Dear John, You Are A Boastful!

Escrito por Aimê Marques | Revisado por Lelen

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1. A few mistakes ago.

  "- Você... Como foi capaz? - Eu dizia em soluços, o homem que estava na minha frente não era o mesmo que eu conheci dez meses atrás, ele estava diferente, ele mudou e não foi para melhor.
  - Você não confia em mim, sua estupida, eu disse que iria encontrar alguns amigos, por que me seguiu? - ele dizia passando a mão na cabeça e ameaçando ir para cima de mim, novamente.
  - Sério que eram seus amigos? Não sabia que os cumprimentava com beijo na boca e mão boba dentro das calças - eu dizia me levantando e tentando me recompor do tapa que ele havia me dado há poucos minutos.
  - Foi Katerine que me beijou, sua burra, você acha mesmo que eu te trairia, cadê a confiança de dez meses atrás? - ele gritava e andava de um lado para o outro, impaciente, ele estava perdendo a cabeça - ou já havia perdido, só tentava se controlar, pois sabia da burrada que havia feito em ter dado um tapa em minha cara ao eu exigir uma mera explicação de uma traição -, era estranho como o homem que você ama - ou amou -, acaba com você, com ele, com o 'nós' que existia entre vocês tão rápido, era doloroso, mas a gente sempre dá uma segunda chance, mas ele não merecia nem a primeira. "

  Eu estava a caminho da cafeteria e todos os ocorridos vinham em minha cabeça à tona, eu tentei, mas era totalmente difícil e inútil de tentar ignorar, é algo que me atingia pelas costas, ele me atinge pelas costas, mas eu não ligo. Entrei no Starbucks e o vi, aquela roupa o deixava tão sexy, e ele sabia disso, aquele casaco de couro realçava seus ombros e lhe dava um ar maduro, mas de maduro ele não tinha nada, eu sabia disso.
  - Você veio - ele disse sorrindo e não fez nem questão de se levantar para me cumprimentar, quanto cavalheirismo.
  - Pois é, né. - Eu dei um pequeno murmuro como resposta, eu realmente sou uma tola, duas semanas atrás ele me agrediu e eu ainda tinha marcas, não fisicamente, mas psicologicamente; eu estou destruída, dilacerada por dentro, meu coração não bombeia sangue mais pelo meu corpo, ele bombeia medo, eu tenho medo dele, mas ao mesmo tempo me transmite uma segurança enorme, eu gosto e não gosto de ficar perto dele, que diabos estou sentindo?

2. I was in your sights

  - Estou voltando para o exército, Savannah, daqui três meses estou de volta - John disse seco, eu me mantive deitada na cama, ele havia acabado de me bater, ele era tão estúpido.
  - Claro - disse encolhida na cama, eu o perdoei um mês atrás, fizemos sexo de reconciliação e, antes do mesmo ir para o exército, ele me agride, ele é um bruto.
  - Me escreva, por favor - ele disse chegando perto de meu rosto e me dando um selinho, eu senti repulsa, mas não iria deixa-lo, eu o amava.

  Depois de algumas horas que John saiu, eu decidi encarar o mundo a fora, e de verdade? Eu não estava preparada. O pessoal estava em volta da fogueira, alguns estavam na piscina e Tim, meu melhor amigo, o meu porto seguro, estava conversando com uma das meninas; sentei ao lado dele e a loira - digamos que não recordo o nome de nenhuma das meninas desse lugar -, me olhou assustada e Tim logo virou a cabeça e arregalou os olhos, ele viu as marcas pelo meu braço e um pequeno machucado - vamos dizer que é um pequeno machucado para ninguém ficar assustado - em meu rosto, algo que eu já tinha passado pomada e estava com um curativo.
  - Vamos ao meu quarto - Tim apenas disse isso e saiu andando às pressas para dentro da casa, eu olhei para a loira que logo assentiu, como se me desse permissão para ir atrás dele.
  - Oi - eu disse entrando timidamente no quarto dele, eu estava com medo porque eu sei, tudo que ele fala é pura verdade, mas eu não quero enxergar a verdade ou o John não me permitia fazer isso.
  - Savannah, você é tão estúpida, como convive com um cara desses? - Tim disse inconformado andando de um lado para o outro com a mão na cabeça.
  - Eu o amo - disse num sussurro.
  - Que amor é esse que você sempre é agredida?
  - Ele me ama, eu sei que ele me ama, Tim - eu disse entre soluços
  - Se isso é amor, eu não sei o que é ódio, Savannah - Tim gritou e saiu do seu quarto batendo a porta logo atrás dele.
  Ele estava totalmente certo, mas eu não sei o que fazer, é algo tão torturante, eu não podia deixa-lo, eu sei que John podia mudar e eu queria esperar por essa mudança.

3. No apologies.

  Eu amaçava o papel que continha palavras declarando totalmente meu ódio e minha dor por aquele ser desprezível que eu tanto amava, como ele poderia ser tão cruel ao ponto de me machucar por uma carta?
  Eu relia aquela carta várias vezes e tentava colocar meus sentimentos em palavras, apenas para demonstrar a minha raiva, eu poderia muito bem ter escrito um "eu te odeio, está tudo acabado, some da minha vida e vai se fuder", mas não, eu deveria usar as palavras certas, eu escolheria as palavras mais simples com os piores significados.
  Me afundei na cadeira, frustrada, respirei fundo para descarregar toda a tensão e tentar tirar todos os tipos de palavrões que eu poderia escrever, decidi ser firme, objetiva e rápida.

  “Querido John,
  Espero que você esteja bem em seu serviço, tive poucas notícias de seu pai e percebi que o mesmo está melhorando a cada dia.
  Não é sobre isso que eu quero escrever nessa carta, eu tentei de todas as formas possíveis encontrar as palavras certas para não te magoar ou deixar nervoso, mas percebi que isso será impossível.
  A lua cheia, ela te traz lembranças? Acredito que sim, mas algo que me fazia feliz agora faz eu sentir nojo; sinto nojo do meu corpo, sinto nojo de cada canto que você me tocou, sinto nojo de você e também de tudo que te envolva, eu olho para nosso porta-retratos que fica do lado da escrivaninha e me pego rindo, rindo da sua cara e do caminho em que chegamos.
  Engraçado que em um relacionamento, as pessoas não mudam, elas mostram seu verdadeiro eu, e o seu ‘verdadeiro eu’ é algo repugnante, sujo e totalmente baixo. Espero que você esteja me entendendo e que saiba aonde eu quero chegar, eu quero chegar, mas chegar bem longe de você, você irá pisar nessa pequena casa e ela estará vazia, provavelmente a única coisa que sobrará será sua cama e suas roupas imundas e seus pacotes de camisinha que ficam embaixo da cama que você sempre usa com as putas que come... Eu estou grávida, John, o filho é seu, mas eu não quero que ele tenha um pai como você, iria ser injustiça com o próprio pequeno feto aqui dentro de meu ventre, Tim irá me ajudar, ele insistiu em tomar a posição de pai e eu o agradeço mais que tudo, porque se dependesse de você... Eu estaria perdida.
  Passe bem.
  Savannah”

  Dei uma última revisão na carta que dizia tudo - ou boa parte - do que eu sentia sobre ele, Tim estava ao meu lado enquanto eu colocava a carta no envelope.
  - Eu não sei mais o que fazer – suspirei.
  - Você irá sair dessa casa, iremos morar juntos e vamos esquecer agora o que virou passado – Tim falou e me abraçou por trás e fazendo um carinho em minha nuca com a ponta do nariz.
  - Mas Tim, e se ele vier atrás de nós?
  - Ele não virá, acredite, sei um lugar perfeito para cuidarmos desse pequeno aí – ele disse e colocou a mão na minha barriga e eu o sorri. Tim era o meu melhor amigo, e quem sabe, meu futuro marido, ou companheiro de casa, eu não sei os sentimentos dele sobre mim, mas eu posso dizer que estou começando a descobrir os meus por ele.

4. Now I'm lying on the cold hard ground.

  Havia se passado três semanas depois que eu enviei a carta, Tim me ajudou a empacotar meus pertences daquela casa e me mostrou a casa nova em que iríamos viver, a casa tinha um ar de ser como uma fazenda, tinha um lago em frente e, logo do lado, havia uma imensa árvore, onde tinha pendurado uma balança; sorri comigo mesma ao imaginar o quanto seria calmo minha vida a partir daquele momento; logo atrás estava um celeiro, ele estava totalmente acabado, mas nada como uma boa reforma não mudasse isso.

  - Savannah, eu estou no banho, atende a porta! – Tim gritou.
  - Ok, já estou descendo – gargalhei com o desespero que tinha em sua voz ao pedir para que eu abrisse a porta, corri até a mesma e dei de cara com quem eu menos esperava.
  - John... o que você faz aqui? – perguntei surpresa e tentando regular minha respiração que tinha sido cortada no momento em que encontrei seus olhos me fitando... me fitando com ódio.
  - É bom te ver também, Savannah – ele disse e deu um sorriso sarcástico. – Eu acredito que tenho direito de lhe fazer uma visita e ver como você está, e falando nisso, você está extremamente linda com essa barriga. – Ele me olhou dos pés à cabeça, me desejando, um desejo com ódio. Coloquei minha mão sobre minha barriga e olhei para meus pés com receio de encontrar seus olhos, apesar do tempo e a distância, eu sei que tinha algum sentimento guardado sobre John, e eu não queria achar esse tal sentimento, estou feliz com Tim. Reparei que eu apenas usava uma camiseta de Tim, nós havíamos combinado de passar o dia assistindo filmes e seriados, e eu não me importei de atender a porta daquele jeito, eu pensava que era qualquer amigo nosso ou algum vizinho, e não John. Fiquei calada e apenas olhava para meus pés.
  - Quantos meses? - John apenas perguntou.
  - Três - sussurrei e o vi fazendo uma careta, possivelmente estava tentando calcular o tempo, descobri que estava grávida na semana em que ele voltou para seu serviço, ou seja, um mês atrás.
  - Savannah, quem é? - Tim disse descendo as escadas e quando chegou no último degrau olhou para a porta e ficou paralisado; logo vi seu rosto mudar de uma expressão de surpreso para raiva, ódio, ele cerrou suas mãos, e eu logo corri até ele, impedindo que acontecesse algo.
  - Tim, não - o segurei.
  - O que ele está fazendo aqui, Savannah? - ele gritou.
  - É a mesma pergunta que eu fiz.
  - Tim, quanto tempo - John disse sarcástico, ele entrou em casa e trancou a porta logo atrás de si, fazendo com que eu me encolhesse. - Eu vim visitar vocês, não iria fazer mal.
  - Ótimo, você já nos visitou, estamos ótimos, agora saia daqui! - Tim gritou e apontou para a porta, onde daria a estrada de terra.
  - Quanta pressa, vamos festejar - John sussurrou e logo em seguida pegou sua arma, um calibre 38 estava apontado para nós dois. - Você é tão estúpido, olha que menina sem sal, tantas gostosas por aí, e você escolhe justamente ela? Ora, Tim, ela carrega uma criatura qualquer nessa barriga e você decidiu assumir, dois problemas de uma vez, agora você terá um terceiro! - ele gritou e apontou a arma para minha cabeça, eu comecei a chorar e logo caí no chão, me arrastei até a parede mais próxima e me encolhi, John sorriu satisfeito.
  - John, saia daqui agora! - Tim gritou.
  - Nós nem começamos - John deu uma coronhada em Tim, fazendo o mesmo apagar em poucos segundos, engatinhei até ele e o chamava desesperada, sabia que ele estava inconsciente, mas não sabia por quanto tempo, John poderia fazer qualquer coisa comigo. - Esquece esse baitola, Savannah, nós temos assuntos pendentes. - John chegou atrás de mim e me puxou pelo cabelo, eu chorava cada vez mais, eu estava preocupada, não comigo, mas com Tim e a pequena criança que eu carregava.
  - Me larga! - Eu me debatia, tentando me soltar, algo totalmente inútil.
  - Cala a boca, sua vadia - John puxou meu cabelo e aponto a arma para meu pescoço.
  - Por que você está fazendo isso? - perguntei entre soluços.
  - Se você não vai ficar comigo, não irá ficar com mais ninguém - sussurrou em meu ouvido e logo beijou as maçãs do meu rosto, senti tanto nojo que eu me afastei, não queria sentir mais aquela boca me tocando.
  - Você é um monstro! - eu disse entredentes e tentava me soltar, ele puxava meu cabelo cada vez mais, me levantou e fez com que eu ficasse de frente para ele, riu e logo recebi um tapa, sentia a região queimando, eu estava caída no chão novamente.
  Comecei a chorar mais alto e tentava esconder meu rosto e proteger minha barriga.
  - Você só sabe chorar, inútil - John gritou e pegou Tim, que estava desacordado, pelas pernas e colocou em uma cadeira o amarrando logo depois, John olhou para mim e deu um sorriso totalmente maldoso, ele pegou um pano e tampou minha boca, eu tentava gritar, mas era tão inútil; ele amarrou meus braços e minhas pernas e me mantinha jogada no chão, apenas apoiada pelo sofá que se mantinha atrás de mim.

5. Why you gotta be so mean?

  John me olhava, e seu olhar demonstrava toda sua amargura, frieza, raiva e malícia.
  Ele rodava uma faca em suas mãos que pegou na cozinha, e mantinha a arma em cima da mesa.
  - Vamos acordar essa bela adormecida - ele disse e jogou um copo de licor no rosto de Tim, fazendo ele tossir e fechar os olhos fortemente por conta da luz, ele me olhou e me viu amarrada no chão; eu tentava me desamarrar, fazia um sinal de negação, implorando para que ele não fizesse nada. - Enfim, você acordou. - John chegou perto de Tim e lambeu sua bochecha fazendo o mesmo recuar para o lado com uma expressão de nojo. - Hora de brincar - John disse por fim e arrancou a camiseta de Tim, logo pegou a faca e começou a torturá-lo, eu chorava e tentava gritar, mas era impossível.
  - Seu filho da puta - Tim gritou enquanto John fazia um percurso qualquer em seu peito nu.
  - Irá ficar pior, acredite. - John sorriu.
  Eu estava com medo, apavorada, eu não sabia o que fazer, ver John torturando Tim me dava raiva, raiva dele, raiva de mim por não poder fazer nada, eu tentava me desamarra desesperadamente, John havia se focado em torturar Tim e me torturar.
  Percebi que quando mexia meus braços, a corda dava uma leve afrouxada, sorri vitoriosa com o incidente e me desamarrei, tira logo meu pano da boca e tentando evitar o máximo para não fazer barulho, soltei meus pés e fui engatinhando até a mesa, onde John havia deixado a arma.
  - Olha, Savannah, aprecie a tortura e guarde bem o rosto dele, porque em poucos minutos não será a mesma coisa. - John alterou a voz e olhou para o canto onde eu deveria estar amarrada, percebendo que eu havia me soltado, virou e deu de cara com a sua arma apontada para sua testa. - Demorou - ele disse debochando.
  - Cala a boca - falei baixo, cuspindo todo meu ódio.
  - Atira logo! - ele gritou. - Atira Savannah - chegou mais perto -, você não teria coragem de atirar, não é? - Ele chegou mais perto de meu corpo e passou a mão em meu rosto; senti tanta repulsa naquele momento que a única coisa que consegui fazer foi assentir, assentir para mim, abaixei a arma como se tivesse me rendido e assim que ele chegou mais perto apontando a faca para minha costela, eu atirei em seu pé.
  - Filha da puta! - ele gritou caído no chão e gemendo de dor. - Você vai pagar por isso e será agora. - Ele se arrastou até mim. Durante sua queda eu corri até onde se encontrava Tim e o desamarrei, me distraí vendo seu machucado e senti algo arder em minhas costas. - Eu disse que você iria pagar caro por isso - John sussurrou no meu ouvido e virou a faca, fazendo eu gemer de dor, Tim se levantou e gritou, pegou a arma que eu havia deixado cair no chão assim que levei a facada e ouvi os tiros.

6. You, with your switching sides

  Terceira pessoa.
  Savannah piscava os olhos fortemente, não sabia onde estava e sentia uma enorme culpa dentro de si, tudo o que havia acontecido naquela tarde era sua culpa, se não tivesse se apaixonado por John, nada teria acontecido, seus olhos se enchiam de lágrimas e se segurava para não soluçar.
  - Savannah, você acordou - disse uma enfermeira injetando algum líquido em seu soro.
  - Que dia é hoje? Cadê o Tim? E meu bebê? O que aconteceu com John? - Savannah soltou todas as perguntas que passava por sua cabeça.
  - Calma, hoje é uma quinta-feira, você ficou desacordada desde terça, Tim está bem - ela disse sorrindo levemente. - Você não o perdeu, e o John está morto.
  - Tim já levou alta? - Savannah se assustou com as palavras e sentiu um nó em sua garganta, ela sentia ódio por ele, mas havia um pouco de amor também, como sempre.
  - Sim, ele está na sala de espera junto com sua família - a enfermeira disse verificando os curativos de Savannah.
  - Pode chamar o Tim?

  - Tim - Savannah disse e começou a chorar ao ver que ele mantinha um curativo em todo seu peito. - Me desculpa.
  - Pelo quê? - Tim deixou um beijo na testa de Savannah e a abraçou.
  - Por tudo o que aconteceu, é tudo minha culpa, se não fosse por isso, eu...
  - Ei, está tudo bem, o importante é que você está bem. - Tim cortou Savannah, sorrindo para ela.
  - O John... morreu, né? - Savannah disse abaixando os olhos e segurando o nó que havia na garganta.
  - Eu sinto muito, eu sabia que você ainda gostava dele, mas ele te esfaqueou, sabe o que é isso? Eu não tive escolha.
  - Eu te amo, Tim. - Savannah o abraço. - Obrigada.
  Savannah levou alta dois dias depois, logo depois Tim a pediu em casamento, que a mesma aceitou; Savannah se sentia bem, feliz e realizada, nenhum outro homem havia conseguido fazer ela se sentir assim, às vezes, o que procuramos, o que queremos, está bem à nossa frente, só precisamos de um empurrão para enxergá-lo.
  - Obrigada por ter me trazido aqui. - Savannah sorria para Tim e olhava tristemente para a lápide a sua frente.
  - Era o mínimo que eu podia ter feito. - Tim sorriu, beijou a cabeça de Savannah e a abraçou; estava frio e nada como um abraço não esquente o coração.

Fim



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