Enchanted To Meet You… One More Time

Escrito por Carol S. | Revisado por Maria

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  Tudo bem. Talvez eu não tenha sido a melhor pessoa do mundo. Mas se coloque no meu lugar: eu tinha a garota quase perfeita comigo; era linda, engraçada, inteligente... É, quase. Ela tinha um defeito. Não queria, digamos, esquentar a nossa relação.
  Não, isso soa horrível. Mas você me entendeu.
  Nós só ficávamos andando de mãos dadas, nos beijando. Às vezes, rolava um amasso a mais, mas ela dava um jeito de acabar com o clima. E comigo. É, isso acabava comigo.
  É para isso que existia a Grace. Eu e a nunca dissemos que éramos exclusivos, acho. Então, quando eu tinha alguma... Er... Necessidade, eu chamava a Grace.
  Droga, isso também soa horrível! Não é a toa que a saiu correndo do prédio e voltou para o hotel. Aquela teria sido mais uma tarde perfeita. Íamos nos encontrar no restaurante e ter um almoço perfeito, mas ela resolveu aparecer no meu escritório.
  Dei um soco no banco do carro, o taxista me olhou reprovando.
  Quando paramos em frente ao hotel, vi entrando num táxi com suas malas. Ela parecia muito mal. E isso me deixou muito mal. Não precisei segui-la para saber aonde iria. Nem iria adiantar; ela provavelmente não iria querer falar comigo.
  Deixei-a ir. Uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida.
  Poucas horas depois eu estava num bar, decidindo se iria encarar a verdade ou encher a cara.
  Optei por mandar uma mensagem pedindo desculpas. Não, não é o melhor jeito. Mas o pior que ela pode fazer é deletar a mensagem sem ler, não é? E talvez nunca falar comigo de novo. Depois, eu resolvi encher a cara. Quem sabe o álcool me faça esquecer por uns momentos da besteira que eu tinha acabado de fazer.

  Algum tempo depois...

  E lá estava eu de novo, onde tudo começou...
  Do mesmo jeito que aconteceu há quatro anos, cheguei na hora que meu pai estava fazendo um discurso. Seu olhar de reprovação não mudou. É claro, eu protelei o máximo que podia e esperava chegar na hora do jantar. Falha minha.
  Apenas sorri para ele e olhei em volta procurando um lugar para sentar — a “mesa das crianças”, para ser mais exato. Não a encontrei. Todos os adolescentes/recém adultos haviam crescido o suficiente para sentar-se à mesa com os pais. Alguns já estavam casados; reconheci algumas das garotas que estavam grávidas.
  — , querido. Como você cresceu! — Uma mulher apareceu na minha frente. Demorou um tempo, mas a reconheci como mãe de . Ela parecia não saber de nada, caso contrário não estaria sendo tão legal comigo. — Atrasado de novo, hein? — Ela colocou o braço em volta do meu e começou a me puxar. — Venha, seu pai guardou um lugar para você na nossa mesa.
  Meu pai podia ter me avisado, não é? Queria abrir um buraco no chão e me enfiar lá dentro pra sair só no próximo século!
  — Está um pouco apertado, não sabíamos que viria, e não tinha lugar nas outras mesas. — Ela continuava falando enquanto eu imaginava o tal buraco. Espera. Quem é ? — Espero que não se importe. Olhem quem resolveu aparecer! — A Sra. disse para o pessoal da mesa. Reconheci quase todos, eram amigos do meu pai. Menos um. O que estava sentado do lado da , que por acaso estava linda com o cabelo preso. A pouca maquiagem ressaltava os melhores traços de seu rosto. Ela estava rindo de alguma coisa que havia dito, e, embora ninguém tenha notado, o sorriso mudou quando ela me viu.
  — Oi. — Sorri e acenei para todos. Não iria cumprimentar um por vez.
  Sentei em uma das duas cadeiras vagas: adivinha? Na frente do casal fofo e adorável, segundo a mãe de .
  — acabou de chegar do Reino Unido! — Disse a Sra. o que você faz! — Disse a Sra. Slater, entorpecida pelo sotaque. Ela só queria que ele continuasse falando.
  — Bem, — ele sorriu com uma falsa vergonha misturada com orgulho. — Eu viajo pelo mundo procurando antiguidades ou objetos curiosos. Eu as compro e coloco para vender na minha loja em Londres. Algumas pessoas fazem encomenda por artefatos específicos.
  Tá. Brincando.
  O cara ali estava todo orgulhoso porque viajava por aí procurando velharia? Tive que me segurar muito para não rir da cara dele. me olhou de um modo reprovador; acho que deve ter percebido meu olhar. Mas pareceu não notar porque continuava falando.
  — E algumas pessoas me procuram para vender pertences de seus parentes que morreram. Às vezes, precisam do dinheiro ou simplesmente não querem mais aquilo.
  — A maioria quer vender objetos que estão em mal estado e esperam que pague um preço bem alto por eles. — Disse , não percebendo como as outras mulheres da mesa preferiam ter ouvido aquelas palavras da boca de .
  — É, — sorriu para , adorando o fato de ela se importar com seu trabalho. Hunf. — Mas eu sempre pago um preço justo e depois mando reformar a peça. Não posso vender algo danificado, não é?
  Todo mundo concordou. Parecia que até os homens da mesa estavam envoltos na sua fala.
  Qual é! Sejam homens!
  — tem uma empresa de advocacia em Nova York, não é, querido? — A Sra. não fazia ideia de onde tinha me metido.
  Quero dizer, depois do discurso do senhor Perfeição, ninguém iria querer ouvir como eu ajudei celebridades em seus casos na justiça. E tenho certeza que era a pessoa que menos queria ouvir.
  Por isso, só assenti.
  — Não seja tímido, querido. — Ela balançou a mão para mim e para os outros falou: — conheceu várias pessoas famosas. Ele as ajudou no tribunal. Claro que alguns não mereciam ser inocentados — lançou um olhar divertido pra mim —, mas só estava fazendo o trabalho dele.
  — Pessoas famosas, é? — Já vi que esse vai me dar problemas...
  — É, pessoas famosas. Elas nos pagam muito bem. Tanto que, semana passada, tivemos uma reunião lá no escritório e no próximo semestre estaremos defendendo pessoas que não podem pagar por um bom advogado.
  — Mas isso é incrível, ! — Disseram várias pessoas da mesa.
  — Como um defensor público? — Perguntou .
  — Então vocês conseguiram ajuda do governo? — me olhou daquele jeito duvidoso. Ela provavelmente acha que é mentira. Para minha sorte, não é.
  — Não, defensores públicos são pagos pelo governo, nós não. Estaremos fazendo isso pelo bem das pessoas.
  — Isso é realmente ótimo, querido. — Sra. apertou meu braço de forma carinhosa.
  Ponto pra mim. Fazer o bem para as pessoas menos favorecidas é bem melhor do que ficar catando velharia por aí e vendendo de novo. Sorri triunfante para , que me fuzilava com os olhos.
  No começo, quando deram a ideia lá no escritório, eu achei que era uma coisa idiota. Representar pessoas de graça! Vários riram naquela reunião. Mas aí acendeu uma luz na minha cabeça.
  Eu realmente queria tirar a imagem ruim da empresa. Até os jornais estavam falando que só pegávamos casos fúteis, de herdeiras de hotéis bêbadas e famosos que só fazem escândalos! Ganhávamos muito com isso, então representar pessoas que não podiam nos pagar não ia fazer diferença.
  Voltar pra Melbourne me fez perceber que tinha sido mesmo uma boa ideia. Pude ver no olhar de que ela não acreditava em mim, mas que adoraria que fosse verdade.
  É, eu a conhecia bem.
  Durante boa parte do jantar, ninguém falou sobre mim ou , ouvimos histórias de todos. O que foi legal, a voz dele me dava náuseas.
  — Como vocês se conheceram? — Perguntou a já bêbada Sra. Slater, apontando para o casal à minha frente. Dá pra alguém tirar ela daqui?
  — Foi ano passado, no show da banda The Veronicas. — respondeu. — Elas estavam tocando a música Speechless, e naquela hora eu olhei para a garota que estava do meu lado e percebi como ela era linda. A música combinou com o momento. — Ele e trocaram um olhar que podia ser classificado como “fofo” pelas mulheres da mesa.
  The Veronicas? Speechless? Além de roubar a minha garota, o cara roubou o meu momento!
  Sim, eu me lembro. E também, pois ela me olhou como se pedisse desculpas quando ele falou sobre o “momento”. Foi a música que tocou no meu quarto de hotel há quatro anos, quando nos beijamos pela primeira vez.
  — Ela tinha recém voltado de Nova York — eu havia me desligado por um momento ao me lembrar daquela noite, foi como se eu tivesse levado um tapa quando ouvi Nova York. — E estava um pouco deprimida. Eu que a tirei desse estado e a deixei feliz de novo.
  Olhei para de um jeito interrogativo. Não queria acreditar que ela quase entrou em depressão por minha causa! Ela se limitou a balançar a cabeça, entendi isso como “Falaremos sobre isso em outro momento”. O que não fazia sentido, pois achei que ela nem queria falar comigo...
  Nem percebi o resto do jantar passar. Mal consegui comer, e quando meu pai apareceu, o respondi com frases curtas.
  As pessoas da mesa, obviamente, não perceberam; elas estavam entretidas nas histórias do Sr. Perfeição. Sério, o que tem de tão legal em um relógio que pertencia à prima de 3º grau da rainha da Inglaterra? Pelo menos no meu trabalho eu encontro pessoas interessantes.
  Quando me dei conta, já estava saindo do salão. No caminho para casa, ou melhor, para o meu quarto de hotel, pensei o tempo todo em e em como eu não tinha conseguido falar com ela de novo.
  Cara, ela estava tão linda... Foi com aquele sorriso incrível que eu sonhei a noite toda!

  Quando acordei, tinha um plano na cabeça. Não sabia exatamente como iria colocá-lo em prática, mas já ter ideia do que fazer é alguma coisa, não é? Talvez fosse demorar um tempo para ser executado, e eu não tinha certeza se eu teria tempo, então não me julgue se eu tomar qualquer atitude idiota. É tudo pela .
  Como estava cedo, resolvi caminhar um pouco; tinha um parque bem legal perto do hotel. Estava um pouco frio, mas coloquei uma regata e um calção. Exercícios físicos esquentam, não? Pelo menos é o que eu acho. Você fica com aquele calor todo, e ninguém merece ter que carregar casaco quando está quente.
  Saí do hotel, e o ar gelado da manhã cortou meu rosto imediatamente. Liguei meu iPod no último volume, sorri para umas garotas que passavam por ali e corri para o parque. Que sensação ótima! Lá em Nova York eu não tinha tempo pra ir ao parque. Aquelas duas semanas com a lá foram as mais “livres” que eu tive em muito tempo.
  As minhas “escapadas” com a Grace não contam.
  Droga, , quer parar de falar assim? As pessoas vão te achar um idiota maior do que você já é! “Escapadas”. Idiota.
  Eu estava tão concentrado numa discussão comigo mesmo que nem percebi um ser de cabelos longos amarrados num rabo de cavalo (só eu acho o nome desse penteado estranho?) aparecendo na minha frente. Quando me dei conta, já estava no chão, pedindo milhões de desculpas.
  — Você não olha por onde anda, não? — Ela disse. Eu seria capaz de reconhecer aquela voz entre uma multidão.
  — Desculpa, . Eu estava perdido em meus pensamentos. — Sua expressão não mudou quando me reconheceu. Acho que era raiva. Não sei, só um palpite.
  — É, percebi. Tome cuidado da próxima vez. — Ela se virou pra continuar a correr.
  — Hey, … Posso te acompanhar? – deu de ombros e correu. Eu a segui. Ela corre muito rápido (não tem como correr devagar, tem?), mas consegui alcançá-la bem fácil, embora meus músculos tenham reclamado um pouco. Eu definitivamente estava fora de forma.
  Desliguei o iPod e o guardei no bolso do calção. Seria melhor se eu desse total atenção a ela. Olhei de canto para ; ela ignorava totalmente a minha presença. Essa garota me deixa tão confuso!
  — Precisamos conversar. — Pego de surpresa, corri mais um pouco até perceber que ela havia diminuído o passo.
  — Você disse alguma coisa? — Esperei por ela para perguntar e acompanhá-la na caminhada.
  — Eu disse que precisamos conversar. Eu acho. — Ela se sentou num banco que tinha por ali, apoiou os braços nos joelhos e escondeu o rosto com as mãos. Parecia frustrada. — Por que você voltou? — Sua voz saiu abafada.
  — Eu não sei. — Sentei-me ao lado dela. — Tivemos férias coletivas lá no escritório, então resolvi vir para cá ver minha família.
  — Como está Grace? Ainda se esquecendo de colocar a roupa de baixo? — nunca havia falado de um jeito tão seco comigo. Cometi o erro de olhar em seus olhos, que me fuzilavam.
  — , por favor. — Tentei segurar em sua mão, mas ela se afastou de mim. — Você disse que queria conversar.
  — Eu disse que achava que queria conversar. Foi uma péssima ideia.
   se levantou e voltou a correr. Vê-la partindo de novo foi horrível. Ah, sem dramas, !
  — Não vou deixar isso acontecer mais uma vez! — Corri atrás dela. Ok, ela não estava exatamente partindo, mas eu decidi que iria atrás dela cada vez que isso acontecesse. Tive que correr muito para encontrá-la. — ! — Segurei em seu pulso para não deixá-la escapar de novo.
  — Você não vai desistir, não é? — Ela disse com um sorriso sem humor nos lábios. Balancei a cabeça negativamente. — Tudo bem. Eu vou para Sydney hoje à tarde, então podemos almoçar juntos. Pode ser?
  — Perfeito. Me mande uma mensagem com o endereço do restaurante. Meu número não mudou. — Dei um beijo em sua bochecha e continuei a minha corrida.
  Eu não sabia se ela tinha deletado meu número ou não, estava só blefando quando disse aquilo. Mas ela não disse nada, apenas ficou me encarando, pensando na merda que tinha feito ao me convidar para almoçar.

  Recebi a mensagem com o endereço perto do meio-dia. certamente esperava que eu fosse cancelar por ser em cima da hora. Ri sozinho olhando para o aparelho.
  — O que é tão engraçado? — Meu pai perguntou, aparecendo na sala. Eu tinha me esquecido, por um momento, de que estava na casa dele.
  — Nada demais. Tenho que ir, tenho um almoço marcado, e a pessoa me mandou agora o endereço do restaurante. — Levantei-me para dar um beijo no meu pai.
  — Almoço de negócios?
  — É, pode-se dizer que sim. — Ele não precisava saber quem é a pessoa com quem vou me encontrar. Meu pai havia me contado, durante o café da manhã, que gostava do tal , “ele é um bom rapaz”. Hunf.
  Aparentemente, ninguém se lembrava daquela noite a alguns anos, quando eu e saímos no meio do jantar pra comer pizza no meu apartamento. Por um lado era bom, assim ninguém me enchia o saco por ter “perdido” ela para o Sr. Perfeição.

  O restaurante que escolheu era um pouco afastado da cidade, portando, me atrasei um pouco.
  — Sr. ? — O gerente surgiu na minha frente assim que eu pisei no restaurante. Confirmei com a cabeça, achando estranho ele saber o meu nome. — A senhorita teve um imprevisto e teve que sair logo depois que chegou.
  — Ela deixou algum recado? — Aquilo tava bom demais pra ser verdade! É claro que ela se arrependeu e voltou atrás. Não queria se encontrar comigo porcaria nenhuma!
  — Apenas pediu desculpas. Se o senhor quiser, a mesa ainda está reservada.
  — Não, tudo bem. Vou voltar pra cidade. — Fui para o carro furioso.
  Argh! Por que ela tinha saído mais cedo? Será que ela queria mesmo me encontrar? Será que teve todo esse trabalho só para não aparecer no fim das contas? Se ela não tivesse essa estúpida viagem para Sydney...
  Espera.
  Sabe aquele momento em que parece que uma luz se acendeu sobre sua cabeça? É exatamente assim que me sinto agora. Há muita chance de tudo dar errado e piorar ainda mais a minha situação. Mas há também uma chance mínima de dar certo. E é nessa chance mínima que eu me agarro quando volto para o hotel para pegar minhas coisas e ir para o aeroporto.

  No fim da tarde, eu já estava no mesmo hotel que a e — adivinha? — o ! Mas não abortarei a missão por causa desse mero detalhe.
  Você deve estar se perguntando como eu consegui ficar no mesmo hotel que a está. Veja bem, eu sou um cara rico, não muito rico tipo Bill Gates, mas o suficiente para colocar um detetive atrás deles.
  Tudo começou quando saiu do meu apartamento naquela madrugada. Eu não sabia como encontrá-la depois, então, quando cheguei à Nova York, contratei o melhor detetive que tinha por lá. Ele seguiu por tudo quanto é lugar, parecia até cena de filme. Graças a ele, eu sabia tudo sobre ela.
  Estou parecendo até um perseguidor. Credo!
  Nunca me aproximei. Eu só queria saber se ela estava bem, isso bastava para mim. Quando fui informado de que ela estava indo para Nova York, fiquei surpreso, não a imaginava lá.
  Foi praticamente uma corrida contra o tempo, eu precisei deixar tudo organizado para que, quando ela chegasse, nada pudesse interferir. Dispensei o detetive assim que ela pousou na cidade e fiz o resto do trabalho, seguindo-a sob o sol escaldante da costa leste.
  Sério, eu quase morri debaixo de todo aquele preto do meu disfarce. Mas foi necessário.
  Pensando bem, eu devia ter recontratado o detetive quando voltou à Austrália, assim eu não teria a agradável surpresa de conhecer o ...
  Eu andava de um lado para outro no quarto, pensando em como fazer se afastar de . Resolvi sair, talvez o ar fresco da noite de Sydney refrescasse as minhas ideias.
  Acabei indo parar no Darling Harbour; fazia anos desde a última vez que eu tinha estado lá. O lugar é simplesmente incrível! Tem várias lojas, restaurantes... Até um aquário com tubarões! É ótimo para passeios noturnos, pois fica aberto até de madrugada.
  Entrei num pequeno pub que tinha por ali. O bar ficava no deque que dava para a Baía de Sydney, simplesmente bonito. Fiquei tanto tempo encarando as águas que o garçom teve que pigarrear para que eu fizesse o pedido.
  Ao ver o garçom se afastar, meu olhar recaiu sobre um casal conhecido encostado na bancada. Eu não conseguia ver o rosto da garota, mas estava ali, então supus que era a .
  Passei o tempo todo “cuidando” deles. Eu até parecia um stalker, mas só queria ter certeza de que eles não me vissem.
  A garota se levantou, e na hora eu tive certeza de que seria descoberto, pois ela teria que passar por mim para ir aonde quer que fosse. Só que, quando se virou, não era . De costas até parecia um pouco, mas de frente era completamente diferente. Não vou dizer que era feia, mas uma vez que você conhece a , a beleza das outras é algo insignificante.
  Tentei parecer profundo, mas acho que não deu certo.
   ficou olhando para a bunda dela enquanto a garota se afastava sorrindo, provavelmente sabia para onde o acompanhante dela olhava.
  Quando passou por mim, a garota ficou me encarando com um sorriso sedutor. Se eu não estivesse em uma missão, teria retribuído. Para evitar qualquer coisa, me escondi atrás de um cardápio de bebidas.
  Sabe, é difícil bancar o detetive quando as pessoas que você está espionando te conhecem. Várias vezes tive a impressão de que estava me observando. Eu precisava arranjar um jeito de provar aquilo para mais tarde. O garçom apareceu com a minha bebida, e subitamente tive uma ideia.
  — Ei, você pode me fazer um favor? — Sussurrei para ele.
  — Claro. — Respondeu por fim. Provavelmente achava que iria se arrepender daquilo mais tarde.
  — Tem um cara aqui que está namorando uma amiga minha, mas está com outra mulher. Você poderia tirar uma foto deles pra mim? — Tirei meu celular do bolso e entreguei para o rapaz. A expressão que fez mostrava que ele já estava arrependido. — O nome dele é .
  — Sei quem é. — Ele apontou com a cabeça para ; confirmei e agradeci enquanto o garçom se afastava.
  Quando voltou, meu celular tinha não uma, mas várias fotos dos dois e de como eles se olhavam quando saíam do lugar. Perfeito. É claro que, ao sair, dei uma generosa gorjeta ao rapaz; vi que ele já não tinha mais aquele olhar de arrependimento.
  A única coisa que faltava era dar um jeito de convencer daquela história. Tive a impressão de que não seria nada fácil.

  Sydney é uma cidade grande, as chances de encontrar alguém por acaso são de uma em um milhão, praticamente. Quando você está no mesmo hotel que a pessoa, essas chances diminuem para uma em cem, talvez. Nunca fui bom em probabilidade, então não tenho certeza se está certo.
  No dia seguinte, óbvio, eu ainda não tinha decidido como contar tudo para . Resolvi deixá-los fazerem o que tinham para fazer. Eu não tinha muito tempo, então precisava pensar rápido. Descobri que eles só iriam ficar em Sydney por uma semana e meia. Será que daria tempo?
  Meu telefone tocou no meio do meu pensamento.
  — Alô? — Atendi sem ver quem era.
  — , docinho, onde você está? — Docinho? Ninguém me chama de docinho... Olhei para o visor do celular. Grace piscava na tela. — Precisamos resolver aquele meu outro caso, lembra? O da veterinária.
  — Sim, Grace. Eu estou de férias. Liga para o escritório que eles vão te ajudar.
  — Eu já liguei pra lá, docinho. — Revirei os olhos ao ouvir aquela palavra de novo. — Eles disseram que era pra eu te incomodar onde quer que estivesse. Onde você está? Posso ir pra aí num minuto.
  — Eu estou... — Revirei minha mente em busca do nome de algum lugar que pudesse me salvar. Mas quem sabe a Grace não pudesse me salvar? — Estou em Sydney, Austrália. Talvez demore mais que um minuto pra você vir pra cá.
  — Sem problemas, chego aí amanhã. Te ligo quando pousar. Beijinhos.
  Ela é tão estranha. Mas vou precisar aguentá-la por alguns dias.

  Por um mero acaso — juro por minha mãe que foi um mero acaso —, descobri que e tinham planos diferentes na cidade. Ela estava fazendo um curso de fotografia e desenho, que durava o dia inteiro, e ele estava procurando aquelas velharias. Ele, certamente, encontrava algumas coisas novas também.
  É claro que para ele era fácil. Com fora o dia inteiro, ele podia fazer o que quisesse com quem quisesse. Ela voltava à noite para o hotel cheia de amor pra dar pra ele. Argh!
  Mais uma vez, meus pensamentos são interrompidos pelo toque do meu celular. Agradeci mentalmente, pois não estava gostando nada do que eu estava pensando.
  — Docinho, já cheguei a Sydney e já estou no hotel. Se quiser vir pra cá... — Ela disse a última frase cheia de malícia, com direito a risadinhas no final.
  — Claro. — Depois de ela me passar o endereço do hotel, desliguei o telefone me sentindo enjoado. Como pude sair com essa mulher? A voz dela é muito irritante, é uma versão horrível daquelas Esquiletes, do filme Alvin e os Esquilos.
  — Docinho! — Grace se jogou no meu pescoço quando abriu a porta do quarto para mim, alguns minutos depois de nos falarmos no telefone. — Chegou rápido. Aposto que estava morrendo de saudades. — Tive que tomar cuidado para afastá-la sem que ela percebesse que eu sentia nojo daqueles beijos no meu rosto.
  — Escuta, Grace. — Segurei em seus pulsos, mas não muito apertado, e a levei para sentarmos na cama. — Eu estou aqui em Sydney numa missão e preciso da sua ajuda.
  — Hm... Uma missão. — Ela me fez deitar na cama e deitou por cima de mim, beijando tudo o que sua boca conseguia alcançar.
  — Grace, é sério. — Talvez eu tenha falado um pouco grosso demais, pois ela me olhou assustada e logo saiu de cima de mim. Você não pode ter pena, . Não pode ter pena. — Eu não quero mais você daquele jeito. Acabou. O que quer que fosse que tínhamos acabou.
  — Você me fez vir aqui pra me dar um fora? — Como se fosse possível, sua voz ficou ainda mais estridente.
  — Não! — Ok, sim, mas se eu admitir isso, ela não vai me ajudar. — É só que eu amo outra garota e preciso ser fiel a ela.
  — Então pra que precisa de mim? — Seu tom era de desdém. Eu não podia culpá-la, na verdade.
  — Lembra da ? Aquela garota que apareceu na empresa... Ahn... — Era difícil encontrar as palavras certas, mas não para Grace:
  — Que nos encontrou fazendo sexo em cima da sua mesa? Lembro. É ela quem você ama? — Grace soltou uma risada escandalosa. — Docinho, só por um milagre ela vai te querer de volta!
  — Sim, é ela. — Respondi ríspido. — Ela veio pra Sydney com um cara, , um idiota, mas eu o vi traindo ela...
  — Deixe-me adivinhar. — Ela interrompeu. — Você quer que eu o seduza para que a nos pegue juntos, assim ela vai terminar com ele. E em algum momento você vai bancar o herói.
  — Bom... É. — Meu queixo caiu. Ou ela era bem esperta ou a minha ideia era muito óbvia! Grace revirou os olhos e suspirou ao ver minha cara de desesperado.
  — Docinho... — Colocou sua mão no meu ombro como se estivesse me consolando. — Você gosta tanto assim dessa garota? — Assenti, e ela suspirou de novo. — Tudo bem, eu ajudo. Mas cobrarei depois, hein? Não farei de graça!
  — Tudo bem. — Fiquei tão feliz que até dei um beijo na bochecha dela. — Agora me deixe te explicar como tudo vai acontecer. — Pedi para que ela ficasse sentada na cama enquanto eu andava em círculos pelo quarto planejando.
  Quando voltava para o meu hotel, mais tarde naquele dia, me permiti dar uma risada maléfica, daquele tipo MUAH HAHA. Recebi alguns olhares de reprovação, mas acredito que isso faça parte.

  No dia seguinte, acordei pronto para colocar o meu plano em prática. O que eu iria fazer? Nada. A minha parte seria só no último dia. Mas eu queria ter certeza de que a Grace estava fazendo a parte dela direito.
  Encontramo-nos cedo numa lanchonete que tinha na frente do hotel. Podíamos ver a entrada do mesmo muito bem, e caso a e o saíssem, não nos veriam. Melhor que isso, só uma van preta de espião.
  — Como ele é? — Grace perguntou quando nossos cafés chegaram.
  — Hm... Arrogante, chato, só sabe falar sobre as coisas velhas que fica catando pelo mundo.
  — Não, docinho. Eu quero saber como ele é fisicamente.
  — Eu tenho foto dele. — Ela me encarou com as sobrancelhas arqueadas. — Não me olhe assim. — Peguei meu celular e mostrei as fotos para ele. — Fui num pub, e ele estava lá cheio de amor com outra garota. Perguntei a um garçom se ele podia tirar foto pra mim.
  — Foi uma boa ideia, docinho. — Grace sorriu para mim como se eu fosse uma criança de quatro anos que havia acabado de desenhar o sol pela primeira vez. Essa mulher tem sérios problemas mentais. — E até que ele é bem bonito... E depois que tudo der certo, posso ficar com ele?
  — Se quiser... — Dei de ombros. Não me importava com o que aconteceria a Grace e depois que eu conseguisse separá-lo de . Olhei para o hotel e vi o casal saindo. — Lá está ele...
  — Nossa! Bem melhor do que na foto do seu celular. — Ela me interrompeu. Limitei-me a revirar os olhos e ignorar.
  — Siga-os, mas não deixe te ver; ela provavelmente te reconhecerá. Quando estiver sozinho, esbarre nele casualmente e dê um jeito de seduzi-lo.
  — Dê um jeito? — Grace olhou incrédula para mim. — Docinho, olha aqui... — Ficou de pé e deu uma volta, fazendo com que todo cara ali babasse por ela. — A mamãe aqui sabe do que é capaz.
  — Eu sei. Confio em você. — Eu mesmo tive que tomar cuidado para não encarar demais, afinal, eu estava focado na . Não podia ser fraco de novo.
  — Te ligo mais tarde para contar como foi. — Me deu um beijo na bochecha e saiu da lanchonete rebolando. Mais uma vez, todos aqueles caras estavam babando, e depois começaram a me encarar. Bebi meu café com um sorriso triunfante. Eu sei, preciso estar focado na , mas posso me vangloriar um pouquinho pelas minhas outras... Ahn... Conquistas, não posso?

  O dia se arrastou para passar. No começo da tarde, tive a ideia de ligar para o meu detetive para ver se ele conseguiria o horário das aulas de . A folha com as tabelas havia sido mandada para o fax do hotel no final da tarde. Preciso me lembrar de dar um bom bônus de Natal para ele.
  À noite, recebi uma ligação de Grace.
  — Docinho. — Sussurrou. — Preciso falar rápido.
  — O que foi? — Sussurrei de volta. Percebendo que não havia motivo para eu sussurrar, repeti a pergunta no tom normal.
  — O foi ao banheiro. Está dando certo. Ele ligou para , disse que encontrou uns amigos e que vai dormir na casa de um deles essa noite. Mas, na verdade, ele vai pro meu hotel comigo!
  — Sério? Isso é incrível! Se divirtam! — Desliguei o celular e olhei para a tabela de horários da , pensando no próximo passo.

  Era noite de sexta-feira, e o hotel iria dar um jantar de graça para seus hóspedes. Eu nunca soube direito qual era o motivo daquele jantar. Segundo Grace, iria passar a noite com ela, e teria aula à noite inteira. Tendo a noite livre para circular pelo hotel sem ser descoberto, decidi ir ao tal jantar.
  Acho que estavam comemorando alguma coisa. Era buffet livre com o mais variado tipo de comida que existia. Vi pessoas de todas as partes do mundo comentando sobre o prato que representava seu país.
  Eu estava pegando um pouco de sushi e, sem querer, estava ouvindo a conversa de dois adolescentes — acredite em mim, você não vai querer saber o assunto! — quando, de repente, um deles parou de falar e ficou encarando a porta com uma cara de bobo.
  — Cara, o que foi? — Disse o mais alto. O outro apenas indicou a porta com a cabeça. Sei que não foi pra mim, mas foi difícil não olhar.
  A vontade de me esconder, de não ser visto, fez o meu corpo todo congelar. O sushi estava a meio caminho do meu prato, querendo cair no tênis que eu estava usando.
  Parecia até que estávamos em câmera lenta. Primeiro os adolescentes olharam, depois eu, aí a câmera lenta começou, todas as outras pessoas olharam. E daí a magia acabou porque todo mundo estava rindo. Menos eu, o que eu via não era engraçado. Joguei, de qualquer jeito, o meu prato na mesa e saí correndo para a porta. Segurei em sua mão e a puxei para longe do salão.
  — Hey! O que você está fazendo? — protestou.
  — As pessoas lá estavam rindo da sua cara. Quer voltar? — Fiz um gesto como se a desafiasse a voltar. Olhei em seus olhos: ela não estava entendendo o que estava acontecendo, então a levei até um espelho, onde ela pode ver como suas roupas estavam sujas.
  — Meu Deus! — Gritou, levando a mão à boca. Seus dedos percorreram toda a extensão do cabelo desgrenhado, armado e cheio de folhas. — Eu estou parecendo o Coringa!
  — Não, não está. — Tive que me controlar muito para não rir, a situação era séria. olhou pra mim e fez uma careta que fazia eu me lembrar do Coringa. Acabamos rindo juntos. — O que aconteceu?
  — Eu não sei. — Ela parecia confusa. — Eu peguei muito vento quando estava voltando para o hotel, e um pouco de chuva também. Não imaginei que iria estar neste estado!
  — Você está hospedada neste hotel? Talvez devesse se arrumar antes que mais alguém te visse assim.
  — Me espere aqui. — me lançou um olhar curioso e subiu as escadas. Provavelmente deve estar se perguntando por que eu estou aqui e se o fato de eu estar aqui foi uma mera coincidência. Não demorou muito para voltar, já arrumada. — Vamos jantar?
  Tudo aquilo era estranho. Ela não me xingou, me bateu ou começou a gritar comigo. Encarando-a desconfiado, entrei com ela no salão. Ninguém olhou para nós, todos os presentes continuaram suas conversas como se nem estivéssemos lá. Só então percebi que parecia uma mulher diferente agora que estava arrumada. Para as outras pessoas, a mulher que entrou toda suja no salão e esta que está do meu lado são duas pessoas completamente diferentes! O que era bom.
  Pegamos nossa comida e sentamo-nos numa mesa distante.
  — Então... — Ela fez uma pausa enquanto bebia um gole de vinho e me analisava por cima da taça. — O que o traz para Sydney na mesma semana que eu?
  — Bem... — Droga, eu havia me esquecido de inventar uma desculpa. E se eu fosse honesto? Ou, pelo menos, parcialmente honesto? — Não vou mentir. Eu vim atrás de você. — Pelo modo como arregalou os olhos, pude notar que ela não esperava esta resposta.
  — Por quê?
  — Porque você me deve uma conversa. — Recostei-me na cadeira, de braços cruzados, e a encarei sério.
  — Não podia esperar eu voltar para Melbourne?
  — Não, eu não podia. — Na verdade eu podia, mas vamos deixar as coisas mais dramáticas. — Nós tínhamos combinado um almoço, você marca num lugar que é longe pra caramba! E quando eu chego lá, você “teve um imprevisto e teve que vir logo para Sydney”. E ainda pediu para me avisarem, não pôde nem me ligar!
  — Desculpe. — parecia mesmo arrependida. — Em minha defesa, digo que o imprevisto realmente aconteceu. Eu só não te avisei porque achei que você ficaria com raiva de mim, aí eu não precisaria me preocupar em ter essa conversa.
  — Mas o seu plano não deu certo. Qual foi o imprevisto? — Pensei em todas as possibilidades possíveis, mas nenhuma delas era:
  —- Um dos clientes de ia sair do país naquela tarde. Se ele quisesse a peça, teríamos que chegar logo aqui.
  — Você gosta mesmo do trabalho desse cara? — Perguntei finalmente. Eu precisava saber! tomou mais um pouco de seu vinho para ganhar tempo.
  — Eu acho um trabalho... Interessante. — Olhei para ela incrédulo. — Tá legal, você venceu. É chato, às vezes. Ok, na maioria das vezes. Mas ele consegue achar coisas bem legais e bonitas! Esse trabalho faz mais sentido na Europa, onde ele consegue artefatos reais.
  — Certo, certo.
  — Pelo menos é melhor do que você faz. Quero dizer, fazia. É sério aquela história de que vocês vão trabalhar de graça para pessoas que não podem pagar?
  — Sim. Achou que eu estava mentindo? — Senti algo vibrando em meu bolso. Era meu celular com uma mensagem de Grace: “Estamos indo para o hotel. Parece que tem um jantar de graça”. Perfeito. Era exatamente isso que eu precisava.
   e eu ficamos conversando amigavelmente. Ela estava a todo custo tentando evitar a conversa que ambos sabíamos que deveríamos ter. Eu não sei se devíamos continuar adiando ou se devíamos acabar logo aquilo.
  — Você veio aqui com o ? – Perguntei casualmente, ela afirmou com a cabeça. — Por acaso aquele cara lá na fila do buffet é ele?
  A expressão de mudou drasticamente. Ela estava sorrindo pra mim, fez cara de dúvida quando falei sobre o cara na fila do buffet e seu rosto demonstrou algo parecido com fúria quando reconheceu e sua acompanhante. Olhei para eles: estavam brincando um com o outro, qualquer pessoa poderia dizer que se tratava de um casal. até chegou a roubar um beijo de Grace. E ela manteve aquela última expressão quando voltou a olhar para mim.
  — Por acaso aquela garota com ele é a Grace? — Dava até para ver as engrenagens do cérebro dela funcionando rapidamente.
  — ? Você não ia ter aula a noite inteira? — apareceu, surpreso por ver ali, jantando comigo. — Oi... , não é? — Cumprimentei-o com a cabeça. Ele parecia não perceber que Grace ainda estava em seu lado. Bem do seu lado. Praticamente grudada nele.
  — , quem é essa? — perguntou, e então finalmente percebeu a presença da outra garota.
  — Essa é a Grace, uma amiga minha. — Ele parecia confuso. Certamente nunca havia sido pego quando estava traindo alguém. Eu conheço o tipo.
  — Qual é o seu problema? — perguntou isso para Grace. — Por que têm que tirar de mim todos os caras que eu gosto? — olhou confuso para todos nós, mas foi quem respondeu. — Lembra quando eu estava depressiva depois que voltei de Nova York? Foi porque eu peguei essa vadia aí se amassando com o em cima da mesa dele.
  O rosto de pareceu se iluminar — de um jeito estranho — conforme ele entendia o que estava acontecendo.
  — Foi por isso que vocês dois estavam tão estranho no jantar outro dia? — Ninguém respondeu à pergunta de . se virou, apontando o dedo pra mim.
  — A culpa é sua! — Ela disse, com a voz num tom mais agudo.
  — O quê?
  — Admita que você a trouxe aqui para tirar o de mim! — O salão inteiro nos olhava.
  — Eu não sei o que quer dizer. — Fiz a melhor cara de santo que consegui.
  — Claro que sabe! Você está no mesmo hotel que eu. De repente, a sua querida amiga aparece e começa a dar em cima do meu namorado na mesma noite que nos encontramos. Acha mesmo que eu vou acreditar que tudo isso não se passa de uma coincidência?
  — , por favor, se acalme. — Olhei para , ele não nos encarava. Covarde. — As coisas não funcionam assim...
  — Apenas admita, ok? , admita! — Agora ela estava chorando. — Você se arrependeu por ter ficado com essa vadia enquanto eu estava em Nova York, se arrependeu do fato de que me perdeu. Eu estava feliz com outro cara, e você não conseguiu suportar isso. Não, porque você tinha que ter tudo. — Cada palavra me atingia como um soco no rosto. Eu não queria admitir, mas ela estava, de fato, falando a verdade. — E agora você arruinou a melhor relação que já tive.
  — Espera, você vai terminar comigo? — perguntou, como se tivesse acabado de sair de seu devaneio. — Ele que armou tudo isso!
  — Você realmente espera que eu fique com você? — O olhar de era de sarcasmo. Ela levantou o braço para demonstrar indignação e acabou batendo num garçom que passava por ali. Estava tendo uma briga, por que ele passou por ali? — O que fez foi errado, sim. Mas isso não quer dizer que você tinha o direito de me trair com essa vadia!
  Olhei para a vadia, quero dizer, para Grace. Ela não tinha o menor sinal de raiva por estar chamando-a de vadia tantas vezes. Na verdade, ela parecia estar se divertindo com tudo aquilo.
   balançou a cabeça e saiu do salão. As pessoas acompanharam-na com o olhar e depois ficaram nos encarando, julgando-nos. Murmurei um “Vou atrás dela” e saí. Não tenho certeza se me ouviram, pelo menos ninguém me impediu.
  Vi-a pegando um táxi, e a cena de Nova York se repetiu. Ela indo embora, e eu seguindo, deixando-a ir. O táxi fez uma curva estranha e parou na entrada da Harbour Bridge, a Ponte da Baía de Sydney, e saiu do carro. Fiz o mesmo.
  Meu medo era que ela pulasse da ponte. Mas ela apenas foi para o caminho dos pedestres da ponte e foi andando. parecia não notar a minha presença logo atrás. Caminhava em passos curtos e lentos, os braços em volta do corpo, só os mexia para tirar o cabelo do rosto. No meio da ponte ela parou e ficou encarando o oceano, mais além tinha o show de luzes no Opera House.
  — Bonito, não acha? — Pude senti-la se assustar com a minha presença. — Eu costumava vir bastante para cá na época do festival Vivid Sydney. O show de luzes sempre me impressionou.
  Eu não sabia se ela estava me ouvindo ou não. Aquela garota era um livro aberto, mas costumava ser um enigma quando queria!
  A buzina dos carros, o barulho do motor deles... Nada a fazia olhar para outro lugar que não fosse o teatro Opera House.
  — Me desculpe. — Virei para ela. Nem isso a fez olhar para mim, mas sua expressão mudou. — Eu sei que fui um total idiota lá em Nova York, e a cada segundo da minha vida eu me arrependo do que fiz.
  — Sim, você foi. Lá em Nova York e aqui em Sydney. — Pude ver lágrimas saindo de seus olhos.
  — Eu assumo toda a culpa do que aconteceu em Nova York. Sei que fui um idiota e tudo o mais. Mas só agi assim aqui porque o seu querido estava te traindo. Não estou falando da Grace. — Tirei o meu celular do bolso e mostrei pra ela as fotos que o garçom tirou. — Juro que eu o encontrei por acaso. — Eu consegui ver a raiva subindo pelo seu rosto. Até achei que ela jogaria meu celular na água! — Eu só pedi para Grace vir para cá para me ajudar a te convencer que ele é um idiota, que ele não é perfeito como todo mundo diz!
  — Sabe com o que você está parecendo? — Não havia entendido a pergunta, então ela mesma respondeu. — Com aqueles caras de filmes de romance. Tudo isso parece tão clichê! A ponte, a vista, você me pedindo desculpas. Daqui a pouco o vai aparecer e pedir desculpas também. — Ambos olhamos para os dois lados da ponte apenas para nos certificarmos de que essa última parte não iria acontecer.
  Eu tinha mais coisas para falar. Muito mais. Mas acho que elas não teriam o mesmo efeito do que eu fiz em seguida: beijei como ela nunca havia sido beijada antes.
  Ah, um pouquinho de clichê a mais não faz mal, não é?

  A partir daí as coisas começaram a dar certo para nós. Nunca mais precisei ligar para aquele meu detetive, pois eu estava sempre com a ! Ela até se mudou para Nova York comigo!
  Eu parei de fazer planos. Quero dizer, só farei mais um, e será pedi-la em casamento dentro de algumas semanas. Envolve a Torre Eiffel e balões. Vai ser perfeito!

  Ah, você deve estar se perguntando o que aconteceu com os outros dois.
  Pois bem, a Grace acabou presa! Ela tinha tantas acusações de lojas e estilistas contra ela que seria difícil se safar. Ficou presa por pouco tempo, na verdade, mas tem que fazer trabalho comunitário por muito tempo!
  Já o acabou levando uma multa altíssima por vender artefatos falsos. Ainda não entendo como ele conseguia ter uma carreira com aquilo. Agora ele está numa banda com uns caras aí, fazendo shows em bares e festas de aniversário para pagar a multa.
  Até que eles não são ruins, sabe...

FIM



Comentários da autora


Quero agradecer a todo mundo que acompanhou a história! É uma das minhas favoritas!
Espero que tenham gostado!
Xxx
Carol.