Do You Want to Build a Snowman?
Escrito por Mare-ana | Revisado por Mariana
Se alguém pedisse à para responder rápido qual era sua cor preferida, ela diria roxo, com certeza. Se dessem à ela tempo para pensar, ela responderia vermelho. Se perguntassem durante a páscoa, cinza era a escolha. No natal, verde. Mas não importa qual fosse a ocasião, nunca responderia “branco”.
Uma análise mais profunda de teoria das cores mostra que o que existe em demasiado não são cores, e sim tons. Por exemplo: peguemos o vermelho, cor primária. Ele é uma cor. Tiremos agora suas variações: vermelho sangue, borgonha, bordô, escarlate... Todos vermelhos, todos diferentes. Mas branco não é uma cor. Muito menos um tom. Branco é apenas a mistura de tudo. Pinte um círculo cromático em uma folha. Fure-a no meio, coloque um palitinho e rotacione em uma velocidade x. Ficará branco. Todas as cores irão se juntar, e se transformar em uma. O branco não possui uma identidade própria; ele apenas pega a identidade de todos os outros para si.
definitivamente não gostava de branco.
E ao olhar pela janela, o branco era tudo o que via.
Seu queixo estava apoiado em sua mão direita. O cotovelo estava apoiado no batente da janela. Sua respiração contra o vidro deixava-o embaçado. O cachecol rosa ao redor do pescoço pinicava, mas era uma sensação suportável. Ela precisava se manter quente. Sabia que seu nariz estava vermelho e gelado, mas não fazia nenhuma questão de esquentá-lo; apenas embaçava e desembaçava o vidro.
Do outro lado da sala lia um livro, sentado em frente à lareira. Seus olhos por trás dos óculos de grau se mexiam com rapidez. Cada palavra era engolida pelo garoto. O livro não era seu estilo preferido de leitura, mas até estava interessante. Ler era sua paixão desde sempre, ainda mais em dia de neve como aquele.
Conseguia ouvir os suspiros de . Sabia que ela estava entediada, mas não havia muito que pudessem fazer. Estavam sem energia, as ruas interditadas e sem sinal de celular. Era triste, porque haviam combinado de assistir filmes juntos, debaixo do edredom. Chronicle, seria o filme. Escolha dele.
E agora ele estava sentado, lendo um dos livros de romance adolescente de , enquanto ela encarava a janela, emburrada. Como se fosse mudar algo.
- – ouviu a namorada chamar. – Quer construir um boneco de neve?
desviou os olhos do livro e encarou a garota. Perguntou-se se ela havia ficado maluca, ou se a proximidade excessiva da janela havia de alguma maneira congelado seu cérebro.
- Você está falando sério?
- Sim – ela se levantou e foi sentar-se ao seu lado. – Eu estou bastante entediada, e seria legal fazer algo.
- Você pode pegar um livro e ler, assim como eu.
- Eu já li todos os meus livros, – revirou os olhos.
- Você pode dormir.
- Sério?
- Eu durmo com você – ele piscou para ela, fazendo-a rir. – Com certeza está extremamente frio lá fora, .
- Sim, mas... Vi umas crianças fazendo um boneco, fiquei com vontade.
- Bom, elas são crianças, tem licença poética para isso. Nós já somos burros velhos.
- Eu gosto dessa sua expressão – levou a mão à boca e soltou uma risadinha. Às vezes ela tinha atitudes tiradas de desenhos infantis. – Burros velhos. Nós somos mesmo, né? Mas isso não nos impede de construir um boneco de neve.
- O que parece querer me impedir, , é a sanidade. Eu ainda possuo.
- Eu também! Mas qual a graça de ter um dia de neve se nós não vamos brincar nela?
- Você nem gosta de neve. E seu nariz está vermelho.
- Eu gosto dele vermelho, me dá um ar sexy.
- Certamente – riu totalmente irônico, fazendo com que desse um leve tapa em seu ombro.
- Você é chato – ela fez bico e descansou a cabeça no ombro do namorado. Ele apoiou sua cabeça na dela.
Ouviu começa a cantarolar uma música qualquer enquanto ele continuava a ler o romance. Contava a história de uma garota um tanto quanto problemática, que aparentemente conhecia o amor da sua vida, o príncipe encantado.
- – ele esperou ouvir o “hm” de resposta para continuar. – Você parece bastante com a Lea.
- Do livro? Por quê?
- Uma menina esquisita que encontra o namorado perfeito.
- Ha-ha – ela riu sem humor. – Já te mandei ir se foder hoje? – ela encarou o encarou.
- Não, Rudolph, hoje não.
revirou os olhos, enquanto apenas ria. Deixou o livro de lado e envolveu a cintura da namorada, puxando-a para mais perto e dando um rápido beijo em seu nariz gelado.
- Eu gosto do seu nariz vermelho, Rudolph. Mas pode ficar tranquila que hoje eu te ajudo a esquentar – sorriu antes de envolvê-la mais, deixando com que o nariz gelado da garota fosse de encontro com seu pescoço quente e nu, e fazendo com que ele se arrepiasse.
Sentiu se mexer e depositar um beijo em seu pescoço, exatamente no ponto gelado onde antes de encontrava o nariz não-mais-tão-vermelho dela.
sorriu antes de inclinar a cabeça e selar seus lábios nos dela.
- Sabe o que seria mais legal, ? – se afastou após poucos segundos. – Construir um boneco de neve.
- Você não vai desistir, não é?
- Não.
suspirou pesadamente. Apenas de olhar pela janela já sentia o frio congelar até seus ossos. Ali estava bom; de frente a lareira, com em seus braços. Não entendia por que queria tanto sair dali, mas também sabia que, quando ela colocava algo na cabeça, nada tirava.
- Ok, senhora , você venceu. Vamos construir esse maldito boneco de neve.
levantou-se em um pulo, sorrindo feito uma criança. Observou enquanto colocava luvas, um cachecol e uma jaqueta mais grossa.
Saíram de mãos dadas em direção ao quintal nos fundos, onde não ficariam a vista dos vizinhos e transeuntes aleatórios. soltou-se de e correu para neve, ajoelhando-se e começando a formar um pequeno monte de neve.
ajoelhou-se ao seu lado, colocando mais e mais neve no montinho. Continuaram neste processo até o monte parecer grande o suficiente para servir de base a um boneco.
- Acha que é um bom tamanho? – olhou preocupada. – Parece um pouco pequeno.
- Parece perfeito – sorriu, chegando perto da namorada e beijando seu rosto. - Que tal fazermos a segunda parte?
concordou com a cabeça e logo começaram com a segunda parte, que demorou um pouco mais, já que em alguns momentos decidia começar uma pequena guerra de neve. Quando finalmente ficou pronto, ambos pegaram o meio e colocaram sobre a base.
- Isso não é realmente redondo.
- Nosso boneco é especial. Agora falta a cabeça.
O processo de construção da cabeça foi rápido, mas procurar por pedrinhas em meio a neve para fazer os olhos e boca do boneco foi bastante complicado.
- Sorte aí? – perguntou enquanto cavava mais uma parte da neve.
- Achei três pedrinhas. E você?
- Quatro. Cinco. Tá complicado.
- Nevou demais. Seis. Será que foi mesmo uma boa ideia?
- Sete. Não me venha com essa, . Você que inventou. Oito.
- Mas está sendo divertido. Nove. Não está?
- Talvez. Dez. Tá bom, né?
- Acho que sim – a garota se levantou com as pedras que havia achado e agachou-se novamente ao lado de . – Duas para os olhos e oito para a boca?
- Me parece bom – ele sorriu. – Será que não vai ser uma boca muito pequena?
- Geralmente o tamanho não importa muito – ela levantou a sobrancelha antes de rir e beijar o garoto. – Por exemplo, – ela disse após se separar. – sua boca não é uma das maiores, mas mesmo assim eu a adoro.
- Tenho todo esse charme – ele deu de ombros e levantou, estendendo a mão para que ela fizesse o mesmo.
Caminharam até o boneco e colocaram os olhos e boca, no formato de um sorriso. Afastaram-se e admiraram o trabalho. Não era o boneco de neve mais bonito ou redondo do mundo, mas ainda assim era um lindo boneco.
caminhou para trás de , abraçando-a e apoiando o queixo em seu ombro. envolveu as mãos dele com as suas, encostando-se mais contra seu corpo.
- Amor, acho que nosso filho nasceu – disse baixinho contra a orelha dela, fazendo-a se arrepiar.
- Ele é lindo.
- Amor... Nosso filho não tem nariz – ele riu, sendo acompanhado por ela. – Vou providenciar um.
soltou e foi para dentro da casa. continuou observando o boneco, vendo agora cada uma de suas imperfeições, mas não se importando; gostava daquele boneco porque ele era dela e de .
voltou com algo nas mãos que não reconheceu de primeira, mas assim que ele se aproximou e colocou no local onde deveria estar o nariz do boneco, sentiu vontade de bater nele.
- Sério mesmo, ? Um tomate?
- Não consegui encontrar uma cenoura – ele deu de ombros. – A gente pode o chamar de Rudolph. Puxou a mãe.
- Será que você não vai para de implicar com meu nariz? É só por causa do frio!
- Não – ele riu, se aproximando da namorada, desta vez sem abraça-la, apenas encostando seus corpos. – Mas eu já disse, , que hoje estou totalmente disposto a te esquentar.
FIM

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