Esperança

Escrito por Meeg Lima | Revisado por Isadora

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Parte do Projeto Songfics - 7ª Temporada // Música: James Vincent McMorrow - And if my Heart should somehow stop

[CAPÍTULO 1]

  Era dia, o sol estava brilhando e queimando. 100.4 ºF (38 ºC) marcava o termômetro ao lado da porta. Saí de mais uma loja. O carro estacionado em frente ao estabelecimento estava repleto de sacolas, desde supermercado à lojas especializadas. Também havia uma mala vinho. Eu tinha um dia cheio. Teria muito que fazer e ainda eram nove horas da manhã.
  Entrei no carro, liguei o rádio e dei partida. Alguma música de rock antigo tocava, não reconheci a letra, nem a voz. Não era fã desse tipo de música, mas combinava com meu humor então deixei tocar. Tentava repetir o ritmo da bateria ao batucar os dedos no volante.
  Quase no fim da cidade entrei com o carro em uma “estrada de terra” – não que as outras por onde eu tinha dirigido também não fossem. A poeira era tudo o que eu via. Era como dirigir no deserto. Dirigir por qualquer lugar do Texas era como dirigir em um deserto.
  Parei o carro, o painel indicava que eram dez para as onze. Estava longe da cidade e isso era o suficiente. Saí do carro e sentei no capô. Tinha muito o que esperar ainda. O sol parecia queimar minha pele, retirei o casaco e fui até o porta-malas, procurei pelo isopor que ali tinha e retirei uma garrafa de água. A melhor bebida do mundo, hidrata, faz bem a pele.
  Via o tempo passar entre a poeira que levantava e formava pequenos redemoinhos de areia. Às vezes conseguia distinguir um carro passando a muito longe de onde eu estava. Trintas minutos, tudo o que faltava para a hora perfeita. Peguei a mala, uma pá, as garrafas de vinho no isopor e o livro antigo que estava no banco do passageiro.
  Comecei a cavar um buraco grande o suficiente para enterrar a mala. Abri o livro e coloquei pedras em cima das páginas, eu precisava ler o que estava ali. Despejava o vinho enquanto recitava algumas palavras em latim, eu já tinha decorado quase todas, mas não podia arriscar, então eu olhava o livro de vez enquanto. Três garrafas e eu empurrei a pesada mala até o buraco. Mais três garrafas de vinho e já eram meio-dia. O vinho começou a borbulhar de leve, aumentando sua quantidade. Então como mágica começou a avermelhar mais, aumentava seu volume. Três litros... Sete litros... Uma piscina de sangue. A mala que antes boiava no líquido começou a afundar.
  - Pensei que você não teria coragem.

[CAPÍTULO 2]

QUINZE HORAS ANTES

  O quarto branco me enlouquecia. Eu não aguentava mais. Queria ir embora, fugir. Eu estava surtando com aqueles homens e mulheres vestidos de azul e com jalecos brancos para lá e para cá. Não, eu não quero mais isso.
  Contudo, eu não podia pegar um carro e fugir. Primeiro porque eu só tinha dezessete anos, segundo, eu não tinha um carro e nem carta e por fim, porque eu tinha um filho. Eu tinha que focar naquela pequena criança loira, de dois anos, deitada na cama branca com vários aparelhos ao seu redor.
  James tinha os olhos fechados, respirava com ajuda de uma máquina. Tubos e mais tubos saíam do menino. Soro, urina. Ele não conseguia fazer nada sem a ajuda de algum equipamento. Era triste. Ele era só mais um em um hospital público. Mais um na fila da morte. Mais uma criança que ia embora sem nunca ter tido o primeiro amor. Ou ter chego até o colegial. E por quê? Por causa de algum vírus que ninguém sabia o que era. Que ninguém sabia a cura. Os médicos não tentaram me enganar, não tinha esperanças. Só Deus podia salvá-lo. Só um milagre.
  Não queria me apegar a aquelas palavras. Eu queria ter esperanças. Era meu filho. Meu bebê. Embora eu não o quisesse nos primeiros meses de gestação, estando preocupada com o que um bebê poderia me trazer. Responsabilidades.
  Eu tinha medo de ter responsabilidade. Eu não cuidava de mim, imagina de uma criança? Clichê, mas também realidade.
  Eu sabia quem era o pai e ele tinha noiva. Eu fui só mais um caso.
  Só tinha uma avó antiquada. Ela gritou comigo, disse coisas horríveis, quando descobriu, mas em momento algum me pediu para abortar. Eu fui mulher para ir até o fim com um cara, eu seria mulher para cuidar de uma criança. Ela não me deixaria abortar, nunca.
  E depois de um tempo, eu nunca pensaria nessa escolha. Eu aprendi a amar o que estava dentro de mim. Me apeguei. Eu tinha orgulho ao andar com a barriga saliente pelos corredores da escola, mesmo tendo que sofrer com os olhares, piadas e fofocas. Eu amava aquela coisa, eu me apeguei. Eu o defendia. Daria minha vida pela dele. Faria o dito impossível por ele.
  Minha avó disse que isso era ser Mãe.
  Tive James com a ajuda da minha avó. Um parto normal. Dor, sangue. Eu não quis me privar desse sentimento. Dar a luz ao primeiro filho é algo mágico, surreal. A conexão que é feita naquele momento... indescritível.
  Não deixaria que meu pequeno príncipe fosse embora sem viver a vida dele. James tinha muito pela frente. Muito o que viver.

  Saí da ala hospitalar e desci as escadas correndo, precisava de ar. Estava sufocando. As luzes da recepção me cegavam. Corri para fora do recinto e me joguei em um dos bancos do imenso jardim.
  A noite era gelada, o vento frio me chicoteava. Minha respiração era o que mais me machucava, meus pulmões pareciam de aço. Sentia a cabeça pesar. A visão era turva, escurecida. Sentia tudo rodar, nada parecia ser sólido.
  - Você está sendo fraca.
  A voz pertencia a alguém que estava na minha frente, mas eu não conseguia o ver. Sabia que era homem, a voz era grossa, grave.
  - Anda, pare de ser tão estupida.
  Não conseguia falar, eu queria gritar que ele não sabia de nada. Mas eu não conseguia. Era doloroso pensar, quem dirá fazer. As minhas lágrimas pareciam que queriam me afogar. Meus olhos queimavam. Eu estava dobrada sobre o banco, meu corpo estava quase caindo. Eu precisava de ajuda.
  - Você é tão fraca. – o homem se agachou, os olhos dele ficaram visíveis. Negros, sem pupilas, sem nada. Só um fundo preto – Tão estupida. Você sabe que não precisa dessa cena toda.
  Ele respirou fundo, esperava que eu falasse algo, mas eu não conseguia.
  - Eu estou aqui porque você precisa de algo, e eu preciso também. Eu lhe dou o que você quer, em troca você faz um favor pra mim. Geralmente eu não vou atrás de pessoas, mas você é especial. – acariciou minha bochecha e eu senti meu corpo levar um forte choque.
  - Eu tenho a cura para James. – meus olhos se voltaram para ele, que sorriu – Você só precisa fazer...

[CAPÍTULO 3]

  Abri os olhos e eu estava em uma maca, em um quarto com mais sete pessoas. Eu tinha uma agulha enfiada em mim, retirei-a dali sem nenhum cuidado. Eu tinha o que fazer. Por James.
  Levantei da cama e agradeci por estar com minhas roupas e sapatos. Vovó estaria com James. Fui até o quarto onde ele estava, dei um beijo na cabeça loira dele e peguei as chaves do carro na bolsa da velhinha que dormia na cadeira ao lado dele.
  Eram três horas da manhã quando entrei no carro. Tinha que dirigir por mais umas três horas, mas eu o faria. Minha cabeça ainda pesava e vez ou outra eu sentia minha visão escurecer. Entretanto eu não pararia, por nada. Só descansaria quando James estivesse corado e sorridente em meus braços.
  Horas dentro do carro e logo avistei a placa de “Bem-vindo” da cidadezinha. Parei no posto e abasteci, aproveitei e perguntei por quem eu procurava na lanchonete do estabelecimento, estava fora da cidade. Perfeito.
  Saí dali e dirigi até onde tinha que ir. Uma casa de dois andares, com um galpão na parte de trás. Era velha, tinha quase que o aspecto de uma casa abandonada. Seria abandonada se eu não soubesse quem morava ali. O dia já estava amanhecendo, eu já tinha perdido oito horas, precisava ser rápida.
  Conhecia a casa, sabia de suas armadilhas. A não ser que o velho tenha colocado novas, mesmo assim eu ainda saberia o que fazer. Entrei por uma janela na lateral da casa, ela dava para a cozinha. E lá ficava a entrada para o “porão secreto”, o local onde eu devia ir. Antes de descer pela escada velha ouvi o barulho de um carro estacionando. Droga!
  Pulei a escada e com cuidado fechei o alçapão. Estava escuro, mas eu tinha um celular. Viva a tecnologia!
  Iluminei o lugar, exatamente igual ao da minha infância. Fui até a estante empoeirada, comecei a ler os títulos. Peguei alguns que me seriam útil mais tarde e coloquei na mochila. Fui até a escrivaninha, sabia que nela tinha um alarme. Por mais incrível e surrealista que pareça, eu tinha a copia da chave, a não ser que tenha sido alterada. Rezei a Deus para que não. Coloquei a chave e com cuidado girei, nenhum alarme, nada. Só o ‘clic’ da fechadura. Não me importei se deixaria evidencias de que estive ali, apenas abri o fundo falso e peguei a agenda que ali tinha, coloquei na mochila e me preparei para dar o fora.
  Subi a escada e tentei ouvir o que se passava lá fora. Duas vozes de homens. Eles andavam para fora da cozinha. Esperei. Com cuidado abri uma frecha do alçapão e bisbilhotei se eles ainda estavam ali, não, não estavam. Com mais cautela do que um predador eu sai do porão e fui até a janela, que estava aberta. Obrigada, Deus! Pulei e corri até meu carro.
  Ouvi gritos e barulhos de tiros no mesmo momento em que eu saí com o carro. Estava feito, eu só precisava achar nos livros como encontra-lo e James estaria bem.
  Dirigi até algum local onde eu consideraria seguro. Peguei os livros e comecei a folheá-los, só precisava lembrar o nome dele e pronto, o chamaria. Três livros e nada, eu tinha pouco tempo.

  Eu estava sendo rápida, já me encontrava em outra cidade. Pouco depois de achar quem eu procurava nos livros avistei o mesmo carro que estava estacionado ao lado do meu na casa velha. Eles estavam atrás de mim. Era claro que eles estavam atrás de mim. O que eu fiz fora loucura! E o que eu ia fazer era mais louco ainda.
  Dirigi até que me perdessem de vista, então fui até a cidade mais próxima de onde eu estava. Algum lugar no interior do Texas. É, eu estava meio longe. Comprei um mapa e dirigi até onde eu deveria ir. Tinha que achar Michael.
  Uma hora na estrada e eu já estava onde devia estar. Tinha que correr contra o tempo. Procurei pelas coisas que eu precisaria nas lojas. Vinho, pá, gelo, água. Uma mala, sacos, um perfume de carro. Tinha tudo o que eu precisava então fui até o cemitério.
  O cemitério era pequeno, vazio e feio. Não que cemitérios fossem bonitos, mas aquele era... assustador, estranho e muito mal cuidado. Procurei por Michael Dollover.

“Aqui descansa um filho, um pai. Um guerreiro”

  Dollover tinha vivido por uns 33 anos de acordo com sua lápide. Mas quem o conheceu sabia que ele só realmente morreu aos 63 anos. Bom, pelo menos ele sumiu aos 63 anos, se ele morreu ou não, só Deus sabe.
  Peguei minha pá e comecei a cavar. Não me preocupei se alguém veria. Quem vai ao cemitério às sete da manhã? Em um dia ensolarado ainda por cima?
  Demorei até conseguir chegar ao caixão. Meus braços doíam, mas era por James.
  Abri o caixão e tentei não olhar muito para o cadáver em putrefação/decomposição. Com as luvas descartáveis e a mala ao meu lado comecei a colocar o morto ali dentro. A mala era grande, cabia as partes da coisa. O cheiro era horrível. A textura era pior ainda. Os bichos eram... URGH!
  Quando terminei de colocá-lo dentro da mala, fechei-a e coloquei no banco de trás do carro. Lavei as mãos com a água e o álcool que eu tinha comprado. Lavei até que ficassem vermelhas e ardessem de tanto esfregá-las umas nas outras.
  Entrei no carro e usei metade da embalagem do perfume. Abri as janelas e fui até a última loja, eu precisava de uma última coisa. Uma arma.

[CAPÍTULO 4]

PRESENTE

  - Pensei que você não teria coragem.
  - Você nunca saberá o que é ser mãe.
  - Claro, sou homem. – riu de escárnio.
  - Não, você é um demônio, não um homem. – corrigi.
  - Detalhes. – abanou o ar – Trouxe o que te pedi?
  Peguei a mochila em minhas costas e retirei o diário. Levantando ele no ar.
  - O diário pela cura de James, você sabe. – disse.
  - Ele vai viver saudável, como se nunca tivesse tido essa doença. Vai ser uma criança normal. – assegurou-me.
  - Não é esse o combinado. Ele vai viver como uma pessoa normal, vai viver até que seja idoso. Esse é o trato.
  - Sim, sim. – fez descaso e indiferença – Viver, idoso, blá blá, pelo diário. Já dei minha palavra antes, não posso modifica-la. Agora me pague logo.
  Eu sabia que não podia confiar em um demônio, mas antes, quando o trato tinha sido selado, ele havia dito que James viveria como uma pessoa normal, com a expectativa de vida igual ao da maioria da população. Eu tinha que ter esperanças. Era o meu milagre, não era?
  Na mesma hora em que estendi o diário ao demônio um tiro passou próximo a minha mão, o que me fez soltar o encadernado de couro, que caiu no chão. Ah, não! Ao olhar quem tinha disparado vi um loiro e um moreno. Droga, de novo eles! O moreno disparou próximo onde estava o demônio, que correu, o loiro começou a correr também, mas estava longe. O demônio pegou o diário aos meus pés, sorriu para mim e disse:
  - Foi ótimo fazer negócios com você.
  Estão ele jogou o diário no buraco com o líquido vermelho-sangue e abriu a boca, uma fumaça preta saiu dali. No mesmo tempo em que a fumaça sumiu, o líquido e a mala na cova sumiram, assim como o diário. Era como se nada tivesse acontecido.
  - MERDA! – gritou o moreno e veio na minha direção me segurando pelos braços – QUAL O SEU PROBLEMA? VOCÊ SABE O QUE ELE TEM EM MÃOS? EU SABIA QUE VOCÊ IA FAZER MERDA! EU FALEI PARA O SAM, MAS ELE FICOU QUE NEM UM IDIOTA FALANDO QUE VOCÊ ERA SÓ UMA CRIANÇA! UM BABACA, VOCÊS DOIS!
  - Dean, você vai machuca-la, solta ela e vamos conversar. – o loiro, Sam, disse.
  Antes que Dean gritasse com ele também, levei minha mão esquerda até a cintura, procurei pela pistola que eu tinha comprado e disparei contra Dean. Na barriga, não era fatal era? Dean com o susto me soltou e foi para trás, Sam foi até ele. Eu corri para meu carro e liguei-o, eu precisava voltar pra James.
  Já na estrada principal, longe da onde eu estava alguns momentos atrás, eu sentia meus olhos pesando. Minha barriga se contorcia, sentia uma enorme dor de cabeça. Eu não me alimentava há muito tempo, não dormia direito há mais tempo ainda. A fraqueza e a adrenalina em conjunto não me faziam bem. Liguei o rádio, precisava me manter acordada pelo menos até o posto de gasolina, eram alguns quilômetros, talvez sete ou oito. Lá eu comeria algo rápido e voltaria para a estrada. Eram muitas horas até o hospital de James.
  - ... “And if my Heart should somehow stop” por James Vincent McMorrow.

“the wind changed, the first day that you came through
cut the corn, washed it clean
now everything thats ever gone before, is just a blur
it's all because of you
and now i find, this cities like a stranger to me
i once was fooled by cadillacs and honey
but no one feels like you
not like you
not like you
not like you”

  James. Precisava continuar por James. Não podia falhar agora, não, eu não podia. Tinha que aguentar firme, pelo menos até o posto. Pisei fundo no acelerador.

“cause even though the flower fades something takes it's place
a marching band on a sunny day, two pretty eyes or a a pretty face”

  Ele ia acordar e chamar por mim. Eu tinha que estar lá. Ele precisava de mim, eu precisava dele.

“then in the forest i made my home
lay down on hard and ancient stone
then if my heart should somehow stop
i'll hang on, to the hope
that you're not too late
that you're not too late”

  120km/h. Eu corria, mas eu precisava de mais velocidade. Tinha que ser mais rápida. O zunido em meus ouvidos estava mais alto, mais forte. Meus olhos não absorviam mais detalhes da estrada.
  Meu pé pesava no acelerador.
  Não tinha mais controle sobre meu corpo.

“and there are times i know when i will have to chase you
the further from my side you go, the longing grows
and though i hate this, i'll still want you,
i will hate this, but i'll still want you”

  Meus olhos fecharam, não que eu quisesse, mas foi um impulso. Meu corpo reagindo. Automático como o airbag do carro. No mesmo momento em que senti o impacto do carro, senti meu corpo reagir sozinho.
  Não tinha mais sentidos, a não ser a audição. Ouvia ruídos que o carro emitia. Ouvi um carro parando, alguém se aproximando. Gritando algo.

“even though the flower dies somethings by it's side a helping hand or a kiss goodbye, to ease it on it's way”

E então tudo acabou. Sem mais esperanças. Sem milagres. Sem barulhos. Sem Deus, sem demônios. Sem Winchester. Sem James. Só o drama da escuridão.

[CAPÍTULO 5]

  Dean Winchester
  Dois dias. Dois longos dias em que estávamos naquela cidade de Judas. Culpa do Sam e seu sentimentalismo idiota.
  Qual é! A garota deu um tiro em mim, enganou a gente, deu um diário importante para o demônio. Profanou um túmulo e sabe-se lá mais o que ela fez. Sam queria entender o porquê, então disse que ia continuar na cidade até ela acordar. Depois íamos embora. Mas a garota não dava sinais de que iria acordar.
  Sam estava no hospital com ela. Disse que era irmão dela, algo assim.
  - Quê? – atendi o celular, repousando a cerveja em cima do balcão do bar.
  - Ela acordou. – desliguei o telefone antes que ele continuasse. Terminei calmamente minha cerveja. Sabia que não devia beber, a ferida na minha barriga não estava cicatrizada, mas eu não obedecia meu pai, por que vou obedecer o Sammy?
  Depois de mais duas cervejas eu saí do bar. Entrei no meu carro e dirigi até a droga do hospital. Ignorei a recepcionista e fui até o quarto onde Sam estava. Mas antes, que de fato eu entrasse no quarto, Sam me levou para o corredor.
  - O nome dela é , ela tem dezessete. E ela me contou tudo. – ele disse.
  - E daí?
  - E daí? E daí que ela mentiu! – Sam não gostava quando faziam ele de bobo, depois de ele ser legal – Lembra? Ela disse que o nome dela era Bree e que tinha dezoito. Naquele dia que a encontramos na lanchonete do posto, lembra? Ela disse que morava por lá, mas não mora. Ela é da cidade vizinha. Tem um filho, ele está internado nesse mesmo hospital, um menino de dois anos. Ela fez tudo aquilo para salvá-lo.
  - Ela continua errada, não devia ter feito aquelas coisas.
  - DEAN! – me cortou – Você fez o mesmo por mim. Não, você fez pior, você deu sua vida pela minha, lembra? E John tinha dado a dele por você!
  - É diferente, eu dei a minha vida. Ela deu a de milhares de pessoas. – bufei.
  - Não, Dean, ela estava assustada, só queria salvar o filho dela. Ela não sabia o que estava fazendo. Para ela, só estava dando informações sobre o pai dela. Só isso.
  - Ela continua errada. – revirei os olhos e estalei a coluna – Não entendo porque está tentando defendê-la. Sam nós matamos demônios, ela ajudou a liberar mais deles. Ela entregou um diário que continha instruções de várias armadilhas preparadas para prender demônios. Sabe o que é isso na mão de um DEMÔNIO? – gritei. Ele estava ficando louco? Eu tinha que falar quantas vezes a palavra demônio para que ele entendesse a gravidade?
  - Dean, eu não estou dizendo que ela está certa. Mas você no lugar dela faria o mesmo. Você fez idêntico. Você me trouxe a vida. – ele passou a mão pelo cabelo e apontou para mim – O filho dela, que tem dois anos, estava morrendo! UMA CRIANÇA, DEAN! Ela foi egoísta, foi, foi sim, não nego. Mas ela queria salvar o filho dela, ela faria o certo e o errado para ver a criança bem. E ela fez. Assim como você esteve errado ao me trazer de volta. MAS FEZ!
  Eu estava bolado, queria dizer um bando de coisas para o Sammy.
  - Nós não temos mais o que fazer aqui. Vamos embora, temos um diário para recuperar, não é? – foi tudo o que eu disse.
  Antes da resposta de Sam, uma criança loira passou correndo por nós. Uma senhora já muito velha, vinha atrás dele.
  - Não corra, James! Você ainda está se recuperando, rapazinho!
  Sam olhou pra mim, como quem dizia que aquele menino era a criança da mentirosa filha da mãe.
  O pequeno apenas olhou pra nós e abriu a porta, entrando e correndo até a cama onde a garota – que me deu um tiro – estava sentada. Um sorriso que daria inveja no mais feliz dos homens se abriu no rosto dela. James subiu na cama e a abraçou, que começou a chorar.
  Ele falava alguma coisa para ela, segurando o seu rosto com duas mãos gorduchinhas. Ela sorria e tentava enxugar o rosto. A velhinha entrou no quarto, ficava olhando a cena de perto da cama.
  - Ela fez isso por amor. Você entende, não é? – Sam disse ao meu lado, ele olhava a cena vidrado. Sabia que Sammy sempre quis ter uma família. Também queria, mas a forma como ele queria era diferente da minha.
  - Não, eu não entendo. – bati nos ombros do meu irmão – Nós temos que ir. Caçar monstros, cair na estrada. Livrar o mundo do mal, essas coisas. Lembra?
  - Lembro, infelizmente eu lembro. – suspirou.
  - Pelo James? – Sam sorriu e olhou pra mim. Ele sabia que não era bom com esses momentos.
  - Pelo James.
  Saímos do hospital e entramos no quarto. Era dessa cidade pequena para Phoenix, alguns vampiros andavam aprontando por lá. Liguei o rádio e tocava alguma do Led. Sam revirou os olhos e deitou a cabeça no encosto.
  - Eu tenho vontade de largar tudo, procurar uma garota e me casar. Construir família. Ter filhos, essas coisas. – ficamos em silêncio. Era algo a se pensar, tanto para ele quanto para mim. Eu tinha esperanças, assim como meu irmão, de casar, ter filhos.
  - Sabe, você não fez nenhum comentário sobre a garota. – Sam observou.
  - Ela é uma criança! – respondi.
  - Achava que só importasse se ela tinha um belo par de seios.
  - Reparou nos seios da garota, Sammy? – levantei uma das sobrancelhas.
  - Vai se ferrar, babaca. – resmungou.
  - Bicha.

FIM



Comentários da autora


(29/01/14)
Shortfic dedicada a minha cachorra, Lupita.
Sei que parece loucura, mas eu escrevi essa fic para minha cachorra. Como ela me ouviu e me divertiu durante essas horas, acho justo dedicar a ela.
Deixando a loucura de lado, quero agradecer por ter lido esse lixo Agradeço a beta pelo seu trabalho, sua liamda xmeegs

Outras fics do projeto: Café com Leite (Finalizada, Outros) e Nocaute Técnico (Finalizadas, Outros).

Curiosidades:
- O nome da personagem principal é Lory Miller. E ela não é loira;
- A ideia original era a principal matando o ex-namorado que a traiu. Sem filho, sem Winchesters, sem demônio. Apenas a principal matando o cara. Mas deu poucas páginas e eu achei a estória vaga, então escrevi essa;
- A casa onde você esteve é de um suposto pai seu;
- Dollover também é um candidato a ser seu pai. E ele não está morto;
- O cadáver no túmulo do Dollover é de uma criança;
- A fanfic ia se chamar “O Milagre da Esperança”, mas era muito “Sessão da Tarde”;

Nota da beta: Ah Meeg, você é uma fofa!! Continue escrevendo, viu? Você tem um ótimo futuro.