Em seu destino

Escrito por Mary Lira | Revisado por Mariana

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  Só existe uma vida e portanto uma chance de ser feliz, não desperdice essa dádiva que lhe foi dada. Se ama, fale. Se sente falta, procure. Não espere, afinal, nunca se sabe quando será o último momento.

  Meus passos, contidos ainda pelo sono faziam-me parecer uma criança recém acordada em uma manhã de domingo, cheguei ao refeitório e não foi surpresa alguma encontrar minha irmã por ali, se havia uma coisa que gostava mais do que praia, era de comida. Aproximei-me da mesa que ela ocupava e me sentei na cadeira vaga de frente para ela.
  - Bom dia, mana. - ela sorriu de boca fechada enquanto mastigava uma fatia de seu pão, olhei ao redor e poucas pessoas ainda estavam ali. Um dos motivos de ter escolhido a Pousada Porto dos Corais era a tranquilidade que tinha, poucas pessoas conheciam esse lugar maravilhoso que é Maragogi.
  - Acho que você vai ter que levantar daí. - ela me deu um olhar indicativo, franzi o cenho. Olhei para mesa e havia uma xícara de café já utilizada, o que indicava que ela não estava só.
  - Quem...?
  - Não tinha mais geleia de morango, então peguei de framboesa mesmo e... Ah, oi ! - uma voz conhecida me fez erguer o olhar. Felipe estava parado em minha frente, com um pote de geleia na mão e um sorriso imenso nos lábios. - Que bom te ver! - sorri amarelo e levantei do lugar que provavelmente era dele.
  - Bom te ver também, Fe... Lipe. - tratei de corrigir o apelido que costumava chamá-lo, ele reabriu um sorriso imenso e colocou o pote sobre a mesa, vindo me abraçar em seguida.
  - Para de ser boba, . Ainda sou o Fe pra você. - sorri ao retribuir o abraço, que confesso era familiar e aconchegante como nos velhos tempos. Soltei-me de seus braços e sentei na cadeira ao lado.
  - O que está fazendo por aqui? - indaguei servindo-me de café, me entregou o açucareiro e o leite.
  - Viemos passar um tempo, descansar. Depois que o Ga... - ele parou de falar quando percebeu que citaria o nome do irmão, engoli o nó que costumava surgir em minha garganta sempre que ouvia o nome dele e ofereci um sorriso para Felipe. - Bom, depois de um ano cheio de realizações, nós merecemos um descanso não é mesmo? - foi a vez dele ficar sem graça.
  Eu queria puxar assunto, comentar sobre o dia, o calor, uma água viva que fosse, eu só não queria deixar que um clima desconfortante se instalasse entre nós. abriu a boca para dizer algo quando uma voz fina e estridente nos fez virar para ver quem era. Três pessoas se aproximavam, Simone vinha de mãos dadas com Charles, enquanto Sophia corria em direção a mesa que ocupávamos.
  - Lipe, você não sabe o que aconteceu! - dizia ela eufórica. - Nós estávamos saindo do quarto quando uma moça alta e loira chegou correndo com um papel na mão, ela perguntava assim: "Gente, aqui é o quarto do Medina?", a mamãe ficou meio sem reação enquanto o papai... - ela parou de falar quando Felipe pigarreou e indicou nossa presença, os olhos da pequena Sophia se arregalaram de surpresa, depois de choque e então ela se atirou em meus braços. Sorri ao senti-la rodear meu pescoço enquanto eu a apertava num abraço cheio de saudades.
  - Caramba, como você cresceu. - comentou minha irmã ao olhar para Soph.
  - Claro, eu já tenho nove anos. - ela disse convencida, fazendo-nos rir.
  - Você está linda. - depositei um beijo em sua bochecha. Simone chegou acompanhada do marido e parou ao lado de onde estávamos, ela sorriu ao nos reconhecer. - Simone, quanto tempo! - levantei-me para abraçá-la e repeti o gesto com Charles, ele sorriu.
  - Nossa, faz tempo mesmo... Você sumiu, menina! - bronqueou ela ainda abraçando minha irmã.
  - Estudando e trabalhando, sabe como é. - respondi. - Sentem-se conosco, eu acabei de chegar. - convidei.
  - Obrigada, querida, mas vamos tomar café naquela varanda maravilhosa ali. - indicou a área de café externa, sorri e assenti.
  - Foi bom te ver , vê se não some. - Charles se despediu e conduziu a esposa para mesa. Sophia permaneceu conosco, servimos um pouco de tudo para ela enquanto terminávamos de tomar café em meio a assuntos amenos. Quando terminei pedi licença e me retirei com a desculpa que precisava fazer uma ligação.
  Refiz o caminho do quarto, mas parei próximo a área da piscina. A vista dali era maravilhosa, os coqueiros davam uma impressão de paz e leveza sob o balanço da brisa matutina de Alagoas. Senti uma aproximação estranha e virei-me para ver de quem se tratava, por muito pouco não caí de cara na piscina ao constatar que Gabriel se aproximava de onde eu estava na companhia de uma loira espetacular que parecia muito mais interessada nos atributos dele do que em suas palavras. Corri para esconder-me atrás do coqueiro mais próximo que achei e permaneci ali até perdê-los de vista. Suspirei de alívio e resolvi ir de uma vez para o quarto, afinal, num lugar tão pequeno ele não demoraria a me ver.
  Tranquei a porta do quarto assim que passei por ela, caminhei até o banheiro e despi-me da camiseta gigantesca que vestia e do short de malha. Tudo o que eu precisava era de um banho relaxante para acalmar o coração e a mente. Quando saí do banheiro enrolada na toalha a porta do quarto se abria, pulei para trás assustada e quase tropecei na mesa de canto.
  - Calma, mulher, está fugindo da polícia? - perguntou zombeteira, arqueei uma sobrancelha para ela e me aproximei da cômoda onde minhas roupas estavam.
  - Não, eu só achei... Sei lá, estou ficando maluca. - peguei a roupa e voltei para o banheiro, vesti-me rapidamente e pendurei a toalha no box, quando saí já havia se trocado. - Vamos? - após assentir, saímos do quarto rumo a praia, nem sonhando em ficaria na piscina onde ele poderia me ver com mais facilidade.
  - Admite, quando a porta do quarto abriu você achou que fosse ele. - disse enquanto caminhávamos pela areia, parei para observá-la.
  - Claro que não, eu só me assustei. - defendi-me. - Além do mais, eu já o vi. - confessei, e então foi a vez dela parar para me olhar, dei de ombros e virei-me para fitar o mar. A água cristalina e azulada me fez sorrir, vir para Alagoas havia sido uma boa ideia por fim. - Eu havia acabado de sair do refeitório quando o vi passar perto da área da piscina, uma moça loira estava com ele. - nem precisei olhar para saber que minha irmã aguardava minha resposta.
  - Eu o vi chegar com ela, definitivamente aquela garota é irritante. - disse de repente, fazendo-me rir e voltar a fitá-la. - Felipe achou que eles tivessem esbarrado em você, mas não chegou a tocar no seu nome, calma... - ela se apressou em falar quando me viu gesticular. - Ele apenas me cumprimentou e perguntou como eu estava.
  Dei de ombros.
  - Não vai demorar muito para saber que estou aqui, a única coisa que me pergunto é porque vir para um lugar tão escondido quanto Maragogi. - resmunguei.
  - Descanso não é uma opção boa o bastante? - gelei ao ouvir a resposta que não era da minha irmã, olhei para trás e vi que ela havia se distanciado e agora conversava com Felipe e Charles, respirei fundo e a xinguei mentalmente de todos os palavrões que eu conhecia. - A propósito, oi pra você. - virei-me para fitá-lo e como já esperava Gabriel ostentava aquele sorriso lindo que eu tanto conhecia.
  - Olá. - cumprimentei-o o mais simples possível pensando em uma forma de fugir dali o quanto antes. Ideia horrível vir pra Alagoas!
  - , você não precisa mesmo ficar constrangida comigo, sabe disso não é? - perguntou ao perceber que eu havia voltado a fitar o mar.
  - Constrangida? Quem está constrangida? - esbocei um sorriso forçado. - Então, aproveitando Alagoas? - ele riu e balançou a cabeça, senti uma vontade imensa de me afogar, mas com certeza alguém teria a ideia genial de ir me salvar.
  - Estou, depois do título eu precisava descansar antes de recomeçar a treinar - disse ele, assenti. - E você, o que anda fazendo? - perguntou curioso.
  - Fazendo faculdade e trabalhando como assessora na agência com a . - indiquei minha irmã. Gabriel sorriu mais uma vez e assentiu, voltando sua atenção para o mar. A sensação de reconhecimento que seu corpo me trazia fazia meu coração saltar como louco.
  - Isso é... - a fala dele foi interrompida pela voz estridente de uma mulher, viramos ao mesmo tempo pra saber de quem se tratava, arrependi-me de imediato. A mesma loira que eu vira mais cedo, agora se aproximava gloriosamente de onde estávamos. De perto ela era ainda mais bonita, os cabelos dourados, olhos claros e o corpo de modelo que eu fotografava todos os dias com na agência de nosso tio. Ignorei a sensação de sufocamento que começava a me tomar e sorri para ela. Ao parar do lado dele, pude perceber que casal incrível eles formavam.
  - Oi. - ela disse ao perceber que estávamos quietos demais.
  Estendi minha mão, e como norma da boa educação estendi minha mão para cumprimentá-la.
  - Muito prazer, sou . - ela me olhou dos pés a cabeça como se decidisse que realmente vali a pena me cumprimentar, em seguida pegou minha mão e a soltou em rapidamente, franzi o cenho e recolhi meu braço até tê-lo cruzado sob os seios.
  - Eu sou Isabella Settanni - respondeu simplesmente, antes de voltar sua atenção para ele. - Sua mãe vai fazer um passeio pelas outras praias, o que nós vamos fazer? - ouvir aquilo me deixou desconcertada, resolvi sair à francesa antes que ouvisse o que não queria. Dei as costas para eles e caminhei o mais rápido que pude para longe dali, estava entretida numa conversa com Sophia e Charles, Simone e Felipe pareciam decidir o que fariam, já que apontavam para direções diferentes.
  Andar por ali sozinha me dava tempo para pensar. Refleti sobre o ano que passei morando em Maresias, o mesmo tempo em que namorei Gabriel. Nosso relacionamento começou de uma forma inusitada e não premeditada, eu amava caminhar na praia pela manhã, ele treinava no mesmo horário. Um dia, enquanto ele estava no mar eu encontrei o pai dele, que também é seu treinador, elogiei o desempenho de Medina e então engatamos um assunto, fui convidada para ir a casa deles e em meio a essa convite eu conheci a família inteira, criei uma amizade surreal com Felipe e um carinho imenso por todos eles, Gabriel foi a cereja no topo do bolo, já que tínhamos gostos semelhantes e uma sintonia legal. Aconteceu sem que eu me desse conta, num instante éramos amigos conversando sobre a influência do mar em nossas vidas, no outro eu estava em seus braços perdidamente apaixonada por ele.
  Como tudo na vida, nosso namoro chegou ao fim quando entrei na faculdade de fotografia, estava trabalhando na agência e conseguiu um emprego para mim por lá. Nos mudamos para cidade vizinha e ele foi viver seu sonho, arrependo-me de não ter tentado mais, lutado mais pelo que tínhamos. Ele insistiu tanto que daríamos um jeito, que nada estava perdido, mas eu não ouvi. Estava com medo demais para tentar.
  Quando dei por mim, havia dado a volta em mais da metade da praia e já seguia em direção a pousada, o sol alto do meio dia iluminava o céu. Caminhei até a área da piscina, onde tirei o vestido, o chapéu, óculos e chinelo e adentrei a água. Fria e deliciosa, ajudou a refrescar o calor que se abatia sobre a praia.
  - Caramba, você demorou! - a voz de me fez virar, ela havia acabado de chegar com uma toalha em mãos. - Onde esteve?
  - Andando. - respondi simplesmente. Saí da água e me sentei na espreguiçadeira ao lado dela. - Alguém ligou?
  - Mamãe, nosso tio, e meu namorado. - enumerou. - Vamos almoçar, eu estava só esperando você.
  - Ué, cadê o Fe? - indaguei.
  - Foi visitar os corais com a família e a mocreia loira.
  - Quando eu deixei Gabriel na praia ela estava perguntando a ele o que os dois iriam fazer. - dei ênfase nos dois e ela fez careta. - Resolvi sair de perto, não queria atrapalhar.
  - Não, você resolveu sair de perto porque é boba, deveria ter desbancado ela e mostrado que o homem é seu. - eu tive que rir das ideias dela, as vezes eu suspeitava muito da sanidade de .
  - Certo, vamos comer logo. - nos dirigimos para área externa de refeição, e ficamos por ali boa parte da tarde. Comendo, rindo e apreciando a natureza linda que se revelava a nossa frente. Quando já passava das três da tarde eu resolvi ir para o quarto, tomar banho e dormir um pouco, minha cabeça ainda estava um caos.
  Eu estava tranquila, deitada em minha cama com a televisão fazendo um som de fundo enquanto o sono se arrastava como uma sombra, tomando-me aos poucos. Senti algo quente tocar minha cintura, com certeza fruto do sonho com Gabriel que tive, este objeto escorregou no sentido contrário tocando meu ombro, seguindo para o meu pescoço e por fim alcançando minha bochecha. O colchão afundou atrás de mim e só então me toquei de que havia algo errado, abri os olhos de rompante e levantei rapidamente ficando meio tonta no processo. Percebi que a televisão havia sido desligada, uma luz laranja iluminava o quarto e ao meu lado estava ninguém menos que o próprio Gabriel.
  - O que... Como você entrou aqui? - perguntei meio em choque com a proximidade e o fato de a minha porta estar trancada quando eu fui dormir.
  Ele ria silenciosamente, provavelmente da minha cara, enquanto eu tentava me desenroscar do lençol para levantar.
  - Senti saudades de te ver acordar. - confessou ele, me fazendo parar entre uma dobra e outra do lençol preso em minhas pernas, meus olhos ergueram-se até os dele, só então me dei conta do que estava havendo. Ele estava ali de novo, me acordando como costumava fazer quando dormíamos juntos, o mesmo sorriso, os mesmos olhos de criança travessa e a mesma energia que nos envolvia. Era tudo íntimo demais para dar certo.
  - Não... Isso está errado. - falei mais para mim mesma, numa tentativa de me conscientizar. Finalmente soltei minhas pernas e levantei, afastando-me o suficiente até bater as costas na parede. - Como você entrou aqui?
  - me deu a chave, ela saiu com a minha família para visitar uns pontos turísticos e ainda não voltou.- respondeu ele levantando devagar, com medo que eu recuasse ainda mais. - , senta aqui, eu vim conversar com você.
  - Não! - levantei o dedo indicador, impedindo que ele se aproximasse. - Gabriel, foi ótimo te rever, mas não podemos passar disso, você tem uma carreira incrível e uma namorada linda, fala sério, quem trocaria ela por mim? Quem sou eu na fila do pão? Isso está muito errado. Eu preciso tomar um ar, uma água, um banho... Sozinha. - Não deixei que ele falasse, apenas dei-lhe as costas e caminhei para o banheiro, tranquei a porta e me aproximei da pia fitando meu próprio reflexo no espelho sobre ela, abri a torneira e molhei o rosto, peguei a toalha e enxuguei. Respirei fundo e deixei o banheiro, para minha surpresa ele continuava a minha espera, só que desta vez no corredor. - Gabriel, eu...
  - Relaxa, . - disse calmamente. - Vai ter um luau essa noite, eu vou esperar você. - e com seu típico sorriso devastador e uma piscada de olho ele se foi.
  Eu ainda estava aérea quando chegou no quarto, já passava das dez da noite e eu ainda não havia feito mais do que tomar banho, pentear os cabelos e pensar na vida. Como assim eu havia saído de São Paulo para reencontrar o cara em Alagoas? Que tipo de piadinha do destino era essa? Estavam me sacaneando? Por que só pode ser isso. Minha cabeça dava voltas incessantes na confusão dos meus sentimentos.
  - Acorda, irmã. - me sacudia pelos ombros, chamando minha atenção. - Você não vai jantar? - perguntou quando eu enfim a olhei.
  - Não estou com fome. - respondi brevemente. Olhei para janela do quarto e a noite me atraía, eu consegui ver as estrelas pontilhando o céu. - Vou para o luau. - disse de repente. me olhou como se eu tivesse dito que ia devastar a Amazônia, por um segundo ou dois ela duvidou da minha sanidade.
  - Está falando serio? - questionou. Assenti e levantei para pegar a roupa, ela fez o mesmo sem que eu pedisse. O bom de ter uma irmã como ela é que eu nem precisava dizer nada, me conhecia bem o suficiente para saber do que eu precisava.
  Quando terminamos de nos vestir deixamos o quarto rumo a praia pela segunda vez naquele dia, a pousada já tão calma encontrava-se praticamente as moscas, silenciosamente calma, um indicativo que todos deveriam estar na festa da praia. enganchou seu braço ao meu e seguimos para fora da hospedagem, cada passo à vencer os duzentos metros que me separavam da praia eu sentia a ansiedade me abordar como uma velha amiga. Suspirei pesadamente quando tocamos a areia. Não precisei dar três passos para identificar a família Medina confraternizando com as demais pessoas próximo a um quiosque que deveria estar exclusivamente aberto para o evento. Minha irmã praticamente me guinchou até lá.
  - Boa noite, pessoal! - ela disse animada, atraindo atenção demais para nós. Olhei-a de soslaio com uma vontade imensa de atirá-la atrás do balcão, todavia eu não faria isso. Olhei ao redor e percebi que ele não estava ali, nem a modelo que o acompanhava.
  - Olá meninas, demoraram hein?! - o tom de voz de Felipe indicava algo que eu não consegui entender, olhei para Sophia que parecia estar com dor no pescoço, já que virava a cabeça para um lado só e fazia caras e bocas.
  - Soph, você está...
  - Mana, vamos dar uma volta? - não tive chance de escolha a não ser seguir pela praia, ela me guiou até o lado oposto de onde chegamos e parou no meio do caminho. - Você fica aqui, eu vou ali cuidar da mocreia, você não se mexe. - ela apontou o dedo para mim, numa ordem clara que eu seri torturada se ousasse me mexer mais do que alguns centímetros. Sem entender nada, vi minha irmã se afastar.
  - Depois a louca sou eu. - resmunguei comigo mesmo, chutando um punhado de areia para o nada.
  - Disso eu nunca duvidei. - Ah droga, aquela voz de novo! Gabriel caminhou até parar de frente para mim. Sob a luz das estrelas ele parecia uma miragem. Com uma camisa regata branca e a típica bermuda surfista ele parecia o mesmo garoto que namorei. - Então você veio mesmo... - disse num tom avaliativo.
  - Ué, claro. - dei de ombros. - Agora vamos ao que interessa, qual a pegadinha? - perguntei rapidamente, fazendo-o arregalar os olhos de susto, e no momento seguinte rir da minha cara. Sinceramente, eu deveria parecer em algo com Patati, não é possível.
  - Ai, , você não muda mesmo. - ele disse após a crise de riso indiscriminada da minha cara. - Direta e reta como sempre, ah e estressadinha também.
  - Ótimo, o que falta pra lista? Mal humorada, irritante...
  - ...Baixinha, tagarela, mandona...
  - Que beleza, me chama pra me ofender. - cruzei os braços sob os seios, na defensiva como sempre. - Agora que já acabou com a pouca reputação que eu tinha vai me dizer o que quer comigo ou vai continuar deixando a namoradinha esperando? - meu tom saiu mais ácido do que eu previ, mas naquele momento isso realmente não importava. Estar naquela situação perto dele não me fazia bem, eu não conseguia reagir de forma racional.
  - Você realmente acha que eu tenho algo com a Isabella? - ele perguntou após me avaliar por um minuto e meio.
  - Não... - respondi ironicamente. - A não ser pelo fato dela ter praticamente escrito na areia hoje cedo que queria passar uma tarde muito acalorada com você, eu diria que você não tem nada com ela. - praticamente sublinhei as palavras. - Melhor ainda, eu pontuaria que vocês são discretos como monges.
  - Monges? - e lá estava ele achando graça de novo.
  - Faz um favor pra mim, Gabriel. - disse enquanto começava a andar. - Volta pra miss garota do verão e me deixa em paz. - dei-lhe as costas mais uma vez e comecei a marchar rumo ao lugar de onde viera. Puta merda, eu teria que arrumar outro lugar para me hospedar se não quisesse perder as férias. Senti quando algo puxou meu braço, fazendo meu corpo girar e bater de frente com o dele. No momento seguinte eu estava presa entre seus braços, com os pés flutuando no ar e com os lábios dele presos aos meus, impedindo que eu revidasse em qualquer nível suas afrontas.
  Para minha total falta de crédito eu simplesmente enlacei meus braços ao seu redor e me entreguei de corpo e alma aquele sentimento de saudade e desejo que me acompanhava a tanto tempo que eu já nem lembrava quando começara. Enquanto ele me puxava mais para si, numa tentativa falha se me colar em seu corpo eu me perdia na sensatez abandonada pelos lábios dele. Suas mãos apertavam fortemente minha cintura, meu corpo respondia sem que eu precisasse pensar, meu peito se enchia de um calor desconhecido até ouvir:
  - O que é isso? - só então a realidade caiu sobre mim como uma bomba na guerra, devastadora e cruel. Soltei-me de seus braços e perdi o equilíbrio quando meus pés tocaram o chão, vi sua mão tentar me alcançar, mas eu não deixei. Minha expressão deveria estar impagável demais. Arfante, com os olhos arregalados e com o coração em pedaços vi a tal Isabella se aproximar dele e olhar para mim como se procurasse uma razão para que Gabriel Medina, o famoso surfista do momento estivesse beijando a garota que parecia um anão da Branca de Neve se comparada a ela. A humilhação me dilacerou como ácido ao tocar na pele, engoli o choro e saí de lá o mais rápido possível.
  - volta aqui, o que aconteceu? - a voz de soou próxima enquanto eu caminhava em direção a pousada.
  - Nada, ele me beijou, ela chegou e eu sobrei. Fim. - falei rápida e ríspida, destrancando a porta do quarto e entrando no mesmo, não tive tempo de fechar a porta porque três pessoas passaram por ela antes disso. Felipe, Sophia e me encaravam a espera de algo. - O quê?
  - fala serio, ela é ridícula! - reclamou minha irmã. Revirei os olhos.
  - Eles estão juntos, ótimo. Não deveria ter acontecido o reencontro, menos ainda o beijo, agora nós vamos esperar amanhecer, achar outra pousada aqui em Maragogi mesmo e curtir os últimos dias de férias. - falei exasperada para todos.
  - Eles não estão juntos, ela descobriu onde estávamos e veio atrás. - Sophia entregou.
  - Isso não muda nada. - amenizei o tom para me dirigir a ela, Soph era como minha irmã mais nova, uma princesa. - Eu agradeço o carinho que vocês tem por mim, eu também adoro vocês, mas não dá.
  - Adora todos nós? - Soph insistiu um pouco mais e foi minha vez de rir, puxei-a para um abraço.
  - , presta atenção no que vou dizer. - Felipe tomou as rédeas da situação. - Isabella namorou com ele por dois meses, não deu certo e ele terminou, ela não entendeu ainda e vive conosco como se fosse da família, porém entenda, ela não é! - me assustei ao ver meu ex cunhado soar tão expressivo.
  - Fe..
  - Nem Fe, nem meio Fe. - até havia sentado na cama, chocada com a reação do rapaz. - Meu irmão deve estar falando um monte para ela nesse momento, ele não ama ela, ama você e todo mundo está cansado de saber disso!
  - Nós terminamos há dois anos, Felipe. - falei o óbvio, como se fosse impossível aquilo acontecer.
  - E daí, você o esqueceu nesse meio tempo? - ok, agora apelou pro pessoal num nível hard.
  - A pauta não é essa... - tentei desconversar.
  - Para de agir como se não gostasse dele, você sabe, minha família sabe, se bobear até os sereianos sabem! - reclamou exaltado.
  - Você assistiu muito Harry Potter, Fe. - comentou.
  - Que seja! Agora você vai descer para piscina, vai ficar bonitinha lá esperando o mané do meu irmão dispensar a... - ele parou de falar ao ver a expressão curiosa de Sophia. - Fofa da Isabella e vir falar com você, certo? Certo. Agora vamos! - e Sophia se dispuseram a aplaudir Felipe enquanto eu não sabia se ria ou chorava com o que ele havia dito.
  Assim que chegamos à área da piscina todos sumiram, me deixando sozinha de novo. Aparentemente, hoje era o dia do "Vamos deixar a alone". Permaneci sentada na espreguiçadeira, com a sensação de humilhação ainda queimando meu estômago. O som de passos se fez ouvir, e parou em seguida quando alguém ocupou um espaço ao meu lado.
  - Me desculpe pelo que aconteceu. - ele disse, e eu não soube se o pedido era pelo beijo ou pela interrupção. - Isabella é inconveniente e eu não estou com ela, não tive tempo de dizer isso antes de tudo acontecer. - permaneci quieta ouvindo. - Você não vai me dizer nada?
  - O que quer que eu diga? - finalmente o olhei, podia sentir meus olhos marejarem, todavia reprimi fortemente que as lágrimas rolassem.
  - Eu não sei... - seus olhos trazia consigo a tristeza e insegurança que eu vi no dia que terminamos. - Me diga o que está sentindo, me diga que me odeia ou que realmente não me esqueceu, sei lá, me diz qualquer coisa! Tudo é melhor do que o seu silêncio, ele sempre foi devastador para mim. - suspirei trêmula.
  - Muito bem, eu estou mais do que irritada, estou irritadíssima! - comecei. - Quando vim para cá, não imaginei encontrar você, na verdade eu só queria paz e sossego por uma semana, era tudo o que eu estava pedindo, mas em menos de dois dias tudo foi por água abaixo, meu pensamento grita que sou louca e que deveria fechar a conta e ir embora daqui a cada dois segundos! - mostrei os dois dedos, dando ênfase ao que dizia.
  - Isso quer dizer que me ver foi ruim... Que você não sente mais nada? - ele perguntou me olhando de lado, como se estudasse tudo o que eu dizia.
  - Não, para o meu total azar eu estou com raiva de mim por estar morrendo de ciúmes daquela modelo, e de você por me fazer sentir isso, e mais ainda do Cosmo que me trouxe pra cá na mesma época que você está, então querido vai por mim, eu já nem sei se amo você ou quero te matar agora. - disse tudo de uma vez, sem pausa. Gabriel me estudou por mais alguns instantes antes de se aproximar novamente.
  - Eu imagino a sua vontade de matar a mim, de se estapear e tudo mais neste momento. - ele tomou minhas mãos nas suas. - Mas não pode culpar o Cosmo por ter me trazido você de volta. - arqueei uma sobrancelha para ele.
  - E quem te disse que voltei pra você?
  - Ah é mesmo, eu deveria dizer que você precisa ficar comigo, mesmo que vivamos cada um num polo do planeta... - ele estava zombando de mim, bufei.
  - Se quer isso mesmo, me convença. - desafiei-o, ele sorriu. Estávamos voltando aos velhos tempos. - Me faça uma proposta descente que vale a pena voltar para você.
  - Eu poderia começar dizendo que somos incríveis juntos, como a sintonia e a rádio ou o mar e as ondas... Também poderia usar minha família e a sua como referência, já que eles nos adoram juntos. - assenti ponderando suas palavras. Um sorriso traidor já se abria em meus lábios. - Mas dizer que eu te amo acho que já é bom começo. - Ponto para o Medina!
  - Acho que nesses anos que passamos afastados, você andou estudando propostas e advogando, porque isso foi memorável. - sorri para ele, com um brilho radiante nos olhos o senti me puxar para mais perto e acolher meu corpo em seu abraço. Naquele instante, os sentimentos me tomavam como uma torrente de água ao inundar a praia quando a maré sobe. No fim das contas, a resposta para minha pergunta idiota fosse: Quem era eu na fila do pão? A mulher que carregava consigo o coração dele.

FIM



Comentários da autora


  Oi para você que leu a fanfic inteira e agora está lendo a notimha dessa autora perturbada. Obrigada por disponibilizar seu tempo nessa leitura, é muito importante a sua opinião então não deixe de comentar, por favor. Devo um agradecimento especial a minha leitora beta linda, a Mayara. Agradeço a beta que aceitou essa história, e dedico essa fanfic para minha amiga que é tão fã do Medina quanto eu: Nany, obrigada pelo apoio, e a Viviane por me distrair e palpitar na escrita da história. É isso, qualquer coisa é só entrar no grupo do facebook (https://www.facebook.com/groups/376303229173435/) onde posto as novidades sobre minhas fanfics.
  Xx Mary.