Easy Target - Who'd Have Known?
Escrito por Zã Nogueira | Revisado por Luma
Acordei meio zonza, sem saber direito onde estava. A certeza de que estava deitada sobre um colchão macio e não ouvia o ronco de Miranda vindo do bunk inferior me dava à certeza de que não estava no nosso ônibus. Porem, também não estava em casa, pelo menos não na minha. Voltei a fechar os olhos, disposta a fazer uma retrospectiva dos últimos acontecimentos.
Lembrava-me de estar na turnê mais incrível com as meninas. Nós voltaríamos para New York em poucos dias, e aquele era um dos últimos shows. estava feliz, porque o próximo seria na cidade do namorado dela. Concordamos em sair de lá logo depois que terminamos o show, assim poderia aproveitar e ficar com ele. Primeiro erro.
Chegamos ao hotel e ainda era madrugada. A viagem era de um pouco mais do que quatro horas. O namorado dela já estava lá, como se não fosse três da manhã, bem como o amigo idiota dele. Ele estava parado na recepção, sendo fofo com as mãos no bolso do seu jeans justo e usando uma toquinha tentando disfarçar a bagunça óbvia que seu cabelo era. Ele sorriu ao me ver e eu não resisti e respondi com um sorriso também. Segundo erro.
Nós dois ficamos nos olhando em silêncio enquanto e ficavam de amorzinho bem na nossa cara, só faltava gritarem "isso é o que vocês teriam se não fossem tão idiotas". Eu rolei os olhos e riu. Logo o saguão estava tomado pela equipe e membros da nossa banda Easy Target.
- Vocês dois querem parar antes que eu compre uma passagem para ir ver o meu namorado nesse momento? – Lauren, a nossa baixista, resmungou dando um tapinha no ombro de .
Iniciou-se uma rodada de cumprimentos e tudo mais e eu permaneci no mesmo lugar, esperando alguém me dar a chave do meu quarto para que eu pudesse dormir. Sentia o olhar de em mim, mas nem por um momento ousei olhar de volta. Sabia muito bem o que acontecia quando cedia aos meus impulsos.
Finalmente Frank, nosso tour manager, deu a chave dos nossos quartos.
- Garotas - falou ao notar que todas nós realmente planejamos ir dormir um pouco – Vocês não querem realmente dormir, querem? Eu tenho planos para essa noite. Vocês podem dormir amanhã.
- O que você tem em mente? – Miranda, nossa guitarrista, perguntou – Porque estamos dormindo em bunks, tem que ser algo muito tentador para me afastar da primeira cama decente em dias.
- Só os seus garotos favoritos de Baltimore e toda a bebida que vocês conseguirem tomar – ele disse.
- Boa noite. – ela falou rindo, voltando a caminhar para o elevador.
- Lauren? – tentou.
- Vou ligar para David e cair na cama – ela disse indo com Miranda.
- Então somos apenas nós – ele disse olhando para o saguão vazio, já que todas as pessoas ajuizadas da equipe sabiam que seria um dia longo ao amanhecer.
- Na verdade ... – eu comecei.
- Eu não vou aceitar nenhuma desculpa esfarrapada, . Você vai sair comigo essa noite.
Eu estava cansada e super aceitaria cair na cama naquele momento e acordar somente na manhã seguinte, mas eu o conhecia bem para saber que nunca ganharia uma discussão contra ele.
- Certo, eu vou. – disse enfim. Terceiro erro.
Voltei a abrir os olhos, agora tudo aquilo fazia sentido. Estava na casa de , quarto de visitas. A carteira de e seu celular ainda estavam no criado mudo e o cheiro dele ainda estava no travesseiro ao lado do meu. Já era de se esperar, sempre acabava em alguma cama com ele quando o álcool em meu sangue me impedia de negar o obvio. Eu o queria.
Eu havia conhecido e o restante da banda dele quase três anos atrás, quando a Easy Target foi a banda de abertura de uma turnê do All Time Low. Logo, vários rumores começaram. Alimentados pelo fato da Easy Target ser uma banda só de meninas que são conhecidas por, er, digamos, aproveitar bem a vida. Então antes que pudéssemos nos dar conta, eles começaram a se tornar realidade. Quer dizer, quando um cara tão lindo e bacana como começa a te dar mole, você tende a querer retribuir as coisas. Começaram com abraços que duravam bem mais do que o necessário, depois conversas cheias de risadas e duplos sentidos, passando por drinks e a necessidade de nossas peles se tocarem e então as brincadeiras e a facilidade dele de me carregar por ai, finalmente chegando aos beijos inocentes e aos não tão inocentes assim.
Típica história de amor, exceto que não era. Fora um verão incrível, mas era isso, um caso de verão. Fim da turnê, estávamos de volta a New York, enquanto ele voltara para Baltimore. Nós nos falávamos com alguma frequência, mas em nenhum momento sobre nós. Nossos melhores amigos começaram a namorar e eu tinha certeza que falava de mim para ele do mesmo jeito que fala dele para mim.
Nas vezes que nos vimos durante esse tempo, era sempre assim. Não havia como negar a química entre nós, esse desejo ardente de um pelo outro, mas ao mesmo tempo não tínhamos muito mais do que isso. Então tínhamos um primeiro contato meio constrangedor, onde tentávamos inutilmente evitar contato físico, nem ao menos sustentávamos o olhar por muito tempo, até o momento em que a tensão era grande demais para suportar e terminávamos por aliviá-la em alguma cama.
Caminhei até a cozinha onde e conversavam. Antes que eu conseguisse entender sobre o que eles falavam, me viu e sorriu.
- Bom dia, !
- Dia – Eu murmurei de volta e até sorri para , o que é uma evolução do que costumam ser as nossas manhãs seguintes. Sentei-me a mesa e nós três comíamos cereal quando se juntou a nós. Logo começamos a falar dos acontecimentos da noite anterior, o que me ajudou a preencher as poucas lacunas em branco em minha memória, apesar de que devo admitir que fosse difícil pensar em qualquer outra coisa além do que acontecera naquele quarto há vinte passos de distância com , cujo joelho tocava no meu sob a mesa naquele momento, querendo com que eu o puxasse pela gola daquela camisa idiota que ele vestia somente para repetir tudo. Porém, pela cara dele encarando o cereal boiando no leite na tigela na frente dele, eu era a única com esse desejo.
- Vocês irão ao show hoje, certo? – disse, me trazendo para a realidade.
- Ah, sim, sim, claro. – disse de repente, parece que eu não fui a única a ser acordada.
- Falando nisso, temos que ir ou perderemos a chamada. – disse feliz em ver que minha voz estava melhor, afinal, sendo a vocalista da banda, estaríamos ferradas se eu aparecesse rouca por conta de uma bebedeira na madrugada anterior ao show.
Nos arrumamos e entramos no carro de , que nos levaria de volta ao hotel. Eu e sentamos no banco de trás e ambos parecíamos mais interessados na paisagem lá fora do que na conversa de e , que contava as histórias da turnê. O caminho foi mais longo do que eu esperava, mas enfim chegamos ao hotel. Me despedi a distância, correndo para o meu quarto. Tomei o melhor banho das últimas semanas e enfim pude relaxar um pouco. Bem pouco. Logo tive que arrumar as coisas – quase nada, visto que havia passado menos de uma hora naquele quarto – e desci para o hall. Entramos na van que faria o transporte até a casa de shows, bem perto dali. Todos estavam empolgados para o show esgotado que faríamos naquela noite, mas eu só conseguia pensar no que de fato estava fazendo com minha vida amorosa. Porque por mais que eu insistisse para mim mesma – e minhas colegas de banda – de que não amava e até pegar alguns caras bonitinhos na estrada, nada sério havia acontecido na minha vida, me fazendo a única solteira ali. Elas continuavam a fazer o que fazem e eu estava em meu banco, encarando a paisagem, até ver a fila que já virava o quarteirão. Um sorriso brotou em meu rosto, nada me empolgava mais do que ver tanta gente apoiando nossa música. Entrei no ritmo das meninas e com essa felicidade, entramos na casa de shows. Mayday Parade, a banda que estava conosco naquela turnê, também já estava ali. Nós revezávamos a ordem dos shows, já que ambas as bandas lideravam a turnê, e aquela noite eles tocariam depois de nós.
Hora do show. Era incrível como eu nunca me acostumaria com o som de milhares de pessoas cantando as músicas que eu escrevi. Nunca pensei que alguém mais poderia se relacionar com as coisas estranhas que se passavam em minha cabeça e coração, mas aparentemente elas estavam ali, gritando cada palavra. Olhei para Miranda ao meu lado e nós demos uma risada, talvez ela estivesse pensando na mesma coisa, ou talvez só achasse espantoso o som daquele coro em nossa frente. O nosso set decorreu como o planejado e agora eu deveria tocar uma de nossas músicas acústicas sozinha, enquanto as meninas faziam nada ali do lado do palco me esperando acabar. Hoje porém, eu tinha outro plano.
- Boa noite, Baltimore! – eu disse e ouvi berros enlouquecidos como resposta – Vocês já ouviram uma música pensando "nossa, isso é exatamente o que eu queria falar!"? – mais gritos de resposta. Sentei-me ao piano, colocando o meu microfone no suporte, enquanto ponderava sobre o que estava prestes a fazer. Sentada de lado para o público, eu ficava de frente exatamente para onde e nossos amigos estavam, mas não ousava olhar naquela direção, ficando bem mais interessada em olhar as teclas brancas em minha frente – Eu também. Essa música que vou cantar agora não fui eu quem escreveu, mas eu gostaria que tivesse sido. Ela diz exatamente o que eu não tive capacidade de falar, mas espero que as coisas mudem agora... Essa é para você - eu disse olhando firmemente para , que retribuía com um olhar curioso.
Comecei a tocar a introdução, quase duvidando que minha voz fosse realmente sair.
It's 5 o'clock in the morning, the conversation got boring, you said you were going to bed soon, so I snuck off to your bedroom.
And I thought I'd just wait there, until I heard you come up the stair, and I pretended I was sleeping, and I was hoping you would creep in with me.
Eu sentia os meus dedos escorregarem levemente devido ao suor. Eu estava nervosa, mas me esforçava para que minha voz continuasse firme e clara. Felizmente, parte do público cantava comigo, o que me deixava mais calma, apesar de ainda sentir o olhar de sobre mim.
You put your arm around my shoulder and it was good the room got colder and we moved closer in together
And started talking about the weather, you said tomorrow would be fun and we could watch a place in the sun
I didn't know where this was going when you kissed me.
Eu me lembrei da primeira vez que ele me beijou, quando ainda estávamos naquela turnê. Todo mundo havia saído, mas eu estava um pouco doente e achei melhor tentar preservar a voz. Ele se voluntariou para ficar comigo, mesmo eu insistindo que tudo estava bem. "Sem você não tem graça", lembro-me perfeitamente de tê-lo ouvido dizer essas palavras. Eu sorri mais abobada do que gostaria e nós ficamos conversando até às cinco da manhã, quando ele falou que queria dormir. O quarto dele era no mesmo andar do meu, mas algumas portas distante. Ele disse que eu poderia ficar lá até alguém aparecer se quisesse, mas eu conseguia ler todas as segundas intenções em cada palavra. "Acho que amanhã não vai chover", ele disse antes de me beijar. Caiu a maior tempestade no dia seguinte.
Are you mine? Are you mine? Cause I stay here all the time watching telly, drinking wine
Who'd have known? Who'd have known? When you flash up on my phone, I no longer feel alone. No longer feel alone.
Os dias de turnê se foram, estávamos de volta ao presente. Voltei a olhar para ele, que parecia paralisado me vendo. Por um momento foi como se estivéssemos a sós, como se as milhares de pessoas cantando a batendo palmas fossem invisíveis. Só havia ele, sempre fora assim. Só ele e mais ninguém.
I haven't left you for days now and I'm becoming amazed how you're quite affectionate in public. In fact your friend said it made her feel sick and even though it's moving forward there's just the right amount of awkward and today you accidentally called me baby
Voltei a lembrar do nosso passado, como vivíamos grudados, como ele era fofo, apesar de não ser meu namorado, como as meninas reclamavam do nosso doce e de como eu derretia cada vez que ele usava meu apelido.
Let's just stay, let's just stay, I wanna lie in bed all day, we'll be laughing all the way
You told your friends they all know we exist but we're taking it slow
Let's just see how it goes, let's see how it goes
Ele deu um sorriso. Talvez estivesse entendendo onde eu queria chegar, talvez eu estivesse fazendo um papel idiota. Bom, agora era tarde demais para voltar. Finalizei os últimos acordes e recebi uma salva de palmas e gritos. Me sentia mais leve, de um jeito ou de outro, agora ele sabia.
As garotas voltaram, terminamos como o nosso maior hit e fim de show. Fomos recebidas com muita cerveja e trocamos abraços suados da nossa parte com os garotos do Mayday Parade, que já se encaminhavam para o palco. Nós, como todas as noites, estávamos empolgadas dançando na lateral do palco, escondidas por caixas de som, exatamente onde , e Flyzik estavam antes. Os três garotos permaneciam ali, conversava com Lauren e eu fingia estar numa conversa com Flyzik e Miranda, mas não estava realmente prestando atenção. Minha garrafa estava vazia e eu precisava ir ao banheiro, então fui de volta ao camarim. Ao sair do minúsculo banheiro, dei de cara com sentado no sofá do camarim, segurando a garrafa vazia de Stella em suas mãos.
- Oi. – ele disse e eu respondi tão baixo que tinha dúvidas se ele havia ouvido, já que Mayday Parade já havia começado seu set – Você arrasou lá fora.
- Obrigada. – elevei um pouco mais a minha voz.
- E aquele cover, Lily Allen, certo?
- Hm, é. – eu continuava de pé ali e ele largado no sofá.
- Você sabe que em algum momento nós teremos que falar sobre isso ou eu deveria cantar uma música de volta? – ele falou debochado e eu ri.
- Talvez. – respondi.
Foi então que Kids in Love começou a tocar.
- Eles roubaram a minha música! – ele falou olhando para a porta.
- Bom, a música é deles, então tecnicamente, eles detêm os direitos sobre ela.
- Detalhes. – ele rolou os olhos e finalmente levantou, deixando a garrafa abandonada no chão. Ele caminhou até mim e parou a quando nossos narizes quase se tocavam – Então quer dizer que você quer mais do que amizade?
Eu tomei folego e antes que conseguisse exalar, senti o gosto de misturado com cerveja em minha boca e em dois tempos ele me carregou pelas coxas, me jogando no sofá anteriormente ocupado por ele. Ainda ouvia Mayday Parade ao fundo e as mãos de já estavam sob minha blusa, tratando de arrancá-la de mim em seguida. Nossos lábios pareciam fundidos e estávamos prontos para perder mais algumas peças de roupa quando Flyzik entrou no camarim, que ainda estava com a porta aberta.
- Vocês foram fazer essa cerveja? – ele disse antes de perceber a situação que havia interrompido. Então a visão do meu sutiã rendado parecia ser bem mais interessante do que dar o fora.
- James!
- Oi – Ele respondeu sem tirar os olhos de mim, que não conseguia evitar a risada enquanto vestia a minha camisa.
- Você quer parar de encarar os peitos da minha namorada?
- Ah... Não... Quer dizer, sim... Quer dizer, não, eu não estava encarando... Namorada?
- Vamos – ele disse me pegando pela mão e saindo dali.
Achei que voltaríamos para onde nossos amigos estavam, mas ele caminhava para a saída da casa de shows.
- , onde você está indo?
- Hotel.
- Nós não deveríamos avisar alguém?
- Depois. – ele sorriu e piscou.
Não avisamos. Na verdade, somente depois que o show acabou e que nossos telefones começaram a tocar sem parar é que lembramos que havíamos fugido. atendeu meu telefone e falou com Frank que parecia nem um pouco surpreso. Nós dois ficamos naquele quarto de hotel como se fosse o nosso mundinho particular e nele ficamos até a manhã seguinte, era hora de partir.
Mais tarde, já no ônibus que rumava para New Jersey, ainda não conseguia tirar aquele sorriso idiota do meu rosto. A noite passada tinha sido incrível, em todos os aspectos possíveis e agora eu me sentia mais leve. As coisas terminaram sendo muito melhor do que eu esperava. Eu acreditava que ia tirar um peso de meus ombros e falar para como realmente me sentia em relação a nós dois, mas, além disso, havia recebido a melhor reação que poderia, ele não somente sentia o mesmo, como agora era meu namorado. Meu celular apitou em minha mão e eu li a mensagem que ele me mandara: “nos vemos na próxima semana”. Apenas isso, uma única frase, mas era a certeza que as coisas iam ficar bem. Aquele era o primeiro acerto.