. E isso, isso era bom, certo?
  Então... por que aquela maldita flor o estava incomodando tanto?
  Ele não sabia muito sobre flores. Sabia que mulheres gostam de flores e que era um gesto mínimo a ser feito quando se possuía um interesse por alguma pessoa. Um gesto cortês e educado, talvez antiquado para essa época, mas bem, ele agarrava-se ao que podia do passado, de certa forma, se ele não o fizesse, o que era, afinal, Bucky Barnes agora? Esta época... essa geração... só havia conhecido o Soldado Invernal, não Bucky Barnes, e ele não podia... ele não conseguia...
  Havia algo naquela maldita flor que arranhava alguma parte atrás, escondida e imperceptível de sua mente, há muito tempo perdida. E isso o incomodava. Ele não tinha alergias. O soro supersoldado havia inibido isso. Ele tinha um pensamento neutro sobre aroma e embora preferisse os mais doces, ele não tinha problemas com aromas mais pungentes, talvez, apenas com limão. Talvez fossem as cores, uma mistura de branco e vermelho escuro. Talvez fosse a sensação de já ter visto aquilo antes e não saber, ao certo, de onde a familiaridade vinha. Talvez ele não desejasse se lembrar de onde vinha…
  Assentindo para si mesmo, ansiosamente tentando aliviar a tensão que sentia com o tique nervoso, Bucky piscou, voltando o olhar para a atendente e então ofereceu um sorriso forçado, visivelmente desconfortável, falso até mesmo, mas em uma genuína tentativa de oferecer o máximo de um sorriso amigável que ele era capaz – algo que ele não estava acostumado a fazer com frequência – para a atendente quando esta retornou o troco de seu dinheiro e lhe entregou o buquê de rosas vermelhas. Por força do hábito ele hesitou, verificando o objeto com uma minúcia desnecessária. Não que estivesse procurando por falhas nas pétalas ou alguma flor que estivesse murcha, ele simplesmente não conseguia desligar, após tanto tempo vivendo sob o instinto de perigo iminente, uma parte de seu cérebro nunca conseguia desligar, o impulso de procurar a mentira, a armadilha oculta. Não havia nada, é claro, mas ainda assim Bucky, por um segundo, se permitiu apenas encarar fixamente o buquê de rosas buscando encontrar o gatilho, a arma disfarçada. Esperava ao menos que Leah gostasse das flores.
  A ideia de ir a um encontro depois de tudo o que havia acontecido e passado parecia insólita, inconsequente e até mesmo estúpida ao ponto de Barnes se questionar por que diabos o estava fazendo. Mas uma parte de si mesmo, a parte que se agarrava desesperadamente ao que quer que fosse por menor de mísera normalidade – e que talvez realmente estivesse permeada pela própria negação e não aceitação de algo que havia sido obrigada a fazer – recusava-se a deixar aquela chance passar. É claro, ele havia tentado alguns aplicativos de encontro. O Tinder era esquisito e ele realmente se sentia mais desconfortável do que excitado quando lia as palavras Daddy ou Zaddy, e por duas vezes se pegou perguntando o que aquela geração possuía com a palavra, porque não fazia sentido algum. Quer dizer, por que você acharia algo sexy chamar outra pessoa de “papai”? No mínimo havia algo freudiano esquisito. No máximo, bem… ele realmente não tinha tempo para lidar com aquele tipo de coisa depois de tudo o que havia passado.
  Bucky Barnes queria uma vida simples, sem muitos problemas a cerca ou dificuldades. Então ele ficou um pouco surpreso quando, por duas vezes, se pegou tentado a simplesmente pedir para que a pessoa que estava conversando ligasse ou procurasse um psicólogo. Dizer você precisa de ajuda, para ele havia soado como um comentário sincero, mas algumas pessoas não haviam levado tão normalmente quanto ele esperava. E então, havia o Grindr. E levou cerca de uma hora, e algumas selfies bem específicas – e consideravelmente impressionantes – para ele oficialmente desistir de qualquer coisa relacionada ao aplicativo e se questionar o que diabos alguém poderia esperar como reação ao mandar uma foto do próprio membro para outra pessoa. Tudo bem, Bucky Barnes era um homem fora de seu tempo.
  Bucky Barnes cresceu em uma Nova York dos anos 40. Era um mundo diferente do qual estava inserido agora. Mais cruel. Mais duro. Mais superficial. Família com ramificações judaicas assim como Sarah – a mãe de Steve Rogers –, filho mais novo do casal que podia observar a maneira com que a irmã mais velha, Rebecca, era tratada diante da sociedade, e a discrepância com que ele era tratado. Posições diferentes, expectativas diferentes, não menos opressoras. Mas ele sabia como navegar naquilo. Ele havia crescido para ser um soldado, para servir o exército e perdido, de certa forma, sua juventude ali. O que ele não esperava era se tornar uma arma nas mãos inimigas e lhe ser roubada totalmente a autonomia.
  As mulheres naquela época eram mais oprimidas do que agora, era surpreendente ainda assim para ele ver uma mulher independente tomar uma atitude para conseguir o que desejava, embora, de certa forma, o agradasse. Mas Bucky duvidava muito que estivesse preparado para algo além do que um primeiro encontro. Havia tanta casualidade ali que era incômodo e, certamente, não havia ninguém que era capaz de entender sua experiência além de Steve. Mas Rogers tinha sua própria vida agora1.
  Bucky Barnes não fazia mais parte dela, fazia?
  De certa forma, um golpe certeiro em seu ego, mas o melhor amigo tinha direito de escolher seu caminho, e ele o dele. Quer dizer, há muito, muito tempo os caminhos de ambos haviam divergido para outros lugares, no fim, Bucky Barnes estava sozinho. Mas a verdade era que ele até mesmo gostava de ver mulheres tomando o partido e o chamando para sair ou, ao menos, dando-lhe ultimatos como Leah havia feito. Mesmo que Nakajima o tivesse jogado na cova dos leões inicialmente e Bucky necessitasse agradecê-la por isso, no fim Leah era uma boa pessoa e uma mulher interessante, além de muito bonita, então quando ela praticamente o convocou para uma conversa aquela manhã, Bucky se sentiu na obrigação de ir. É claro que ele estava evitando. Dizer a verdade a Nakajima havia o ajudado a dormir, mas o fez enfrentar as consequências de seus atos e como afetam pessoas inocentes, não apenas alvos em específicos.
  Ele se lembrava de todos, é claro.
  Mas havia algo em ter que enfrentar a vítima e perceber com horror a extensão de seus atos que ia além do perdão, algo na compreensão de que nem tudo poderia ser resolvido e que algumas cicatrizes corriam mais profundamente do que esperado, que jamais receberia perdão ou paz, que era pura tortura. Ele havia trazido a si mesmo isso. E embora ele estivesse começando a parar de se torturar sobre, nunca apagaria o fato de que ele o havia feito. Se tivesse lutado mais. Se tivesse resistido, talvez as coisas tivessem sido diferentes, talvez ele pudesse ter escapado dos carrascos e torturadores que o mantinham preso e ter evitado tanto sofrimento. Não era culpa de Bucky Barnes, mas ele sentia, e não conseguia deixar de sentir, que era.
  No fim do dia, ainda eram suas mãos.

  — Quando você tira a porra da sua luva você tem sangue nas mãos. É assim que funciona. Você traça o limite aonde quer que você precise, Sargento. No fim do dia alguém ainda tem que fazer o inimigo ficar com medo do escuro. A gente se suja para que o mundo continue limpo. Essa é a missão. Agora se você tiver dúvidas, então eu posso fazer isso sozinha2.
   não ergueu a linha de seu olhar em nenhum momento. O sotaque era pungente na maneira com que ela falava, visivelmente russo, o que fazia com que sua voz baixa e discreta, levemente rouca, ecoasse pelos ouvidos de Barnes como um ronronado esquisito. Não era desconfortável como ele havia achado que seria. Era, na verdade, relutantemente agradável aos ouvidos, como uma carícia ou um sussurro gentil. Fazia com que a respiração dele se prendesse ao fundo de sua garganta e por alguns breves segundos ele ficasse terrivelmente consciente de si mesmo, sem ter ideia do que fazer com o peso de seu corpo, trocando-o de perna constantemente ou a necessidade de se possuir braços – afinal, para que serviam a não ser o fazer se sentir estranhamente estúpido e desastrado. Porra aquele não era ele.  Bucky Barnes era conhecido por flertar suave, com confiança e que conseguia conquistar qualquer mulher que desejasse, Dotty que o diga… o que havia naquela que o fazia se esquecer de como falar?
  Talvez fosse por ser russa.
  Talvez fosse por ser realmente bonita por baixo da lama, fuligem e sujeira das trincheiras. Talvez fosse pelos olhos prateados intensos, profundos e observadores, sempre atentos, como se fosse capaz de ler não apenas a mente dele, mas sua alma. Verdade seja dita, apesar de ter inúmeros imigrantes permeando Brooklyn e Manhattan, Bucky Barnes nunca havia conhecido uma garota russa. Havia esbarrado com alguns russos perto de Bushwick enquanto caminhava com Steve no Brooklyn ao que pareciam ser décadas agora, e lembrava de serem barulhentos e parecerem com raiva o tempo todo, gritando entre si em um dialeto esquisito. Lembrava-se de ter feito uma piada para Steve e quando Rogers tinha se engasgado, tentando ocultar o riso pelo comentário de Bucky, os dois receberam um olhar mal-encarado de um deles. Bucky conseguiu desescalar a situação usando carisma, como sempre, mas puta merda, tinha finesse. Uma inteligência desconfortável que ele não estava acostumado em encontrar em nenhuma pessoa, nem mesmo em si mesmo. Raramente falava, quando o fazia era direto, sem besteiras ou conversa fiada. Perguntas pessoais eram duramente ignoradas, e flertes tratados com a zombaria de apenas um olhar. Uma especialista qualificada para o trabalho.
  Igualmente não parecia ter a porra de um coração.
  Ou alma.
  O cigarro permaneceu preso no canto dos lábios dela, mais avermelhados pelo frio invernal austríaco, enquanto os olhos, afiados como sempre, permaneceram presos na carabina que ela havia retirado do corpo de um dos abates daquele dia mais cedo. Capitão Vorobyov, líder do pelotão dela, era a ligação entre o Exército Vermelho e os soldados da Tríplice Aliança ali. Naquele momento o propósito era sobreviver o máximo de dias possíveis até chegarem ao front ao noroeste, e não serem capturados pelos malditos alemães. Até agora, 42 baixas, entre bombardeios aéreos, ataques a longa distância e tanques. Pela noite haveria mais, Bucky sabia. Era uma aliança arriscada, porém necessária entre o Esquadrão 107 e os Cherepa. Crânios, de acordo com Hogan. O símbolo de caveira bordado como um lembrete vívido do que eram, e do que faziam. Dum Dum Dugan havia dito, entre palavras sussurradas e uma expressão severa sobre o Esquadrão. Soldados de elite, capacitados ao extremo e que tinham apenas um único objetivo: matar nazistas. Pelas linhas inimigas, soldados inimigos se tremiam e se cagavam com medo de encontrar um dos Crânios. Eles eram bons no que faziam, mas o que faziam não era nem um pouco bonito de ser visto. O tipo de equipe que a guerra precisava; o tipo de ser humano que não deveria existir.
  Mas sob a lama, fuligem e sujeira, eles pareciam iguais.
  Dum Dum Dugan parecia estar mais aberto à parceria do que os outros integrantes da equipe, mantendo um olhar sempre atento em Vorobyov, mesmo entre risadas baixas e entendimento mútuo de dois soldados que se esforçaram ao máximo para estocar e manter seus charutos intactos. Em ummomento raro de tranquilidade, Bucky havia visto Vorobyov e Dum Dum Dugan dividirem o charuto por meros minutos, em um silêncio pesado, enquanto observava a extensão da estrada de terra que ele teria que seguir por mais três horas até chegar ao front. Poucos momentos em que o consolo era poder normalizar a respiração e a presença de seus colegas de time se faziam como consolo enquanto o sentimento de abandono, de exaustão e fúria tomava conta de seus seres.
  Guerras eram organizadas por pessoas poderosas, estapafurdiamente ricas.
  Guerras eram lutadas por miseráveis desesperados. Abandonados.
  Não havia diferença ali. Enquanto se arrastavam pelas trincheiras e lama, eles eram os mesmos. A linha inimiga desaparecia e se tornavam apenas pessoas desesperadas para conseguirem sobreviver ao final do dia e voltar para casa. Mesmo os malditos nazistas ainda tinham famílias para quem voltar e uma vida por trás de tudo aquilo que haviam abandonado para servir a um propósito maior.
  Um propósito que não existia. Era mentira.
  Como sempre, o momento de tranquilidade havia passado rápido demais. Antes que pudessem sequer relaxar, algum esquadrão nazista havia os localizados e então, eles estavam fugindo novamente. Vorobyov havia ficado para trás com mais três soldados para segurar o esquadrão. Não haviam voltado até o momento, então, Petrovich, a Segunda Tenente da equipe russa, havia ordenado para que prosseguisse sem ter tempo para verificar se o Capitão havia sobrevivido ou não. Bucky Barnes jamais poderia ter feito isso. Bucky Barnes teria jogado a arma no chão e voltado por seu Capitão imediatamente porque, apesar de tudo, ele acreditava firmemente em lealdade, mas quem dava as ordens naquele momento era ela, não Bucky Barnes. Bucky Barnes era apenas um Sargento, um ranque abaixo dela, e como tal, deveria baixar a cabeça e dizer “sim, madame” para o que quer que ela dissesse. Aquela não era a especialidade dele, era a especialidade dela.
  Se Vorobyov e seus três homens estivessem vivos, os encontrariam do outro lado do lago, a dois dias. Se não, eles continuariam marchando até chegar ao front e de lá, se uniriam ao restante dos soldados para tomar a fronteira dos alemães antes do final do mês. Este era o plano. Mas Vorobyov era o intermediário entre o time de e o dele. Era a ligação que havia sido propositalmente cortada pelos alemães para os deixarem perdidos e eliminá-los logo. Era apenas uma questão de tempo até que Tenente Abbott se voltasse contra ela e os horrores da guerra e que homens depravados se abatessem à pequena e de olhar felino. Mas aquela era .
   Petrovich…
  Segunda Tenente, fluente em alemão, francês, russo e inglês. Aviadora das Bruxas da Noite, transferida de time porque era uma excelente rastreadora. Especialidade: infiltração e furtividade. Dentre todos ali, somando o esquadrão 107 inteiro, sozinha os vencia com mais de 130 nazistas mortos até o momento. Mais viriam com o tempo, Bucky sabia. Pontaria quase perfeita, precisa como a porra de uma máquina, não falhava. Quem quer que fosse aquela garota não estava ali por pura brincadeira. Não, longe disso, Bucky Barnes havia sido designado como sniper pelo time, ele tinha uma pontaria excelente e, por um longo tempo, enquanto a examinava em completo silêncio, uma parte dentro de si se sentiu acuada e tensa com a presença da . Nem mesmo ele era assim tão bom como ela. Seja lá qual tivesse sido o treinamento de , não havia sido qualquer coisa. Não havia sido um mero treinamento.
   era apenas uma garota. Era pequena e parecia frágil na maior parte do tempo. A pele possuía algumas cicatrizes por baixo do uniforme pesado e frequentemente molhada pela lama das trincheiras e buracos que eles se arrastavam para evitar os nazistas, mas era menor que a maioria ali, talvez, com exceção de Hogan. Era delicada como uma flor e tinha olhos expressivos apesar de sua aparência sempre estoica, fria e desapegada emocionalmente. Ela deixava bem claro o desprezo que sentia por eles, americanos, e não parecia se importar muito com a primeira impressão que causava, apenas fazer o trabalho que era necessário ser feito. O que, honestamente, era a única coisa que importava para Barnes. Ou bem, era a única coisa que importava ele se convencer de que importava.
  Mas mesmo em ação, Barnes não conseguia deixar de sentir o incômodo de que aquele lugar, aquele espaço no fundo da lama e sufocado por fuligem e sujeira, não era adequado para alguém como ela. Para uma mulher. O instinto protetor de colocar-se na linha de tiro e proteger a , mesmo que ele soubesse com tranquilidade que ela não precisava. Era uma mistura de emoções demais para ele lidar, então, Barnes apenas verificou a sniper outra vez, destravando o compartimento com a bala e então, colocando mais uma. Com um pequeno soco, ele fechou o compartimento, engatilhando a arma, e então lançando um olhar para , que agora retornava seu olhar com uma expressão impossível de ser lida. Não havia nada caloroso ali.
  — Mais alguma coisa, Sargento?
  Bucky não disse nada, apenas travou a mandíbula com um estalo, obrigando-se a desviar os olhos da , e voltando sua atenção para o caminho que se abria à sua frente. Os dois snipers passariam a noite ali à espera do comboio de suprimentos austríacos sendo direcionados para o leste do front alemão. O plano era simples, e arriscado, se houvesse uma falha, não apenas iriam entregar suas localizações, mas igualmente corriam o risco de serem capturados pelos inimigos. Mas era um risco que eles precisavam correr, não havia outra escolha.
  Bucky alçou o binóculo de um dos bolsos de seu colete, enquanto saltou de cima do tronco que estava empoleirada, verificando a carabina, pousando como um verdadeiro gato no chão. O casaco de trincheira, escuro, tinha as barras e mangas sujas com sangue, mas não era dela. Destacou-se, assim como os cabelos dela. Através do binóculo Bucky observou a estrada de terra estreita vazia, exalando baixo enquanto o frio noturno começou a incomodá-lo, como sempre fazia.
  — Nenhum sinal dos alvos, Segunda Tenente. Movimentação a Oeste, são dos nossos.
   retirou o cigarro de sua boca, jogando-o no chão e pisando em cima, antes de empunhar a sniper dela, indicando com a cabeça para que Barnes começasse a se mover.
  — Entendido, Sargento.
  — CUIDADO, PORRA! — O grito furioso de um ciclista que havia quase acertado Bucky o trouxe de volta para casa.
  Bucky piscou, surpreso pela sensação de distração e pela memória vívida que há muito tempo não lhe voltava à mente. Ele piscou algumas vezes, tentando balançar a cabeça, antes de praguejar entredentes, observando as rosas em sua mão. Os olhos azuis esverdeados, intenso e marcantes, analisaram por um breve segundo as pétalas delicadas das flores que ele havia comprado para Leah, por um segundo a mente dele apenas desvirtuou-se para uma época longínqua, e para um tom de vermelho que não era aquele. Não. Aquele não era o mesmo tom que o de . Eram peônias.
  Porra…
  Antes de se dar conta, Bucky Barnes marchou novamente na direção da floricultura, tentando ignorar a sensação de frustração e ao mesmo tempo ansiedade que se acometee em sua mente. Ele uniu as sobrancelhas, concentrado, desta vez, incapaz de oferecer um sorriso amigável ou manter a fachada de tranquilidade para a atendente, mesmo que ela não tivesse nada a ver com a situação em questão. Mesmo que fosse só um dano colateral. Ainda assim, ele não podia evitar.
   estava morta. Ela era um eco, uma memória distante de um passado que ele havia enterrado há muito, muito tempo. Ele se questionou por um segundo, distraído, se ela teria voltado para casa como desejava. Se ela tivesse encontrado um bom marido para si e tido filho... o pensamento quase o fez sorrir com um final pacífico desses. A verdade é que Bucky Barnes não era mais estúpido ou tão inocente assim e ele sabia que, muito provavelmente, a HIDRA a havia matado no mesmo dia em que eles foram capturados. Ela deveria ter sido torturada, experienciando horrores que, somente aqueles que têm as mãos sujas e fizeram parte de guerras, compreenderiam. Se fosse sincero consigo mesmo, ele tinha certeza que ela havia morrido há muito, muito tempo. E a pior parte era que ela não saía de sua mente…? Por que aquele fantasma justamente agora… depois de tanto tempo…?
  Você… por que você…?
  — Vou levar essas também. — Barnes apontou para as peônias, soltando um pigarro quando percebeu, incomodado, que sua voz quase falhou. O eco das palavras dela, sua voz em sua mente, é quase real demais para que ele se sentisse confortável. Bucky Barnes estava acostumado a ser assombrado, mas depois de tanto tempo, nunca esperou que aquele fantasma o encontrasse. Merda… 
  Barnes pagou a atendente e sequer a agradeceu daquela vez, tomando das mãos da moça um pouco mais bruscamente as flores sem entender exatamente por que o incomodavam tanto, e por que a memória de estava lhe retornando com tanta intensidade. Mal deixou a floricultura e as peônias já estavam completamente amassadas por sua mão biônica, destruídas completamente e enterradas na primeira lata de lixo que encontrou por seu caminho. Percebeu, com tardia convicção, algo que não havia lhe ocorrido antes:
  Ele odeia peônias.

  — Você quer me transformar em um monstro, Barnes? Tudo bem. Quer agir como se você fosse completamente inocente? Ok. Mas quando Steve Rogers estiver se vangloriando sem parar como o heroi recuperado e altruísta, o que irá acontecer quando ele descobrir que foi você o heroi que me criou?
   estava morta. Morta. Porra.
  Então por que diabos sua cabeça estava insistindo tanto em ressuscitá-la naquele dia? Não era apenas a maneira como a memória estava voltando, irritantemente, era a maneira com que a voz dela ecoava em sua mente, vívida e assombrosamente presente, ecoando em seus pensamentos mais íntimos uma sensação vertiginosa de culpa. Muito tempo havia se passado, e, ainda assim…
  Os olhos azuis esverdeados de Barnes se estreitaram, buscando rapidamente por Leah e onde ela estaria sentada no café. Ele propositalmente fingiu não ver Sam Wilson, o novo Capitão América, sentado ao fundo, com um boné vermelho discreto, ocultando o rosto dele e roupas casuais que o faziam passar despercebido por qualquer um ali dentro. Igualmente, Bucky Barnes ignorou completamente a presença de Steve Rogers, com um boné escuro e a jaqueta azul escura familiar sentado de frente para Wilson, fingindo examinar com despreocupação o menu da cafeteria.
  Bucky estreitou os olhos e conteve o impulso de revira-los, ignorando a maneira com que seu primeiro impulso era ir até o melhor amigo e o amigo de seu melhor amigo e questionar que merda eles estavam fazendo ali. É claro, ele não faria isso, porque antes que a ideia atingisse sua mente, seus olhos repousaram em Leah, tranquilamente sentada em uma das mesas próximas da janela, esperando por ele. Bucky ofereceu a ela um sorriso sincero, apesar de não ser algo familiar a ele o gesto, caminhando em direção a onde ela estava, determinado a enfrentar o que tinha que enfrentar.
  Mal deu dois passos quando o pequeno gesto de cabeça de Rogers em sua direção foi registrado. Merda… cerrando a mandíbula bem marcada e afiada, Bucky Barnes acenou discretamente na direção de Rogers, antes de voltar a encarar Leah com pesar. Mesmo que ele tentasse, não importava o que acontecesse, o dever sempre vinha em primeiro lugar. Havia sempre mais uma missão, mais uma luta a ser lutada. Paz, para soldados, era completamente desconhecida. E mesmo se eles tivessem, poderiam aceitá-la? Quando se viveu por tanto tempo em ação, enfrentando o inferno e monstros diariamente, talvez a paz se tornasse o próprio inferno. De qualquer forma, Bucky Barnes não saberia dizer isso ao certo. Apenas que entre o trabalho e Leah, ele teria que escolher o trabalho. Bucky repousou as flores sobre uma mesa próxima de Leah antes de dar as costas para a mulher, ciente de que colocava um fim naquilo permanentemente. Ele não devia, mas o trabalho recebia procedência.
  — Você não saberia ser humano mesmo se se esforçasse muito, Sargento Barnes. — As palavras eram cruéis e ecoaram como um sussurro traiçoeiro ao fundo da mente de Barnes.
  Bucky prendeu a respiração, balançando a cabeça, como se fosse possível se livrar de tais pensamentos, embora não tivesse sequer o resultado desejado que não fosse um mero placebo momentâneo. Barnes exalou lentamente, irritadiço, fechando as mãos em punhos firmes enquanto deixava o café, caminhando a passos firmes em direção a um dos becos próximos dali, ciente que os amigos estariam o seguindo até que estivessem em um espaço privado. Atravessou o beco, deparando-se com a rua tranquila e vazia da vizinhança do Brooklyn, onde previsivelmente outra agente o esperava. Sabia que não era um ataque, mas reconheceu imediatamente o padrão de ação. Não era um pedido aquilo, mas uma intimação. Barnes cerrou com ainda mais força a mandíbula, unindo as sobrancelhas em uma expressão de poucos amigos, inclinando a cabeça para o lado observando atentamente a mulher vestida em roupas casuais, visivelmente projetadas para não chamarem atenção, se aproximar dele a passos lentos.
  Altura mediana, cabelos escuros como a noite, na altura dos ombros, embora as pontas fossem esbranquiçadas, olhos verdes intensos, estreitados e aquela característica expressão de julgamento que os agentes possuíam ao acessar um alvo novo. Barnes ergueu o queixo, sustentando o olhar da morena sem desviar, desafiando silenciosamente enquanto tencionava a mandíbula. Ele precisava admitir, quem quer que ela fosse tinha sido esperta. Muito, muito esperta. Havia estudado o perfil dele, e sabia que trazer Steve e Sam ajudaria a convencê-lo a fazer o trabalho, independentemente do que fosse. Era um bom plano, ele tinha que lidar com isso. Agora o que significava ter seu interesse voltado a ele, era outra história. Uma mais arriscada e perigosa.
  — Sargento Barnes. — A voz ecoou de maneira imponente e implacável. Bucky tinha certeza de sua origem. Nick Fury. Não em qualquer lugar e muito menos algum agente remanescente da SHIELD ou que trabalhava na CIA. Não. Longe disso. Ela era uma agente de Nick Fury. Diretamente. O espião confiava em poucas pessoas, isso fazia parte do trabalho, e mesmo aquela mulher não devia ter totalmente a lealdade de Fury, mas se o tinha a seu lado, e se Fury a mantinha por perto, era porque ela era boa no que fazia, e acima de tudo, porque ela podia ser uma aliada em tempo imediato. — O nome é Ward. Melanie Ward3. Precisamos conversar.
  — O que quer que deseje alegar, eu estou limpo, agente Ward. Há meses. Não sou mais o Soldado Invernal e não tenho mais contas a prestar. — Os passos familiares de Steve em sua direção foram imediatamente reconhecidos pelo moreno, mas ele não desviou o olhar de Ward, analisando-a com atenção e tensão ao mesmo tempo.
  A verdade era que, pela experiência, ele não conseguia mais confiar em nenhuma outra pessoa. Nenhuma outra pessoa que não fosse Steve. Steve Rogers era sua rocha, de certa forma, uma luz que podia guiá-lo depois de tudo o que havia sobrevivido, e não havia outra forma de lidar com aquela situação. Mesmo Sam Wilson a quem ele havia passado a respeitar e confiar – até mesmo podia dizer-se que o considerava um amigo, de certa forma –, ainda recebia um pouco de cautela, não por crueldade ou desconfiança, mas pelo medo. O medo que sempre estaria instaurado em sua mente, e ao qual ele precisou aprender a conviver. O medo nunca desaparecia. E se tudo aquilo fosse apenas mais uma manipulação?
  A programação havia sido desfeita em Wakanda. Ele estava livre. Mas uma parte do Soldado Invernal sempre estaria ali, dentro de si, presente como uma maldita cicatriz grotesca da qual ele não conseguia desviar os olhos. Havia pouco a ser feito nesse caso, a menos preparar-se para o momento que essa parte o encontraria. E era por isso que ele não conseguia confiar totalmente em outra alma viva que não fosse Steve Rogers. Então a mão do melhor amigo repousando em seu ombro bom, direito, em um pequeno aperto de maneira reconfortante, de fato havia aliviado um pouco de sua hesitação, mas não a tensão.
  — Não estamos aqui para cobrar nada, Bucky — Steve disse, a voz mais baixa e gentil do que a de Ward, que permaneceu a encará-lo, retornando o olhar de maneira quase severa e implacável, apesar de sua expressão não ser a de uma ameaça imediata. Steve indicou com a cabeça para Ward, como se silenciosamente desejasse dizer à morena que ele tomaria conta da situação, e então voltou a encarar Bucky com sua expressão caracteristicamente preocupada. Entre os dois, Steve Rogers, sempre foi o mais sério. Até o Soldado Invernal aparecer. — Estamos aqui porque precisamos de ajuda. A sua ajuda.
  — Não teríamos vindo se não tivéssemos outra escolha — Sam complementou com um pequeno tom sarcástico que Bucky sabia que era provindo da implicância familiar entre os dois.
  Bucky não respondeu, apenas permaneceu encarando Melanie Ward.
  — Dois dias atrás Nico Stanton entrou em um cassino em Las Vegas com o único propósito de vender informações para um grupo de mercenários ainda não identificados de Madripoor. Seu nome verdadeiro era Nico Stanovich — Melanie Ward explicou com um tom de voz firme e distante, quase inexpressivo, e Bucky reconheceu imediatamente o desapego emocional que pairava sobre a agente. Não era incomum na área em que eles trabalhavam. A máscara, a frieza e a necessidade de compartimentalizar as emoções, e Bucky não pôde deixar de sentir um gosto amargo em sua boca ao estreitar os olhos, em completo silêncio, encarando fixamente a morena sem desviar os olhos. Bucky Barnes não era assim. O Soldado Invernal, era.
  — Um agente infiltrado.
  — Precisamente. — Ward retirou do bolso de sua calça o aparelho celular que mais parecia apenas um quadrado de vidro escuro, e por um breve momento digitou rapidamente no aparelho, concentrada. Os olhos verdes se moveram rapidamente pela tela do aparelho e pela primeira vez a quebra de contato visual foi feita. Por Melanie, não por Barnes. Ele não pôde evitar de observá-la atentamente, buscando a mentira, o desvio, a armadilha. Mesmo que Steve confiasse nela, Bucky não sabia ao certo dizer se o fazia no momento. Ela iria precisar de muito mais do que simplesmente a postura impecável para conseguir convencer Barnes de que ela não era algum tipo de ameaça para si mesmo, mesmo que ele estivesse tentando muito não a ver ou julgá-la dessa forma. — Estabelecido como Stanton desde os anos 80, após a queda do Muro de Berlim. Supõe-se que ele deve ter assumido que foi esquecido por seus comandantes. Construiu para si mesmo uma réplica perfeita do Sonho Americano. Até dois dias atrás. Recebeu um telefonema por volta da manhã e pela tarde, Stanovich matou sua família, apagou os registros em seu escritório e se dirigiu diretamente para extrair um antigo pacote. Nós acreditamos que dentro desta mala há códigos que Stanovich pretende vender para nossos inimigos.
  Bucky Barnes tencionou a mandíbula com mais força, unindo as sobrancelhas em uma expressão tensa. O desenho se formou em sua mente rapidamente mesmo assim, não lhe pareceu, e tampouco ecoou, como sua responsabilidade. Ele não era mais um soldado, era apenas um civil. Seus anos de serviço haviam sido em anos de reabilitação com acompanhamento psicológico pela tortura e o que o Soldado Invernal havia feito. Ele o havia cumprido, agora, era apenas um civil.
  — Códigos de mísseis? Não é jurisdição de Thunderbolt e o exército, Steve?
  E foi somente quando Bucky voltou a linha de seu olhar para Steve Rogers, que ele compreendeu lentamente a que ele se referia. Os olhos azuis claros de Rogers se tornaram nebulosos, e o rosto apresentou um contraste profundo de luto, pesar e, ao mesmo tempo, tensão. Steve abaixou o olhar encarando o braço de metal de Bucky, enquanto Barnes ergueu o queixo lentamente, exalando de maneira discreta enquanto exalava lentamente.
  Significava que era uma parte de mim que ainda estava por aí. Significava que o Soldado Invernal ainda existia…
  Porra…
  — Encontraram Zephyr, não é?
  — Você não era o único Soldado Invernal, Sargento Barnes. E por mais que Zemo goste de assumir o manto de assassino de super poderosos, a verdade é que a Sala Vermelha e a Hydra possuem raízes bem mais profundas — Ward disse com um tom de voz neutro, mas Bucky permaneceu a analisando em silêncio. Acessando a maneira com que a morena se portava. Ele uniu as sobrancelhas, mal-humorado, enquanto o eco e a memória vívida de Zephyr retornavam à sua mente. Borradas, alteradas, manipuladas ao bel prazer de seus antigos donos, não menos vívidas em sua mente. E ao fundo de tudo, lá estava ela, encarando-o de volta com aqueles malditos olhos intensos e profundos, julgando-o. Quando você tira a porra da sua luva, você tem sangue nas mãos. As minhas estão encharcadas, , é isso que quer ouvir? Bucky pensou, apertando os lábios em uma linha fina. — E acredite quando digo, eles virão por você. Seja esperto, Sargento, ajude-me a encontrá-los primeiro.

GRAZ, AUSTRÍA | AGORA

  Em um buraco, há muito enterrado e esquecido por seus superiores, a base subterrânea permanecia em um estado constante de hibernação. Os escritórios estavam abandonados, esvaziados até o último papel, e os arquivos haviam sido queimados antes que pudessem ser roubados e/ou verem a luz do dia outra vez. Alguns pequenos pedaços de papeis ainda pairavam pelos chãos, todavia. Mínimas anotações, entrecortadas, sobre progresso. Pequenos trechos sobre um projeto adormecido em meio às salas. Uma arma. Os samples com os materiais genéticos para analisar a estrutura e o DNA do subjeto, há muito havia envelhecido, mas as manchas do sangue ainda permaneciam, intactas, e escurecidas pelo tempo. As luzes ainda permaneciam apagadas, mas o eco dos eletrônicos, eram persistentes. Míseros bips processando não apenas informação, mas refrigerando as câmaras. Inúmeras. Ocultas na escuridão, não mais pareciam algo além de um casulo. A água da criogenia permanecia perfeitamente estável, limpa e funcional. O sistema era resetado a cada três em três dias. Era automático. Os fios e cabos, presos por entre carnes congeladas e músculos atrofiados, funcionavam como estimuladores para manter o que quer que pudessem de seus corpos funcionais. Números riscados eram a única identificação ao lado das câmaras de criogenia. Silêncio permeava o espaço quebrado apenas pelo constante bip do funcionamento das máquinas. Telas de computadores, tecnologia mais recente possível, cobriam ao fundo das paredes, onde cadeiras viradas de cabeça para baixo e mesas abandonadas, ainda com copos de cafés deitados sobre e manchas de digitais, encontravam-se. Estava assim por anos, e permaneceria assim por mais anos. Não havia nada ali que merecesse ser lembrado.
  Clic.
  A tela do antigo computador, substituído em 2010 antes da Queda da SHIELD, se acendeu subitamente e nesta, uma informação simples piscou à espera do comando. Código de ativação. Era o que pedia. Por um breve momento a tela apenas congelou, piscando de maneira oscilante, evidenciando uma pequena falha no sistema antigo e esquecido por todos, enterrado abaixo da Áustria. Então, os dígitos surgiram, um por um. De maneira remota, distante, digitados.
  Código Inserido.
  Analisando…
  Analisando…
  Analisa….
  Acesso Liberado.
  Iniciando processo de descongelamento do subjeto 8… 1… 9… 2… 3… 1… 5… 4… 2… 9…
  Nome…
  . .


  1 Alguns eventos de Guerra Infinita foram alterados aqui devido à incompatibilidade com as personalidades e com o que foi criado durante os filmes dentro de seus arcos. Outros eventos podem não condizer porque a autora é egocêntrica e acha que pode escrever uma história melhor do que os Russos, porque, convenhamos, acertaram com Soldado Invernal, erraram em Guerra Civil e Ultimato. Natasha Romanoff, Tony Stark, Steve Rogers e outros estão vivos neste universo (faz alguma coisa aí Vigia, me processa, vai filha da puta).
  2 Diálogo retirado do video game publicado pela Activision, e produzido pela Infinity Ward, Call of Duty: Modern Warfare. O diálogo originalmente ocorre no Modo Campanha do jogo, e ocorre entre o Sargento “Gaz” Garrick, e o Capitão Price, adaptado aqui para melhor encaixe na história.
  3 Melanie Ward é uma personagem original criada pela Taaci ar[TH]mis nas redes. Era a protagonista da antiga Acts of Vengeance, a melhor fic do Capitão América que eu já li. Com as merdas que o MCU faz e fez, o personagem Melanie Ward foi adicionado aqui para substituir o JasperSitwell, que, originalmente não era um traidor, apenas um dos braços direitos do Nick Fury, que tinha muitos braços direitos. Para quem viu InvasãoSecreta, vocês sabem quem a Melanie Ward está substituindo, e não, aqui ela não morreu. Foda-se a Marvel.

  0 Essa fic faz parte de um universo compartilhado, as características das personagens aqui, não condizem com suas pertinentes originais. A autora se desculpa publicamente por quaisquer incoerências e falhas ao representar as

CONTINUA...



Comentários da autora


  NOTA DA AUTORA: [24/04] Oi, você não me conhece, eu não conheço você. Se tá achando o título familiar, essa história foi postada em 2017 quando eu era apenas uma adolescente e a Marvel estava em seu auge. Hoje, estou com 25 anos, quase trinta, e muita coisa mudou. Talvez tenha sido apenas um período de Mania, quando a depressão te convence de que você é invencível, talvez, tenha sido a nostalgia que me alcançou, e talvez… talvez, seja apenas o tédio. Seja lá o que for, ressuscitei isso pelo puro despeito, e para provar coisas a mim mesma, ou funcionar como uma forma de processar algumas coisas que nunca processei. Se você é a Lannes, a Val ou a Taaci e achou isso aqui: essa é a que eu prometi e nunca entreguei, é pra vocês. Comenta se gostar, ou manda um e-mail para este lincado com a fanfic, ou faz nada não, fique a vontade. Honestamente, só queria aproveitar a sensação de nostalgia, e encerrar o passado com o que eu nunca consegui oferecer: um final. É nóis, agora a tia Soldada vai jogar Stardew Valley com o pouco de tempo que ela ainda tem, antes de ter que voltar a vida de adulto, e tentar conquistar de vez o Elliot porque, when you know you know, né? Até a próxima, (provavelmente na entrada deste capítulo, a atualização já esteja na caixinha de entrada da beta porque a história já está finalizada, e os envios programados). A gente se vê.