Daydream

Escrito por Camylla Martiniano | Revisado por Any

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  As portas automáticas do elevador se abriram revelando um ambiente agitado, com garçons elegantes equilibrando bandejas, contendo variados tipos de bebida.
  Passei apressada entre as pessoas, não prestando atenção no cartaz na entrada. Entre os convidados, procurei entre os rostos por algum conhecido, não demorando que eu avistasse minha irmã, , e nossa amiga, , sentadas em um banco alto do bar conversando animadamente aos cochichos. Era certo que eu levaria um puxão de orelha das duas por chegar atrasada à festa. , que há uns dois meses havia voltado da Inglaterra para dar uma checada em como andava os contratos da filial da agência de eventos, obviamente, conhecia todas as melhores bandas britânicas e sempre conseguia entradas para festas no backstage como aquela. Eu e éramos suas convidadas Vips naquela noite.
  A banda se chamava One Night Only, pouco conhecida no Brasil, e era sua primeira passagem pelo país. Por já ter escutado algumas músicas e gostado bastante, cedi à insistência das duas em ir direto do trabalho pra lá.
  - Ah, finalmente a mocinha chegou! - reclamou quando me viu chegando perto. - Perdeu o show! Bem feito!
  - Poxa , você demorou muito! - disse , fazendo seu típico biquinho de indignação.
  - Ah meninas, eu avisei que talvez eu não chegasse a tempo... - me defendi, dando um beijo na bochecha dela, que fingiu não gostar, mas depois sorriu, fazendo o mesmo com . - Até consegui fechar uma matéria para a revista a tempo, mas o trânsito da Gávea para Copacabana tá foda. Vocês sabem como a zona sul do Rio fica as sextas à noite...
  - Ah vai, tudo bem - Natasha deu de ombros, sorrindo em rendição. - Só perdôo porque sou uma pessoa muito boa.
  - Você me ama, isso sim - disse pomposa. - Mas de qualquer maneira, eu sei que a banda é boa, te falei no dia que você me mandou o cd deles - me dirigi ao barman brevemente para pedir minha primeira vodca-martíni, sendo acompanhada pelas outras.
  - Já viu alguma foto deles? - perguntou dando um gole em sua bebida. - São uns gatos e o melhor de tudo: s-o-l-te-i-r-o-s-! Menos o , infelizmente...
  - Deixa de ser foguenta, ! - brinquei, esbarrando meu ombro no dela. - Não tive tempo de ficar vendo foto de banda, eu trabalho ok? Vai querer todos pra você, é?
  - Não, ela tá de olho só no , o - respondeu .
  - Vocês sabem que o meu amor pelo Jude Law é eterno, mas bem, quem não tem o cão caça com o gato, né?
  - Oh sua cretina! - fingi indignação fazendo as duas gargalharem.
  Ficamos mirabolando várias aventuras que poderia ter com o tal . Uma delas envolvia uma fuga em ela usava uma peruca ruiva e óculos bizarros enquanto ele usava um bigode no maior estilo francês com direito a curvadinha pra cima, para despistar os paparazzi e fãs enlouquecidas. Depois disso, elas me contaram um pouco sobre o show e o quanto ele havia sido incrível, me deixando morrendo de inveja por ter tido a oportunidade de ver tudo numa parte escondida do palco, e não ter aproveitado.
  Conheci o tal - e aprovei a escolha de - quando apontou discretamente para ele, que conversava com dois caras, que foram identificados como sendo , , e , , respectivamente. Um pouco atrás deles, a sós com uma ruiva bonitona, estava , o baixista.
  Os três primeiros se juntaram a nós sem demora depois de tê-los chamado, quase fazendo ter um ataque. Pelo que vi dos olhares de para ela, ele também havia gostado.
  - Mas então você precisa nos ver em Londres - disse quando contei que não tinha chegado a tempo de vê-los no palco e não poderia ir ao show de São Paulo, no dia seguinte. - Será nossa convidada especial! pode preparar sua especialidade depois da apresentação:   Milk-shake de morango com chocolate! Você vai ficar viciada, aposto.
  - Na verdade é a única coisa que ele sabe fazer sem colocar fogo na cozinha - se intrometeu, cutucando como se aquilo fosse uma grande piada interna da banda. - Mas não conte isso para ninguém, ficaria magoado!
  - Mas eu nem o conheço! - disse. - Ele veio com vocês?
  - Claro que veio! - afirmou espantado. e que estavam numa bela conversa com , voltaram suas atenções para nós. - é o da banda, você não sabia?
  Sorri amarelo para os três, vendo pela minha visão periférica arregalar os olhos. O que eu diria? Que não me dei ao trabalho de saber mais sobre a banda sendo que minha irmã era um das pessoas responsáveis por eles estarem ali? Eu não queria sair como um groupie!
  - Claro que a sabe, meninos, é o efeito do álcool, entendem? Ela é fraquinha com bebidas... - tirou sarro da minha não tolerância ao álcool e eu olhei para ela com o cenho levemente levantado. - Em falar nisso, onde está o ? Ele sumiu!
  - Olha ele ali! - apontou para um cara que atravessava o salão em nossa direção.
  Ele era mais alto do que eu e magro, não esquelético, em minha opinião, seu corpo estava no ponto certo, bem gostosinho. O cabelo todo picotado e jogado displicentemente em várias direções de forma bem charmosa, diga-se de passagem, caiam sobre os olhos, escondendo a cor dos mesmos, dependendo dos seus movimentos. O nariz e boca, levemente corada, combinavam perfeitamente com seus olhos, que de tão , era impossível não perceber a cor mesmo de longe.
  Ele passou os olhos para todos que estavam comigo, até parar em mim. Um esboço de um sorriso surgiu em seus lábios e eu tive que respirar fundo, bem fundo mesmo, assumindo numa postura mais ereta e confiante, sentindo minhas mãos transpirarem quando finalmente parou na nossa roda, ao meu lado. Continuamos a nos fitar, e eu meio que paralisei ao percebem que seus olhos contrastavam com algumas sardinhas salpicadas em sua pele cor de leite.
  Tudo bem, quem esculpiu esse homem? Michelangelo?
  - Onde você tava, cara? - questionou , e só então ele tirou os olhos de mim para responder ao amigo enquanto eu continuava babando nele sem nenhum problema ou descrição.
  - Estava pegando nossos instrumentos. Pensei que poderíamos tocar uma música do álbum novo, o que vocês acham? - sua voz era suave e melodiosa, carregada com o sotaque inglês que fazem todas as mulheres e gays babarem litros e mais litros. apontou para um palco improvisado com todos os devidos instrumentos já posicionados, do outro lado do salão.
  - Ótima ideia! - exclamou . - Assim a pode ver!
  - ? - sorriu sugestivamente pra mim, mostrando seus dentes branquinhos.
  - Essa é minha irmã, , eu já te mostrei uma foto nossa, lembra? - me abraçou pelos ombros querendo mostrar nossa semelhança. Quero dizer, a nossa não semelhança. Ela era a cara do papai e eu a cara da mamãe.
  - É claro que eu me lembro dela e da foto - retorquiu, passando os olhos de mim para minha irmã. - Vocês duas estavam numa festa, se não me engano.
  Eu ia matar a se fosse a foto em que eu estava toda descabelada e bêbada que tínhamos tirado no meu último aniversário em Búzios!
  - Bom - bateu as mãos, querendo desviar a atenção quando viu minha expressão de pavor. - Eu também adorei a sugestão do . Eu tô doida pra assistir a mais uma apresentação de vocês!
  - Vou chamar o então, você vem comigo? - estendeu a mão para ela.
  - Já volto! - ela pegou na mão dele, dando uma piscadela para mim e .
  - Vamos agilizando as coisas - colocou seu copo vazio em cima do balcão.
  - Já que você não assistiu a gente, essa apresentaçãozinha será dedicada a você, tá? - cochichou, maneando a cabeça para o meu lado e se afastou não me dando tempo de pensar numa resposta.
  - Vocês dois... - voltou do bar com uma cara maliciosa, tomando sua vodca-martíni novinha. - Gostou dele, né?
  - Quem não gostaria? - disse sincera, me segurando para não rir. - Ele é fofo, educado, simpático...
  - Lindo, engraçado, gostoso, gentil, tem um sotaque perfeito... - ela enumerou por mim, divertida. - E pode acreditar, não é mulherengo. Nenhum deles é. Não que eu saiba, pelo menos.
  Gradativamente, as luzes ficaram mais baixas, só servindo de ajuda para os garçons os enfeites luminosos em cima das pequenas mesas redondas. Somente o palco ficou iluminado. Eu, e nos sentamos em uma das mesas logo a frente, tendo uma visão privilegiada de e os outros, que rapidamente estavam apostos para tocar.
  - Boa noite, pessoal - cumprimentou - Eu sei que vocês já estão cansados da gente, mas tivemos a ideia de mostrarmos a primeira música completa que fizemos para o novo álbum. O nome é Daydream - ele piscou pra mim, e eu só tive duas reações: a primeira foi sentir minhas bochechas queimando de vergonha e a segunda foi ignorar os olhares dos outros convidados. Ele olhou para o lado, falando com e voltou ao seu lugar.
  A música começou a soar apenas com as guitarras e baixo, e então a bateria também entrou. fechou os olhos, unindo as sobrancelhas e levantando-as de um jeito muito mordível, como se quisesse se concentrar, aproximando a boca do microfone. Lá estava a voz agradável e gostosa que eu havia escutado sem parar nas últimas semanas. Pessoalmente era mil de vezes melhor.

Have you ever questioned life?
Você já se questionou sobre a vida?
Have you taken it for granted?
Você já tomou como certo?
Life goes up and down and around and around and around
A vida vai para cima e para baixo e por aí e por aí e por aí
What's on the corner? I can't tell you
E o que aguarda na esquina? Eu posso te dizer.

  Os olhos de vagaram pelo ambiente, até encontrarem os meus, os conectando brevemente. Ele sorriu e abaixou a cabeça, olhando para o seu instrumento. , mesmo tocando com maestria, arriscava passinhos de dança e mexia a cabeça pra lá e pra cá conforme a batida da música ficava mais rápida.

Do you ever daydream? I do
Você já sonhou acordado? Eu já
I wanna share it with you
Eu quero compartilhar com você
Can I have a daydream with you?
Posso sonhar acordado com você?
Who needs sleep when you're around?
Quem precisa dormir quando você está por perto?
I'm dreaming...
Eu estou sonhando...

   e se aproximaram de e os três começaram a imitar , enquanto tocava com vontade no seu canto. Inconscientemente eu pressionei meus lábios um no outro, estudando dos pés a cabeça, rindo das caras e bocas que ele fazia. As meninas ao meu lado começaram a bater palminhas e se arriscarem na música, mas eu só conseguia manter meus olhos em cima dele.

Have you ever questioned love?
Você já se questionou sobre o amor?
For all the times you've been there
Por todo o tempo que você esteve aqui
I've not got time for up and down and around and around
Eu não tenho tempo para ir para cima e para baixo e por aí e por aí
Don't pretend you don't care
Não finja que não se importa

   chacoalhou o corpo de uma forma engraçada, sorrindo abertamente pra mim, me fazendo sorrir. Dessa vez ele não desviou seus olhos dos meus, me olhando com tanta intensidade que por um momento olhei para trás para ter certeza que não estava enganada.

Do you ever daydream? I do
Você já sonhou acordado? Eu já
I wanna share it with you
Eu quero compartilhar com você.
Can I have a daydream with you?
Posso sonhar acordado com você?
Who needs sleep when you're around?
Quem precisar dormir quando você está por perto?
I'm dreaming... Dreaming
Eu estou sonhando? Sonhando...

   disse alguma coisa no meu ouvido, eu fingi ouvir e assenti, abanando as mãos para que ela me deixasse em paz. Simplesmente não conseguia tirar os olhos dos cinco a minha frente.

Do you ever daydream? I do
Você já sonhou acordado? Eu já
I wanna share it with you
Eu quero compartilhar com você
Can I have a daydream with you?
Posso sonhar acordado com você?

  Um pouco antes de a música terminar, voltei sozinha ao bar e pedi uma caipirinha, já que as minhas acompanhantes já não se encontravam comigo. fez mais alguns agradecimentos e todos se dispersaram. O observei conversar com dois homens corpulentos de meia idade, até ser descoberta por ele. Engasguei-me com a bebida e virei o rosto, envergonhada, não me atrevendo a olhar pra direção dele novamente.
  - E aí, o que achou? - sua voz adentrou os meus ouvidos tão de repente, que olhei para o lado muito rápido, tomando um pequeno susto com rosto próximo do meu.
  - É, até que vocês não tocam tão mal... - desdenhei falsamente. Ele me olhou perplexo e não aguentei a risada. - Eu tô brincando! É claro que eu gostei! - acrescentei sem a intenção de querer puxar o saco, o vendo sorrir largamente como uma criança. O meu ponto fraco sempre fora sorrisos e o dele sem dúvida era um dos mais lindos que eu já tinha visto. Iluminado, sincero e inocente. Se ele sorrisse daquele jeito mais uma vez, eu iria precisar de um babador.
  - Então acho que você vai comprar nosso próximo CD, né?
  - É claro! E ainda vou divulgar, pode deixar!
  Ele olhou para o caminho que o meu copo fez até minha boca, e lambeu o lábio inferior, ainda sustentando aquele sorrisinho. Deus, eu quase tive um treco nessa hora!
  - O que você tá bebendo?
  - Caipirinha. É uma bebida tipicamente brasileira. Se você gosta de bebida forte, vai gostar.
  Ele chamou o garçom e pediu caipirinha também. Quando vi, já tínhamos bebido umas três rodadas enquanto conversávamos. Nossos assuntos iam dos mais banais aos mais sérios. Entramos em uma séria competição de qual seriado era melhor: Two and a Half Men ou The Big Bang Theory. É claro que The Big Bang Theory ganhou com os meus ótimos argumentos sobre como o Sheldon é muito mais engraçado do que o Charlie. Veja bem, não que eu realmente ache isso, eu adoro as duas séries, mas eu não deixaria que ele tivesse razão.
   pediu que eu lhe ensinasse algumas palavras em português. Falei os básicos, menos o ?eu te amo?. Ele demorou um pouco a pegar a pronuncia correta, mas quando conseguiu, ficou dizendo para o garçom ?obrigado? sempre que nossos copos eram cheios. Era cômico!
  - Vamos para a varanda? - sugeri quando sua mão, indiscreta, ficou na minha coxa. Minha cabeça rodou um pouco, já sofrendo dos efeitos do álcool. - Vou parar de beber por hoje ou então não vou conseguir acordar cedo amanhã.
  - Eu ainda não sei como é a cidade à noite... - delicadamente, pegou a minha mão, entrelaçando nossos dedos e se levantou. - Vamos dar uma volta na rua...
  Hesitei por alguns segundos, avaliando qual era sua intenção. O que eu tinha a perder? Eu estava solteira, ele também - pelo menos até onde eu sabia - e não fazia a ideia de quando nos veríamos novamente, se é que havia alguma possibilidade de um dia isso acontecer. Pela primeira vez em toda a história da humanidade, o diabinho e o anjinho entraram em um consenso dizendo: Anda , o que você está esperando? Vá logo com ele!
  - Vamos sim - sorri em consentimento, tomando o conteúdo todo do meu copo de uma vez.
  Peguei minha bolsa no guarda-volumes, só tendo tempo de jogar algumas palavras para porque um , muito impaciente, ficou me puxando pela cintura até o elevador.
  Pedimos um táxi, já que eu não estava em condições de dirigir e meu acompanhante não conhecia a cidade. colocou o braço ao redor do meu pescoço quando nos acomodamos no assento, trazendo o meu rosto para mais perto do seu, passando seu nariz pela minha bochecha vagarosamente, beijando o canto da minha boca.
  Vi pelo espelho retrovisor o taxista nos observando muito curioso pro meu gosto e quando viu que eu também o estava olhando, voltou sua atenção para a rua já com as devidas instruções sobre o nosso destino.
  - Não faz isso... - disse somente para ouvir, baixando os olhos para sua boca, me controlando para não atacá-lo ali mesmo. Além de lindo, o cara era super cheiroso, algo como alecrim e sálvia, bem marcante e ao mesmo tempo envolvente, fazendo meus hormônios - que desde a adolescência não ficavam dessa maneira - borbulharem. Sua mão brincava com a barra do meu vestido, quase por dentro dele. - Não aqui.
  - Você é uma garota que não gosta de público, né? - ele questionou risonho, deslizando a mão para a parte interna da minha perna, me provocando. Engoli em seco, com medo de fazer algum barulho impróprio. - Gostei disso.
  - E você é um safado! - o repreendi, vacilando no meu tom sério, afastando um pouco sua mão da minha roupa, colocando-a no meu joelho.
  Ele riu e me deu um beijo na bochecha.
  - Vou me comportar... Por enquanto.
  Mal sabia que eu queria era que ele não se comportasse.
  Fomos o resto do caminho em silêncio, e nem mesmo depois de ter pedido, parou com a sua mão boba. De vez ou outra eu ficava de olho no taxista e quando ele não estava prestando atenção em nós, deixava que se arriscasse na minha coxa. Ele a apertava animado, me deixando extremamente excitada e logo depois eu mudava de opinião, tirando sua mão. Ele morria de rir com isso e em certo momento ele soprou no meu ouvido ?Você é bem indecisa, hein??.
  Depois desse momento torturante, chegamos ao Arpoador, considerada minha praia favorita desde pequena. E aí vai um segredinho que fica entre nós: Gostei mais ainda por ela estar vazia. De todas as praias do Rio, ela era a mais calma, o mar mais lindo e com certeza a paisagem mais perfeita com as pedras e o Cristo Redentor de longe. Era um tipo de paraíso, que até poderia ser público, mas em certas ocasiões, como essa, considerava apenas meu.
  Saltamos e antes de liberarmos o taxista, eu e entramos em nossa primeira briguinha porque ele queria pagar toda a corrida - que não era nada barata - e eu achava que deveríamos rachar. Me chame de feminista, não tô nem aí. Eu gostava de ser independente, trabalhava pra isso. Nada mais justo do que pagar - ao menos pela metade - algo que eu usufrui, certo? Bem, não para . Ele era aquele típico inglês tradicional (e cabeça dura, que fique bem registrado isso!). Com uma lábia muito boa, o safado acabou me ganhando com o papo de que era nosso primeiro encontro e o taxista acabou ficando com 75 dólares.
  O tempo estava ótimo, não estava frio - porque simplesmente quase não faz frio no Rio - se tratando da brisa que vinha fresca por causa do mar. Algumas estrelas cintilavam no breu do céu, acompanhando a Lua Nova que dava o toque gran finale. tinha uma teoria de que a Lua Nova significa um novo começo e a Lua Cheia era o ápice de algo; um relacionamento, uma ideia, um momento. Nem sei direito explicar porque acabei pensado nisso já que sempre fui descrente desses assuntos.
  - Aqui é tão calmo - observou deslumbrado, enquanto andávamos na areia com nossos sapatos em mãos em direção a um restaurante antigo perto das pedras. O único barulho que escutávamos era o mar quebrando nas rochas ou mesmo na areia. - Deve ser um lugar ótimo para pensar.
  - Na minha adolescência, eu descia e vinha pra cá. Ficava horas... - revelei sem nenhuma cerimônia. Poucas pessoas sabiam disso. Aquele lugar fora meu esconderijo por muitas vezes.
  - Você morava por aqui?
  - Sim, naquele prédio ali - mostrei um prédio de cinco andares com uma varanda extensa para cada apartamento, com a aparência mais antiga do que os outros ao redor. - Morei até os 17 anos. Depois meus pais resolveram voltar para o Sul. e eu voltamos quando nos formamos. Não que o Sul não seja bom, mas eu cresci no Rio, senti muita falta daqui.
  Subimos uma escadinha com três degraus, nos levando para um deck coberto com cercado do restaurante, com pilastras de madeira que iam do teto ao chão, já na parte rasa da água. Dava a falsa impressão de estar sobre o mar.
  Deixamos nossos sapatos num canto e chegamos mais perto do cercado. Encostei-me numa das pilastras e se pôs ao meu lado, olhando o horizonte.
  - Não temos paisagens como essa em Helmsley - ele olhou me pela primeira vez de uma forma séria. Não dura, não severa. Era mais chegada para o misterioso do que para qualquer outra coisa. - Obrigado por me trazer aqui. - disse o ?obrigado? em português.
  Balancei a cabeça em confirmação, correspondendo à mesma forma como era fitada.
  Ele virou de frente pra mim, ainda sério, e passou sua mão gelada pela minha bochecha, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Um arrepio correu pela minha espinha e não contive um sorriso fechado, que logo foi correspondido da mesma forma.
  - Agora estamos a sós... - disse baixinho, se aproximando. Eu me encostei mais contra a pilastra, ficando na ponta dos pés quando suas mãos foram delicadamente para a minha cintura, me puxando. Me senti como uma garotinha prestes a dar o primeiro beijo por não saber o que responder. , cada vez mais, foi aproximando o rosto, e cada vez mais, eu desejava uma menor distância entre nós. Nossas bocas estavam a centímetros de distância quando ele soprou - E não vou deixar ninguém nos atrapalhar. - e me beijou.
  Primeiro nossas bocas apenas se tocaram inocentes, descobrindo a textura uma da outra. A dele era maravilhosa e macia. Nossos lábios se movimentam até se encaixarem perfeitamente para que pudéssemos desfrutar um do outro. O envolvi pelo pescoço, ele me prensou contra a madeira, não tão delicado como antes. Tremi ao sentir sua língua áspera e quente chocando-se contra a minha, sentindo uma sensação de quentura vindo do baixo ventre. O beijo foi deixando de ser delicado, transformando-se em voraz em frações de segundos. Com a intenção de devorá-lo por inteiro, segurei os cabelos da sua nuca possessivamente, ouvindo um barulho que julguei ser de satisfação vindo abafado da garganta dele. Meu lábio inferior foi mordido e puxado com entusiasmo, abri os olhos vendo um brilho de pura luxúria nos dele antes do meu pescoço ser o centro da sua atenção. Arfei incontáveis vezes com seus beijos distribuídos na região, tendo minha pele mordiscada e puxada, e minha bunda, que foi apertada com vigor, fazendo minha região sensível latejar como nunca, de desejo. Impaciente com tantas provocações, arranhei a lateral do seu corpo por debaixo da blusa, o arrepiando, tendo a ajuda de para tirá-la. Com uma peça a menos, voltamos a nos devorar e eu tive maior liberdade de acariciar e arranhar sua barriga definida.
  - Posso? - suas mãos passeavam pelas minhas coxas, subindo para levantar meu vestido.
  - Po-pode - tentei soar firme, acabando por falhar miseravelmente.
  Ele deixou que o meu vestido mostrasse apenas a minha calcinha, me virando de costas para o mar, me sentando sobre uma parte do cercadinho. A posição era incômoda por não ter muito apoio, mas não reclamei, me agarrando mais a ele, sendo segurada fortemente pela nuca, deixando que abrisse minhas pernas e se encaixasse entre elas, me beijando com voracidade. Quase tombei para trás ao sentir sua excitação volumosa contra o meu sexo, desafivelando e descendo o zíper da sua calça, sem nenhuma dificuldade. Acariciei seu membro rígido e quente por fora da boxe, o sentido latejar. pegou alguns fios do meu cabelo, manuseando minha cabeça para o lado com rapidez, atacando novamente meu pescoço ao mesmo tempo em que a outra mão desamarrava a alcinha do meu vestido, deixando que um dos meus seios ficasse a mostra e fosse envolvido. Projetei meu tronco para frente, sua língua foi empurrada contra a minha com violência, e meu mamilo eriçado foi beliscado, com a linha tênue entre o tesão e a dor. Eu estava a ponto de bala e explodiria a qualquer momento. Por alguns minutos fiquei apenas apreciando seu toque bruto e preciso, até recuperar a consciência, descendo sua cueca branca o suficiente, fazendo o gemer quando meu dedão tocou sua glande suavemente, tendo a resposta que eu queria dos dois - dele e do seu membro. Ele soltou algo como um suspiro mesclado com gemido no meu ouvido ao que comecei a masturbá-lo vagarosamente, com a melhor das intenções de torturá-lo assim como ele havia feito comigo no carro, aumentando o ritmo conforme os beliscões no meu mamilo ficavam mais fortes. Quando eu diminuía os movimentos, ele fazia o mesmo no meu seio, e então eu voltava com eficácia, indo ao delírio com seus grunhidos.
  - , para... - pediu entre os dentes com a respiração descompassada, massageando meus seios com vontade depois da outra alça ser desamarrada. - Por favor...
  Obedeci, parando de masturbá-lo a contragosto e no mesmo instante ele colocou minha calcinha pro lado, estimulando o meu clitóris com intensidade. Minha cintura criou vida própria, movendo-se contra seus dedos ágeis e compridos. Lamuriei apertando seus braços musculosos para não cair por causa da minha empolgação. Ele ia com mais intensidade a cada minuto, arfando contra o meu rosto.
  - ... - choraminguei, e não foi preciso mais do que isso para que ele entendesse que eu estava quase chegando ao ápice.
  Antes que eu pudesse pensar no que viria a seguir, ele deslizou seu membro impetuosamente para dentro de mim de uma vez só. Sobressaltei e meu grito de prazer foi sufocado pela sua boca, automaticamente o envolvi com minhas pernas, sendo penetrada profundamente. O abracei pelo pescoço procurando mais contato, ao senti-lo começar a se movimentar, e gemi perto do seu ouvido. Mordi seu ombro sem me importar se deixaria marcas mais tarde, e pareceu também não ligar, ao contrário, ele me invadia com uma velocidade que me deixaria tremendo nas bases, caso estivesse de pé. Arqueei, gemendo insanamente, com minha coxa sendo apertada enquanto a outra mão de ficava nas minhas costas. As pontas dos nossos narizes se roçaram e sorriram um para o outro, nos fitando. Os movimentos de vai-e-vem iam ficando mais intensos, enlouquecedores e gostosos, nos dando a única alternativa pensável naquele momento: gemer, gemer e gemer.
  O suor escorria pelos nossos corpos, mas não nos fez recuar. Apertei a bunda de com vontade de rasgá-lo ao meio, sorrindo maliciosamente. Sem conseguir me aguentar, eu mesma comecei a me masturbar acompanhando as penetrações. ficou olhando para minhas mãos, hipnotizado, e me encarou, negando com a cabeça e me beijando ardentemente, substituindo minha mão pela sua, fazendo pressão no lugar certo. Eu queria gritar, mas ele não deixava que nossas bocas se desgrudassem nem por um centímetro. O ar foi faltando e mesmo assim continuei a corresponder ao beijo, bagunçando seu cabelo ainda mais, me contorcendo inquietamente por já começar a sentir o típico formigamento do orgasmo.
  E ele veio, me atingindo em cheio. Me debati nos braços de , com ele ainda estocando. Tudo girou muito rápido e nem tive tempo de me recompor, outro orgasmo veio. Com um tapa, fiz parar de me estimular, sentindo meu clitóris muito mais sensível do que ele geralmente ficava. Ao perceber o meu segundo orgasmo, ele também gozou, gozou muito, apertando minha cintura, derramando seu líquido viscoso dentro de mim.
  Extremamente cansada, não me movi, encostando a cabeça no ombro de enquanto ele dedilhava minhas costas, com o queixo no topo da minha cabeça.
  - Agora sim eu conheço a cidade à noite... - ele quebrou o silêncio, levantando a minha cabeça. Encarei seu rosto tão suado quanto o meu, me sentindo muito leve com suas íris encarando as minhas. - E ela é maravilhosa.
   estava me tratando com um tipo de carinho desnecessário na nossa situação. Era pra ser só uma transa casual. Outro cara no lugar dele se ajeitaria e jogaria uma desculpa para irmos. Logo ele iria embora e minha vida seguiria com a lembrança dessa noite. Uma das melhores da minha vida, sem dúvida.
  Se eu não estivesse tão exausta, transaria com ele de novo pra poder gravá-lo melhor.
  Uma parte de mim não queria que ele fosse embora. Não que eu estivesse apaixonada, mas sim, encantada.
  - Concordo - sorri sem nenhuma vontade, tocando em seu rosto.
  - Você vai com a amanhã por nosso show em São Paulo?
  - Não posso, tenho que terminar um projeto para apresentar essa semana.
  - Então eu não vou mais te ver? - perguntou sem ânimo. - É sério isso, ? Você não tá fugindo de mim, né?
  - Eu queria muito ir - afirmei. - Mas não posso.
  - Foi muito bom te conhecer - disse meloso, esfregando seus lábios nos meus.
  - Eu também acho. - agora sorri verdadeiramente, tendo a boca invadida novamente pela língua dele.
  Ficamos na praia quase até o amanhecer parecendo um casal. Infelizmente tivemos que pegar um taxi. O voo da banda sairia às oito horas e eu precisava descansar para passar o dia digitando. No carro e eu entramos em mais uma discussão boba de quem desceria primeiro, e dessa vez ganhei com o argumento de que o taxista poderia enrolá-lo e cobrar mais caro pela corrida. Tive que deixá-lo pagar mais uma vez, e o deixei em frente ao Sheraton Barra e fez questão de me beijar calorosamente. Ele me chamou para subir, mas recusei o pedido.
  Cheguei em casa morta. Tomei um banho, comi algumas bolachas com coca-cola e capotei na cama. Acordei lá pelo 12h30min, peguei meu celular em cima do criado-mudo lendo uma mensagem de número de no mesmo horário em que todos estariam embarcando:

  

  "Can I have a daydream with you?
  Até breve, !"

  Até breve, , respondi mentalmente.

FIM



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