Dezenove

Escrito por Zã Nogueira | Revisado por Cáàh (Até capítulo 15) | Natashia Kitamura

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Um - :

  Eu sabia da minha festa há dias, Claire não era boa com surpresas, para ser sincero. Por isso que ao chegar em casa naquele dia, fiz minha melhor cara de admiração ao vê-la com meus amigos em volta da piscina gritando 'feliz aniversário' para mim.

  - Você já sabia, não é? - Ela disse ao passar os braços pelo meu pescoço logo depois que a cerveja voltou a ser a estrela da festa.
  - Você é incrível - Disse sem responder, não queria mentir, mas também não queria que ela ficasse decepcionada.
  - ! - veio até mim e me abraçou, eu não havia a visto até aquele momento e me surpreendi com a presença dela ali. Não pude evitar olhar pelo seu ombro, era impossível vê-la sem ter logo atrás, ou vice-versa, mas aparentemente, minha ex-namorada não estava ali - Feliz aniversário!
  - Obrigado - Respondi sorridente - Sozinha aqui? - Tentei ser discreto, mas ela me deu uma olhada significativa.
  - Isso me lembra de que eu tenho que fazer uma ligação - Ela saiu sem dar explicação e eu voltei a me preocupar somente em me divertir.

Dois - :

  Eu estava parada dentro do meu Bentley, cabeça contra o volante, ouvindo a música abafada que vinha da casa logo à frente. Não sabia se aquilo era uma boa ideia e estava decidida a ligar meu carro e voltar para casa, se saísse agora, ainda poderia chegar a tempo para ver aquele filme com Joseph Gordon-Levitt na tevê.
  Levei a mão até o contato, mas Spice Girls começou a tocar em algum lugar em minha bolsa, então comecei a busca frenética até meu celular. Peguei o aparelho, vendo o nome de minha melhor amiga no visor.
  - Oi - Falei esbaforida.
  - Você vai ficar ai dentro por mais muito tempo? - A ouvi dizer e levantei o olhar, vendo-a na calçada, a vários metros de distância.
  - To indo - Respondi. Desliguei o celular e suspirei, não tinha jeito. Peguei minha bolsa e sai do carro, ativando o alarme em seguida. Ouvi a música aumentando enquanto me aproximava de , que estava parada, segurando um copo longo em uma mão e seu celular em outra.
  - Você está linda - Ela falou me abraçando.
  - Eu poderia dizer a mesma coisa, mas isso é obvio já que este vestido é meu - Disse rindo.
  - Ele fica bem em mim, não acha? - Ela sorriu e entrelaçamos nossos braços, indo para dentro da casa.
  Lá dentro as coisas pareciam controladamente fora de controle. Beer pong, pessoas dançando como se fosse a última festa do mundo e muitas risadas e gritos cantando junto com Def Leppard que tocava ao fundo.
  - Vou pegar algo pra gente beber - disse e saiu antes que eu pudesse impedi-la de me deixar sozinha naquele lugar. Apesar de conhecer bem aquela casa e aquelas pessoas, não conseguia deixar de me sentir uma invasora naquela festa.
  - , você aqui! - O motivo pelo qual eu me sentia tão mal por estar ali olhava para mim, piscando seus olhos absurdamente azuis para mim.
  - Oi Claire - Nos trocamos um abraço constrangedor.
  - Achei que você estaria em Los Angeles - Ela sorriu amarelo e eu tinha certeza que ela mais desejava do que esperava que eu estivesse em LA.
  - Pois é, eu estava mesmo - Falei e caímos no silêncio.
  - Aqui está você, te procurei por toda parte - Ouvi a voz de atrás de mim. Pensei em me virar sorrindo, porém lembrei de que não era a mim quem ele se dirigia. Ele ficou entre nós duas e finalmente olhou para mim - ! - Ele sorriu e meu coração se desmanchou um pouquinho me lembrando de quando esse sorriso era meu.
  - Feliz aniversário! - Eu disse e me abraçou e eu senti seu cheiro, devido nossa diferença de altura, meu rosto ficava em seu pescoço. Ele me soltou e passou o braço pelos ombros de Claire, me fazendo querer morrer por estar ali. Levei minha mão ao meu pescoço e olhei em volta, procurando por qualquer um que pudesse me salvar. Finalmente voltou, aparentemente ela havia pegado dois drinks para nós e tinha bebido tudo e agora que ela lembrara da minha existência.
  - Vem , vem dançar - Ela me arrastou para onde estava antes, levantando as mãos e sacudindo o corpo.
  - Eu preciso de algo forte e agora.
  - O que foi?
  - e Claire.
  - Foi você que deixou isso acontecer - Minha amiga disse sem rodeios - Você que não estava pronta para dar um próximo passo e terminou com o pobre garoto sem explicar nada.
  - Ele é meu melhor amigo, . Não queria perder isso.
  - Mas perdeu.
  - Depois que Claire apareceu, sim.
  - Que garota ia ficar tranquila sabendo que seu namorado fica passando as tardes com a ex-namorada estonteante? - sorriu e eu suspirei, olhando sobre meu ombro e vendo Claire nos braços de .
  Meu momento de flagelação parou com a entrada de e trazendo um bolo cheio de velas. Ele deu um sorriso torto, se é que podíamos chamar aquilo de sorriso, e bagunçou os cabelos displicentemente. Ele soprou as velas, com Claire a tiracolo, e beijou seus lábios levemente. Logo estavam todos dançando de novo e eu ria sentada no sofá enquanto tentava fazer dançar.
  - Um dólar pelos seus pensamentos - disse ao sentar-se do meu lado.
  - Não é como se você precisasse pagar para saber o que eu estou pensando - Falei sorrindo - Você me conhece melhor do que ninguém.
  - Ultimamente as coisas entre a gente estão estranhas, não acha?
  - Você tem certeza que quer ter essa conversa hoje? Aqui? Na sua festa de aniversário, dada pela sua namorada que me odeia?
  - Claire não te odeia!
  - Ela nem me convidou, foi quem me avisou. Eu nem viria, mas faz tempo que não nos vemos.
  - Eu - Ele passou a mão pelos cabelos e olhou para mim, me fazendo perder o ar por algum tempo - Você sabe que eu era muito apaixonado por você. E que por muito tempo eu quis entender porque as coisas não deram certo entre nós. E depois de um tempo, quando Claire apareceu, eu desisti e aceitei que você devia ter os seus motivos, quaisquer que fossem eles, eu decidi respeitá-los.
  Ouvi as palavras de quieta. Parecia que estávamos somente nós dois ali, sem toda aquela agitação, mas na verdade, não estávamos.
  - Amor - Claire se aproximou - Vem, vamos dançar.
  Ele sorriu para mim e foi com ela até onde e estavam. Minha amiga estendeu a garrafa de cerveja que tinha na mão para ele, que aceitou de bom grado.
  - Vamos pegar algo para você beber - Ela disse quando chegou até mim.
  Levantei e juntas caminhamos pela festa. Logo eu já tinha bebido demais, dançado demais e rido demais com e outros amigos.

Três - :

  A casa já estava vazia, os últimos convidados eram , e , que estavam saindo naquele momento. Segui Claire até o quarto, mas não fiquei lá, tinha que ter certeza que os três estavam bem para ir para casa. Fui até o lado de fora e minhas suspeitas se confirmaram, estava apoiada em uma árvore, parecia ter acabado de vomitar, e trazia de volta para a minha casa.
  Os três voltaram a entrar em minha casa e as duas estavam agora no sofá da sala vazia enquanto eu conversava com . Ele queria leva-las para casa, mas eu convenci de deixa-las ficar ali.
  - Certo, vocês vão ficar aqui - anunciou - Quarto de visitas, vocês sabem onde fica.
  - Não - falou embolando a língua - Me leve para casa, .
  - Eu adoraria, mas é melhor vocês ficarem aqui - Ele olhou para mim e eu desviei o olhar - Ligo para vocês amanhã, para checar se estão bem - E ele se foi.
   olhou para o lado e já estava dormindo, levantou o olhar e me encarou. Mantive o contato visual, com as minhas mãos enfiadas nos bolsos de meu jeans. O silêncio entre nós não era constrangedor, era como se estivéssemos nos preparando para algo maior.
  - ! - Pudemos ouvir a voz de Claire vindo do quarto nos acordando para a realidade.
  - Já estou indo! - Gritei de volta, sem tirar os olhos de .
  - Nós podemos pegar um táxi - falou.
  - Você sabe que isso não é necessário. Quantas vezes você ficou por aqui depois de festas? Sem falar que eu duvido que você abandonaria o seu Bentley - Sorri.
  - Hm, certo. Prometo que não vamos incomodar.
  - Vocês não são incomodo algum - Sorri sincero - Deixa eu te ajudar aqui - Fui até o sofá e peguei no colo - Esse vestido não é seu?
  - É - Ela sorri enquanto caminhamos até o quarto. está com os olhos semi fechados, mas caminha sem problemas pelo corredor, conhece aquela casa como se fosse sua. Chegamos ao quarto e eu coloco na cama. Encaro por alguns segundos, o suficiente para deixa-la sem graça, já que sua mão vai para a sua nuca.
  - Qualquer coisa, estou no quanto ao lado - Digo e beijo sua bochecha - Boa noite, .

  Entro no quarto e Claire ainda está acordada. Me deito ao seu lado e ela logo vem se aninhar em meu peito. Sinto o cheiro de seus cabelos e o calor de sua mão em meu tórax. Isso costumava me fazer dormir, mas no momento, o seu cheiro me entontece e seu calor me faz querer abrir as janelas. Logo ela adormece, mas eu fico olhando para o teto, imaginando se no quarto ao lado ainda está acordada.

Quatro - :

   está babando do meu lado e eu a invejo. Queria poder fechar os olhos e dormir, mas não consigo, não sabendo que está no quarto ao lado. Pior, com Claire, na mesma cama que tantas vezes nós dormimos juntos. Tentei fechar os olhos e forçar o sono a vir, mas tudo o que conseguia pensar eram nas noites em que dormir era exatamente o que não fazíamos naquela cama.
  - Certo , você precisa se controlar, se acalmar e ir dormir de uma vez - Falei para mim mesma. Mas aquele vestido não era o melhor pijama do mundo e tudo parecia ser incomodo. Levantei para tomar um copo de leite morno e ter uma desculpa para caminhar um pouco.
  Conhecia aquela casa como se fosse minha, me lembro de quando havia se mudado para lá, saindo da casa dos pais, e eu era quem tinha o ajudado com a mudança. Coloquei o copo com leite no micro-ondas e fui fuçar o armário a procura de alguma besteira. O aparelho apitou e eu fui até ele, tirando o copo em seguida. Senti a ponta dos meus dedos queimando com o calor do copo e, por reflexo, o soltei, vendo-o se espatifar no chão.
  - Merda! - Xinguei baixo, levando o indicador a boca.

Cinco - :

  O barulho de vidro quebrando me deixou atento. Com cuidado, tiro Claire de cima de mim e caminho até a cozinha. Ao chegar lá, vejo do outro lado do balcão, segurando um pano de chão e xingando baixinho.
  - O que houve? - Falei ao me aproximar, visto que ela não havia notado a minha presença.
  - Desculpe, derrubei um copo - Ela fala sem olhar para mim.
  - Tome cuidado, você está descalça - Eu fiquei observando-a enquanto ela limpava a bagunça.
  - Eu te acordei? - me perguntou ao terminar.
  - Não, não estava conseguindo dormir.
  - Nem eu.
  - Por isso do copo?
  - Sim.
  - Leite morno sempre funcionou para você - Falei mais para mim mesmo - Queria que isso funcionasse comigo também, mas nem galões de leite me fariam dormir, não essa noite.
  - Insônia?
  - Antes fosse - O olhar dela voltou a mim. Ela sabia exatamente o que me mantinha acordado, mas não proferiu uma só palavra - Você não vai me contar?
  - O quê?
  - Por que me deixou?
  - Eu não sei se esse é o melhor momento...
  - Quando será? Quando eu estiver em turnê e você em LA? - Ela voltou a olhar para o chão - Você quer parar de fugir?
  - Eu não estou fugindo - Ela murmurou ao se sentar no balcão - Algumas coisas - Ela suspirou - Algumas coisas se tornam reais quando ditas.
  - Elas não deixam de serem reais só porque você não as diz, . Eu preciso saber.
  - Certo - Ela suspirou e levou a mão à nuca - Nós éramos jovens e imaturos, eu estava insegura.
  - Insegura? Você é a garota mais incrível que eu já conheci!
  - Todas as garotas são inseguras aos dezenove anos, - Ela falou com um sorriso no rosto - Algumas disfarçam melhor do que outras, só isso. E acima de tudo, queria preservar a nossa amizade, e imaginei que se terminássemos enquanto estávamos bem, sem nenhum lado magoado, poderíamos voltar a sermos melhores amigos.
  - Você terminou comigo para garantir que quando terminássemos, continuaríamos amigos?
  - Exatamente. Claro que isso fazia muito mais sentido quando eu tinha 19 anos. E meu plano ia bem, até que-
  - Eu comecei a namorar Claire.
  - Exatamente.
  - Então você não terminou comigo porque você não gostava de mim?
  - Não.
  - Mas agora você está com Ryan, quer dizer, já se passou muito tempo... Aliás, onde está seu anel de noivado?
  - Eu terminei com Ryan. Semana passada.
  - Você está bem?
  - Perfeitamente bem. Sabe como são esses aspirantes a ator né? Cheguei ao meu limite - Ela deu de ombros de um jeito fofo. Ficamos em silêncio, eu não sabia exatamente se deveria perguntar.
  - Você se arrepende?
  - Claro que não, quer dizer, ele era lindo e tinha mãos firmes, mas-
  - Estou falando de nós. Você se arrepende do jeito que as coisas terminaram?
  - Isso não muda os fatos.
  - Isso não muda os fatos - Tinha certeza de que nós dois estávamos pensando na mesma coisa, mas ao mesmo tempo, em coisas diferentes. Eu sorri, mas ela ficou séria e passou a mão pelos cabelos. Quando notei que ela olhava através de mim e não para mim, olhei para trás e vi Claire nos encarando. Ela usava uma camisa minha, que não a cobria muito bem, deixando sua calcinha a mostra e não parecia muito feliz.

Seis - Claire:

  Ouvi uma conversa indecifrável vindo da cozinha e não estava na cama, por isso que levantei para ver o que estava acontecendo. Ao chegar lá, vejo meu namorado com a ex, tendo uma conversa às cinco da manhã. Eu não queria ser a namorada ciumenta e insegura, mas aquilo era um pouco demais. Estava farta de ouvir como era incrível de todas as pessoas da vida de . Seus amigos viviam falando sobre ela, a mãe dele com certeza gostava mais dela do que de mim e o pai dele nunca me chamava pelo nome depois de ter me chamado pelo nome dela inúmeras vezes. Era como competir com uma ex que nunca virou passado de fato, ela estava sempre lá, mesmo morando quilômetros de distância. Então é claro, meu desejo era chutá-la para a sarjeta naquele mesmo instante, mas nunca havia feito nada contra mim e, apesar de falar para quem quiser ouvir que ela é a melhor amiga dele, ela não fica agarrando ele como se eu não existisse. Quer dizer, por mais que eu quisesse odiá-la, e de fato odiava, não havia nenhum motivo concreto para isso. Por isso, apenas sorri e abracei pelas costas, beijando sua nuca como se marcasse meu território.
  - O que vocês fazem fora da cama? - Falei com um sorriso no rosto.
  - Estávamos sem sono - falou, olhando de para mim - Vamos, vamos voltar para a cama - Ele disse para mim, pegando minha mão - Qualquer coisa, só quebrar alguns copos - Ele disse para e os dois riram levemente. Ótimo, mais alguma historinha de alguma parte da vida deles que eu não estava inclusa. Sorri para sem me esforçar em parecer verdadeiro, quer dizer, não acho que ela me adore também então não há motivos para tentar ser amiga dela, e caminhei para o quarto com . Fiquei mais relaxada ao deitar na cama com ele, sabendo que era a mim que ele pertencia.

Sete - :

  Não aguentava mais ficar olhando para o teto e checando o Twitter para matar o tempo naquele quarto, então cutuquei nas costelas, fazendo-a acordar prontamente.
  - O que foi? - Ela disse num misto de mau-humor e confusão.
  - Vamos para casa, aí você pode dormir o resto do dia.
  - E onde é que estamos?
  - Casa do - Falei já me levantando e ela me seguiu. Já era dia claro e saímos da casa silenciosamente. Entramos em meu Bentley e partimos. Era domingo, quase oito da manhã, não havia quase ninguém nas ruas silenciosas. ainda dormia com a cabeça contra a janela quando parei em frente à casa que ela morava. Eu costumava morar ali também, mas com minha ida para Los Angeles, agora dividia a residência com outra garota - Eu vou comprar nosso café da manhã e as coisas para preparar o almoço, durma mais um pouco - Eu disse quando ela abriu os olhos. simplesmente balançou a cabeça afirmativamente e cambaleou para dentro de casa, acenando antes de fechar a porta.

  Estava colocando as compras no porta-malas quando meu celular começou a tocar.
  - ? - Atendi receosa depois de ler o nome dele no meu identificador.
  - Ah, oi - Ele disse - Onde vocês estão?
  - Nós já saímos, não queríamos atrapalhar - Eu disse e ficamos em silêncio - Aliás, obrigada por tudo, te devemos uma!
  - Deixa disso, vocês são de casa - Mais um momento de silêncio. Lá estava eu, segurando meu celular, com o porta-malas aberto, metade das compras dentro dele e o restante no carrinho, ouvindo a respiração hesitante de do outro lado da linha - Queria falar com você, quando volta para LA?
  - Hoje à noite.
  - Será que tem como a gente se encontrar? É meio que importante.
  - Bom, eu fiquei de comprar o café da manhã, podemos nos encontrar na Fairytale - Disse, me referindo a loja com os melhores brownies do mundo.
  - Certo, te encontro lá.
  Desliguei o aparelho, dando um longo suspiro em seguida. Algo importante, repeti sozinha enquanto colocava o restante das compras no carro, o que poderia ser?

  Já tinha comprado os brownies de e comia os meus enquanto esperava por . Ele entrou na loja e eu o observei com um sorriso nos lábios enquanto ele procurava por mim com os olhos. sorriu ao me ver e caminhou até mim, sentando-se na minha frente depois de me cumprimentar com um beijo na bochecha.
  - Fico feliz em saber que você guardou um para mim, - Ele falou pegando o último brownie e mordendo.
  - Na verdade, ele era meu - Nós rimos, ele ainda mastigando, e ficamos nos encarando. Ele tinha mudado desde quando nós fomos namorados, seis anos atrás. Fiquei impressionada com o tempo que havia passado, seis anos! Tudo bem que seis anos era nada se comparado aos vinte que nos conhecíamos, mas ainda assim. Isso significava que ele estava com Claire a mais de três anos.
  - Certo, senhor - Disse tentando chegar ao assunto que me levara até ali - Qual a coisa super importante que você tem para me falar?
  - Ah, isso - Ele ficou mais sério e de repente parecia confuso, como se estivesse caçando as palavras - Eu não sei como falar isso, então vou começar do começo. Só me escute tá, tudo vai fazer sentido no final.
  - Isso tá me assustando, .
  - Sabe, você sempre foi a mais independente de nós. A primeira a sair de casa, a sair dessa cidade. Sempre soube que você faria coisas grandes e agora olha para você, trabalhando pra canais de TV e indo para festas cheias de gente importante - Ele falou me zoando - Eu lembro quando percebi que te amava e lembro quando você disse que me amava também. Eu nunca mais senti algo assim, parecia que eu ia explodir de felicidade, eu não conseguia conter aquilo dentro de mim. Então nós passamos os dois melhores anos da minha vida juntos e você foi embora. Fez sua faculdade e construiu uma carreira sem precisar de ninguém além de você mesma. Tudo isso só fez com que eu me apaixonasse ainda mais por você e pelo seu jeito. Mesmo morando em outra cidade, você sempre é a primeira pessoa que eu penso em ligar quando algo acontece e você nunca deixou de me atender.
  - Porque você também é importante para mim, - Eu disse o obvio e ele sorriu.
  - Resumindo, você fez o que fez para garantir que nós continuássemos melhores amigos e nós continuamos. Bom, eu só quero dizer que eu te amei todos os dias desses seis anos e continuo amando, você é a melhor amiga que eu poderia querer.
  - -
  - E termos terminado foi uma ideia muito idiota se você quer saber - Ele riu, parecia envergonhado - Mas enfim, dizem que nós somos a soma de nossas decisões, certo? E eu nunca perderia a sua amizade, por nada no mundo, , por isso que eu quero que você seja a primeira a saber.
  - Eu não estou entendendo.
  - Pedi Claire em casamento - Ele disse e eu o olhei sem acreditar no que ouvia - Antes de ontem. Ninguém sabe ainda, além de você. Decidimos guardar segredo, ter uma coisa só nossa agora.
  - Uau - Eu disse. Felizmente não tinha que disfarçar a minha surpresa - Isso é... incrível! Parabéns, - Tive que me esforçar um pouco mais para sorrir.
  - Obrigado - Ele disse, parecendo se esforçar tanto quanto eu para sorrir.
  - Que rápido, quer dizer, você tem certeza disso?
  - Bom, me pareceu ser o desenvolvimento natural do nosso relacionamento... Claire já praticamente mora comigo a mais de dois anos e nos damos bem.
  - Vocês se dão bem - Repeti, arqueando as sobrancelhas.
  - Qual o problema? - Ele sorriu.
  - Colegas de quarto se dão bem. Você está noivo, tem que no mínimo querer passar o resto da vida com Claire! - Eu disse, jogando uma bolinha de guardanapo nele - Esse foi o principal motivo pelo qual terminei tudo com Ryan. Por mais que gostasse dele, não o amava e a ideia de passar o resto da vida com ele meio que me assustava - Ele riu - Você ama Claire?
  - Eu gosto dela - Ele encolheu os ombros e ficou quieto - Somos adultos agora, - Recomeçou, como se sentisse que me devia explicações - temos que tomar grandes decisões. E ela já estava falando sobre o assunto há algum tempo. Só quis deixar todo mundo feliz.
  - E você?
  - Eu o quê?
  - Está feliz?
  - Sim.
  - Então eu também estou - Sorri sabendo que aquilo era a mais pura verdade - Tenho que ir, ou me mata.
  - Ah, claro - Ele sorriu e colocou a mão sobre a minha na mesa - É bom falar com você, não suma, por favor.
  - Eu não sumo! Você que sempre está em um palco do outro lado do mundo toda vez que eu venho fazer uma visita - Disse sorridente.
  - Vamos ter que dar um jeito nisso - Ele falou já me abraçando na calçada em frente ao meu carro estacionado. Nos despedimos e eu dirigi até a casa de , querendo cada vez menos deixar o Arizona, mas sabendo que meus motivos para ficar iam diminuindo a cada visita.

Oito - :

  Cheguei em casa e vi o carro de Claire estacionado na rua, o que era raro, ela sempre o deixava na garagem, já que raramente o usávamos. Entrei em casa e ela estava sentada no sofá, com cara de poucos amigos.
  - Eu vi você e hoje - Claire disse e me fez entender o porquê do seu lábio inferior estar tremendo. Ele sempre ficava assim quando ela estava com ciúmes.
  - Você foi à Fairytale? - Perguntei, sem querer acusa-la de estar me seguindo ou algo assim.
  - Eu te segui - Ela disse, confirmando minhas suspeitas - Você parecia animado quando saiu daqui, algo me dizia que aquela garota estaria envolvida.
  - Você achou que eu estava te traindo? - Eu sorria, mas não via graça alguma naquilo tudo.
  - Antes fosse - Ela cruzou os braços e seu lábio tremeu mais um pouco. Seus olhos estavam ficando vermelhos e eu sabia que logo ela estaria chorando - Honestamente, eu preferiria ter pego vocês dois nus na nossa cama do que ter visto tanta intimidade como aquela. Eu vi tudo, . O jeito que você olhava para ela, o jeito que sorria. De inicio, fiquei satisfeita por ver quão tola eu havia sido por achar que você estava beijando-a pelas minhas costas, mas então eu percebi que nunca nesses anos juntos você sorriu para mim daquele jeito. Nunca olhou para mim daquele jeito, como se eu fosse a única coisa que importava no mundo. Eu, sua noiva, estava desejando ser sua melhor amiga, porque eu sei que só assim eu teria certeza que você me amaria para sempre.
  - Mas Claire, foi você quem eu pedi em casamento!
  - Eu sei que sim - Ela disse e a primeira lágrima caiu de seus olhos - Mas é o amor da sua vida. Eu sei. Todo mundo sabe, até vocês dois. E eu não vou viver na sombra de algo assim, eu não quero que você fique comigo só porque não pode ficar com ela, quero que fique comigo porque sou eu quem você ama.
  - Claire...
  - Ou você acha que eu não sei que você me pediu em casamento só porque ela vai casar também? Só porque você sabe que ela partiu pra outra e só você vive preso ao passado?
  - Certo, Claire - Fechei os olhos por um breve momento e respirei fundo - O que você quer de mim?
  - Eu queria o seu amor, mas já que não posso tê-lo por completo, não quero nada - Ela me devolveu a caixinha preta onde estava seu anel de noivado. Ela ainda não o usara além do momento que eu a pedira em casamento, pois o anel não servira - Aposto que naquela vadia magrela vai servir direitinho.
  - Isso quer dizer que-
  - Acabou, . Eu te libero da obrigação de ser mediocremente satisfeito com a vida e te dou a chance de correr atrás da sua felicidade - Ela chorava, mas então sorriu - Dizem que quem ama é aquele que aceita a felicidade do outro, mesmo não sendo ao seu lado. Bem, isso é uma merda, se você quer saber, mas eu não quero ser a responsável por atrapalhar a sua vida - Ela me beijou pela última vez. Foi úmido, salgado e um tanto amargo - Adeus, .
  Sentei no sofá, sem saber o que fazer, segurando aquela caixinha, pensando nas possibilidades contidas dentro dela e que agora tinham sido jogadas fora. Apertei-a em minha mão, sabia bem o que fazer, só precisava ter forças para fazer minhas pernas me obedecerem e sair daquele sofá.

Nove - :

  O avião decolou e eu observava a minha cidade natal diminuir cada vez mais até ficar escondida sob as nuvens. Recostei-me em minha poltrona e coloquei meus fones de ouvido, tudo o que eu queria agora era desfazer aquele nó que apertava minha garganta. Depois de pular algumas músicas que não me fariam bem naquelas condições, fechei meus olhos e tentei relaxar, mas tudo o que conseguia pensar era em John e nossa última conversa.
  Por muito tempo, eu disse para quem quisesse ouvir que ele era apenas um amigo - meu melhor amigo - e que meus sentimentos por ele haviam ficado para trás, juntamente com os meus dezenove anos. No momento em que Ryan me pediu em casamento, porém, eu percebi que havia contado uma mentira tantas vezes que até eu acreditava nela. Era de que eu queria ouvir aquela pergunta, era com ele que eu queria ficar, mas eu tive chances demais e desperdicei todas elas. Por minha completa e total culpa, agora era a vez de Claire e eu sabia que ela não deixaria passar.
  O nó em minha garganta apertava mais e mais com cada lembrança que invadia minha mente.
  - Você vai ter que viver com isso, então trate de se acostumar - Pensei comigo mesma, ao engolir a seco.

  Depois da viagem mais longa e torturante da minha vida, cheguei a minha casa. Finalmente permiti que as lágrimas rolassem pelo meu rosto agora que estava sozinha e pela primeira vez em muito tempo não reprimi o que sentia, mas ao contrário do que esperava, não me sentia nem um pouco melhor.

Dez - :

  Eu não sabia o que fazer. Impulsivamente, queria ir até Los Angeles e dizer a o que eu realmente sentia, mas no caminho ao aeroporto, lembrei-me da reação dela ao saber que eu e Claire iríamos nos casar. Ela estava feliz. Dei meia volta e fui até a V Jewelers, onde a mesma garota sorridente me atendeu.
  - Posso ajudar? - Ela disse empolgada.
  - Gostaria de fazer uma devolução - Eu disse não tão empolgado, colocando a caixinha de veludo preto sobre o balcão.
  - Oh - Ela abriu a caixa e seu sorriso deu lugar para uma cara de pena escancarada - Não era o momento certo?
  - Era a garota errada - Eu concluí.

Onze - :

  Eu não tinha notícias do Arizona há algum tempo. Sentia-me mal por ignorar as mensagens de , mas quase uma semana depois de minha partida, ela me ligou. Sabendo o quanto ela odiava ter que usar seu celular para de fato ligar para alguém, presumi que era importante.
  - Alô?
  - O que foi que eu fiz de errado? - Ela replicou.
  - Nada, sua louca - Eu disse sorrindo, sentira a falta dela.
  - Você não responde minhas mensagens, me ignora no Twitter, e está me obrigando a usar meu celular de verdade. Só pode estar com muita raiva de mim.
  - Não, nada disso, eu só precisava de um tempo do Arizona, você foi um efeito colateral, sinto muito.
  - O que houve?
  - O de sempre.
  - Então, tenho algo para falar sobre isso.
  - Eu não quero saber.
  - Mas acho que você deveria.
  - , escuta, eu não quero saber. Seja o que for, não posso lidar com isso agora, tá bem? - Eu sentia minha voz embolar e o nó em minha garganta voltar, que merda. Sentia-me como uma barragem que havia se rompido, depois do ponto de ruptura, era impossível parar.
  - , tudo vai ficar bem, tá? Eu te prometo. Agora que tenho que ir antes que a Martha me pegue no celular, então trate de responder as minhas mensagens.
  - Diga a sua chefe que eu mandei olá - Eu brinquei lembrando do quanto Martha pegava no pé de . Minha amiga riu e desligou o telefone. Eu suspirei, provavelmente havia anunciado o seu noivado aos nossos amigos, mas aquela novidade era velha para mim, apesar de ainda ter problemas em absorve-la.
  Era hora de seguir em frente, por mais difícil que fosse, então enxuguei as lágrimas, troquei de roupa e fui fazer minha terapia pessoal. Dirigi até o parque que ficava há vinte e cinco minutos de distância de minha casa, entrei na gaiola e fiquei em posição, levando o taco de baseball até a altura do ombro. A máquina disparou a primeira bola e eu rebati com toda a força que tinha. Era isso que amava no baseball, não podia pensar em mais nada além daquilo, ou uma daquelas bolas terminaria na minha cara, mas ao mesmo tempo podia liberar toda a minha fúria naquelas bolas brancas, sem medo de machucar ninguém. Uma hora depois, estava acabada, por dentro e por fora, mas pelo menos tinha um motivo para me sentir assim.

  Semanas se passaram e o inverno chegou. O clima parecia combinar com o meu humor. Eu não estava mais constantemente triste, já conseguia sorrir em comédias românticas e não odiava todo casal em minha frente, mas no fundo eu sabia que não estava completamente feliz. Alguns dias a percepção desse fato acabava comigo, então eu rebatia algumas bolas e voltava ao meu estado de anestesia sentimental.
  Eu já tinha elaborado a desculpa perfeita para não ir para casa no feriado de dia de Ação de Graças, mas sabia que minha mãe não ia cair nela, então me poupei o trabalho e fiz minhas malas. Cheguei ao Arizona na quinta-feira mesmo, fiquei trancada em casa durante o dia todo e só fui ver alguém além dos meus pais quando meus tios e primos chegaram para a ceia. Bebíamos vinho branco e conversávamos na sala, todos cheios demais de peru para se moverem, mas de jeito nenhum pensariam em ir embora antes de comer um pedaço da torta de maçã da minha mãe. Batidas na porta e minha tia deu graças, seu filho havia perdido a ceia e ela foi correndo até a porta para recebê-lo.
  - Não era Eric - Ela disse, voltando à sala acompanhada de um ligeiramente tímido.
  - Feliz Ação de Graças - Ele disse e acenou.
  - , querido, quanto tempo - Minha mãe foi o cumprimentar sorridente. Eu o encarava sem saber se aquilo estava realmente acontecendo ou se minha imaginação estava me pregando peças.
  - Eu só queria falar com rapidinho - Ele disse e eu me levantei. me seguiu até o quintal, o frio fazia as minhas bochechas arderem levemente, mas aquilo era a menor das minhas preocupações no momento. Sentamos no banco que ficava no quintal e eu encarava o fundo da minha taça. Tomei o que sobrara do conteúdo em um único gole, respirando fundo em seguida e sentindo o ar frio preenchendo os meus pulmões.
  - Oi - Ele disse e eu arqueei as minhas sobrancelhas - Certo, direto ao assunto então. Faz um bom tempo que eu quero te falar isso, mas achei que se fosse até Los Angeles, traria mais incomodo do que gostaria e você aparentemente se esqueceu da gente aqui do Arizona - Ele sorriu e por um momento eu me lembrei do meu , mas não tinha mais dezenove anos então só mantive o olhar e o deixei continuar - Mas eu sabia que você apareceria para o feriado, então por isso resolvi aparecer. Ia ser bem embaraçoso se você não estivesse aqui, na verdade, mas valia o risco. Enfim, o que eu quero dizer, é que estou há semanas querendo te dizer que estou cansado. Cansado de fazer as escolhas erradas, cansado de lutar contra os meus sentimentos, cansado de estar simplesmente satisfeito quando posso estar extremamente feliz e eu não consigo imaginar de que outra maneira eu conseguiria tudo isso sem ter você do meu lado. Você , é causa e efeito de tudo isso - Ele colocou a mão em minha bochecha. Ela estava quente, pois havia ficado no bolso da jaqueta dele e eu fechei os olhos ao toque gentil dele. Eu queria ficar feliz com aquilo tudo, queria dizer que estava miserável sabendo que ele não era meu, que havia dias piores e melhores, mas nenhum deles estava perto de ser como os dias que ele estava comigo, mas uma coisa me impedia.
  - E Claire?
  - Terminamos no dia que você saiu daqui.
  - Por quê?
  - Porque até ela viu o óbvio, que eu sou completamente apaixonado por você - Ele disse com meio sorriso.
  - Então ela terminou com você.
  - É.
  - E eu sou seu prêmio de consolação.
  - Não - Ele fez uma careta - Você não estava me escutando? Você não é nenhum prêmio de consolação, é o prêmio principal, o urso de pelúcia gigante, sabe?
  - Ainda assim, você só resolveu vir atrás de mim quando ela não te quis mais.
  - Eu achei que você estava seguindo em frente, você disse que estava feliz com o meu noivado, achei que não tinha chances?
  - Você queria o quê? Que eu dissesse 'é uma pena, porque eu sou apaixonada por você e não quero te ver casado com ninguém além de mim'?
  - Então você é apaixonada por mim...
  - , eu não posso fazer isso agora. Eu só quero um pedaço de torta e minha cama. Foi um longo caminho pra chegar onde estou agora e eu não estou disposta a regredir. O dinheiro que eu gastei rebatendo bolas seria o suficiente pra comprar um par novo de Jimmy Choo e só Deus sabe o quanto eu estou querendo novos, então você precisa me dar espaço e um pouco de tempo aqui.
  - Quando você voltará para a Califórnia?
  - No domingo.
  - E podemos nos falar antes de você ir embora?
  - Pode ser - Eu disse me levantando - Eu te ligo.

Doze - :

  Domingo. Finalmente ele chegara, parecia que uma semana havia se passado e não apenas dois dias. Eu encarava meu celular, esperando pela ligação que eu tanto ansiava, mas o aparelho parecia debochar de mim, mostrando nada além do relógio, onde os minutos se arrastavam a passar. Bufei e levantei do sofá, iria enlouquecer se continuasse ali.
  Gostaria de dizer que fui inconscientemente até a casa de , mas a verdade é que cada parte de mim sabia e queria ir até lá. Sentei-me na calçada, pensando que assim a minha precipitação não seria tão invasiva. Passava pouco de uma da tarde, apesar de ser inverno, naquela hora do dia o sol ainda tinha certa vantagem e estávamos no Arizona, ou seja, era bem agradável ali fora.
  - Quando minha mãe falou que te viu pela janela sentando aqui, me lembrei da época em que nos víamos no sábado do feriado de Ação de Graças para beber cidra barata que roubávamos do seu tio - falou ao sentar-se do meu lado - Felizmente não precisamos mais nos esconder - Ela abriu a garrafa que trazia consigo e tomou um longo gole direto do gargalo, estendendo a garrafa em seguida. Tomei um gole curto, o gosto de maçã me lembrou automaticamente do gosto dos lábios de . Olhei para ela, que estava puxando a grama da calçada com muita concentração.
  - - Eu finalmente abri a boca para falar, mas estava hesitante, não sabia se ela estava preparada para aquela conversa, já que não havia esperado pela ligação dela - Você sabe que não é o meu prêmio de consolação, não é? Sabe que se eu estivesse escolhido Claire de verdade, não teria esses sentimentos por você. Sentimentos, aliás, que carrego desde os meus dezenove anos, antes disso ainda. Quando você terminou comigo, fiquei acabado, de verdade, e continuar seu amigo era tudo o que eu tinha. Você é a garota que todos os caras querem dançar e eu sou apenas um sortudo que teve chances demais.
  - Você sempre dançou de um jeito engraçado - Ela disse e sorriu. Não qualquer sorriso, o meu sorriso, aquele que ela me dava depois de um dia perfeito, de uma surpresa boba, de uma noite boa, de um beijo de tirar o folego. tomou a garrafa que ainda estava em minha mão e tomou mais um pouco da bebida, apertando os lábios em seguida. Pus-me de pé e estendi a mão na direção dela, que largou a garrafa e apertou levemente a minha mão, ficando de pé também. Abracei-a por um tempo, sentindo o cheiro de seus cabelos, que estavam mais curtos do que na época que namorávamos e sentindo a respiração dela no meu pescoço. Soltamo-nos um pouco, somente o necessário para nos olharmos nos olhos.
  Encarávamo-nos sem dizer nada, então eu fiz uma careta e ela sorriu. Encostei nossas testas e minha mão estava na nuca dela, enquanto meu dedão desenhava arcos na bochecha dela. Tudo o que eu queria era sentir seus lábios e com toda aquela proximidade, não havia como resistir. Toquei os lábios dela com os meus e logo ela correspondeu. Sentia calafrios pelo corpo, os mais intensos que sentira na vida, em resposta, apertei contra mim ainda mais.
  - Sério gente, pelo menos saiam do meio da rua antes de arrancarem as suas roupas - Nos assustamos ao ouvir a voz de que estava parada a centímetros de distância de nós. me soltou e deu risada, abraçando a amiga em seguida. Eu também cumprimentei , que pegou a garrafa largada na calçada e a bebeu.
  - Isso já estava ai quando nós chegamos - disse fazendo a outra parar por um momento. Ela então deu de ombros e tomou mais um gole.
  - Então - disse - Você já arrumou as suas coisas?
  - Você sabe que não - respondeu.
  - Você vai em qual voo? - Eu pergunto enquanto nós entramos na casa de .
  - Não vou de avião. Da última vez eu deixei o Bentley aqui, agora vou levar ele de volta. vai comigo.
  - Sobre isso... Martha não me deu folga, desculpe.
  - Eu posso ir com você - Disse mais rápido do que gostaria - Quer dizer... Se você quiser...

Treze - :

  Eu sorri com a cara de tentando parecer despreocupado.
  - Tudo bem, você dirige até Blythe, saímos daqui às três horas.
  - Certo - Ele respondeu afirmando com a cabeça. - Eu vou em casa só arrumar algumas coisas e avisar meus pais, volto logo.
  - Perfeito - Eu disse, ganhando um selinho em seguida e ele partiu depois de se despedir de .
  - Você vai levar esse moletom? - me perguntou quando ele saiu, levantando a peça de roupa.
  - Sério?
  - O que foi?
  - Você chega aqui e eu estou beijando e agora vamos passar seis horas dirigindo até Los Angeles e você não vai fazer nem um comentário?
  - No momento que fiquei sabendo que ele e Claire eram passado, sabia que vocês dois iam voltar - Ela deu de ombros e vestiu o moletom.
  - Somos tão previsíveis assim? - Eu perguntei dobrando algumas roupas e jogando-as dentro da mala.
  - Absurdamente previsíveis! - Ela respondeu. - Você tem sorvete de creme? Podemos bater com um pouco disso - levantou a garrafa de sidra.
  - Eu não sei, dá uma olhada na geladeira.
  Ela desceu e eu me sentei na cama, pensando no que poderia ocorrer naquela viagem. Seriam seis horas seguidas de mais não sei quando tempo que ele passaria em minha casa. Nós queríamos aquilo, queríamos ficar juntos, colocar as coisas no lugar, discutir tudo o que nos levara até aquela situação. Seria altamente proveitoso ou totalmente trágico, mas só havia um jeito de descobrir. O barulho do liquidificador na cozinha me tirou dos meus pensamentos, faltavam algumas horas até sairmos então eu poderia beber um pouco, pensei me empolgando e procrastinando novamente a tarefa de fazer as minhas malas.

  Horas depois, estava me despedindo de meus pais e e entrando no meu Bentley com . Sentei no banco de passageiro, como havia dito, dirigiria até Blythe, do lado californiano da fronteira entre o estado e Arizona. Acoplei meu iPod no sistema de som do carro enquanto ele nos guiava até a Sétima Avenida, em direção à rodovia interestadual.
  Eu estava quieta, observando o deserto pela janela enquanto cantava junto com Death Cab for a Cutie. Aquilo me lembrava das inúmeras vezes que fizemos aquela viagem, muitas como amigos, dezenas como namorados e mais algumas depois disso.
  Senti um arrepio na espinha ao ser tomada pelas lembranças e minha reação deve ter sido exagerada, pois perguntou se deveria ligar o aquecedor. Eu disse que não era necessário, não sentia frio. Não disse, porém, que com ele por perto, os calafrios não aconteciam por causa do frio, e sim quando estava quente.

  Começamos a conversar sobre amenidades, nossas famílias, as celebrações daquele fim de semana, até que regressamos ao momento em que ele foi até a minha casa na quinta-feira.
  - Você não sabe como foi difícil esperar até aquele dia, a minha vontade era de voar até Los Angeles, mas eu não queria ser invasivo.
  - Então você decidiu aparecer na ceia da minha família - Eu sorri.
  - Certo, tão invasivo - Ele sorriu de volta - Eu precisava fazer aquilo, precisava falar o que estava preso em minha garganta, a ideia de você achar que não era a minha prioridade me matava. Era como se eu não te amasse desde sempre e você sabe que eu te amo.
  Eu perdi o folego por um momento. Não era a primeira vez que havia dito que me amava, mas me pegou de surpresa, pois fazia muito tempo que não ouvira aquilo dele num momento onde não havia Ryan, Claire, não éramos apenas bons amigos, apesar de não saber o que éramos no momento, não havia duvidas no que ele dizia.
  - Pegue a saída 239 - Eu digo, como se aquela fosse a primeira vez que dirige até Blythe. Seguimos mais alguns metros e eu peço para que ele pare. Saímos do carro para esticar as pernas e entramos numa cafeteria logo em frente.
   fez os pedidos - nem ao menos hesitou ao fazer o meu, ele sabia bem o que eu gostava - e nos sentamos.
  - Da última vez que conversamos em um café, você estava me contando que estava noivo - Eu sorri, ainda atormentada pelas lembranças do passado tão próximo. Ele olhou para mim e colocou a mão sobre a minha. Ele se levantou e veio sentar ao meu lado, cuidadosamente, colocou as mãos em meu rosto, aproximando-o do seu. Eu fiquei encarando-o que estava cada vez mais pertos, até que ambos fechamos os olhos e eu senti os lábios deles nos meus. O gosto da bebida dele - mocha de chocolate branco com menta - estava presente levemente, mas logo passamos dos lábios, aprofundando o beijo. Não sei por quanto tempo aquilo durou, mas eu não o largaria se não fosse o sino da porta, nos lembrando de que estávamos em um lugar público.
  - Eu também te amo - Eu disse enfim.
  - Eu sei que tenho que pegar a saída 239 - Ele respondeu sorrindo.

  Minha vez de dirigir, voltei para a interestadual e seguimos viagem, mais três horas e meia e estaríamos em casa. Minha mão direita se revezava entre o câmbio e o joelho de , que falava sem parar sobre todas as coisas possíveis. Eu adorava vê-lo daquele jeito e até parecendo mais leve. Ele estava feliz. Eu estava feliz. Sorri e cantei com ele e Mark Hoppus enquanto o refrão de Rock Show tocava.

Quatorze - :

   dirigia enquanto nós conversávamos. Às vezes sobre coisas sérias, outras vezes eram coisas banais, mas só de poder falar com ela, sobre qualquer coisa, me deixava feliz.
  O sol estava se pondo e logo as primeiras estrelas apareciam no céu.
  - Você quer que eu dirija? - Falei, lembrando que não era a maior fã de dirigir à noite.
  - Ah, não se preocupe, eu estou acostumada agora.
  - Eu fico pensando nas coisas que perdi nesse tempo que não nos falamos com a frequência de sempre.
  - Não muito, de verdade - Ela falou sorrindo, tentando me tranquilizar. Voltamos aos assuntos banais e logo o deserto deu lugar às luzes das cidades. Passamos por Palm Springs e Chino e logo estávamos em Los Angeles. Nunca seis horas haviam passado tão depressa, mas dizem que o tempo voa quando estamos nos divertindo, não é?
  Era a primeira vez que ia até a casa de na Califórnia. Ela morava num dos poucos prédios da rua, que não passavam do segundo andar. Colocou o Bentley na garagem e nós subimos os dois lances de escada. Apesar de o prédio ter apenas dois apartamentos por andar, eles não eram muito grandes, tinham apenas um quarto. De qualquer jeito, só de entrar naquele lugar você sabia que era quem morava ali, com toda a decoração e a desorganização organizada dela.
  - Você quer alguma coisa? - Ela me perguntou quando voltou do banheiro. Eu estava na sacada dela que dava para a rua.
  - Sim. - Eu disse me aproximando e beijando-a levemente. Agora que podia sentir o sabor de seus lábios quando desejasse, ficava puxando-os para mim a todo instante. E para a minha felicidade, nossos beijos sempre se aprofundavam e naquele momento estávamos a poucos passos da privacidade completa.
  - Algo mais? - perguntou com a voz doce, provavelmente não tinha as mesmas intenções que eu. Eu a apertei na cintura, puxando para perto quando ouvi meu próprio estomago roncar.
  - Jantar? - Eu disse e ela concordou. Vestimos casacos, pois apesar de a Califórnia ser tão quente quanto o Arizona, a ausência do sol nos lembrava de que estávamos no inverno. Resolvemos ir de táxi, porque ambos queríamos beber um pouco, e logo que ele chegou, nos dirigiu pela cidade e em menos de quinze minutos estávamos estacionando novamente. Saímos do carro depois que eu paguei pela corrida e tivemos que caminhar alguns metros até o restaurante de esquina que havia escolhido. Nossos dedos estavam entrelaçados, eu gostava de sentir o calor da mão dela na minha. Dividimos uma garrafa de vinho enquanto comíamos e fazíamos planos para o dia seguinte. Comida italiana, a minha favorita. Em nenhum momento ela me perguntara quando eu iria embora e eu ainda não tinha parado para pensar nisso, então evitamos esse assunto propositalmente.

  Ao voltarmos para o apartamento, e eu pretendia continuar de onde havia parado, assim que a porta se fechou atrás de nós, trouxe para perto de mim e a beijei. Quando finalmente tiramos os nossos casacos, não paramos por aí, deixando as roupas caindo como uma trilha que levava da sala até a cama de .

  Na manhã seguinte, acordei sozinho, mas sabia que havia saído para ir para o trabalho. Levantei e fui até o banheiro, onde havia um bilhete colado no espelho com o endereço do restaurante que ela iria almoçar caso eu quisesse acompanha-la. Caminhei até a sala - a trilha de roupas havia sido desfeita por mais cedo - e apanhei meu celular no bolso do meu casaco. Sentia que poderia dormir por mais algumas horas, seis horas de viagem seguida de mais algumas de exercício físico haviam acabado comigo, mas tratei de ir me arrumar, pois já passava das dez da manhã e eu tinha de ir se quisesse chegar ao restaurante a tempo.

Quinze - :

  Caminhava pelos corredores da NBC com um sorriso no rosto. Estava indo para uma reunião de emergência e falavam em demissões no setor criativo – por acaso o setor que eu trabalhava – por conta de problemas de audiência no canal, mas nada tirava aquele sorriso idiota no meu rosto. estava na minha casa há cinco dias e era sexta-feira, ou seja, não precisaria abandoná-lo sozinho naquela cama gigante todas as manhãs como havia feito desde que chegamos.
  Muito foi dito naquela reunião, mas para falar a verdade, não estava prestando muita atenção, eu estava escrevendo no meu caderno – me achava muito velha para ter um diário, então mantinha as minhas memórias num moleskine qualquer – e pensando onde levaria naquela noite, já que por conta de ter que acordar cedo todos os dias, nós havíamos jantado em casa a semana toda e ele só saia do meu apartamento quando estava sozinho. Queria compensá-lo com um encontro decente.
  Um dos produtores executivos finalizou a reunião, reafirmando a importância da temporada de verão que iria começar a ser produzida logo e que ainda havia tempo de apresentarmos alguma ideia para a temporada de outono do ano que vem. Aquela fora a única sentença dele que eu realmente prestara atenção, e saí de lá voando assim que todos começaram a se movimentar. Parei em meu cubículo somente para pegar as minhas coisas e fui para casa.
  Cheguei em casa e ouvia o barulho do chuveiro ligado. Sorri ao tirar meus saltos e caminhei até o banheiro. estava cantando Rolling Stones e só notou a minha presença ali quando eu já estava usando apenas minha lingerie.
  - Quer companhia? – Perguntei antes de remover as peças que faltavam.
  Ele apenas sorriu, abrindo a porta de vidro do box e eu me despi, me juntando a ele.

  Esse restaurante era mais distante da minha casa, numa área mais abastada da cidade. Eu adoraria morar ali, que era mais movimentado do que a região que eu vivia, mas meu salário de assistente de produtor executivo não conseguiria cobrir todos os meus gastos e entre morar em um bairro a 20 minutos de distância do meu e ter um guarda roupa fabuloso, preferia a segunda opção. Meus pais insistiam em querer me ajudar financeiramente – principalmente depois que eles vieram me visitar e viram o tamanho do meu apartamento – mas eu recusava.
  Entreguei as chaves do meu carro para o manobrista e nós dois entramos no Luna Park, um dos meus restaurantes favoritos em LA. Nós sentamos em uma mesa e fizemos nosso pedido. Música boa e uma conversa fácil enquanto comíamos e bebíamos.
  Antes de irmos para casa, pedi a sobremesa, onde fizemos nossos próprios s’mores.
  - Eu tenho que voltar para casa – disse enfim enquanto ele derretia marshmallow no fogareiro de mesa – Temos que começar a gravar as músicas do próximo CD e tudo mais...
  - Entendo... – Eu disse após dar uma mordida no meu s’more – Quando você vai?
  - Estava pensando em ir na segunda-feira, posso pegar um táxi para o aeroporto depois de almoçarmos – Ele falou com o lábio sujo de chocolate.
  - Então tá – Eu sorri. Não queria que fosse embora, mas deveria me considerar sortuda por ter passado tanto tempo com ele. Dei um beijo nele, sentindo o gosto de chocolate de seus lábios e voltei a derreter marshmallows.

Dezesseis - :

  Estávamos em algum lugar do país que eu não fazia ideia de exatamente onde, entre a Pensilvânia e Nova Jersey. A turnê havia começado há pouco mais de um mês, então esse era exatamente o tempo que eu não via . Ela havia ido até Anehim para os primeiros shows da turnê que também eram os primeiros dela como minha namorada. De novo. Na verdade, nós já estávamos juntos há quase quatro meses, mas todo aquele tempo estava gravando o CD e nos preparando para aquela turnê. As coisas iam bem, dessa vez sem a insegurança e todas as outras coisas que ficaram no nosso caminho. Claro que havia várias outras coisas novas para se meterem lá, como por exemplo, o fato de eu não fazer a mínima ideia de quando a veria novamente. Nossa turnê iria durar mais duas semanas, mas não poderia vir a nenhum show por conta do trabalho. Nós ficávamos trocando mensagens o tempo todo e eu ligava para ela diariamente. Não era o suficiente, eu sentia falta dela.
  Por conta disso, meu sorriso não foi nem um pouco exagerado ao vê-la entrando em nosso camarim em Syracuse. Eu a beijei e abracei e só depois que ela cumprimentou todos os nossos amigos é que me ocorreu perguntar o que ela fazia tão longe de casa numa sexta-feira.
  - Estou aqui a trabalho. Quer dizer, não em Syracuse e não nesse momento, mas tenho que estar segunda em Nova York, e por pura coincidência vi que vocês estariam aqui hoje – Ela sorriu e voltou a me beijar.
  - Certo, hora do show! – Ouvi um grito e me pus de pé.
  - Nos vemos logo – Eu disse me despedindo de e indo para junto de meus amigos para nossos rituais pré-show.
  Palavras foram gritadas, bundas foram estapeadas, estávamos prontos para o show e eu tinha um estimulo a mais para aquilo. De tempos em tempos espiava para a lateral do palco, onde estava escondida por caixas de som e cortina preta e era impossível não sorrir vendo-a se balançando de olhos fechados enquanto cantava junto conosco.

  Acordar e ter ao meu lado na cama era uma sensação que eu nunca enjoaria. Eu poderia ficar encarando-a dormir se não fosse muito estanho. Felizmente ela acordou logo depois de mim e ficamos enrolando (e rolando) na cama o máximo possível, mas finalmente fomos tomar café. Ela me explicou o que havia causado a sua vinda repentina para Nova York e apesar da minha preocupação – aparentemente as coisas não iam bem para o produtor executivo que ela assistia – ela me garantiu que aquilo era normal na indústria televisiva.
  - Ficarei por uma semana, depois voltarei para Califórnia.
  - Estou feliz de te ver aqui – Eu disse e ela sorriu.
  - Estou feliz de estar aqui.

  A visita de não durou muito, logo nós tivemos que nos separar, eu iria encarar 11 horas de viagem até Indianápolis. Porém, se considerarmos que havíamos ficado cinco semanas sem nenhum tipo de contato físico, algumas horas eram bem melhores do que nada. Despedi-me de com um nó na garganta, ela sorria apesar dos olhos cheios de lágrimas.
  - Só mais uma semana, meu amor – Eu disse puxando-a para um último abraço. Odiava deixa-la assim, odiava não poder ficar por perto, mas sabia que tinha que ir. Soltei , seus olhos estavam secos e minha camisa úmida, mas tudo bem. Ouvi meu nome sendo gritado e dei um último beijo antes de correr para o ônibus, vendo a minha garota na calçada do hotel, embarcando no táxi que a levaria para o aeroporto.

Dezessete - :

  Eu me sentia mal por aquilo, mas não era como se tivesse alternativas. Enquanto ouvia os toques no telefone, bem no fundo queria que não atendesse para que não precisássemos ter aquela conversa, mas quando eu estava pronta para desistir, ele atendeu. A voz sonolenta indicava que ele estava dormindo como eu previa.
  - Oi, querido – Eu disse, me desculpando em seguida por acorda-lo.
  - Sem problemas, você está chegando?
  - Hm, não – Eu disse e espremi os olhos – Desculpe, eu sei que combinamos que eu iria para Arizona quando a sua turnê acabasse, mas as coisas aqui no escritório estão mais tensas do que eu imaginava, teremos uma reunião importante na segunda-feira e eu tenho que me preparar. Ir para o Arizona agora não é a melhor ideia.
  - Eu posso ir até ai, então.
  - , você acabou de fazer uma viagem de treze horas, está exausto e tem a sua família que não te vê há mais tempo que eu. Sem falar que você iria me distrair de qualquer jeito.
  - Certo – Ele falou mais seco do que eu gostaria de ouvir.
  - ... – Resmunguei.
  - Desculpe, eu só queria te ver.
  - Vocês terão vinte dias até a segunda parte da turnê, não é? As coisas estão meio loucas aqui nesse momento, mas tudo vai se acalmar e eu irei ver você. Ou você pode vir me ver e ficar uns dias.
  - Tudo bem – Ele falou com mais animo.
  - Agora volte a dormir.
  Despedimo-nos e desligamos. Odiava aquilo com todas as minhas forças, mas tinha que me concentrar agora.

  Na segunda-feira, estava apresentando o resultado das pesquisas na reunião. Havia virado a noite terminando aquilo e estava satisfeita com o resultado, quando Anthony, o chefe de meu chefe, pediu por um relatório especifico.
  - Está em minha mesa – Eu disse me pondo prontamente de pé e indo busca-lo. Ao sair da visão da sala de reuniões, corri até meu computador, pois o relatório em questão nem ao menos estava impresso. Depois de correr até a impressora e então de volta para a sala de reuniões, voltei a reduzir o passo e entrei na sala para congelar totalmente na porta. Craig – meu chefe – estava lendo meu caderno para o restante dos presentes. Não as minhas anotações sobre a minha apresentação e sim a parte em que eu escrevia sobre a minha vida. Eu sentia meu rosto queimando e eles finalmente notaram a minha presença, mas nem aquilo os fez parar.
  - Isso aqui está muito bom, – Robert disse e eu fiquei confusa.
  - Não sabia que você queria ser roteirista – Craig finalmente parara de ler e sorriu para mim – Tem o potencial que procuramos para um novo drama jovem. É claro que teremos que editar um pouco do sexo, mas acredito que é perfeito para a faixa das oito.
  - Desde quando você está trabalhando nisso? Deveria ter compartilhado essa preciosidade conosco – Robert também sorriu e acredito que aquela tinha sido a primeira vez que o via feliz. Assustador.
  - Ahn – Eu disse sem saber bem o que fazer, aquilo não era uma obra de ficção – Por uma vida, eu acho – Sorri também, mesmo sem ter certeza de que aquilo realmente estava acontecendo.
  - Certo, isso é incomum, mas vamos seguir com esse plano na falta de um melhor. , desenvolva o conceito e tudo mais, você sabe como funciona. Se o piloto for aprovado, você vai preparar esse show para o próximo outono, seria insensato colocar um novato para estrear no verão.
  Eu ouvia as palavras, mas aquilo não fazia sentido nenhum. Desenvolver um show. Eu. Aquele era o trabalho de Craig, eu era apenas uma assistente. Apoiei-me na mesa quando senti meus joelhos fraquejarem, eu olhava para Robert e via os seus lábios se mexendo, mas era apenas isso.
  - Você está pronta? – Finalmente distingui o que ele disse.
  - Sim – Eu me ouvi dizer.

  Naquela noite liguei para minha família, e para contar a novidade. Todos eles ficaram bem mais animados do que eu, que conhecia bem a indústria para me deixar empolgar. Sabia, por exemplo, que somente um quarto dos pilotos feitos para a tevê realmente viravam séries. Já havia assistido muitas coisas promissoras morrerem na praia e tantas outras desperdiçadas em seriados de curta duração. Porém, como boas pessoas que eram, todos me incentivaram.
  Passei a semana seguinte enclausurada em minha casa, escrevendo o plot, estrutura, roteiro do piloto. Todos os anos trabalhando ali me ajudaram bastante, pois sabia os elementos necessários para tudo aquilo dar certo. Finalmente terminara, mas estava longe de estar pronto de verdade. Eu estava fazendo várias etapas ao mesmo tempo, pois aquela era uma situação especial. Ainda assim, teríamos no mínimo dois meses de reestruturação, discussão, sem falar na escalação do elenco e equipe para o piloto, definir locações e tudo mais. Era loucura e eu não sabia se daria conta de tudo, mas era a chance que eu precisava para deixar de ser apenas uma assistente.

Dezoito - :

  Aquele era o meu último fim de semana de folga antes de recomeçarmos a turnê. Quase um mês que eu não via , já que ela estava presa na Califórnia escrevendo a série dela. Quer dizer, eu achava que era a série, já que foram quase vinte dias naquilo, mas aparentemente todo aquele trabalho era para a gravação de um único episódio. Ela me explicou que não era somente o script do episódio, que como era o primeiro, algumas coisas como desenvolvimento dos personagens, precisavam ser feitas. Eu decidi ir até Los Angeles, nosso primeiro show seria em San Francisco mesmo, então na verdade só estaria me adiantando.
   abriu a porta do apartamento dela com um sorriso no rosto e uma taça de vinho na mão. Parecia claramente surpresa ao me ver ali.
  - Que bom que você está aqui! – Ela disse pulando em meu pescoço e me beijando em seguida. Entramos no apartamento dela e não estávamos sozinhos, na verdade havia mais umas cinco pessoas ali, todas rindo e conversando, também segurando taças de vinho – Pessoal, esse é , meu namorado.
  - Ah, finalmente, o famoso – Uma mulher disse.
  - Ou deveríamos chama-lo de Joe? – Um cara de óculos quadrados disse, arrancando risadas de todos. Menos a minha.
  - Joe é um dos personagens da série – me explicou quando deixei de ser o foco da atenção ali – E ele é levemente baseado em você.
  - Ah, claro.
  Sentei-me no sofá ao lado dela, mas a conversa não me interessava. Eles falavam sobre o seriado e em alguns momentos mudava para um assunto tentando me incluir, mas sempre acabava retomando ao tal piloto. Mark, o cara dos óculos quadrados, claramente estava dando em cima de e só me chamava de Joe, achando tudo aquilo muito engraçado. Finalmente todos foram embora e eu tive minha namorada só para mim.

  Estávamos na cama, ambos nus, mas não mais ofegantes, ela olha pra mim com aqueles olhos que podiam ler qualquer um dos meus pensamentos e eu tentava não deixar tão clara a irritabilidade que voltava a sentir.
  - O que foi? – Ela disse.
  - Nada – Eu falei depois de engolir o nó em minha garganta.
  - Eu não perguntei se aconteceu alguma coisa, perguntei o que aconteceu, então não tente me enrolar.
  - Eu achei que você estivesse sem tempo de ir me visitar, mas tem tempo para dar uma festa.
  - – Ela usou aquele tom de voz que guardava para momentos em que tinha certeza que eu estava absolutamente errado sobre algo – Eu não dei uma festa, só recebi alguns amigos para comemorar o fim de uma batalha árdua.
  - Quer dizer que você terminou? – Eu sorri.
  - A segunda parte – Ela disse com um suspiro – Agora vamos fazer audições com alguns atores, depois tem as leituras do roteiro, terceira rodada de edições e enfim poderemos gravar.
  - E quanto tempo você acha que isso vai levar?
  - Temos dois meses até a entregar o piloto.
  - Dois meses? – Foi mais um lamento do que uma pergunta, mas sorriu e me deu um beijo.
  - Acontece que eu não precisarei ficar aqui o tempo todo, prometo que compensarei esses últimos dias.
  Eu sorri e ganhei mais um beijo. deitou sobre mim e continuamos ali por muito tempo. Era sexta-feira, talvez madrugada de sábado, não poderia dizer com certeza e tínhamos o fim de semana inteiro pela frente.
  - Quando a sua turnê começa?
  - Na quarta-feira.
  - Você vai ficar aqui até lá, não é?
  - Se eu não for atrapalhar...
  - Claro que não! O show será em San Fran, certo? Acho que consigo tirar uma manhã de folga e ir assistir ao concerto.
  - Seria bom – Eu disse e rolei, ficando sobre ela agora. Ficamos acordados por horas depois disso, mas poucas coisas foram ditas.

Dezenove – :

  Acordei na manhã seguinte e estava sozinha em minha cama. Fui até o banheiro, onde fiz minha higiene matinal, indo para a sala depois disso. estava sentado no sofá, lendo alguns papéis enquanto tomava café.
  - Bom dia – Eu disse e ele claramente não havia notado a minha presença, pelo pequeno susto que tomou.
  - Ah, oi – Ele replicou colocando a xicara de café na mesa de centro – Estava distraído. Esse Joe é bem mais do que levemente baseado em mim, não é?
  - Talvez – Eu disse sorrindo.
  - Joe tem dificuldades de se relacionar, seus sentimentos parecem sempre ser superficiais, poucos são aqueles que podem dizer o que ele realmente sente – Ele leu um dos trechos de desenvolvimento do personagem.
  - – Eu me aproximei e sentei de lado em seu colo, uma das mãos em seu cabelo – Isso é ficção, sabe? Tivemos que dramatizar bem as coisas, ou não teria graça para as pessoas assistirem. É como escrever uma música, nem sempre ela é exatamente o que parecer ser.
  Com aquilo, ele relaxou e eu respirei aliviada, o que eu não precisava naquele momento era que meu namorado odiasse o meu trabalho. Beijei-lhe os lábios e num movimento rápido, ele me deitou no sofá, ficando por cima de mim. Gargalhei com o ataque surpresa dele, fazendo-o rir também.
  - Você escreve muito bem... – Ele indicou os papéis na mesa com a cabeça – E eu não danço engraçado.
  Eu sorri e voltei a beijá-lo, era difícil não querer sentir a pele dele contra à minha o tempo todo e felizmente compartilhava o mesmo sentimento, então retribuía com vontade as minhas investidas.

  Sendo assim, só saímos de casa quando passava de uma da tarde, quando a fome era maior do que todo o resto. Iriamos comer alguma coisa e passar o restante da tarde passeando por Los Angeles. Era um dia bom e eu gostava de caminhar sentindo a mão de na minha. Nós entramos no lugar onde comeríamos algo antes de iniciar nossa pequena aventura e logo nos sentamos em uma das mesas próximas a janela.
  - Esse lugar é legal – disse olhando a decoração, que lembrava um pub tradicional inglês.
  - ? – Eu ouvi a voz familiar me chamando, mas nada reconfortante naquilo.
  - Ryan – Disse com um sorriso forçado – Você não conhece o , não é?
  - Ah, então você que é o famoso ?
  - E ai? – apenas acenou com a cabeça e voltou a olhar para o menu.
  - Eu esperava mesmo te encontrar aqui – Ryan prosseguiu, sentando-se à mesa conosco, nem mesmo o olhar incrédulo de o impediu de faze-lo – Eu consegui uma audição para o piloto que você escreveu, não sabia que era roteirista, amorzinho! Quer dizer, – Ele disse e virou-se para – Força do hábito. Enfim, eu queria saber se você não pode me dar uma ajudinha, talvez umas dicas, talvez uma recomendação ou quem sabe só confirmar que nós quase casamos.
  - Ryan! – Eu o repreendi.
  - Certo, certo, não custa nada perguntar, não é? – Ele sorriu – Bem, nos vemos na segunda-feira que vem, de qualquer jeito – Ele piscou para mim e se levantou, finalmente nos deixando em paz.
  - Você ia casar com isso? – disse me cutucando com o menu e eu rolei os olhos, rindo em seguida.
  - As mãos faziam tudo valer a pena, tá? – Eu respondi e foi a vez dele de fazer careta.

  Nós comemos enquanto contava histórias de turnê enquanto eu fazia o mesmo com as histórias do episódio piloto e era quase três da tarde quando nós saímos caminhando pela rua. Depois de um bom tempo andando pela cidade, observando as pessoas, olhando vitrines e tomando um sorvete de casquinha, pegamos um ônibus para ir para o lado oeste da cidade.
  Caminhávamos pelo Santa Monica Boulevard quando eu tive uma ideia:
  - Cinespia!
  - O quê? – retrocedeu um passo, visto que eu havia parado subitamente.
  - Você está a fim de ver um filme em um cemitério? – Eu perguntei como se minha proposta fosse a pergunta que vale um milhão de dólares em barras de ouro.
  - Hm... Acho que sim – Ele sorriu se contagiando com a minha empolgação e eu ri, puxando-o na direção oposta que estávamos indo.
  Entramos em uma delicatessen e eu peguei uma cestinha, colocando algumas coisas dentro dela.
  - Eu sei que comemos faz só – Olhei no relógio e me assustei com a velocidade que a tarde havia passado por nós – Wow, quatro horas!
  - Sabe o que dizem não é? O tempo passa mais rápido quando estamos nos divertindo – falou tirando a cesta de minhas mãos apesar de ela não estar pesada.
  - Bom, cervejas, salgadinhos, chocolates e ursinhos de gelatina, você acha que precisamos de mais alguma coisa?
  - Acho que não – Ele disse e nos dirigimos ao caixa e de lá para o cemitério Hollywood Forever. Já havia uma pequena fila nos portões, mas não precisamos esperar muito para comprarmos nossos ingressos. Caminhamos junto com o fluxo por entre as sepulturas, lendo o nome de atrizes e atores da era de ouro de Hollywood, a maioria desconhecida para mim e .
  - Eu sei que os irmãos Ramone estão aqui em algum lugar, podemos procurar por eles depois do filme – Eu sugeri enquanto sentávamos no vasto gramado onde a gigantesca tela de reprodução estava instalada.
  - Pode ser – Ele sorriu e abriu uma das garrafas de cerveja, estendendo-a para mim.   Ficamos ali conversando enquanto o sol se punha e algumas pessoas dançavam ao set da DJ que sempre tocava antes dos filmes iniciarem. Somente quando já era noite que a luz do projetor ligou e as pessoas se acomodaram em seus lugares.
  - Você sabe que filme vamos assistir? – me perguntou virando um punhado de M&M’s na boca quando Be my baby começou a tocar.
  - Hm... Dirty Dancing – Respondi enquanto os créditos iniciais rolavam.
  - Dirty Dancing em um cemitério... Certo – Ele respondeu segurando a risada.

Vinte - :

  - I’ve had the time of my liiiiife and I’ve never felt this way befoooore! – cantava enquanto secava os cabelos. Eu sorria enquanto me vestia no quarto ao lado, lembrando-me da empolgação dela ao ver o filme.
  - Vamos pedir pizza? – Perguntei entrando no banheiro.
  - Pode ser, o número está na geladeira.
  - Certo – Eu disse e a beijei. Era pra ser apenas um selinho, que virou mais um e mais um e um beijo completo e de repente eu já estava pressionando o corpo dela contra a parede do banheiro.
  - Você nunca se cansa? – Ela perguntou quando os meus lábios estavam em seu pescoço.
  - Não de você.
  - Ótimo – Ela respondeu trazendo minha boca de volta para a sua. A pele dela ainda tinha o cheiro bom de sabonete de rosas e era suave ao toque, sendo assim o vestido de algodão que ela usava praticamente deslizou, caindo como um montinho aos pés dela. Ao puxar minha camisa por minhas costas, a unha de arranhou minha pele, me deixando ainda mais empolgado ao perceber que a vontade dela era tão grande quanto a minha. Apesar disso, conseguimos chegar até o quarto, apesar de não termos problemas em utilizar qualquer outro cômodo da casa – ou fora dela, se necessário - para esses fins, ainda preferíamos o conforto de uma cama de casal. Já no quarto, igualamos o número de roupas de ambos para zero e rolamos nos lençóis que eram tão macios quanto .

  - Aquela pizza cairia bem agora – Ela disse enroscada em mim, eu imaginava que ela estava de olhos fechados, mas não poderia dizer com certeza. Eu a desloquei para a cama e me sentei, colocando minha cueca de volta e indo até a cozinha pegar o número da pizzaria. Fiz o pedido enquanto olhava para a cidade lá fora, pensando que se eu um dia deixasse o Arizona, até poderia pensar em morar ali. Aquilo me pegou de surpresa, pois eu nunca pensara em deixar minha cidade, mesmo conhecendo tantas outras. Era esse o efeito que me causava, pensar o impensável, somente para tê-la ao meu lado.
  Voltei ao quarto onde ela parecia estar na mesma posição. Deitei-me ao seu lado e, ainda de olhos fechados, ela voltou a se aninhar em mim. Eu fechei os olhos também, sabendo que era aquilo tudo o que eu queria. Continuamos ali em silêncio, apenas aproveitando a presença um do outro, até que o interfone tocou e eu fui receber o entregador enquanto vestia alguma coisa.

  - Eu estive pensando – falou colocando a mesa – Vou tentar conciliar meus compromissos aqui para te ver pelo menos uma vez por semana. Eu sei que não é o ideal, mas é o melhor que posso fazer agora.
  - Excelente – Eu disse sorrindo e ela pegou o notebook, entrando no site de minha banda e checando as datas de nossos shows. Continuamos comendo e ia falando as cidades que ela queria ir, o que nós poderíamos fazer e coisas assim, o que me deixava feliz. Gostava de fazer planos com ela e ver a cara dela enquanto bolava mais planos do que horas em um dia.
  - O que foi? – Ela disse percebendo a minha cara ao observa-la.
  - Eu te amo.
  Em resposta ela sorriu ainda mais e retribuiu, voltando a falar empolgadamente sobre um museu da cerveja em Milwaukee.

Vinte e um - :

  Eu acordei resmungando. O dia anterior tinha sido o melhor domingo que eu tivera em algum tempo, mas também havia sido o último dia podendo ficar até tarde na cama com . Nós aproveitamos de todos os jeitos possíveis, mas agora era a hora de voltar à vida de gente grande. ao meu lado estava de olhos fechados, mas não dormia, pois assim que eu me movimentei, ele passou o braço pela minha cintura, em impedindo de sair da cama.
  - Mais cinco minutinhos – Ele sussurrou, me puxando para perto de si.
  - Você pode dormir até a hora que quiser, mas eu tenho que me arrumar, ou chegarei atrasada – Eu disse dando um selinho nele em seguida, que logo parecia bem desperto.
   me acompanhou até o banheiro, onde tomamos um banho mais longo do que deveríamos e depois um café da manhã caprichado. Acabei saindo com os cabelos molhados, não tinha tempo para seca-los, e corri até o estúdio, chegando exatamente no horário.
  Tivemos uma reunião longa, onde felizmente tudo deu certo e eu consegui a folga que queria para ir ver o show de naquela semana. Além disso, as audições para o piloto estavam bem adiantadas, logo saberíamos quem daria vida aos meus personagens. No fim do dia voltei para a casa com o maior sorriso do mundo no rosto, enquanto o sol se punha e All Time Low tocava no rádio. Ao chegar em casa, as coisas só melhoravam, ao ser recebida por que parecia concentrado em sua tarefa ao cozinhar a massa que estava no fogão.
  - Droga, era pra estar pronto quando você chegasse – Ele exclamou depois de me cumprimentar.
  - Você quer que eu espere na garagem? – Eu disse risonha.
  - Não é necessário. Que tal você relaxar um pouco, talvez vestir algo mais confortável e voltar aqui em alguns minutos?
  - Parece ótimo, vou tomar um banho e depois tenho boas notícias para dar – Eu disse beijando-o mais uma vez e indo para meu quarto.

  Quando voltei para a cozinha, a mesa estava posta e olhava orgulhoso para o resultado de seu trabalho.
  - O cheiro está ótimo! – Eu disse e nós nos sentamos.
  - Como foi o seu dia? – Ele disse sorridente.
  - Ótimo! E o seu?
  - Grande – Ele disse. – As horas não passavam, eu acabei dando uma volta pelo bairro, fiz umas compras para fazer esse jantar e depois voltei para cá.
   deu uma garfada em seu espaguete e mastigou lentamente e quando eu preparava para fazer o mesmo, ele me parou.
  - Não faça isso.
  - O que foi?
  - Está horrível!
  - Ai, deixa disso, aposto que não está tão ruim assim – E coloquei o garfo em minha boca. A massa estava com uma textura estranha, não sabia dizer se estava crua ou cozida demais. O molho não tinha sal e estava absurdamente apimentado. Isso combinado com a acidez dos tomates me fazia querer cuspir aquilo tudo, mas engoli com certo esforço, seguido de uma taça inteira de vinho.
  - Eu tentei avisar – Ele disse envergonhado – Desculpe.
  - Sem problemas, comida chinesa? – Eu disse me levantando e indo até a sala.
  - Pode ser. – respondeu me seguindo e eu fiz o pedido.
  - 40 minutos – Eu o puxei para o sofá comigo – E agora é hora da boa notícia.
  - Ah, verdade! Me diga que você conseguiu a folga para ir ao show.

Vinte e dois - :

  Um mês depois...
  Eu estava dando beijinhos no rosto de enquanto o motorista do táxi que a levaria para o aeroporto colocava a mala dela no porta-malas.
  - Parece o último dia das férias de verão – Eu disse abraçando-a mais forte.
  - Pois é... Mas foi uma boa folga.
  - Te vejo em uma semana?
  - Uma semana – Ela disse me beijando em seguida. Fechei a porta do carro e acenei uma última vez e fui para o meu ônibus.
  - O que foi? – sentou-se ao meu lado no sofá enquanto eu encarava a janela.
  - Nada. Só estou pensando em mim e e nosso relacionamento. As coisas de sempre.
  - Está tudo bem entre vocês?
  - Sim. Na verdade, não ficamos juntos tempo o suficiente para que as coisas dessem errado.
  - E você acha isso ruim?
  - Acho. Quer dizer, eu não queria que as coisas dessem errado, mas queria que nós tivéssemos mais tempo juntos.
  - Bom, só não vai tomar nenhuma medida drástica.
  - Eu acho que no nosso caso, independente do que eu decida fazer, será um tanto drástico.
  - Só não vá fazer algo que te deixe arrependido – Ele disse, mas eu já estava distraído novamente, encarando a paisagem lá fora e tentando entender o que deveria fazer.

Vinte e três - :

  Meses depois...
   finalmente estava voltando de uma turnê fora do país. Aqueles haviam sido dois longos meses, mas eu consegui me manter ocupada com o sucesso da série. Naquela sexta-feira eu iria para o Arizona, depois de tanto tempo sem ver meus amigos e família, e chegaria no dia seguinte. Comemoraríamos dois anos de namoro naquele fim de semana e eu havia conseguido uma folga de uma semana, a ideia de passar os próximos dias com as minhas pessoas favoritas do mundo me deixava extremamente empolgada.
  Meu telefone tocou e eu levei algum tempo para encontrá-lo sob a pilha de roupas rejeitadas para a viagem sobre a minha cama.
  - Alô?
  - ? É Érica – A minha assistente me ligando depois das seis horas de uma sexta-feira, boa coisa não podia ser.
  - Qual é o problema? – Eu disse olhando o relógio em meu pulso. Tinha exatamente duas horas até meu voo partir e perde-lo não estava em meus planos.
  - É aqui no set, precisamos de você aqui.
  - O que exatamente está acontecendo?
  - Olha, , ninguém me fala nada e todos só ficam berrando ‘porque você ainda não ligou para ?’. Ai, desculpa, eu tenho que ir. Vou dizer que você está a caminho, beijos! – Ela desligou antes que eu pudesse explicar que estava com pressa. Suspirei, pensando em ligar de volta, mas então ponderei que poderia passar lá a caminho do aeroporto, e foi isso o que fiz.

  Ao chegar ao estúdio, estacionei meu carro e caminhei até o grande prédio onde as cenas eram filmadas. Esperava gritaria e pessoas correndo, mas ao abrir a porta, ouvi nada além do silêncio completo. Olhei ao redor e nada ali parecia calamitoso como Érica dissera, muito pelo contrário. Antes de ligar para ela, voltei a encarar o cenário, aquela era a uma réplica do café onde eu e havíamos começado a namorar, também fora o lugar onde eu achei que havia o perdido para sempre quando ele anunciou o seu noivado com Claire, foi ali também que eu recebi por telefone a notícia que meu seriado seria renovado. Aquele local era parte de nossas vidas e infelizmente o original não existia mais há alguns meses, mas aquela era uma imitação cenográfica perfeita.
  Olhei em meu relógio e tinha pouco menos de uma hora e meia. Antes de pegar meu celular, ouvi passos ecoando pelo estúdio.
  - Érica – Eu disse e parei subitamente, vendo que minha companhia em nada se parecia com a garota magricela que me lembrava a mim mesma alguns meses atrás – ?!
  Venci a distância entre nós dois a passos largos e o beijei. Eu tinha imaginado aquele momento várias vezes nas últimas oito semanas, mas nem de longe era parecido com aquilo.
  - Oi.
  - Oi – Eu respondi. – Achei que você estaria em algum lugar sobre o Atlântico nesse momento.
  - Acabei de chegar aqui, quase perdi você, mas preciso muito falar contigo. Sorte que Érica foi muito prestativa.
  - Me lembre de sugerir que ela ganhe um aumento – Eu disse e ele riu. – Estou feliz em te ver aqui.
  - Olha... Se eu falar que vim te ver sem nenhum motivo, estaria mentindo.
  - , tá tudo bem? – Perguntei notando que ele ficara mais sério.
  - Não se preocupe comigo.
  Eu fiquei séria também, dando um passo para trás e olhando para , cujos olhos fugiam dos meus. Ele estava nervoso, aquilo era claro, mas por quê?
  - Sabe, essas oito semanas me fizeram pensar muito. No tempo que eu fico sem você, como isso me deixa triste, como até mesmo a curta distância do Arizona até aqui acaba comigo.
  - – Eu interrompi, não gostava do rumo daquilo. É óbvio que eu detestava aquela distância tanto quanto ele, mas o que poderia fazer? Além de termos uma vida juntos, tínhamos cada um a sua individualmente e elas exigiam coisas diferentes, em lugares diferentes, de ambos.
  - Só me deixa terminar.
  - Certo.
  - , eu nem me lembro de minha vida antes de ter você aqui comigo. Não sei mais o que é tomar uma decisão sem pensar em você também. Eu nem sei mais andar pelas ruas sozinho sem sentir falta da sua mão na minha. E sabe, quando eu estou longe, são essas coisas pequenas que mais me fazem sentir a sua falta. Seu cheiro no travesseiro, o gosto da sua boca, o seu sorriso sempre travesso, o jeito como você consegue bagunçar tudo em poucos minutos, um dia vão batizar um furacão em sua homenagem, e o jeito que só você sabe como colocar cada pedaço de mim de volta no lugar. Eu cresci e me tornei a melhor versão de mim que eu consigo ser, por você. Eu sei o quanto esse lugar significa pra você e não tem nada que me diga que eu estou em casa melhor do que estar ao seu lado e eu não consigo pensar em um momento melhor para isso – Ele disse enquanto levava a mão ao bolso de sua jaqueta e ficava de joelhos – Você aceita se casar comigo?
  - Sim! – Eu disse sem titubear, sentindo os meus olhos marejados e uma felicidade imensa em meu peito. A ideia de passar o resto da vida com meu melhor amigo, meu primeiro amor, meu namorado, era avassaladora, indescritível, maravilhosa. deslizou o anel em meu dedo delicadamente e eu o beijei, ainda com um sorriso no rosto.
  - Bom – Ele olhou a tela do celular – Temos que ir ou vamos perder nosso avião e nossa festa de noivado.
  - Festa de noivado?
  - Oh, droga! Faça cara de surpresa quando chegarmos lá ou vai me matar.

Vinte e quatro - :

  A cara de surpresa de fora bastante convincente, mas a verdade é que acho que ela estava genuinamente maravilhada com tudo ali. Chegamos a casa dela, onde nossos amigos e familiares estavam nos esperando. Uma faixa daquelas de aniversário onde normalmente se lê “feliz aniversário” ou “parabéns” dizia “antes tarde do que nunca”. Claramente aquela era uma festa organizada por .
  - Então todos vocês sabiam antes de mim? – dizia enquanto era abraçada pelos pais.
  - nos pediu a sua mão por Skype ontem – O pai dela disse.
  - Ninguém me contou nada ou eu teria organizado uma festa maior – disse ao abraçar a amiga – Sorte que não é bom com segredos.
  - Desde quando te conta segredos?
  - Bom... – Ela disse diminuindo o tom de voz o suficiente para que só nós dois ouvíssemos – Talvez eu tenha uma coisa ou outra para contar mais tarde.
  Nós comemos o bolo que havia comprado, bebemos e conversamos como a grande família que sempre fomos. Não eram nem oito horas da noite quando eu e meus colegas de banda saímos de lá, abatidos pelo fuso horário e jet lag.
  - Até amanhã, noiva.
  - Até amanhã, noivo – respondeu me dando um último beijo.
  - Nós somos um daqueles casais, não é? – Eu disse sorrindo e ela acenou afirmativamente fazendo uma careta em seguida.

Vinte e cinco - :

  Tudo o que eu queria eram mais cinco minutos na cama. Estava em Los Angeles, sem e passara a noite toda desencaixotando as últimas caixas dele em meu apartamento. Nosso apartamento. Depois de muita conversa, havíamos decidido que ele viria para cá, pois meu trabalho é mais frequente do que a necessidade dele de ficar em nossa cidade natal. Falando em trabalho, eu tinha que me mexer, ou chegaria atrasada.

  - Certo, hoje temos as últimas cinco candidatas ao posto de Claire – Bill, o diretor de casting do meu seriado me dizia enquanto sentávamos à mesa no estúdio. Estávamos na fase de pré-produção para a terceira temporada.
  - Ótimo.
  - Eu já vi os testes anteriores delas, tenho a minha favorita, mas quero ouvir a sua opinião.
  - Tudo bem, vamos começar!
  Todas elas estavam sentadas em um canto, esperando a sua vez de fazer o teste.
  - Bill, essa é Claire – Eu sussurrei indicando a loira usando um vestido azul.
  - Você tem certeza? Nem ao menos quer ver o teste dela?
  - Não, essa é Claire. A verdadeira. A da minha vida.
  - Oh.
  Nós nos olhamos e trocamos um sorriso constrangido. Bill deu inicio aos testes, chamando a primeira candidata.
  Todas elas fizeram as suas audições enquanto eu e Bill escrevíamos em nossos cadernos o que havíamos achado.
  - Obrigado a todas, nós entraremos em contato ao fim dessa semana. – Bill anunciou e todos começaram a se retirar – Até mais, .
  - Tchau, Bill – Eu disse arrumando as coisas em minha bolsa.
  - Eu não sabia que você trabalhava aqui – Claire disse ao se aproximar de mim.
  - Ah, oi! - Eu disse me recuperando do susto. Olhei ao redor e éramos apenas nós duas ali, sem companhias, sem testemunhas – Na verdade, essa série é minha.
  - Ah, eu vejo o show às vezes, bem que reparei em algumas coisas familiares.
  - Não sabia que você é atriz.
  - Ah, era algo que sempre quis fazer e acabou acontecendo. Vim para cá depois que e eu terminamos e consegui alguns bicos fazendo pontas por aqui. Falando em - Oh, . Será que era naquele momento que ela me culparia pelo término dos dois? – Você tem falado com ele?
  - Sim... Nós estamos noivos – Eu disse e ela tomou minha mão esquerda, olhando para meu anel de noivado.
  - Ele acertou o tamanho dessa vez – Ela disse sorrindo, ainda analisando a joia – Parabéns. Faz muito tempo?
  - Obrigada – Eu disse mais relaxada, ao ver que aparentemente Claire havia superado tudo aquilo – Um pouco mais de um ano.
  - Imagino que a vida esteja bem corrida para vocês, com a banda e a série...
  - Oh, sim! É difícil conciliar tudo, mas o esforço vale a pena.
  - Bom, não vou mais te atrapalhar, aposto que você tem mil coisas para fazer.
  - Na verdade, eu estou indo almoçar. Você quer vir junto?
  - Claro!
  Saí do estúdio com uma sensação boa, quem sabe talvez pudessemos ser amigas.

Vinte e seis - :

  - Você deveria ter arrumado melhor esse cabelo, – Minha mãe dizia passando a mão em minha cabeça.
  - Mãe, você não acha que é um pouco tarde demais para isso?
  - Claro que não, só precisamos achar alguém com um pouco de gel.
  - Vá se sentar, mulher, não se preocupe com isso – Eu disse sorrindo, segurando as mãos dela - Além do mais, gosta dele assim.
  - Se é assim, eu desisto – Ela disse me beijando no rosto e deixando o altar.
  A marcha nupcial tocou e todos se viraram para a entrada da igreja, onde as portas se abriram, revelando em seu vestido. Eu não conseguia ver nada além dela, tinha um brilho que era mais do que o reflexo em seus olhos úmidos de lágrimas, mais do que seu sorriso no rosto, mais do que os cristais que reluziam delicadamente em seu véu. Ela estava radiante.

  - Vamos aos votos – O padre disse e eu respirei fundo.
  - , hoje é o dia em que eu adiciono mais um substantivo ao pensar em você. A partir de hoje, além de minha melhor amiga, amor da minha vida, você também é minha mulher. Você não sabe como eu me sinto sortudo em começar essa nova etapa juntos. Eu prometo ser digno dessa honra, demonstrando meu amor por ti pelo resto de nossas vidas.
  - , de todas as perguntas que me fizeram na vida, a sua foi a mais fácil de responder. Três letras que, assim como eu, te pertenciam antes mesmo que de ouvir o seu pedido. Quando me vi nesse vestido hoje, lembrei-me de mim aos dezenove anos e como tanta coisa mudou desde então, mas o que eu sinto por você sempre esteve aqui e eu prometo te amar pra sempre, mesmo que para mim a eternidade seja pouco.
  - Com o poder em mim investido, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.

Epílogo

  Aos dezenove anos, você vê a felicidade em grandes momentos, o amor em grandes gestos, a diversão em grandes festas. Com um tempo, você aprende a apreciar as pequenas coisas, como naquele momento em que eu acordei no meio da noite e vi adormecido ao meu lado. Não pude evitar o sorriso, nem o beijo leve que dei nele, me aproximando dele para voltar a dormir. Eu não podia ser mais feliz.



Comentários da autora


This is the endo f yooou and meeee... Enfim o fim! Foi um prazer inenarrável dividir 19 com todas vocês, muito obrigada pelos comentários, tweets e e-mails! Eu odeio finalizar fanfics ao mesmo tempo que odeio ficar tempo demais em uma história, haha. Enfim, quero agradecer a Dani, pelos comentários precisos e o amor semanal via e-mail, a Fee Lemos, Nina, Samyra, @dudesdomcfly, Milla e todas as gatas que comentaram durante a publicação da fic, vocês são demais! Cáàh e Natashia que foram as betas dessa belezoca, obrigada! E é obvio que minha biscate favorita, a S da minha B, a minha verdadeira soulmate, a melhor amiga que eu poderia ter a sorte de ter e musa inspiradora, Jessie Prade, te amo mais do que mil finais felizes com meu band dude favorito [KD fics novas suas nesse site, amora?]! Então é isso, espero que vocês tenham gostado do fim e a gente se vê em How to be a heartbreaker! x