Dear Maria

Escrito por Zã Nogueira | Revisado por Lelen

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  Estacionei meu carro logo abaixo do letreiro de neon que piscava incessantemente. Passei pelas portas e Greg, o segurança do local, me cumprimentou pelo nome dando um sorriso amigável. Lembro-me da primeira vez em que tentei passar por aquelas mesmas portas, um ano atrás, com a identidade falsa mais ridícula já feita. Ele me chutou para fora como quem chuta um cão sarnento, mas olhe para mim agora.
  Ashley, a dona do lugar, me mandou o mesmo olhar tarado de sempre, ajeitando os peitos caídos naquele decote generoso. Eu sorri simpático, mas andei na direção oposta, dificilmente ia querer algo com alguém que tinha a mesma idade da minha mãe (e muitas cirurgias plásticas para – inutilmente – tentar esconder esse fato).
  Caminhei até uma mesa perto do palco, sentindo o olhar das outras garotas que trabalhavam lá me seguindo, mas só uma delas me interessava: . Olhei ao redor e ela não estava em lugar algum à vista.
  - Senhores – Ashley subiu ao palco – Com vocês, Maria!
  A luz apagou e voltou a acender num foco único. Lá estava ela, o modo que ela se movia, era indescritível. Era como se a musica saísse dela, como se fossem um só. Ela foi se agitando e dançando, até suas roupas estarem no chão e tudo o que ela vestia era um minúsculo biquíni. Nossos olhares se cruzaram por um breve momento e ela sorriu travessa. De quatro, ela engatinhou em minha direção, mas parou. Um velho balançando uma nota de cem a chamou atenção. Ela foi até ele e se curvou de costas, deixando os longos cabelos loiros de sua peruca deslizarem até o colo dele. O velho, extasiado, colocou a nota na alça do biquíni dela. Ela sorriu para ele e rolou sensualmente, voltando a ficar de quarto. Dançou mais um pouco e levantou-se, voltando a olhar para mim. Piscou e foi até o poste no centro do palco, terminando sua apresentação depois de alguns minutos dançando ali. A luz se apagou e eu sabia que ela iria pegar todo o dinheiro que haviam jogado para ela e depois iria vestir algo não muito mais comprido do que vestia naquele momento e se juntaria à suas colegas no salão onde estávamos a fim de entreter os clientes – assim como eu.

  A luz voltou a acender e já não estava lá. Reclinei na cadeira e respirei fundo, até quando eu teria que vê-la daquele jeito?
  - Oi Alex! – Amber, uma das colegas de , se aproximou – Você quer alguma coisa?
  - Hm, não, obrigado – Eu sempre dizia não, por não ter idéia do que aquele ‘alguma coisa’ podia significar. Ela continuou ao meu lado e a situação estava ficando constrangedora quando um gorducho boquiaberto acenou para ela com um maço de notas e ela foi prontamente até ele. Eu fiquei olhando para a porta que dava acesso aos bastidores, até que ela finalmente abriu e saiu de lá. Ela vestia um short jeans minúsculo – a denominação correta para esta peça de vestuário seria calcinha jeans –, uma miniblusa pink, cortada na gola e na barra e um chapéu de vaqueira que combinava com suas botas.
  Ela caminhou sorridente até um jovem de queixo largo, montou no colo dele e dançava ao som de Man, I Feel Like a Woman. Ao fim da música, o garoto estava sorrindo ao colocar notas entre os peitos dela. Ela piscou para ele e caminhou até mim, sentando de lado no meu colo e colocando seu chapéu em mim.
  - Senti sua falta, cowboy! Onde esteve essas duas ultimas semanas? – Ela falou ajeitando os fios loiros de sua peruca.
  - Shows fora da cidade – Falei. Ir ver era parte da minha rotina semanal. Ela se apresentava quatro vezes por semana e eu sempre dava um jeito de ir a um dos dias.
  - A sua carreira está crescendo!
  - A sua também... , vamos sair daqui... – Eu disse olhando para os lados, preferia ir para outro lugar com ela.
  - Maria! – Ela chiou – E ainda faltam duzentos para fechar o faturamento de hoje.
  - Aqui – Eu estendi o dinheiro que ela queria – Vamos embora -  Ela se curvou divertida, achando graça de tudo aquilo – Pegue – Falei mais firme.
  - Faça direito, Alex – Ela gargalhou enquanto eu colocava o dinheiro nos peitos dela – Agora sim! Eu vou pegar minhas coisas e podemos ir. Espere-me no carro! – Do mesmo jeito alegre que ela veio, foi embora. Eu me preparava para sair, quando Ashley apareceu com Lucy. Ao contrário de , Lucy não se sentia nem um pouco confortável naquele ofício.
  - Alex! Posso te oferecer uma dança? – Ashley segurava Lucy pelos ombros, como para que impedir que ela fosse correndo a qualquer momento.
  - Ah, obrigada, mas já estou de saída.
  - Oh, Lucy não faz o seu tipo?
  - Longe disso, Lucy é linda, mas eu e Maria, estamos de saída.
  - É sobre isso que gostaria de conversar como você, querido – Ela empurrou Lucy para longe – Maria é minha melhor garota, me rende muito dinheiro e você vive levando ela embora!
  - Eu me preocupo com ela.
  - Então deveria se preocupar em como ela paga as contas no fim do mês...
  - Er, eu, bem, eu tenho que ir – Me levantei e saí, deixando algum dinheiro na mesa.
  Entrei no carro e liguei o rádio. Uma música irritante com uma cantora ainda mais irritante tocava.
  Antes que pudesse desligar, entrou no carro cantando a infame canção.
  - Podemos ir – Ela disse me beijou na bochecha, me fazendo a empurrar delicadamente para longe.
  - Eu quero , não Maria – Apontei para a peruca loira que ela ainda usava.
  - Você é tão bobo – Ela disse puxando a peruca e sorrindo. Eu sorri de volta enquanto ela cantava desafinadamente junto com a música, aquela era a minha garota.

  Eu estava dirigindo até a casa de , falando amenidades e cantando músicas ruins.
  - Quem Ashley jogou para você hoje? – Eu gostava de acreditar que essa pergunta que fazia toda noite em que eu ia visitá-la era sinal de ciúmes, mas eu sabia que provavelmente era coisa da minha cabeça. Ela tinha uma pose de durona e aquele jeito de que nada a abalava.
  - Lucy...
  - Uau, ela gosta de você!
  - Ela só quer que eu pare de te tirar mais cedo do trabalho – Nós dois demos risadas.
  - Não sei por que ela se importa, não interessa o quanto eu faça, ela vai levar os 15% e temos um valor mínimo para pagar.
  - Mas você ganha um bom dinheiro? Quer dizer, eu não quero me meter, só quero ter certeza de que você tem todo o dinheiro que precisa, que está bem.
  - Eu ganho um bom dinheiro, não se preocupe.
  - Você nunca pensou em fazer outra coisa?
  - Óbvio que já pensei em ser outra coisa, Alex! Nenhuma criança pensa ‘meu sonho é ser stripper’, só aconteceu.
  - Ser uma Angel quem sabe? Podemos fazer de você uma estrela!
  - Você diz aquelas super modelos da Victoria’s Secrets? – Ela riu debochadamente - E você já ouviu falar de alguma Angel que começou como stripper?
  - Eu acho que você é melhor que isso.
  - Você fala como se eu fosse uma prostituta ou algo assim. Você sabe que não é nada disso. Ser stripper não me faz uma pessoa horrível. Aliás, aquelas garotam que vão ao seu show e te mostram os peitos – Ela ficou mais relaxada e sorria – são piores do que eu! Elas fazem isso de graça!
  Nós dois rimos e um leve silêncio se formou. Eu continuava achando que ela precisava de mim.
  - Sério Alex – A mão dela foi para os meus cabelos – Eu to bem, tenho tudo o que eu quero e sei me virar. Eu não preciso de ajuda.
  - Só quero que você saiba que se precisar de mim, é só pedir.
  - Certo – Ela sorriu tímida – Obrigada.

  Parei o carro na frente da casa de . Ela morava com uma Hooter Girl chamada Kendra. As luzes estavam todas acesas e assim que entramos, vimos a garota e seu namorado Frank, o cara mais idiota que já conheci. E acredite, eu conheço MUITOS idiotas.
  - ! Alex! – Kendra nos abraçou – Nós casamos! – Ela levantou o dedo, mostrando um anel dourado, mas que deve ter custado no máximo dez dólares, de tão falso que era.
  - Ah, que ótimo! – falou, mas eu a conhecia bem, ela estava odiando aquilo.
  - Parabéns! – Eu disse no mesmo tom de falsa alegria.

  Bebemos espumante barato para comemorar e eu tinha certeza que aquela porcaria ia me dar dor de cabeça na manhã seguinte. Os dois contavam a sua fuga seguida de casamento enquanto trocava olhares preocupados comigo.
  Algum tempo depois de socialização forçada e visto que naquela noite não conseguiria ficar sozinho com , me despedi de Kendra e Frank.
me acompanhou até meu carro e nós dois ficamos parados ali, sem dizer nada.
  - O que foi? – Perguntei enfim, ao notar que ela continuava cabisbaixa.
  - Kendra está casada.
  - E você notou que enquanto sua amiga encontrou o verdadeiro amor e vai construir uma família, você está sozinha?
  - Não – Ela me deu um leve soco, rindo, e cruzou os braços – Essa casa é dela, eu não posso mais ficar aqui. Já tínhamos combinado isso, mas não achei que ela iria se casar assim de repente.
  - Por acaso esse é o seu jeito de pedir ajuda? – Falei com um sorriso bobo.
  - Não, não estou pedindo ajuda – Ela fez um bico emburrada.
  - – Coloquei as mãos em seus ombros – Porque você é tão teimosa? Sem discussão, você vai ficar na minha casa. O Rian saiu de lá, então tenho um quarto vago que você pode ocupar.
  - Alex... Eu não vou atrapalhar?
  - Eu não disse que seria de graça, você na verdade vai me fazer um favor, não sei se vou conseguir manter aquela casa se ficar sozinho lá. Por favor, eu sou quem estou te pedindo ajuda.
  - Certo, certo – Ela sorria.
  - Eu tenho um show amanhã a noite, então se estiver tudo bem para você, posso te ajudar a arrumar suas coisas no domingo e você pode se mudar.
  - Será que – Ela mordeu o lábio inferior – Será que eu podia passar essa noite lá? – A mão dela foi para o seu pescoço – Não queria ter que ouvir a noite de núpcias do casal...
  - Ah, claro! Vá buscar as suas coisas...
  - Obrigada – Ela sorriu e me abraçou, fazendo tudo aquilo valer a pena. Faria qualquer coisa no mundo só para ver aquele sorriso.

  Chegamos a minha casa e eu agradeci o fato de ter pagado uma empregada para arrumar as coisas no dia anterior. Já passava das quatro da manhã, eu e estávamos esmagados no sofá da minha sala de TV. Apesar de ter me dito que não estava com sono algum e decidimos assistir algum filme, ela acabou caindo de sono ainda nos créditos iniciais.   Eu a peguei no colo e a levei para o seu novo quarto. A deitei gentilmente na cama e a observei por um momento. Usava um pijama macio, com estampa de cupcakes, e tinha uma expressão tranqüila no rosto, quem a olhasse assim, nunca acharia que se tratava de uma stripper. Sorri e apaguei a luz, indo para o meu próprio quarto.
  No outro dia de manhã, eu acordei e fui até o quarto de . A cama estava feita e nem sinal dela ali. Caminhei pela casa e senti o cheiro de café na cozinha. Fui até lá para encontrar somente um bilhete na geladeira:

  “Alex, você salvou a minha vida, obrigada! Nos vemos no domingo.
  xo
  ps: fiz café, espero que não se importe :)”

  Então teria que esperar até o domingo para revê-la. Tudo bem, pensei comigo mesmo, a espera valeria a pena.

  Na tarde do dia seguinte, como combinado, fui até a casa de Kendra pegar as coisas de . Colocamos tudo em malas e caixas e uma hora depois, tudo já estava no novo quarto dela. Ofereci ajuda para colocar as coisas no lugar, mas ela disse que preferia fazer sozinha, então fiquei encarregado de fazer as compras porque ela precisava de mais do que macarrão instantâneo e cerveja para sobreviver. Voltei horas depois, lembrando porque Rian era o responsável pelas compras, eu sempre me distraia com as coisas coloridas e não trazia o essencial. Agora tínhamos uma dispensa cheia de minhocas de gelatina, nutella e doritos.
  - Alex, eu sou uma stripper, se eu comer tudo isso, vou precisar de um novo emprego.
  - Quem sabe esse seja o meu plano – Falei sorrindo, mas ela ficou séria.
  - Meu trabalho te incomoda tanto assim? - Ela cruzou os braços e eu sabia que aquilo não era um bom sinal.
  - Ah, eu só preferiria que você fizesse outra coisa.
  - E se eu dissesse que não gosto do seu trabalho?
  - Mas eu sou músico, é um trabalho--
  - Honesto? – Ela me interrompeu ligeiramente agressiva - Digno? É isso? Olha, acho que talvez eu me mudar para cá não seja uma boa idéia, no fim das contas.
  - Deixa disso, - Eu a abracei - Você é grandinha e pode fazer o que quiser - Ela finalmente me abraçou de volta e me beliscou perto das costelas.
  - Só por causa disso, nunca mais vou dançar para você.
  - Tudo bem, eu pago para Lucy dançar para mim.
  - Você não ousaria fazer isso - Ela disse - Vou terminar de arrumar minhas coisas, depois vamos novamente ao supermercado, temos que comprar alguma coisa que dê para se fazer uma refeição de verdade.

   e eu estávamos morando juntos há alguns meses e as coisas entre nós iam muito bem. Eu conhecia suas amigas – basicamente garotas que trabalhavam com poucas roupas – e ela conhecia os meus – basicamente garotos que apreciavam isso. Ela não era de muitas frescuras e sempre falava o que estava na sua cabeça, então eu não tinha o trabalho de ler nas entrelinhas. Às vezes saiamos para jantar, mas nunca de um jeito romântico, normalmente porque os dois estavam com preguiça demais para fazer algo e estávamos cansados de comer tudo que tinha entrega. Eu já tinha me acostumado em vê-la com seus pijamas curtos ou tomando sol de biquíni a beira da piscina e principalmente com o fato de que tanto tempo se passara e eu nunca havia sequer beijado-a. Sim, era o que eu mais queria há muito tempo, mas já tinha aceitado a idéia de que nunca seriamos mais do que bons amigos. E éramos ótimos amigos. Ela ria das minhas piadas sem graça e eu sabia como sobreviver a sua TPM.  Eu quase não ia mais vê-la dançar, tinha shows sempre, mas ainda ia buscá-la no trabalho quando conseguia. Felizmente, sempre tínhamos os domingos livres e ficávamos juntos fazendo algo. Em um destes domingos, enquanto fazíamos a janta e bebíamos o vinho que na verdade deveria ir ao molho, tive uma idéia genial.
  - Quinta-feira é aniversário do Jack, nós vamos dar uma festa não-surpresa para ele, mas nenhum aniversário de um jovem sadio como ele estaria completo sem uma stripper!
  - Com certeza! – Ela se empolgou. e Jack pareciam irmãos separados ao nascer quando se encontravam, chegava a ser ligeiramente irritante – No que você está pensando? Algo temático ou mais tradicional?
  - Ah, não sei, isso você decide, tem mais experiência do que eu.
  - Certo, já tenho algumas idéias em mente. Onde será a festa?
  - Aqui mesmo.
  - Perfeito, então posso me arrumar aqui mesmo.
  - Oh, não. Não. Não, não, não. Não você, alguma outra stripper.
  - Ah, achei que você estava me contratando – Ela riu, como se eu fosse realmente deixá-la fazer isso com o meu melhor amigo – Certo, você conhece as garotas, quem você acha que Jack gostaria de ter como presente de aniversário?
  - Acho que ... – A garota tinha saído conosco algumas poucas vezes e lembro-me dos olhares que Jack lançou para ela, apesar dela ignorá-lo veemente.
  - Vou falar com ela então – Ela pegou o seu smartphone – Olhe o molho! – Ela caminhou para o nosso quintal e eu a observei andar pela grama acompanhada de Baz. Usava um short jeans e a regata Boner da JAGK que Jack havia dado a ela, que aliás, era super apropriada para aquele momento, pensei sorrindo. Ela jogou os cabelos para trás dos ombros enquanto ria ao telefone. Depois de um dia em que eu disse que preferia o cabelo dela solto, eu notei que ela passou a usá-lo assim mais freqüentemente. Ela desligou o celular e eu voltei a prestar atenção no molho e, oh droga, ele estava quase queimando.
  - E aí, o que ela falou? – Disse desligando o fogão.
  - Ela topou. Disse que se o aniversariante fosse o Zack, seria de graça.
  - Parece justo... Vocês são bem amigas, né? Você muda quando fica perto dela.
  - Como assim?
  - Fica mais... impulsiva.
  - Acho que descontrolada seria o adjetivo correto – Ela sorriu – é minha amiga há muito tempo, nós morávamos juntas, mas ela tem essa tendência a viajar então fui morar com Kendra. Ela voltou para Baltimore há poucos meses. Sabe, tem um temperamento esquisito às vezes, mas ela é legal.
  - Certo, vou tentar me lembrar disso.
  - Agora vamos comer, porque estou morrendo de fome!

  Finalmente quinta-feira chegou. Os convidados já estavam aqui, bebendo cerveja como se fosse água naquela noite quente de verão, mas Jack ainda não havia chego. Eu estava me divertindo, mas não conseguia parar de olhar para o corredor que levava aos quartos a cada minuto. Depois de me ajudar a arrumar as coisas, foi buscar e as duas se trancaram no quarto dela. Quase quarenta minutos depois, nada de nenhuma delas.
  - JACK, JACK, JACK – Vinny já estava bêbado quando Jack chegou. Usando óculos escuros e jaqueta de couro, eu fui obrigado a dar risada.
  - Você sabe que são onze da noite e que deve estar uns 30 graus aqui.
  - Eu sei, mas tinha que fazer uma entrada marcante.
  - Oh, claro. É seu aniversário, você pode tudo – Eu o abracei - Parabéns.
  - Obrigado – Ele disse, indo cumprimentar as outras pessoas.
  - Feliz aniversário, Jack! – Ouvi falar. Finalmente ela estava ali. Com um vestido lindo, peep toes pretos e os cabelos em uma trança. Eu poderia ficar olhando para ele o resto da noite.
  - Alex? – Pelo tom dela, não era a primeira vez que ela me chamava.
  - Ah, oi. Nossa, você está linda!
  - Obrigada – Ela falou meio tímida – está pronta, pode desligar a música – Eu a obedeci e todos olharam para mim. Nossa atenção foi desviada pelo som de cantando parabéns ainda no corredor. Ela saiu vestida de pirata – apesar de eu duvidar que os piratas usassem coisas tão justas e apertadas – e ankle boots pretas com um pequeno bolo na mão. Ela caminhou até Jack, que sorria abobado e o fez sentar em uma cadeira, se sentando no colo dele em seguida, terminando a canção.
  - Feliz aniversario, Capitão Jack – Ela falou, colocando seu chapéu nele – Faça um desejo.
  - Acho que ganhei tudo o que poderia desejar – Ele falou abestalhado, antes de soprar as velas.
   ligou a música e foi pegar o bolo das mãos de . Rich Girl da Gwen Stefani começou a tocar e a garota se movia no colo de Jack que não conseguia disfarçar sua alegria. A música terminou e ela o beijou, deixando uma marca de batom em sua bochecha. se levantou, piscou para ele e caminhou até o quarto de , que a seguiu. Jack também levantou, colocando as mãos entre suas pernas, tentando esconder sua, erm, felicidade.
  - Esse é o melhor aniversário do mundo! – Ele gritou, pegando uma cerveja – Alex, eu te amo, cara!
  - Tudo para você, Jacko – Eu o abracei.

  Algum tempo depois, Jack ainda tinha um sorriso idiota na cara quando as duas voltaram. agora vestia um vestido vermelho.
  - Alex, posso usar o seu carro? Para levar ...
  - Ah, não – Jack fez um bico – Fique!
  - , você explicou que—
  - , relaxe. Está tudo bem.
  - Explicou o que? – Eu não entendia nada.
  - Não somos prostitutas.
  - Oh não – Jack levantou as mãos na defensiva – Não, não é por isso que eu quero que você fique. Eu quero que fique para que me conheça melhor e queira fazer sexo espontâneo e gratuito comigo – Assim que ele terminou de falar, eu levei a mão à cabeça, ele não podia ser tão idiota – E tem cerveja – Ele completou, como se algo pudesse ficar pior.
  - Você é idiota – Ela falou, pegando a long neck da mão dele – E eu meio que gosto disso.
  Os dois saíram juntos para pegar mais bebida, deixado a mim e em um estado de perplexidade completa.

  Na manhã seguinte, acordei irritado com a luz entrando em meu quarto. Estava acompanhado, mas era apenas Jack. Nós não o deixamos dirigir sóbrio, o que dirá bêbado, então ele acabou ficando em minha casa. Lembro que também ficou, ela deveria estar dormindo com .
  - Acorda – Eu empurrei Jack que sentou na cama.
  - Onde estamos?
  - Minha casa. Temos que ir, combinamos de encontrar os outros às duas da tarde e nem fiz minhas malas ainda.
  - Certo, eu vou para casa. Duas horas, não se atrase.
  - Eu vou e você também vai, sabe disso.
  - Podemos pelo menos fingir que vamos tentar chegar no horário.

  Eu tinha dez minutos para sair de casa e chegar sem me atrasar. Passei pelo quarto de e ela não estava ali, nem em nenhum outro lugar da casa. Com os preparativos da festa de Jack, acabei esquecendo-me de avisar que não voltaria até o domingo seguinte. Deixei um bilhete na geladeira e saí, já contando os dias para voltar para casa.

  Felizmente os dias passaram rapidamente, e logo era domingo. Cheguei em casa pronto para um dia com . Tínhamos nos comunicado durante esses dias e quando cheguei em casa ela estava me esperando para tomar o café da manhã.
  - O que vamos fazer hoje?
  - Não sei – Falei com a boca cheia de waffles com morangos.
  - Queria fazer algo diferente...
  - Sempre fazemos algo diferente – Eu falei e ela riu.
  - Algo fora de casa.
  - Ah! Eu vi um parque de rua no caminho para cá!
  - Sério? Podemos ir?
  - Claro. Vou tomar um banho rápido e podemos sair.
  - Eu vou limpar aqui e trocar de roupa.

  Chegamos à entrada do parque de diversões e vimos todas aquelas famílias alegres, jovens correndo e crianças com os rostos pintados. olhava para tudo maravilhada. Caminhamos pelo lugar e entramos em alguns brinquedos. Tenho que admitir que a péssima pontaria dela fez muito bem para o meu ego.
  Embalada pela onda de vitórias esmagadoras, vi um high striker, aquele brinquedo que você usa uma marreta para fazer o peso subir e tocar o gongo, ganhando um prêmio, naquele caso, um hamster gigante de pelúcia.
  - Vou ganhar ele para você, assim não sentirá minha falta enquanto eu estiver fora - Óbvio que é muito mais fácil na teoria. Eu tentei uma vez e o peso foi até a metade da barra.
  - Quer tentar de novo? – Disse o senhor que cuidava do brinquedo. Eu dei a ele mais uma nota e voltei a ficar em posição. Mais uma vez, não consegui. Tentei outra vez. E outra. E outra. Aquilo estava ridículo. O velho senhor ficou com pena de mim e me deu um prêmio de consolação, uma boneca de pelúcia.
  - Ok, isso é meio vergonhoso, mas é tudo o que eu tenho para te dar – Falei estendendo a boneca para ela e me odiando mentalmente por ter recusado os convites de Zack para malhar.
  - Obrigada – Ela sorriu – Vamos para casa?
  - Sim, já ta ficando escuro - Passei o braço pelos ombros dela e caminhamos até a saída do parque. No trajeto, vi uma cabine de fotos instantâneas e não resisti. A arrastei para dentro e tiramos algumas.

  - Você vai viajar quando? – Ela perguntou enquanto assistíamos o telejornal mais tarde naquele dia.
  - Quarta-feira.
  - Voltará no domingo?
  - Não dessa vez... Só no domingo que vem.
  - Nossa, bastante tempo.
  - Você consegue tomar conta das coisas sozinha, certo?
  - Sim, claro.
  - Bom, qualquer coisa, você sabe que é só me ligar.
  - Tudo bem. Eu vou dormir, estou acabada.
  - Boa noite então – Eu disse e ela me beijou na bochecha, indo para o seu quarto.

  Eu estava extremamente feliz, tinha convencido todos a encarar a viagem de volta ao invés de dormimos no hotel e tirarmos um dia de folga na cidade, isso significava que chegaria em casa mais cedo. Tudo bem que parte da minha estratégia foi encher o ônibus com cerveja, então estávamos todos mais bêbados do que de costume.
  Quando finalmente cheguei em casa, tive dificuldades em descer do ônibus com duas malas na mão e cerveja demais na cabeça, mal reparei o carro estacionado na calçada, meu maior desafia era colocar aquela maldita chave na fechadura. Porque tão pequeno?
  Tarefa cumprida e comprida, entrei tropeçando em meus próprios pés. Era tarde, perto das quatro da manhã, não estava acordada. De qualquer jeito, resolvi ir até o quarto dela. A porta estava fechada que eu abri sem cerimônia. Olhei para a cama dela e parei. Voltei a olhar para a cama e acendi a luz. Era isso mesmo? Ela estava com outro cara, na minha casa? Era isso que ela fazia enquanto eu estava fora?
  - VAGABUNDA! – Disse a plenos pulmões e os dois acordaram sobressaltados. O garoto deveria ter seus 20 anos – Então é isso, eu saio e você monta o seu bordel em minha casa?
  - Alex? Que diabos—
  - Saiam daqui! – Urrei.
  - Alex, espera—
  - Sua puta ordinária! Saia. Daqui. Agora!
  - Espera, eu posso explicar – O garoto veio até mim e eu sem duvidas nenhuma, soquei a cara dele. Obvio que se eu soubesse que doeria tanto, não o teria feito.
  - Eu não acredito que te dei um teto, deixei você ficar na minha casa, para isso! Saia daqui – pegou sua bolsa e um molho de chaves, provavelmente do carro estacionado na frente da minha casa, sem olhar para mim, ela e o garoto saíram do jeito que estavam vestidos.
  - Me deixa falar com ele – Ouvi o cara dizer.
  - Deixa pra lá, William, ele é um idiota completo – Ela falou. Sim, sou um idiota completo. Me apaixonei por uma stipper de quinta categoria.
  Olhei pela janela eles saindo e me virei para Baz, que estava parado na porta.
  - É, agora somos só nós dois, parceiro – Caminhei até meu quarto e me joguei na cama me sentindo um babaca completo, para variar, mais uma garota havia partido o meu coração.

  Dois dias depois, era o maldito domingo. Nada para fazer, estava acostumado em passá-los com , mas era hora de criar novos hábitos. Fui para a casa de Rian para uma noite de machos. Jogamos poker, tomamos cerveja, usamos vocabulário de baixo calão e eu distribui uma rodada de xingamentos dirigidos à , aquela vaca.
  Cheguei em casa, menos bêbado do que estive nesses últimos dois dias, mas ainda assim, tonto. Ouvi barulho de salto alto contra o piso e vi duas malas na sala. Sem pestanejar, fui até o quarto de .
  - O que você está fazendo aqui?
  - O que parece que estou fazendo, Alex?
  - Invadindo a minha casa.
  - me deu as chaves, pediu para deixá-la aqui e pegar as coisas dela.
  - Porque ela não vem fazer isso, ? Porque mandou você? Não consegue me olhar na cara?
  - Exatamente.
  - Depois do que ela me fez, era de se esperar mesmo.
  - Como?
  - Ela não te contou? A peguei no flagra com outro, na cama, na minha casa.
  - E desde quando isso é problema seu?
  - E todo aquele papinho de ‘não sou prostituta’, minha casa não é puteiro!
  - Primeiro, ela não é prostituta, você não sabe se eles transaram, se ele pagou por isso, nem nada. E segundo, se ele for namorado dela, o que você tem a ver com isso?
  - Ele é namorado dela?
  - Não. O nome dele é William, ele é nosso maquiador e ele é obviamente gay. Demais da conta. Ele deve gostar mais de homem do que eu e juntas e acredite, nós gostamos muito de homens. Acontece que Will resolveu falar o óbvio para seus pais, que para meu completo choque, não sabiam que ele era gay e o expulsaram de casa. , sendo uma pessoa muito mais legal do que você merece, o deixou passar a noite aqui, já que ele não tinha lugar para ir.
  - Você quer que eu acredite nisso?
  - Nesse exato momento, eu quero que você tenha uma morte lenta e dolorosa, então não ligo se você vai acreditar ou não – Ficamos em silêncio enquanto ela colocava as coisas de em malas. Lembrei de que ela tinha dito como tinha um temperamento forte e era verdade.
  - Mas na cama dela? – Tentei achar algum furo nessa história.
  - Ela achou que você poderia se irritar se soubesse que um estranho dormiu na sua cama então ela preferiu deixá-lo na cama dela, e só para lembrá-lo, ela paga as contas daqui também, então não é como se você estivesse fazendo alguma caridade.
  - Porque ela não veio aqui e me contou ela mesma tudo isso.
  - A sua cabeça é grande demais para o seu cérebro, Alex. esta se odiando por gostar de um merdinha como você – Ela disse e pegou mais duas malas de e as levou para a sala. Eu fiquei ali parado, atônito, ela gostava de mim e eu tinha estragado tudo. Observei chamar um táxi e colocar as coisas de lá dentro, levando as ultimas coisas dela que ainda estavam na minha vida.

  Um mês depois do ocorrido, lá estava eu, no supermercado, refazendo o meu bom e velho estoque de macarrão instantâneo e cerveja, quando a vi. Ela estava com e Will, que realmente era absurdamente gay. Ela olhou para mim, na verdade, foi mais como através de mim, era como se eu não estivesse ali. Queria poder dizer que eu olhei de volta com ar de superioridade e indiferença, mas tudo o que eu consegui fazer foi babar naquela garota vestindo aquele jeans justo e uma blusa do Cobra Starship. Queria dizer que sentia muito, que tinha sido um idiota e carregar ela de volta para casa, mas não o fiz. Antes mesmo de pensar no que dizer, ela já tinha dado as costas e ido embora. Eu estava sozinho novamente. Não, pensei, não desta vez. Peguei meu celular e disquei as teclas que eu já tinha esquecido, mas meus dedos não.
  - Alô? Lisa? É Alex.

  Eu me lembro de como tudo isso começou, há dois anos, estávamos em uma van em algum lugar na estrada de volta para Baltimore.
  - Ela virou mesmo stripper?
  - To falando! Amanhã vou até lá para conferir!
  - Não vão te deixar entrar, Alex.
  - Rian, você acha que eu sou idiota? Fiz uma identidade falsa!
  - Sim, eu acho. Praticamente a cidade toda te conhece e você vai fazer 21 anos em seis semanas.
  - Não posso esperar seis semanas.
  - Ela é sua amiga, pergunte-a! – Ele insistiu.
  - Não somos amigos. Nos conhecemos há muito tempo, é diferente.
  - Deixe-me ver sua identidade – Zack pediu – Você está falando sério? – Ele passou o documento para Rian.
  - Você é realmente um idiota. Yuri Gagarin? Ninguém vai acreditar nisso.
  - Porque não? É um nome forte, familiar – Tentei explicar.
  - Isso é mesmo – Jack concordou.
  - Vocês não podem estar falando sério – Zack bateu na sua própria testa.
  - Yuri Gagarin é o nome do cosmonauta russo e você nem russo é Alex – Rian jogou o documento de volta para mim.
  - Vocês prestaram alguma atenção nas aulas na época da escola?
  - Não, estávamos ocupados demais escrevendo musicas de sucesso, seus bastardos ingratos – Eu falei - E além do mais, é um segurança de casa de strip-tease, você acha que ele sabe quem foi Yuri Gagarin?

  Ele sabia. Greg na verdade era o segundo nome de Yuri Gregori Stravosky, filho de um russo com uma americana, que obviamente conhecia o seu herói nacional.
  Depois de ser chutado, fiquei esperando no meu carro, no estacionamento. Com o cansaço da viagem, acabei caindo no sono.
  - Alex? – Acordei com uma loira que era bonita demais para eu não saber quem era batendo na janela do meu carro – Alex, o que faz aqui?
  - Maria, você vem? – Escutei uma voz berrar ao fundo.
  - Não, obrigada! – Ela gritou de volta. Maria, quem diabos era essa garota?
  - Quem... Quem é você?
  - Sou eu – Ela tirou a peruca loira.
  - Hannah Montana? – Disse sonolento e ela riu.
  - , seu idiota.
  - Ah, então é verdade...
  - Vai para lá – Ela abriu a porta do carro e eu pulei para o banco do carona. ligou a ignição do carro e partiu.
  - Que horas são? – Falei com os olhos fechados.
  - Duas e meia da manhã.
  - Nossa, estou enferrujado, mal consigo ficar acordado.
  - E valeu a pena?
  - O que?
  - Você veio ver se os rumores eram verdadeiros... Se eu realmente virei uma stripper – Fiquei calado. exercia esse ligeiro fascínio em mim. Desde que nos conhecemos, na escola, ainda muito antes do sonho de ser um rockstar ou uma stripper. Nunca fomos super amigos, só tínhamos certa simpatia mutua pelo tempo de convívio juntos. Ao contrario de todas as pessoas que eu conhecia, ela não se preocupava em agradar ninguém, acho que por isso que ela falava que queria ser stripper, por ser algo fora dos padrões, mas nunca achei que ela de fato ia passar seus dias em biquínis minúsculos e saltos altíssimos, simplesmente não era a cara dela. Eu queria saber mais sobre ela, queria conhecê-la de verdade. Acho que foi por isso que eu passei a ir vê-la todas as noites. Durante seis semanas, até eu poder de fato entrar no clube, saia de casa às duas da manhã para ir buscá-la. Ela dirigia até a casa dela e de Kendra e eu ia para a minha casa. Às vezes ela me perguntava se eu queria entrar e comer algo, às vezes, quando ela estava empolgada, saiamos para dançar, às vezes ficávamos sentados na calçada dela, falando sobre o que dava na telha e olhando as estrelas. Tínhamos muita coisa em comum – excetuando o fato que eu fico nu de graça – e a presença dela me fazia bem. Em pouco tempo, éramos melhores amigos. Quando fiz 21 anos, finalmente pude entrar para ver em ação. Ela me deu uma lap dance de aniversario pela primeira e ultima vez. Apesar de tudo, eu não gostava de vê-la como Maria, a stripper e sim , a garota que roubava os meus casacos e sabia como jogar Call Of Duty.
  Olhando para a foto que havíamos tirado naquele domingo no parque, agora eu sabia que nunca mais teria nenhuma das duas. Joguei a foto no fundo de uma gaveta e respirei longamente. Era hora de deixar isso para trás.

Dois anos depois...
  - Eu não acredito que você vai casar! – Rian me deu um tapa no ombro.
  - Eu não acredito que ela aceitou! – Zack fez o mesmo.
  - Eu não acredito que você convidou o Rian para ser seu best man! E o que nós tivemos? E todo aquele papo de “se as crianças não acreditam, vamos fazê-las acreditar”?
  - Eu só queria ter certeza que meu best man não ia perder as alianças ou fazer um discurso vergonhoso, mas vocês são padrinhos também...
  - E para mostrar que sou o melhor amigo e padrinho que você poderia ter, eu organizei a melhor despedida de solteiro já vista – Jack sorriu e eu também. Confesso que não estava muito decidido sobre esse casamento, mas parecia ser o certo a se fazer. E Lisa ficou bem feliz com o pedido.
  Caminhamos até o hotel-cassino que Jack havia escolhido e nos divertimos muito perdendo algum dinheiro por ali.
  - Agora vamos para o gran finale – Jack nos levou até a suíte e ficamos na ante-sala – Agora que você vai ter que ver o mesmo par de peitos pro resto da vida, pensei em te dar uma ultima chance de ver algo diferente.
  A música começou a tocar e a porta que nos separava do quarto abriu. No mesmo momento, nós cinco ficamos atônitos.
  - É por isso que eu sou o best man, Jack – Rian foi o primeiro a se pronunciar.
  - Eu juro que não sabia – Ele tentou se explicar.
  - Você vai casar? – Ela olhou para mim, como se eu fosse o único naquele cômodo com ela.
  - Vou – Eu respondi com um nó na garganta.
  - Certo, nós não fazemos devolução de dinheiro, mas no caso de vocês, faremos uma exceção.
  - Como você está, ? – Zack perguntou sorrindo.
  - Excelente! – Ela saiu, voltando para o quarto e batendo a porta.
  - Essa é a minha ultima chance – Eu falei levantando.
  - Você vai casar amanhã, Alex – Rian tentou me impedir, falando o obvio.
  - Se eu não for falar com ela agora, vou passar o resto da vida me perguntando o que teria acontecido – Entrei enfim, fechando a porta em seguida, sem muita certeza do que dizer. Ela estava de costas e virou-se ao ouvir o barulho da porta, vestia roupas normais agora, um short jeans, seu adidas Star Wars e uma blusa que reproduzia o espaço sideral. Aquela era a minha .
  - Parabéns – Ela disse amarga, colocando sua fantasia de camponesa em uma malinha de mão.
  - Como?
  - Parabéns... Pelo casamento.
  - Ah, isso. Obrigado – Ficamos em silêncio, ela ainda colocando suas coisas na mala – , escute... Eu... Eu sinto muito pela besteira que fiz.
  - Eu também sinto – Ela não olhava para mim.
  - Nós éramos tão amigos, uma dupla incrível, nos divertíamos muito juntos—
  - E aí você fudeu tudo – Ela finalmente levantou os olhos e eu queria poder voltar no tempo e desfazer aquilo tudo, só para ter a certeza que ela nunca me olharia daquele jeito.
  - Exatamente – Foi tudo o que eu consegui dizer, ela estava certa.
  - E levaram dois anos para você perceber isso?
  - Dois dias, na verdade, mas tomei uma série de decisões erradas que culminarão na maior de todas, amanhã, quando eu aceitar Lisa como minha legitima esposa.
  - Lisa? Você vai casar com Lisa? A cheerleader?
  - Ela não é mais cheerleader desde o ensino médio, mas a própria.
  - Oh, certo.
  - Não, não está certo! Você não entende? Dois anos se passaram e parece que não foram nem dois dias! O que sentia... O que eu sinto, nada disso mudou. Eu amo você, não Lisa.
  - Não, não diga isso. Como você tem a coragem de fazer isso comigo? Quantas vezes você vai me magoar? É isso então? Você vem, me machuca e tem o seu final feliz com a sua cheerleader?
  - Podia ser você se—
  - Se eu não fosse um stripper, já entendi.
  - Não... Se eu não fosse tão idiota.
  - Isso aqui não vai mudar as coisas – Ela pegou a sua bolsa e caminhou até a porta.
  - Espera. Eu preciso saber.
  - O que?
  - Você sente o mesmo por mim?
  - Do que adianta? Você vai se casar amanhã.
  - Eu não irei se você não quiser.
  - Isso não é justo nem comigo nem com Lisa.
  - Eu... Eu só não sei mais o que fazer.
  - Não faça isso com ela, não seria justo – E ela se foi.
  Aquela foi a ultima conversa que tive com . Eu tinha a sensação de vê-la em todos os lugares em que ia, até na minha lua de mel com Lisa no Caribe.
  Voltamos para casa e o tempo passou rápido, seis meses para ser mais exato, Lisa já falava em aumentar a família e eu quase não parava mais em casa. Durante uma folga nas turnês, estava sendo o bom marido, indo fazer compras no supermercado – agora comprava mais do que cerveja e macarrão instantâneo, graças à lista que Lisa fazia.
  - Nós temos que parar de nos encontrar em supermercados – Meu coração disparou ao ouvir a voz dela – Sério, não é como se esse fosse o único da cidade – Ela sorriu e eu tinha dúvidas se estávamos em um sonho ou na vida real. Nos cumprimentamos com um abraço constrangido e quando senti o perfume dela, sabia que aquilo tinha que ser realidade – O que você faz longe de casa? Não diga que já está fugindo de Lisa.
  - Não, não – Falei sem entender porque ela estava sendo tão amistosa, se levarmos em conta nossos últimos contatos – Estava perto e lembrei que tinha que levar algumas coisas para casa.
  - Alex, eu estou brincando – Ela me interrompeu rindo – Fico feliz em ver que você agora tem uma dieta saudável.
  - Pois é, Lisa só me deixa comer doces no fim de semana – Dei de ombros e ela sorriu. Eu poderia ficar naquele corredor de cereais pro resto da vida. Ficamos em um breve silêncio, eu queria dizer alguma coisa, qualquer coisa – E aí, o que você está fazendo da vida?
  - Estou me preparando para ir para Vegas...
  - Você vai se mudar?
  - Ah, não, é só por duas semanas.
  - Vai trabalhar lá?
  - Sim e não.
  - Como assim?
  - vai dançar em um espetáculo lá, eu vou como sua assistente pessoal.
  - Você parou de dançar?
  - Sim, fiz uma boa poupança e tenho algum tempo para descansar e pensar no que fazer.
  - Como o que?
  - Não faço idéia, na verdade – Ela deu de ombros e sorriu – E a banda?
  - Nós vamos fazer um show hoje à noite, o ultimo da turnê, você quer vir?
  - Ah, parece legal.
  - Então ta, deixarei ingressos no seu nome e de na bilheteria, Jack vai gostar de vê-la.
  - Certo – Ela sorriu.
  - Nos vemos lá então – Eu disse e ela sorriu, trocamos mais um abraço sem jeito e seguimos direções distintas.

  Estávamos prontos para entrar no palco quando a porta do camarim se abriu. Flyzik estava pronto para expulsar nossos visitantes, quando notamos que eram e . As duas estavam extremamente lindas, usava um short preto com caveirinhas cinza e uma camisa branca que havia perdido a gola e as mangas. Eu sorri abobado e ela me mostrou a língua divertida. Não sei quanto tempo se passou durante nossa troca de olhares, mas acho que foi tempo o suficiente para as pessoas notarem.
  - Bom, já que ninguém vai me apresentar, eu sou Lisa - Minha esposa veio ate meu lado e passou uma mão pela minha cintura.
  - .
  - .
  - Você não estudou conosco?
  - Sim - respondeu.
  - E virou stripper?
  - Isso mesmo.
  - Certo, nós temos que ir para o palco, alguém tem que fazer o show de hoje - Zack puxou a fila para fora do pequeno camarim.
  - Você está linda - Jack disse a , que sorriu em resposta enquanto fazíamos o curto trajeto até as coxias do palco.
  - Você é stripper também? - Lisa perguntou.
  - Lisa, você não pode simplesmente perguntar para as pessoas se elas são strippers… - Eu tentei amenizar a situação lembrando-me do temperamento forte de , mas ela simplesmente riu e disse que sim.
  Elas ficaram ao lado do palco, enquanto ouvíamos a casa de shows toda gritando nossas músicas. De vez em quando eu lançava um olhar para elas e via que estavam se divertindo.
  - A próxima música é muito especial. Um dos nossos maiores hits e a garota que o inspirou está aqui essa noite - Eu olhei diretamente para - Essa aqui se chama Dear Maria.

  Saímos acabados, porém satisfeitos do palco e logo recebi um abraço de .
  - Eu estou todo suado - Disse.
  - Não tem problema - Ela respondeu ainda me apertando – Isso foi muito legal.
  - Você nunca tinha ouvido essa música? - Lisa falou, vindo me abraçar também quando me soltou.
  - Na verdade, não - falou meio envergonhada.
  - Tudo bem, você a ouviu agora e é isso que importa - Eu disse. Queria poder ficar a sós com ela e conversar sobre tudo o que havia se passado nesse tempo que ficamos afastados, mas não teria a chance. Elas tinham que ir embora e eu já tinha esgotado todas as possibilidades existentes para tentar convencê-las a ficar.

  Cheguei em casa, cansado mas feliz ao mesmo tempo, ela tinha ouvido a música dela.
  - Não sabia que e Maria são a mesma pessoa - Eu queria poder dizer que haviam muitas coisas sobre que ela não sabia.
  - Eram, ela não é mais stripper.
  - Você nunca me disse que eram tão próximos.
  - Eu sei como você é ciumenta…
  - Tem algum motivo para eu ter ciúmes, Alex?
  - Não Lisa - Estava cansado demais para ter aquela conversa.
  - Então porque não sentamos e você me conta tudo sobre ela?
  - Outro dia, Lisa. Vamos dormir.
  - Não, você vai me contar agora. Você levou essa vagabunda para o show, a tratou como se fosse da realeza, escreveu uma música pra ela e deu em cima dela descaradamente na minha frente e quer que eu vá dormir?
  - Isso tudo foi um erro.
  - Claro que foi, você é um homem casado agora!
  - Isso é o erro.
  - Você quer pedir o divórcio? Vai me trocar por aquela prostitutazinha?
  - Eu sei que você está magoada e sei que eu sou o culpado, mas não fale assim de . Você não a conhece e não sabe o que ela significa para mim - Ela estava alterada.
  - Vocês se merecem. Amanhã você vai se arrepender disso - Ela se trancou no nosso quarto e eu me sentia um lixo, mas não podia continuar daquele jeito. Eu até podia gostar de Lisa, mas nunca a amaria. E eu amava . Liguei para Rian e disse o que estava acontecendo. Ele pacientemente me ouviu e assim que eu terminei de falar, ele deu um breve suspiro.
  - Você estaria assim, prestes a terminar o seu casamento, se não tivesse visto hoje?
  - O que eu sinto por ela não muda, não importa se ela está perto ou longe.
  - Bom, você sabe que eu te apoiarei sempre, só quero ter certeza que isso não é uma decisão precipitada. Você não sabe nem se ela sente o mesmo por você.
  - Eu não acho certo continuar com Lisa gostando de . Mesmo que não queira ficar comigo, eu não posso achar que esse casamento é um prêmio de consolação. Lisa merece ter alguém que a ame de verdade. Faço isso por ela também.
  - Se você está tão decidido, faça.
  - Eu irei, obrigado Rian.
  - Não fique remoendo isso, Alex. Está tarde, vá dormir - Eu fui para o quarto que já fora tanto de Rian quanto de e tentei dormir, mas simplesmente não conseguia. Muitas coisas na minha cabeça. Precisava falar com , mas não sabia como. Peguei meu celular e mandei uma mensagem na esperança que ela ainda estivesse com o número antigo, mas não obtive resposta. Vencido pelo cansaço, adormeci.

  Na manhã seguinte - na verdade já passava de uma tarde - eu acordei meio sem me lembrar do que acontecera na noite anterior, mas ao andar pela casa e não ver Lisa em lugar nenhum me lembrou de tudo. O sentimento de término de relacionamento era péssimo, mesmo sendo por minha decisão. Eu não queria magoar Lisa, mas também não queria mais mentir para ela. Meu celular tocou e vi com um sorriso que era a resposta da mensagem da noite anterior. Tinha apenas um smile nela, mas era o suficiente para me animar. Perguntei se ela queria almoçar e ela disse que sim, combinamos de nos encontrar em um restaurante, fiquei com medo de Lisa voltar para casa.

  Ela finalmente chegou, aquela espera parecia interminável. Sentou a mesa e nós ficamos conversando sobre o tempo, músicas atemporais e sobre o que ela tinha em mente para o seu futuro.
  - Eu e Lisa vamos nos separar - Falei em fim. Ela ficou parada, me olhando fixamente.
  - Por quê?
  - Eu não a amo.
  - E você só percebeu isso agora?
  - Não. Antes mesmo de nos casarmos.
  - Então porque você casou com ela?
  - Porque você não quis casar comigo.
  - Isso não é justo. E na verdade, você nunca pediu para casar comigo. Nós éramos amigos Alex, nada mais do que isso, e agora você vai se divorciar.
  - Certo. Não ache que estou me divorciando por causa de você, porque não é. Estou me divorciando por que eu nunca deveria ter me casado. É diferente.
  - Você tem certeza disso?
  - Sim. Eu só queria saber uma coisa… Na época que morávamos juntos, você sentia por mim o que eu sentia por você?
  - Sentia - Ela falou olhando para o copo na mesa.
  - E quando você parou de sentir isso.
  - Alex…
  - O que foi? Só estou curioso.
  - Nunca. Eu tentei e olha que eu tentei mesmo, por mais que você tenha me magoado, não consegui - Ela olhou para mim e por um momento eu me esqueci de como respirar.
  - Me da uma chance de consertar as coisas entre nós?
  - Eu vou viajar com para Vegas amanhã. Quando eu voltar, nós podemos conversar sobre isso. Eu não quero que isso seja mais um movimento precipitado da nossa parte. Você está se divorciando, nem ao menos deu entrada nos papéis e já está pensando em sair comigo… É melhor você dar um tempo, ser solteiro para variar.
  - Tudo bem, você tem razão. Alem do mais, só duas semanas, vou sobreviver - Eu sorri.

  Duas semanas e dois dias se passaram e sempre inventava alguma desculpa para não me ver. Talvez nessas duas semanas ela tenha percebido que não me amava. Decidi que não ia ligar mais para ela e iria esperar ela querer me ver. Cinco dias depois da volta dela para Baltimore, ela me ligou, perguntando se eu queria ir dar uma volta no parque. Eu estava evitando locais públicos, mas não podia mais ficar sem vê-la. Ela estava linda, com shorts e uma regata dos Rolling Stones, cabelos em um rabo de cavalo frouxo.
  - Você trouxe Baz! - Ela se abaixou e fez carinho no cachorro que estava bem animado em vê-la.
  - Achei que ele também estava com saudades.
  - Vamos dar uma volta?
  Começamos a caminhar pelo parque em silêncio, eu tentava transformar meus pensamentos em palavras, mas não estava indo muito bem.
  - Como foi Vegas?
  - Muito legal, nunca tinha ficado tanto tempo lá.
  - E o show?
  - Muito bem feito, super profissional, muito diferente do que fazíamos aqui.
  - Você disse que tinha que ajudar a se mudar…
  - A convidaram para ficar lá a temporada toda.
  - Você não deveria ir também? Como assistente dela?
  - Como contratada, eles têm pessoas lá para cuidar de tudo, ela só precisou de mim quando era convidada - Ela mordeu os lábios e eu sabia que aquilo não era tudo - Na verdade, eles me convidaram para participar do show. Durante os ensaios eu substitui uma dançarina que estava machucada e eles gostaram.
  - E o que você disse?
  - Nada ainda, tenho dois dias para responder.
  - O que você quer? Voltar a dançar?
  - Não era bem o plano, mas nada diferente está aparecendo e eu gosto de dançar, então…
  - Quanto tempo dura uma temporada?
  - Um ano, mas essa já está quase na metade…
  - E já está lá?
  - Sim, os ensaios começam em três dias, mas ela tem que estar lá para a produção de todo o material publicitário e essas coisas.
  - Então quer dizer que você está morando sozinha?
  - Sim.
  - Eu e Baz sentimos a sua falta...
  - Aposto que sim - Ela riu e eu juro que queria beijá-la bem ali. O tempo começou a esfriar e ela sugeriu que fossemos para a casa dela.
  Estávamos a um bom tempo sentados no sofá falando sobre o que tinha acontecido em nossas vidas durante esse tempo afastados. Ela falava enquanto eu a encarava com curiosidade.
  - O que foi? - Ela disse risonha.
  - Você é linda.
  - Alex…
  - Só estou falando o que vejo, e pra mim você é linda.
  - Você--
  Não sei o que ela ia dizer por que não resisti mais e a beijei. Senti o lábio macio dela no meu e logo o beijo se aprofundou. De um jeito meio frenético, pouco depois eu já estava sobre ela. Algo naquela garota era extremamente viciante, tirar meus lábios dela parecia uma tarefa impossível. Minha mão foi para dentro da regata dela e a dela arrancou minha camisa em segundos. Me odiei por usar uma calça tão justa, as coisas estavam começando a ficar apertadas demais lá dentro. O pior foi ao tentar tirá-la, aquilo era realmente justo. O short dela saiu muito mais fácil… levantei trazendo-a comigo, suas pernas envolviam minha cintura e seus braços no meu pescoço. Fui caminhando até a primeira cama disponível e a deitei lá. Eu poderia usar muitas palavras para descrever o que havia se passado naquele quarto, mas nenhuma faria justiça.
  Ela fora incrível, insaciável, incomparável e irresistível. E, naquelas horas que ficamos em seu quarto, ela era minha.

  Quatro meses depois, a separação saiu. Lisa me deixou sem muita resistência, o que acelerou o processo. Senti o peso do mundo saindo dos meus ombros quando meu advogado disse que eu era um homem livre. Queria fazer uma festa, soltar fogos de artifício, gritar para todo mundo ouvir, mas acho que seria insensibilidade da minha parte.
  Fui até a casa de e assim que ela abriu a porta, eu a beijei.
  - Alex! – Ela estapeou meu ombro. Desde a tarde que dormimos juntos, há quase quatro meses atrás, ela não me deixava beijá-la nem nada do tipo, porque tecnicamente ainda era casado (não que ela tivesse pensado nisso antes, quando estava gemendo meu nome), então passávamos nossos dias juntos, mas não como eu queria. Ficávamos abraçados no sofá e ela até me deixava dormir na sua cama, desde que ambos estivéssemos vestidos.
  - O que foi? Você disse que eu poderia beijá-la quando fosse um homem solteiro – Disse sorrindo, fazendo uma pose de galã e ela abriu um sorriso enorme. As coisas que eu faria por aquele sorriso.
  - E então? O que você vai fazer agora?
  - Eu vou chamar uma garota que estou afim há tempos para sair.
  - Ah é? – Ela passou os braços pelo meu pescoço – Parece um bom começo para o fim de sua vida de solteiro – E me beijou.
  Eu definitivamente poderia me acostumar em ter aquilo pelo resto da vida.

FIM



Comentários da autora

  Eu sei que sempre foi o sonho da Jessie ser stripper e ter o Alex, ent„o acho que ela vai gostar dessa aqui, heh (: Ok, mentira, talvez ela não queira ser stripper mesmo, mas a parte do Alex é super válida. Enfim, é isso. Te amo, biscate <3