Enchanted to Meet You
Escrito por Carol S | Revisado por Anne
Quantos anos você tem? Bom, isso não importa muito quando você está com seus pais. Eles sempre vão achar que você é nova demais para tal coisa ou velha demais para tal outra coisa.
Pois bem, eu tenho 23 anos, e meus pais ainda insistem em me arrastar para esses bailes beneficentes a que eles vão. Nada contra a parte "beneficente", mas tudo contra a parte "bailes", no plural, pois são pelo menos dois por mês. Eu entendia isso quando tinha uns 13 anos e com 17 ainda tolerava. Mas agora? Por favor, né!
Moro sozinha num bairro de classe média, aqui em Melbourne, Austrália. Seria muito mais fácil se meus progenitores não morassem na mesma rua. Ainda não sei como minha mãe me deixou morar sozinha!
Foco, . Deveria estar falando sobre o baile.
Então, esse tipo de baile é muito chato. Só toca música velha, daquelas que só pessoas velhas – tipo os meus pais – vão para a pista dançar depois do jantar. Eu, obviamente, fico sentada na minha cadeira o tempo todo porque nenhum dos meus amigos vai a esse tipo de lugar para me acompanhar.
Eles sempre nos separam em mesas, e eu sempre fico sentada com um bando de jovens metidos a riquinhos.
O anfitrião do baile, senhor , estava no palco falando de como a doação de todos é importante. Eu olhava para ele como se estivesse bastante absorta naquelas palavras. Num movimento, quase imperceptível, Sr. virou a cabeça para a porta e fez uma expressão de reprovação. Pelo visto, ninguém percebeu: todos continuaram olhando para ele como se aquele milésimo de segundo não tivesse acontecido. Mas, por impulso, olhei para onde ele tinha olhado, e um par de olhos parecia me fitar com curiosidade.
Foi como se o mundo tivesse parado. Não se ouvia nada, não se via nada. De repente, eu estava desperta. Ele deu um sorriso sapeca para o Sr. e levantou os ombros em sinal de desculpa, mas logo voltou sua atenção para o lado da sala em que eu estava.
As luzes se apagaram para melhor visualização de um vídeo que colocaram para passar no telão, mas eu ainda conseguia ver sua silhueta passando entre as mesas. Ele era jovem, supus que iria se sentar à mesma mesa que eu. Seria ótimo se ele sentasse, assim ele poderia se apresentar, e eu pararia de chamá-lo de "ele". Mas, do nada, ficou muito mais escuro, e eu o perdi de vista.
- Isso parece mesa de criança, não acha? – levei um susto! Ele disse isso bem próximo ao meu ouvido quando foi se sentar na cadeira vaga ao lado da minha – a única.
- Acho, sim. – sussurrei depois de uma leve risada. – Como aquelas em que nossos pais nos colocavam nas festas de família junto com nossos primos.
- Exato! – ele estendeu sua mão direita para mim. – Meu nome é . .
- Prazer, . – apertei sua mão. – , na verdade. Mas me chame de .
- O prazer é meu, . – ele deu ênfase no meu nome. Nesse momento as luzes se acenderam de novo, e eu pude ver o lindo sorriso que ele tinha.
- O que você é do Sr. ? – não pude conter a pergunta. Sou curiosa, não me culpe! – Percebi o olhar de reprovação quando você chegou.
- Ah, ele é meu pai. – ele deu aquele sorriso sapeca de novo. – Ele mandou não me atrasar, mas o trânsito estava horrível para chegar até aqui.
- A culpa não foi sua, então. Ele não pode ficar fazendo cara de repreensão durante o discurso dele.
- Falando em discurso... – me olhou com curiosidade novamente. – Você estava bem concentrada, não?
- Não! – ri um pouco alto, algumas pessoas da mesa me olharam. – Eu estava olhando para ele, mas meus pensamentos estavam bem longe daqui.
- Onde?
- Numa galáxia bem, bem distante. – ele riu um pouco e voltou sua atenção para o pai.
Ficamos conversando o tempo inteiro desde que o discurso terminou e fomos juntos pegar o jantar no buffet.
- Se eu tivesse chamado uma pizza estaria comendo agora. – disse, visivelmente irritado pela demora das pessoas que chegaram antes na fila. A senhora na minha frente nos olhou com reprovação, o que só nos fez rir mais ainda.
- Seria muito bom se pedíssemos. – falei, e ele me olhou espantado.
- Sério? Você prefere sair e comer pizza a ficar aqui e aproveitar esse baile maravilhoso? – ele disse aquilo tão sério que eu achei que era verdade. Assim como eu, não é capaz de ficar sério por muito tempo e logo começou a gargalhar. – Vamos lá?
- Vamos! – pegou minha mão e me puxou para a saída. No meio do caminho me lembrei de algo: - Meus pais! Tenho que avisá-los!
- Vai lá, te espero na porta, enquanto isso chamo um táxi. – ele foi indo até lá enquanto eu me virava para procurar meus pais.
- Mãe! Pai! Oi! – eles me olharam estranhos. Muitas pessoas fizeram isso esta noite, mas não imaginei que meus pais o fariam também. – Só pra avisar que eu vou sair daqui com o , filho do Sr. . Que horas eu preciso estar de volta? Ou posso ir pra casa sozinha? – você deve estar estranhando o fato de que eu estou avisando os meus pais, e não pedindo permissão. Sou grande já, uma mulher adulta. E mulheres adultas não precisam pedir permissão para sair com caras lindos.
- Espera aí, mocinha! – minha mãe segurou o meu braço com força, de onde ela tirou toda aquela força? – Você não pode sair por aí com um desconhecido, mesmo que seja filho do Sr. .
- Meu filho? – Sr. apareceu. Era um pouco mais baixo que a maioria dos homens daquele salão. Sua barriga um tanto avantajada, as bochechas rosadas e o cabelo branco me lembravam do Papai Noel. – Ah, ele é um bom rapaz, na maior parte das vezes. E ele está solteiro. – ele olhou para mim como se eu estivesse a fim do filho dele!
- Querida, ela pode finalmente arranjar um marido. – papai sussurrou para minha mãe, mas acredito que não era para o Sr. ouvir.
- Ok, querida. Pode ir com o filho do Sr. . – ela sorria tanto, mas estava claro que a menção da palavra “marido” a colocou em transe. – Só não vá para casa muito tarde. Sabe como você fica se não dorme direito.
- Está bem, mãe. – forcei um sorriso. – Boa noite a todos.
Meus pais são... acho que estranhos é uma palavra adequada para o momento. Tratam-me como se eu fosse uma criança, mas querem que eu me case logo. Só falta colocarem um anúncio no jornal!
Como havia dito, me esperava na porta. Ele parecia um tanto deslocado ali. Usava um terno preto, seu cabelo estava cuidadosamente desarrumado, os olhos incrivelmente fitavam tudo a sua volta, eles brilharam quando me viu o encarando. Abriu um sorriso lindo, aquele sorriso que eu vi a noite toda. E eu fui toda derretida até ele.
- Pela sua cara, seus pais não foram muito gentis. – ele abriu a porta para mim, o vento frio cortou o meu rosto, mas não me importei.
- Ah, pais. Você sabe como é. – ri. – Então, aonde iremos?
- Eu estou na cobertura de um hotel aqui perto, a vista é ótima! Poderíamos ir até lá. – o que significa quando um cara te convida para ir ao quarto do hotel em que está hospedado? Você pensa em todas as coisas malucas possíveis! deve ter percebido o meu silêncio. – Não se preocupe, só vamos jantar e conversar. Eu prometo.
Tá legal, quem resiste a uma carinha de cachorro que acabou de cair da mudança? Ninguém, certo?
- Tudo bem, vamos. – sorri do melhor jeito que pude e o segui até o táxi que estava nos esperando.
Ser super rico deve ser muito legal! O pai de estava pagando para ele o melhor quarto do hotel: a cobertura. E ele foi modesto quando disse que a cobertura é ótima. Ela é incrível! Dá para ver boa parte da cidade, com as luzes das ruas piscando. Queria ver como fica ao pôr-do-sol...
O quarto era todo decorado. Os móveis marfim contrastavam perfeitamente com as paredes brancas. Havia flores das mais diversas cores e tipos em todos os cantos possíveis. Eu não sabia para onde olhar, cada vez que virava a cabeça ficava mais impressionada.
- Quer pizza do quê? – eu estava tão hipnotizada pelo quarto e a vista que me assustei quando ouvi a voz de .
- Qualquer coisa, desde que seja grande. Estou morrendo de fome.
- Ok. – ele pegou o telefone e se afastou um pouco para fazer a ligação. Voltou poucos minutos depois. – A pizza chega em trinta minutos. O que faremos até lá?
Olhei em volta do quarto, meus olhos pararam na TV e no que tinha em baixo dela:
- Quais jogos você tem? – falei, apontando para o videogame.
- Vários! Mas só trouxe o Guitar-Hero.
- Podemos jogar? – meus olhos brilharam, e ele riu com a minha empolgação.
- Claro! Mas eu fico com a guitarra. – ele saiu correndo para pegá-la primeiro. Não reclamei, nunca tinha jogado com instrumentos. Provavelmente seria um fiasco. – Ah! Espero que goste de fondue de chocolate com morangos. Pedi isso para a sobremesa.
- Eu adoro fondue de chocolate com morango!
Ficamos jogando por um bom tempo no modo difícil, era realmente bom naquele jogo. Quando estávamos colocando para o modo expert, a campainha tocou, e um cheiro de queijo entrou pela porta.
Sentamo-nos na varanda e comemos aquela enorme pizza de frango e catupiry com borda de cheddar. me contou os seus lugares favoritos de Melbourne. Dali, ele podia até apontar em qual direção ficava!
Descobri que ele cresceu em Melbourne, mas se mudou para Nova York havia cinco anos. Vinha para cá raramente para visitar os avós, que moravam em Reservoir, subúrbio de Melbourne.v
A noite estava ficando fria, e a lua enorme subia cada vez mais no céu. Eram quase duas horas da manhã quando entramos para comer o fondue em frente à lareira. Incrível como o tempo passou rápido.
ligou o rádio, tocava uma música qualquer, eu não reconhecia a letra. Tudo estaria escuro se não fosse por causa das chamas que crepitavam sem parar, como se estivessem vivas. Poderia até ser um momento romântico.
Comemos por um tempo em silêncio, apenas saboreando o morango com chocolate.
- Quem você ama? – perguntou, de repente. Estava tão concentrada no meu pedaço de morango que quase engasguei. Isso o fez rir, é claro.
- Ah! – pensei um pouco na resposta. – Eu amo meus pais, minha família e meus amigos. Não necessariamente nessa ordem.
- Você entendeu o que eu quis dizer. – ele sorriu de uma forma que eu não tinha visto a noite inteira. À sombra das chamas, seu rosto tinha um ar de mistério.
- Eu não sei. – respondi com sinceridade. – Faz tempo desde a última fez que alguém fez o meu coração disparar. E você?
- Bom... – ele sorriu tímido. Havia um espelho, não notado por mim antes, atrás dele. Pelo o que pude ver do meu reflexo, eu sorria exatamente como ele quando me fez aquela pergunta: como se dissesse "Por favor, não esteja apaixonado por ninguém". Então ele me olhou de forma engraçada.
- O que foi?
- Tem um pouco de chocolate no seu rosto. – ele se aproximou um pouco mais de mim.
- Onde? – levantei a mão para tirar o chocolate, mas me impediu. Eu podia sentir a sua respiração perto do meu rosto. Não sabia o que dizer, eu estava hipnotizada por aqueles olhos que me olhavam de forma tão intensa.
Ironicamente, ou não, tocava Speechless, da banda The Veronicas, no rádio.
You leave me breathless the way you look at me!
(Você me deixa se ar da maneira como olha para mim!)
- ? – ele sussurrou. Não tive tempo de pensar em uma resposta, logo sua mão estava no meu cabelo e seus lábios contra os meus.
Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo como se eu tivesse levado um choque, embora a sensação não fosse desagradável. Pude senti-lo se arrepiar quando coloquei a mão em sua nuca e a arranhei levemente.
Seus lábios eram macios. Minha boca se encaixava perfeitamente na dele, exatamente do jeito que eu havia imaginado. Não que eu tivesse passado um bom tempo daquela noite analisando a boca do . Nem pensar. (Acho que não sou muito boa com mentiras). E ele era tão gentil! Colocava qualquer cara no chinelo. Sua mão direita brincava com o meu cabelo, enquanto a outra apertava a minha cintura. Aos poucos fomos nos deitando no chão, e ficou em cima de mim. Temia ficar desconfortável, mas o tapete era do tipo felpudo, quase tão bom quanto uma cama.
Senti uma de suas mãos passeando pela minha perna e permiti que as minhas também fizessem um passeio. Coloquei-as nos seus ombros e tirei o terno, aquilo atrapalhava um pouco. Passei os dedos pelos contornos de suas costas definidas até chegar à base. Será que me atreveria? riu durante o beijo, percebendo a minha intenção. Parecia até que podia ler os meus pensamentos.
Enquanto decidia, ouvi um apito familiar vindo de algum canto próximo, parecia aumentar o volume a cada segundo. Tanto que parou e me encarou confuso.
- Está ouvindo? – sem ter com o que me distrair, acabei prestando mais atenção ao barulho. Demorei a perceber que vinha da minha bolsa.
- Meu celular. – fiz cara de reprovação. – Desculpa.
- Quer atender? – balancei a cabeça positivamente e fiquei olhando para , ele demorou a perceber que ainda estava em cima de mim. Abriu um sorriso tímido e se levantou. Não demorei muito para encontrar minha bolsa e meu celular, que ainda apitava insistentemente.
- Alô?!
- Querida, onde você está? – era minha mãe. É claro. Mas com a voz mais esganiçada que o normal. – Acabei de passar na sua casa, e não tinha ninguém. Está tudo bem?
- Tudo ótimo, mãe. Estou aqui no hotel onde o está hospedado. – ele sorriu ao ouvir o próprio nome.
- O que vocês estão fazendo a essa hora? Estão se protegendo?
- Mamãe! – minha voz saiu um pouco mais aguda do que eu gostaria. Revirei os olhos para o , ao entender, ele soltou uma gargalhada. – Não estamos fazendo nada, só... conversando. Duas pessoas podem conversar às 2 e alguma coisa da matina! – não podia vê-la, mas tinha certeza que mamãe estava com as sobrancelhas arqueadas, não acreditava no que eu dizia. – Está tudo bem, mãe? Andou bebendo de novo?
- Claro, querida. – ela ignorou a minha pergunta sobre a bebida. - Se estavam só conversando, então você não se importaria em ir para casa agora, não é? Sabe como é perigoso ficar andando nessas ruas de madrugada. Diga-me o endereço de onde você está, e eu e seu pai iremos pegá-la agora. – apesar de alterado, seu tom de voz deixava claro que não havia outra opção. Passei o endereço com má vontade. Queria muito que ela me tratasse como a adulta que sou.
- Já está indo? – sua expressão era clara: ele não queria que eu fosse. – Poderia ficar aqui. Tem um quarto sobrando.
- Minha mãe faria um escândalo se eu não voltasse para casa com ela. E isso porque eu moro sozinha. Imagine se ainda morasse com ela! – olhei em seus olhos pela milésima vez naquela noite, não os tinha visto assim ainda, tinha um brilho diferente ali. – Onde é o banheiro? – perguntei, mais para quebrar o silêncio do que por necessidade.
- Segunda porta à esquerda. - agradeci e fui até lá.
Após fechar a porta, lavei meu rosto com água fria e me encarei no espelho. Eu estava horrível. não percebera isso por causa da falta de luminosidade da sala. Meu cabelo estava todo bagunçado por causa dele.
Decidi escrever-lhe um bilhete, não conseguiria falar o queria.
Quando voltei à sala, estava sentado no sofá, cochilando.
Meu celular vibrou dentro da bolsa. Era uma mensagem da minha mãe dizendo que havia chegado. Fiquei com tanta pena de acordar , ele parecia estar com a mente bem longe... Seja lá o que estivesse sonhando, parecia ser bom, ele estava sorrindo.
Deixei o bilhete em cima da mesinha perto dele.
Queria me despedir direito, queria que ele pedisse o número do meu telefone... Mas não queria acordá-lo. Por isso, beijei seus lábios levemente e saí.
Desculpe por sair assim.
Essa noite foi perfeita, eu não queria que acabasse.
Tudo o que posso dizer é que fiquei encantada em conhecê-lo.
Xoxo. .
No caminho para casa, fiquei lembrando cada detalhe da noite. Será que havia mesmo chocolate no meu rosto? Corei, recordando-me do que ele fez após isso. Por sorte, meus pais não perceberam esse tom avermelhado no meu rosto quando me despedi deles.
Minhas pernas estavam no modo automático, eu não via para aonde ia. Apenas ia andando. Com um pouco de esforço, percebi que andava no ritmo da música que tocara enquanto nos beijávamos.
Pergunto-me se ele viu o bilhete. Coloquei meu endereço e telefone no verso. Deitei em minha cama, mas não queria dormir, estava desperta. Gostaria que nossa história continuasse, que não fosse apenas algumas linhas de um livro não acabado. Eu adoraria se aparecesse à minha porta agora...
Espero que não haja outra pessoa. Espero que não tenha ninguém em Nova York esperando por ele. Agora passarei a eternidade me perguntando se ele sabe que eu fiquei encantada em conhecê-lo...