Destino, talvez.
Escrito por Giuliana Ramires | Revisado por Paulinha
Capítulo 1
- Abaixa essa música, !
O volume que estava no 85% acidentalmente escorregou para o 100%.
Levantei da cadeira do computador, abrindo as portas e janelas deixando Queen invadir a casa de meu pai.
Pai... Palavra que não deveria ser usada aqui. Aqui e em lugar nenhum. Esse homem que me chama de filha apenas me colocou no mundo. Nem suas obrigações jurídicas faz.
- Eu vou contar até três. E se eu subir essas escadas...
deixou a frase no ar. Tentando fazer com que eu pensasse no que ele faria comigo. Nada. Ele sempre foi um homem de muitas palavras e poucas atitudes.
Passos. Passos pesados.
- Eu mandei você abaixar essa música, não mandei? - Encarou-me, conseguindo uma feição mais feia do que a normal.
- E desde quando você pode dizer o que eu tenho de fazer, ? - Encarava-me cada vez mais rígido e frio, não gostando de minhas palavras. Who cares?
- Já não mandei me chamar de pai, também?
Suspirei pesado pegando ar e ri sarcástica.
- Chamar-te-ei de pai quando tiver a posição de um. Nunca!
Peguei meu celular, em cima de meu móvel e caminhei na direção de , dando um esbarrão de propósito em seu ombro. Ele nunca foi um homem muito alto. Na verdade, suas atitudes nunca foram de homem.
Caminhei olhando o céu e segurando o choro até a casa da frente. Casa da pessoa que mais me ajudou desde que minha mãe havia me deixado por trabalho. Eu já falei que odeio a justiça? Eu odeio a justiça!
Toquei a campainha três vezes rápidas e seguidas, a família de já me conhecia. E já conhecia minha história.
- De novo, meu amor? - A mãe de me abordou com um abraço.
Subi as escadas, escutando-as ranger. Se esta casa fosse minha, já teria reformado-a faz tempo. Mas eu estou reclamando de barriga cheia, como diria minha mãe. É nessa casa que eu encontro proteção e família de verdade.
- , quer contar o que houve? - Encarou-me com seus lindos olhos azuis piscina. Eu sempre o invejei por isso, devo confessar. Era uma brasileira complexada por ter olhos castanhos-claros e morar na Inglaterra. Ou seja, para todo lugar que olho, alguém me olha de volta com olhos claros e mais bonitos que os meus.
- Eu o provoquei com música alta... era o único que mesmo quando não entendia, não julgava, ou sequer perguntava. Ele sabia que eu não gostava de perguntas.
- Vem, vamos ver algum filme. - Eu já me considerava de casa.
Pulamos na cama em sincronia, deitando-nos um por cima do outro. What Happens in Vegas. O melhor filme do mundo, devo admitir.
Abri os olhos incomodada com a claridade batendo em meus olhos. Eram menos de meio-dia e mais de oito da manhã. Porque diabos já estaria de pé?
Esfreguei meus olhos e espreguicei-me. Tinha de voltar pra casa. Se é que posso chamar aquilo de casa... Mal posso esperar por meus 18 anos.
Desci os degraus e encarei . Fazendo panquecas. Ou pelo menos tentando fazer. Era a pessoa mais doce que eu poderia conhecer.
Caminhei até ele, dando um beijo em cada bochecha.
- Quer que eu te acompanhe até sua casa? - Fitou-me enquanto colocava o café na mesa.
- Não precisa, mesmo. Estou pensando no que vou fazer. - Disse indo a caminho das gavetas de talheres.
- Como assim "o que vai fazer"? Não já combinamos de esperar seus 18 e comprar uma casa? - Encarou-me esperançoso.
Montar uma casa com o dinheiro de sua banda de garagem e meu dinheiro de garçonete era a nossa promessa desde sempre.
- Não sei se vou aguentar esperar dois meses. - Disse por fim, dando início ao silêncio inapropriado.
Capítulo 2
Abri a porta fazendo o menor barulho que consegui.
Como se isso importasse... dormia como uma pedra. Nada acordava-o. Quer dizer... Quase nada.
- Cheguei! - Berrei em sua orelha, fazendo-o acordar assustado.
- Sua mãe não te ensinou a acordar as pessoas com bom dia? - Perguntou, visivelmente irritado.
- Pessoas, sim. Mas pelo que posso ver, você é um animal.
Pendurei minhas chaves e subi as escadas, ignorando-o. Como sempre.
says: Quando vamos nos ver?
says: Estou topando qualquer coisa, esse velho está me matando!
says:hahaha Sei como é... Funky Buddha às 19h?
says:Perfeito!
Desliguei o monitor, observando meu armário.
Hoje eu iria fazer minha vida valer apena.
Caminhei até o banheiro e tomei o banho mais demorado da minha vida. Eu estava completamente limpa. Por fora.
Olhos castanhos-claros sempre caíram bem com contorno preto, e não seria diferente agora. Batom nude e rímel. Faltava apenas a roupa.
Meu celular estava com três chamadas perdidas. Minha mãe, provavelmente. Quem me procuraria às 18h?
Coloquei um de meus melhores vestidos e olhei no espelho, feliz com o resultado.
Peguei minha bolsa e meu celular, olhando as chamadas perdidas.
(2) Seu futuro marido
(1)
Eu sempre tive essas brincadeiras com . E por incrível que pareça, nunca nem sequer demos um selinho.
- Diga meu futuro marido. - Disse ao ouvi-lo atender com som de risadas atrás.
- Você está no viva-voz. - Viva-voz era sinal de notícia boa ou ruim. Todos sabiam o quanto eu odiava ser escutada por mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Suspirei, dando sinal para que ele pudesse continuar.
- Lembra daquele empresário que eu te falei? - Assenti, mesmo sabendo que ele não me veria.
- Assinamos contato e abriremos os shows da Beyonce por toda America do Sul! - Os amigos de disseram em sincronia, arrancando um sorriso meu.
- Isso é maravilhoso! Temos que comemorar!
Desliguei depois de ouvir dizer que sou egoísta, e que não abriria mão de uma noite minha por uma vitória dele.
Ele não sabe o quão enganado está em pensar assim. Eu o amo.
E não abro mão de sair com porque não quebro promessas.
Quando será que ele irá embarcar?
Caminhei até o segundo andar, pegando minha chave e batendo a porta deixando claro que estava saindo. Entrei no táxi e dei o endereço da tal boate.
Capítulo 3
Os meses se passavam e eu não ficava um dia sem sair de casa. ligou-me para conversar, eu recusei dizendo-o ama-lo demais para deixa-lo ter uma amiga ruim como eu. Por quê? Simples. Sóbria eu não estava.
- Sua mãe está vindo te visitar. - disse após dar três toques em minha porta.
- Não precisa mais bater em minha porta. A casa é sua. - Encarou-me surpreso por minha atitude. Eu nunca havia sido uma pessoa com ele. Era arisca em todas as tentativas de conversa.
- Está com saudades daquele rapaz, não é mesmo? - Balancei a cabeça afirmando e abri meus braços. Se não estivesse tão carente de não o abraçaria. Mas estou.
Já não aguentava mais ligar a televisão e ver notícias de e seus amiguinhos.
" fecha mais uma turnê" era o que a repórter loira barbie de farmácia anunciava. " ficará longe de por muito e muito mais tempo." era o que eu a ouvia dizer.
Sua banda de garagem havia aberto todos os shows da Beyonce, e logo depois assinado um novo contrato. Eles estavam ficando famosos por todo o mundo e eu não queria, e nem deveria admitir, mas minha vida havia apenas piorado com o sucesso do meu melhor amigo.
Não nos falávamos como antes. dedicava a maioria do seu tempo com fãs e novas músicas.
Eu não saía mais de casa, esperando-o voltar e me chamar para nossa casa.
É, aquela casa que nós tanto prometemos.
Bullshit!
Nenhum de nós toca no assunto.
- Posso conversar com você? - Minha mãe sentou no sofá, chegando mais perto. - Seu pai me contou o que está havendo... Por que não liga pra ele? - Ela encorajou-me, fazendo carinho em meus ombros.
- Você fica do meu lado? - Minha mãe abriu um sorriso enorme e sincero.
- Mas é claro que sim, meu amor.
Disquei os números de e aguardei. A cada chamada meu coração batia mais forte.
- Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? - Ele ironizou, soltando uma risada pequena e completamente irônica.
Suspirei e encarei minha mãe. Sua mão estava junto a minha, para me dar forças. Forças? Para que?
- Poderia parar de ser babaca e me escutar, por favor? - Não soou suave, mas o fez ficar calado. E era o que eu precisava.
- Lembra de quando você me ligou e disse que havia conseguido um contrato? - Ele tentou responder, e eu o cortei. - Por favor, não me interrompe ou eu não vou conseguir falar. - Ele deu uma risada sincera, parecendo prestar atenção. - Eu queria correr até você e dizer o quanto eu estava orgulhosa do meu melhor amigo. - Minha mãe me olhou feio. - Do cara que eu amo. - Suspirei mais uma vez.
Minhas mãos estavam soando. Minha mente estava dando voltas.
- Mas eu não fiz. Porque eu tive medo. Medo de ir até você e ao invés de dizer "parabéns, você conseguiu", dizer "eu não quero te perder para fama". Você se afastou, . Não te vejo há meses. Eu também sinto saudades, sabia? - Desabafei, sentindo minha mão vazia. Sem a presença de minha mãe na sala.
Levantei do sofá e olhei ao redor, virando-me para porta.
- O que você está... - As palavras estavam faltando. estava ao vivo e a cores na minha frente. Pela primeira vez em meses.
- Seu pai me ligou e disse que você não estava bem. Estou na casa da frente tem uma semana. Desculpe não tomar a iniciativa. - Pisquei rápido quantas vezes meus olhos permitiram. Eu não estava acreditando.
- Me perdoa por ter sido a pior melhor amiga do mundo? - Pedi, chegando perto para abraçá-lo.
- Só se você mudar de posto. - Minha cara se transformou em interrogações. havia se superado em não dizer nada com nada.
- O que acha de ser a pior namorada do mundo? - Dei-lhe um tapa de leve no ombro, onde eu sabia que não machucaria.
- Não serei a pior namorada do mundo. - Disse segura.
- Isso é um sim? - Perguntou fitando-me.
Coloquei meus braços em seu pescoço e juntei nossos lábios. Não tinha como imaginar o beijo que eu sempre esperei. É uma mistura de superação e amor. Sim, amor. Eu, -não-amarei-ninguém estou apaixonada pelo primeiro garoto que conheci em toda minha vida. Destino, talvez.

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