Escrava

Escrito por Maria Eduarda | Revisado por Luh

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Parte 1 - Início

 A moça caminhava segurando uma bacia ao lado do corpo; ela mantinha os braços firmes, segurando para que nada caísse. Ela ia em direção ao rio lavar suas roupas e a de outros escravos. Enquanto caminhava sentindo seus pés descalços em contato com o colo, ela cantava uma música conhecida na senzala.
 América tinha apenas 17 anos, nasceu e foi criada na senzala dos Tomlinson desde que os pais morreram apedrejados por seus antigos patrões. Ela cresceu sendo criada por outros escravos que se sentiram tocados pelo fato da moça não ter ninguém.
 Ela sempre soube que assim como nasceu, ela morreria como uma escrava. Alguém que ninguém nunca demonstraria admiração ou respeito. Enquanto caminhava em direção ao rio, América observava os pássaros e poderia parecer estranho, mas ela sentia inveja deles. O modo como eles eram livres podendo voar para qualquer lugar lhe dava um pingo de esperança de um dia sair por ai e nunca mais voltar.
 Mas ela sabia que essa realidade era diferente, ela sempre estaria presa ali. América chegou à beirada do rio e se sentou colocando a bacia no meio das pernas e lavando as roupas. Era a segunda vez que ela lavava as roupas naquele dia, a primeira teria sido a roupa de seus patrões, cujo ela obedecia estritamente com medo de ser punida.
 Depois de levar todas as roupas, América voltou para a senzala não encontrando ninguém, todos os escravos deveriam estar na colheita de café.
 A garota suspirou olhando em volta, a senzala feita de madeira e alguns cipós. Todos os escravos dormiam no chão e não tinham com o que se esquentar no frio. Todos comiam apenas as sobras dos patrões e alguns chegavam a morrer desidratados. Lágrimas começavam a se acumular em seus olhos imaginando que teria que passar o resto da vida naquele lugar.
 Ela se deitou no chão, se encolhendo e fechando os olhos, afinal ninguém poderia tirar os sonhos dela.

[...]

 América correu para dentro da mansão sentindo medo que estivesse atrasada, bateu a porta da Sra. Tomlinson e escutou um “entre”.
 - Me desculpe o atraso, Senhora – a garota se desculpou fazendo uma saudação à patroa. Sra. Tomlinson sempre tratou América com carinho e respeito, mas tentava não demonstrar muito o quanto a preferia por medo de que o marido maltratasse a pobre garota.
 - Você sabe que se eu precisasse, teria a chamado – Srª Tomlinson falou fazendo sinal para que América a ajudasse a amarrar o espartilho.
 - Vosmicê parece feliz hoje – América comentou percebendo a felicidade da patroa.
 - Ah, sim – Sra. Tomlinson sorriu. – Meu filho chega de viagem hoje e estou com saudades.
 América sabia que os Tomlinson possuíam um filho, mas nunca o vira por ser proibido que escravos tivessem contato com os filhos de seus donos, essa lei apenas não se aplicava as amas, escravas que cuidavam e amamentavam quando a criança é pequena.
 - Fico feliz pela senhora – América comentou, ela realmente gostava da Sra. Tomlinson e se sentia confortável em dividir questões com a patroa.
 - Eu e meu marido iremos até a cidade esperá-lo – a mulher comentou olhando América pelo espelho. – Você, por favor, pode deixar tudo preparado para quando ele chegar, quero que ele volte a se sentir em casa.
 - Sim senhora – América respondeu assentindo. Ela não sabia quem era o herdeiro dos Tomlinson, mas tinha certeza que era um rapaz de sorte por ter todo o conforto e carinho que poderia receber.
 - Obrigada América – Sra. Tomlinson se virou e sorriu encarando a jovem de vestimentas simples. – Você é sempre muito útil para mim.
 - Estou sempre à sua disposição, Senhora – América se curvou e saiu logo em seguida.

 Não muito distante dali, Louis Tomlinson desembarcava na estação central de Londres, depois de anos estudando em um dos melhores colégios do mundo, ele finalmente estava voltando para casa.
 Louis aprendeu tudo o que precisava: etiqueta, comportamento, finanças, línguas diferentes. Tudo para se tornar um importante e influente homem no mundo dos negócios. Desde pequeno seu pai lhe dizia que seu sonho, era que Louis assumisse o negócio da família: a colheita de café.
 O jovem carregava a mala em uma mão, e percebeu que uma tempestade forte viria, olhou para os lados a procura dos pais, mas encontrou apenas um escravo que passava de carruagem, fez sinal para que o escravo parasse, e assim ele fez.
 - Por favor – Louis o chamou. – Pode me dar uma carona até a fazenda dos Tomlinson?
 - Sim, senhor – o escravo assentiu e Louis embarcou na carruagem.
 No caminho para a fazenda, a tempestade forte começou a cair, os cavalos da carruagem galopavam mais e mais fazendo com que Louis perdesse o equilíbrio algumas vezes. No caminho olhando a paisagem, mesmo com dificuldade por conta do escuro e da chuva, ele não pode deixar de notar o quanto tudo mudou depois de sua partida.
 Ele se lembrará de quando era pequeno e corria pelo extenso campo sem se preocupar com nada, ou quando cavalgava pelas trilhas feitas na floresta pelos escravos da fazenda.
 Sem se dar conta, o escravo já havia parado em frente ao casarão dos Tomlinson, Louis agradeceu e pegou sua mala apressado para evitar o longo contato com a chuva. Quando chegou encharcado na varanda, ele se permitiu respirar aliviado e feliz por estar em casa. O jovem tirou seus sapatos molhados e olhou de baixo do tapete em frente à porta, a chave estava lá. Como sempre estivera quando era pequeno.
 Assim que abriu a porta, se deparou com a mais perfeita organização da casa, os móveis não eram mais os mesmos, no lugar daqueles que ele se lembraria, estavam móveis novos e totalmente combinando com casa ambiente da casa.
 De repente um gritou ecoou e Louis sentiu uma pancada atrás das costas, quando se virou. Um choque elétrico percorreu seu corpo. A moça de roupas simples, e cabelo preso por um coque carregava uma vassoura na mão pronta para dar o bote, ela parecia assustada, porém determinada, o que fez Louis sorrir.
 - Me desculpa se lhe assustei – se desculpou colocando sua mala no chão.
 - Quem é vosmicê e quem acha que é para invadir a casa dos meus patrões? – a moça perguntou levantando a vassoura para batê-lo, mas desistiu assim que ele fez sinal de rendição.
 - Fico feliz que não deixem qualquer um entrar aqui – Louis falou sincero. – Mas eu sou o dono da casa.
 Ele percebeu a confusão no rosto da jovem e por um momento se permitiu observar os traços da moça, ela era bonita e isso ele tinha que admitir.
 - Oh – ela murmurou largando a vassoura e colocando a mão na boca. – Vosmicê é filho do Sr. e Sra. Tomlinson.
 - O próprio – sorriu irônico e se sentando no sofá. – Você poderia me informar onde estão os meus pais?
 - Eles saíram há algum tempo para buscá-lo – explicou. – Mas se o senhor está aqui, onde eles estão?
 - Provavelmente nos perdemos no caminho – Louis pensou e voltou a encarar a moça que o olhava desconfiada. – Então a senhorita trabalha aqui?
 - Sim – ela assentiu ainda nervosa, será que ele era mesmo o herdeiro dos Tomlinson? A moça pensou, afinal, existiam muitos golpistas naquela região.
 - E o que você faz? – Louis perguntou interessado mesmo sem saber o porquê de querer saber.
 - De tudo – ela deu de ombros. – Faço o que me mandarem.
 - Entendi – ele assentiu e bocejou, América percebeu o cansaço do jovem.
 - O seu quarto está pronto – explicou fazendo Louis balançar a cabeça positivamente.
 - Nesse caso, acho que irei descansar – falou se levantando.
 América o observou por alguns segundos, mas foi o suficiente para achá-lo atraente. Ela o achava atraente, porém nunca havia se sentindo atraída por ninguém, pensou.
 - Caso o senhor precisar de qualquer coisa, basta gritar – falou fazendo menção de que iria se retirar.
 - Na verdade eu, preciso de algo – falou chamando atenção dela. A moça que estava prestes a sair, se virou e o olhou prestando atenção atentamente.
 - E o que seria, Senhor? – perguntou disposta a obedecê-lo.
 - Pare de me chamar de Senhor – Louis disse fazendo careta. – Isso da impressão que sou um velho babão e barrigudo.
 - Mas... mas...isso seria um afronto da minha parte – América mostrou indignação. – Nenhum escravo deve tratar o patrão pelo nome, isso é uma falta de respeito, além de ser proibido.
 - Se eu sou seu patrão, acho que tenho o direito de decidir como quero que você me chame – Louis sorriu convencido e foi em direção ao quarto, mas antes não pode deixar de rir quando ouviu-a xingá-lo baixinho. Ele já gostava da ousadia dela. Oh se gostava.
 América saiu batendo os pés bufando, quem ele pensa que é? Seu patão, sua consciência respondeu. Não importava, ela o chamaria assim como todos os escravos chamam seu patrão.
 Quando entrou na senzala, percebeu que a maioria dos escravos já estava dormindo. Então se deitou em um monte de palhas no canto e se permitiu dormir, afinal o outro dia seria corrido como todos os outros.
 Não muito longe dali, Louis se revirara na cama de um lado para o outro, sua cabeça não parava de pensar em América, ela era ousada e ele gostava disso. Seus pensamentos foram despertos por uma batida na porta.
 - Louis? – Sra. Tomlinson colocou a cabeça para dentro da porta e sorriu ao ver o filho ainda acordado. – Oh querido, fico feliz que tenha chegado bem. Não consegui lhe encontrar na estação.
 - Está tudo bem mãe – Louis se levantou para abraça - lá. – Eu imaginei que vocês teriam ido me buscar, mas como a tempestade começou, achei melhor vir direto para casa.
 - Que bom que chegou bem – ela sorriu. – Espero que esteja bem acomodado.
 - Sim, eu estou – ele retribuiu o sorriso. – Não se esqueça que essa casa também é minha.
 - Eu sei querido – ela suspirou. – Faz tanto tempo que você não vem para casa que me esqueci disso.
 Louis sorriu triste, apesar de anos de estudos fora, ele sentia falta de casa. Sentia falta de acordar todos os dias e sorrir ao ver a mesa de café da manhã, e por mais que ele estivesse feliz viajando e conhecendo o mundo, ele sentia falta de um lugar para chamar de casa.
 - Espero que América tenha lhe recebido bem – Louis franziu a testa.
 - América? – perguntou confusa.
 - Sim querido, a escrava – Sra. Tomlinson explicou, então esse era o nome dela, Louis pensou. – Ela lhe recebeu bem não é? Geralmente ela costuma ser fria demais, mas é o jeito dela.
 - Ela foi muito gentil mamãe – Louis riu imaginando a cena de algum tempo atrás quando ela lhe recebeu segurando uma vassoura.
 - Eu vou lhe deixar dormir – Sra. Tomlinson passou as mãos no cabelo do filho. – Estou feliz que esteja de volta em casa.
 - Eu também – ele sorriu e pensou em América. – Ah como estou feliz.
 Louis foi dormir pensando em América, e nem imaginava que na senzala a pouca distância dali, a jovem escrava sonhava com ele. Era um sonho caloroso e ardente, um sonho que a deixou como ela nunca havia estado antes. Quando ela acordou no meio da madrugada soada e ofegante, não soube o motivo. América tentou voltar a dormir, mas pensamentos voavam para Louis. O que estava acontecendo? Ela pensou, por que não parava de pensar em alguém que mal conhecia? O corpo de América parecia estar pegando fogo e chamando por um único nome: Louis.
 Levou algum tempo para que a escrava conseguisse voltar a dormir. Mas acho que todos sabemos com quem ela sonhou outra vez.
 Pela manhã assim que se dirigiu ao casarão dos Tomlinson, América se sentia envergonhada em ter que encarar o belo jovem depois do sonho ardente que teve. Logo quando entrou na casa, a primeira coisa que América notou foi Louis sentando tomando seu café da manhã, o jovem a olhou sorriu.
 - Bom dia, América – falou com uma voz rouca. – Hoje não tem nenhuma vassoura me esperando?
 Ele estava querendo ser irônico? Ela pensou, revirando os olhos. Ela olhou em direção a pia e sorriu quando viu uma faca. Caminhou em direção a ela, e pegou.
 - Não – ela sorriu convencida. – Hoje eu tenho uma faca.
 Louis arregalou os olhos e cuspiu todo o café. Ela não teria coragem de fazer isso, ou teria? Ele não sabia, afinal, mal a conhecia.
 - Então, patrão – ela foi se aproximando com a faca na mão enquanto ele se afastava. – Eu sei usar uma faca como ninguém.
 O coração de Louis começou a acelerar, ele seria assassinado pela própria escrava da família ali mesmo?
 - América, eu estava brincando – ele sorriu nervoso. – Foi só uma brincadeirinha, pra que tudo isso?
 A escrava sorriu percebendo o quanto ele estava nervoso, ela havia conseguindo o que queria, o que custava se divertir mais um pouco?
 América passou a mão pela lâmina da faca e Louis sentiu sua garganta secar. Ele seria morto.
 - Sabe, eu também adoro brincar, patrão – ela olhou para ele e seguiu o olhar para a faca. – Isso vai ser divertido.
 América caminhou lentamente em direção a Louis, e ele se afastava, mas quando suas costas bateram na parede, ele percebeu que não tinha mais escapatória. América levantou a faca em direção à garganta de Louis e ele fechou os olhos, torcendo para que a dor fosse rápida.
 Louis não entendeu quando ela começou a rir, ele abriu os olhos a viu praticamente agachada rindo sem parar. Ela levava a mão ao peito tentando controlar a risada, mas era em vão. Louis a olhou indignado e percebeu que ela estava o tempo todo o enganando.
 - Você... você – ele abriu a boca varias vezes. – Ora, sua...
 Ela esperou que ele terminasse a frase, mas ele não terminou. Em vez disso ele a jogou sobre seus ombros e saiu da casa.
 - O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – América gritou se debatendo, mas era em vão porque Louis era mais forte que ela.
 - Vou te dar uma lição, querida – ele sorriu. – Você irá aprender a não fazer mais gracinhas.
 - Me desculpa, senhor, por favor – implorou. – Não foi minha intenção.
 Os olhos da escrava se encheram de lágrimas. Seu corpo começou a tremer. Ele a levaria para a forca ou a chicotearia até suas costas sangrarem. Ela já havia presenciando escravos que foram chicoteados e geralmente levavam dias para se recuperar, fora a dor que muitos deles reclamavam sentir. As lágrimas começavam a descer e América não conseguia as controlar.
 Por conta da posição que estava, Louis não conseguiu ver o rosto de América. O que ele imaginou é que a garota deveria estar muito brava, por isso não falou nada. Ele caminhou com ela nos ombros em direção à mata, que possuía um rio. Sua intenção era joga–lá.
 Quando se aproximou do rio, Louis a tirou dos seus braços e pode ver o as lágrimas nos olhos dela, ele não entendeu o motivo e tentou se aproximar, mas se afastou.
 - Por favor, senhor – ela murmurou de cabeça baixa. – Eu prometo nunca mais aborrecê-lo.
 - Está tudo bem, América, não precisa chorar – ele se aproximou contra a vontade dela fez um grande esforço para não beija-lá ali.
 - O senhor não irá me chicotear? – sua pergunta saiu em um sussurro por conta do choro. Ele a olhou surpreso. Era isso que ela imaginava?
 - Não – ele praticamente gritou. – Por céus, eu nunca faria isso!
 Louis sentiu o arrependimento pela sua ação, ele deveria prever o que ela estava pensando, afinal, América, era uma escrava e pensou que sofreria consequências como qualquer um de sua origem.
 Mas Louis não era assim, ele nunca teria coragem de machucar alguém de propósito, muito menos uma garota. Especificamente se essa garota fosse América. Ele não precisava conhecê-la a vida inteira para ter bons pressentimentos ao seu respeito, ele não precisava conviver 24 horas por dia com ela para notar sua dignidade, e ele não precisava de muito tempo para perceber, que acabaria se apaixonando por ela. Sim, ele se apaixonaria por ela e teve a certeza disso a partir do momento que a viu segurando uma vassoura pela primeira vez.
 Mas e se ele já estivesse a desejando? Louis pensou, sim. Ele já estava a desejando, estava a desejando desde pequeno quando a viu pela primeira vez no cafezal. Ele demorou um tempo para notar que a conhecia de algum lugar, mas quando ele acordou naquele dia pela manhã, ele sonhou com a garotinha negra do cafezal e reconheceu. Era América. Louis se aproximou dela pronto para tê-la.
 - Eu quero você - Louis murmurou com os lábios contra a testa dela. - Eu quero você dentro de mim e fora, quero você do meu lado e do outro. Quero acordar e dormir com você. Quero você de todas as maneiras possíveis.
 América levou alguns segundos para processar o que ele desejava. Mas quando descobriu, não gostou.
 - Você quer que eu seja sua amante? - foi mais uma afirmativa do que pergunta por parte da garota.
 - Se esse for o único modo de ter você, então sim, seja minha amante - ele encarou a reação dela e queria poder ler sua mente para descobrir o que ela pensava.
 - Eu não posso - murmurou sentindo sua garganta secar. Louis sentiu seu corpo enrijecer.
 - Pense bem, América - Louis segurou as mãos da escrava. - Eu sei que você me deseja assim como eu lhe desejo. Estou lhe oferecendo uma vida cheia de conforto, eu posso lhe dar tudo o que quiser.
 - E o que mudará? - ela fixou seus olhos nos deles. - No fim do dia, eu continuarei sendo uma escrava que precisará voltar e dormir em uma senzala suja e servir aos outros. No fim do dia, eu continuaria sendo uma escrava... uma ninguém.
 Louis sentiu seu coração se partir, ele a queria ainda mais, e a queria agora. Mas ele notou o que ela precisava e sabia que não podia dar isso a ela.
 - Casar – ele murmurou. – É disso que está falando não é? – o moço perguntou, América não precisou responder para ele saber sua resposta. – Eu nunca poderei me casar com você, América.
 - Você acha que eu não sei? – ela o encarou. – Eu não estou pedindo nada, eu nunca falei que queria me casar. Por céus, você mal me conhece e quer que eu seja sua amante?
 Ela tentou caminhar em direção ao casarão, mas foi impedida por Louis.
 - Por quê? – ele perguntou. – Por que está negando isso, quando poderia ter uma vida melhor do que a que você leva?
 Ela engoliu o choro e precisou tomar coragem.
 - Porque eu não quero passar a minha vida como a amante de alguém – começou. – Você já imaginou quando você se casar? Porque você um dia vai se casar e encontrar alguém do mesmo nível que você, e o que acontecerá comigo? Eu voltarei para onde eu saí, uma senzala. E Deus nos livre se eu tivesse um filho.
 - Você negaria um filho meu? – Louis perguntou decepcionado.
 - O quê? Você tem noção do quanto eu o amaria? - ela perguntou com os olhos cheios de lágrimas. – Eu o amaria tanto que não teria condições de magoá-lo assim como sempre fui magoada, eu o amaria tanto que não poderia fazê-lo passar tudo o que eu passo.
 Louis suspirou, ele não poderia obrigar ela a nada, mas poderia tentar convence-lá. E no que ele era bom, era em convencer alguém.

Parte 2 - Final

 Os dias haviam se passado desde a última conversa de Louis e América, a moça tentava evitá-lo o máximo que podia, sempre dando um jeito de não encontrar com ele dentro da casa ou até mesmo pelas redondezas do casarão.
 América entrou na cozinha atenta aos movimentos, para que nenhum barulho chamasse a atenção, ela se virou para trás tomando cuidado para não encontrar Louis, mas quando virou novamente seu coração acelerou.
 Ele estava na sua frente de braços cruzados e um sorriso irônico no rosto. Como alguém poderia ter uma beleza tão grande? Ela pensou.
 - Bom dia, América – Louis sorriu e se sentou a mesa.
 - Bom dia, senhor – ela foi em direção ao bule e serviu uma xícara de café para ele. Louis bufou ao ouvir a palavra “senhor”.
 - Sabe, América – ele tomou um gole de café. – Você sumiu durante esses dias. Onde você estava?
 - Quer leite, senhor? – a garota ignorou a pergunta do rapaz.
 - Ah, sim, eu adoraria – ele sorriu. – Onde você estava?
 - Sabe senhor, eu acho que deveria ser criada alguma peça na cidade – América comentou colocando um pouco de leite na xícara de Louis.
 - Jura? E você recomenda que tema? – Louis dirigiu o olhar para ela. – Onde você estava?
 - Algo do tipo “Pessoas enxeridas” – América sorriu e Louis a olhou indignado.
 - Aposto que faria um grande sucesso na alta sociedade – Louis sorriu. – Onde você estava?
 - Com toda certeza faria sucesso – América o olhou. – Porque você seria o principal ator.
 Louis percebeu que ela queria fugir da conversa, mas ele nunca foi o tipo de pessoa que se esquivava das coisas. Para ele, tudo precisa ser claro.
 - Você esta fugindo do assunto – ele cruzou os braços. – Onde você estava?
 - Ocupada trabalhando – América bufou. – Nem todo mundo nasceu com a sorte de não precisar fazer nada na vida senhor.
 Louis se sentiu mal por isso, ele sabia que não tinha culpa de ter nascido no meio do luxo e ter uma vida confortável, mas é claro que ele não precisava demonstrar isso o tempo todo.
 - Eu não queria dizer isso – Louis tentou se desculpar. América se sentiu arrependida por passar essa imagem a ele.
 - Tudo bem, senhor – ela deu de ombros sorrindo fraco para passar segurança a ele.
 - América... – Louis sussurrou se aproximando dela. À medida que ele ficava mais perto, a garota sentia seu coração acelerar; não era possível que ele iria beijá-la, pensou. Louis encarava firmemente a boca de América, seu olhar mostrava desejo e apenas ele sabia o quando queria aquilo.
 Louis levou uma mão até o rosto de América, acariciando o mesmo, intercalando seu olhar entre a boca da morena e os olhos dela. Sem esperar mais tempo, Louis colou seus lábios nos de América, lhe dando um longo selinho. América, por sua vez, o encarava de olhos abertos, ainda com seus lábios grudados nos do rapaz. Ela não sabia o que fazer, então apenas fechou os olhos assim que sentiu a língua de Louis pedindo passagem pela sua boca.
 As mãos de Louis agora apertavam a cintura da garota, puxando-a contra o seu corpo. Ele a desejava, e desejava muito. Ele queria explorá-la mais, queria mais contato, queria senti-la. Em um gesto um pouco bruto e rápido, pegou América no colo e a colocou sentada na mesa de jantar, fazendo ela rapidamente se afastar do mesmo e o encarar assustada.
 - Acalme-se, América - disse Louis, voltando a se aproximar da mesma, beijando o pescoço dela.
 - Senhor, p-por favor, pare. - a voz de América saia quase em sussurro. Ela queria muito que ele parasse e fosse embora, mais algo dentro dela, que surgia aos poucos, mandava ela não o soltar mais.
 Louis juntou seus lábios pela segunda vez nos de América, fazendo ela se calar e apenas retribuir; pôs suas mãos nas coxas da morena, apertando forte as mesmas. Ergueu um pouco o vestido de criada de América e fez um carinho entre suas coxas, e voltou a apertá-las. Ele não queria assustá-la, queria apenas lhe mostrar que sente desejos por ela, e a quer a todo o momento.
 América levou suas mãos até a nuca de Louis, puxando os ralos fios de cabelo que se encontravam em seu pescoço, e afastou sua boca da dele, descendo beijos por toda a extensão do pescoço do rapaz. Novamente ela se afastou um pouco dele, tomando um susto com seus próprios atos. Louis sorriu, um sorriso que fazia qualquer coração de mulher se derreter. Afastou todos os utensílios que estavam sobre a mesa, jogando-os no chão e logo deitando América sobre a superfície.
 Ele se pôs entre as pernas da morena, enquanto suas mãos passavam por todo o corpo da mesma, fazendo rastros quentes de seus dedos por cada local tocado. Desabotoou o vestido da mesma, o tirando, vendo América só de trajes íntimos por debaixo dele. Seus olhos ferveram mais de desejo, assim que bateram nos seis fartos dela. Ele levou uma das mãos até um deles, o apertando. América deixou que um baixo gemido escapasse pelos seus lábios.
 - S-senhor… - Louis não deixou ela terminar, pôs um dedo em seus lábios e sorriu.
 - América, só relaxe - respondeu carinhosamente dando um selinho nos lábios dela.
 Desfez o feixe do sutiã de América, jogando o mesmo para trás, beijou o colo dos seios da mesma, lambendo longo em seguida. América não sabia o que fazer, o seu Senhor estava com a boca em seus seios. Ela só queria mais e mais; era algo novo, porém bom. Seus dedos cravaram de leve no cabelo de Louis, fazendo o mesmo suspirar, tirando sua camiseta social que vestia e desabotoando suas calças. Voltou à posição de antes e levou suas mãos para a parte de baixo da roupa intima de América.
 Após ela completamente nua, Louis desceu sua cueca e se colocou entre as pernas dela. Ela só sabia olhar no fundo dos olhos esverdeados de Louis. Ele se pôs em sua entrada, a fazendo dar um pequeno impulso para trás. Ele constatou que ela ainda era pura, e ele não podia machucá-la. Bem devagar ele foi se pondo dentro dela, sentiu as unhas um pouco curtas de América se cravarem em seus ombros. Ele beijou os lábios dela e entrou por completo dentro da garota, fazendo com que ela mordesse seus lábios com força. Ele não se queixou, não doeu muito nele, mais sabia que havia doído nela.
 Depois de alguns segundos, Louis começou a se movimentar dentro de América. A moça era tão apertada que Louis tinha dificuldade de se mover sem ter que não machucá-la. Era quase impossível. Ela era diferente.
 Mordeu os lábios fortemente enquanto estocava devagar na moça, fazendo a mesma soltar murmúrios de dor misturados ao de prazer que sentia. Ele ia cada vez mais fundo, até que sentiu o hímen da mesma de romper. Nossa, como ela era apertada; pensou ele consigo mesmo. Gemeu rouco próximo de América sentindo que já estava pronto para ser liberado.
 Ele viu América se contrair em baixo dele e a intimidade da mesma apertar seu membro, e logo um líquido branco descer pela perna da garota. Se moveu mais uma vez e seu orgasmo foi liberado por dentro da moça e escorrer por entre sua intimidade. Ela estava suada e ele não estava diferente. Ele a encarou e beijou seus lábios, tentando recuperar o ar e fazer com que América sentisse que foi bom para ele. Ela também sentia o mesmo, foi tão bom para ela.
 Louis levou às mãos a testa de América, tirando seus cabelos grudados à face, ela fechou os olhos sentindo o toque dele. Foi ali, naquele exato momento de carinho, que Louis percebeu que não gostava somente dela, ele a amava. Ele a amava de todas as maneiras e queria que ela fosse dele para sempre.
 - Eu amo você – Louis murmurou com a testa colada ao dela. América sentiu seu coração acelerar e as palavras simplesmente não saiam. Ela queria dizer que sentia o mesmo e que não parava de pensar nele, ela queria demonstrar todo o seu sentimento, ela queria dizer que o amava. Mas isso não poderia acontecer. Ela também sabia que os dois nunca ficariam juntos, ela era uma ninguém, alguém sem valor.
 Ela o amava tanto, que sabia que o melhor era deixá-lo livre. Ele não poderia se prender a alguém como ela, alguém tão insignificante de valor nenhum.
 Louis percebeu a hesitação dela, e se arrependeu de ter se declarado tão cedo.
 - Você não precisa falar nada – ele se explicou.
 - Mas eu quero – ela fixou seu olhar no dele. – Sabe, eu nunca soube o que era o amor, pelo menos até você aparecer. Eu sempre achei que minha vida seria sempre medíocre e sem futuro até você aparecer – Louis sentiu seu coração acelerar, à medida que ela falava. – Então quando o senhor apareceu, eu finalmente pude entender que sentimento é esse e nossa, eu nunca imaginei que seria algo tão forte assim – ela sorriu triste. – É estranho como eu me sinto importante toda vez que estou com o senhor.
 - É porque você é – ele a interrompeu segurando o rosto dela delicadamente. – Quando você sorri, o mundo é um lugar melhor, acredite.
 América encostou a cabeça no peito dele, sentindo seu cheiro, ela estava determinada a acabar com aquilo, por mais que o amasse, ela se amava mais. E sabia das conseqüências e sabia que sofreria caso continuasse com aquilo. Por céus, ela já não sofreu o bastante? Por que tinha que abrir mão da única pessoa que a amou na vida? Pensou. Isso não era justo, ela não merecia ter algo bom na vida pelo menos uma vez?
 Louis queria nunca mais tirar seus braços ao redor dela, ele finalmente encontrou alguém que estava disposto a lutar para ficar para sempre e não perderia essa oportunidade. Ele só precisava dela e nada mais.
 - Eu estava pensando, América – Louis a tirou de seus pensamentos. – O que você diria se eu desse um jeito de lhe dar sua liberdade?
 - Eu diria que o senhor deve ser a pessoa mais louca do mundo – ela o encarou com a testa franzida.
 - Será que da pra parar de me chamar de senhor? – Louis bufou. – Acho que a gente já tem intimidade demais depois de hoje.
 Pelo tom de pelo de América, é claro que ninguém perceberia o quanto envergonhada ela estava, sua pelo queimou e ela escondeu a cabeça no peitoral de Louis o fazendo soltar uma risadinha.
 - Você não respondeu minha pergunta – ele a lembrou. – Você quer ser livre, América?
 - Às vezes ser livre é o meu sonho – América sorriu triste. – Mas eu não teria para onde ir, e muito menos teria alguém. Por mais que a minha vida seja miserável naquela senzala, ela é real. Os escravos são as únicas pessoas que eu conheço, eles são as únicas pessoas que me ajudam. Eu não tenho pai nem mãe, muito menos irmãos. Há, pra onde eu iria? Como eu iria sobreviver?
 - Você teria a mim – Louis falou fazendo que América ficasse sem ar. – Eu faria qualquer coisa para mantê-la segura e feliz... qualquer coisa.
 América olhou fundo nos olhos dele, ele estava falando a verdade, ela sentia. Mas sabia que ele poderia daqui a algum tempo desistir e quem ficaria sozinha seria ela. Ela não queria um coração partido, mas isso era difícil sempre que imaginava a situação que se encontrava.
 - Eu preciso ir – falou fazendo com que Louis se arrependesse das palavras, ele teria se declarado cedo demais? Será que teria sido melhor esperar um tempo?
 - Por favor – ele pediu. – Fique mais um pouco.
 - Eu adoraria – ela sorriu. – Mas o trabalho me espera.
 Ele apenas assentiu e então seguiu seu olhar a garota que saia do grande casarão. Ela seria livre, pensou ele. Ela seria livre e dele.

[...]

 - Aperte mais um pouco, América – Senhora Tomlinson pediu enquanto América apertava o espartilho da patroa. – Obrigada, América, sempre tão prestativa.
 - Faço tudo para o seu agrado, senhora – América se curvou.
 Senhora Tomlinson caminhou em direção a uma estante e pegou um porta-retratos do filho. Ela examinou e passou a mão delicadamente sobre ele.
 - É incrível como eles crescem rápido – Senhora Tomlinson sorriu. – Parece que foi ontem que ele corria por meios dos cafezais e hoje, olha só. Está um homem.
 O homem que eu amo, América pensou.
 - Hoje em dia é assim mesmo, senhora – América tentou passar tranqüilidade. – Hoje em dia todos estão crescendo muito rápido.
 Senhora Tomlinson concordou.
 - Sabe, América, você é a única que me restou – Senhora Tomlinson sorriu. – Meu marido daqui a pouco está morrendo, Louis foi embora...
 - Ele foi embora? – América gritou. Senhora Tomlinson a olhou desconfiada. – Quer dizer, como assim, senhora?
 - Bom, ele comprou um casarão a uma distância daqui e partiu – ela suspirou. – Ele disse que precisava ter a própria vida.
 América sentiu seu coração doer, ele havia partido e a abandonado. Ela sabia que era idiotice acreditar nele, mas ele parecia tão sincero. Ele havia ido embora e levado junto o coração dela.
 - Senhora, eu não estou muito bem – América disse. – Se a senhora não precisa mais de mim, eu gostaria de me retirar.
 - Claro, querida – Senhora Tomlinson passou os braços pelos ombros de América.
 A garota correu o mais rápido que conseguiu para fora daquela casa. As lágrimas escorriam da face dela enquanto ela se afastava da casa.
 - Boba, boba, boba... – ela dizia enquanto colocava a mão na testa. Ela soluçava e seu peito doía. – Você achou mesmo que algum dia alguém a amaria – ela dizia para si mesma enquanto batia na testa.
 Como pode pensar que um dia ela poderia ser feliz? Talvez a sina dela fosse nunca ter a sorte do amor, talvez ela não merecesse nada de bom da vida. América se sentou no chão, dobrou os joelhos e os abraçou colocando a cabeça entre as pernas, ela chorava tanto que seu corpo doía.
 - América? – aquela voz conhecida a chamou. Por céus, já não bastava ele ter mentido, agora veria ela nessa situação.
 - O que você está fazendo aqui? – ela berrou limpando as lágrimas.
 - Eu vi você sair correndo do casarão quando estava chegando – ele se aproximou. – O que aconteceu, América? Por que está assim?
 - Como se você não soubesse, não é? – ela riu sem humor. – Como foi pra você brincar com a escrava burra e iludida? Deve ter sido fácil fingir os seus sentimentos, afinal, eu sou tão burra que acreditei.
 - Do que você...
 - Não – ela se levantou. – Eu não quero saber de nada. Você já brincou comigo, agora pode sumir da minha vida.
 Louis não entendia o motivo da mudança tão de repente, há alguns dias eles estavam bem e agora ela dizia não querer mais vê-lo? O que havia acontecido para ela mudar de idéia?
 - Não – o rapaz falou firme. – Eu não vou sair daqui até você me explicar que merda está acontecendo. A gente estava bem lembra, lembra? Por que de repente você me vem com essa?
 - Você foi embora – ela gritou. – Aposto que foi pra não precisar me olhar, não é? Você já me teve, então por que ter que me aturar?
 - Do que você esta fa... – então ele se deu conta. A mãe deve ter mencionado o fato de ele comprar uma casa em outro lugar. Naquele momento ele se sentiu horrível por não ter explicado tudo a ela. – Não é nada disso que você está pensando, América.
 - Ah não? – falou irônica.
 - Não! – ele fez negação com a cabeça. – Será que você pode vir comigo?
 - O quê? – ela gritou. – Você está surdo? Eu não quero mais você na minha vida.
 - Eu entendi – ele murmurou. – Só preciso te mostrar uma coisa e depois você decide.
 América hesitou, mas mesmo que estivesse brava e decepcionada com ele, ela não conseguiu dizer não. Depois de algum tempo insistido que o lugar era longe e que precisavam ir de carruagem, América finalmente cedeu. Ela olhava cada canto dela, nunca havia estado em uma carruagem. Ela gostou, pensou.
 Depois de alguns minutos, quando finalmente a carruagem parou, Louis estendeu a mão para ajudá-la a sair, ela recusou, o que o fez bufar. Que teimosa, ele pensou. Mas seria a teimosa dele, sorriu.
 Parados em frente a um casarão, América abriu a boca várias vezes querendo dizer algo, mas nada saia. A casa era bem maior e bonita do que as dos Tomlinson. O jardim era grande e o lugar era afastado dos outros. Era um belo lugar para viver, a moça pensou.
 - Bonita, não? – Louis perguntou se referindo a casa. América apenas assentiu. – Foi exatamente o que eu pensei quando a vi. E sabe no que eu pensei?
 Ela fez que não com a cabeça.
 - Pensei em você e eu. – ele disse. – Pensei em nós no futuro e cheguei à conclusão que precisávamos de um lugar para morar quando nos casássemos e tivéssemos nossos filhos.
 América levou a mão na boca assustada. Não podia ser. Era aquilo mesmo que ele estava dizendo?
 - O que você está dizendo? – ela sussurrou.
 - Estou dizendo que essa casa é nossa, América – Louis respondeu sorrindo ao ver o espanto dela. – Eu não queria causar a impressão que a tinha abandonado. Eu juro. Eu jamais quero magoar você, América.
 - Eu nunca disse isso a você – ela suspirou. – Mas eu te amo, Louis.
 Ele sorriu e se permitiu suspirar aliviado. Sabia que agora ela seria dele, assim como ele seria dela. Sabia que enfrentariam obstáculos, mas quem não enfrenta? O amor deles seria maior que tudo e passaria por qualquer barreira. Eles enfrentariam qualquer coisa, juntos.
 Louis deu um passo à frente, em direção a casa, América estava atrás dele e quando ele se virou, estendeu a mão. E para a alegria de ambos, ela levou a sua mão até a dele.

FIM



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