Esse Amor É Uma Mentira

Escrito por Helen Katheryne | Revisado por Mah

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INÍCIO DE TUDO

  A luz clara dominou toda a igreja, fazendo todos olharem para trás, inclusive eu e . As portas de quase cinco metros se abriram revelando usando paletó preto todo largado e a gravata preta estava frouxa. Ali, na minha frente, estava um irreconhecível, de cabeça baixa e seu cabelo fazendo o mesmo.
  Levo minha mão até a boca em espanto. Ele, por fim, levanta a cabeça e encara todos que estavam na igreja, toda minha família.
  - Meus jovens, vamos retomar a cerimônia? - O Padre fala, fazendo todos o encarar.
  - Claro! - fala, pegando meu braço e me virando para o altar.
  - , você aceita como seu legitimo esposo? Para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de sua vida?
  Senti que estava engolindo um espinho e não iria conseguir responder. E se eu respondesse, por mais que este espinho me machucasse, eu seria a garota mais infeliz da Inglaterra.
  - Não! - Todos viram para que respondeu andando em nossa direção - Ela não aceita! A é minha mulher!
  - O que você disse? - pergunta com sua voz rouca e sua cara de desentendido.
  - Você entendeu. Largue minha mulher! - fala.

***

  Você não deve estar entendendo absolutamente nada, não é? Pois bem, irei contar desde o começo minha história.

***

  Sou Inglesa, de uma família rica e cheia de "rituais", o que os mais velhos faziam, os mais novos tem que fazer quando crescer. Eu achava isso lindo quando mais nova, mas quando minha mãe falou do ritual do casamento... Todo aquele meu encanto se foi.
  Eu queria fugir de casa, mas temos segurança por tudo quanto é canto, não vai demorar para ter um em meu quarto. Ingleses excluídos... Essa é minha família.
  O ritual do casamento é assim: quando o sangue da garota desce e ela fica mocinha, como minha mãe diz, ela se casa com um primo. Sim, todos da minha família são casados e com filhos. Foi por isso que meu encanto acabou. Eu não fazia a mínima ideia de que meus pais eram primos.
  Não importa se as garotas tenham entre treze, catorze ou quinze anos, elas, depois de casadas, tem que ter um filho. Não gostei disso, quer dizer que você não pode conhecer mais ninguém e se tornar uma mulher de família na sua adolescência? Que bobagem!
  Depois que minha mãe me contou sobre o ritual, todos os dias eu conferia se não tinha acontecido comigo, estava com muito medo e não queria me casar agora, eu só tenho quinze anos.
  Enfim, como minha família não era aceita na sociedade fora da nossa "Ilha", eram professores voluntários que iam em nossas casas. Eu nunca fui à cidade, minha mãe já, ela fala que eles são mesquinhos e mal educados.
  - !? - minha mãe grita - Sua professora chegou! - Ela conclui.
  Era minha professora de dança, desci as escadas sem medir cada degrau que estava na minha frente. Ela me deixa feliz em meio a esse pesadelo que eu vivo.
  - ! - Disse assim que pulei o último degrau da escada.
  - Minha menina! - Ela disse, dando um beijo em minha testa – Vamos?
  - Mas é claro! – Disse, correndo em direção à sala de dança que fica no jardim.
  "Minha menina", é assim que ela me chama desde pequena, ela sempre foi minha professora de dança e eu nunca deixei minha mãe trocar. não sabia dos rituais e eu tinha medo de quando ela descobrisse.
  A e a dança me entendiam nos movimentos corporais. Elas me deixavam mais leve, livre... Eu me sentia querida em meio às rejeições que minha mãe tanto falava. Todas as mulheres da minha família só podiam usar vestidos ou saias, mas eu não. Eu só usava short ou calça, minha mãe não aceitava, mas eu ameacei a sair de casa e ela aceitou.
  - , o que é isso no seu short? - fala, enquanto tomo minha água.
  - Aonde? – Digo, indo ver nos grandes espelhos que tinha na sala.
  Ao olhar a parte de trás do meu short, abro a boca e meus olhos surpresa e deixo minha garrafa de água cair da minha mão.
  - Que linda, minha menina, você... - A silenciei com a minha mão.
  - Shiu! - Disse.
  Olhei à porta para verificar se não tinha ninguém por perto. Volto a olhar para ela.
  - Por quê? - Ela me pergunta assustada tirando minha mão de sua boca.
  - Eu sei o que é isso, mas ninguém aqui de casa pode saber. Ninguém! - Disse sussurrando.
  - Por quê? - Ela tornou a perguntar.
  Contei sobre o ritual para ela, todos os detalhes e afirmei que não queria me tornar responsável agora.
  - Mas isso é terrível! - Ela disse.
  Balancei minha cabeça positivamente.
  - Olha, eu irei te ajudar em tudo que for possível. Se você quer esconder de sua família, então eu te ajudo! - ela disse - Eu prometo!
  Sorri e a abracei forte.
  - Muito obrigada, . - Disse - Você não existe.
  - Existo sim. - Ela disse nos afastando - Agora vá, tome banho e se arrume, vou falar com sua mãe.
  - Sobre? - Perguntei com medo.
  - Vá! - Ela disse.
  Fiz o que ela pediu, fui até meu quarto, tomei banho e me arrumei. Coloquei uma sandália vermelha baixinha, um short social rosa claro, uma blusa branca lisa e vários colares pratas, meu cabelo estava solto e minha maquiagem básica.
  Desci as escadas e encontrei com um sorriso sem igual.
  - O que... Aconteceu? - Perguntei receosa.
  - Você vai à cidade comigo! - afirmou.
  - O quê? Isso é sério? - Perguntei sorridente.
  - Sim! - minha mãe disse - Não foi fácil aceitar, você sabe o porquê. Mas vá, se divirta e não volte tarde, estou confiando em você.
  - Você não irá se arrepender. – Disse, dando um beijo enorme na minha mãe.
  Peguei a mão da e saí correndo em direção ao portão.

FORA DA ILHA

  Não estava conseguindo acreditar que eu estava num barco atravessando o mar. Aquele vento que batia no meu rosto nunca pareceu tão gostoso. Eu estava ali com a e sem seguranças atrás de mim. Eu estava livre? Mas, aquele sentimento de liberdade se fora quando lembrei do meu short na aula de dança hoje.
  - Chegamos! - fala.
  Seguimos andando até a casa dela que não era longe. Todos simpáticos. Nunca pensei que seria bem tratada na cidade. Minha família sempre foi julgada e eu nunca pude sair de casa.
  - Entre! - Ela disse, abrindo a porta para mim.
  Entrei. A casa dela era pequena, simples, mas tão linda. Eu estava tão acostumada com muitas coisas, que eu me encantei com aquela casinha.
  - Sua casa é linda! - Eu disse, me virando para ela.
  - Imagina! - ela disse - Venha, vou te dar uma coisa.
   me levou até seu quarto e me mostrou uma caixinha cheia de coisinhas: coloridas, sem nada, com cheirinhos, com aba e sem aba. Bem, você já deve saber do que eu estou falando. me ensinou tudo que eu devia saber sobre essas "coisinhas". Seria o nosso segredo.
  Ela se arrumou e saiu comigo, me levou nas pequenas vendinhas e eu pude ver o quanto às pessoas eram simpáticas e educadas. Completamente o oposto do que minha mãe falava quando eu perguntava da cidade.
  Ela dizia que a cidade era suja, cheia de bichos e que as pessoas eram mal educadas e asquerosas. Nunca entendi o significado disso, mas sempre obedeci minha mãe, e ela sempre disse que eu nunca podia ir à cidade.
   me levou ao shopping e nós tomamos sorvete. Eu nem sabia o que era isso, minha mãe nunca me deixou comer. Eu sempre vivi de dietas, meus "doces" eram as frutas.
  - Está gostando? - Ela me pergunta.
  - Sim! - digo - Nunca me senti tão bem.
  Nós duas sorrimos e voltamos a andar.
  - ? - aquela voz de incerteza rouca me fez parar e ficar em alerta - ?
  Me virei e olhei para a pessoa que me chamava. Estava bom demais para ser verdade. Sorri forçadamente para ele.
  - Olá, ! - Disse.
  - Na cidade? - Ele diz, desconfiado.
  - Sim, estou com a minha amiga e professora .
  - E sua mãe deixou? - Ele fala, erguendo uma das sobrancelhas.
  - Sim! Eu sou uma adolescente, eu preciso sair também.
  - Hum... Não por muito tempo. - Ele sorri, eu não gostei disso. - Foi maravilhoso te ver. - ele me da um beijo no topo da cabeça - Eu tenho que ir.
   se vira e vai embora, eu fico ali, parada o vendo partir.
  - , podemos voltar para sua casa? - Digo.
  - Sim, minha menina! - fala e seguimos para sua casa que não era longe do shopping.

***

  Me tranquei em seu quarto e ali eu fiquei chorando sem dar explicação nenhuma. "Toc-Toc", duas batidas na porta. Fui abrir, deve estar preocupada. Ao abrir a porta tive uma surpresa, não era a , era um garoto. Lindo!
  Alto, cabelo para cima, olhos , seu rosto era delicado.
  - , não é? - Ele fala, me fazendo piscar.
  - É sim. - falo dando um passo para trás - E você é...?
  - ! - Ele fala, sorrindo.
   se inclina e me da um beijo no rosto. Isso nunca aconteceu, eu sempre tive contato com homens feitos, meu pai ou tios, os seguranças ou o jardineiro, nunca um garoto. Corro e sento na cama, fica me olhando confuso. chega logo em seguida.
  Ficamos os três ali, sentados na cama e eu conto o porquê de voltar para casa tão cedo e o porquê de eu ter corrido ali da porta para a cama. me abraça e fica boquiaberto ao descobrir que sou da família "mesquinha".
  - Mas, como nós da cidade, não sabíamos que tinha uma garota nova na família? - ele pergunta - Você tem certeza que é da família deles? Você é tão... Linda e simpática!
  Não respondo , estava sentindo algo no meu peito que nunca tinha sentido antes desde a hora que abri a porta. Acho que era de tanto eu chorar. Eu não sei! Dormi na casa da sem perceber, acordei de madrugada e sai do quarto indo até o corredor.
   estava sentado no pequeno sofá vendo TV na sala. Ele sorri assim que me vê andando em sua direção, na verdade na direção da sala.
  - Eu preciso voltar para casa. Prometi para minha mãe que não voltaria tarde. - disse me aproximando dele.
  - Não se preocupe, a ligou para sua mãe e disse que você acabou dormindo aqui pelo cansaço e que te levaria assim que você acordasse no dia seguinte. - ele disse - Sente-se.
  Me sentei ao lado dele, onde o próprio batia com a mão indicando e fiquei vendo aquele jogo de futebol mesmo sem prestar atenção nenhuma.
  - Quer assistir alguma coisa? - pergunta, me dando o controle.
  - Não, obrigada. – Disse, devolvendo o mesmo.
   se virou para mim e eu levei meu corpo mais para o lado. Ele mexeu numa mexa do meu cabelo que estava tampando meu rosto. Olho para ele que sorriu envergonhado para mim.
  - Como você vai contar para sua mãe? - Ele pergunta.
  - Não vou. - disse - Não é com meu primo que quero me casar e não quero ser mãe agora. Só tenho quinze anos.
  - Você... - limpa a garganta - Você já se apaixonou por alguém? - Ele conclui.
  - Nunca. É a primeira vez que eu saio de casa. Eu nem sei o que é me apaixonar. - Disse.
  - E se isso acontecesse?
  - Eu não sei o que aconteceria. - olhei à TV e depois tornei a olhá-lo - Você já se apaixonou?
  - Sim, mas foram apenas paixões reciprocas.
  - Deve ser incrível se apaixonar e eu faria de tudo pela pessoa que roubasse meu coração.
  - Mesmo? - pergunta, quase sorrindo.
  - Mesmo. - Afirmei.
   passou a mão em meu rosto e colocou seu dedo indicador no meu queixo levantando meu rosto um pouco. Ele foi se aproximando devagar, meu coração estava acelerado, o que estava acontecendo comigo? Nunca tinha sentido isso antes.
   colocou meu lábio dentro de sua boca rapidamente, me fazendo ficar mais leve. Ele tirou o mesmo e abriu seus olhos, me encarando sorrindo.
  - É a primeira vez que eu me apaixono tão rápido. - Ele diz.
  - É a primeira vez que eu me apaixono... - Digo.
   volta a me beijar e deixa o jogo de lado. Era meu primeiro beijo e estava sendo o melhor. era o meu amor. Eu iria fazer de tudo para tê-lo e assumi-lo. O nosso beijo dizia tudo e eu não queria sair de seus braços e lábios nunca mais.

MEU RETORNO

  Parecia que eu estava no paraíso. dormiu comigo no sofá o resto da madrugada. Mas tudo que é bom acaba. Eu tinha que voltar para casa e foi o que eu fiz para minha infelicidade.
  Uma semana sem ver e , ela teve que viajar a negócios e , como seu primo mais próximo e que mora com ela, ficou tomando conta da casa. Eu ficava escrevendo no meu caderninho coisas que eu gostaria de viver com , mas que nunca seria possível.
  Desci as escadas e fui aonde encontro a paz naquela casa. A sala de dança. Comecei a dançar a música que estava na minha cabeça. Apenas eu e ela naquela sala imensa que eu vivi os melhores momentos.
  - To little, to late... - Cantei olhando no espelho assim que parei de dançar.
  - ?! - me chama e eu levo um susto.
  Viro com tudo para a porta a encontrando, assustada também, mas com a minha reação.
  - Ah! Oi , desculpa, estava distraída. - Disse.
  - Eu que peço desculpas. - ela fala - Você... Você canta muito bem. - Ela diz, olhando para o chão.
  Me aproximo dela.
  - Obrigada! - Sorri.
  - Sua mãe está lhe chamando. - Ela diz.
  Dei de ombros, peguei a mão de e fomos em direção a casa. é a empregada mais nova da casa, ela ainda fica insegura de elogiar, perguntar, ou fazer essas coisas normais. Como meus únicos companheiros são eles, eu os trato como amigos de verdade.
  - Sim, mamãe? - Digo assim que entro na sala.
  - Oh, , minha filha. Venha ver! - ela fala pegando meu braço e me levando até uma arara cheia de roupa branca. - Escolha um!
  Eram vestidos de noiva, mas por quê? Ela estava sabendo de alguma coisa?
  - Por que isso agora? – Perguntei, demonstrando medo.
  - Porque é sempre assim, minha filha. O que você tem? Está pálida! - Ela disse.
  - Nada! - disse - Tenho que subir.
  Subo escada acima correndo, suando frio e deixando todos chamando por mim para trás. Eu quase entreguei o jogo. Entrei no chuveiro de cabeça. Precisava refletir o que eu tinha que fazer para minha mãe não saber de nada nem eu deixar pistas.

***

  Sábado à tarde, mais uma semana se passa. Eu já estava ficando doida sem a dança, sem a e sem o .
  - Bom dia, minha filha! - minha mãe fala - Onde vai?
  - Ler no jardim - Digo.
  Coloco um lado do meu fone e minha mãe torna a falar.
  - Temos um jardineiro novo. - ela fala - É iniciante, vai ficar mais tempo aqui, então, fale com ele.
  - Claro, mamãe. - Digo.
  Sigo para o jardim, coloco o lado direito do fone no ouvido e saio da casa. Sento na grama e abro meu livro, só iria falar com o jardineiro depois. O livro foi uma desculpa minha para ficar escutando música e entrar nos meus devaneios onde eu sou feliz ao lado de .
  Desisto do livro e o fecho, faço o mesmo com meus olhos para pensar melhor com a música. Sinto alguma coisa cair sobre minhas mãos depois de algum tempo de olhos fechados. Estava quase dormindo.
  Abro os olhos e encaro o que tinha ali sobre minhas mãos.
  - "Um papel?" - Penso.
  Era um papel rosa dobrado ao meio. O abro.
  "Siga as pétalas", estava escrito com uma caligrafia muito bonita.
  Olho para os lados e não vejo ninguém, apenas as pétalas brancas ao meu lado esquerdo fazendo um caminho sobre a grama verde. Me levanto e sigo como o bilhete pedia. As pétalas levavam para a casa de flores, onde só os jardineiros entravam.
  Tudo ali era feito de vidro. Entrei meio desconfiada em meio aquelas flores de tudo quanto é tipo e todas as cores, mas não tinha ninguém. Cheguei até o final daquela residência, mas não tinha ninguém. Me aproximei de uma flor que eu nem sabia que existia e senti seu aroma.
  - Espero que você goste do meu trabalho.
  Eu virei com tudo ao ouvir a voz de . Saio correndo em sua direção e pulo em seu colo, sabia que poderiam nos ver pelos vidros, mas a ansiedade falou mais alto. Era o que estava ali na minha frente, não estava ligando para minhas futuras consequências se alguém visse essa cena.
  O beijo loucamente, como se não houvesse o resto do dia e como se não houvesse o amanhã. Nos afasto e desço de seu colo para ficar o olhando.
  - Não gostou de me ver aqui? - Ele fala, juntando nossas testas.
  - Você está brincando? Quase perdi meu coração quando ouvi sua voz. – disse sorrindo - Você vai trabalhar aqui em casa?
  - Sim, só para poder ficar perto de você. - fala e me beija.
  - Você é louco! - Digo entre beijos.
  - Por você! - Ele fala.
  Eu ainda não estava acreditando enquanto o beijava que o mesmo fez essa loucura, veio trabalhar na minha casa para ficar perto de mim. E se minha mãe descobrisse? Eu diria que o amo e fujo com ele? E se quisessem matá-lo? Acho que minha mãe não baixaria a esse nível, não é?
  Eu passei a gostar mais do jardim agora e para minha felicidade ser completa, está de volta da sua viajem e a mesma voltou a me dar aula. As duas pessoas que mais amo na minha casa e ao meu lado.
  - Filha? - Minha mãe me chama quando estava me dando uma margarida.
  Nós dois nos viramos assustados para ela que vinha em nossa direção acenando sorridente.
  - Tenho uma notícia maravilhosa! - Ela fala.
  - E qual é? - Pergunto.
  - vem para cá esse final de semana. - Ela fala sorridente.
  Legal! Minha felicidade e meu sossego com e já era!

O JANTAR

  Tudo eu tinha que fazer com ao meu lado, nem escutar música sozinha eu podia. Se eu fosse dançar, tinha que ir junto. Arg! Que raiva disso.
  - Ei, ! - me chama enquanto subo as escadas.
  - Sim? - Digo me virando para ele.
  - Er... Nós podíamos jantar no jardim hoje à noite? - Ele pergunta, mordendo o lábio inseguro.
  - Certo... - Digo e volto a subir as escadas.
  Jantar com meu primo no jardim não tem nada demais, não é? Espere um pouco! Jardim? ? Ele sabe a verdade que eu escondo. Volto escada a baixo correndo.
  - ? ? - O procuro pela casa.
  - Estou aqui! - Ele fala, saindo da cozinha.
  - É... Não pode ser aqui mesmo? Não quero ir para o jardim hoje. - Disse insegura.
  - Por mim, tudo bem, seus pais irão sair. - Ele deu de ombros ao falar e sorriu.
  - Irão? Para onde? - Pergunto.
  - Eu não sei direito, me parece que é para cidade. Mas não se preocupe. - termina de falar e volta à cozinha.
  Que estranho, meu pai está sempre em alto mar, viajando de cidade em cidade, trazendo a felicidade das pessoas e o dinheiro para dentro de casa e quando está de folga sai com a minha mãe para cidade sem reclamar?
   estava preparando nosso jantar, eu vou para meu quarto me arrumar. Olho pela janela e vejo recolhendo as folhas que tinham caído da árvore. Suspiro e fico cabisbaixa. Fecho as cortinas e vou tomar meu banho.

***

  Ao descer as escadas, encontro tudo escuro, com apenas as luzes das velas que estavam na mesa. escuta meus passos e se aproxima da escada, segura minha mão esquerda e me ajuda a terminar de descer os últimos degraus.
  - Você está linda! – Ele fala, me fazendo girar.
  Sorrio meio sem graça e o agradeço. Ele também estava muito elegante naquela noite, sem aquelas roupas de garoto metido que anda no shopping com os amiguinhos. Blé! Ele nos direciona até a mesa de jantar.
  - Hoje, eu vou nos servir. – fala enquanto puxa a cadeira para eu sentar.
  - Cadê a ? – Pergunto.
  - Dei a noite de folga para ela. – Ele fala e vai para a cozinha.
  Fico insegura com a situação de só estar nós dois dentro daquela casa enorme e escura. volta com os dois pratos. A comida estava realmente cheirosa e eu não conseguia identificar o que era.
  - É um prato típico da cidade que eu gosto muito e resolvi fazer para nós. – fala colocando o prato na minha frente.
  - Pelo cheiro, parece estar gostoso. - Disse.
  Esperei se sentar e tiramos as tampas de cima dos pratos juntos. O aroma da comida subiu e fez meu estômago resmungar, eu estava com fome! Quando abri os olhos e olhei para o prato pude ver que era Strogonoff de carne com arroz branco e batata palha. Abri um sorriso enorme, era uma comida deliciosa.
  - Acho que acertei? – fala ao ver meu sorriso.
  - Acertou sim! – Digo, sorrindo para ele.
  O jantar foi calmo e divertido, rimos, conversamos e nos distraímos bastante. é realmente simpático, pude conhecê-lo melhor nessa noite, mas eu amo o e não vai ser esse jantar que irá mudar meu coração. A comida e a sobremesa estavam maravilhosas, ele me surpreendeu nesse sentido.

O SUSTO

  Um mês se passou, eu estava cada vez mais nervosa. estava com medo de me perder desde o dia em que eu jantei com . Meu pai estava de férias e eu mal ficava no jardim, mas ele conversava o dia inteiro com , o que me fazia sorrir sem motivos.
  - ? ? – Minha mãe me chama da porta do quarto.
  - Que foi, mãe? – Perguntei jogada na cama.
  - Está morrendo, minha filha?
  - Só... Estou com dor. – Disse.
  - Dor onde?
  Não podia contar que estava com cólica ou tudo iria acabar.
  - Na barriga. – Menti.
  - Quer que eu peça para fazer um chá? – Ela se aproxima da minha cama.
  - Não precisa, Mamãe. – Disse.
  Minha mãe da de ombros e eu fecho meus olhos, não escutei mais nenhum ruído dela, então tentei voltar a dormir. Quando estava quase dormindo escuto a chave do meu quarto girando. Não me mexo, meu corpo estava paralisado, mas não escuto nenhum passo no carpete do meu quarto.
  Um vento quente batia no meu rosto e por fim sinto um beijo na minha bochecha esquerda. Abro meus olhos e vejo , viro com tudo na minha cama ficando de frente e me sento assustada.
  - Como você entrou aqui? – Perguntei assustada, arrumando meu cabelo que estava bagunçado.
  - Todos saíram e é minha cumplice. – ele disse sorrindo – Eu vim te perguntar uma coisa.
  - Diga! – Falei.
  - Casa-se comigo? – Ele perguntou me olhando timidamente.
  - Claro que sim! – Disse sorrindo.
  Pulei nos braços de , nosso beijo estava intenso e apaixonado. O calor estava dominando nós dois, meus dedos passeavam pelos cabelos e lisos dele enquanto sua mão passeava pela minha perna. Tirei a blusa branca dele de dentro de sua calça e passei a mão pela sua pele lisa e macia da cintura, não conseguia mais comandar meu corpo e tudo que eu fazia era irracional.
   beijava meu pescoço e isso causava arrepios inesperados.
  - ? – Disse num sussurro.
  - Hum? – Ele grunhiu.
  - Eu quero! – Disse.
  - Eu também.
  Só bastou essas palavras para ele me levar para outro mundo.

***

  Não acreditei que aquilo estava acontecendo, eu esperava ansiosamente para poder contar e perguntar se ela sabia o porque disso, mas ela estava demorando muito. Assim que ela chegou eu saí do meu quarto para a sala de dança igual um foguete.
  - ? ? ? – Disse, correndo na direção dela.
  - O que foi, minha menina? – Ela perguntou assustada e segurou minhas mãos.
  Sentamos no chão e eu examinei a sala antes de falar.
  - , desde que aquilo aconteceu para mim, sempre vem certinho todos os meses e esse mês ainda não veio. – Disse assustada.
   deu uma risada descontraída.
  - Calma, minha menina, é normal atrasar! – ela disse – E ainda está no começo para você.
  Mordi meu lábio inferior e encarei o espelho.
  - Aconteceu mais alguma coisa? – Ela perguntou, virando meu rosto para encará-la.
  - , eu... – Não conseguia dizer.
  - Você...? – ela disse – Continue.
  - Eu e o passamos dos beijos! – Falei com tudo.
   arregalou os olhos e ficou boquiaberta, suas mãos ficaram geladas junto com as minhas.
  - O que foi, ? – Perguntei.
  - Quando foi isso? – Ela perguntou séria.
  - Algumas semanas atrás. – Disse.

A DESCOBERTA

  - Você escondeu isso de mim! – Minha mãe estava gritando comigo.
  - Eu odeio essa família! – Disse.
  - Seu pai vai saber disso! – Ela disse ainda gritando.
  - Isso é injusto! Vocês não me deixam ser feliz! – Disse gritando.
  Minha mãe bate a porta do meu quarto e me tranca, eu me jogo na cama e começo a chorar. Minha vida está arruinada. Minha mãe descobriu que eu já sou “mocinha” e agora vai me obrigar a casar com o .
  Escrevi num papel o que aconteceu e chamei pela janela discretamente, joguei o papel para ele e fechei a janela de volta, pois se minha mãe me visse falando com alguém, era capaz de demiti-los. As horas não passavam e aquele dia parecia uma eternidade. Eu estava me sentindo estranha e triste ao mesmo tempo.
  Estava disposta a fugir, a noite já caia lá fora e quando me levantei do chão para arrumar uma mochila a porta do meu quarto se abre e a imagem do meu pai aparece. Eu fico paralisada o encarando, ele se senta na minha cama e puxa minha mão para eu fazer o mesmo. Meu pai era mais calmo do que minha mãe.
  - Eu entendo que você não aceite tudo isso, filha, mas isso é de família. - Ele falou, alisando minha mão.
  Comecei a chorar, sabia que com o meu pai eu podia fazer esse tipo de coisa.
  - Se você tivesse dito para mim, talvez eu pudesse te ajudar a guardar por mais tempo esse segredo. – ele disse – Mas já que tudo isso aconteceu, peço que faça suas malas.
  - Para quê? – Disse assustada.
  - já está aí. Antes de vocês se casarem, tem que passar uma semana juntos. – Ele disse se levantando.
  Espera, disso eu não sabia. Fiquei frustrada por mais alguns minutos sentada na minha cama sem piscar, mas pensei que quanto mais eu demorar mais tempo vou ter que passar com . A única coisa que minha mãe não sabia era sobre meu namoro com . Desci as escadas com a minha mala feita, se levantou do sofá com um sorriso enorme, ele foi até mim e pegou minha mala. Dei um sorriso forçado para ele e olhei para meus pais. Minha mãe estava com cara amarrada e mal olhava para mim, já meu pai estava com cara de triste, mas sua boca formava um pequeno sorriso.
  Ele me deu um beijo na testa demorado e me abraçou por uns instantes. Pedi para ir até a casa das flores por alguns minutos, mas sozinha. Meu pedido foi atendido e eu fui sem demora. Lá encontrei encarando meu papel, assim que ele me viu se levantou num pulo e veio ao meu encontro. Me deu um abraço apertado e me beijou por alguns segundos. Expliquei o que iria acontecer agora, ele ficou boquiaberto.
  - Mas por que isso, meu amor? – Ele disse quase chorando.
  Seus olhos já estavam marejados, estavam do que o normal. Era a primeira vez que me chamava de “meu amor”, me emocionei e o beijei.
  - Nada vai acontecer, eu prometo! – disse – Tenho que ir agora.
  Separei nossos corpos com muita dificuldade e fui para a casa principal chorando. Sequei minhas lágrimas e entrei na sala. e meus pais se levantaram e vieram ao meu encontro. Fomos para o barco e eu vi minha casa ficado para trás. Por decisão do fomos para uma casa na cidade. Ela era grande, como a minha e bem bonita. Tinha empregados para tudo quanto era lado.
  Fui direto para o quarto mais feminino, que ficava do lado esquerdo da escada, subi minha mala, com muita dificuldade e me tranquei no quarto. Comecei a desfazê-la quando ouço duas batidas na porta.
  - Entra! – Disse.
  A porta se abre e a imagem de aparece, volto a fazer minha atividade.
  - Está tudo bem? – Ele pergunta.
  Minha vontade era de dizer “não”, de dizer que queria voltar para casa, voltar para os braços de , mas como ele estava sendo educado comido, resolvi ser educada com ele.
  - Está sim. – Disse.
  - Precisa de algo? – Ele continuou, tentando puxar assunto.
  - Não, obrigada. – Disse.
  Meio tímido ele saiu do quarto e fechou a porta. Terminei de guardar minhas coisas no quarto e fui tomar banho. A ducha era maravilhosa, os pingos eram leves e a temperatura era de acordo com o clima. Coloquei uma roupa leve e deitei na minha cama. Pensei em dormir, mas meus pensamentos estavam em naquela casa sozinho.
  Duas batidas na porta e ela se abre sem minha autorização, era carregando uma bandeja de madeira com dois copos grandes de suco de laranja, algumas frutas em uma taça, panquecas, um potinho com mel e uma jarrinha com uma flor. Achei fofo! Ele me olhou e abriu um sorriso enorme, sorri de volta.
   sentou na cama sem dizer nada e eu o acompanhei me sentando também, ele apoiou a bandeja na cama e cruzou as pernas.
  - Desculpa a liberdade, mas quero me aproximar de você e mostrar que sou um cara competente. – Ele disse corando.
  Fiquei surpresa com as palavras.
  - Posso? – Perguntei apontando para a bandeja.
  - Claro! – Ele disse sorridente.
  Comemos em silêncio, mas os olhos de não saiam de mim, estava constrangida, mas a comida estava muito boa para eu reclamar. A noite foi caindo sem eu perceber, conversamos e dividimos mais coisas que não sabíamos um sobre o outro. Porém, eu estava com saudade de .
   se deitou comigo e eu acabei adormecendo sem perceber. Quando despertei, ele estava me encarando. Me levantei no susto.
  - Oh, , eu dormi – Disse envergonhada.
  - Você é linda dormindo. – Ele disse.
  Corei. Ele se levantou, me deu um beijo no rosto e saiu do meu quarto.

***

  Uma semana com na mesma casa, nos primeiros dois dias ele estava sendo muito carinhoso e gentil, no terceiro ele não dormiu em casa. Não que eu me importasse com isso, mas se íamos nos casar ele tinha que ao menos me respeitar. Passei o dia no quarto, não comi nem bebi nada, via apenas o dia passar pela janela. Na verdade, desde que eu fui para aquela casa eu não saí do quarto.
  A noite estava caindo e eu estava decidindo se saia do quarto e ia ver ou se continuava ali. Ouvi um barulho de vidro caindo. Me levantei da cama calmamente e abri a porta. Estava um barulho alto de música e algumas vozes.
  “Será dando uma festa sem me avisar?” – Pensei.
  Desci degrau por degrau delicadamente, sem fazer barulho, quando me deparo com uma cena que talvez eu não quisesse ter visto. Tinha uma menina em cima de no sofá. Ela estava usando um mini short e estava com um sutiã que quase deixava seus seios para fora e ela estava os esfregando na cara dele. passava a mão no corpo dela enquanto ela fazia danças sexys em cima dele.
  Tinham mais dois garotos que estavam curtindo aquela cena de costas para mim, meu sangue subiu. Eu fiquei muito brava com o que vi, não sei se era alguma coisa que eu estava sentindo por . Fui até o som que estava perto da entrada da cozinha e o desliguei, fazendo todos que estavam ali naquele cômodo olharem para mim.
  - ? – falou assustado e derrubou a menina no sofá.
  - Eu mesma! – Disse.
  - O que você está fazendo aqui em baixo? – Ele disse se levantando.
  - Eu acho que eu estou morando aqui durante uma semana com o meu futuro marido, não é? – Disse irritada.
  - Futuro marido? – A menina pergunta enquanto coloca a blusa – Você não me disse que namorava e que iria ficar noivo.
  - Fica quieta! – Ele disse.
  Meus olhos estavam marejados, não sabia se chorava, se ia até ele e o espancava, se dava na cara daquela vadia que estava na minha sala ou se eu mandava todos ir embora.
  - ... – estava falando enquanto abria espaço entre os dois meninos para ir até mim, mas eu o interrompo e o faço parar.
  - Cala a boca! – disse – Nunca mais diga meu nome! Não queria me casa, mas fui obrigada a aceitar isso e quando eu acho que estava gostando de você, você me apronta uma dessas? Imagina quando nos casar?
  - Não é bem assim! – Ele disse.
  - Não é? – disse e ri debochadamente – Nem ao menos você se guardou para mim. – Disse.
  Ele foi até mim e ficou a centímetros do meu rosto.
  - Não mesmo! – ele disse – Seu sangue nunca descia e você acha que vou ficar te esperando? Você que tem que se guardar para mim.
  Por impulso do que ele disse eu dei um tapa na cara dele. Quando ele virou seu rosto para mim percebi que seus punhos estavam serrados e que sua mão esquerda estava se erguendo. Um dos amigos dele também percebeu e quando ia partir para cima de mim o amigo dele o segurou, porém, por proteção, eu me joguei no chão. Olhei pra cena na sala, a menina que estava se esfregando nele com as mãos na boca e os olhos arregalados. Os dois amigos dele estava o segurando, com o rosto vermelho, maxilar pressionado e seus punhos ainda serrados e eu ali no chão.
  Levantei correndo em direção à escada, escutei ele grunhindo alguma coisa para os amigos e quando eu já estava no meio eu parei, me virei para e disse.
  - A propósito, eu não me guardei para você! – Disse de uma vez.
  - Como é que é? – ele disse – Você não é mais virgem?
  Corri para meu quarto enquanto escutava o grito de enquanto ele subia as escadas atrás de mim, meu único pensamento era “vou morrer!”, entrei no meu quarto, fechei a porta com tudo e a tranquei. Escorreguei minhas costas nela e fiquei sentada no chão. Não acreditava que isso estava acontecendo. batia na minha porta mandando eu abrir, ele estava fora de si, não iria abrir a porta mesmo.
  Tentei levantar, mas fiquei tonta, então sentei outra vez, meu quarto estava girando, minha vista estava escura, eu queria gritar por alguém, mas nem o nome das empregadas eu sabia... Desmaiei.

***

  Quando acordei meu corpo estava dolorido. Minha cabeça estava latejando, levantei com dificuldade e um pouco de tontura e fui para o banheiro tomar um banho. A água que caia do chuveiro não me deixava escutar muito, mas escutei bem quando bateram na porta. Fechei o chuveiro e prestei atenção, era o .
  - , por favor, me desculpa, abre a porta! – Ele disse com a voz mansa.
  Saí do banho, mas porque estava passando mal. Talvez porque eu não tenha comido nada o dia inteiro ontem e pelo nervoso que passei também. Meu banheiro mexia de um lado para outro e a voz do começou a ficar robótica. Um medo tomou conta do meu corpo. Percebi que iria desmaiar outra vez, saí do banheiro com tudo e interrompi o que dizia.
  - , me ajudam, eu... – Desmaiei.
  - ? ? – Ele começou a bater na porta e tentar abri-la – ? Você me respondeu, abre a porta, porque você precisa da minha ajuda? !? – Sua voz estava assustada.
   arromba a porta e vê caída no chão de toalha e com o cabelo molhado. Ele arregala os olhos e se desespera, vai de encontro da menina e a pega no colo para colocá-la na cama. Ele a deita e senta ao lado dela.
  - , acorda, por favor! ? – Ele falava enquanto alisava o rosto da garota.
  Com os olhos marejados, deixa uma de suas lágrimas escapar, ele vai até a porta e chama uma das empregadas.
  - Por favor, prepara um pão bem caprichado para ela. – ele disse – Soube que ela não comeu nada ontem.
  - É verdade, senhor. – a moça disse – O senhor está chorando?
  - Não, acho que caiu um cisco no meu olho. – Ele disse secando as lágrimas.
  O garoto volta até a cama e se senta outra vez ao lado da menina. Quando acordou, abriu um sorriso enorme e a beijou na testa. Ela estava confusa e sentindo uma forte dor de cabeça.
  - Você... – ela engoliu em seco – Você abriu a porta e me colocou aqui? – Ela pergunta.
  - Sim! Eu juro que vou concertá-la, mas eu precisei arrombar para entrar... – ele disse – Olha – ele fala pegando o prato com o sanduiche para ela – Coma. Fiquei sabendo que você não comeu nada ontem.
   assentiu com a cabeça e aceitou o pão, porém, se apressou em se enrolar quando percebeu que estava de toalha. deu risada e voltou a encará-la já corada.
  - Não precisa se esconder, daqui a uns dias eu vou te ver sem nada disso. – ele disse com um sorriso malicioso no rosto – Ou antes! – ele sussurrou e passou o dedo indicador no braço descoberto da garota.
   engoliu o pão com dificuldade e se afastou um pouco, ela estava com medo de pela reação dele ontem. A garota ficou por um instante pensativa, mas foi tirada de seus devaneios quando se levantou da cama.
  - ? – Ela o chama.
  O garoto se vira para ela.
  - Me desculpa pelo tapa ontem. – ela começou – Mas talvez eu estivesse gostando de você.
   deixa um sorriso escapar sem querer e volta alguns passos para se aproximar da cama.
  - De verdade? – Ele pergunta sorridente.
  Ela assente com a cabeça. volta a sentar na cama.
  - Mas, pelo que aconteceu ontem, depois de eu ter visto aquela menina se esfregando em você... – ela engole seco – Eu decidi que vou voltar para casa.
  - Como? – ele fala assustado e se levanta da cama outra vez – Você não pode fazer isso.
  Percebi que os olhos de estavam marejados, ele mordeu seus lábios e saiu correndo do meu quarto, fiquei preocupada, me troquei e fui até o quarto dele. A porta estava fechada, bati duas vezes, mas ele não abriu. Insisti mais um pouco e por fim escutei a voz dele.
  - Seus pais virão nos ver hoje! Fique pronta! – Ele disse com uma voz rouca e baixa.
  Fui para a cozinha, precisava me distrair, estava com meus sentimentos confusos. Estava com muita saudade de , também. O que será que ele estava fazendo agora? E ?

***

  Ficou eu e num sofá e meus pais no outro, disseram que tinham uma coisa muito importante para falar para nós. Minha mãe não parava de sorrir um instante, já meu pai, estava sem expressão nenhuma. Queria contar o que tinha feito, mas estava com medo da reação do mesmo.
  Quando minha mãe despejou as palavras, eu senti meu corpo gelar, abriu um sorriso e colocou sua mão direita na minha perna que estava cruzada, minha única reação foi olhá-lo e seus olhos verdes estavam iluminados, sua boca voltou a ficar rosada.
  Meu casamento seria no dia seguinte, antes do prazo previsto. Para quê? Pisquei duas vezes e senti meu estômago revirar.
  - Licença. – Foi a única coisa que consegui dizer.
  Saí correndo para o pequeno banheiro que tinha ali na sala e coloquei tudo que tinha no estômago para fora.
  - ? – ouvi dizer e logo ele estava atrás de mim – Você está bem?
  Não conseguia responder, ele se abaixou junto à mim e segurou meu cabelo, meus pais estavam logo atrás dele falando alguma coisa que eu não estava entendendo. Abaixei a tampa do vazo e dei descarga, me ajudou a levantar e eu fui lavar minha boca.
  - Minha filha, o que você tem? – Meu pai perguntou passando a frente da minha mãe.
  - Eu não sei, pai. - disse – Eu... Eu só quero me deitar.
  Fui escada acima para meu quarto, me acompanhou e eu o agradeci. Ainda não estava acreditando que iria me casar no dia seguinte, era apenas semana que vem. Isso daria tempo de eu conversar com meus pais para contar o que tinha feito naquela noite e assim eu iria para casa, pois ele não é o cara certo! Contaria sobre eu e e me casaria com ele sendo feliz, como eu sempre sonhei...

O CASAMENTO

  Chegou o dia, eu estava na frente do espelho enquanto a costureira me arrumava, dando os últimos retoques no vestido, pois embora eu estivesse sem comer por muito tempo, eu estava engordando. Meu cabelo estava preso num coque com alguns fios soltos e minha maquiagem estava bem simples, como eu gostava. Meu vestido era tomara que caia com uma calda enorme, o véu já estava posto e eu ficava sonhando entrando na igreja e vendo no altar.
  Tinha que me policiar para não chorar com meus devaneios e não borrar a maquiagem. Todos já estavam na igreja, só faltava eu. escolheu as flores para meu buquê e para minha surpresa eram minhas flores preferidas, rosas azuis. Sorri sem querer quando o vi na mesinha da sala com um bilhete que dizia: “Espero que goste de seu buquê, Srta. !”.
  Balancei minha cabeça negativamente e continuei andando em direção do carro, estava na hora. A tristeza dominou meu corpo enquanto via tudo passando pelo vidro do carro, eu iria me casar com a pessoa que eu não amo. O carro logo estava na frente da Igreja, o chofer abriu a porta e eu saí, já estava bem atrasada. Enquanto subia as escadas de entrava, senti uma pequena tontura, talvez porque estivesse muito sol naquele dia.
  Respirei fundo e a porta se abriu, a marcha nupcial começou e eu entrei com o pé direito, coloquei um sorriso forçado no rosto e comecei a andar olhando cada rosto naquela igreja que festejava pelo meu casamento. Do lado direito tinha a família de , que nem todos são meus parentes e do lado esquerdo, minha família. Logo reconheci sentada no quinto banco, meu sorriso foi de canto a canto e perguntei, sem som, pelo e a boca dela formou a frase: “Ele fugiu!”.
  Meu coração foi até a boca, voltei a olhar para frente e senti meu corpo gelar, não sentia mais meu sangue correr pelo meu rosto. Onde será que estava? Chegamos ao altar, olhei bem fundo nos olhos de e percebi que seus olhos estavam mais brilhantes do que todos os dias, eu conseguia me ver em suas íris de tão claras e brilhantes que elas estavam. Ele segurou minha mão e eu subi no altar.
  O Padre falava, falava, falava e eu estava cada vez mais nervosa, meu estômago não parava de revirar. Eu sabia o motivo daquele reboliço todo. Estava nervosa com a situação toda e meus pensamentos não saiam de , onde será que ele estava nesse momento? Será que ele encontrou outra garota melhor que eu e sem esses problemas todos? Senti meus olhos marejarem com esses pensamentos e me despertei quando percebi que o padre estava indo para os finais.
  A luz clara dominou toda a igreja, fazendo todos olharem para trás, inclusive eu e . As portas de quase cinco metros se abriram revelando usando paletó preto todo largado e a gravata preta estava frouxa. Ali, na minha frente, estava um irreconhecível, de cabeça baixa e seu cabelo fazendo o mesmo.
  Levo minha mão até a boca em espanto. Ele, por fim, levanta a cabeça e encara todos que estavam na igreja, toda minha família.
  - Meus jovens, vamos retomar a cerimônia? - O Padre fala, fazendo todos o encarar.
  - Claro! - fala, pegando meu braço e me virando para o altar.
  - , você aceita como seu legitimo esposo? Para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de sua vida?
  Senti que estava engolindo um espinho e não iria conseguir responder. E se eu respondesse, por mais que este espinho me machucasse, eu seria a garota mais infeliz da Inglaterra.
  - Não! - Todos viraram para , que respondeu andando em nossa direção - Ela não aceita! A é minha mulher!
  - O que você disse? - pergunta com sua voz rouca e sua cara de desentendido.
  - Você entendeu. Largue minha mulher! - fala.
  - , responda logo e vamos acabar com isso! – falou me ordenando.
  - Eu... Eu não posso! – Disse.
  Todos da igreja fizeram coro de “Óh!”. engoliu em seco.
  - , o que pensa que está fazendo? – Minha mãe pergunta.
  Desço do altar.
  - Mãe, é que eu amo e com quem vou me casar! – Disse.
  - Você está blefando, minha filha! – Ela disse brava.
  - Não estou blefando, assim como nós já estávamos namorando e ele me pediu em casamento! – Despejei de uma vez.
  - O que você disse? – Ela pergunta boquiaberta.
   se aproxima e segura minha mão.
  - Como eu disse, ela é minha mulher! – repetiu com firmeza.
  - , não ouse fazer uma besteira! – minha mãe disse, descendo do altar e saindo do lado de meu pai – Você acha que um jardineiro vai te dar um futuro? – Ela disse.
  - Garanto que melhor do que . – Disse.
  Minha mãe riu ironicamente e voltou a falar.
  - é um rapaz elegante, educado, rico e seu primo! É com ele que você vai se casar!
  - é um rapaz que se acha e que com certeza me trairá na primeira oportunidade, como ele fez algumas noites atrás! – disse e todos da igreja olharam para ele com coro de “Óh” – Você acha, mãe, que eu gostei de ver uma mulher qualquer se esfregando em cima de na minha frente? E que eu não senti medo quando ele quase me bateu?
  - Como é que é? – fala e quase vai para cima de , mas eu coloquei meu corpo na frente dele.
  Minha mãe encarava sem dizer nada e com sua boca aberta, meu pai estava furioso, mas não dizia nada. As pessoas na igreja ficavam resmungando alguma coisa umas paras as outras, mas pareciam zumbidos de abelhas. Eu conseguia ver chorando, não era aquilo que eu queria, mas eu precisava falar.
  - Mãe, não me impeça mais de nada! – Disse e comecei a andar em direção das grandes portas que já estavam abertas.
  Quando estava quase saindo me virei e disse a última coisa que precisava.
  - Ah! – iniciei e todos olharam para mim – Aproposito, eu estou grávida de !
  Foi o final, terminei de sair da igreja e me parou.
  - Você disse quê... Quê... – Ele não terminava a frase.
  - Que estou grávida, ! – Disse sorrindo.
  - Mas, mas, mas... – ele gaguejava – Você... Como?
  Comecei a rir. entrou na risada, me pegou no colo e me girou enquanto me beijava.
  - Família completa! – Ele disse.
  - Família completa! – Repeti.
  Saímos correndo rua a fora, para onde? Eu também não sei! Mas eu tenho certeza de que íamos para um lugar onde, com certeza, seriamos felizes...

FIM



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