Days

Escrito por Li Santos | Editado por Lelen

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Parte I

"Meus sonhos estão por aí, mesmo que eu pudesse os ver completamente e claramente
Eu perdi a vista das coisas importantes"

  Eu consegui tudo que eu sempre almejei. Sou famoso, tenho dinheiro, muitos fãs que me amam, faço parte da banda mais famosa do país, tenho sempre mulheres lindas ao meu redor. Porém, me sinto vazio. Principalmente após meu encontro com ela hoje mais cedo.
  Realmente me abalou.

  Flashback on - naquele mesmo dia, pela manhã
  Fui acordado pelo despertador e pelas ligações do empresário da banda, era a vigésima oitava vez que ele ligava. Ignorei todas. A noite anterior havia sido perfeita, memorável demais para ser estragada com um início de manhã desses. Acordei ainda sentindo o peso do corpo dela em cima de mim. Me mexi e saí da cama, deixando-a contrariada a me fitar.
  — Volta para cama, , está cedo — falou, manhosa. Soltei um sorrisinho de canto.
  — Não posso, tenho entrevista daqui a pouco e aposto que se eu não aparecer, vão me expulsar da banda — respondi.
  Apesar de eu querer muito voltar para a companhia dela, que é muito prazerosa, eu realmente não posso ficar.
  — Se arruma rápido, irei sair em dez minutos — eu disse e entrei no banheiro.
  Sou , músico e membro de uma banda grande e famosa do meu país. Após um banho rápido, me despedi da moça prazerosa e fui para meu compromisso. É, eu não me dei ao trabalho de gravar o nome dela, desculpem.
  — Yah, era só o que me faltava. — Suspirei irritado ao ver a ligação de um dos meus amigos e companheiros de banda. — Bom dia, sunshine! — atendi e disse num tom brincalhão. Pude ouvir a risada presa ser solta.
  — Sabe que Fuyuki vai te matar, não sabe? — disse do outro lado da linha.
  — Já estou a caminho, estou quase aí. Mais cinco minutos — falei, enquanto acelerava o carro e desviava dos mais lentos. — Me cobre, por favor?! — implorei e ouvi outra risada sendo solta.
  — Como sempre, não é?! Não demore! Cinco minutos, ! — ele disse e riu.
  — Sim, senhor! — brinquei e encerrei a ligação.
  Continuei dirigindo e em menos de cinco minutos estava no local da entrevista. Antes mesmo de eu estacionar o carro, dezenas de fotógrafos amontoaram-se ao redor do meu carro. Suspirei irritado e desliguei o motor. Fiz sinal para que eles se afastassem do carro para que eu pudesse abrir a porta, alguns obedeceram e eu consegui sair. Flashes vindos de inúmeras direções me cegaram, mesmo assim eu tentei sorrir para as câmeras. Era importante manter a aparência feliz para o público.
  Ao sair um pouco do bando de fotógrafos, eu vi um vulto passar. Achei que estava louco, mas logo meus olhos confirmaram minha sanidade. Eu achei que ela tivesse desaparecido. Sumido do mapa. Faz tanto tempo, mas, por Deus, como ela está… deslumbrante! A figura dela logo desapareceu em meio às outras. Será que estou vendo coisas?
  — Está atrasado, ! — gritou Fuyuki, irritado, assim que me encontrou no corredor de acesso ao camarim. Apenas assenti e entrei no camarim antes que ele viesse com discursos a essa hora da manhã. Não estou disposto.
  — A noite foi boa, hein, cara!? — comentou assim que me viu.
  — Ah, foi… — respondi, suspirando e me sentei no sofá relaxando.
  — Não vai comer?
  — Não. Acordei sem fome hoje.
  E não deixa de ser verdade. Normalmente eu acordo muito faminto, mas hoje acordei indisposto mesmo após a noite de ontem ter sido relaxante. Ainda tem o fato de eu ter visto ela por aqui… Ah, será que estou louco? Ou será que ainda estou bêbado de ontem?
  — Sejam bem-vindos! Por favor, podemos começar a entrevista! — anunciou Fuyuki, depois que sentamos nas cadeiras.
  Eu estou de óculos escuros, mas pude notar os olhares reprovadores de Fuyuki na minha direção.
  — Fuyuki vai te matar, — sussurrou que está ao meu lado.
  — Acredite, , é melhor eu ficar assim do que as pessoas me verem sem os óculos. A situação aqui embaixo não está das melhores, meu amigo! — riu e voltou a erguer o corpo que havia curvado para chegar mais perto de mim.
  A entrevista seguiu, já respondemos algumas perguntas. Eu não abri a boca para falar nada além de provocar durante a entrevista, só para desconcentrar ele. Agora estou mais interessado no almoço que teremos assim que sairmos daqui.
  — Você, srta. , pode perguntar — ? Será que…
  — Obrigada! — Sim! É ela! Meu olhar  foi atraído pela voz dela. Como eu queria que eu estivesse enganado mais cedo. É ela mesmo… — Minha pergunta vai para todo o grupo: como vocês lidam com algumas notícias que saem a respeito da vida pessoal de vocês? Se incomodam ou já deixaram de se importar? — Meu coração está errando as batidas totalmente, estou frio e… Nossa, como se respira mesmo?
  — Bom, nós nos incomodamos um pouco… — começou a responder e eu não conseguia parar de olhar para ela. Estou hipnotizado.
  — Obrigada! — ela agradeceu pela resposta e voltou a se sentar. Em nenhum momento ela olhou para mim. Será que não me reconheceu? Será que ela sabe que sou famoso agora?
  Eu não consigo mais fazer nada. Passei o restante da entrevista olhando para ela. me cutucou algumas vezes, mas eu não tinha reação. Após a entrevista, eu me levantei e tentei falar com ela, mas óbvio que os fotógrafos urubus não permitiram isso. Quase uma hora se passou e já estamos no almoço. Alguns fotógrafos e repórteres ainda estão aqui para registrar algumas imagens iniciais.
  — , você está bem? — tocou meu ombro e eu me assustei com o gesto. — Você está pálido, cara. — E eu devo estar mesmo, sinto que vou desmaiar a qualquer momento.
  — você viu… você viu aquela repórter, a tal de ? — segurei o braço dele com firmeza.
  — Sim. Por quê?
  — É ela, cara! — Ele não pareceu se lembrar, tive que dar mais detalhes. — A , a minha . — A luz se acendeu no cérebro dele e sua boca abriu, espantado.
  — Sério? Ela não tinha sumido?
  — Pelo visto, não mais.
  — Isso te atordoou, não foi?
  — Como não?! Nossa história é muito intensa, cara… muito!
  Eu não consegui mais falar. sabia de toda a minha história com a , apelido que eu mesmo dei a ela. Rever a depois desse tempo todo mexeu comigo. E como mexeu.
  Flashback OFF

Parte II

"Minhas memórias são caleidoscópicas minha mente começa a competir rodando e rodando. Assim muitas vezes, eu esqueço-me de que eu tento aderir as minhas memórias leves"

  Passei a noite deitado na cama, sozinho e remoendo o passado. Toda culpa que eu senti no momento da despedida de anos atrás, eu revivo agora. Mais forte. Vívida. Ela parece me golpear, rasgando minha alma aos poucos.
  Se eu pudesse voltar no tempo…
   e eu somos amigos. Ou éramos. Nos conhecemos ainda no fundamental. Ela parecia tão frágil e indefesa naquela época, sempre foi a menor da sala, nós dois sempre caímos na mesma turma. Era engraçado que andávamos para cima e para baixo como namorados e, no ensino médio, acabamos oficializando o relacionamento. Após o ensino médio, eu e ela planejamos nosso futuro juntos, sempre incluindo um nos planos do outro. Até o fatídico (ou não) dia em que eu aceitei a tal proposta.
  Já estava tudo planejado, tudo certo para nosso casamento, já tínhamos até uma casa próxima aos nossos trabalhos, na época. Um belo dia, recebi uma ligação de uma das maiores produtoras do país. O motivo? Um convite para fazer parte de uma nova banda que eles iam promover, queriam que eu fosse um dos vocalistas. Perfeito, não? É, seria mesmo, caso não fosse na capital e eu morasse no norte do país, bem longe da capital.
   ficou muito feliz e logo foi mudando seus planos, pesquisando trabalhos na capital. Porém acabou desistindo, pois eu disse a tão temida frase que a fez chorar em desespero.
  — Eu vou para a capital sozinho. Eu não te amo mais.
  Essa foi a minha primeira mentira e meu eterno arrependimento.

[...]

  Já amanheceu e estou acordado navegando pelos sites de revistas e jornais atrás de uma pista de onde trabalha. Eu sei que é um jornal ou revista importante da região.
  — Então é aqui que a senhorita trabalha… — disse para mim mesmo assim que achei o site da revista. Anotei o endereço e fui tomar banho.
  Assim que fiquei pronto, desci até o estacionamento do prédio e parti com meu carro até o trabalho dela. No caminho, me ligou, queria que eu o acompanhasse até um evento mais tarde. Bom, se o meu plano der certo, eu já terei compromisso mais tarde, algo inadiável.

[...]

  O prédio onde fica a sede da revista é bem luxuoso. Assim que botei o pé na recepção do prédio, fui cercado por algumas fãs que me reconheceram de longe. Após me desvencilhar delas, com a ajuda dos seguranças do prédio, eu peguei o elevador indo até o décimo sétimo andar. Parece que as funcionárias da recepção avisaram que eu estava subindo, pois, assim que a porta do elevador se abriu, eu fui engolido por várias mulheres com papéis e canetas nas mãos, além, claro, de celulares com a câmera ativada, prontos para uma selfie.
  — Calma, meninas! Calma — eu disse, tentando me comunicar em meio àquela confusão que se formou.
  — ! Me dê um autógrafo, por favor! — disse uma delas.
  — Claro! — Peguei a caderneta que ela segurava e fiz o que ela pediu, ao devolver o objeto eu sussurrei no ouvido dela — Onde posso encontrar a srta. ? — Vi que a pele de sua nuca se arrepiou e aquilo me arrancou um sorriso.
  — A-A-Ali — gaguejou ela, apontando para uma mesa lá ao fundo do andar.
  — Me leva lá, princesa? — sussurrei novamente.
  — Cla-Claro, , eu, eu, eu te levo. — Parece que as pessoas ficam gaguejantes na minha presença.
  Ela me levou até a mesa da . Chegando lá, encontrei ela sentada em frente ao computador, concentrada. Agradeci a mocinha que me trouxe e pigarrei para chamar a atenção da , que ainda não havia me notado ali.
  — Pois não… — Ela virou a cadeira e então pude ver sua aparência mais de perto.
  Ainda usa óculos (pelo visto o grau aumentou desde a última vez), ainda tem o mesmo olhar perdido quando fica confusa ou surpresa, sem contar que ainda não gosta de usar maquiagem, apesar de ela ficar incrivelmente mais linda quando maquiada.
  — … — E ela ainda tem a mania de me chamar assim. Parece que estamos no ensino fundamental novamente.
  — Bom dia, -chan — eu disse com um sorriso provocador no rosto. Ela manteve sua postura fechada.
  — O que faz aqui, ? — questionou, cruzando os braços.
  — Vim te ver, já que você sabia que eu estava na entrevista e nem se deu ao trabalho de vir falar comigo — eu disse e puxei uma cadeira próxima, sentando-me em seguida, sem tirar meu olhar dela. — Estava com saudades.
  — Ah, você sente saudades minhas? Interessante — seu tom era muito irônico. Acho que ela ainda está chateada comigo.

  [n/a: você acha, meu filho?]

  — -chan, vamos lá, vim te fazer um convite irrecusável. — Mantive minha postura firme para não demonstrar para ela que estou nervoso. Apesar de que ela me conhece bem demais e já deve ter notado.
  — Diga…
  — Aceita sair comigo para jantar hoje? Vamos ao lugar que você quiser, você quem manda, . — A resposta não veio num primeiro momento, a expressão dela estava pensativa e aquilo não estava me agradando nada. Depois de quase dois minutos calada e imóvel, me encarou, tinha um sorriso malicioso no rosto, mas não o malicioso que eu esperava.
  — Aceito. Vá me buscar às 19h nesse endereço. — Ela pegou um bloco de notas e anotou o endereço dela, destacando o papel e me entregando. — E não se atrase, odeio atrasos.
  Ela se levantou e saiu, me deixando sozinho por poucos segundos, pois logo as colegas de trabalho dela me cercaram, curiosas pra saber de onde eu conhecia a . Depois de me livrar delas, eu voltei para casa. Ao chegar em meu apartamento, eu fiquei pensando na reação da . Ela não me parecia muito feliz ao receber meu convite para jantar. Na verdade, ela me pareceu satisfeita, como se esperasse por aquilo há anos, mas não para matar a saudades de mim. Desconfio que seja uma cilada ir a esse jantar. Porém, estou com tanta saudade dela que estou escolhendo ignorar essa desconfiança e apenas aproveitar a sua companhia.

[...]

  Já estou em frente ao prédio da aguardando por ela. Estou mais nervoso do que no dia em que saímos pela primeira vez, fomos até uma sorveteria próxima a minha casa, ainda no ensino médio. estava tão fofa, usava uma saia até os joelhos, uma blusa florida e os cabelos estavam soltos, diferente do costumeiro lacinho que usava para prender e ir à escola. Sem contar os enormes óculos de grau que ocupavam um terço do rosto dela, mas ficavam extremamente fofos. Me perdi na nostalgia…
  — ?! — As batidas no vidro do carro me trouxeram de volta à realidade, destravei a porta e entrou, acomodando-se e fechando a porta em seguida. — Demorei muito? Me desculpe, odeio me atrasar, mas é que meu chefe inventou uma matéria de última hora só para me irritar.
  — Não se preocupe.Não esperei muito — respondi e notei o quão linda ela está. — Está muito bonita, . — Ela pareceu corar com meu comentário e sorriu. Ainda era o mesmo maldito sorriso malicioso de mais cedo.
  — Obrigada, , você continua sempre muito elegante. Desde que entrou para a banda, mudou seu estilo para melhor, parabéns — ela elogiou e suspirou.
  — Você acha? Ok, obrigado. Bom, para onde vamos? — questionei já com as mãos no volante.
  — Sabe onde fica o Ise Sueyoshi?
  — Claro. Quer ir lá? — ela afirmou com a cabeça e eu concordei. — Vamos então, como eu disse: você quem manda.
   sorriu, vitoriosa e eu dei a partida no carro. O Ise Sueyoshi é um dos melhores restaurantes da cidade. Logo estávamos lá e fomos muito bem recebidos pelo maitre que nos guiou até uma mesa reservada, a pedido meu. Nos acomodamos e pedimos o jantar. Engatamos uma conversa sobre o passado, mas não a parte da despedida, antes disso. Apesar da minha mente me trair, lembrando-me de coisas que eu fiz e não me orgulho nem um pouco, relembrou dos momentos felizes que passamos juntos, antes do caos.
  — Ah, , me lembro disso muito bem. Você não sabia andar de bicicleta e já estávamos no ensino médio — comentou ela, no meio do jantar, rindo.
  — Isso não é coisa para se lembrar, ! — eu disse um pouco ofendido. — Eu aprendi a andar nesse mesmo ano.
  — Só depois que eu te ensinei, né? — Riu ainda mais e completou: — Ah, , que divertido relembrar disso.
  — Você ri, não é?
  — Quer que eu chore, meu bem?! — Uma lembrança muito forte foi jogada em meu rosto e deixou transparecer meu sentimento de alegria ao ouvir ela me chamar assim tão intimamente. Ela notou e logo se corrigiu: — Me desculpe, não temos mais essa intimidade.
  — Mas podemos voltar a ter… — Ela me encarou e engoliu em seco. Parece ter sentido a garganta secar e deu um gole no vinho, pondo a taça de volta e desviando o olhar de mim. — , eu…
  — , é melhor nós não falarmos disso, Está bem? São lembranças dolorosas demais para nós dois.
  — Eu sei, você não sabe o quanto me arrependo…
  — ! — Sua voz saiu alterada e eu me calei, entendendo o recado.
  Não tocamos mais no assunto. Na verdade, não falamos de mais nada. Recusamos a sobremesa, pedimos a conta e fomos embora. Ao estacionar o carro na porta do prédio dela, eu tentei me explicar, pedir desculpas de alguma forma.
  — Me desculpe se te magoei… de novo — comecei falando e ela continuou calada. — Te ver ontem me trouxe tantas lembranças fortes do nosso passado que eu fiquei atordoado. Junto com elas, me veio o arrependimento que senti naquela época. — Senti que nesse momento o olhar dela caiu sobre mim, mantive meus olhos voltados para minhas mãos que ainda estavam segurando o volante. — Arrependimento de ter mentido para você, de ter dito que eu não a amava, sendo que eu nunca deixei de sentir esse amor por você. Amor esse que jamais diminuiu, nem um só dia, nem um só segundo. Se arrependimento matasse, , eu já não estaria mais aqui vivo para te falar isso. Eu…
  — -chan
  Só ela me chamava assim, foi a segunda coisa que ela me disse quando nos conhecemos no ensino fundamental. Ela me disse seu nome, eu disse o meu e ela disse “Ah, -chan…” com uma expressão muito fofa no rosto. Quando ela sorri, seus olhos se fecham mais e suas bochechas ficam rosadas e rechonchudas. Olhei para ela e a vi se aproximando de mim.
  — Não precisa dizer mais nada, ok? — ela disse e o toque de sua mão em meu rosto me fez derreter e eu quase chorei. De olhos fechados, eu assenti com a cabeça e, segundos depois, senti os lábios dela em minha boca novamente, depois de muitos anos.

Parte III

"O vento se funde com a paisagem desvanecida
E minhas memórias retornam macias"

  A porta do apartamento da foi fechada com um empurrão dela, seus lábios ainda estavam grudados aos meus e eu não queria parar de beijá-la. Minhas mãos passeavam pelo corpo ainda muito escultural dela, levantando o vestido que ela usava, que logo fiz questão de retirar. Jogando os sapatos para longe, me encarou de maneira muito pervertida, desejava-me e isso era notório.
  Desabotoei minha camisa e minha calça e as tirei, meus sapatos já estavam no chão da sala há muito tempo. Já no quarto, me jogou na cama e se deitou em cima de mim. O toque quente de sua pele me arrepiou inteiro e ela sorriu ao perceber.
  — , eu posso fazer uma coisinha com você? — O olhar dela penetrava o meu, se ela pudesse ler minha alma naquele momento, leria. Eu estava totalmente rendido.
  — Po-Pode — gaguejei, quase me faltou ar para falar uma simples palavra.
   não disse mais nada, sem saber o que ela faria dali em diante, eu apenas a deixei comandar. Como eu disse: eu estou rendido a ela, totalmente. Ela levantou e abriu seu closet, tirando de dentro de uma gaveta alguns lenços. Ah, eu já sei o que ela vai fazer e eu vou adorar.
  — Se você se mexer, vai perder seu benefício, -chan — ela sussurrou em meu ouvido e eu me arrepiei inteiro novamente.
   amarrou meus pulsos em sua cabeceira. Eu apenas fiquei olhando sua movimentação. Com um sorriso extremamente malicioso no rosto, me vendou e selou nossos lábios no final. No escuro e amarrado, eu me senti total e literalmente nas mãos dela. Senti seus beijos trilharem um caminho do meu pescoço até minha barriga, muito próximo da minha cueca box. passou a língua naquela região e eu me mexi, inevitavelmente. Ela parou seus movimentos e, segundos depois, mordeu a lateral da minha barriga.
  — Sem se mexer, mocinho! — bradou ela e, aposto o que for, que ela tinha um sorriso vitorioso no rosto. Sinto que ela ainda quer me punir, talvez pelo que vivemos no passado, toda a mentira que contei. Se for isso, estou pronto para ser penalizado.
  Ela voltou a passar a língua, brincando com a região próxima a minha cueca. Devagar e com a boca, foi puxando minha cueca e usou as mãos para tirá-la. Agora sim eu estou vulnerável. Ansioso para o que viria a seguir, eu engoli em seco e senti minhas pernas tremerem. Com um suspiro excitado, eu reagi ao primeiro toque de sua boca em meu membro exposto. Não imaginei que sentia tanta falta disso, do toque dela em mim. O prazer é sempre garantido. As mãos de estavam fincadas em minhas coxas, habilidosamente ela fazia os movimentos com a boca, subindo e descendo, sugando meu membro, sem ao menos tocá-lo com as mãos. Não demorei muito para chegar ao ápice daquele ato. Nossa, estou no paraíso.
  Desesperado e me tremendo de tesão, eu puxei meus pulsos, me livrando da amarra que ela pôs em mim. A encarei, ofegante, e posso dizer com todas as letras: é a melhor visão que já tive na vida. está sentada sobre as próprias pernas, completamente nua e com as mãos apoiadas na cama, de forma que seus seios ficam um pouco mais fartos. Abracei ela e a puxei para mim, nos deitando em seguida. Eu não consigo acreditar que isso está realmente acontecendo comigo. Ter a novamente, depois de tantos anos, está sendo incrível.
  Não quero que esse momento acabe. Nunca.
  — Eu disse que você poderia sair, -chan? — a voz dela saiu sensual, ela está deitada em meu peito e desenha com os dedos em meu pescoço.
  — Eu precisava de você, precisava abraçar você.
  — Você quer me abraçar, -chan? — Ela levantou o corpo e se apoiou no cotovelo, me encarando de uma forma muita safada.
  Eu sorri, malicioso.
  — , eu preciso de você e tem que ser agora, por favor! — implorando. Eu estou implorando para tê-la novamente para mim. Em todos os sentidos.
  — Então, venha buscar o seu benefício, antes que eu…
  Nem esperei ela terminar de falar. Me ajoelhei na cama e a puxei bruscamente para mim, beijando-a com todo desejo que estou sentindo. A tomei em meus braços e me deitei, trazendo-a comigo, sem interromper nosso beijo. Rapidamente eu coloquei meu membro dentro dela e aquilo foi a melhor sensação da minha vida. Gemendo de prazer, rebolava em cima de mim e a cada rebolada dela eu apertava mais sua cintura. Ela me encarava com as mãos sobre meu tórax, suas unhas me arranhavam me causando uma leve dor, mas nada que me fizesse parar. Não agora.

[...]

  Era a minha vez de brincar com a língua na intimidade dela. O gosto delicioso em minha boca era o meu prazer, atrelado aos gemidos baixos que aumentavam gradativamente de volume conforme eu lambia ela.
  — Ah… … não para… agora, não… — sua voz saiu rouca e espaçada.
  Eu dei uma última sugada, quando percebi que ela chegaria ao ápice e ele veio quente em minha boca.
  — Agora vamos à parte mais divertida, meu amor. — A encarei e me deitei em cima dela, introduzindo meu membro em sua úmida intimidade. Ela suspirou de prazer e fincou as unhas em minhas costas.
  — Ah, … eu… — Minhas investidas eram cada vez mais fortes. Eu estou suando tanto e minhas pernas estão quase me abandonando, porém eu não vou parar. Não enquanto não a fizer gozar de novo, comigo dentro dela. O ápice do prazer.
  — Que foi, meu amor? — De repente, ela fez uma cara de choro. Um choro preso e pronto para sair.
  — Eu… , eu… — antes dela terminar, ela gemeu alto e me apertou mais. Atingimos o ápice do nosso prazer quase ao mesmo tempo. Eu primeiro e ela segundos depois, me apertando e liberando todo o prazer que sentiu.
Morto. É uma palavra que me define agora.
Feliz. Outra palavra que se encaixa bem com o meu estado de espírito no momento.
  Me deitei devagar em cima dela e afaguei seus cabelos molhados pelo suor. A respiração dela ainda era agitada e descompassada. Dei um beijo na testa dela e me joguei na cama, ao seu lado. encarava o teto de seu quarto e eu a fitava: confuso e pensativo. Por que ela estava quase chorando agora a pouco? Cansado demais para perguntar, acabei adormecendo com a cabeça repousada no peito dela, enquanto ela fazia cafuné em meus cabelos.

Parte IV

"Com meu fingir ser forte, eu deturpo meus sentimentos
Uma resposta das estações passadas
Assim eu compreendo aquilo após tudo"

  A luz dos raios de sol cegando meus olhos denunciavam a nova manhã que chegava. Eu estava coberto pelo edredom. Tateei a cama e eu estava sozinho. Levantei o tronco e encarei o quarto, tudo estava milimetricamente arrumado. Chamei pela , mas não obtive nenhuma resposta. Levantei, vesti minha cueca box e fui até a sala. Para minha surpresa não havia ninguém. Será que ela já foi trabalhar? Andei pelo apartamento, procurando algum bilhete, seja lá o quê, que indicasse para onde ela foi que me deixou sozinho.
  Nossa, , isso soou muito egoísta e mimado.
  Encontrei, em cima da mesinha de centro, na sala, um bilhete da . Na verdade, é uma carta. Meu coração gelou e tive um péssimo pressentimento antes de ler. Sentei-me no sofá, minhas mãos já trêmulas, segurando a carta. A curiosidade em saber seu conteúdo foi maior que o meu medo da verdade. Verdade essa que eu já imagino qual seja.
  Fui muito iludido em achar que estava tudo bem…

  "Querido ,
  A quanto tempo não nos víamos, né? É difícil para mim, creio que para você também, agir naturalmente após todos esses anos. Confesso que fiquei surpresa quando você apareceu no meu trabalho. Não esperava que o famoso ídolo aparecesse para visitar 'velhos amigos'.
  ~risos~
  Imagino sua expressão agora de 'não somos apenas amigos!! Fomos namorados…', pois é, , eu sinto falta da época em que éramos só eu e você. Não existia mídia, não existia gravadora/produtora, não existia a banda, não existia fãs, não existia toda essa ambição… você não faz ideia do que…
  Ontem eu me emocionei muito ao te ver novamente. Acho que deve ter notado, né? Principalmente, quando me lembrei do motivo pelo qual eu não estou com você neste exato momento. Se meus cálculos estiverem certos, agora, no momento em que você está lendo essa carta, eu já embarquei no avião. Me desculpe, , eu não posso ficar.
  Ontem, antes de nos encontrarmos para jantar, meu chefe me ofereceu uma vaga na filial da revista no Brasil. Irrecusável. Eu aceitei. Porém, eu não sabia que nossa noite terminaria do jeito que terminou. Eu realmente esperei ser apenas uma noite com um cara. Leigo engano meu. Você nunca será somente um cara para mim. Mesmo eu ainda estando com raiva de você por tudo que fez, por ter mentido para mim, por ter me deixado sem ao menos conversarmos sobre e, principalmente, por você ter espalhado para quem quer que fosse que eu quem sumi da sua vida, quando nós dois sabemos que não foi isso que aconteceu, não é? Mesmo assim, eu amo você. E é um amor tão forte, meu Deus, , eu mal consegui respirar quando te vi na entrevista. Eu sabia que entrevistaria a sua banda, pedi para ser escalada para a coletiva na esperança de ter minha vingança, mas acho que quem levou o revés fui eu. Perdi totalmente o controle sobre meus sentimentos quando te vi. Eu não queria me sentir assim. Não queria…
  Saiba, , que o meu amor por você é eterno e, obviamente, não irá mudar. Porém, agora eu não consigo me render a ele. Eu preciso focar na minha carreira. Espero que não me julgue, afinal você fez o mesmo anos atrás. Enfim, pode ficar mais um pouco no apartamento, basta deixar as chaves com o porteiro. Elas estão na fechadura da sala.
  Espero que continue dando tudo certo para você, .
  Com muito amor,
  Da sempre sua,
  -chan
  ️"

  Ler tudo isso realmente mexeu comigo. Antes do fim da carta, eu já estava chorando compulsivamente. Ao fim, coloquei a carta em cima da mesinha novamente e me joguei no encosto do sofá. O sentimento de tristeza e arrependimento que senti quando a abandonei voltou com tudo. E voltou pior.
  Eu nem posso culpar a por ter feito o que fez. Priorizar a carreira é importante e ela fez bem em ter aceitado a proposta de ir ao Brasil.  De qualquer forma, essas palavras não deixaram de me atingir de maneira destrutiva. Meu peito arfava em desespero por não ter mais ela: a mulher que sempre esteve comigo e eu abandonei. Ter espalhado que ela me deixou foi mais fácil para mim do que admitir que o erro foi meu. Fui covarde, admito. Eu só queria morrer agora. Só queria que alguma coisa, qualquer coisa, fosse capaz de acabar com minha dor.

[...]

  Passaram-se horas desde então. Eu tinha uma sessão de fotos individuais marcada pela tarde. Com o estado em que estava, preferi não ir. Nem forças para levantar do sofá eu tive. Ainda estou aqui, encarando o teto da sala do apartamento da mulher que eu abandonei. Como eu fui burro…
  — ! Abre a porta, cara! — a voz de surgiu baixa. Eu avisei a ele que eu estava aqui e o que tinha acontecido. Ele veio correndo ver como eu estava.
  — Entra. — Deixei a porta aberta e entrou. Voltei arrastando-me para o sofá e me joguei com o rosto enterrado nas almofadas.
  — Você está um caco, irmão — comentou , me dando um tapa nas costas.
  — Ouch… — gemi e afundei meu rosto no sofá.
  — Anda, ! Levanta dessa merda de sofá! Vamos! — me deu outro tapa, dessa vez nas pernas. Doeu e eu gemi de novo. — Para de gemer e levanta, !
  — Eu não mereço viver em sociedade, . Sou destrutivo.
  — Ah, , me poupe! — reclamou ele e, literalmente, me arrastou do sofá até o tapete. Fiquei lá parado de qualquer jeito. — Você sabe que aviões existem, não sabe? — questionou ele ao se agachar ao meu lado.
  — Não sou tão burro…
  — Pois parece que é. Vamos lá, , você ainda pode deixar de ser um imbecil, ir até o Brasil atrás dela e pedir perdão de joelhos. — Levantei o olhar para encarar ele. Fiquei pensando: obviamente não ia gostar de me ver no Brasil no dia seguinte à despedida dela. Com certeza ela iria me rejeitar, só que pessoalmente.
  — Porra, ! — Ele havia me dado outro tapa, dessa vez na bunda. — Sei que minha bunda é atraente, mas, por favor, não bata nela.
  — Então faça o que mandei: levanta e aja feito homem ao menos uma vez na vida! — bradou ele, irritado. — Não é vergonha pedir perdão e admitir os erros, irmão.
   tem razão. Por mais que eu tenha feito algo imperdoável ao meu ver, nem eu me perdoaria, eu tenho o direito de tentar o perdão. Não fui franco com a ao dizer que não a amava mais, quando o sentimento era o mesmo. Levantei da posição incômoda que estava e fui até o aeroporto. Sei que uma hora dessas o voo dela já partiu, mas sei também que eu ainda posso alcançá-la, se eu for rápido. Estou indo apenas por achar que eu devo a ela esse pedido de desculpas, a magoei muito e não espero que ela volte para mim. Sinceramente, eu gostaria que ela apenas me beijasse e dissesse:
  — Eu te amo, , mas é melhor ficarmos apenas com as boas memórias.
  E são essas memórias que eu sempre irei lembrar. Juntos com os sentimentos que elas me proporcionaram.
  Eien ni!*

  NOTA: *para sempre.

"Pedaços de paixões e curtas memórias vividas
  Mesmo se eu acordar do sonho que ambos tivemos
  Eu nunca me esquecerei destes sentimentos"
  Days, FLOW

Fim



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