CSWS

Escrito por Dana Rocha | Revisado por Mariana

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Prólogo

  As coisas eram bem simples no Tempe High School: havia as garotas populares, os garotos populares, os atletas, as líderes de torcida, os nerds e os ninguém.
  O grupo de John O'Callaghan ficava entre os ninguém e adicionava uma classe nova, totalmente rejeitada, os bagunceiros. "Bagunceiros" porque eles insistiam em não aceitar as regras da escola e, muito menos, a hierarquia imposta pelos estudantes. Eles gostavam de serem eles mesmos e isso fez com que ganhassem o apelido de Losers. "Ninguém" porque, apesar de chamar a atenção das garotas, rebeldes não eram bem vistos pelos filhos de famílias conservadoras que estudavam naquele colégio.
   e suas amigas se encaixavam no grupo de garotas populares. Não que elas fizessem o tipo fútil, mas elas sabiam chamar atenção de um jeito bom. Eram sempre as melhores em tudo e um exemplo para todos. Sem falar nos excelentes dotes que as mantinham como as mais desejadas da escola.
  A relação entre os dois grupos? Só o parentesco entre e um dos garotos. Mas as turmas raramente se encontravam, até porque, qualquer tipo de conversa com aqueles garotos seria algo como suicídio social e, no Ensino Médio, não há nada mais importante do que reputação.
  Ou pelo menos, era assim que elas costumavam pensar.

Capítulo I

  - O'Callaghan, mais uma bolinha e terei que te mandar para a diretoria. - O professor de química suspirou, entediado, sem nem ao menos tirar os olhos dos papeis que corrigia.
  - Claro, professor. Eu prometo que não faço de novo. - John sorriu, já com outra bolinha de papel na mão.
  - Idiota. - rolou os olhos. Todos os dias era a mesma coisa. Parecia que o garoto não conseguia viver sem chamar atenção.
  - Ele é amigo do seu primo. - riu mordendo a ponta do lápis.
  - Pois é, os dois são idiotas. - Elas riram no exato momento em que algo atingiu em cheio a nuca de .
  - Fodeu. - John desfez o sorriso assim que identificou seu alvo. era a última pessoa no mundo que alguém ousaria se meter. Mas John aguentaria qualquer castigo só para ver a carinha de emburrada que ela costumava dirigir para ele.
  O garoto assistiu em câmera lenta levantar-se de sua cadeira e virar-se para trás, procurando por ele com os olhos em chamas.
  - Diretoria, agora. - Ela disse em tom frio e John levantou-se de pronto, engolindo em seco. conseguia deixá-lo tenso como ninguém. Ela era do tipo de garota que tinha todos em suas mãos e fazia o que bem entendia. Ainda mais sendo a responsável pelas duas turmas do segundo ano.
  Por isso mesmo o professor nem ligou quando insistiu em sair com John da sala.
  - Meus pêsames. - Kennedy moveu os lábios, vendo o amigo se afastar com a garota.
  - , foi sem querer! - Ele caminhava atrás dela pelo corredor vazio daquele andar. Todos os outros alunos estavam em aula.
  - Tudo bem, diz isso pro diretor. Acho que ele vai adorar te ver de novo na sala dele.
  - A gente pode fazer algo mais interessante que isso. - John sorriu torto, apressando um pouco um passo para ficar na frente da garota.
  - Da licença. - Ela pediu, tentando não encará-lo nos olhos.
  - Não posso. - Deu um passo em sua direção e recuou outro. - Só daqui dá pra admirar essa carinha de quem quer me matar.
  - Você bebeu, O'Callaghan? - tentou esquivar-se de John, mas ele puxou-a pelo braço, fazendo com que suas mãos ficassem apoiadas no peito dele. Eles estavam muito perto e o cérebro de disparou o alarme. Tudo significava perigo perto daquele garoto incrivelmente lindo (não que ela fosse admitir isso algum dia).
  A garota sentiu a respiração de John ficar falha e seu coração acelerar conforme ele se aproximava, cada vez mais. Ela simplesmente estava hipnotizada por aquele par de olhos profundos e brilhantes para se mexer.
  Eles estavam quase grudados quando uma vez veio do final do corredor rompendo o silêncio mortal naquela área e fazendo com que os dois se separassem assustados.
  - Que o O'Callaghan gosta de matar aula eu já sabia, mas é novidade. - Anabelle caminhou até eles com aquele jeito irritante que tanto odiava e essa aproveitou para tentar compassar o ritmo de seus batimentos cardíacos.
  - Estávamos indo para a... - engoliu em seco. O que estivera a ponto de fazer?
  - Para a sala. - John completou puxando pelo braço, de volta à sala de aula. Não conseguia acreditar no que estivera prestes a acontecer. Ele quase beijara a garota mais difícil do colégio! Mas não era bem por isso que seu coração ainda não parara de pular em seu peito, e sim pelo fato da garota em questão ser .
  - Então tá. Até mais tarde, John. - Anabelle sorriu. John só acenou com a cabeça, irritado demais para ser educado.
  - Quer me soltar? Eu sei o caminho. - bufou, saindo em passos duros na frente do garoto. Ele não se importou, pois adorava vê-la andar.
  - Então eu escapei da diretoria? - Ele sorriu.
  - Tanto faz, a aula já vai acabar mesmo. – Ela mal acabara de dizer aquilo quando uma campainha irritante fez-se ouvir por toda a escola, e logo os corredores estavam preenchidos com dezenas de alunos.
  - Fala, John! Tá muito encrencado? - Garrett surgiu por trás do amigo, dando-lhe um tapa na cabeça.
  - Também, vai mexer logo com a . - Kennedy aparecer do outro lado.
  - Não, tá tudo bem. - John sorriu, observando junto com suas amigas, à alguns metros de distância.
  - Que ela são gostosas não dá pra negar. - Garrett mordeu o lábio, olhando para uma das garotas em particular.
  - Mas são encrenca na certa, cara. - Kennedy suspirou.
  - É, e uma dessas gostosas é minha prima. - Pat finalmente juntou-se aos amigos, acompanhado de Jared.
  - Elas não são pro nosso bico. - Jared fez uma careta e os outros riram.
  - Vocês são ridículos. - Um garoto com o uniforme do time de futebol da escola passou por eles, rindo com desprezo.
  - Ah, vai se ferrar, Robert! - Garrett gritou após o outro passar por ele. Algumas pessoas o olharam com cara de poucos amigos. Robert simplesmente o ignorou, continuando seu caminho.
  - Calma, cara, que mau humor todo é esse? - John riu distraído demais para se deixar irritar pelos trogloditas do time de futebol.
  - Não suporto esse cara. - Respondeu, assistindo Robert cumprimentar um grupinho especial de garotas e cerrou o punho – a ponto de machucar a si mesmo – quando o outro beijou a boca de uma das garotas.
  - Ahan, e não tem nada a ver com ciúmes isso daí não, né? - Jared riu, seguindo o olhar do amigo.
  - Como ela pode ficar com esse cara? Ele só usa as garotas. - Garrett tentava disfarçar a raiva, mas sentia-se falhando completamente.
  - Acho que a sabe se cuidar, parceiro. - Jared deu um tapa no ombro do amigo e foi juntar-se aos outros numa conversa animada sobre videogames.
   Todos eles sabiam que Garrett morria de raiva de qualquer um que se aproximasse de , mas não entendiam o porquê, já que os dois nunca trocaram mais do que uma palavra.
   Mas havia coisas que Garrett guardava para si próprio e era uma delas.
  - Quer parar de encarar? É falta de educação. - , a garota do grupo de que faltava, passou por Garrett rindo e este virou o rosto, sentindo-se enjoado.
  - Você podia usar uma saia menor, sabe? - Jared sorriu para a garota, que parou de andar para olhar para ele.
  - Vai ver se eu to lá na esquina. - A garota mostrou o dedo do meio para Jared, que não conseguiu se conter. Ela o tirava do sério e não de um jeito bom.
  - Com essa roupa, é bem provável. - a essa altura, todos no corredor já assistiam ao espetáculo. As amigas de se entreolharam. Aquilo não ia prestar.
  - O quê? - piscou tentando desembaralhar sua mente. Ele não podia falar daquela forma com ela, não podia.
   - ... - apontou para o centro da confusão e puxou as amigas para a seguirem.
   - Repete! - deu um passo na direção de Jared, que sentiu uma pontada. Eles estavam mais próximos do que há muito não ficavam. Os olhos dela estavam um misto de surpresa e raiva.
   - Hey, chega!- e John interferiram juntos quando deu um tapa no rosto de Jared, que segurou seu pulso com força. John sorriu para , que desviou o olhar, envergonhada.
  - Me solta, idiota!
   - Solta ela, Jared! - Garrett segurou o pulso de Jared, sentindo o olhar de sobre si. Jared respirou fundo e soltou a garota. Ele sempre conseguia fazer tudo errado.
   A garota foi para perto das amigas e tudo aconteceu muito rápido depois disso:
   - Loser idiota! - Robert tentou ir pra cima de Jared, mas Garrett colocou-se na frente. Finalmente uma desculpa para enfrentar Robert. A última coisa que ele ouviu antes de cair no chão, rolando com o outro foi um grito de .
  Garrett não era ruim de briga – graças ao seu irmão mais velho –, mas encarar um cara de quase dois metros e uns cem quilos era suicídio.
  Ele conseguiu socar a cabeça de Robert antes de sentir uma dor forte estômago e se retorcer, vomitando uma boa quantidade de sangue. Praticamente não sentiu quando os inspetores separaram os dois. A última coisa que ele conseguiu ver foi a expressão aterrorizada de ao olhar para ele, com as mãos tampando a boca.
  Os inspetores levaram os dois para longe do tumulto. Eles provavelmente iriam para a enfermaria e depois para a sala do diretor, pegar uma bela suspensão.
  - Meu Deus, o amigo de vocês... - estava histérica. Nunca vira tanto sangue na vida.
  - Tá tudo bem, ele é forte. - John sorriu fraco para a garota. Estava igualmente preocupado, mas não podia deixar a garota pior. Era até engraçado ver uma das garotas mais populares do colégio preocupada com um deles. o encarava tentando entender o porquê de ele estar sendo educado com sua amiga. Motivos para isso ele com certeza não tinha.
  - É claro que ele não está bem! Não viu o que o seu namorado fez com ele? - Jared explodiu. Ele sempre dizia que aquelas garotas eram encrenca, mas os outros teimavam em não acreditar.
   - Calma, cara, ela não tem culpa. - Pat tentou acalmar o amigo, enquanto pedia desculpas para as garotas com os olhos. sorriu para o primo, enquanto rolava os olhos e fitava o chão, corada. sorriu falsa, ainda tentando acalmar .
  - Não, vocês ainda não perceberam que ficar perto dessas garotas atrai desgraça?
  - Que eu saiba vocês quem são os encrenqueiros da escola. - bufou e os dois trocaram um olhar irritado.
  - Fica na sua, garota. - A encarou com desprezo.
  - Ok, ok. Vamos embora antes que comece de novo. - começou a puxar as amigas para longe do outro grupo.
  - , passo na sua casa mais tarde, ok? - Pat sorriu vendo a prima se afastar. Achava uma merda que eles não pudessem andar juntos como antes. Ensino Médio era uma merda.
  - Ah eu não suporto esses meninos! - foi batendo o pé no chão até alcançar o carro de .
  - Alguém dirige pra mim?- pediu balançando a chave no ar. A imagem de Garrett ensanguentado não saia de sua cabeça e isso a estava perturbando. Ela não tinha motivos para se preocupar tanto com um loser, afinal. Mas então por que não conseguia parar de tremer?
  - Eu dirijo. - pegou a chave da mão da amiga após dar uma olhada geral nas amigas: estava no mundo das fadas, tomando chá com a Tinker Bell, parecia ter visto o Nick-Quase-Sem-Cabeça, tinha um sorriso abobalhado no rosto e tremia de raiva. Ela parecia a única sã do grupo. - Ok, quem vai pro shopping comigo?
  - Eu!- e responderam juntas.
  - E vocês, jumentinhas?
  - Eu... Tenho que ficar em casa, o Pat vai lá.
  - Ah, claro. - rolou os olhos. Não conseguia entender como a amiga preferia passar a tarde com o primo idiota à ir ao shopping com as outras. - E você, ?
  - Posso ir pra sua casa, ?
  - Por quê? Quer ver meu primo? - riu. sentiu-se corar mais ninguém percebeu.
  - Não, é que eu não to a fim de shopping e nem de ficar sozinha em casa. - Sorriu tentando disfarçar o nervosismo.
  - Claro que pode. Sabe que minha casa é a casa de vocês também! - abraçou e que estavam ao seu lado no banco de trás.
   - Não fala isso que a gente aparece lá um dia desses com mala e tudo! - riu para as outras pelo espelho do carro.

  - ‘Bora ver como o Garrett está. - Pat puxou os amigos em direção ao prédio onde ficavam a enfermaria e a direção. Era ali onde eles ficavam a maior parte de seus dias letivos.
  - Do jeito que é bicha, deve estar chorando, coitadinho. - John riu, levando um tapa de Kennedy na cabeça.
  - Também, foi se meter com o líder dos macacões! - Pat parou na frente da enfermaria.
  Jared estava mudo desde que as garotas partiram.
  - E você tinha que encrencar com a , né? - Kennedy bateu no ombro de Jared, que só encarou-o com um olhar de poucos amigos. - Ih, falou o mau humor.
  - Querem alguma coisa? - A enfermeira abriu a porta, fazendo com que Pat, que estava apoiado nela, cambaleasse.
  - O Garrett tá ai? - John segurou Pat para que esse não caísse.
  - Não, ele já foi para a diretoria.- A mulher mediu os garotos. - Vocês não conseguem ficar um dia sem arranjar confusão?
  - Não. - Kennedy sorriu – É que nós gostamos de te ver. - Completou com seu melhor jeito galante e a mulher sorriu sem graça.
  - Valeu, vamos achar aquele gay. - Pat cutucou o amigo. - Dando em cima da enfermeira, Kennedy?
  - Qual é quem nunca teve fantasias com enfermeiras?
   - Se a enfermeira não atender pelo nome de , o John nunca teve. - Pat riu, preparando-se para fugir de John.
   - Olha ele ali! - John correu para ajudar o amigo grogue, ignorando a brincadeira de Pat.
   - E aí, caras? - Garrett forçou um sorriso. Sentia-se tonto e com um buraco no estômago.
   - E aí você, ô imbecil. - Pat bateu na cabeça do amigo, que reclamou com um gemido de dor.
   - É, seu retardado, dá próxima vez deixa o Jared apanhar sozinho. - Kennedy riu, recebendo um olhar feio de Jared.
   - O quê? - Garrett perguntou desorientado.
   - É, você apanhou no lugar do Jared lembra? - John ergueu uma sobrancelha
   - Ah, verdade. Me deve uma ein, Jared.
   - O que você pegou? - Jared olhou para o papel na mão do amigo.
   - Dois dias de folga! - Garrett sorriu. Já não se importava com suspensões há algum tempo, assim como seus amigos.
   - Você precisava ver como a ficou! - Kennedy comentou, não percebendo o impacto que aquilo causaria no outro.
   - É, parece que nunca viu ninguém apanhar antes. - Completou Pat.
   - Dá pra falar de algo que não seja essas garotas? - Jared bufou. Se ouvisse falar delas de novo naquele dia, colocaria pedras nos bolsos e se jogaria no mar.
   - Que dor de cotovelo, amigo. - Pat deu um soco nas costas do outro e saiu correndo, com Jared logo atrás. Kennedy seguiu os outros, para bater nos dois.
   - Como foi com a ? - Garrett perguntou para John.
   - Cara, nem fala.
   - Muito mau?
   - Nada, por um instante eu achei que nós iríamos nos beijar. - John sorriu distraído e Garrett levantou uma sobrancelha.
   - Sei, daí você caiu da cama e acordou.
   - Olha que eu te largo sozinho!
   - Nãã! Desculpa, eu acredito. Mas explica direito.
   - Aquela louca que vive atrás de mim apareceu e depois o sinal tocou.
   - Nossa, como você tem sorte na vida.
   - Qual é o papo? - Kennedy foi para o outro lado de John.
   - Como o John tava falando mais, só pode ser sobre...
   - A ! - Pat e Kennedy disseram juntos. Todos sabiam da paixão eterna que John sentia pela prima de Pat e adoravam zoá-lo por isso. Principalmente porque era obvio que nunca seria correspondido.
   - Tem como não gostar dela? - John forçou uma cara gay.
   - Tem, eu não gosto. - Jared disse sem humor.
   - Hey, é da minha prima que estamos falando!
   - Mas eu não consigo engolir ela e aquelas amiguinhas dela.
   - Tenta cortar elas em pedacinhos bem pequenininhos pra ver se ajuda. - Kennedy disse sério e os outros riram.
   - Vai tomar no...
   - Quem vai pra minha casa? - Kennedy interrompeu Jared, levando um soco no braço.
   - ‘Bora! Só que eu tenho que ir embora mais cedo porque vou ver a .
   - Não mata o John de inveja, Pat. - Kennedy entrou no carro antes que apanhasse de novo. Podiam dizer o que quisessem sobre eles, mas a verdade é que eles não se trocavam por nada. Sentiam-se felizes exatamente como eram.

Capítulo II

  - Você viu o novo pub que vai abrir no fim do mês?
  - Lógico! E nós vamos à inauguração, certo?
  - Claro né, ! - pulou sentada no sofá. As duas assistiam a um filme qualquer na TV para matar o tempo.
  - Acho que o Pat chegou. - sorriu ao ouvir o barulho da campainha, levantando-se para abrir a porta. ajeitou-se no sofá, sentindo-se nervosa.
  Por que tinha ido pra lá mesmo?
  - Patzinho lindo! - Ouviu dizer no hall. - Entra, a tá aqui também.
  - A ? - As vozes foram se aproximando. Pat estava curioso, o que uma das amigas patricinhas da prima estava fazendo ali, sabendo que ele iria passar a tarde com a prima?
  - Oi. - sorriu fraco tentando não transparecer o nervosismo.
  - Oi!- Pat sorriu de volta. Ele sempre era fofo com todos.
  - Ok... - começou, notando o desconforto de . - Que tal fazermos alguma coisa?
  - Claro. - Pat sorriu para as duas.
  - A gente pode continuar a ver o filme. - forçou um sorriso.
  - Que filme vocês estão vendo? - Pat sentou-se no sofá ao lado de . Era um movimento arriscado que nenhum dos outros “losers” tentaria, mas Pat parecia nem lembrar da barreira social entre eles.
  - Sorte no Amor. - sentou-se ao lado do primo, observando . Ela mau respirava em seu lugar.
  - Aquele com a Lindsay Lohan?- Ele levantou uma sobrancelha, olhando para a TV.
  - É, ela tá linda nesse filme, né?
  - E tem o McFly. - disse baixo, atraindo o olhar de Pat para si.
  - McFly? Você gosta? - Perguntou, achando engraçado conversar numa boa com a garota.
  - Quem não gosta? - Dessa vez sorriu de verdade, olhando para ele. Pat retribuiu o sorriso de um jeito meigo.
  - Eu não sei, prefiro uma coisa um pouco mais punk, sabe?
  - Tipo Nirvana? - entrou na conversa, adorando que houvesse uma. Estava imaginando uma coisa bem mais desconfortável.
  - É! E Ivory também.
  - São legais, mas ainda prefiro McFly. No McFly tem o Harry. - olhou sonhadora para a tela da TV.
  - Harry? Ele toca o quê?
  - Bateria. - As garotas responderam juntas.
  - Eu toco bateria também. - Pat sorriu e encarou-o curiosa.
  - Sério?
  - É sério! Por que, eu não tenho cara de baterista? - Ele riu, fingindo indignação.
  - E nem físico, né? Vamos combinar que bateristas costumam ter uns músculos! - riu e Pat deu a língua.
  - Toca mesmo? - perguntou.
  - Sim! - Ele cobriu o rosto com uma almofada.
  - A tem uma queda por bateristas, sabe? - comentou, deixando a amiga e Pat com os rostos vermelhos.
  - Vou atender meu celular!- deu um pulo do sofá, agradecida pelo aparelho ter tocado bem naquela hora.
  - Tá tudo bem? - perguntou quando a amiga voltou à sala.
  - Tudo. Minha mãe só pediu pra eu voltar pra casa.
  - Ah, estava divertido. - Pat fez biquinho e sorriu, sentindo-se corar. Como ele podia ser tão fofo? - Eu não sabia que a minha prima tinha alguma amiga legal.
  - Há, há, idiota. - deu um tapa no braço do primo.
  - Obrigada, eu acho. - Ela fez careta. - Até depois então.
  - Tchau!
  - Depois te ligo amor. - acompanhou a amiga até a porta e voltou depois de alguns instantes.
  Até que fora mesmo divertido. Talvez as coisas pudessem ser melhores do que foram no 1º ano.
  - Sua amiga parece ser legal. - Pat puxou a prima para sentar-se com ele o sofá.
  - A é um doce. E ela nem levantou quando você sentou!
  - Se fosse a nem me deixava entrar.
  - Pois é! - Eles riram juntos imaginando a cena.
  - , quer ir pro estacionamento mais tarde? Vou encontrar os meninos lá. - O garoto perguntou mordendo o lábio. Sabia que a prima não gostava de ser vista com seus amigos.
  - Ok, vamos. - sorriu, surpreendendo o primo.
  - Sério? Beleza!
   Eles ficaram jogando conversa fora por horas. Os dois sempre foram extremamente ligados, mas o Ensino Médio e todas essas baboseiras acabaram os separando. Eles odiavam aquilo, mas de certa forma, já estavam acostumados.

  - Ah, cadê aquela bicha do Pat? - John resmungou, apoiando-se no muro.
  Os garotos estavam no lugar preferido deles no mundo: o estacionamento de uma lanchonete local, a 8123. Eles passavam boa parte de seu tempo ali.
  - Gente, ouviram falar do pub novo? Me disseram que o dono quer colocar música ao vivo. - Kennedy disse distraído, olhando para um grupo de garotas no interior da lanchonete. Elas olharam de volta e começaram a cochichar entre si. Kennedy sorriu para elas.
  - Música ao vivo? Tem alguém que canta nessa cidade? - Jared perguntou rindo.
  - Eu canto. - Kennedy fez cara séria. - No chuveiro. - John deu um tapa em sua cabeça. - Aí! Sério, a gente podia montar uma banda.
  - Banda? Quantas você bebeu? - Jared riu.
  - Não, sério. Eu sei cantar, to ligado que o John tem uma voz legal também e eu toco guitarra.
  - Eu tenho um baixo e meu irmão me ensinou a tocar. - Garrett disse não muito interessado.
  - Bendito seja o Trey! - Kennedy riu. - Viu, temos um guitarrista, o John de vocalista e um baixista.
  - Eu também toco guitarra. Mas eu não vou tocar as porcarias que esse povo gosta de escutar.
  - Tipo pop e black? - Kennedy imitou gestos de rappers e os outros riram.
  - I wanna love you, you already know, I wanna love yooou... You already know! - John cantou, fazendo os outros rirem mais ainda.
  - And you know my pedigree, used to move phetamines – Kennedy continuou, entrando na onda.
  - And I'm loving the way you shake your ass! - John fez cara de tarado.
  - Vocês cantam agora? - Uma das garotas do grupo que Kennedy observava parou na frente deles.
  - É... Oi? - Jared ergueu uma sobrancelha, sem entender porque a garota fora falar com eles.
  - Oi Monaco. - Ela sorriu. - Oi Garrett.
  - Oi. - Garrett deu um passo para trás no momento em que ela deu um passo para frente. Conhecia-a por ser do “grupo das dadas”, assim como Anabelle. Os cinco sempre caçoavam delas.
  - Mary! Você nem esperou a gente! - Anabelle chegou junto com outras duas garotas. - Oi John. Oi meninos. - John só fez um movimento com a cabeça, ainda sem querer falar com ela.
  - Você devia me agradecer. - Ela disse mexendo na gola da camisa do garoto. Ele tentou recuar, mas já estava colado no muro. - Eu te salvei da .
  - É, obrigado. - Ele rolou os olhos, afastando a garota de si. Mas, como a garota em questão era Anabelle, ela voltou a se aproximar.
  - Só isso? - Voltou a brincar com a camisa dele.
  - E aí, gente? - Pat chegou ao lado de . Todos olharam para os dois com um ponto de interrogação na testa. John olhou apreensivo para , que desviou o olhar.
  O que Anabelle fazia tão perto dele? Não sabia que eles tinham aquela afinidade.
  - ? Não sabia que você andava com eles. - Outra das garotas riu debochada.
  - Isso não é da sua conta. - rolou os olhos. Odiava aquelas garotas.
  - Ih, já vi que a princesa não quer nossa companhia. - Anabelle deu um “sorriso bitch”, como gostava de dizer.
  - É, viu certo. - Retribuiu o gesto, recebendo um cutucão de Pat, que apesar de tudo, ria descaradamente.
  - Vamos, meninas. Tchau, garotos. Tchau, John. - Anabelle despediu-se com uma voz enjoada, apoiando-se nos ombros de John para lhe dar um beijo que ficou no canto da boca dele. - Tchau, ... - Ela riu, antes de voltar rebolando ao interior da lanchonete. John estava sem ação, olhando assustado para , que não olhava de volta.
  - Você precisava ter mandado elas embora? - Kennedy fez bico - A ruivinha tava me dando bola.
  - Eu não as suporto. - deu a língua.
  - Por que você veio mesmo? - Jared perguntou grosso, recebendo um olhar de reprovação de Pat.
  - Eu a chamei.
  - E ela quis vir? Achei que o seu grupinho não se misturasse.
  - Eu to aqui, não to? - Todos riram e Jared fechou a cara. - Tá melhor, Nickelsen?
  - Ahn? - Garrett assustou-se – To sim, obrigado.
  - Como se você se importasse.
  - Jared, dá pra parar de ser chato? Tá de TPM cara?
  - Obrigada, O'Callaghan, mas eu sei me defender sozinha. - Ela disse grossa, recebendo um olhar estranho de John em troca. Estava com raiva pela ceninha que presenciara à pouco, e nem ao menos conseguia entender o porquê. - Pat, vou pra casa. Foi idiotice ter vindo de qualquer jeito.
  - Tem certeza?
  - Ahan. Pode deixar que eu vou sozinha. Fica com seus amigos.
  - Não, eu te levo.
  - Fica! - Ela levantou a voz. Queria sair logo dali e ficar sozinha para refletir. Desde quando John O'Callaghan mexia tanto com ela?
  - Ok, então até amanhã. - Pat beijou a prima na testa e suspirou enquanto ela ia embora, só murmurando um tchau para os outros.
  - Ela me odeia. - John suspirou também e Kennedy bateu em seu ombro.
  - Eu sei.
  - Vai se foder, Kennedy!
  - Vem fazer. - Ele fez uma voz de gay e saiu correndo com John logo atrás.
  - Vou pegar bebidas. - Jared disse, indo em direção à lanchonete. Eles eram menores de idade e legalmente não podiam beber, mas o dono do lugar já os conhecia de longa data e sempre vendia cerveja para eles por baixo dos panos.
  - Vou pra casa. - Garrett disse à Pat, que encarou-o confuso.
  - Não to muito bem e ainda tenho que contar pros meus pais que eu tomei outra suspensão.
  - Ih, então até amanhã, cara. Vai pro Kennedy né?
  - Claro. Fala pros caras que eles são minhas putas preferidas.
  - Pode deixar.
  Garrett caminhou em silêncio pelas ruas escuras da cidade. Felizmente a lanchonete não ficava longe de sua casa.
  Ele já estava dobrando a esquina de sua rua quando avistou duas pessoas na entrada da casa vizinha à sua. Respirou fundo e começou a chutar pedrinhas na calçada, com a cabeça baixa.
  - Olha quem vem lá, o maior fracote da escola! - Robert gritou, fazendo eco na rua vazia.
  - Cala boca, Robert!- Garrett ouviu a voz de e deu um meio sorrio. Adorava a voz dela.
  - Tadinho dele, nem sabe se defender sozinho. To falando com você, otário! - Garrett fingia que não ouvia, deixando o outro irritado.
  - Oi? É comigo? - Fez-se de desentendido e disfarçou o riso mordendo o lábio. Garrett percebeu e sorriu também.
  - Quer apanhar de novo, mané?
  - Robert, vai embora.
  - Tá me expulsando, é? Por causa desse aí? - Robert parecia surpreso pela atitude da garota.
  - To, cai fora daqui. - Garrett riu e Robert bufou irritado.
  - Depois não vem implorar pra sair comigo.
  - Nem morta. - empurrou Robert para o seu carro. - Tchau. - disse rápido, fechando a porta do mesmo na cara do garoto.
  - Vai se arrepender! - Ele gritou de dentro do carro, dando partida com tudo e saindo cantando pneu pela rua.
  - Ufa. - soltou o ar, aliviada por ter conseguido mandar Robert embora sem maiores problemas.
  - Oi, . - Garrett sorriu para a garota. Vê-la tratar Robert daquela forma fez todo o seu dia valer a pena.
  - Oi. - Ela olhou para o garoto dos pés à cabeça, talvez procurando algum vestígio da luta de mais cedo. - Você tá melhor?
  - Ahan. - Sorriu. - To até mais leve sem todo aquele sangue.
  - Ai meu Deus! - Ela rolou os olhos, mordendo o lábio para não rir. - Da próxima vez não tenta bater num cara que é quase o dobro de você.
  - Hey, tava ajudando meu amigo!
  - Mas o Monaco bem que merecia apanhar. - Ela disse e Garrett protestou. - Que foi, ele insultou a minha amiga!
  - É, ele é meio estúpido às vezes.
  - Às vezes? Ele nos odeia. - Garrett riu.
  - Bom, isso é verdade.
  - Cala a boca, Nickelsen! - Ela riu, dando um empurrão no peito do garoto, que fez uma careta de dor.
  - Aí...
  - Ai meu Deus, o que foi? - Ela fez uma cara de preocupada que Garrett achou extremamente fofa.
  - É só que eu to meio dolorido, sabe? - Ele tentava não sorrir pela reação de .
  - Ah, me desculpa, eu não sabia... - encostou com delicadeza no lugar onde atingira o garoto, como se aquilo pudesse aliviar a dor. - Sério, desculpa.
  - Tudo bem, já passou. - Garrett colocou suas mãos sobre as da garota em seu peito, que tremeu levemente com o contato. Garrett sentiu seu coração aumentar o ritmo e torceu para que a garota não sentisse, o que era inútil, graças ao local onde suas mãos estavam.
  Eles ficaram se encarando em silêncio por algum tempo, atentos a todos os pequenos movimentos que o outro fazia, até que conseguiu recuperar a consciência; aquilo era loucura.
  - Garrett... - Chamou com a voz baixa. O garoto piscou com força, gostando de ouvi-la chamá-lo pelo primeiro nome.
  - ? - sorriu.
  - Eu... Tenho que entrar. - Ela afastou suas mãos do corpo do garoto com cuidado para não machucá-lo novamente. - Boa noite.
  - Tchau. - Ele respondeu, vendo-a abrir a porta de casa sem olhar pra trás. Por que ele não fez nada para impedi-la de partir? - Merda, perdeu sua chance, mané. - Xingou-se baixo, mesmo que tivesse um sorriso em seu rosto.
   entrou em sua casa e apoiou-se na porta, com os olhos fechados com força. Desde quando um dos losers podia ser tão desejável? O que fora aquilo afinal?
  Garrett ficou parado onde estava por mais algum tempo, com um sorriso bobo no rosto. Suas mãos ainda formigavam graças ao toque de . Era ridículo ele ainda não ter conseguido esquecê-la, mesmo depois de todo aquele tempo sem nenhum contato. O que ela tinha de tão especial assim?
  Ele sorriu.
  - Tudo. - Caminhou lentamente até sua casa; fora de longe a suspensão que mais valera à pena desde que entrara no Ensino Médio.

Capítulo III

- Que tal assim? - John pegou o violão ao seu lado e dedilhou algumas notas. - You're moving close, my pulse is racing we're getting close, yeah I can taste it...
   - Isso aí é pra, ? - Pat fez careta, rindo.
   - Foi só no que eu consegui pensar desde ontem. - Riu de volta.
   - Tá, tem mais? - Garrett ajeitou-se na almofada, esperando o resto da música. Até que a idéia de formar uma banda não lhe parecia mais tão absurda.
   - O começo eu pensei que poderia ser assim: You count'em one two three, you look so cute when you get that mad.
   - O John gosta de sofrer. - Kennedy riu, abrindo uma latinha de cerveja. Essa era uma das vantagens de morar sozinho: poder beber quando bem quisesse.
   - Que masoquista. - Jared riu também.
   - Já repararam como a fica fofa com aquela carinha de eu vou te matar?
   - Cala boca, sua bicha! - Pat jogou uma almofada no amigo. Achava engraçado quando John começava a falar da prima daquele jeito bobo.
   - Depois disso podia ser you drain life from me and and it feels so good. - Garrett opinou, pensando em . O encontro da noite anterior ainda estava fresco em sua memória.
   - Põe um oh no meio disso, pra completar a boiolice masoquista de vocês. - Toca pra mim, John. - You drain life from me, and it feels oh so good... - Ele gemeu no final, fazendo os outros rirem.
   - Kennedy e seus gemidos. - John deixou o violão de lado. Apesar da brincadeira do amigo, estava gostando de por aonde ia a sua música.
   - Como foi na escola sem mim?
   - Maior paraíso. - Garrett jogou uma almofada em Jared.
   - Deixa você me ligar de madrugada chorando de saudades pra ver como vou te tratar. - Garrett fez bico.
   - Awn, tadinho! Não chora amor. - John abraçou o amigo e todos riram.
   - Saí pra lá, cara! Não é a toa que a não te quer.
   - Ih, você não pode falar nada ein, que seu caso com a também não tá com nada. - Pat pegou a cerveja de Kennedy, sem que o amigo percebesse.
   - É, vocês são dois idiotas. Eu, o Pat e Jared que somos felizes. - Kennedy colocou os braços ao redor dos outros dois. Jared fez uma careta, que não foi percebida pelos outros, ao lembrar-se de .
   Não, ela era passado. Todas as coisas que estavam acontecendo ultimamente só serviam para lembrá-lo disso. Ele tinha que tirá-la da cabeça de uma vez por todas.
   - Verdade, como foi com a ontem? - John lembrou-se de um comentário sobre isso na noite anterior.
   - Nada mal, na verdade. Ela é simpática.
   - Perdi mais um! - Kennedy deu a língua. Pat sentiu-se corar um pouco. Ele tinha gostado da garota, mas achava loucura ser como seus amigos, que ficavam sofrendo por garotas que nem sequer ligavam para suas existências. - Só nós dois agora, Jary.
   - É... - O outro concordou sorrindo fraco. Nunca contara nada sobre para seus amigos antes e não contaria agora.

- Alguém sabe por quantos dias o Nickelsen vai ficar suspenso? - deixou a pergunta que martelara na sua cabeça a manhã inteira escapar.
   - Não sei não, mas por mim podia ter sido expulso logo.
   - Para, ! - reclamou, recebendo olhares questionadores das amigas. - É... É que se o Nickelsen tivesse sido expulso, o Robert também seria. - Improvisou, torcendo para eles acreditarem. A verdade era que achava o garoto até que simpático, apesar de ser um loser.
   - É mesmo. Mas o Robert levou suspensão também? Por que ele foi pra escola hoje, né? - perguntou curiosa. - Você mal falou com ele.
   - Suspenso por dois dias, mas ele só vai cumpri-la depois que o campeonato terminar.
   - Os treinos são mais importantes do que as regras da escola? Onde nós vamos parar? - perguntou indignada.
   - Pra você ver. - riu. - Vou entrar pra alguma equipe também.
   - É... - concordou, encarando seriamente a outra. Não ficara completamente convencida sobre a preocupação da amiga à respeito de Garrett.
   Conhecia o poder que aqueles garotos podiam ter com seus sorrisos debochados e olhares profundos.
   - Quem quer sair? To me sentindo claustrofóbica aqui! - jogou-se sobre as amigas no sofá.
   - Ai! Sai de cima, coisa! - começou a empurrá-la, logo recebendo ajuda das outras. caiu no chão rindo e puxando com ela, que se segurou em , até que as cinco estivessem amontoadas no chão.

- A e o Robert estavam juntos hoje? - Garrett perguntou distraído, atraindo a atenção dos amigos.
   - Eu não vi, por quê?
   - Eles brigaram? - Kennedy aproximou-se, afinando a voz para imitar uma garota pronta para ouvir fofoca. Garrett riu.
   - Eles meio que brigaram ontem a noite, quando eu estava voltando pra casa.
   - Como meio que brigaram? - Jared arqueou a sobrancelha.
   - Ela o mandou embora, ele ficou irritado e saiu cantando pneu pela rua.
   - Você viu? Ele deve ter ficado muito puto! - John interessou-se pela conversa.
   - Bom, foi por minha causa que ela fez aquilo, então, sim, ele ficou bem puto.
   - Garrett! E você escondendo o jogo dos seus melhores amigos! - Kennedy disse ainda com uma voz afetada.
   - Você tá com essa bola toda, cara? - John levantou a sobrancelha, rindo.
   - Vai se foder, to falando que sim.
   - Nickelsen anda sonhando muito. - Jared levantou-se para buscar mais cerveja. Por que as conversas deles sempre tinham que ser sobre aquelas garotas?
   - Se o John quase beijou a , por que a não pode ter brigado com o Robert por minha causa?
   - Como assim o John quase beijou a ? - Pat praticamente pulou do sofá e John engoliu em seco.
   - Valeu, Garrett! - Mostrou o dedo do meio para o outro e começou a contar toda a história para Pat e Kennedy.
   - Não dá! - Kennedy abriu os braços e suspirou. - Quem mais acha que o mundo tá de ressaca vem comigo comprar pizza.
   - Eu vou! - Pat levantou-se e correu até a porta de entrada, seguido por Kennedy. - Jared?
   - Não quero pegar chuva. - Ele respondeu entediado, achando todos seus amigos loucos.
   - Ah, eu vou de carro, mas se você quer ficar, boa sorte.

- To achando que vai chover. - olhou para o céu, depois para , escutando um trovão logo em seguida.
   - Também to achando, , melhor a gente correr! - segurou a mão de e as duas começaram a correr em direção à pizzaria do bairro. Eram mais ou menos quinze minutos de caminhada até lá, mas a chuva não quis esperar, começando a cair sobre as garotas.
   - Hey, aquelas ali não são as amigas da sua prima? - Kennedy apontou, estreitando os olhos, para tentar ver melhor pelos vidros embaçados, consequentes da chuva grossa que caia lá fora.
   - Parece que sim. - Pat reconheceu e correndo na chuva, totalmente ensopadas. - Dá carona pra elas.
   - Eu não, elas vão ensopar meu carro!
   - Tá brincando, né? - Pat encarou-o incrédulo.
   - O quê?
   - Duas das meninas mais gostosas da escola molhadas e indefesas e você não quer parar por que não quer molhar seu carro? - Kennedy refletiu por um segundo e desacelerou, acertando o ritmo do carro com o ritmo das garotas.
   - Ah bom, achei que tivesse virado gay de vez.
   - Cala a boca e abre o vidro.
   - Oi! - Pat chamou para atrair a atenção das garotas, que pararam e ficaram olhando para eles, com certa dificuldade para identificá-los.
   - Entra aí!- Kennedy gritou e as garotas correram para o banco de trás. Teriam aceitado carona até do Fred Krueger, só para sair daquela tempestade.
   - Obrigada. - sorriu para os meninos, enquanto tentava arrumar o cabelo. deu um sorriso forçado.
   Podia estar contente de ter escapado da chuva, mas entrar no carro de um dos losers não era exatamente muito reconfortante, mesmo que o garoto que dirigia fosse bonitinho.
   Pat viu pelo espelho se abraçar com frio e parou para reparar no estado delas: estavam completamente ensopadas, com os cabelos bagunçados colados no rosto e maquiagem meio borrada. As roupas estavam grudadas em seus corpos e Kennedy xingou baixinho por nenhuma das duas estar de blusa branca.
   - Quem meu casaco? - Pat ofereceu à , cutucando Kennedy para que ele fizesse o mesmo.
   - Obrigada. - esticou o braço para pegar a roupa das mãos do garoto e eles acabaram se tocando. Pat sorriu fofo e corou.
   - Quer o meu? - Kennedy jogou seu casaco de mau jeito em cima de .
   - Grosso!- Ela reclamou e o garoto riu.
   - Foi mal, é que ao contrário do Pat aqui eu to dirigindo e não posso me virar para colocá-lo delicadamente em suas mãos.
   - Eu deixo essa passar. - Ela deu a língua, sentindo o perfume do garoto no casaco. Ele era bem cheiroso, para um loser.
   - Onde nós deixamos vocês?
   - Estávamos indo na pizzaria. - respondeu de um jeito que Pat achou fofo.
   - Gay. - Riu baixo para si mesmo.
   - Sério? Dia de sorte de vocês. - Kennedy piscou.
   - Não sei onde. - Kennedy viu rolar os olhos pelo espelho e riu discretamente. Tinha uma queda por garotas difíceis, mas aquela em especial ainda tinha alguns atrativos a mais.
   O grupo de era o sonho de consumo de qualquer um naquela cidade. Ele e Pat haviam tirado a sorte grande.
   - Cadê a ?
   - Ficou na minha casa. Menina preguiçosa aquelas ali ein! - fechou o zíper do casaco, ainda com frio. Precisava tirar aquela roupa molhada e logo. Seu jeans skinny estava ainda mais colado no corpo, assim como a sua blusa.
   - Vai ver elas não queriam pegar chuva, igual o Jared. - Kennedy disse como se fosse óbvio, estacionando em frente à pizzaria. As duas entreolharam-se no banco de trás.
   - Não! - Riram. - Elas são mesmo preguiçosas.
   - Tudo bem, Pat, você pega as pizzas e eu fico no carro.
   - É, e você vai com ele .
   - Dois folgados. - reclamou. - No três a gente corre, Pat.
   - Ok. - Ele sorriu. - Um...
   - Dois... - Destravaram as portas.
   - Três! - Kennedy e gritaram juntos e os outros dois saíram correndo para o interior da pizzaria.
   - Quer ouvir música? - Kennedy sugeriu, após algum tempo desconfortável de silêncio.
   - Depende do tipo.
   - Do que você gosta?
   - Vários gêneros. - Ela fez careta. - Mas prefiro pop.
   - Pop? - Ele deu a língua e ligou o rádio numa estação qualquer.
   - Você gosta do quê?
   - Alternativa, rock, punk rock, indie... Não conta pra ninguém, mas eu tinha uma banda antes de vir pra cidade. - Disse em tom de segredo.
   - Sério? - Ela levantou uma sobrancelha, cética.
   - É sério!
   - Ela tinha nome, por acaso?
   - Last Call For Camden.
   - E o que você tocava? - colocou-se no espaço entre o banco do motorista e o do carona, apoiando os braços nos bancos.
   - Guitarra. E cantava. - Kennedy soltou o cinto de segurança, virando-se de frente para a garota.
   - Então canta pra mim. - Ela o olhou profundamente. Nenhum garoto dizia não quando ela olhava daquele jeito para eles. Kennedy a encarou em silêncio por um momento.
   - Hoje não. - Ele sorriu. abriu e fechou a boca algumas vezes mas não conseguiu formar uma frase. Como seu truque havia falhado?

- Acha que eles vão se matar? - Pat olhou para o carro no meio da chuva.
   - Não sei, mas é provável que a tente dar em cima do seu amigo.
   - De um loser?
   - Ela dá em cima de qualquer um. - deu de ombros.
   - Ouch!
   - Ah, não, eu não quis...
   - Tudo bem. - Pat riu - O Kennedy também vai dar em cima dela.
   - Perfeitamente compreensível. - fez cara de esnobe e riu.
   - É, pior que é... - Pat sentiu-se corar e olhou para o lado.
   fez o mesmo.
   - O Brock é o womanizer do grupo então?
   - Ele tenta. – Riram.
   - Seus pedidos estão prontos. - O atendente chamou do balcão com uma voz entediada.
   - Sério que só cinco meninos conseguem comer quatro pizzas inteiras? - olhava de Pat para as caixas de pizza que ele tentava equilibrar nas mãos.
   - Sério que você e suas amigas comem duas?
   - Por quê?
   - Nada, achei que vocês fizessem algum tipo de dieta maluca, sei lá.
   - Nah, deixa isso pras líderes de torcida. - Eles riram. - A sua prima come pra caramba, viu?
   - É, eu sei. - Pat fez careta. Quando pequenos, Pat costumava dizer que a prima parecia mais menino do que menina.

- A chuva diminuiu. - Kennedy tentou diminuir a tensão que se instalara no carro. estava afundada no banco de trás, com os braços cruzados e cara amarrada. Kennedy sorriu, ela parecia uma garotinha daquele jeito. Mas uma garotinha gostosa, se é que isso existia.
   - Tomara que pare logo.
   - Pra vocês poderem ficar livres de nós?
   - É. - Ela respondeu grossa. Nenhum garoto tinha o direito de dar um fora nela e achar que estava tudo bem. Ainda mais um loser.
   - Sorte sua, eles já pegaram as pizzas.
   - Graças a Deus!
   - Vai à abertura do novo pub?
   - Vou, por quê? Não me diga que você e seus amigos pretendem ir. - Ele riu torto. Garotinha metida.
   - Eu prometo que canto pra você um dia desses. - Ele se virou para olhá-la nos olhos de um jeito tão profundo que a fez tremer.
   - Tanto faz. - Bufou. - Pega eles na porta, pra não estragar as pizzas.
   - Esperta. - Kennedy piscou, voltando a colocar o cinto e ligando o carro. Fez uma manobra para chegar até a porta da pizzaria e abaixou o vidro do carro. - Sobe aí, gata! - Piscou para Pat.
   - Vai se foder! - Pat riu, abrindo a porta para deixar as pizzas no banco e ajudando com as dela antes de entrar.
   - Obrigada, Pat. Vocês estão bem? - olhou de Kennedy para e sorriu ao notar o bico da amiga.
   - Claro que não, você demorou demais.
   - Sua amiga é um doce. - Kennedy fez careta e riu.
   - Quem tá ouvindo essa música? - Pat deu a língua reconhecendo Lady Gaga no rádio.
   - Eu. - respondeu e Pat olhou para Kennedy que deu de ombros. - I'm in love with Judas baby!
   - Sorte a dele. - Kennedy voltou a dar seu sorriso torto, que irritava . Ela bufou enquanto os outros riam.
   - Essa mulher podia se matar.
   - Para, Pat, ela até que dá pro gasto.
   - É mesmo, Brock. - concordou, recebendo um olhar assassino de .
   - Vocês gostam disso?
   - Aham. - respondeu dando a língua.
   - Bah, perdeu meu respeito. - Ele riu, levando um tapa na cabeça. - Sua mão é levinha, nem doeu.
   - Chato. - Fez careta. - Vou pedir pro Brock bater.
   - Pode deixar que eu bato. Pra onde vocês vão agora? - Kennedy perguntou dando-se conta de que dirigia sem rumo.
   - Minha casa. - respondeu ainda emburrada.
   - Que bom, só não sei onde você mora, linda.
   - Ah, vira a esquerda na próxima esquina e depois à esquerda de novo.
   O garoto seguiu as instruções de e logo parou na frente de uma casa de uma cor próxima ao vermelho. Ela tinha dois andares e o jardim na frente parecia ser bem cuidado.
   - Graças a Deus!- empurrou , para que essa descesse logo.
   - Obrigada, meninos.
   - Tchau. - Os garotos responderam juntos. saiu em silêncio.
   - Você acha que elas vão devolver nossos casacos na frente de todo o mundo ou vão jogá-los no lixo?
   - Lixo. - Pat riu.
   - Bua, eu gostava daquele casaco! - Kennedy fez bico. - Culpa sua, seu rato!- Deu um soco no braço do outro.
   - Aí, bullying, o que eu fiz?
   - Aí, empresta seu casaco pra ela, na, na, na... Vai se ferrar!
   - Você é chato e mal educado, isso sim.
   - Vai me pagar outro.
   - Por isso que a ficou com cara feia pra você.
   - Mais uma hora e ela estaria comendo na minha mão. - Ele riu convencido.
   - Ah, é! - Pat tentou segurar um ataque de risos, mas não foi bem sucedido. O outro nem se importou e continuou sorrindo. Tinha certeza de que a garota não se esqueceria dele tão fácil, por bem ou por mal.

Capítulo IV

- Nós vamos à festa da Lana hoje a noite, certo? - colocou sua bandeja na mesa de sempre e sentou-se ao lado das amigas. O horário de almoço de uma sexta-feira era ainda mais adorado do que o de qualquer outro dia da semana. Não tinha quem não comentasse sobre as festas que iriam rolar no final de semana.
   - Certo! - sorriu. Como se desse para recusar uma festa.
   - Olha aquilo. - apontou para um grupo de garotos que jogavam batatas fritas nas pessoas que passavam e sorriu discretamente.
   - Eles são ridículos - olhou para outro lado quando seus olhos encontraram-se com os de Jared.
   - As amigas da sua prima tão olhando pra cá. - Jared jogou uma batata no cabelo de uma menina e sorriu para ela quando essa virou-se para reclamar. - Oi.
   - Oi. - Respondeu tímida. Aqueles garotos eram idiotas e tinham má reputação, mas que eles eram bonitinhos, ah, isso eram. - Vão à festa da Lana?
   - Foi mal, nós não nos misturamos com essa gentinha. - Jared disse com ar de desprezo e a garota sorriu. Eles que nunca eram convidados para nada.
   - Que pena.
   - Você acha que nós deveríamos ir? - Ele puxou papo. Nunca falara com a garota na vida, mas sentia que estava sendo observado e estava disposto a provocar. Além do mais, mal não faria conversar um pouco com uma garota de vez em quando. E aquela até que era bonitinha.
   - Quem é a coitada? - tentou esconder a irritação em sua voz. Desde quando alguma garota parava para falar com Jared?
   - Uma menina da minha sala, acho que se chama Camille. - deu de ombros sem se importar com quem um dos losers falava ou deixava de falar.
   - Gente, o que o O'Callaghan e o Nickelsen tão fazendo? - apontou tentando não rir. Na mesa deles, John e Garrett dançavam e rebolavam, chamando a atenção de todos os que passavam.
   - Idiotas. - resmungou ainda olhando para Jared e a tal Camille.
   - Senhores, desçam da mesa! - Uma inspetora com bigode chamou a atenção dos garotos, puxando Garrett pela roupa para o chão. Eles deram a língua assim que ela deu as costas.
   - Oi John. - Anabelle aproximou-se com suas amigas em seu encalço, prendendo o garoto entre ela e o banco.
   - O... Oi. - Os olhos de John correram até , do outro lado do pátio. Ela olhava de volta, mas desviou-se assim que seus olhos se encontraram. - Será que você pode... - Ele colocou as mãos nos ombros de Anabelle e a empurrou para trás, sentindo-se um pouco mais confortável.
   - Vão à casa da Lana hoje à noite? - Ela perguntou sem importar-se com a atitude do garoto, mexendo na gola de sua camisa, como sempre fazia.
   - Nós vamos. - Kennedy respondeu pelo amigo e todos na mesa olharam para ele. - Ah, nós não temos nada melhor para fazer mesmo.
   - É, ok. Nós vamos. Agora será que você pode seguir seu rumo? - John se afastou de Anabelle. Odiava o jeito que aquela garota se comportava. Ela podia ser gostosa e tudo o mais, mas não chegava nem aos pés de .
   - Ok, até mais tarde então. E vê se melhora o humor. - Anabelle mandou beijinhos no ar e foi embora com suas amigas.
   - Até mais tarde então. - John afinou a voz e começou a imitar a garota. Em sua mesa riu e quando o garoto percebeu, sorriu de volta.
   - Hello, Terra para ! - chamou a amiga com as mãos, trazendo-a de volta à sua mesa.
   - Oi?
   - Vai pra minha casa né? Se arrumar lá e etc.
   - Claro, .
   - Tava pensando em quem, ein? - perguntou, achando a cara de perdida de engraçada.
   - Gente, não olha agora, mas o Robert e os amigos dele estão olhando pra nós. - olhou para .
   - Aff, quero que esse daí se foda.
   - O que aconteceu? - Era pelo menos a vigésima vez que fazia a mesma pergunta, mas não podia dizer o motivo da briga.
   - Ele é um idiota, já disse.
   - Um idiota, mas seu namorado. Há seis meses. - brincava distraída com a comida em seu prato.
   - Mas sei lá, não gosto dele. E todo mundo sabe que ele vive ficando com essas putinhas da cidade.
   - E você é santa! - riu, apontando o garfo para a amiga.
   - Cala a boca, ! - jogou uma batata na outra, que gritou quando ela grudou em seu cabelo.
   - Tá imitando a gente? - John apareceu por trás de , fazendo corar de repente. Ele sorriu para ela. - Ficou bonito.
   - Caí fora, loser. - fez cara feia para o garoto. Desde quando os losers se atreviam à falar com elas?
   - Mas na hora de salvar vocês da chuva, né?
   - Fica quieto que ninguém precisa saber disso! - A garota praticamente pulou em cima de John, que deu um passo pra trás pego de surpresa.
   - Opa, tá bom, fica entre nós. - Ele sussurrou no ouvido de , deixando-a sem ação. - Tchau meninas. - Piscou para as outras, se dirigindo para o prédio da escola.
   - Esse menino bebe. - bufou. Por que ela a confundia tanto?
   - E não é pouco. - concordou sorrindo.

A noite chegou e as garotas terminavam de se arrumar para a tão esperada festa na casa de Lana. e usavam vestidos, enquanto vestia uma camisa xadrez sobre uma dos Beatles e shorts e e (a única que não estava pronta, por sinal) usavam skinnys.
   - Vamos, meninas? - terminou de fazer sua maquiagem e sentou-se em sua cama.
   - Anda logo, ! - apressou a amiga, conferindo seu reflexo no espelho.
   - Já vai, coisa chata.
   - Gente, se alguém não for voltar comigo me avisa, ok? - falou mais alto para que todas ouvissem. Como só ela usava o carro que tinha, as outras a faziam de motorista.
   - Qual é, , você acha que eu vou parar pra te mandar uma mensagem na hora que eu tiver...
   - Epa! Olha a putaria ai! - riu tapando os ouvidos.
   - Eu não vou parar o que eu tiver fazendo pra te mandar mensagem! - deu a língua e concordou.
   - Ah vão se foder então e voltem pra casa a pé. Assim eu faço meu carro de motel sem vocês reclamarem depois.
   - Que isso! - riu. - sua safada!
   - Olha quem fala, .
   - To pronta! - saiu pulando de dentro do banheiro da suíte de e as outras gritaram aleluia em coro. Aquela festa prometia.

- Tem certeza que vocês querem ir? - Pat jogou-se no sofá da sala de Kennedy. Desde quando eles frequentavam as festas que o pessoal da escola dava?
   - Eu to a fim de sair da seca, só não sei vocês.
   - Ah, Kennedy, você dá em cima de todo mundo que usa saia e ninguém nunca te quer. - John riu, sentando no braço do sofá e olhando feio para Pat, que ocupara todo o resto do móvel.
   - Vai se foder, John. E vamos logo que vocês demoram demais. Levanta daí, anãozinho!
   - Hey, anãozinho é a vó! - Pat sempre era zoado pelos outros por ser o menor do grupo. - O Jared já tá no carro, você que demorou. - Rolou os olhos. O amigo parecia patricinha se arrumando, mas nunca admitia isso.
   - Então vamos!
   Os garotos entraram no carro e foram para a casa de Lana. Eles não se davam bem com quase ninguém da escola, o que tornava tudo mais divertido, já que ninguém os queria lá. E muito menos esperavam que eles ousassem aparecer.

Quando as garotas chegaram no local, a festa já estava bombando. Havia gente bêbada por todo lado, casais se pegando pelos cantos, gente fumando, dançando, quase se comendo nos sofás, nas paredes e na piscina... Enfim, era mais uma festa na casa de Lana.
   , e foram dançar enquanto foi procurar garotos e pegar bebidas. Elas sempre se separavam no local e -quase sempre- se encontravam no final da festa para voltarem para casa juntas.
   Todos dançavam música eletrônica e Lana tinha separado um espaço relativamente pequeno para a pista de dança, de modo que era impossível dançar sem estar colado em alguém. As garotas dançavam com quem aparecesse na frente, sem nem se dar ao luxo de olhar para a pessoa. esquivou-se de um garoto que fazia passos dos anos 60 e foi agarrada por trás por alguém.
   Deu um leve sorriso e continuou dançando com o corpo colado ao do garoto, sem nem se importar em ver quem era, afinal, só queria se divertir naquela noite.
   - O que ela tá fazendo com ele? - Garrett resmungou irritado, olhando para a pista. Mal havia chegado e se deparava com aquilo; aquela noite seria mesmo uma merda.
   - Ih, cara, acho que a voltou com o Robert. - Kennedy gritou para que o amigo pudesse ouvi-lo apesar da música alta, sem nem notar a tensão do outro.
   - Eu já vi. - Garrett afastou-se do grupo e sumiu de vista no meio das pessoas. John mordeu o lábio e torceu para que o amigo não fizesse nada estúpido.

- Então você sentiu minha falta? - Robert perguntou no ouvido de , que tremeu ao reconhecer aquela voz e se virou de frente para o garoto.
   - Robert?
   - Você não sabia que era eu? - Ele perguntou cético.
   - Não tenho olho nas costas. E tanto faz, não to a fim de papo sério hoje. - Ela respondeu, tentando soar mais alta que a música.
   - Então fica comigo? Só hoje. - Ele mordeu o lábio, encarando-a de cima à baixo. sorriu e voltou a dançar sem dizer mais nada.
   - A não presta. - comentou com , rindo da amiga. Elas haviam deixado a pista para beber alguma coisa; estava quente lá dentro.
   - Oi, meninas! - Pat surgiu por trás das duas e quase engasgou com sua bebida; não esperava ver o garoto ali, ele e seus amigos não frequentavam as festas da escola.
   - Pat! Tá fazendo o que aqui? - abraçou o primo, que sorriu pra ela.
   - O Kennedy tava com fogo no cu. - John apareceu ao lado de Pat e engoliu em seco. Ele estava ainda mais lindo do que o normal, com os cabelos levemente bagunçados e os olhos brilhantes. Claro, ele estava ali pela Anabelle.
   - Oi. - Elas cumprimentaram o garoto. simpática e forçada.
   - A amiga de vocês... - John apontou para no meio da pista.
   - Ela só tá se divertindo. - cortou o garoto. - Pode falar pro seu amiguinho que não há motivos pra ele ficar bravinho. - disse com desdém, recebendo uma cotovelada de . - Que foi? Todo mundo sabe que o Nickelsen baba pela , não sei como ela não percebe.
   tentava disfarçar a vergonha olhando para os próprios pés. Não entendia o porquê de a amiga estar agindo daquela forma, mas sabia que não conseguiria pará-la. Pat estava da mesma forma, imaginando o que diria para consolar o amigo depois.
   John só conseguia olhar para em silêncio; não esperava aquilo vindo dela.
   - E tipo, vocês deviam dizer pra ele tirar o cavalinho da chuva, porque ele não tem a mínima chance. - Aquilo machucou os dois. sabia que tinha ido longe demais, mas a raiva que a movia não queria parar. Principalmente quando avistou Anabelle com suas amigas, cochichando e apontando para onde eles estavam.
   - ... - Pat interrompeu antes que fosse tarde.
   - nada, seus amiguinhos já encheram. Tem gente que devia aprender o seu lugar. - Ela se arrependeu de dizer aquilo no momento em que as palavras saíram de sua boca. Dentro dela, o que ela mais queria era que aquela idiotice de losers e populares acabasse.
   A expressão no rosto de John doía só de olhar. Incapaz de manter seu olhar no dele por muito tempo, deu as costas e sumiu na multidão. O que ela tinha feito?
   - John... - Pat colocou a mão sobre o ombro do garoto, que tremia tentando conter-se. olhava para ele com pena.
   - Não, eu vou atrás dela. - John esquivou-se de Pat e saiu em passos duros na direção que havia tomado. Não podia aguentar ouvir tudo aquilo e ficar calado. Não mais.
   - Espera aí! - Pat tentou alcançá-lo, mas era tarde demais. A raiva na voz do amigo o deixara preocupado. Só esperava que ele não passasse dos limites e os dois acabassem ainda mais machucados.

foi para a área da piscina. Tinha visto um dos losers passar por ela com pressa e, mesmo de forma inconsciente, procurava outro deles em especial. Perdeu um minuto observando as pessoas na piscina e foi quando seus olhos se desviaram para algo que ela não pretendia ver: Jared estava ali, com Camille.
   Eles estavam perto da piscina e Camille tinha seus braços ao redor do pescoço de Jared, enquanto ele a segurava pela cintura.
   Jared não era popular e nunca ficava com ninguém na frente de todo o mundo, então nunca o tinha visto com outra garota e muito menos imaginado que aquilo poderia chegar a acontecer algum dia, por isso ver aquela cena doeu muito mais do que um soco no estomago. Ela estava com vontade de vomitar.
   - E aí, gatinha? - Ela reconheceu a voz de Matt, um dos amigos de Robert e virou-se para olhar para ele. Qualquer coisa era melhor do que continuar vendo aquela cena.
   - Oi. - A voz dela saiu falha. Ela olhou para o garoto por um segundo, refletindo. Eles já haviam ficado algumas vezes e ele não era de se jogar fora, então ela não precisou pensar muito antes de jogar-se em cima dele. O garoto assustou-se de inicio com a atitude de , mas logo correspondeu, afinal, a garota era uma das mais desejadas da noite e tê-la em seus braços não era nada ruim.

- Olha a ali com o Matt. - Camille apontou. Ainda estava colada em Jared, mas eles agora só conversavam. Sempre teve uma quedinha especial por aquele garoto e sonhava em ficar abraçada com ele. Jared ficou tenso ao imaginar o que poderia ter para olhar-se e torceu para que a garota não percebesse.
   - Olhar o quê? - Perguntou, tentando conter a voz. Poderia virar-se para olhar, mas tinha medo do que poderia encontrar.
   - Eles estão se pegando ali do outro lado da piscina. - Ele respondeu, achando a reação de Jared engraçada. Ele estava tenso.
   - Esquece eles. - Jared disse mais para si mesmo do que para Camille, pressionando seus lábios nos dela em seguida. Não deixaria estragar sua noite mais uma vez.

- Você acha que vai ficar tudo bem? - perguntou à Pat. Ambos estavam tensos, imaginando a catástrofe.
   - Eu acho que ter vindo foi uma má ideia. - Ele respondeu.
   - Ah, por quê? Acho que vocês deviam sair mais, isso sim. Pra quebrar essa imagem fechada de vocês.
   - Como assim imagem fechada?
   - É, parece que vocês não gostam de se misturar.
   - Nós não gostamos. - Ele riu.
Pat olhou para a pista e viu Robert e se beijando. Imediatamente seus olhos correram pela sala à procura de Garrett, torcendo para que o amigo não estivesse olhando, mas ele estava.
   - Não vai prestar. - Ele mordeu o lábio e seguiu seu olhar, compreendendo o que ele queria dizer.
   Garrett passou por eles como um furacão e saiu da casa para a rua.
   - Merda. - Pat saiu atrás do amigo, correndo para alcançá-lo. - Garrett, espera aí! - Chamou o amigo, mas este não parou.
   Pat continuou seguindo-o e resolveu ir atrás, para ajudar caso algo acontecesse, tentando correr de salto.
   - Me deixa, só to indo pra casa. - Ele finalmente parou.
   - Tem certeza que você não vai pular na frente de um ônibus?
   - Aí, cheguei! - apoiou uma mão no ombro de Pat e outra no de Garrett, tentando recuperar o fôlego.
   - O que ela faz aqui? - A voz de Garrett soava irritada.
   - Vim ajudar o Pat. - Ela sorriu fraco. Podia não ser amiga daqueles garotos, mas lamentava as coisas que estavam acontecendo com eles.
   - Eu não preciso de uma das poderosas aqui.
   - Hey, seu problema não é com ela. - Pat intrometeu-se, olhando fixamente nos olhos de Garrett, que respirou fundo e virou-se para . Pat tinha razão, a garota não tinha culpa.
   - Desculpa.
   - Tudo bem. - Ela sorriu. - Não fica com raiva da , ok? Ela não faz por mal. - suspirou, sentindo pena do garoto.
   - Certo. - Ele tentou ser simpático. Não gostava do grupo com quem andava, mas o fato daquela garota estar ali provava que ela era diferente das outras. Duvidava que outra delas estaria ali, afinal elas só se importavam com elas mesmas. também não costumava ser assim, mas estava vendo que as coisas mudavam. Só ele que continuava a insistir em algo que nunca daria certo.
   - Vamos te levar pra casa. - Pat olhou para , que confirmou com a cabeça. Pelo menos assim eles teriam certeza de que Garrett não faria nada de estúpido.

- Até mais, Jason. - empurrou o garoto com delicadeza. Era o quinto com quem ela ficava naquela noite, mas nenhum merecia mais do que um beijo.
   - Você não cansa de iludir os coitados não?
   - Brock? O que faz aqui? - Mediram-se de cima à baixo. Talvez fosse efeito da bebida, mas Kennedy estava especialmente atraente naquela noite.
   - Vim cantar pra você. - Ele respondeu, aproximando-se.
   - Cantar? - Sentiu sua voz falhar e deu um passo para trás, colando as costas na parede. Kennedy sorriu e colocou-se na frente dela, prendendo-a entre ele e a parede.
   - Eu prometi, não?
   - Mas...
   - Psiu. - Ele a calou encostando o dedo indicador em seus lábios. - The boys they have their eyes all over you. - Ele cantou próximo ao pescoço da garota, medindo-a de cima à baixo com um sorriso maroto. - And you're loving every second of attention. - Ele colocou as mãos em sua cintura. - I need to find just some way to get through...
   - Você vai contar isso pra todo mundo depois, né? - Ela riu de olhos fechados e Kennedy balançou a cabeça.
   - I'm feeling you, you're feeling me, what exactly is holding us back? - Ele sussurrou em seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha de leve.
   - Kennedy... - gemeu contra o pescoço do garoto. Aquilo estava virando tortura.
   - I'm feeling you, are you feeling me? - Kennedy começou a distribuir beijos pelo pescoço de , que tombou a cabeça para o lado, deixando a região totalmente exposta. Ele começou a subir os beijos para a orelha e depois para o rosto, até parar a menos de um centímetro da boca da garota, que gemeu baixinho, insatisfeita. - Linda.
   espalmou as mãos no peito do garoto e o puxou pela camisa, acabando com o espaço ainda existente entre eles. Seus movimentos eram sincronizados, ansiosos um pelo gosto do outro. As mãos dela envolveram seu pescoço e começaram a brincar com seus cabelos da nuca. A nível de loucura, aquela era a maior que a garota já fizera em sua vida. Quer dizer, ela estava beijando um loser e deus, como ela estava gostando.
   As mãos de Kennedy não conseguiam ficar paradas e alternavam entre a cintura e o resto do corpo da garota.
   Eles perderam a conta do tempo que ficaram juntos e agradeceu por estarem em um lugar pouco movimentado; uma coisa era ficar com um dos perdedores, outra era a escola inteira ficar sabendo disso.
   - Kennedy... - cortou o beijo e afastou o garoto o suficiente para ter espaço para respirar sem ser muito afetada pelo perfume dele. - A puta da tá me ligando. - pegou o celular na bolsa, xingando baixinho.
   - Atende. - Ele coçou os cabelos, transtornado. Agora seria difícil conseguir tê-la em seus braços novamente.
   - Que é, ? Não, eu não sei da , deve estar dando por aí. Você tá indo embora? Ok, te encontro na porta. - Ela desligou o telefone e começou a arrumar a roupa de qualquer jeito, sem olhar para Kennedy nem por um segundo. Não podia arriscar fazer aquilo de novo.
   - Você vai embora? - Kennedy perguntou ainda meio tonto. O que exatamente era aquela garota e como ela conseguia deixá-lo assim?
   - Ahan. E seria legal se você não contasse pra ninguém o que aconteceu aqui. - Ela franziu a testa. Não queria ser grossa, mas achava que tinha sido.
   - Claro, porque eu não sou socialmente aceitável. - Ele rolou os olhos, afastando-se da garota. Não sabia por que tinha esperado mais dela.
   - É que...
   - Não, tudo bem. Se você é mesmo desse jeito, então eu realmente não vou querer que saibam que isso aconteceu.
   - Kennedy! - chamou mordendo o lábio, mas Kennedy não voltou e continuou seguindo para longe dela. Que merda ela tinha feito?

- ! - John segurou a garota pelo braço, fazendo-a se virar para ele.
   - Me solta! - olhou em volta, procurando por ajuda, mas só estavam os dois naquela parte da casa.
   - Não, agora é minha vez de falar. - se encolheu com o tom de John, que percebendo que estava pegando pesado, diminuiu a pressão com que segurava o braço da garota.
   - Fala então. - A garota aproximou-se, provocando-o. Talvez se explorasse seu ponto fraco, conseguiria fugir. Sabia que John gostava dela desde que eles se conheceram no ano anterior. O problema era que aquela proximidade a afetava tanto quanto a ele.
   - Por que você disse aquilo? - John alternava o olhar entre os olhos e a boca de . Queria ter raiva dela, mas era impossível àquela distância.
   - Porque alguém precisava dizer. - Ela respondeu incerta de suas palavras. Grande ideia a dela.
   - Não... Não faz isso. - Ele soltou o braço dela e tirou uma mecha de cabelo de seu rosto. podia ir embora se quisesse, mas não conseguia se afastar. Não com John a tocando daquela forma.
   - O'Callaghan...
   - Shiu, só me diz uma coisa. - Ele passou o polegar por seu rosto de forma carinhosa. - Parece assim tão errado pra você?
   John esperou por uma resposta que não veio. Ele então segurou o rosto de e se aproximou devagar. Ela não se mexeu e o garoto interpretou aquilo como um sinal de que podia continuar. Estava arriscando muito, mas não se importava mais. Não suportava mais tudo aquilo.
   - Eu... Eu não posso. - afastou-se assim que sentiu os lábios de John sobre os seus. Suas amigas nunca aceitariam aquilo. John a encarou com um brilho de dor nos olhos. - Eu sinto muito.
   correu para longe de todos e trancou-se no primeiro banheiro vazio que encontrou na casa. Por que tinha que ser tão difícil? Por que John não podia facilitar para ela e odiá-la?
   - Bom, talvez ele odeie, depois de hoje. - Disse para si mesma com um sorriso amargo.

- John, você tá bem? - Kennedy encontrou o amigo sentado em um canto com a cabeça baixa e sentou-se ao lado dele.
   - Será que a gente pode ir embora?
   - Ah, claro. Eu não aguento mais isso daqui.
   - Péssima ideia ter vindo.
   - É. - Kennedy concordou, após pensar um pouco. Não tão péssima assim, só a conclusão dela não fora boa. - Onde estão os outros?
   - Acho que o Pat e o Garrett já foram embora e o Jared tá lá fora.
   - Ok, liga pra ele e manda ele encontrar a gente no carro.
   John concordou, pegando seu celular. Não era a toa que eles não frequentavam aquelas festas, aquilo fora uma tragédia.
   - ‘Bora pra minha casa encher a cara e escrever música? - Kennedy gritou quando Jared apareceu na porta do carro.
   - A melhor ideia da noite. - John apoiou a cabeça na mão. Jared riu. Sua noite não fora ruim, mas também não fora a melhor.
   - Tão ruim assim? - Perguntou, reparando nas expressões nos rostos dos amigos.
   - Pior. - John deu a língua. Talvez tivesse razão e eles tivessem que aprender o seu lugar.

Capítulo V

- Tem que ser um nome legal. - Pat batia uma baqueta contra a própria cabeça. Estava curvado sobre o sofá da sala de Kennedy, com a cabeça apoiada em uma das mãos.
   - E diferente. - Garrett acrescentou.
   - E fácil.
   - É, e que ninguém esqueça. - John concordou. Só Jared não havia se pronunciado até o momento.
   - A gente pode tirar o nome de alguma música. - Kennedy sugeriu, tentando lembrar-se de alguma que fosse foda o suficiente pra merecer ser o nome da banda deles.
   - Tá, mas qual? - Jared caminhou até a estante onde Kennedy mantinha sua coleção de CDs.
   Todas as suas bandas preferidas eram representadas ali.
   - Hmm... Spice Girl?
   - Ah, claro. - John rolou os olhos, mesmo achando graça.
   - Ivory? - Jared pegou um dos CDs na estante e começou a ler o encarte, mas Pat foi mais rápido e tirou o cd da mão dele antes que o garoto pudesse dar alguma sugestão.
   - Que tal Fallin Feathers?
   - Gay! - Garrett deu a língua. - E cafona.
   - Shiu, projeto de zumbi! - Garrett pegou a baqueta de Pat de cima do sofá e jogou contra ele, que desviou na hora, fazendo com que o objeto atingisse em cheio a testa de Jared.
   - Filho da puta!
   - Desculpa aí, foi culpa do Pat! - Garrett praticamente se jogou no chão, enquanto os outros morriam de rir. Jared não estava de bom humor e Garrett não queria morrer ainda. Jared rolou os olhos.
   - E Come Back Down? - John sugeriu. - Música mais foda deles.
   - Nah... Essa seria mais legal se a gente tocasse. - Garrett pensou em e em como aquela música se encaixava em sua vida naquele momento.
   - Uma boa, baby Nicko. - Pat concordou, lembrando-se de .
   - Que tal Free The Beast? Ou só The Beast? - Kennedy tentou.
   - É, eu sempre quis fazer parte de uma banda de Metal. - Jared rolou os olhos massageando a testa. Levar baquetadas doía!
   - Tá, as opções tão acabando. In The Coast Of Maine? - Pat olhava os nomes atrás do CD.
   - E só The Coast? - Kennedy arriscou novamente.
   - The Maine? - Jared deu o primeiro palpite, sentindo os olhares dos amigos sobre ele. - Que foi?
   - É bom, tenho que admitir. - Kennedy bateu palmas de leve.
   - Tá legal pra mim. - Pat acompanhou. Era a melhor opção que eles tinham.
   - Pra mim também.
   - The Maine soa bem. - John riu, repetindo várias vezes o "The Maine".
   - Ótimo, vai ser The Maine então. - Jared riu. - Agora só falta ver se podemos tocar no pub.
   - E ensaiar. Sabe, uma banda precisa de músicas. - John lembrou o óbvio.
   - Com a coisa do pub, falei com o Tim e ele vai ajudar. Sabe como é, ele é bem mais popular na cidade do que a gente.
   - Isso, o Tim aposto que consegue ajudar a gente! - Jared comemorou.
   - Santo Tim! - John abriu os braços olhando para cima.
   - Vai, para de viadagem e vem ensaiar John! - Kennedy pegou uma almofada planejando acertar John, mas este foi mais rápido e um segundo depois já estava com o violão sobre o colo.
   - Count'em one, two, three? - Jared pegou outro violão e se sentou no chão com os amigos.
   - Ok. - eles começaram a tocar os primeiros acordes já prontos da música. Faltavam alguns detalhes para terminá-la, mas estavam confiantes.

Na segunda feira de manhã, o assunto mais comentado pelos alunos do 2º ano era o cartaz fixado no mural da escola. Havia um grande tumulto para conseguir lê-lo, mas quem conseguia, saia do local pulando e gritando.
   - Aí, o que é essa muvuca toda? - e as amigas dirigiram-se à pequena aglomeração.
   - "A partir dessa segunda feira, as aulas de sociologia das turmas do Ensino Médio serão realizadas com as duas turmas de cada ano, em conjunto. - , por ser a mais alta do grupo, conseguiu ver do que se tratava e leu para as amigas, dando um gritinho no final.
   - Awn, as cinco juntas novamente! - , , , e formaram uma rodinha e começaram a pular juntas.
   - Vai ser bom de assistir isso daí. - Um garoto loirinho da sala de e olhou para elas sorrindo.
   - Oi Tom. - sorriu pra ele.
   - Ih caralho, agora que a Sra. Parker não consegue dar aula mesmo. - Jared riu e os outros acompanharam a festinha até seus olhos encontrarem-se com os de certo grupo de garotas, à apenas alguns passos dos mesmos. - Melhor a gente ir, porque tem muita gente dividindo o mesmo ar. - Olhou diretamente para , com um ar frio.
   - Concordo. - Kennedy puxou John pelo braço, que olhou para e depois abaixou os olhos.
   Garrett seguiu os outros sem nem olhar para as garotas e Pat foi atrás, sorrindo sem graça para o outro grupo.
   - É impressão minha ou eles nos odeiam tanto quanto nós os desprezamos? - seguiu com os olhos os garotos rejeitados do colégio, sem entender muita coisa. Desde quando eram eles quem fugiam delas?
   - Fodam-se eles. - deu de ombros, tentando parecer desinteressada. Ainda não apagara da cabeça a imagem de Jared com Camille. E o que mais a chateava naquilo tudo era descobrir que querendo ou não, ainda se importava.
   - É. - bufou.
   - Menos o meu primo. - riu fraco, mirando o mais alto deles com os olhos. Era para o melhor, tentava se convencer.
   - Não sei, eu os acho simpáticos. - deu de ombros, já prevendo uma retaliação.
   - Credo, ! - fez careta. - Depois dessa vou pra sala. - Ela deixou as quatro amigas rindo para trás. No entanto, o sorriso de era forçado.

- Bom dia, alunos! - A Sra. Parker, professora de Sociologia, que mais parecia um homem troncudo de cinquenta anos e cabelo curto chegou à quadra onde as duas turmas do segundo ano esperavam, cessando todas as conversas pelo ambiente.
   Ninguém gostava de deixar a Sra. Parker zangada, exceto um certo grupo de garotos. Não era a toa que só os cinco não tivessem ficado quietos logo que a viram.
   - O' Callaghan e companhia, acho melhor os cinco calarem a boca. - Ela os repreendeu, já sem muita paciência. Todos achavam estranho que alguém como ela fosse ser professora de uma matéria como sociologia e não educação física, por exemplo.
   John mostrou o polegar para ela e finalmente fizeram silêncio, como o resto da turma já fazia há algum tempo.
   - Devem ter estranhado essa ideia de juntar as duas turmas, não? - Sra. Parker perguntou, mas ninguém era idiota o suficiente para responder. Ela ficava ainda mais nervosa quando alguém interrompia o seu raciocínio. - Nosso trabalho até o próximo mês será realizado com duplas mistas... - Mal ela terminara de falar, cochichos começaram por toda a arquibancada, especulando quem seriam as duplas. -... Que eu vou sortear.
   - Ah professora! - A voz de uma garota se sobressaiu no meio de tantos outrosinsatisfeitos.
   - E se eu cair com um dos losers? - Outra chiou e John mandou um beijo no ar para ela.
   - E se a mina que eu pegar não for gostosa? - Um garoto do time de futebol olhou descaradamente para e John fingiu não perceber, apertando as mãos com força.
   - Farei sorteio. Já tenho todos os seus nomes nesses papeizinhos. - Sra. Parker fingiu não ter sido interrompida, segurando duas sacolas transparentes com vários pedacinhos de papel dentro.
   Uma garota ofereceu-se para ajudá-la, ficando com a sacolinha das garotas. Puxou um e chamou:
   - Monaco!
   Jared levantou-se e desceu pela arquibancada, postando-se ao lado da professora.
   - Sua dupla será a senhorita . - Disse após retirar o papel da sacola na mão da garota.
   - O quê? - gritou, levantando-se num pulo. A turma toda olhou para ela, alguns assustados com seu grito e outros com cara de compreensão. sentia seu coração pular contra o seu peito pela ideia de ter que fazer dupla com Jared. O pior era que parte de si queria muito aquilo. Jared rolou os olhos. Não gostava daquele drama todo que a garota adorava fazer.
   Vamos logo, . A professora chamou entediada. estava pálida.
   - Eu não quero ter que trabalhar com ele! - Respondeu com arrogância, tentando provocá-lo.
   - Ótimo. - Jared desviou o olhar do dela, virando-se para a professora. - Sra. Parker, pode trocar a pela Camille? - Ele perguntou sereno, sem olhar para , que se sentiu tonta. Ele não podia estar falando sério.
   Sra. Parker ponderou por um momento, olhando de para uma Camille muito vermelha e assentiu.
   - Ok. pode se sentar e Camille, venha. - A garota caminhou até Jared, escondendo um sorriso enorme por trás de um tímido. Sempre achara que Jared tinha alguma coisa com , mas aquilo provava que não, certo?
   - Oi. - Ela disse entre dentes, tentando esconder a vergonha. Jared sorriu para ela e voltou a sentar-se, sentindo-se mal.
   - Certo, agora Brandon. - Leu o papel que já estava em sua mão há algum tempo. - E Jéssica. - Jéssica sorriu para o garoto que levantou-se com ela, medindo-a de cima a baixo. Eles ficaram ao lado de Jared e Camille e a professora pegou outro papel, contente por não ter problemas com essa dupla. - Nickelsen... - Leu, colocando a mão na outra sacola. - E .
   - Ae! - John deu um tapa nas costas do amigo, que quase engoliu o chiclete que mascava. levantou-se, sentindo-se estranhamente ansiosa.
   - Me ajuda! - Ela estendeu a mão para Garrett, um degrau abaixo dela. Ele alternou o olhar entre a mão e o rosto da garota duas vezes antes de por sua mão sobre a dela, ajudando-a a descer. - Obrigada. - Ela sorriu docemente quando eles chegaram ao chão. Todos observavam os dois, achando completamente maluca por sequer encostar em um dos losers.
   - Nickelsen ganhou o dia! - Alguns garotos uivavam, provocando-o. Robert levantou-se cerrando os punhos, mas voltou a sentar-se sob o olhar da professora.
   - Cala a boca. - deu a língua para eles e olhou para as amigas, que a encaravam com expressões de reprovação e interrogação. - Ah, vão dormir! - Ela riu. - Essa gente não tem o que fazer. - Virou-se para Garrett, que abriu um meio sorriso.
   - Você não fez escândalo.
   - Nah, sou da paz. - Ela deu um tapa no ar, parando ao lado de Jéssica.
   - Patrick e Janice. - Sra. Parker chamou. - e Tom. - Esperou que as duas duplas descessem e continuou, já sem paciência.
   e Bruno... - A cada dupla formada, os alunos davam gritinhos e faziam outros barulhos com a boca. - Kennedy e Pâmela.
   O garoto levantou-se e foi até a ruivinha do grupo de Anabelle com um sorriso tarado. bufou discretamente.
   - Não se esquece de mim, professora! - chamou na arquibancada. Após mais alguns nomes serem chamados, restavam poucos garotos para que ela fizesse dupla e as opções estavam cada vez mais assustadoras. Se o nome de Camille não saísse logo ela acabaria com um dos nerds esquisitos.
   - Matt e Camille. Aliás, . - Sra. Parker olhou para a garota, que respirava aliviada.
   - Contente, Senhorita ?
   - Aham. - Respondeu sorrindo para Matt.
   - Robert e Mary... - A professora chamou mais alguns nomes e por fim só restaram três alunos na arquibancada: , John e Anabelle. - E vocês três terão que trabalhar juntos.
   - Os três? - se intrometeu, recebendo um olhar feio da professora em resposta.
   suspirou e foi para perto dos outros dois. Tinha como ser pior? John a encarou rapidamente, mas logo Anabelle se sentou ao seu lado, fazendo-o a olhar. Mas sua atenção ainda estava em . Ele tiraria proveito daquela oportunidade.
   - Bom, agora que todos têm dupla, vamos ao trabalho: cada um terá que escolher um problema que tenha a ver com a adolescência e criar uma solução para ele. Terão um mês para isso.
   - Ainda bem que o Robert e a não ficaram juntos, porque o único problema que eles resolveriam seria a... - Um amigo de Robert começou, fazendo gestos com as mãos e com cara de tarado. Robert ria com ele, enquanto estava tão vermelha que queria sumir.
   - Silêncio! - Sra. Parker interrompeu, olhando para com pena. - Vamos lá, vocês podem começar agora, ainda temos alguns minutos. Espalhem-se e comecem a pensar.
   - Vem, Nickelsen. - o puxou, tentando sair logo dali. Tinha a impressão de que todos riam da piada sem graça dos garotos e sentia-se extremamente envergonhada. Garrett sentia raiva.
   Como ela conseguia ficar com alguém como Robert?
   - Por que você aguenta isso? - Ele perguntou quando já estavam distantes o suficiente da quadra, parando no caminho. parou também, surpresa pela pergunta.
   - Eu... Não sei. - Respondeu olhando para o chão. - Acho que eu já estou acostumada.
   - Ninguém deveria se acostumar com isso. - Ele resmungou deixando sua raiva escapar em sua voz. olhou para ele curiosa. Por que ele se importava afinal? - Você é melhor que isso. - Garrett olhou fundo em seus olhos fazendo-a estremecer. se sentia segura com ele. Era como se ele a conhece-se melhor do que ela mesma, por mais estranho que isso soasse.
   - Vamos achar um lugar para sentar? - o puxou pela mão até um banco, querendo escapar daquele assunto tenso.

- Vem, tem um lugar bem reservado onde a gente pode ficar. - Anabelle foi puxando John pelo braço, com logo atrás deles.
   - Não esquece que eu sou do grupo também. - disse com desprezo. Não tinha como piorar.
   - Não esqueço, querida. - A outra disse no mesmo tom e John coçou a cabeça. Aquelas duas lhe dariam muita dor de cabeça.
   - Pode me soltar, Anabelle. - Ele se esquivou da garota, olhando de relance para , que fingiu não se importar.
   - Pode me chamar de Bel. - rolou os olhos, nauseada. Queria passar com um caminhão de lixo em cima de Anabelle e depois jogá-la lá dentro.
   - Anabelle está bom. - John respondeu tentando não parecer grosseiro e riu, deixando a outra com uma expressão de ódio.
   - Sobre o que vai ser o nosso trabalho? - Perguntou ignorando , que tentava parar de rir da outra. John mordia o lábio para não rir também, contagiado pelo riso de .
   - Que tal sobre garotas dadas demais? - encarou Anabelle, que fingiu não perceber a indireta.
   - Eu topo! - John sorriu para a garota, que retribuiu envergonhada, encarando o chão em seguida.
   - Ah, isso nem é um problema.
   - Depende. - Os outros dois disseram juntos, ainda sorrindo. Até que aquilo poderia ser divertido.

- Não to acreditando nesse trabalho! - bateu a mão na mesa do refeitório. As cinco estavam sentadas na habitual mesa no horário de almoço. - O Matt é muito burro, pelo amor!
   - Haha, se fodeu! - riu apontando para a amiga. - O Tom nem é tão ruim. Falaremos sobre comida. - Fez pose.
   - Comida, ? - rolou os olhos, mesmo achando graça. A amiga era a mais comilona dentre as cinco; nenhuma delas esperava que ela escolhesse outro tema.
   - E você, a puta e o O’Callaghan? - perguntou, bebendo um suco azul.
   - Sobre putinhas. Que diabo de suco é esse? - Ela tentou tirar o copo da mão da amiga, mas foi mais rápida em desviar.
   - Sei não, só achei bonitinho. - Deu de ombros - Putinhas tipo Anabelle?
   - É. - Riu concordando. - E você e o Nickelsen?
   - Música contra a depressão e o preconceito.
   - Nerds! - fez careta. - Para de ser besta, quanto mais complexo o assunto, mas tempo com o loser você vai ter que ficar.
   queria dizer que não se importava em passar algum tempo com Garrett e que até gostava da ideia, mas preferiu só rolar os olhos.
   - Quero uma boa nota. Qual o seu tema afinal?
   - Atividades físicas. - Ela deu a língua e as outras riram, no instante em que um grupo de garotas passou por elas e apontou para , rindo e cochichando.
   - A não! É a terceira vez hoje! To cagada por acaso? - se levantou e deu uma voltinha para que as amigas a analisassem.
   - Não esquenta, é inveja. - disse alto o suficiente para que as outras garotas ouvissem.
   Elas então pararam de andar e viraram-se para a mesa das cinco.
   - Inveja? Por que eu teria inveja de você? - Uma delas apontou para com desdém.
   - É, você é maluca.
   - Não acredito que você pegou o Brock!
   - Credo!
   - O quê? - O grito quem deu foi , que ficou em pé em menos de um segundo. empalideceu e mirou Kennedy do outro lado do pátio.
   Ele ria distraído de algo que Jared dissera e ao sentir o olhar de sobre si, encarou-a de volta com uma sobrancelha arqueada.
   - De onde você tirou isso? - Ela perguntou às quatro garotas à sua frente.
   - Tá todo mundo sabendo. - olhou ao redor, finalmente percebendo os olhares acusadores que a miravam por todos os lados.
   - Brock, é verdade que você pegou a ? - Um garoto parou na frente da mesa dos garotos que se viraram para Kennedy no mesmo instante. O guitarrista olhou para sem entender nada, mas essa já não olhava de volta. Ela teria contado?
   - Ele não fez isso. - sussurrou para si mesma. Sentia-se tremer de raiva e seu sangue subia pelo seu corpo. Todas aquelas pessoas rindo e apontando estavam dando nos nervos. Suas amigas ainda a encaravam sem acreditar.
   - É verdade, ? - perguntou baixo, só para a amiga ouvir.
   - Ah, olha só todo o mundo! - A garota ficou em pé na mesa e olhou ameaçadora para Kennedy antes de continuar. - Eu sei o que todos estão comentando e eu não tenho muito que dizer sobre isso, só quero limpar meu nome.
   Kennedy a fitava, tentando adivinhar o que ela iria dizer. Suas amigas estavam apreensivas, pois sabiam do que era capaz quando estava com raiva.
   - Eu bebi um pouco demais e o Brock me agarrou, ok? Não é como se eu quisesse muito ficar com ele. Só não disse nada porque não queria deixá-lo pior na fita, mas foi isso. - Ela começou, tentando não deixar a voz falhar e evitando ao máximo olhar de volta para Kennedy. Sentia o olhar dele queimando sobre si. O guitarrista balançava a cabeça em descrença, enquanto olhares de raiva viravam-se para ele. Seus amigos mostravam o dedo para todos, mesmo sem entender muita coisa do que estava acontecendo.
   - Eu não sou louca o suficiente para fazer uma coisa dessas, não mesmo. - Continuou, deixando-se levar pela raiva. Como Kennedy ousara contar para todos? Ela tinha pedido para deixar aquilo em segredo. - Eu nunca ficaria com ele por vontade própria. Nunca.
   - Tá, chega né? - puxou a amiga para o chão quando sentiu que essa já passara dos limites. Mal tinha coragem para olhar para a mesa dos garotos depois daquilo. - Você exagerou. - Disse no ouvido da outra.
   - Mas você viu o que ele fez? - baixou a voz para que só as amigas a ouvissem.
   - Não vi nada. Você vai ter que contar a verdade para nós. - falou pelas outras, que estavam absortas em seus próprios pensamentos e portanto, incapazes de dizer qualquer coisa. E se fosse uma delas no lugar de ? - Só não precisa ser agora.
   - Ótimo, eu preciso respirar. - A garota caminhou para o prédio da escola, ignorando os burburinhos que ainda restavam. Se tivesse olhado para o outro lado do pátio, teria visto que Kennedy também não estava em seu lugar habitual e assim teria evitado encontrá-lo.
   O corredor do primeiro andar estava vazio, por mais incrível que aquilo parecesse. caminhou por ele distraída, até ouvir uma voz fria por trás de si, que a fez se virar.
   - Você é ridícula.
   - Eu? Achei que você tivesse dito que não contaria nada.
   - E eu não contei. - Kennedy sorriu torto, levantando uma sobrancelha em desafio e dando alguns passos em direção à garota.
   - Ah é, claro que não. - Ela rolou os olhos, nervosa. Ainda por cima era cínico.
   - Que bom que estamos entendidos. - Deu mais um passo para frente. Entre eles não havia mais do que um metro de espaço agora.
   - Cínico mentiroso.
   - Foi você quem mentiu, linda.
   - Não menti. Você me agarrou sim.
   - Sem dúvidas. - Ele chegou ainda mais perto. A respiração de começava a ficar desregulada.
   Ela se sentiu fraquejar e tentou recuar, mas acabou encostada nos armários.
   - Mas você mentiu. - Sua voz era calma e aveludada. Da mesma forma que quando ele cantara para ela. Aquela voz a deixava fora de si.
   - Menti em quê? - Sentiu sua voz falhar e seus olhos traidores resolveram mirar os lábios do garoto. Estavam perto demais.
   - Você disse que você não queria. - Ele sorriu percebendo a confusão da garota.
   - E como você tem tanta certeza de que isso é mentira?
   - Hmm, deixe-me ver: seus olhos, seu corpo... - Ele traçou uma linha imaginária pelos ombros desnudos da garota, sentindo-a se arrepiar. - Você quer agora. - Riu convencido, atiçando a raiva da garota.
   - Não provoca. - Ela disse agora mirando seus olhos. - Isso é só um jogo.
   - Um jogo? - Passou o polegar levemente sobre os lábios dela.
   - É. - Tentava ter o controle da situação, mas Kennedy era melhor do que ela naquilo. Ele riu.
   - Eu gosto desse jogo. Do jeito que nós o jogamos.
   - Você é um canalha. - Ela sorriu com desprezo.
   - Você é linda. - Kennedy se aproximou até que seus rostos estivessem a milímetros de distância. fechou os olhos e ele sorriu. Não seria assim tão fácil dessa vez. Ele encostou de leve seus lábios nos dela e se afastou, deixando-a tonta e confusa. - No nosso jogo, eu dou as cartas. - Foi tudo o que ele disse antes de dar as costas para ela. estava atônita demais para ter qualquer reação, ainda recuperando seus batimentos cardíacos.
   Quando finalmente voltou à sua consciência, encarou frustrada o caminho percorrido por Kennedy e murmurou um filho da puta, que foi ocultado pelo sinal.
   Se o objetivo de Kennedy era deixá-la maluca, então parabéns, ele estava conseguindo.

Capítulo VI

- A música ocupa um grande espaço na vida dos jovens do mundo todo...
   - Influenciando sua maneira de se vestir, agir e pensar. Isso tá ótimo! - Garrett e preparavam sua apresentação sob uma enorme árvore, num dos pátios com menor movimento.
   - Mesmo?- se sentia insegura, pois, mesmo gostando de escrever, há muito ela não praticava.
   - Mesmo. Você é boa. - O garoto riu, encarando-a com seus olhos azuis que , secretamente, achava lindos.
   - Você é estranho. - Deu a língua e Garrett a olhou sem entender.
   - Eu sou um dos losers, não sou? - Sentiu-se triste, dando-se conta de que aquilo não passava de um trabalho escolar e que ele não tinha importância nenhuma para a garota. Quando acabasse, tudo voltaria ao normal.
   - O quê? - Ela riu. - Não, não. Não é por isso. É que... - Suas bochechas ficaram rosadas, instigando a curiosidade de Garrett.
   - É que... - Incentivou, chegando mais perto de .
   - Não sei, você me trata de um jeito diferente dos outros garotos. Você olha pros meus olhos e não para o meu corpo.
   A cada palavra ficava mais vermelha. A vontade de Garrett era tomá-la nos braços naquele momento, mas não queria assustá-la.
   - Isso é bom? - Ele riu engraçado.
   - É... Acho que sim. - Respondeu de um jeito meigo. - Você tem namorada? - A pergunta saiu tão espontânea que Garrett quase engasgou. nem sequer corou, ela costumava ser sempre direta, mas não de um jeito evasivo. Era como uma criança perguntando para os pais de onde vinham os bebes.
   - Eu não. Por quê? - Tentou parecer descontraído, mas sentiu-se falhar na missão.
   - Hmm... Então, se você tivesse, como a trataria? Assim, se você gostasse dela de verdade. - parecia distraída, mas estava atenta à resposta de Garrett. Gostava de conversar com ele, sentia que podia confiar nele para qualquer coisa.
   - Bom... - Ele se ajeitou de forma que pudesse ficar frente à frente com a garota. Estavam ambos com as pernas cruzadas, que acabavam encostando uma na outra, devido à proximidade. - Primeiro eu a lembraria sempre do quão especial ela é. Depois... - Ele riu - Quando estivéssemos conversando, sempre olharia em seus olhos e não para qualquer outra parte.
   - Nem pra outras garotas? - Ela sorriu de leve e ele fez que não com a cabeça.
   - Eu andaria de mãos dadas com ela e escreveria uma poesia...
   - Ou uma música.
   - Ou uma música. - Concordou sorrindo. - Inventaria um apelido legal pra ela, a apresentaria para os meus amigos e faria um jantar especial pra ela.
   - Você sabe cozinhar?
   - Não muito, mas restaurantes existem pra essas coisas. - Os dois riram. - E no domingo de manhã, acordaria ela com flores.
   - Quais?
   - Margaridas. - Respondeu sem nem pensar, com um sorriso esperto.
   - Amo margaridas.
   - "Eu sei." - Pensou. - E por fim, tentaria ser o melhor amigo dela, em todos os momentos. - Ela abriu os olhos, que fechara para imaginar as coisas que Garrett dizia e suspirou.
   - Ela seria uma garota sortuda. - Sorriu fraco. Garrett só balançou a cabeça.
   - Devíamos terminar logo esse texto.
   - É, devíamos. - Sorriram um para o outro, voltando suas atenções para as folhas ao redor deles, mesmo que superficialmente, pois ambos ainda absorviam o que acabara de acontecer ali.

- Porcaria! - jogou-se na cama de casal de assim que as garotas entraram no quarto dela. Era um cômodo razoavelmente grande, com fotos de caras sem camisa nas paredes, pintadas de um tom pastel claro. Fora a cama, um closet imenso tomava metade do quarto, deixando um pequeno espaço para uma escrivaninha, onde normalmente ficava o notebook da garota, quando este não estava jogada sobre a cama ou qualquer outro lugar suspeito.
   - Que é, menina? - sentou-se ao seu lado, empurrando sua perna para ter espaço na cama.
   - O Matt passou a aula toda tentando me agarrar.
   - E isso é ruim? - sentou-se na cadeira da escrivaninha, procurando o notebook que devia estar ali. - Vocês já ficaram algumas vezes até.
   - É, ele é gostoso. - fez coro.
   - E minha nota, como fica?
   - Aposto que se arrependeu de dispensar o Monaco. - riu e deu um pulo exaltada.
   - Nunca! - Negou, com a mão na altura do coração, recuperando seus batimentos cardíacos. Se arrependera sim, mas nunca confessaria isso.
   - Acho que ele e a Camille tão de rolo. - comentou examinando as unhas. Precisava de uma manicure urgente. sentiu-se empalidecer.
   - Sério? - olhou para a amiga, levemente interessada pela vida amorosa de um dos losers. - A Camille com um loser? Ela deve gostar dele né?
   - Acho que ela não se importa. - deu de ombros. Aquilo também não fazia diferença para ela. - Eles são legais, sabe?
   - Como você sabe? A gente nunca falou com eles. - não se sentia confortável falando sobre os losers e não gostava de saber que agora eles faziam parte dos assuntos frequentes das amigas.
   - Bom, teve o dia na casa da e depois na pizzaria...
   - Todos com o Patzinho. - sorriu. Já percebera um clima entre Pat e e até aprovava aquilo.
   - É, e depois, na festa da Lana, eu fui embora com o Pat e o Garrett.
   - Foi? - de repente sentiu seu interesse no assunto crescer.
   - Fui. O Garrett... - olhou para e depois para - Não tava se sentindo bem, então eu e o Pat o levamos para casa. Depois seu primo - Olhou para - Me deixou na minha.
   - O Pat é tão fofo. - piscou com os olhos brilhantes.
   - Sei, e o que vocês ficaram fazendo sozinhos no meio das escuras e desertas ruas de Tempe, hmm? - sorriu com malícia, mexendo as sobrancelhas freneticamente.
   - A não é você, ok, ?- defendeu a amiga no meio de risadas. - Sua ninfomaníaca!
   - Vai se foder. - Riram.
   - Bom, o Pat me contou alguns podres sobre a , eu contei outros...
   - Traidores! - ficou em pé na cama de e abriu os braços para o alto. - Meu primo e minha amiga conspirando contra mim!
   - Dramática! - riu. - , sabe se ele vai ao pub no próximo sábado?
   - Sei não. Por quê?
   - Nada. Ele disse para nós irmos.
   - Ah claro, nós nem pretendíamos ir mesmo, né? - rolou os olhos.
   - Alguém conhece a banda que vai tocar lá?
   - The Maine né? Nunca ouvi falar.
   - Nem eu.
   - Eu nem sabia que alguém dessa cidade tinha capacidade para tocar algum instrumento. - As cinco riram.
   - , você vai apodrecer no inferno. - balançou a cabeça ainda rindo.

- Dez dias, rapaziada! - Pat começou a pular pela casa de Kennedy.
   - Tá bom, macaca, segura esse animo aí pro dia do show.
   - O que a gente vai tocar? - Garrett pegou uma cerveja sobre a mesa de centro da sala e a abriu. Tinham muita sorte dos pais de Kennedy serem legais, ou burros, o bastante para deixar Kennedy morando sozinho naquela casa enquanto eles viajavam pelo mundo.
   - Count'em one, two, three, Come Back Down e...
   - Precisamos de algo que o pessoal conheça e curta, pra chamar atenção. - Jared sugeriu, coçando o queixo.
   - Música de mano. - Pat gritou da cozinha, derrubando uma panela no chão enquanto pegava comida no armário.
   - Eu sei cantar I Wanna Love You, do Akon. - Kennedy deu de ombros.
   - Serve! Eu sei essa também. - John sorriu animado.
   - Ok, mas a gente precisa adaptar.
   - Lógico né, Jary, amor da minha vida. Ou você espera que eu dê uma de Snoppy Dog no palco?
   - John, você é muito gay, na boa. - Jared empurrou o amigo de perto de si, pegando uma cerveja para ele também.
   - Pat, o Tim já falou mesmo com o cara né? - Garrett foi até a cozinha, atrás de Pat.
   - Já sim, The Maine tá confirmado.
   - Que outra opção ele tinha afinal? - John deu a língua.
   - Pergunta retórica? - Jared perguntou.
   - Pergunta retórica.
   - Como tá indo os trabalhos de vocês? - Pat se sentou em um dos sofás, e Garrett fez o mesmo a seu lado.
   - O meu tá ótimo.
   - É? A tá sendo boazinha com você? - John fez biquinho, zoando o amigo.
   - Estamos nos dando bem. - Disse com o peito estufado, orgulhoso de si mesmo. Os outros sabiam o quão importante isso era para ele, por isso resolveram não zoá-lo por enquanto.
   - A Camille é inteligente e legal, então estou bem também.
   - Mas você queria a que eu sei.
   - Eca, eu passo. - Desviou os olhos para um canto qualquer da sala, sentindo a bebida descer rápido demais, queimando sua garganta mentirosa. Na verdade o que ele mais queria era estar com novamente. Estar bem com ela, mas aquele era um sonho distante.
   nunca teria a coragem necessária para voltar para ele. Era orgulhosa demais para isso também.
   - A é mais gostosa. - Kennedy juntou-se à John na missão de perturbar os amigos.
   - E mais chata.
   - Nem vem, você gosta de sofrer. - Kennedy apontou, quase gritando.
   - Esse é o John. - Pat se intrometeu.
   - Ah é! E você, como tá ein, John?
   - A Anabelle só reclama. No final, só quem trabalha sou eu e a .
   - E ela tá sendo boazinha com você? - Garrett imitou John, para se vingar.
   - Quando ela resolve não se esconder atrás das coisas e olhar pra mim, sim.
   - É que você é feio. Ninguém gosta de olhar pra você. - Kennedy zoou, recebendo um olhar assassino em troco.
   - E você e a Pâmela?
   - Ela não tem cérebro, é oficial. Mas tá de boa.
   - Cara, não acredito que você pegou mesmo a . - John lhe deu um tapa nas costas. - O que você fez?
   - Macumba! - Pat gritou.
   - Amarração!
   - Boa Noite Cinderella! - Jared entrou na brincadeira, mas Pat e Garrett o olharam com cara feia.
   - Podia ter dito HooDoo.- Pat deu a língua.
   - É, acabou a graça. - Garrett fez o mesmo.
   - Um dia eu conto meus truques pra vocês. - Kennedy piscou. - Ah, tem uma música que eu quero que a gente toque.
   - Oba, música nova pra The Maine! - John bateu palmas.
   - Vou pegar o violão, preparem-se. Tenho certeza que vai causar bastante impacto em algumas pessoas. - Fez um olhar de mal, sorrindo para si mesmo. Tornaria aquele jogo o mais divertido possível.

Capítulo VII

Para o trabalho de sociologia eram usadas as aulas de todas as turmas do segundo ano, de forma que as duplas reuniam-se praticamente todos os dias.
   Naquele dia em especial, tudo o que mais queria era que o tempo passasse logo, para que ela não precisasse fingir estar tudo bem enquanto dividia seu precioso ar com Anabelle e também enquanto o perdia com as risadas gostosas de John quando esse aloprava a outra. A cada dia que se passava ficava mais difícil negar a força magnética que a ligava à O'Callaghan.
   Só queria que aquele trabalho acabasse logo, por isso, assim que o sinal tocou anunciando que todo o segundo ano estava liberado para fazer o trabalho, foi com pressa organizar o trabalho, pretendendo terminá-lo o mais rápido possível.
   Após alguns minutos trabalhando sozinha, viu John aproximar-se e respirou fundo, preparando-se para o que estava por vir.
   - A Annabelle faltou. - John encontrou no lugar em que sempre se encontravam para a aula de Sociologia.
   A garota trabalhava em um cartaz e mal olhou para John por muito tempo, só mirando-o de relance.
   - Por que você faz isso? - Ele suspirou cansado, sentando-se ao lado da garota no chão.
   - Isso o quê? - Afastou-se um pouco para que John arrumasse suas enormes pernas no espaço, mas continuou sem olhar para ele.
   - Isso. - John fez com que virasse o rosto para ele, segurando-a pelo queixo. - Esse muro que colocou ao seu redor, quando vai me deixar ver a porta?
   - John, não começa. - Virou o rosto, tentando escapar daquele par de profundos olhos verdes. Não aguentaria ter que rejeitá-lo novamente.
   - Então não me trata desse jeito, por favor. Qual é o problema comigo, afinal? Eu posso ser dos losers e eu sei que não sou nem um pouco popular, mas...
   - Qual o problema com você? - o encarou com a testa franzida e a boca entreaberta.
   - Eu sei que você sente alguma coisa por mim, por mais insignificante que seja.
   - John...
   - É por que eu sou um loser, não é? - Fez careta com o apelido. Não se importava nenhum pouco em ser popular e tão pouco com o que os outros pensavam dele, mas com era diferente. Ele precisava dela, precisava saber se ela era como as outras ou não.
   - John, cala a boca! - elevou a voz, não suportando mais aquela situação. A expressão triste de John fazia com que ela se sentisse mal também. Ele a obedeceu confuso. - Eu queria que isso fosse mais fácil. - Suspirou.
   - Mas pode ser. - Ele pegou a mão da garota e a colocou sobre seu coração. - Tudo o que eu quero é estar com você. Isso não é complicado, é?
   - Mas...
   - Shiu. Esquece o mundo só por um instante, ok? O que você quer?
   Eles estavam frente à frente, com apenas centímetros separando seus rostos. O silêncio naquela parte da escola contribuiu para que parasse de pensar por um momento.
   O que ela queria? Essa era fácil, John, mais do que tudo. Queria que tudo fosse simples. Queria ter certeza que suas amigas aceitariam aquilo, pois não queria ter que mentir para elas e...
   Não, precisava manter o foco.
   - Eu... - Seus olhos foram dos olhos para a mão de John que cobria a sua junto ao coração dele, batendo descompassado. O garoto mal respirava, mas não tirou seus olhos dos dela.
   Sorrindo, libertou-se da mão do outro. John a encarou confuso e ela balançou a cabeça negativamente antes de ajoelhar-se de frente para ele, colocando seus braços ao redor de seu pescoço.
   Automaticamente John descruzou as pernas para que pudessem ficar mais próximos.
   Estavam numa posição engraçada que os fez sorrir antes de colocarem seus lábios em um beijo calmo.
   Eles ficaram daquela forma até o sinal tocar, levando-as de volta ao mundo real.
   - John... - Chamou com dificuldade, separando-se do garoto de lábios vermelhos.
   - Ah não, fica aqui comigo. - Fez um biquinho que deixou com vontade de mordê-lo.
   - Não, temos que voltar! - Ela riu, empurrando-o de brincadeira.
   - Eu não gosto de fingir que a gente não se conhece. Ainda mais agora que...
   - Agora quê?
   - Agora que você me deu uma chance. - Mordeu o lábio. Não tinha certeza do que tinha acabado de acontecer e não queria assustar a garota.
   - Hmm, tadinho. - Mordeu o lábio inferior de John, que sorriu, puxando-a para mais um beijo.
   - Vai à minha casa hoje à noite? - Perguntou apreensivo.
   - Me empresta seu celular. - John colocou o aparelho na mão de , que digitou alguma coisa e o devolveu para o garoto, tomando impulso para levantar-se. - Tchau.
   - Só mais um beijinho? - Ele fez bico e rolou os olhos antes de dar-lhe um selinho e sair correndo. - Hey, você não me respondeu!
   Observou afastar-se correndo, acenando para ele. Suspirando, pegou o celular para ver o que fizera e sorriu ao ver seu numero na agenda de contatos.
   "Você vai?" - Digitou a mensagem e ficou esperando a resposta.
   "Vem pra sala, garoto! E me passa seu endereço."
   Riu. Não estava em seus planos voltar para a sala, então ficou lá sentado, processando o que acontecera.

foi direto para casa naquele dia. Mal podia acreditar em tudo aquilo.
   Tomou banho e passou a encarar seu reflexo no espelho: suas bochechas estavam rosadas, os olhos brilhavam e um sorriso bobo não saia de seus lábios. Passou os dedos de leve neles, lembrando-se de mais cedo, do toque macio dos lábios de John nos dela.
   - Deu deus, eu to muito fodida. - Riu sozinha, escolhendo uma roupa leve antes de jogar-se na cama, pegando no sono depois de um tempo.
   Acordou com a mãe chamando-a e batendo em sua porta. Resmungando, jogou o travesseiro na porta, vendo-a abrir-se em seguida.
   - Filha, eu e seu pai vamos sair e eu preciso que você fique em casa com sua irmã.
   - O QUÊ? - Gritou, abaixando o tom quando a mãe a olhou feio. - Eu não posso ficar!
   - Bom, vai ter que remarcar seu compromisso, porque isso é uma ordem. - Seu pai entrou na conversa. bufou.
   - Isso é tão injusto! - Entrou no banheiro de sua suíte batendo a porta. Não podia acreditar que teria que ficar de babá bem naquela noite. Sentou-se sobre o mármore gelado da pia e fechou os olhos com força, procurando acalmar-se.
   - Já estamos indo. - Ouviu a voz autoritária de seu pai do outro lado da porta, mas não a abriu. Ficou onde estava até ouvir o som do carro deixando a garagem da casa.
   Saiu do banheiro e ainda ficou um minuto parada na porta, pensando sobre o que faria.
   - Maninha, to com fome! - Jane, a irmã caçula de apareceu na porta de seu quarto, fazendo cara de coitada.
   Ela tinha sete anos, cabelos escuros cacheados e uma voz que achava terrivelmente irritante, assim como a sua habilidade de arruinar sua vida.
   - Se vira, Jane. E sai do meu quarto. - Respondeu irritada.
   - Papai mandou você cuidar de mim!
   - Eu vou grudar chiclete no seu cabelo se você não me deixar em paz. - Dito isso, Jane saiu correndo e chorando para o seu quarto.
   olhou para o relógio em seu criado mudo, que marcava quinze para as oito.
   - Merda! - Pegou o celular, procurando um número para o qual discou.
   - ? Espero que goste de macarrão, porque sinceramente é tudo o que eu sei... Ai! - Ouviu o som de metal chocando-se contra o chão e sorriu morbida. Ele parecia tão animado. - Só o que eu sei fazer. Você tá ai?
   - Ahan. Adoro macarrão.
   - Ótimo - Ouviu-o sorrir. - Tá tudo bem? Por que ligou? Não que você não possa, mas... - A voz de John saiu um tanto preocupada, mas séria do que antes. mordeu o lábio, não queria dizer o que tinha para falar.
   - John, meus pais saíram e eu tenho que ficar com minha irmã. - Fechou os olhos, tensa. Podia sentir o desapontamento do garoto, mesmo por telefone. - Sinto muito.
   - Tudo bem, acontece. - Forçou um sorriso.
   - Tá tudo bem?
   - Tá, sem problemas. - Embora ele se esforçasse para fazer uma voz normal, podia sentir certa tristeza nela.
   - Bom, então... Nos vemos amanhã.
   - Tchau.
   desligou, sentindo-se péssima. Sabia que John ficara mal, mesmo que ele negasse. Desceu as escadas e ligou a TV num canal qualquer, só para passar o tempo.

- Merda! - John jogou a louça na pia com raiva e foi para a sala ligar para Garrett.
   - Alô? - Ouviu a voz preguiçosa do amigo.
   - Tava dormindo?
   - E ai, John! Cadê a ? - Garrett fora o único dos amigos a quem John contara o que acontecera. Sabia que ele o entenderia sem julgá-lo.
   - Ela não vem.
   - Ih, já cansou de você?
   - Vai se foder. - Respondeu, sem humor para as piadas do amigo. - Ela vai ter que ficar de babá.
   - Que barra. E você vai desistir assim?
   - O que você quer que eu faça?
   - Vai na casa dela.
   - Na casa dela?
   - É, os pais dela não estão, certo? Se ela vai ficar de babá.
   - Não, mas...
   - Vai logo, para de ser brocha!
   - Diz o cara que é apaixonado pela vizinha e nunca pegou ela.
   - E o que é que tem? - A voz de Garrett saiu mais fria, mais grave.
   - Esquece. Acho que você tem razão.
   - Eu sempre tenho. Agora tchau porque você tá atrapalhando minha seção de cartoons.
   - Nerd nojento!
   - Bicha. - Desligaram ao mesmo tempo, ambos rindo.
   Ir até a casa de podia ser arriscado, mas John não estava ligando para riscos naquele dia. Não quando tudo estava dando tão certo.

Uma sombra moveu-se devagar perto da cozinha, chamando a atenção de .
   - ... - Jane entrou na sala fazendo bico. - Eu to mesmo com fome. - A pequena ajoelhou-se na frente da irmã, fazendo essa rolar os olhos, rindo.
   - Ok, vejamos o que a gente acha pra comer, coisa chata. - Foi rindo até a cozinha, com a irmã mais nova em seu encalço.
   - Mamãe não fez comida e eu não quero lanche.
   - Mas eu não sei fazer comida! Merda, mamãe não deixou nada pronto mesmo? - Procurou em todos os lugares possíveis (e impossíveis) para se encontrar comida, mas não encontrou nada pronto. Sentiu seu estomago roncar e olhou para a irmã, que a olhava de volta com cara de cão abandonado.
   - A gente pode ligar para algum restaurante. Pega a lista telefônica pra mim.
   - Certo. - Enquanto a menor procurava a lista, a campainha tocou, chamando a atenção das duas.
   - Quem será? - caminhou até o hall, tentando adivinhar a identidade do visitante. Não estava esperando ninguém. - Quem é? - Perguntou, já que era impossível enxergar alguma coisa no escuro da noite através do olho mágico.
   - É... Oi? - A voz de John fez-se ouvir do outro lado da porta, deixando a garota sem ar. O que ele fazia ali?
   - John? - Abriu a porta, encontrando o garoto com uma regata branca, calça skinny, all star e uma sacola na mão. Ele sorriu sem graça para a garota que o olhava quase de boca aberta.
   - Trouxe comida. - Coçou a nuca, levantando a sacola para que ela pudesse ver. Sentiu-se corar enquanto abria um sorriso para ele.
   - Comida? Ah, você salvou a nossa noite! - Jane surgiu por trás da irmã e John sorriu para ela. - A não sabe cozinhar e não tinha nada aqui.
   - Jane! - corou, olhando curiosa para John. Estava estranhando que ele estivesse ali.
   - Manda ele entrar! - Jane puxou pela blusa, fazendo-a despertar do transe.
   - Ah, claro. - Deu espaço para o garoto entrar na casa.
   - O que você trouxe? - Jane concentrou-se na sacola de papel na mão do garoto.
   - Macarrão. Você gosta?
   - Gosto! - A mais nova foi pulando até a cozinha, deixando os outros dois para trás, ambos sem saber como agir.
   - O que você...
   - A comida já estava pronta e eu achei que...
   Eles falaram ao mesmo tempo, tão rápido que ambos riram.
   - Tá tudo bem eu ter vindo?
   - Claro. - sorriu. - Você é o herói da noite.
   - Sou?
   - Ahan. - Riu para ele. - Vem, quero ver se você cozinha bem. - Puxou-o pela mão até a cozinha, onde Jane já esperava sentada na mesa.
   Arrumaram a mesa bem simples e logo os três já comiam, conversando sobre banalidades -até porque Jane estava lá também- por todo o tempo.
   - Você podia ensinar minha irmã a cozinhar um dia desses. - Jane comentou fazendo os outros rirem.
   - Claro. - Ele sorriu sugestivamente para a mais velha.
   - Quem é você? - A menor teve a ideia de perguntar, dando-se conta de que não conhecia o garoto.
   - John, e você? - Sorriu simpático. A pequena fez uma expressão que lhe lembrou de , com a testa levemente franzida.
   - Jane. - Ela riu. - Você é namorado da ? - engasgou e John ficou vermelho no mesmo instante.
   - Nós somos... amigos. - respondeu, sendo apoiada por John. - E nem pense em abrir a boca pro papai e pra mamãe.
   - Chata. - Jane mostrou a língua, bocejando em seguida. - To com sono.
   - Isso, vai dormir.
   - Eu vou porque eu quero, porque você não manda em mim. - A mais velha rolou os olhos e John riu da cena. – Tchau, John.
   - Boa noite. - Ele respondeu, vendo a pequena subir as escadas para o segundo andar.
   - Tá rindo de quê? - começou a tirar a mesa.
   - De você e da mini - Levantou-se também, para ajudá-la.
   - Mini ? - Levantou a sobrancelha.
   - Ela é teimosa como você. - John sorriu, segurando a garota pela cintura.
   - Idiota. – Retribuiu o sorriso, enlaçando-o com os braços pelo pescoço.
   - O idiota aqui é o herói da noite. - Apontou para si mesmo, com uma sobrancelha levantada.
   - Estou te devendo uma então. - Começaram a mover-se lentamente de um lado para o outro, como se dançassem.
   - Acho que sim. - Colou seus lábios nos dela, pedindo permissão para aprofundar o beijo.
   John apertou sua cintura com força, enquanto brincava com seus cabelos, puxando algumas mechas de acordo com o ritmo do beijo.
   Caminharam às cegas pela cozinha até as costas da garota baterem em uma superfície sólida, que ela julgou ser o balcão.
   John a levantou sem dificuldades, colocando-a sobre o móvel e encaixando-se entre suas pernas, sem quebrar o beijo, que tornava-se cada vez mais intenso devido ao desejo que um tinha de sentir o outro. Como se quisessem recompensar todo o tempo que um foi privado do outro.
   - John... - partiu o beijo, quase sem conseguir falar. - A gente tá indo muito rápido.
   - É, acho que me empolguei. - Riu, sem conseguir tirar os olhos dos lábios agora avermelhados da garota.
   - Eu também. - Puxou-o pela camisa, voltando a beijá-lo. As mãos dela não conseguiam decidir-se entre o peito, o pescoço e os cabelos do garoto, enquanto este tinha o mesmo problema entre a cintura e o quadril dela.
   - Eu acho... - Dessa vez foi ele quem se afastou, depois de alguns minutos de intensos amassos. - Que é melhor a gente parar, porque... - Ele olhou para baixo e o acompanhou, ficando vermelha em seguida.
   - É... Me ajuda a descer. - Segurou-se em seus ombros, enquanto John a segurava pela cintura, colocando-a no chão. - Obrigada. - Ela sorriu, sentindo a pouca distancia entre eles voltar a afetá-la. Sem resistir, beijou-o novamente.
   John apertou a cintura da garota sob sua blusa e pode sentir a empolgação do garoto, enquanto o puxava pela camisa até o sofá da sala.
   Enquanto caminhavam às cegas, a lembrança do que aconteceu com e Kennedy, só por eles terem ficado, fez com que a garota parasse no meio do caminho, sem saber o que fazer. John a olhava de volta, talvez mais confuso do que ela mesma.
   - É, eu acho que é melhor a gente parar por aqui. - recuou um passo, enquanto John assentiu lentamente, tonto.
   - Você devia ir embora. - Ela disse, respirando fundo, tentando parecer firme. - Eu não quero problemas.
   - Que tipo de problemas? - Sua voz saiu mais grossa do que o pretendido. Sentia que ele era o problema e que aquela conversa não acabaria bem.
   - Nenhum tipo. - Disse seca.
   - Ah, claro. Eu sou o problema. - Rolou os olhos, com um sorriso mórbido. Então era aquilo. Ela tivera o que queria dele, agora o descartaria.
   - John, você sabe o que aconteceu com a e o Kennedy.
   - Mas eu não sou o Kennedy. E você não é a .
   - Sempre que nossos grupos se juntam, algo dá errado.
   - Não precisa ser assim.
   - É assim. Eu não queria que fosse, mas é.
   - Não queria? Porque eu não te vejo fazer nada para mudar isso. - John começou a perder a paciência. Ela não podia estar desistindo agora que eles finalmente começaram algo.
   - Isso não é justo! - retrucou. Ele não podia simplesmente jogar toda a culpa nela. Afinal, quem era mal visto naquela escola era ele.
   - Não mesmo. - O garoto caminhou até a porta, sem esperar por , que o seguia de perto, sem saber o que fazer. Ele estava fazendo o que ela pediu e indo embora, certo? Então por que doía tanto vê-lo partir?
   - Eu não quero que você vá embora assim.
   - Como? - Suspirou quando colocou-se em sua frente, impedindo-o de terminar seu percurso. O que ela queria dele afinal?
   - Com raiva de mim. Já temos problemas o bastante sem você me odiar. - Respondeu, baixando a cabeça.
   - Hey! Eu nunca poderia te odiar. - John a segurou pelo queixo, fazendo-a olhar para ele. Ela sorriu levemente.
   - Não?
   - Não. - Ficaram se encarando em silêncio, até que John lhe desse um beijo carinhoso na testa. fechou os olhos para aproveitar melhor aquela sensação. - Abre a porta?
   - Claro. - Ela sorriu fraco. - Até amanhã. - John assentiu e foi embora sem olhar para trás. Não sabia como eles ficariam, mas estava contente de não ter acabado em tragédia.
   fechou a porta quando John dobrou a esquina e suspirou. Não sabia o que fazer. Tudo parecia tão errado e, ao mesmo, tempo tão certo. As coisas deveriam ser mais fáceis. Enquanto parte de si sentia-se feliz pelo o que acontecera, a outra se sentia culpada e triste. Odiava o fato de não poder dividir aquilo com suas amigas.
   Fechou os olhos, assistindo os acontecimentos de ainda a pouco passarem como um filme acelerado em sua mente.
   Passou o dedo levemente em seus lábios um pouco doloridos e não pode deixar de sorrir. De uma coisa ela tinha certeza: não havia nada mais certo do que os dois, não mesmo.

Capítulo VIII

- Eu ainda acho esse trabalho ridículo!
   - Ainda bem que sua opinião não importa, querida. - abriu seu sorriso mais falso para Annabelle.
   - Eu também faço parte do grupo, querida. - Devolveu, no mesmo tom da outra.
   - É, ela pode dar a opinião dela. - John se intrometeu, recebendo um olhar incrédulo de . - Mas nós sempre iremos ignorar. - Annabelle bufou ao mesmo tempo em que riu.
   - Bel, linda, já que você quer tanto ajudar, por que não busca outra cartolina pra nós? - fez biquinho.
   - Vem comigo, John?
   - To de boa. - O garoto deitou-se na grama, fechando os olhos para protegê-los do sol.
   - Tomara que morram. - A outra praguejou antes de deixar os dois rumo ao prédio da escola.
   - Também te amamos! - gritou, vendo a outra afastar-se.
   - Por que você a odeia tanto? - John ainda estava deitado, com os braços atrás da cabeça e olhos fechados. teve que se concentrar em responder à pergunta e não ficar admirando o quão divino ele parecia daquela forma.
   - Não sei, só não gosto dela. - Mentiu. Finalmente tinha um momento a sós com o garoto desde a noite em sua casa e não queria desperdiçá-lo falando sobre Annabelle. Como ele não disse mais nada, ficou só admirando o rosto do garoto, que brilhava com o sol, deixando-o ainda mais lindo, até que este sentiu-se observado e olhou-a de volta só com um olho aberto.
   - Tá tudo bem? - Perguntou, vendo a garota corar.
   - Você é lindo. - Sentiu as palavras escaparem de sua boca e amaldiçoou-se por isso, ficando ainda mais vermelha.
   - Você tá me cantando? - Ele riu. - Eu me esforço.
   - Metido. - Fechou a cara, não aguentando fixar seus olhos nos dele de tanta vergonha.
   - Desculpa, o que você quer que eu responda? - Levantou-se, ficando extremamente perto dela.
   - Eu... - tentou formular alguma frase coerente, mas era impossível estando tão perto assim de John.
   - Você é linda. - Tirou uma mecha de cabelo do rosto da garota. - Ainda mais quando está com vergonha, ou brava.
   Sem pensar, acabou com a distância entre eles, jogando-se sobre John. Aquele beijo tinha vários sentimentos compreendidos, sentimentos que mesmo eles não sabiam classificar e estavam cansados de esconder.
   - Acho que ela tá voltando. - empurrou John, rindo.
   - Que se dane! - Ele a puxou de volta.
   - Não, John! - Riram. - Saí de perto!
   - Má. - Deu a língua, acompanhando a volta de Annabelle.
   - Aqui sua cartolina. - Jogou a folha em e sentou-se no chão, emburrada. Annabelle funcionou como um pilar entre os dois e mesmo que eles não tivessem mais nenhum momento a sós, se divertiram trocando olhares nada angelicais.

- Hey, Nickelsen!- Garrett ouviu uma voz doce chamá-lo e parou, virando-se para trás.
   - ?
   - Oi!- Apoiou-se no ombro do garoto, tentando recuperar o fôlego perdido em função da corrida para alcançá-lo. Era nisso que resultava uma vida sedentária. - Achei que não fosse olhar para trás nunca.
   - Tá tudo bem? - Olhou ao redor, checando se não havia mais ninguém conhecido na rua.
   - Fui a pé pra escola e agora tenho que voltar a pé. - Fez careta.
   - Ah...
   - E como estamos indo para o mesmo lugar, eu pensei que podíamos ir juntos. Topa? - Ela sorriu, inclinando a cabeça para o lado e Garrett não pode evitar de sorrir também.
   - Claro. - Eu tava pensando... Você vai amanhã ao pub? - Perguntou quando voltaram a andar, lado a lado.
   - Ainda não sei. - Mentiu. Se dissesse a verdade os garotos o matariam. - Por quê?
   - Seria legal se você fosse.
   - Mesmo? - Levantou uma sobrancelha.
   - Ahan. Eu podia até falar com você.
   - Ah, obrigado. - Ele riu com sarcasmo.
   - Não, é que... A gente não se fala na escola, porque nossos amigos meio que se odeiam, mas fora de lá ninguém pode controlar com quem eu falo! - Isso faz de mim seu amigo só fora da escola? - Ele fez careta. tinha no mínimo um jeito único de se expressar.
   - É. - sorriu como uma criança. - Eu gosto de conversar contigo, parece que você me entende.
   - É... Mais ou menos. - Ele deu a língua, recebendo um tapa.
   - Desde quando nós somos vizinhos? - perguntou enquanto eles viravam a esquina de sua rua, pegando o outro de surpresa. Ela não se lembrava mesmo?
   - Desde sempre, acho.
   - Eu não me lembro. - Ela fez careta.
   - Você é bem esquecida né? - Garrett riu, recebendo um tapa no peito.
   - Não enche! E aparece no pub amanhã.
   - Veremos. - Fez cara de metido.
   - Chato. - Ela deu a língua mais uma vez, antes de sair correndo em direção à porta de sua casa. - Obrigada pela companhia! - Acenou para ele, já abrindo a porta.
   Garrett balançou a cabeça e foi para a sua própria casa rindo. No fundo aquela ainda era a mesma , meio esquisita, meio esquecida, que ele gostava à um bom tempo.

- Quem serão eles?
   - Acho que nem são da cidade.
   - Espero que sejam bonitos.
   - E eu tenho que ouvir essas coisas!
   Pat, e estavam esparramados pelo quarto de , discutindo sobre a tão comentada e desconhecida The Maine.
   e se encontravam deitadas no chão, com a barriga e as pernas para cima, apoiadas na parede. Pat era o único sentado de pernas de índio, rindo das especulações das garotas. O garoto não conseguia parar de imaginar como seria quando todos descobrissem a verdade.
   - Own, priminho, a gente sempre vai te amar. - mandou um beijo no ar para o primo, que rolou os olhos enquanto ria sutilmente. - Mas o vocalista vai ser meu!
   - Tomara que seja feio. - deu a língua.
   - E cante mal. - Pat completou, fazendo rir.
   - Ele vai ser lindo e terá voz de anjo. - disse sonhadora.
   - Então o baterista vai ser meu. - Pat sentiu-se corar levemente, mas tentou disfarçar. - Você vai ver, quando as músicas acabarem eu vou subir no palco e agarrar ele!
   Nesse momento Pat desenvolveu um ataque nervoso de tosse, que foi completamente ignorado pelas garotas.
   - Tomara que seja banguela e tenha uma verruga no meio da testa.
   - Não ter dentes não impede de beijar. - Deu a língua.
   - Mas é nojento. Pat, você tá bem? - caminhou de joelhos até o primo, que ainda tossia incessantemente.
   - To. - Tentou dizer em meio à tosse, mas tudo o que as garotas entenderam foi "ôô".
   - Tenho halls preto. - ofereceu preocupada.
   - Tá tudo bem. - Disse com a voz rouca quando finalmente conseguiu parar de tossir. - Érr... Que tal a gente descer e ir ver TV?
   - Tá Pat, já entendemos. - rolou os olhos.
   - É, a gente para de falar da The Maine. - completou rindo.
   - Obrigado! - Imitou o gesto da prima, indo às pressas para o primeiro andar.
   - Liga não. - deu de ombros, olhando para a amiga.
   - Ele tá bem?
   - Deve ter ficado com ciúmes do tal baterista. - Alfinetou, vendo a outra ficar vermelha.
   - Vamos descer? - seguiu os passos de Pat com pressa e riu, balançando a cabeça. Aqueles dois ainda tinham história.

- Como estou? - deu uma volta para que as outras pudessem ver seu modelito. Seus cabelos estavam lisos e soltos e sua maquiagem era leve.
   - Linda! E eu? - foi até o espelho para colocar seus brincos. Seus olhos estavam bem delineados de preto e seus cabelos estavam iguais os de .
   - Vai quebrar o recorde essa noite. - sorriu sugestivamente para a amiga, finalizando os cachos que fizera só nas pontas dos cabelos, a fim de deixá-los ondulados.
   - Vê se não pega nenhum loser dessa vez hm. - se sentou na cama de , fazendo cachinhos com os dedos em seus cabelos soltos.
   - Eles nem vão. - fez careta, terminando de colocar a meia-calça. Como sempre, só faltava ela ficar pronta. Escolhera deixar os cabelos levemente ondulados em todo o comprimento.
   - Não? - perguntou, sentindo-se aliviada de certa forma por saber que Jared não iria com Camille, que ela sabia que iria.
   - Não. - respondeu.
   - Eles são os losers, o que esperavam? Não se misturam com o resto do mundo. Vamos? - pegou o celular e as chaves do carro de , pronta para sair. Até preferia John tranquilo em sua casa do que no pub, sendo tarado por Annabelle.

- Eles vão vaiar a gente. - Pat batia na própria testa com uma das baquetas. Dali a pouco tempo seria hora da performance, e os garotos esperavam numa espécie de camarim improvisado, tentando controlar o nervosismo.
   As probabilidades de que o público os odiasse - como sempre fora, aliás-, era bem maior do que a deles serem aplaudidos no final, mesmo que todos os cinco soubessem que tinham talento.
   - Não se tudo der certo. - Kennedy era o menos nervoso entre os cinco, afinal, aquela não seria sua primeira vez em cima de um palco.
   - Vamos abrir com I Wanna Love You, né? - Garrett resolveu mudar um pouco o rumo da conversa, não querendo pensar em todas as possíveis reações das pessoas.
   - Isso. Vamos na mesma ordem do ensaio de hoje à tarde.
   - Quero saber o que vão achar da música do Kennedy. - Jared riu.
   - Se vocês me fizerem passar vergonha, eu acabo com a raça de vocês. - Kennedy apontou uma palheta para os outros, tentando parecer intimidador. Porém, tudo o que conseguiu foi que todos explodissem na gargalhada.
   - Vai se foder cara.
   - É, falou o todo poderoso. - Os quatro se entreolharam e jogaram-se sobre Kennedy, caindo todos no chão.
   Podiam ouvir uma música eletrônica tocando no pub. Assim que o DJ parasse, eles deveriam entrar no palco.
   - Estão prontos? - O dono do lugar, Mr. Rane, entrou no camarim, chamando a atenção dos garotos, que pararam de brigar, sentindo o nervosismo voltar. - Vocês entrarão daqui a pouco. - Deixou o local balançando a cabeça. Aquela juventude estava perdida.
   - Vamos tocar para nós mesmos, ok? Não pra eles. - Kennedy apontou para o lado de fora, de onde vinha o barulho. Os outros concordaram.
   - É, vamos tocar porque gostamos de festa. - Jared levantou sua guitarra, rindo.
   - É, nós adoramos festa! - Kennedy concordou, imitando o gesto.

e dançavam juntas ao som de alguma música remixada, perto de onde as outras três dançavam juntas também. O DJ era mesmo bom, mas não o suficiente para diminuir a ansiedade que todos tinham em saber quem afinal eram os caras da The Maine.
   - E aí, galera, estão se divertindo? - O DJ perguntou, diminuindo o som da música, até que ficasse quase inaudível. - Vou fazer uma pausa agora. Mas não fiquem tristes! - Completou, achando graça das expressões de WTF das pessoas. - Vocês estarão muito ocupados curtindo a The Maine para sentir a minha falta!
   Com essa declaração, ele desligou a música e deixou seu posto, provocando o início de uma série ardente de burburinhos.
   Todos se viraram para o palco, onde uma fina cortina de seda cobria tudo, só deixando passar algumas sombras. A luz, fraca, diminuiu ainda mais e uma voz rouca se fez ouvir, junto com os primeiros acordes de I Wanna Love You

Konvict...music...and you know we up front

As pessoas, intrigadas, gritaram quando reconheceram a música, e algumas até se arriscaram a cantar junto, mesmo com o arranjo diferente.
   - Eu conheço essa voz! - gritou para , que se esforçou para reconhecer também, mas não conseguiu nada. olhava pálida para o palco. Não podia ser.

I see you windin' and grindin' up on that pole
   I know you see me lookin' at you and you already know
   I wanna love you, you already know,
   I wanna love you, you already know,

Todos já dançavam e cantavam junto animados e bem nessa hora a cortina caiu, revelando finalmente os verdadeiros rostos da The Maine. Os garotos respiraram fundo e continuaram a tocar, sem ligar para os rostos surpresos e para o repentino silêncio.
   , assim como as outras, deixou o queixo cair sem acreditar. Os olhos de John se encontraram com os seus e ele sorriu para ela, sem parar de cantar.
   olhou para Pat na bateria e sentiu que poderia explodir de vergonha. Então seus olhos se encontraram e ele ficou da mesma forma, sendo obrigado a olhar para o outro lado para não errar os acordes.
   encarava Jared, mas este não retribuía, sorrindo para alguém do outro lado da plateia. Ao imaginar quem poderia ser, sentiu o sangue subir.
   olhava para Kennedy de boca aberta, sem conseguir evitar pensar o quão atraente ele ficava tocando e cantando sobre o palco. Podia dizer que ele fora feito para aquilo. Este piscou para ela rapidamente, vendo-a corar, ou de vergonha ou de raiva - ou os dois.
   Garrett olhava para , que sorriu para ele quando percebeu. Ele pulava por todo o palco, como se pisasse em um monte de pregos.

I wanna love you , you already know.

- E aí pessoas que nos odeiam! - John cumprimentou rindo, quando a primeira música acabou. Até o momento ninguém jogara nada neles, então é, estava tudo melhor do que o previsto. - A próxima música foi o Kennedy aqui quem escreveu e se chama Give Me Anything.
   A música começou e Kennedy concentrou o olhar em , que sentiu as pernas tremerem ao reconhecer a letra.
   - Filho da puta. - Xingou baixo, retribuindo o olhar com raiva. Este sorria para ela com cinismo.
   Foi inevitável não se lembrar da noite na festa de Lana, de como ele a segurava firme e de seu gosto inebriante. Da sintonia que eles tinham enquanto se beijavam. Ele não tinha o direito de fazer aquilo com ela.
   Olhando ao redor, a reação à música era positiva, mas só quem importava à Kennedy não parecia muito feliz. Era o que dava negar que sentia algo por ele.
   Quando a música chegou ao fim, ninguém mais se importava se aqueles eram ou deixavam de ser os losers e pediam por mais.
   - Muito bem, essa é do Ivory, de onde tiramos o nome da banda, e vai para algumas pessoas em especial que estão aqui hoje. Se chama Come Back Down, se vocês souberem a letra nos ajudem!
   A plateia fez barulho, aprovando a música. Coincidência ou não, as garotas entenderam muito bem o recado, embora se fingissem de desentendidas umas para as outras.
   Em Count'em One, Two, Three, John olhava diretamente para , que ria da situação, dançando com no ritmo da música.
   Garrett cantava baixinho a letra da música e olhava para vez ou outra. A garota fingia não perceber, mas na verdade achava aquilo fofo.
   Na metade da música as pessoas tentavam acompanhar a letra e quando chegou ao fim, todos aplaudiram.
   - Obrigado, gente! E mesmo que vocês voltem a nos odiar na segunda feira, isso foi foda! - John agradeceu, sentindo-se feliz que tudo saíra bem afinal.
   - E garotas, vocês estão lindas! - Kennedy assobiou e todas as pessoas do gênero feminino gritaram, enquanto os garotos presentes vaiavam. rolou os olhos, querendo dar um soco, totalmente merecido, em sua opinião, naqueles dentes tão perfeitinhos que insistiam em aparecer, na forma de seu habitual sorriso presunçoso.
   A The Maine deixou o palco e o público reclamou, pedindo por mais. Os garotos não voltaram para tocar mais nada e tampouco permaneceram no local, preferindo comemorar entre si, na casa de Kennedy.
   - Esse foi o primeiro de muitos shows! - Kennedy brindou com uma garrafa de cerveja, sendo acompanhado pelos outros.

Capítulo IX

Para a infelicidade geral, a segunda-feira não demorou quase nada para chegar. Faltava pouco para começarem as aulas e a maioria dos alunos já estava na escola, exceto, obviamente, o grupo de John O'Callaghan, os losers. Ou a The Maine, como eles poderiam ser chamados agora.
   Claro que o show do sábado era o assunto do momento e por isso todos se viraram para encarar os cinco rapazes, assim que estes entraram pelo portão da escola.
   - Por que tá todo mundo olhando pra gente? - Jared perguntou aos outros.
   - Por que será? - Kennedy rolou os olhos, enquanto três garotos do time de futebol chegavam para cercá-los. - E lá vem...
   - Aí! - Um deles chamou. - Vocês podem achar que são os tais por causa do showzinho de sábado, mas fiquem sabendo que aqui na escola sempre vão ser os mesmo otários. - Quando ele terminou de falar, os outros concordaram, balançando a cabeça como idiotas.
   - Na boa, cara. - Kennedy levantou as mãos, como se estivesse se rendendo.
   - É, não se preocupem com a gente. - John sorriu cordialmente. O outro grupo perdeu um minuto os encarando, como se quisessem intimidá-los.
   - Bom que estamos entendidos. - O que parecia ser o líder do grupo disse, mas não se moveu, dedicando-se a encará-los por mais um minuto antes de partir com suas sombras.
   - Mais um pouco e ia achar que eles queriam autógrafo. - Garrett comentou com os outros.
   - Essa gente não dá trégua. - Kennedy fez careta.
   - Ainda bem que nada mudou. - Pat suspirou. Estava até aliviado por ver que tudo continuava igual. - Não tenho a mínima vontade de virar popular.
   - É, essa gente popular é tosca. - John apoiou. - Não é pra gente.
   - Falem por vocês. Eu bem que gostaria de ter umas garotas no meu pé.
   - Ninguém pediu sua opinião, Kennedy. - Jared riu.
   - Vocês são todos gays, só pode. - Mordeu o lábio, observando um grupo de garotas de longe. Os outros olhavam para o mesmo lugar.

- A The Maine tá olhando pra nós. - rolou os olhos.
   - Para mim continuam sendo uns babacas. - imitou a amiga.
   - Eles têm talento. - abriu um pequeno sorriso, enquanto abria seu armário. a encarou. - Não dá pra negar, vai! A voz do O'Callaghan é linda.
   - Credo. - bufou, mesmo que, secretamente, concordasse. sorriu orgulhosa.
   - É. - concordou vagarosamente, sorrindo com discrição.
   - Eu até que gostei. - mordeu o lábio, esperando o olhar feio das amigas.
   - Ele canta tendo orgasmos. - disse indignada. Desde quando os losers eram elogiados por suas amigas?
   - Bom dia, meninas. - Kennedy surgiu por trás da garota, provocando-lhe arrepios. O restante do grupo estava com ele.
   - Perdeu alguma coisa aqui? - Virou-se para ele, colocando toda a raiva que sentia dele em seu olhar.
   - Minha sanidade. Pode me devolver ela, por favor? - Olhou-a nos olhos, aparentemente não se abalando com seu olhar. Ele sorria torto.
   - Queridos, só para informá-los, nada mudou aqui e vocês continuam sendo os fracassados, então...
   - É, já nos disseram isso. - John sorriu para . - O Pat só queria dar um oi pra prima dele. - Olhou para , que tentava segurar o riso. Queria agarrá-lo ali mesmo, mas algo ainda a segurava. Morria de medo da reação das amigas.
   - Oi, . - Pat cumprimentou a prima, olhando para John com suspeita. Ele não se lembrava de ser o responsável por aquele encontro. – Oi, meninas.
   - Oi. - e responderam. As outras rolaram os olhos.
   - Podem ir embora agora? - perguntou, olhando especificamente para Jared, que bufou.
   - Claro. - Garrett sorriu torto e encarou rapidamente , antes de ir embora com os amigos.
   - Como são sem noção! - reclamou. , já cansada daquela ladainha, rolou os olhos e puxou pelo braço, arrastando-a para a sala de aula.
   - Até mais tarde, meninas!
   e , que eram de uma sala diferente da das amigas, também foram para a aula, preparando-se para mais um dia tedioso de aulas.

Se tem uma coisa que deixa os alunos loucos é o sinal de término da aula tocar e o professor não liberar a turma. E era bem isso que acontecia no 2ºA, com o professor de quimica.
   Em função da agitação da turma, era mais do que óbvio que ele não conseguiria mais ensinar nada, mas mesmo assim, ele insistia em manter a porta trancada.
   - Libera a gente logo, professor! - fez bico.
   - Ok, ok. Esperem só mais um segundo...
   virou a cabeça para o fundo da sala, onde encontrou um par de olhos verdes olhando para ela. Eles sorriram um para o outro discretamente e John mexeu os lábios, dizendo algo que interpretou como "Demora pra sair da sala". Ela assentiu e voltou a sentar-se corretamente na carteira, com um sorriso bobo no rosto.
   - Podem sair. - O professor abriu a porta, quase sendo atropelado pelo mundaréu de alunos que se jogaram na porta, todos tentando sair ao mesmo tempo.
   Por fim, só restaram , , e John, que deixara cair sem querer, todo o seu material- na sala.
   - Anda logo, garota! - apressava a amiga.
   - Mas ainda não terminei de copiar a lição da lousa.
   - Podem fechar a sala pra mim depois? - O professor pediu entediado.
   - Claro. - respondeu, tentando ser simpática. Também queria sair logo da sala, não queria perder o intervalo.
   - Vão na frente, ainda falta bastante. - disse como se aquilo fosse um fardo.
   - Certeza? - olhou para John pegando (lentamente) seu material do chão. - Anda logo, ok?
   - Pode deixar.
   John esperou cerca de dois minutos para ter certeza que as garotas estariam longe, antes de aproximar-se de .
   - Achei que elas não fossem sair nunca.
   - Não podemos demorar. - Ela sorriu, segurando-o pela gola da camisa.
   - Você é chata. - Fez bico. sentou-se sobre a carteira, puxando-o para um beijo.
   - Adorei as músicas.
   - Obrigado. A última era sobre você. - Fez uma cara engraçada. - E sobre a .
   - A ? - levantou a sobrancelha.
   - É, o Garrett ajudou a escrevê-la.
   - Ah! - Ela começou a rir. - Acho que ela também gostou. Avisa o Garrett.
   - Vou avisar. - John apertou de leve seu nariz, fazendo-a rir.
   - Seu bobo! - Riram juntos. - Ela disse que você tem uma voz linda.
   - É? E o que você acha?
   - Eu acho maravilhosa.
   - Quem sabe um dia eu cante só pra você.
   - Vou cobrar. Mas agora eu quero outra coisa. - Piscou para ele, voltando a beijá-lo.

- Gente, cadê a ? - estava impaciente. Se a amiga não aparecesse logo, acabaria perdendo o intervalo todo.
   - Vai ver se perdeu. - sorriu.
   - Eu vou atrás dela. - Entrou no prédio da escola, caminhando em passos duros até a sala de química.
   - Tá perdida? - Uma voz debochada veio por trás dela, chamando-lhe a atenção.
   - O que você quer, garoto? - Parou no meio do caminho e virou-se, vendo Jared na sua frente, a uma distância relativamente pequena dela.
   - Eu nada. Estou procurando o John com a Camille.
   - Ela é seu chaveirinho agora? - Tentou disfarçar o ciúme na voz.
   - Eu não uso as pessoas assim. - Deu um passo na direção de . Ela estava com ciúmes?
   - Bom pra vocês. - Rolou os olhos, querendo acabar com o assunto. Por que mesmo tinha começado a falar com ele?
   - Ela é legal. - Deu de ombros.
   - Legal? Que ótimo. - De certa forma, sentiu-se melhor por saber que "legal" era o melhor adjetivo que Jared podia dar à outra.
   - Legal é bom.
   - É, claro que é.
   Era estranho para os dois ficarem sozinhos de novo, depois de tanto tempo. Ainda mais numa distância tão pequena. Seus corações batiam acelerados pelas expectativas. No entanto, ambos eram orgulhosos demais para se render - Mas não tão bom assim. - Não resistiu a falar. - Não é um bom adjetivo para usar com a sua namorada. - Disse a última palavra com dificuldades, como se houvesse uma pedra em sua garganta.
   - Ela não é minha namorada. - Jared respondeu rápido. A ideia de compromisso com qualquer garota que não fosse a que estava em sua frente soava ridícula e assustadora. Será que ela não percebia isso?
   - Não? - Relaxou um pouco, só então notando o quão tensa estava.
   - Não. - Deu mais um passo para frente. Não aguentava mais aquela tortura.
   - Que bom, porque ela nem é tão bonita assim e... - Sentiu as mãos de Jared moldarem-se à sua cintura e um arrepio tomou conta de si quando ele encostou seus lábios nos dela. Fechou os olhos, permitindo que ele aprofundasse o beijo.
   Seus movimentos eram lentos, matando as saudades que tinham um do outro. As mãos dela seguravam o rosto dele. Jared a segurava firme, como se tivesse medo de que ela fugisse.
   Quando se separaram, tinha o olhar confuso e assustado. Encararam-se por pouco mais de um segundo em silêncio, antes de sair correndo pelo corredor, deixando Jared sozinho e desorientado para trás.
   Ela fugira dele novamente.
   - Merda! - Chutou a porta do armário de alguém com força, provocando o eco naquela parte vazia da escola e deixando a porta de metal do mesmo amassada.
   - Jared? - John apareceu na mesma hora, olhando o amigo assustado. - Tá bem, cara?
   - Onde você estava, imbecil? - Deixou a raiva transparecer em sua voz.
   - Eu...
   - Querem me explicar o que é isso? - Um monitor chegou ao local, olhando dos dois garotos para o armário.
   - O John não tem nada com isso. - Jared tentou defender o amigo.
   - É claro. - O monitor rolou os olhos, cético. Conhecia aquele grupinho suficientemente bem para saber que eles nunca aprontavam sozinhos. - Para a diretoria, os dois.
   - Porra!- John olhou irritado para Jared, que nada fez a não ser seguir o mais velho.

Nem bem os garotos voltaram para a sala de aula e a fofoca de que dois dos losers haviam tomado advertência por destruir propriedade da escola.
   - Eu não entendo por que eles fazem essas coisas. - conversava com e , enquanto esperavam o professor entrar na sala. A última manteve-se calada todo o tempo. Durante o intervalo, fora para o banheiro e se trancara lá, só saindo para voltar para a sala de aula.
   chegara para o intervalo cinco minutos antes de ele terminar, com a desculpa de que ainda estava fazendo a lição.
   só tinha que agradecer por não ser da mesma sala que Jared. Assim poderia evitá-lo até o fim do dia. Não achava que conseguiria encará-lo depois do que houve. E de modo algum podia deixar aquilo acontecer de novo. Não iria estragar a reputação que tanto demorara a conseguir por uma atraçãozinha ridícula.
   - Quer dizer, não dá pra acreditar que eles ficaram o intervalo todo aqui dentro só pra vandalizar a escola. - sentiu uma pontada no peito com as palavras de . Sabia que John era inocente. Afinal, ele estivera com ela o tempo todo.
   , embora não quisesse admitir, também sentia-se mal por saber que Jared fizera aquilo por sua causa.
   - Eles são idiotas. - Disse, para acabar logo com aquele assunto.
   Nesse momento John entrou na sala, juntamente com o professor. Recebeu inúmeros olhares de reprovação, mas pouco ligou para eles e só deu um rápido olhar na direção de antes de sentar-se ao lado de Kennedy.
   - Vamos começar, turma. - O professor esfregou as mãos, querendo acabar com o clima tenso na sala de aula.

- To trabalhando numa música para sábado. - Jared segurava um violão, enquanto permanecia deitado preguiçosamente num puff na sala de Kennedy.
   - Mostra pra gente! - Pediu Kennedy.
   - Amanhã. Preciso terminá-la primeiro.
   - Bundão. - Pat deu a língua.
   - Falando em música, a mandou dizer que a gostou de Count'em one, two, three, Gary. - John disse naturalmente, só percebendo o que fizera alguns segundos depois. Garrett olhou para ele com um sorriso divertido, que contrastava muito bem com sua careta de agonia.
   - E quando você falou com a , posso saber? - Foi Pat quem perguntou, até chegando mais perto do outro. Kennedy e Jared também esperavam respostas.
   - Ele e a tão de rolo. - Garrett respondeu, quando percebeu que John não era capaz de formular uma frase.
   - De rolo? - Pat quase gritava.
   - Fala baixo, bobão! - John recuperou-se do choque inicial e agora tinha um sorriso bobo no rosto. Ouvir que ele e estavam juntos em voz alta soava tão bem.
   - Você tá de rolo com a minha prima?
   - Sim. E não se preocupe, eu não vou fazer nada com ela.
   - Hmm broxa. - Kennedy assobiou.
   - Nada que ela não queira. - Sorriu, lembrando-se da noite em sua casa e Pat o olhou feio.
   - Mas por que o Garrett sabia e nós não? - Jared apontou para o baixista, como se o acusasse de algum crime nefasto.
   - É! - Os outros fizeram coro.
   - Porque eu sou foda. - Garrett sorriu metido.
   - Porque ele não iria pirar e nem contar para o Pat.
   - Como assim não contar pra mim?
   - Porque eu tinha certeza de que você faria esse escândalo todo. - Pat não respondeu, limitando-se a fechar a cara.
   - Mas e aí, como estão? - Kennedy mexeu as sobrancelhas, sorrindo de um jeito tarado. John suspirou.
   - Você sabe como é a , ela faz o que quer.
   - E você o que pode, né? - Garrett riu.
   - Essas garotas. - Kennedy riu também, balançando a cabeça.
   - A também é assim.
   - Todas são assim. - Jared opinou, pensando em .
   - É o jeito como as coisas são. - John deu de ombros, resignado.
   - E sempre serão. - Patrick fez careta.
   - É, as garotas comandam. - Kennedy levantou os braços, fazendo os outros rirem. - Merecia uma música isso.
   - Tipo Girls do what they want... - John começou.
   - And boys do what they can. - Garrett deu a ideia, rindo.
   - Ok, pega o violão, Jary. - Kennedy sentou-se mais confortavelmente no sofá, para as ideias fluírem.
   - Tá na mão. Pat, pega um bloquinho.
   - Ok. John e Garrett, vão pegar cerveja!
   - Isso, tudo fica melhor com álcool.
   - Kennedy é alcoólatra. - Garrett cantou, puxando John para a cozinha, onde pegaram dois engradados de cerveja.
   Passaram a tarde bebendo e compondo. Era assim que eles se divertiam e nenhum deles trocaria aquilo por nada.

Capítulo X

- Caralho, dá pra fazer menos barulho? - gritou para que as pessoas no andar debaixo ouvissem. Seus pais davam uma espécie de festinha e o barulho a incomodava.
   Tentou cobrir a cabeça com o travesseiro para abafar o som, mas não adiantou.
   - Não dá pra dormir nessa casa! Mas se eu peço pra faltar por que estou com sono eles deixam? Não, claro que não! - Ela resmungava sozinha enquanto calçava suas pantufas do Snoopy. Usava seu pijama de histórias em quadrinho favorito, que era constituído de uma blusinha justa estampada e um mini-shorts na frente branco e atrás estampado.
   Desceu as escadas e encarou os pais com a pior expressão que conseguiu fazer (uma mistura de sono com raiva), pouco ligando para as outras pessoas presentes. Tudo o que ela queria era que eles parassem de fazer barulho para que ela pudesse dormir.
   - Filha, tá fazendo o que acordada à essa hora, posso saber? - Seu pai fechou a cara ao vê-la. - Você tem aula amanhã.
   - Ah, sério? - Perguntou com sarcasmo. - Eu 'to tentando dormir há horas!
   - Volta já pro seu quarto. - Seu pai apontou para as escadas, dando seu parecer final.
   subiu as escadas, ainda mais irritada e bateu a porta de seu quarto com força, tendo então uma brilhante ideia.
   Pegou algumas roupas e as colocou em sua mochila. Abriu a janela, agarrando-se à árvore na frente dela para poder descer. Nada que ela já não tivesse feito antes.
   Chegou ao solo com maestria e deu alguns passos até a casa ao lado, sentindo-se insegura de repente. E se não fosse Garrett quem abrisse a porta? Ele com certeza já deveria estar dormindo, afinal, já passava da meia-noite.
   Mordeu o lábio com força e bateu na porta, não se atrevendo a tocar a campainha-.
   Por sorte, não teve que esperar muito até que a porta fosse aberta. Prendeu a respiração, pensando no que dizer caso fossem os pais de Garrett que a atendessem.
   - ? - Garrett usava uma blusa velha de algum desenho de ficção científica e uma bermuda de cor escura. Fitava a garota, confuso.
   - Ér... Oi. - Ela sorriu sem graça e ele a mediu de cima à baixo, rindo da escolha da roupa -e demorando-se um pouco mais nas pernas quase totalmente descobertas dela.
   - Oi?
   - Te acordei? - Observou a cara de sono do garoto e mordeu o lábio novamente.
   - Na verdade estava vendo TV porque 'tava sem sono.
   - Ah. - Sentiu-se aliviada. - É... Meus pais chamaram uns amigos para ir em casa e o barulho não me deixa dormir, então vim procurar abrigo por uma noite. - Sorriu novamente sem graça.
   - Você quer dormir aqui? - Garrett quase se engasgou.
   - É, se não tiver problema, óbvio.
   - Não... - Ele sorriu. - Pode entrar.
   - Seus pais tão em casa? - Perguntou só cinquenta por cento interessada, pois o resto de sua atenção dedicava à observação da casa de Garrett.
   As paredes (com a luz fraca) pareciam brancas e no meio da sala havia um enorme sofá. Por todas as paredes havia fotografias da família do garoto. Tudo extremamente limpo, organizado e aconchegante. Muito diferente do que ela imaginara a casa de um loser.
   - Dormindo.
   - Ah tá. - Ela abaixou o tom da voz, como se não quisesse acordá-los falando alto e Garrett riu.
   - Tem um quarto de hóspedes do lado do meu, vamos? Acho melhor eu ir dormir também. - Coçou os cabelos da nuca, de um jeito que achou bastante fofo. Eles subiram juntos as escadas e andaram por um corredor até pararem de frente para duas portas. - O seu quarto é esse.
   - Ah, ok. - Ela sorriu amarelo, parecendo extremamente nervosa enquanto esfregava as mãos uma na outra.
   - Tá tudo bem? - Garrett perguntou preocupado.
   - Eu... Sei que pode parecer estranho, mas... - parou para pensar de deveria mesmo continuar. Ele a acharia muito criança depois que soubesse a verdade.
   No entanto, ao imaginar-se sozinha em um quarto escuro num lugar estranho, completou a frase, falando muito rápido pelo nervosismo:
   - Posso dormir com você?
   - Quê... Quê? - O garoto sentiu a voz falhar e o coração acelerar.
   - É que eu não consigo dormir sozinha em lugares que eu não costumo frequentar. Eu tenho medo! - Ela parecia prestes a chorar. Seus olhos brilhavam em função das lágrimas ali acumuladas. Situação delicada.
   - Bom...
   - Eu até durmo no chão! Só não me deixa sozinha, por favor!
   - Ok. Mas você não vai dormir no chão.
   - Obrigada! - Ela pulou no pescoço de Garrett, envolvendo-o num abraço que fez o garoto tremer dos pés à cabeça. Ele a segurou de leve pela cintura, mas aquilo não durou por muito tempo.
   - Só não repara na bagunça. - Ele abriu a porta de seu quarto, deixando a garota entrar primeiro.
   O quarto de Garrett era bastante simples. Pela luz estar desligada só se dava para saber que as paredes eram claras, havia uma cama de solteiro em um dos cantos, uma escrivaninha com um computador em outro canto, um baixo e um guarda-roupas (que não devia ser tão utilizado, já que grande parte das roupas do garoto estava jogada no chão).
   - O meu é pior. - Sorriu para ele, desviando-se das roupas. - Nós vamos dividir a cama então? Porque você não quer me deixar dormir no chão e eu também não vou te deixar fazer isso. - Disse com simplicidade, fazendo o garoto arrepiar-se só com a ideia de dormir ao lado de .
   - Eu... Acho que sim. - Sentiu-se corar.
   - Tá, mas o canto é meu, ou vou acabar caindo no meio da noite. - Fez careta, já se jogando na cama do outro e acomodando-se encostada na parede.
   - Ok. - Ele fechou a porta, avaliando se era seguro fazer aquilo. Era quase certo que ele passaria aquela noite em claro. Afinal, quem conseguiria dormir com ao seu lado?
   - Garrett, eu não mordo. - Ela riu, notando o nervosismo do garoto. Respirando fundo, ele deitou-se ao seu lado, tentando evitar qualquer contato desnecessário com a garota. Mas, obviamente, não concordaria com aquilo.
   - Melhor vir mais pra cá, se não quiser cair. - Ela o puxou para perto, deixando os dois praticamente colados. Maldita hora em que ele não comprara uma cama de casal. Aquilo era tortura. - Vou te fazer de travesseiro. - Ajeitou-se sobre o braço do garoto, escondendo o rosto em seu pescoço.
   A respiração dela batia em seu pescoço, causando-lhe arrepios. O cheiro de flores vindo dos cabelos da garota quase fazia com que ele perdesse o controle. Sentia-se tonto e completamente... fodido.
   - Isso é bom. - sorriu de leve, referindo-se ao cafuné que, inconscientemente, Garrett fazia em seus cabelos. Ele corou quando percebeu o que fazia, mas não parou. O cheiro dele era incrivelmente relaxante. Era nisso que ela pensava enquanto deixava o sono voltar a tomar conta de si. - Boa noite, Gary.
   - Boa noite. - Ele sorriu já sentindo-se mais confortável. Talvez não fosse ser tão incomodo quanto ele pensara.

Amanheceu rápido e quando acordou, estranhou o ambiente, até ver Garrett, dormindo silenciosamente, como um anjo, ela pensou, e lembrar-se dos acontecimentos da noite passada. Uma de suas mãos estava na cintura da garota, deixando o local quente, mesmo que o cobertor já não estivesse mais ali.
   Pensando bem, aquele garoto era quente.
   - Garrett? - Chamou fraco. - Garrett?
   - Hmm...
   - Gary, acorda. - Passou a mão docemente pelo rosto do garoto, chamando com uma voz suave. - Bom dia. - Sorriu fraco quando o outro abriu os olhos.
   - Bom dia. - Soprou de volta, ficando em silêncio em seguida. A cara de sono dele era até engraçada. Por um momento chegou até a pensar que ele dormira novamente, mas logo elevirou-se para espreguiçar-se.
   - Gary, acho melhor você não fazer isso, porque... - Quando Garrett virou-se, acabou caindo no chão, acidentalmente puxando junto a si. Ela caiu sobre ele rindo. - Eu avisei!
   - Ai, desculpa. - Ele encarava-a com seus profundos olhos azuis, fazendo-a perder-se dentro deles por um momento.
   - Tudo bem. - Respirou fundo, tentando livrar-se do poder magnético daqueles olhos para poder levantar-se.
   Felizmente, ou não, o despertador de Garrett tocou naquele momento e levantou num pulo.
   - Ah, temos que nos arrumar!
   - Parece que sim. - Ele respondeu desnorteado. O que fora aquilo? - Se quiser tomar banho, pode usar o banheiro. - Apontou para uma porta no canto do quarto, que não reparara na noite anterior.
   - Certo. - Assentiu.
   - Tem toalhas limpas no armário. - Ele pegava algumas peças de roupa enquanto falava. entrou no banheiro e ele saiu do quarto em direção ao outro banheiro do lado de fora. Precisava de um banho gelado.

- Posso entrar? - Bateu na porta antes de voltar para seu quarto. Ouvia barulhos no andar de baixo, indicando que seus pais já haviam acordado.
   - Pode. - estava sentada na cama (magicamente já arrumada) do garoto e brincava com seu baixo. Ele sorriu com a cena.
   - Tá pronta?
   - Ahan, só estava te esperando. - Levantou-se, deixando o instrumento onde o encontrara e pegou sua mochila e a de Garrett.
   - Obrigado. - Recebeu a mochila que lhe entregou, esperando que ela deixasse o quarto para poder fechar a porta. - Ficou com vergonha de descer sozinha?
   - Muita! - Confessou sorrindo e seguiu o garoto até o primeiro andar.
   Entraram juntos na cozinha, com Garrett um pouco à frente, pois ainda tinha vergonha.
   - ? - A senhora Nickelsen encarou a garota meio confusa, meio surpresa. O pai de Garrett não estava mais ali.
   - Bom dia, Sra. Nickelsen. - Mordeu o lábio, nervosa, tentando sorrir apesar disso.
   - É... Que surpresa! - Sorriu simpática, olhando da garota para o filho.
   - Os pais da estavam dando uma festa e ela pediu pra dormir aqui. - Garrett achou que devia uma explicação à mãe. - Ela dormiu no quarto de hóspedes. - Completou para não deixar a garota ainda mais nervosa.
   lhe agradeceu com o olhar.
   - Ah bom. - Ela riu. - Sinta-se a vontade para voltar quando acontecer de novo. Querem comer?
   - Claro. - Garrett puxou para que essa se sentasse.
   - Eu achei que vocês não se falassem m... - A mais velha começou, mas o olhar assustado do filho fez com que ela parasse e lhe olhasse com curiosidade.
   - Depois. - Ele moveu a boca sem emitir som.
   - Licença. - sentou-se ao lado de Garrett.
   - Prefere leite ou suco de laranja querida?
   - Suco. - Sorriu. A mãe de Garrett era extremamente fofa.
   - Oh, assim como Garrett. Eu fiz bolo. Vai comer né?
   - Claro. - sorriu. Garrett observava as duas conversarem e ria discretamente.
   Logo sua mãe sentou-se com eles e os três tomaram um agradável café da manhã até que estivessem praticamente atrasados.
   - Tchau, Molly! - despediu-se da mais velha, recebendo um "até logo" de volta.
   - Tchau, mãe!
   - Sua mãe é muito fofa. - sorriu enquanto esperava Garrett abrir a porta de entrada.
   - Ela é legal. - Fez careta. - Vamos?
   - Ahan. - viu o carro de Anabelle passar pela rua assim que saiu da casa de Garrett e seus olhos se encontraram com os de Mary, uma das amigas de Annabelle, e essa sorriu maliciosamente para ela. - Merda.
   - O que foi? - Garrett desviou sua atenção da porta que ele trancava para e depois para a rua. Mas as garotas já haviam cruzado a esquina e ele não vira nada.
   - Nada. - Mordeu o lábio. Mary a odiava. Com certeza ela contaria o que vira para a escola inteira. - Vamos no meu carro.
   - Ok. - Garrett foi puxado até a garagem da casa de e empurrado para dentro do carro. - Eu poderia dizer que isso é sequestro.
   - Fica quieto ou vou ter que passar Silver Tape na sua boca. - Riram.
   - Me deixa na esquina da escola. - Garrett disse após alguns minutos de silêncio.
   - O quê?
   - Você não quer que nos vejam juntos, quer? - Na realidade ela não se importava, no entanto, devido à situação, qualquer coisa que pudesse usar contra Mary ajudaria.
   - Ok. Obrigada por me deixar ficar na sua casa. - Parou o carro para que Garrett pudesse descer.
   - De nada. - Sorriu fraco, sem humor algum, antes de descer do carro e fechar a porta.
   apertava o volante com tanta força que quase machucava as mãos, devido à tensão. Se o que Mary viu chegasse aos ouvidos de Robert, Garrett estaria morto. Tremeu ao lembrar-se do último conflito dos dois. Não podia permitir que Garrett se machucasse por sua culpa.
   A confusão começou no momento em que estacionou o carro na escola.
   Robert praticamente voou em cima dela, com , e suas outras amigas logo atrás. Viu Mary e Anabelle rindo de longe e piscou com força.
   - Você passou a noite com o Nickelsen? - Robert gritou, fazendo a escola inteira dar atenção aos dois.
   - Não! - Mentiu, vendo Garrett entrar pelo portão da escola. Ele foi abordado por dois garotos do time de futebol que o levaram para o centro da confusão.
   Garrett encarou confuso, e esta o olhou rapidamente, pálida e assustada.
   - Você dormiu com ele? - Robert repetiu, sacudindo a garota pelos braços. Suas amigas tentaram ajudá-la, mas alguns amigos de Robert as impediram.
   - Hey, solta ela! - Garrett sentiu o sangue subir. Robert virou-se para ele com um sorriso assassino no rosto. - O que você vai fazer se eu não soltar?
   Garrett abriu a boca para responder, mas os olhos de pediam que ele ficasse quieto.
   - Você não vai responder? - Ele aumentou a força aplicada no braço de , que chegava a soluçar. Garrett tremia de raiva, tentando se livrar dos dois brutamontes.
   - Para! - O baixista não conseguiu conter-se. - Ela estava sim comigo na noite passada! Se quiser bater em alguém tem que ser em mim e não nela!
   - Por mim tudo bem. - Robert soltou e deu um passo em direção à Garrett. Com os amigos de Robert o imobilizando, ele nem teria como se defender.
   - Não, para! É mentira! - gritou. Robert parou no meio do caminho. - Você não precisa fazer isso, Nickelsen. - Ela forçou uma expressão dura. Tinha que parecer sincera se quisesse convencer Robert.
   - É mentira? – Ele virou-se para , com uma sobrancelha arqueada.
   - É. Não sei quem te disse isso, mas... A pessoa está completamente mal informada. - Rolou os olhos. Aquilo estava destruindo-a por dentro, mas era um mal necessário. Não ousava olhar por mais de um segundo para o rosto de Garrett, pois sua expressão era dolorosa.
   - Tem certeza?
   - Lógico.
   - Então por que esse aí - Apontou para Garrett - Disse que era verdade?
   - Não é óbvio? Ele gosta dela e queria defendê-la. - intrometeu-se, recebendo um olhar de agradecimento de . Não podia ir para o meio da confusão para ajudar a amiga, pois estava detida por um garoto que devia ser o dobro dela, em massa e tamanho, mas podia ajudar com palavras.
   - E você sabe como esses garotos gostam de inventar coisas. Especialmente sobre nós. - completou, levando um cutucão de .
   Robert ponderou por um segundo, olhando das cinco garotas para Garrett, que olhava para o chão, completamente devastado, e sua expressão dura se desfez.
   - Ok então. Me desculpa, amor. - Robert aproximou-se de e a segurou pela cintura para lhe beijar, mas esta virou o rosto. Se ele chegasse mais perto dela, era capaz que ela vomitasse.
   - Me solta, Robert.
   - É, temos que ir para a sala. Me solta infeliz! - Livrou-se do garoto que a segurava e puxou pela mão antes que outra catástrofe acontecesse. A garota mal conseguiu olhar para Garrett.
   - Obrigada por isso. - colocou a mão sobre o ombro de Garrett, que levantou a cabeça para olhá-la. A expressão de dor em seus olhos era palpável e doeu até na garota. Robert foi embora com seus capangas e todo mundo seguiu seu caminho.
   - De nada. - Disse baixo, com a voz falha. Sentia como se tivesse sido atropelado por um trem.
   - Valeu, mas a gente assume daqui. - John colocou a mão por cima da de , sorrindo fraco.
   - Ok. - Balançou a cabeça em afirmativa. Todos os quatro amigos de Garrett estavam ali, então ela relaxou um pouco e foi atrás das amigas que já haviam seguido para suas salas.
   Por mais que tentasse sorrir para as pessoas que lhe cumprimentavam, não estava bem. Era sempre assim quando os dois grupos se misturavam: confusão e dor para os dois lados. Aquilo a machucava, pois ela sabia que John e ela acabariam tendo o mesmo destino cedo ou tarde.

Acalmar não estava sendo uma tarefa fácil para - ainda mais quando a primeira percebeu que Garrett, Pat e Jared entraram na sala para a primeira aula do dia. Tão pouco qualquer um dos losers deu sinal de vida até o final do dia letivo.
   - Tem certeza que você tá bem? - colocou a mão no ombro da amiga.
   - Tenho, pode deixar.
   - As garotas vão para a minha casa, quer ir também?
   - Não, vou pra casa.
   - Liga se acontecer alguma coisa, ok?
   - Eu não vou me matar nem nada do tipo. - Rolou os olhos, mesmo sentindo-se bem com a preocupação da amiga. Esperava que principalmente e surtassem com ela pelo que houve, mas todas estavam sendo maravilhosas e compreensivas.
   - Ok. - A outra sorriu. - Até depois então.
   - Até. - entrou no carro e dirigiu para casa. Tudo o que ela precisava era tomar um banho, deitar e colocar a cabeça no lugar.

olhou para o relógio pela décima vez em menos de três minutos.
   Virava de um lado para o outro, mas não conseguia pegar no sono. O rosto de Garrett não saia de seus pensamentos. Aquela expressão triste e magoada que ele tinha na última vez que se viram.
   A garota colocou um casaco e as pantufas e desceu as escadas em silêncio, abrindo a porta de entrada com o máximo cuidado.
   A noite estava fria e ela agradeceu por estar de casaco, fechando-o mais em seu corpo. Bateu na porta da casa vizinha e ninguém atendeu. Tocou a campainha e esperou por cerca de cinco minutos até que alguém fosse abrir a porta.
   - ? - Molly, a mãe de Garrett, surgiu em sua frente de camisola e roupão.
   - Molly, me desculpe o horário, mas o Garrett tá aqui?
   - Não, querida, ele foi dormir na casa do Kennedy. Seus pais estão dando outra festa? - Ela esticou o pescoço para fora de sua casa, tentando espiar a casa vizinha.
   - Não. - Sorriu tímida. - Eu... Só precisava falar com ele.
   - Bom, você pode esperar até amanhã na escola? Se ele não aparecer por lá você me avisa que eu o deixo de castigo. - forçou um sorriso. Não queria parecer desesperada, mas não conseguiria dormir se não falasse com o garoto.
   - A senhora tem o endereço do Brock? - Mordeu o lábio. - É mesmo muito importante.
   Algo na expressão de fez a mais velha entender a gravidade da situação e ter dó da garota em sua frente.
   - Tenho sim, querida. Entra, vou anotar para você. Quer tomar alguma coisa?
   - Não, obrigada. - não sentou-se quando a outra lhe indicou o sofá. Estava nervosa demais para isso. Esperou Molly lhe entregar o papel, agradeceu infinitamente e foi embora, pegando as chaves do carro na garagem e dirigindo até o endereço de Kennedy.

A cada rua que ela via passar pela janela do carro, seu nervosismo aumentava. E se Garrett não quisesse atendê-la? E se ele nunca mais quisesse falar com ela? Porque motivos para isso ele tinha.

Na frente da casa de Kennedy tocava música alta e todas as luzes estavam ainda ligadas, o que significava que os garotos ainda estavam acordados.
   Onze e meia da noite não parecia muito tarde para aqueles garotos de qualquer jeito.
   Saiu do carro respirando fundo e bateu três vezes na porta da frente, até que ouvisse o barulho de chaves e a maçaneta girasse, fazendo a porta abrir e alguém encará-la num misto de surpresa e irritação.

Capítulo XI

- O que você faz aqui? - Jared perguntou grosseiro.
   - Eu... Preciso falar com o Garrett. - Engoliu o nervosismo, não se deixando abalar pela cara feia com que Jared a encarava. Garrett era mais importante que aquilo.
   - Não acha que já fez estragos suficientes?
   - Por favor, é importante! É justamente isso que eu quero consertar!
   - Quem é? - Kennedy surgiu por trás de Jared, arregalando os olhos ao ver parada em sua porta.
   - Por favor, me deixa falar com o Garrett. - Pediu à Kennedy dessa vez, o considerando mais maleável do que Jared. Kennedy olhou rapidamente para Jared e suspirou.
   - Só não o deixa ainda pior, tá? - Pediu. assentiu e logo Kennedy sumiu de sua vista, voltando para dentro de casa. Jared continuou a olhá-la feio. Rolou os olhos e então foi atrás de Kennedy.
   Nervosa, pôs-se a chutar pedrinhas no chão até sentir que não estava mais sozinha.
   - Garrett... - Levantou o rosto, encarando os, agora opacos, olhos do garoto.
   - Entra. - Chamou, fechando a porta após a garota passar.
   Garrett levou-a até a sala principal e os outros garotos levantaram-se do sofá, com a desculpa que iam jogar as garrafas de cerveja e todo o lixo deles na lata de lixo.
   - Estamos na cozinha. - John disse à Garrett, dando uma olhada rápida em .
   - Me desculpa, Garrett. - suspirou, assim que ficaram sozinhos.
   - Pelo quê?
   - Eu... Ele ia te matar. Eu tive que mentir.
   - Claro. - Rolou os olhos.
   - Eu não podia deixá-lo bater em você.
   - Eu sei me defender. - Garrett tentou ser grosso até o momento que começou a chorar e suas barreiras caíram.
   - Ah claro. - Ela rolou os olhos. - Eu não sei você, mas eu ainda me lembro da última vez.
   - Eu não me importaria de ir parar num hospital por você. - O modo profundo e sincero com que ele disse aquilo fez as pernas de tremerem.
   - E numa cova, se importaria? Aliás, você pode não se importar, mas eu me importaria sim. E muito!
   Garrett não conseguiu responder. Podia ver nos olhos de que ela estava sendo sincera. Ele queria dizer para ela que não importava mais, mas não podia ceder. Ainda havia coisas que eles precisavam acertar.
   - O Robert é um idiota, você não faz ideia do que ele é capaz!
   - E você continua com ele. - Disse com raiva na voz.
   - Eu não 'to mais com ele. Pelo menos não de verdade.
   - O que isso quer dizer? - Sentiu uma pontada de esperança.
   - Eu não sei. Mas não é isso o que importa agora. - Ela sentou-se, sentindo-se fraca. - Não quero que você fique com raiva de mim. Não era minha intenção fazer você parecer um mentiroso na frente da escola toda.
   - Eu não ligo pra isso.
   - Não?
   - Não. - Sorriu. - Minha reputação já não é das melhores mesmo.
   - Você me odeia? - Mordeu o lábio, vendo Garrett se aproximar ainda com um meio sorriso.
   - Nunca. - Ele a segurou pelo queixo, fazendo-a olhar para os seus (novamente brilhantes) olhos.
   - Obrigada. - Ela o envolveu num abraço, afundando o rosto em seu peito. Garrett a segurou pela cintura, beijando o topo de sua cabeça.
   - Você não precisa me agradecer por isso.
   - É claro que eu preciso. Você é uma das melhores pessoas que eu já conheci. Só não queria ter que esconder isso de todo o mundo.
   - Não pensa nelas. - Ele deu a língua. Ainda estavam abraçados e pareciam não querer se soltar.
   - Por que você é tão bom comigo? Eu não mereço nada disso.
   - Não sei. Me responde você. - Garrett afastou com cuidado o rosto de de seu corpo para que essa olhasse em seus olhos.
   - Vou precisar de um tempo para descobrir. - Respondeu por fim. - Ai poderei te dizer. - Sorriram juntos.
   - O tempo que você quiser. - Continuaram naquela posição, encarando um ao outro sem coragem de se mover, até que barulhos estranhos vindos da cozinha despertassem-nos.
   - O que foi isso? - Podiam ouvir gritos e sons de coisas caindo no chão.
   - Acho que os meninos tão destruindo a cozinha. - Deu de ombros, um tanto irritado pela distração.
   - Vamos ver? - riu sapeca, puxando Garrett pela mão.
   - Melhor ficar alerta. - Garrett avisou à garota antes de abrir a porta, desviando-se com agilidade de um ovo que foi em sua direção.
   A cozinha estava um lixo: havia ovos quebrados até nas paredes, panelas no chão, comida grudada nas paredes... Mas o ambiente nem se comparava ao estado dos garotos, que pulavam uns nos outros.
   - Que porra é essa? - A The Maine parou para olhar para Garrett e . - Pat, quer sair de cima do John?
   - Chato!- Pat deu a língua, descendo das costas do amigo.
   - Vocês vão limpar isso aqui. - Apontou para a meleca que os outros fizeram. sorriu discretamente, ainda de mãos dadas com Garrett.
   - Não pode ser amanhã não? - Kennedy fez bico.
   - Não.
   - Seu merda. - John se abaixou para pegar uma panela que estava em seu pé. Os outros suspiraram e foram pegar o equipamento para limpar a cozinha.
   - Tá tudo bem? - Pat perguntou ao casal parado na porta enquanto se preparava para passar o rodo no chão. Garrett e entreolharam-se e deram de ombros sorrindo.
   - Não vão ajudar não? - Jared perguntou.
   - Não. - Garrett deu a língua rindo.
   - Ah vamos ajudar eles, vai. - fez biquinho.
   - Não, você vai pra casa.
   - Por que eu não posso dormir aqui? - Riu da cara que Garrett fez diante da sua brincadeira infame. - Ok, me leva até a porta.
   - 'Bora.
   - Tchau, meninos. - Despediu-se dos outros num tom baixo e apreensivo. Embora Garrett a houvesse desculpado, não sabia como os outros se sentiam em relação a tudo aquilo.
   - Tchau. - Pat respondeu com um sorriso acanhado.
   - Seus amigos me odeiam. - Suspirou quando chegaram à porta.
   - Relaxa, eles só não querem me dividir. - Riram.
   - Garrett... - Lembrou-se de algo importante. - Você pode pedir para o Pat não contar pra que eu vim aqui? Não quero que ela tenha um ataque.
   - Eu peço. - Garrett achou aquilo engraçado. Se ao menos ela soubesse o que a andava fazendo com John...
   - Obrigada. - Sorriu, equilibrando-se na ponta dos pés para beijar a bochecha do garoto. - Até amanhã.
  - Até. - Deu-lhe um beijo na testa e esperou até que ela desse partida com o carro para fechar a porta.
   - Ah o amor... - Kennedy saiu do meio do nada, assustando Garrett.
   - Seu corno!
   - Nem namorada eu tenho, cara!
   - E eu tenho pena da fulana, no dia que tiver.
   - Vem ajudar a gente, otário.- Empurrou Garrett até a cozinha, entregando-lhe um balde e um pano.
   - Eu nem sujo e tenho que limpar. - Reclamou, começando a retirar a comida grudada em uma das paredes, sem parar de pensar em por um segundo sequer. Ela ter ido atrás dele significava que ela se importava, certo?
   E importar era o primeiro grande passo para que, um dia, ela sentisse por ele tudo o que ele sentia por ela.

Temos uma semana para terminar o trabalho. - enrolava uma mecha de seu próprio cabelo com o dedo, enquanto Bruno digitava uma mensagem em seu celular. A aula começara à vinte minutos e o garoto não tirara os olhos do aparelho em suas mãos em momento algum.
   Pegou um texto no qual estavam trabalhando e começou a lê-lo, completamente distraída.
   - Isso aqui ta longe de ficar bom. - Comentou sozinha.
   - A gente pode sentar aqui? - Uma voz feminina chamou a atenção de . Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Bruno respondeu um "sim" distraído.
   - Não, não, não, mil vezes NÃO! - Pensou irritada. Só podia ser brincadeira que de tantos lugares disponíveis Kennedy e Pâmela haviam escolhido ficar logo ali, ao lado dela.
   - Obrigada. É que tem um pessoal chato onde a gente costuma ficar e aqui parece tranquilo. - Pâmela sentou-se perto de e Kennedy a acompanhou, colocando alguns cartazes no chão.
   - É, costumava ser. - rolou os olhos.
   - Nós não vamos atrapalhar. - Kennedy pronunciou-se, fazendo bufar.
   - Ótimo. - Afundou o rosto no texto em suas mãos, disposta a ignorar a presença dos outros dois.
   - Ah Ken, eu não sei se isso tá bom. - Pâmela choramingou. - Você escreve melhor do que eu.
   - Tudo bem, ninguém pode ser bom em tudo. - Ele sorriu, usando uma voz profunda. tentava não vomitar e nem dar uma voadora nos dois. Só podia ser castigo.
   - Estranho então, porque nunca vi nada em que você não seja bom. - Ela disse sugestiva e o outro riu.
   - É porque você não me conhece direito.
   - E a gente pode mudar isso?
   - E você pode parar de usar essa voz irritante de vadia?- quase fazia um buraco na folha, tamanha a força com a qual a segurava. - Será que você pode calar a boca? - Falhou na tarefa de conter a raiva na voz.
   - Me desculpe, linda. Estamos atrapalhando? - Kennedy encarou a garota com um sorriso divertido.
   - Imagina. - Devolveu com ironia.
   - Nós continuamos essa conversa depois. - Pâmela colocou a mão sobre a coxa de Kennedy.
   - Claro. - O garoto voltou a atenção ao seu trabalho ainda sorrindo. Adorava tirar do sério.
   - Bruno, desliga essa porcaria e vem aqui me ajudar! - Gritou, arrancando o celular da mão do garoto. Sem alternativa, começou a trabalhar no texto com a garota.

Assim que tocou o sinal anunciando o término daquela aula, correu para o banheiro feminino do segundo andar, que costumava ficar vazio.
   Jogou água gelada no rosto, disposta a se acalmar.
   Como Kennedy conseguia irritá-la tanto?
   Respirava fundo, de olhos fechados na frente do grande espelho que cobria a parede onde ficava a pia quando ouviu o som da porta sendo aberta. Pensou ser só alguma garota qualquer e por isso nem se importou em checar.
   Sentiu de repente uma respiração quente em seu pescoço e uma presença atrás de si. Seu cabelo foi todo colocado de um lado só. Ela não queria abrir os olhos. Podia reconhecer aquela presença até debaixo d'água.
   Kennedy começou beijando seu pescoço, sentindo-a retrair-se ao seu toque. então abriu os olhos, olhando para Kennedy através do espelho.
   Sabia que devia afastá-lo, mas simplesmente não era capaz. Talvez porque, naquele momento, Kennedy não estivesse agindo como sempre; tinha carinho naqueles beijos e aquilo a desconcertava mais do que qualquer coisa.
   - Tá brava comigo? - Perguntou, olhando para os olhos de refletidos no espelho. Suas mãos a seguravam pela cintura e sua cabeça apoiava-se no ombro da garota.
   - Brava? Por causa da Pâmela? - Fez cara de desprezo, mas sentiu a voz falhar.
   - É. Tá?
   - Por que eu estaria?
   - Ciúmes, talvez. - Sorriu torto, começando uma dança bem lenta com a garota.
   - Ciúmes? - Debochou. - Eu não tenho motivos para ficar com ciúmes.
   - Não mesmo. - Disse sério, tão intensamente que tremeu na base. - Tá vendo? Por isso gosto de você: é uma garota segura.
   - Kennedy! - Virou-se de frente para ele, empurrando-o para longe. - Quer me deixar em paz?
   - E é difícil também. - Sorriu, totalmente ignorando o fora. - Gostou da música que tocamos pra você?
   - Imbecil. Por que não vai cantar pra Pâmela e some daqui? - Sentia muita raiva naquele momento. Kennedy sorriu e aproximou-se novamente, para responder em seu ouvido:
   - Porque ela não é você. - A garota tremeu.
   - Quer parar de chegar tão perto? - Recuo até encostar-se à quina da pia.
   - Por quê? - Ele achou graça; não esperava por aquilo.
   - Porque sim, me deixa desconcertada. - Admitiu, sentindo-se corar.
   - É mesmo? E se eu fizer isso? - Kennedy quebrou mais uma vez a distância entre eles, colocando as mãos no quadril da garota. Seus lábios estavam próximos, mas ele não se aproximava mais.
   entreabriu os lábios, disposta a tornar mais fácil a passagem de Kennedy, que, por sua vez só sorriu, soltando o ar no rosto da garota.
   Apertou com certa força o seu quadril, deixando em seguida as mãos escorregarem pelo corpo dela. gemeu insatisfeita. Por que ele não acabava logo com isso?
   - Quer? - Ele aproximou-se ainda mais, roçando os lábios nos dela e voltando a afastar-se. Naquele momento deixou-se levar pelos instintos, puxando-o de volta no mesmo instante e, agarrando seus cabelos da nuca, prensou seus lábios contra os dele com força.
   Ela o beijava com toda a raiva que sentia, sem conseguir se controlar. O corpo dela tinha vontade própria quando Kennedy Brock estava por perto.
   O garoto aproveitava cada segundo e cada milímetro do corpo da outra. Cada momento tornava-se mais intenso que o outro.
   Ajudou a subir na pia e acomodou-se entre suas pernas sem interromper o beijo. Seus cabelos deviam estar uma zona e seus lábios já doíam, mas não conseguiam se largar.
   A fechadura do banheiro moveu-se e batidas na porta foram ouvidas. Sorte que Kennedy trancara a porta.
   Eles se separaram assustados. Estavam totalmente encrencados se alguém os encontrasse ali.
   - Entra numa cabine. - moveu os lábios, esperando Kennedy se esconder para poder abrir a porta.
   - Espera! - Ele chamou quando a garota já estava com a mão na chave.
   - Que é? - Sussurrou para não ser ouvida pela pessoa do lado de fora. Kennedy aproximou-se sorrindo e a segurou pela cintura, roubando-lhe um beijo rápido antes de levar um tapa e se esconder numa cabine.
   - Oi. - abriu a porta, dando de cara com uma monitora.
   - Tentando matar aula, Srta. ? - A mulher entrou no banheiro, dando uma olhada geral no ambiente.
   - Eu não estava me sentindo bem e precisava pensar um pouco.
   - Vou te levar para a sala de aula então. Lá você vai ter bastante no que pensar. - Olhou mais uma vez para todo o lugar, acompanhando a garota para fora do banheiro em seguida.
   Um sorriso bobo não deixou o rosto da garota até que ela chegasse em sua sala. Acontecera algo diferente naquele dia. Algo que ela jamais pensou que pudesse acontecer com Kennedy Brock.
   - Onde é que você estava? - virou-se para a amiga assim que esta entrou na sala e sentou-se na carteira atrás da dela.
   - Por aí. - Deu de ombros, sentindo-se desconfortável. Nunca que ela diria a verdade para ninguém. rolou os olhos, virando-se para frente.
   Sabia como era ter que esconder coisas de suas melhores amigas. Estava tornando-se craque nisso ultimamente. E se queria guardar coisas somente para si, ela respeitaria isso.

Capítulo XII

encontrava-se deitada na cama, olhando para cima e curtindo o tédio de um bom começo de noite de sexta-feira. Ela e John não tiveram nenhum momento a sós naqueles últimos dias e ela sentia muito a falta do garoto, mesmo que no momento estivesse frustrada por uma ceninha entre ele e Annabelle mais cedo naquele mesmo dia.

*Flashback on*

Estava com suas amigas e alguns garotos do 3º ano na habitual mesa do almoço, observando John de canto de olho.
   Adorava vê-lo sorrindo com os amigos, com aquele brilho nos olhos que só aumentava quando seus olhares se encontravam.
   Annabelle e suas amigas, como que para estragar o momento, caminharam até os garotos e os dois grupos começaram a conversar.
   Annabelle, como sempre, mexia na roupa de John e dava risinhos enquanto lhe dizia algo à uma distância que particularmente achou muito pequena. Ela bufou, explicitando seu descontentamento. Quando seus olhares se encontraram, sua expressão não estava nada amigável.
   Por que ele não a afastava?
   Voltou a atenção para a sua própria mesa, fingindo achar graça de uma piada que algum dos garotos dizia e evitou John até o final do dia.
   *Flashback off*

- Merda! - Gritou, colocando o travesseiro sobre a cabeça para abafar o som de sua revolta.
   - Hey! - A chamada, vinda da rua, chegou junto com uma pedra em sua janela.
   pulou da cama assustada.
   - John? - Abriu a janela para que ele pudesse escutá-la. O que ele fazia ali?
   - Oi. - Ele riu sem graça. - Desce aqui!
   - To indo. - Respondeu depois de alguns segundos, processando a surpresa. Quando John não podia mais vê-la, sorriu.
   chegou rapidamente à porta de entrada e respirou fundo antes de abri-la.
   - Bu! - deu de cara com John, que a beijou assim que teve chance, sem dar-lhe tempo para qualquer tipo de reação.
   A garota correspondeu, aproveitando para matar as saudades antes de empurrá-lo.
   - O que foi? - John franziu o cenho. - Achei que fosse gostar da surpresa.
   - E gostei. - Confessou. - Mas não sei se isso é uma boa no momento.
   - Você não quer que eu vá embora, quer? Eu dei um bolo na Annabelle pra vir te ver. - O garoto disse brincando, mas, para , aquilo foi como tirar casca de ferida.
   - Oh, me desculpe se eu te fiz perder a noite com a Annabelle, não foi minha intenção. - Devolveu com ironia, rolando os olhos. John franziu a testa sem entender o porquê de agir daquela forma.
   - Eu perdi alguma coisa?
   - Não. Quer dizer, nada fora o seu incrível encontro. - Rolou os olhos.
   - Ainda não estamos sintonizados.
   - Olha, não precisa se fingir de desentendido, ok? Você nem ao menos se esforça para tirar aquela garota do seu pé.
   - Espera ai... - Riu nervoso, coçando a cabeça. - Não acredito que você tá falando sobre isso pra mim. Ou você acha que eu acho divertido ver todos os garotos da escola dando em cima de você e ter que ficar na minha?
   - Eu não dou atenção pra eles. - Tentou defender-se, mas sabia que era culpada.
   - Não, claro que não. - Dessa vez quem rolou os olhos foi John.
   - Pelo menos eu não aceito encontrá-los fora da escola.
   - Era pra ser um encontro em grupos ok? E o Jared ia levar a Camille.
   - Tanto faz, a Annabelle ia se jogar em você de qualquer jeito e vocês acabariam ficando. - não se importava mais em controlar a voz e quase gritava no meio da rua. John tentava controlar-se, mas as palavras da garota só tornavam a missão cada vez mais difícil.
   - Se eu estivesse a fim, ficaria mesmo. - Deu de ombros.
   - Como assim ficaria? - Sentiu os olhos encherem de lágrimas, mas jurou para si mesma que não choraria na frente dele.
   - É... Você sabe come é: uns beijos, uns amassos...
   - Cala a boca! Não vou ficar aqui ouvindo isso.
   - Ótimo.
   - Ótimo.
   - Quem sabe ainda dá tempo de encontrar os caras. – olhou para ele, descrente.
   - É, vai lá idiota. - Afastou-se, pretendendo entrar em sua casa. John não a impediu.
   Ainda assim, esperou até que ela trancasse a porta para partir.
   - Merda! - Xingou baixo, chutando uma pedra. Não era assim que ele pretendia passar sua sexta à noite com .
   Foi direto para casa. Não tinha cabeça para mais nada. Só se deitou na cama e esperou o sono chegar, pensando no show do dia seguinte.

acordou as amigas cedo, para que essas fossem passar o dia em sua casa. A noite todas iriam assistir ao segundo show da The Maine.
   - Será que hoje você consegue agarrar o baterista da The Maine? - surgiu com o assunto do nada, fazendo engasgar e as outras a olharem sem entender.
   - Como assim agarrar seu primo? - arqueou a sobrancelha.
   - Antes do primeiro show, a aqui disse que ia subir no palco e agarrar o baterista da banda.
   - É, mas antes de eu saber que era o Pat. - retrucou.
   - E agora não quer mais? - corou. parecia adorar colocá-la nessas situações constrangedoras.
   - Eu...
   - Dá pra parar de falar neles? - pediu, tampando os ouvidos.
   - Eu os vi ontem. - deixou escapar. - Só quatro, pelo menos.
   - Onde? - quem perguntou. teve a impressão que sabia algo dessa história e fechou a cara, irritada.
   - Na pizzaria com o grupo da nojenta da Annabelle. - Fez careta.
   Quando chegara ao local, Kennedy tinha a mão sobre a perna de Pâmela, embaixo da mesa.
   O fato de ela ter se sentido enjoada ao presenciar essa cena deixava-a mais irritada.
   - Como assim? - A voz de ficou mais fraca sem que ela percebesse. - Quem estava lá?
   - Todos eles, menos o O'Callaghan, o grupo inteiro das piranhas e a Camille. - Riu de algo que as outras não entenderam. - A Annabelle estava com a maior cara de merda porque o O'Callaghan não foi.
   - Ah. Eles estavam em casais? - continuava falando baixo, imaginando com qual das garotas Garrett ficara. Ele parecia bom demais para qualquer uma delas.
   - É. - A voz de saiu seca. fechou a cara e fitou o chão.
   pensava.
   - Que horas foi isso?
   - Umas dez e meia. Por quê?
   - Nada. - Dez e meia era mais de uma hora depois desde que John deixara sua casa. Ele não fora ao encontro então?
   Sem que percebesse, um sorriso discreto instalou-se em seu rosto.
   - Ah, ta vendo o que falar dessa gente faz? - jogou as mãos para o alto, depois de um tempo em que um silêncio fúnebre instalou-se no quarto.
   - É, vamos fazer alguma coisa. - se levantou.
   - Shopping? - sugeriu.
   - Não. - não tinha vontade de ir à shoppings há algum tempo.
   - O que então?
   - Lanchonete, 'to com fome. - puxou para fora do quarto. As outras a seguiram um minuto depois.
   - 8123?
   - Sim! - Todas responderam em coro. Não tinha como não gostar daquele lugar.

Chegaram lá em menos de dez minutos e escolheram uma mesa perto da janela de vidro que dava visão ao estacionamento. Fizeram seus pedidos e passaram a observar um grupo de rapazes razoavelmente bonitos entrarem no estabelecimento e as olharem de volta.
   - Oi garotas. - O mais alto deles sorriu para elas. Seus amigos fizeram o mesmo e elas retribuíram o gesto.
   - Oi.
   - Podemos nos juntas à vocês? - Outro deles perguntou. - Sou Caleb. Esse é o Gu, aquele o Enry...
   - Eu sou o Ken e esse é o Jimmy.
   - , , e . - apontou uma de cada vez, apresentando-as. - E eu sou a .
   - E podem sim, só precisam pegar mais cadeiras. - sorriu, sendo simpática.
   - Ih, olha quem tá lá fora. - apontou para outro grupo de garotos.
   Eles encontravam-se apoiados no muro do estacionamento e olhavam para elas.
   - Conhecem eles? - Ken sentou-se ao lado de .
   - São da escola. - Deu de ombros.
   - E o cabeludinho é primo dela. - mordeu o canudo do refrigerante.
   - Vocês são daqui? - perguntou ao que foi apresentado como Gui. Ele tinha cabelo comprido, loiro e cara de bebê.
   - Na verdade não. Mas o Jimmy aqui veio visitar a vovó e nós viemos junto.
   - Coitada. - riu, sendo imitada por Jimmy.
   - É, eles não dão sossego.
   - O que vocês recomendam? - Caleb olhou para por cima do cardápio.
   - Tudo aqui é ótimo. - Sorriu. Até que Caleb era bem bonitinho. Aquela poderia ser a chance perfeita para vingar-se de Kennedy pela noite anterior.

- Quem são eles? - John tentava conter a frustração na voz. - E o que aquele ali está falando de tão engraçado pra rir desse jeito?
   - John, controla o ciúme. - Kennedy bateu no ombro do amigo, olhando para outra das garotas. - E aquele menino com cara de periquito? A não pode estar falando sério.
   - Que hipócrita. - Pat riu, evitando demonstrar que o garoto mexendo no cabelo de o tirava do sério.
   - Eu não tenho ciúmes, sei que um dia ela vai me amar. - Kennedy deu de ombros, fazendo os outros rirem. - Mas esse cara é horrível! Olha, faltam só umas penas verdes pra virar um periquito!
   - Qual é a sua com a ein? - Garrett questionou.
   - Sei lá. - A pergunta surpreendeu Kennedy - É... Diferente. - Ele realmente não sabia o que responder. Não sabia dizer o que sentia pela garota.
   - Tá né. - O baixista voltou a atenção para o interior da lanchonete, onde embarcava em uma conversa animada com outro garoto.
   - Espero que elas não levem esses trastes para o show. - John olhou para o chão. Sentia vontade de vomitar só de pensar em com outro enquanto ele cantava para ela.
   - É. - Os outros concordaram, pensando a mesma coisa.

- Garotos, temos que ir agora. - disse olhando para o relógio na parede da lanchonete. Se ficassem por ali por mais tempo não conseguiriam arrumar-se com calma para o show.
   - Mas já? - Caleb fez bico.
   - É, temos que nos arrumar porque hoje tem show num pub aqui perto. - respondeu
   - Ah, já ouvi falar. A banda é legal? - Jimmy entrou na conversa, parecendo interessado. - É. E nós temos que ficar bonitinhas. - sorriu.
   - Mais? Não vão dar chance para nenhuma outra garota então. - Jimmy fez uma cara engraçada e as garotas riram.
   - Vocês vão né? - Foi quem convidou.
   - Claro, se vocês quiserem. - Gu deu de ombros.
   - É, vão sim. - Ai o Brock vê o que é bom pra tosse, sorriu de um jeito malvado.
   - Beleza, então até mais tarde. - Despediram-se com beijos no rosto. As garotas pagaram sua conta e dirigiram-se para o carro de , curiosamente estacionado perto do lugar onde estavam os garotos da The Maine.
   - Quem são seus amigos? - Pat fez à a pergunta que os outros queria fazer.
   - Uns garotos de outra cidade.
   - Eles vão pro pub?
   - Provavelmente sim. - Mordeu o lábio olhando rapidamente para John. Começava a achar que aquela não fora uma boa ideia. Um silêncio desconfortável instalou-se entre os dois grupos e quando Pat ia dizer algo, puxou para longe.
   - Ah, tchau. Ainda temos que nos arrumar. - Olhou feio para Kennedy.
   - Vê se usa algo de couro! - O garoto gritou, fazendo-a corar. Como ele se atrevia?
   - Entra no carro e dirige, . - Disse ríspida à amiga, que a encarava rindo.
   - Tchau, gracinhas! - Kennedy acenou quando o carro passou por eles. Os outros garotos riram, acenando também. - Não se esqueçam de ir nos ouvir!
   - Tchau, Brock! - respondeu rindo. Achava o garoto engraçado. - Até mais tarde meninos. - Sorriu particularmente para Garrett, que correspondeu sentindo o coração acelerar.
   - Não acredito que você dá bola pra eles. - rolou os olhos.
   - Ai, o Brock é engraçado.
   - É um filho de uma bela puta, isso sim.
   - Tem pegada, pelo menos? - corou e riu da cara dela. - Pelo visto tem sim.
   - Vai se foder, . - fechou a cara e permaneceu assim até chegar em sua casa, onde se distraiu escolhendo uma roupa para a noite.
   - Vai usar couro? - Riu , provocando a amiga.
   - Não. - respondeu seca. Não daria aquele gostinho à Kennedy.
   - E aqueles garotos, ein? - fuçava nos guarda-roupas da amiga, procurando algo para si mesma.
   - São bonitinhos. - fez biquinho.
   - Acham que eles vão? - franziu o cenho.
   - Não sei, mas tomara que não, porque não estou a fim de dar fora em ninguém.
  - pegou uma saia de cintura alta, mas voltou a guardá-la. - Dar um fora por quê? - levantou uma sobrancelha.
   - Não 'to com vontade de pegar ninguém.
   - E tá indo por que então? - questionou.
   - Para ouvir The Maine, oras. - Foi quem respondeu. Também não tinha com vontade de ficar com ninguém.
   - É, eu também. - deu de ombros.
   - Aff, não falo nada. - rolou os olhos, começando a se trocar ali mesmo.
   - Sério mesmo? - ainda estava boba.
   - Ahan. - As três disseram em coro.
   - Ok. - Disse devagar. Aquelas não eram as suas amigas de antes, deviam ter sido abduzidas por algum ET maluco. - Vamos nos arrumar então.

Capítulo XIII

- Isso aqui tá lotado! - Garrett espiava as pessoas no pub através da cortina.
   - Que bom né. - Kennedy dedilhava sua guitarra.
   - Tá brincando? Só na semana passada com aquela gente toda me olhando, achei que fosse vomitar. - John fez os outros rirem. - É sério.
   - Tá vendo as garotas? - Pat enfiou-se no vão da cortina também, com a cabeça embaixo da de Garrett.
   - Ainda não... Ah, ali. - O baixista mordeu o lábio ao avistar , sempre tão linda em sua opinião. - Vamos abrir com Girls Do What They Want?
   - Uhum. Aqueles otários estão com elas? - John perguntou.
   - Só dois deles. - O que sentou perto da e o que deu em cima da .
   Jared fechou a cara no mesmo instante. Kennedy sorriu levemente. John e Pat suspiraram aliviados.
   - A Camille tá aqui também, Jary. - Garrett comentou, vendo a garota com algumas amigas.
   - Que bom. - O outro tentou parecer animado.
   - Os outros não vieram mesmo? - Garrett deu mais uma olhada, mas não encontrou nenhum daqueles garotos.
   - Não, John. Relaxa.

- Sinto muito de novo garotas. A vó do Jimmy não o deixou vir e o Ken e o Henry ficaram com ele. - Caleb explicou, dirigindo olhares nada discretos às pernas descobertas de .
   - Hmm. Que pena que eles não vieram. Mas que bom que vocês estão aqui. - só fingia o desapontamento.
   - Vem dançar? - puxou Caleb para a pista, não querendo perder tempo com conversinhas. Depois, se desse sorte, Kennedy a veria com o garoto.
   Queria que ele pagasse por ser tão idiota.
   - Vamos também? - Gu chamou , que lhe deu a mão despedindo-se das amigas com um leve aceno.
   - Dançar nós três? - olhou para as amigas, que concordaram sorrindo. As três seguiram para o meio da pista e começaram a dançar sem nem ligar para os olhares furtivos que recebiam.

- Sinto muito, Kenny, mas a não veio de couro. - Garrett fez biquinho, recebendo um tapa do amigo.
   - Teimosa. - Pareceu meditar. - Ela vai ver só no acerto de contas.
   - Você se acha. - Pat fez careta.
   - Esse DJ não vai nos deixar tocar não? - Jared sentia-se impaciente. Precisava tocar logo a sua música.
   - Calma, cara. - Kennedy disse de um jeito todo zen, recebendo um dedo do meio em troca.
   Pouco depois, o som da música eletrônica cessou, indicando que a hora deles chegara.
   - Vamos lá! - Garrett pegou seu baixo, respirando fundo.
   - Lembrem-se, nós gostamos de festejar! - Kennedy fez todos os outros pararem para colocarem suas mãos sobre as dele.
   - Que tal uma musiquinha com isso? - John sugeriu. Os outros o olharem sem entender. Rolou os olhos. - Assim: we like to party, we like to party, party.
   Batia palmas conferindo ritmo à sua música improvisada. Logo os outros o acompanhavam.
   - We like to party, we like to party, party. We like to party, whoooa! - Cantaram em coro, em meio a risadas.
   - John, você bebe. - Pat riu. - Vamos? - Esperou os outros assentirem e posicionarem-se e deu sinal para que abrissem as cortinas.
   Várias pessoas gritaram quando a The Maine surgiu, mas grande parte ficou em silêncio.
   - E aí, pessoal? - Gritou para o público, procurando por com os olhos. Obteve várias respostas e assim continuou - Somos a The Maine e essa música se chama Girls Do What They Want.
   - É, essa vai pra vocês garotas! - Kennedy manifestou-se, recebendo aplausos e gritinhos do público feminino. rolou os olhos.

She's 18 and a beauty queen
   She makes the boys feel so weak
   It's all for her and not at all
   She'll pick you up just to watch you fall

John cantava, tentando não olhar só para durante a música. A briga com ela não estava em seus planos.
   Garrett, por outro lado, não conseguia desviar os olhos de , que sorria para ele sem parar de dançar de um jeito contagiante.

It's her hands on my hips, I can't escape 'em
   It's her mouth and those lips, try not to taste them

Kennedy observava dançar colada em Caleb. Às vezes ela o olhava de volta e sorria com malícia. Tinha certeza que ela queria provocá-lo e deixá-lo com ciúmes, mas O garoto só conseguia pensar em como ela ficava atraente dançando daquela forma e em como ele queria tê-la com ele naquela noite.

That's the way the things are
   And the way they'll aways be

Quando o refrão começou, foi impossível que alguém conseguisse ficar parado. O ritmo da música era extremamente contagiante.
   Na segunda vez que o coro foi repetido, todos cantaram com os garotos.

She's 18 and a beauty queen
   She's figure out all the boys like me
   Head to toe, you know she's dress to kill
   And she could the way she's looking at me.

Exatamente nesse momento, os olhares de John e se encontraram e um sorriu para o outro.
   O sorriso de John era uma das coisas mais bonitas de se ver no mundo, segundo . Ainda mais quando direcionado para ela.

Because the boys are feelin' jealous
   And it just doesn't make any sense
   Go on and tell'em why
   The girls are into fellas
   They toss them to the side in the end

Seus olhares estavam grudados e qualquer um que olhasse para eles naquele instante podia ver que eles estavam apaixonados. Para cada um, só o outro existia.
   olhava para Pat na bateria realmente cogitando a ideia de subir lá e agarrá-lo.

And you know that all the boys are falling in love
   With girls that don't know what's up
   I think we all have enough of this now

tentava não olhar para Jared, mas falhava sempre que percebia. O garoto, por outro lado, parecia evitar olhar para ela.
   - Vamos lá, cantem comigo agora! - O vocalista pediu à platéia. Por mais que fossem rejeitados na escola, ali, em cima do palco tudo era diferente.
   Eles não eram os losers ali e sim os garotos da The Maine.

Girls do what they want
   Boys do what they can

- Muito obrigado pessoal. - Agradeceu, recebendo aplausos.
   , e gritavam e assobiavam, sorrindo.
   - A próxima música foi o Jared aqui quem escreveu! - Kennedy apontou para o amigo com o braço de sua guitarra. - Ela se chama The Way We Talk.
   O olhar de Jared e o de se encontraram nesse momento. Ele desviou rapidamente e a garota parou de dançar para ouvir a letra.

She's fresh to death
   She'll be the death of you
   Seduction leads to destruction
   She's fresh to death
   She'll be the death of me
   She's fresh, she's fresh but not so clean.

sustentava o olhar no de Jared, mas esse olhava para outro lado. Não conseguia encará-la; não tinha coragem.

Cute face, slim waist
   She's got em' in craze
   Yeah I think he's going crazy
   When she's speaks it makes me grind my teeth,
   Yet he still thinks she's amazing

Jared colocara seus sentimentos naquela canção. Ela era mais pessoal do que qualquer um pudesse imaginar. não tinha ação.
   Sabia que a música era sobre ela e aquilo doía. Será que ele não percebia o efeito que aquilo causava nela? Ou ele simplesmente não se importava?

Shallow is as shallows does yeah
   Some people never change

As pessoas dançavam no ritmo da música, enquanto Gu já abandonara para dançar com outra garota.

She's so fine,
   She thinks she's so damn fine
   She might be fine,
   But she ain't worth a second of your time

You're fake as the moans you make
   And you're as weak as the hearts you break

- Eu não posso mais. - saiu correndo quando aproximou-se da amiga para checar se ela estava bem.
   olhou assustada para , que foi atrás da amiga.
   - ! - Chamou, puxando a outra pelo braço.
   - Me deixa, . - Esquivou-se, correndo em direção ao banheiro.
   Trancou-se lá, em um dos boxes e sentou-se sobre o vaso, afundando o rosto nas pernas. Xingou alto ao perceber que ainda podia ouvir a música dali.
   Só queria que aquela tortura acabasse logo.

Sex sells,
   And your sex cells make all the lost boys drool.

- O que aconteceu com ela? - e encontraram na porta do banheiro.
   - Não sei, acho que ela pirou. - mordeu o lábio. Não sabia o que fazer.
   - Esperamos ela sair? - apontou para a porta do banheiro, preocupada.
   - Acho que sim.
   Jared assistia tudo de cima do palco, sentindo-se culpado.
   Culpado por saber que deixara mal e culpado por se sentir tão bem colocando seus sentimentos para fora.
   Depois de The Way We Talk a banda ainda tocou Give Me Anything. Terminaram o show com muitos uivos e aplausos.
   Os garotos foram direto para a casa de Kennedy, comemorar o sucesso de mais aquele show.
   Quando finalmente resolver sair do banheiro, alegando ter sido atingida por uma cólica muito forte, todas foram juntas para a casa de , onde passaram a noite fazendo coisas de garotas e pensando nos losers da escola, que já não tinham mais essa imagem na mente delas.

Capítulo XIV

Ela contemplava o céu através da janela de seu quarto, com seus fones de ouvido bem altos, na esperança de abafar o som que vinha do quarto ao lado.
   Bufou.
   Será que não tinha hora pior para o seu irmãozinho resolver treinar a guitarra dele? O pior de tudo era quando ele resolvia cantar também.
   - Jack, seu escroto, cala a boca! - Gritou o mais alto que pode, tirando os fones para escutar a resposta. Por um momento, houve silêncio.
   respirou aliviada, mas essa pareceu ser a deixa para mais uma música barulhenta.
   - Essa vai pra você, irmãzinha! - A voz veio abafada, mas mesmo assim audível.
   Infelizmente.
   - Vai se foder. - Praguejou baixo, levantando-se abruptamente, pegando seu celular largado sobre a cama.
   Saiu do quarto pisando duro no chão, tomando o cuidado de bater a porta com força ao passar.
   Ouviu Jack emitir algum som, mas não se importou em responder.
   - Aonde vai, filha? - Sua mãe lhe perguntou assim que a garota passou pela sala de estar, caminhando até a porta.
   - Sair dessa casa, meus ouvidos não são obrigados à aguentar o seu enteado. Não fui eu que casei com ninguém. - Bateu a porta da frente com força também, sentindo a mudança de temperatura atingir-lhe em cheio.
   Fez o trajeto que mais apreciava, distraída, chutando pedrinhas na rua. Estava escuro àquela hora, mas não o suficiente para que ela não pudesse enxergar nada.
   Quando chegou à pracinha onde costumava ficar para fugir da pressão em casa, avistou de pronto um garoto mais ou menos da sua idade, sentado em seu banco favorito.
   - Ai, era só o que faltava. - Bufou, pisando duro no chão até parar na frente do rapaz.
   Ele olhava para o chão e quando avistou um par de pés batendo na grama, levantou os olhos devagar, dando uma boa olhada nas pernas da garota.
   mal percebeu, no entanto.
   - Oi? - Ele franziu a testa, olhando para o seu rosto agora. Nunca vira aquela garota na vida, mas ela o encarava como se pudesse arrancar seus olhos só com o dedo mindinho.
   - Quer me dar licença? - Tentou usar uma voz autoritária, mas essa falhou no momento em que seus olhos encontraram os do garoto.
   - Desculpa, eu te conheço? - Ele perguntou confuso.
   - Não. Mas você... - Começou a achar sua atitude infantil, sentindo suas bochechas se avermelharem.
   Não continuou a frase, mas o garoto pareceu entender tudo.
   - Ah. - Riu. - Desculpa, eu roubei o seu banco? - Fez menção de levantar-se.
   - Não! - Ele a olhou sem entender. - Pode ficar. - Sorriu, tentando parecer simpática.
   - Posso?
   - Sim. Me desculpa, não estou no meu melhor dia.
   - Tudo bem, acontece. - sentou-se ao lado do garoto. - Sou Jared.
   - . - Estendeu-lhe a mão e Jared apertou-a delicadamente. - Você não é daqui, é?
   - Não. - Ele sorriu. - Sou de Tempe, Arizona.
   - Tão longe. - A garota pareceu pensar. - Meu pai mora lá.
   - Sério?
   - Ahan. É provável que eu vá pra lá também.
   - Não gosta de Baltimore?
   - Não gosto de morar com a minha mãe e a nova família dela.
   - Qual o problema com eles?
   - Meu padrasto tem um filho, mais ou menos da minha idade. E ele tem tipo uns amigos idiotas que acham que sabem tocar. Eles me atormentam demais!
   - Hey, eu também toco. - Jared fingiu-se de ofendido. - Violão e guitarra.
   - Sério? - Corou. - Não eu... Eu gosto de garotos que tocam só não gosto dos amigos do Jack. E do Jack.
   - Ah - Ele riu. - Mora aqui perto? Estou na casa de um amigo, passando as férias e tudo o mais. Fica a um quarteirão daqui.
   - Hey, eu moro a um quarteirão daqui! - Riram juntos.
   - Que máximo! Então essa não precisa ser a última vez que nos veremos?
   - Não. - Ficaram em silêncio por um momento, memorizando as feições um do outro, iluminadas pela luz da lua somente.
   Ficaram lá por um bom tempo, até que um dos dois decidisse que era tarde demais para ficar por ali.
   Jared deixou na porta de sua casa, prometendo aparecer no dia seguinte.
   - ? - Ouviu a voz de sua mãe lhe chamar assim que entrou em casa. Suspirou, tentando fazer aquele sorriso em seu rosto sumir.
   - Eu. - Chegou à sala, encontrando sua mãe, padrasto e Jack ali, assistindo à algum filme na televisão.
   - Hey sis! - Jack gritou ao vê-la, com aquele sorriso que mais a irritava.
   - Me erra, coisa do capeta. - Subiu as escadas para seu quarto com pressa, fechando a porta assim que entrou.
   Perdeu a conta do tempo que ficou deitada na cama, olhando para o teto e revivendo os acontecimentos de mais cedo.
   - Mana, posso entrar? - A voz de Jack agora era mais baixa. Ele estava preocupado.
   - Já entrou mesmo.
   - Tá tudo bem? Não acha que é meio tarde para ficar na rua sozinha?
   - Quem disse que eu 'tava sozinha?
   - Hmmm! - Ele jogou-se na cama de , quase caindo sobre a garota. - Tava com quem ein?
   - Um garoto que eu conheci.
   - Tem nome?
   - Jared. Jared Monaco. - Respondeu sonhadora. Jack ficou pensativo por um minuto e depois desatou a rir.
   - Qual é a graça? - Irritou-se
   - Nada! Ele é amigo do Alex, sabia?
   - Sério? - Deixou o queixo cair. Esse era o amigo dele em Baltimore então.
   - Ahan. - Ponderou se dizia mais alguma coisa, mas achou melhor se calar. - Ele mora em Tempe, você não quer ir pra lá?
   - Quero. - Emburrou.
   - , pensa bem. Você vai deixar sua popularidade e tudo o que você conquistou aqui para ir morar numa cidadezinha do outro lado do país.
   - Mas eu vou me livrar de você.
   - Outch. - Riu. - Só pensa direitinho. E vê se não deixa esse garoto interferir na sua escolha, porque você vai acabar se arrependendo.
   - Ah qual é? - Empurrou Jack para fora da cama. Estava cansada de todos só criticarem as suas escolhas. - Vai falar do Jared agora? Você nem o conhece!
   - Só to dizendo que ele pode não ser tudo o que você acha.
   - Tá, tanto faz. Me deixa dormir, Barakat.
   Jack saiu do quarto sem falar mais nada. Adorava , mas ela podia ser bastante cabeça dura às vezes.
   Ela acabaria vendo as coisas como eram e ele tinha certeza que ela não gostaria nada daquilo.

Jared e passaram as férias toda juntos.
   As brigas da garota com a mãe eram cada vez mais frequentes e Jared sempre estava por perto para consolá-la.
   Aquele foi um dos principais laços que os ligou.
   Faltava uma semana para o fim das férias e dois dias para Jared ir embora.
   Eles estavam no quarto de , sentados no chão enquanto Jared tocava seu violão para . Ela sorria abobalhada para ele, que sempre fazia o mesmo de volta.
   - Assim: there's a new girl in town, she had a amazing smile. - Ele arqueou uma sobrancelha quando começou a rir. - Qual a graça?
   - Primeiro, você cantando. Depois, essa música não tá boa.
   - Não? - Usou um tom surpreso.
   - Hmmhmm. - Negou com a cabeça.
   - Faz melhor. - Ele a encarou como se a desafiasse.
   - É sério? - Foi a vez de ela arquear a sobrancelha, engatinhando para perto de Jared. Tomou o violão das mãos dele, que não disse nada, divertindo-se em ver a garota segurar o instrumento toda torta.
   - Você obviamente nunca pegou em um violão. - Riu.
   - Cala a boca! - Fez bico, emburrando.
   - Ah qual é, ao invés de ficar brava, por que não me pede ajuda?
   - Porque você não vai estar sempre aqui pra me ajudar. - Respondeu baixinho. Jared a encarou.
   - É claro que vou estar. Depois, a gente dá um jeito quando eu for embora.
   - Você vai se cansar de mim!
   - Nunca.
   - Todo mundo cansa. Eles dizem que eu sou superficial.
   - Que bom que eu não sou nenhum deles. - Disse sério, sem desviar seus olhos dos dela.
   - Eu te amo. - Ela deixou escapar o que guardara por todas aquelas semanas. Não gostava de expor seus sentimentos, porque sempre acabava se machucando. Fechou os olhos, esperando que Jared se levantasse e fosse embora.
   Em vez disso, ouviu-o sorrir. Abriu os olhos sem entender.
   - E eu amo você, pequena. - Disse aquilo aproveitando para dar-lhe um beijo caloroso em seguida.
   Jared tinha o poder de acalmá-la e excitá-la simultaneamente. Ao mesmo tempo em que ele conseguia aplacar toda a ira que ela sentia frequentemente, conseguia deixá-la quente, ansiosa por mais.
   Jared a ajeitou no chão com cuidado, enquanto ela o puxava para ficar por cima dele.
   Enquanto suas mãos bagunçavam os cabelos do garoto, as dele amassavam as roupas dela.
   Ninguém os atrapalhou naquele momento. Foi algo só dos dois. Para os dois.
   Uma das últimas boas memórias que restaram antes de tudo desmoronar.

Era o primeiro dia dela na escola nova.
   Vários garotos foram falar com ela assim que chegou ao prédio e ela não podia reclamar; adorava aquela atenção toda.
   Um grupo de garotas parecendo muito simpáticas aproximou-se dela para puxar papo.
   - Oi, aluna nova? - Uma delas perguntou.
   - . - Sorriu. Sentia que aquele era um bom grupo para fazer amizade, se quisesse ser popular ali como era na antiga escola.
   - Sou . Essas são minhas amigas. - apresentou uma à uma e as garotas conversaram um pouco antes de decidirem ver as listas das turmas do 2º ano.
   - Estamos na mesma sala! - abraçou , dando pulinhos.
   - É, mas estamos separadas. - fez biquinho.
   - , você caiu com a gente! - sorriu. No entanto, não prestava atenção. Havia um nome na lista do segundo ano B que lhe despertara interesse.
   - Conhecem esse Jared Monaco? - Perguntou às novas amigas. Um silêncio mortal tomou conta do grupo.
   - Eca, ele é um dos losers. - foi a primeira a manifestar-se. - Só fale com eles se quiser passar seu Ensino Médio sendo uma perdedora.
   - Loser?
   - É, ele e os amiguinhos são tipo os rejeitados da escola. Sério, falar com eles é suicídio social.
   nada respondeu.
   Jared era um dos motivos pelo qual ela estava ali.
   Ela se ouvira dizer que o amava.
   Mas bem, podia ser só um amor passageiro, um amor de verão.
   Pelo modo como dissera, Jared não tinha mesmo uma boa reputação na escola e sacrificar uma boa posição social por um garoto não estava em seus planos.
   Mesmo que ela gostasse de verdade desse garoto.
   Então ela o viu.
   Ele entrara no corredor fazendo barulho e rindo com um grupo de garotos um tanto estranhos. Seu coração disparou, sua boca ficou seca e tudo parou.
   Jared a olhou de volta e teve a mesma reação que ela, até reparar as garotas ao redor de . Seu olhar endureceu.
   - Vamos. - puxou para algum lugar, seguindo em frente. Essa segunda, por sua vez, não conseguia tirar os olhos de Jared.
   Eles estavam cada vez mais próximos, andando em direções contrárias.
   Ela podia chamá-lo, correr até ele, qualquer coisa.
   Mas não fez nada.
   Quando finalmente conseguiu, desviou seus olhos dos dele, recuperou a postura e seguiu as novas amigas, tentando apagar as memórias que tinha de Jared Monaco da sua mente.
   Jack tinha razão, a verdade era que nada nunca poderia acontecer de verdade entre ela e Jared.

- Filha, acho que você tá atrasada. - Mesmo a voz macia do pai de não impediu que ela se assustasse ao despertar. Na verdade, para ela foi como se ele tivesse gritado ao pé de seu ouvido.
   - Pai? Que horas são?
   - Sete e quarenta. Sua aula não começa as oito?
   - Aimeudeus, começa sim! - pulou da cama e correu para o banheiro, trancando-se lá dentro.
   Teria que dar tempo dela tomar banho, mesmo que ela chegasse na segunda aula.
   Maldito sonho que a fizera se atrasar.
   Maldito Jared, era tudo culpa dele.
   Há duas noites ela não conseguia dormir sem pensar nele e aquilo a esgotava. Por que não tudo não podia ser simples e ela não conseguia apagá-lo, como fora o plano original?
   Eu amo você, pequena. Aquela frase veio novamente em sua mente e ela fechou os olhos com força.
   Por que ela conseguia ainda se lembrar de tudo, de cada detalhe?
   - Inferno! - Gritou de dentro do banheiro, provocando eco. Aquele pesadelo tinha que acabar. Ela precisava, de algum modo, apagar Jared de sua mente para sempre.

Capítulo XV

Todo o segundo ano estava agitado. Finalmente chegara o dia das apresentações que valiam grande parte da nota de sociologia.
   Algumas duplas davam os toques finais em seus trabalhos, enquanto outros alunos que já o haviam terminado ficavam jogados pelo pátio, esperando a aula terminar.
   - ... - John a chamou apreensivo. Não sabia como a garota reagiria à ele após a briga, mas ainda haviam uns detalhes do trabalho para terminarem.
   - Oi? - Virou-se para o garoto, sentindo-se tão insegura quanto ele. Suas amigas os observavam.
   - É... Será que você pode vir comigo? Temos que terminar o trabalho.
   - Ah. - Ela encarou as amigas por um instante. sorriu cínica para ela, ignorava a presença de John e as outras duas mal prestavam atenção. - Claro. - O seguiu em silêncio para o local onde costumavam trabalhar.
   Ambos estavam nervosos.
   - Você não vai chamar a Annabelle?
   - Preciso mesmo? - Ele franziu a testa. riu.
   - Ela faz parte do grupo.
   - Mas ela é chata! E não faz nada também.
   - Fazer o quê? - fez questão de levantar-se para ir atrás da outra garota, mas John segurou seu braço, impedindo-a de partir.
   - Não foge de mim, por favor. - Ele pediu.
   - John...
   - Gostou do show de sábado? - Ele sorriu, tentando quebrar o gelo.
   - Foi incrível. - Ela sorriu de volta.
   - Obrigado, eu...
   - O'Callaghan! - Annabelle chegou ao encontro dos dois, parecendo prestes à atropelar um rinoceronte. afastou-se de John instintivamente.
   - Oi? - Ele fez cara de inocente.
   - Quer me dizer o que aconteceu sexta-feira?
   - Perdão... - Ele ergueu a sobrancelha, fazendo a garota ficar vermelha de raiva. ria descaradamente.
   - Por que você não foi pra pizzaria com seus amigos?
   - Aah! Meu irmãozinho ficou doente e eu tive que cuidar dele, porque meus pais viajaram. - Fez cara de coitado, enquanto fazia esforço para voltar à ficar séria. - Me desculpa.
   - Ah... - Pareceu ficar sem graça. - Tudo bem então. Fica pra próxima. - Sorriu amarelo.
   - Certo. - Deu de ombros. olhava para ele com uma sobrancelha arqueada.
   - Bom, vocês se viram sem mim, né? Eu vou ficar com as meninas.
   - Claro. - Os outros dois disseram juntos, rindo um para o outro.
   - Ok. Tchau, John. - Mandou um beijo no ar para o garoto, que fez careta assim que ela virou as costas.
   - Seu irmãozinho, é? - riu.
   - Ah! - Deu de ombros, rindo também.
   - Você não saiu com ela. - Ficou séria, encarando-o.
   - Não. - Aproximou-se, notando um brilho nos olhos da garota. - Eu teria que ser muito Kennedy para fazer isso. - Riram.
  - John, eu sinto muito por ter feito aquela cena toda.
   - Eu também exagerei. - Segurou o queixo da garota. - Podemos ficar bem agora?
   Ela fez que sim com a cabeça, colocando as mãos na cintura do garoto e puxando-o para um beijo do tipo desentupidor de pia.

- Você e o Nickelsen já terminaram o trabalho? - perguntou à .
   - Ahan. - Acenou para a sua dupla, que fazia bagunça com seus amigos.
   - Para de acenar pra ele! - cutucou a amiga, desviando o olhar quando encontrou os olhos de Jared.
   - Ai, jumenta! - riu, dando a língua. - E a sua cólica?
   - Ah, melhorou. - Fez careta.
   - Que bom. - deu de ombros, ainda não convencida de que a cólica da amiga não tinha nome e sobrenome.
   - A tem que ser atrasada até para fazer trabalho né? - riu.
   - Nem fala. - As outras concordaram. Sempre tiravam sarro do jeito enrolado da amiga.
   - , vem tomar água comigo hm? - puxou a amiga, sem vontade de andar sozinha pela escola.
   - Vamos. - concordou meio sem escolha, deixando-se levar pela outra.
   Elas foram até o bebedouro e ficou esperando a amiga matar a sua sede.
   - Oi, meninas. - Pat sorriu tímido para , passando por elas ao lado de Garrett. Ela acenou de volta para os dois.
   - Querem sair da frente? - Robert deu um encontrão em Garrett, que cambaleou um passo para trás.
   - Quer prestar atenção por onde anda? - O baixista devolveu.
   - Tá ouvindo isso? - Robert cutucou o amigo ao seu lado, que riu demente, cercando os garotos da The Maine.
   cutucou .
   - Tá achando que pode alguma coisa agora, loser?
   - Acho que tenho o direito de andar pela escola sem que um gorila retardado se jogue em mim. - Pat riu, deixando os outros dois irritados. Garrett não se importaria de brigar com Robert novamente. Dessa vez ele não teria tanta sorte.
   - Vocês estavam falando com elas, disso vocês não tem direito. - Robert apontou para o bebedouro. e entreolharam-se, querendo rir.
   - Elas decidem isso. - Pat respondeu, sentindo os olhos cheios de ira de Robert e seu amigo queimarem sobre os dois.
  - Você e seus amiguinhos acham que deixaram de ser losers por causa dessa bandinha, mas aqui nada vai mudar ok? Qualquer coisa que fizerem sem a minha permissão, eu arrebento vocês.
   - Só por curiosidade, o que podemos fazer, de acordo com suas leis? - Garrett perguntou, em tom de deboche.
   As garotas ali perto já não achavam mais graça, esperando que as coisas saíssem do controle a qualquer momento.
   - Finjam que são invisíveis e não falem com ninguém. É um favor para todos nessa escola. - Robert virou-se para as garotas com um sorriso esperto no rosto. – Certo, meninas?
   As duas voltaram a se entreolhar e caminharam até o centro da confusão sorrindo para Robert. Garrett e Pat mal se moviam, receando o que estava por vir.
   Nenhum dos dois aguentaria serem rejeitado por elas novamente na frente de todos.
   - Acho que somos nós quem decidimos isso. - deu um passo na direção de Garrett, que por sua vez assustou-se com a reação da garota.
   - É. Como o Pat disse. - aproximou-se de Pat. Robert abria e fechava a boca, mas não conseguia formular nenhuma frase, já que não estava acostumado a ser contrariado.
   passou por Robert e chegou até Garrett, colocando seus braços ao redor do pescoço dele e beijando-o em seguida.
   O garoto ficou sem reação por um momento, mas logo relaxou, permitindo que ela aprofundasse o beijo, segurando-a pela cintura.
   fez o mesmo com Pat, realizando o sonho de pegar nos cabelos do garoto. Ele correspondeu com vontade, sem pensar em mais nada.
   - O... O que... - Robert balbuciava, sem conseguir sequer se mover. O choque de presenciar aquela cena era demais.
   Queria afastar de Garrett, mas não conseguia se acalmar o suficiente para fazê-lo. Uma quantidade razoável de pessoas assistia à cena e já era tarde demais para impedir uma revira-volta no colégio.
   - Você não fez isso. - Conseguiu dizer, ainda que fracamente.
   - Ah, eu fiz. - arqueou uma sobrancelha, sorrindo docemente para Robert. Embora tivesse interrompido o beijo, conservara as mãos no mesmo local, ao redor do pescoço de Garrett.
   Esse por sua vez, assim como Pat, só conseguia sorrir bobo para Robert.
   - Vocês estão fodidos. - Apontou para os garotos antes de sair dali às pressas, com seu capanga logo atrás.
   voltou a olhar para Garrett, que a fitava meio perdido. Rolou os olhos sorrindo.
   ainda estava frente a frente com Pat, no entanto, ambos olhavam para os lados, envergonhados o bastante para não se encararem.
   Pat queria dizer alguma coisa, mas estava tonto demais para pensar em algo. A mera lembrança de ainda a pouco, misturado ao gosto de em sua boca ainda lhe causava pequenas explosões.
   sorriu para os dois mais uma vez e puxou para longe, indo em direção às amigas, que as encaravam de boca aberta.
   - Que foi? Não podia dar mais esse gostinho ao Robert. - deu de ombros. Mesmo sem saber o porquê, não conseguia tirar o sorriso do rosto. O beijo de Garrett tinha algo de reconfortante e familiar.
   - É, e resolveu dar pro Nickelsen. - rolou os olhos. As pessoas ainda olhavam para elas e cochichavam.
   - Eu não dei nada pro Nickelsen, ok? - Riu.
   - Bah, vocês são muito chatas. - deu a língua.
   - Chatas? Vocês são loucas! Beijaram os losers na frete da escola inteira! - abriu os braços, quase gritando.
   - Primeiro, não é a escola inteira, é só o segundo ano. Depois, o Garrett beija bem. - sorriu e a acompanhou, olhando rapidamente para Pat.
   - Malucas. - rolou os olhos.
   - Alunos, venham para o palco central, vamos começar as apresentações. - A voz da professora fez-se ouvir através das caixas de som espalhadas pelo pátio e logo uma porção de adolescentes nervosos e ansiosos invadiu o auditório da escola.
   As duplas começaram a apresentar-se por uma ordem escolhida pela professora, de forma que vários alunos já havia se apresentado quando e Garrett subiram ao palco.
   O trabalho deles a respeito da importância da música para os jovens foi o mais aplaudido até aquele momento.
  Segundo a professora, era o melhor que ela vira. Ela também dissera que os dois tinham uma química incrível, que fez com que eles trabalhassem melhor juntos. Eles só sorriam um para o outro enquanto eram cobertos por elogios.
   Quando desceram do palco, tomou liberdade para abraçar o garoto, que retribuiu sem se assustar tanto dessa vez. Talvez as coisas estivessem mesmo mudando e, pelo menos para , ele não fosse mais uma espécie de doença contagiosa.
   Outras duas duplas se apresentaram antes de e Matt subirem ao palco.
   A garota não estava em seu melhor humor e aquele parceiro não ajudava em nada.
   Matt praticamente não abriu a boca em momento algum, obrigando a apresentar o trabalho sozinha. Vez ou outra Jared lhe dirigia sorrisos cínicos e ela tinha vontade de socá-lo nesses momentos.
   Na verdade, tinha vontade de socá-lo sempre, mas ela relevava.
   Jared e Camille foram os próximos a se apresentar. O garoto ainda sorriu para quando eles se cruzaram na escadinha para o palco.
   A apresentação deles foi sossegada e, para deixar mais irritada, agradável.
   Numa lista das pessoas que ela mais odiava, Camille estava em segundo (só perdendo para Jared).
   Não conseguia suportar aquele jeito fofo de menina boazinha que Camille costumava agir.
   Mais algumas pessoas subiram ao palco e então chegou a vez de Kennedy e Pâmela.
   Aquilo foi no mínimo nauseante, na opinião de .
   Ela até desistiu de contar quantas vezes os dois trocavam risinhos e piadinhas maliciosas. E quando Kennedy piscava para ela de cima do palco, ela tinha vontade de comprar uma bazuca para atirar nele. Ou cortar todos os dedos dele com uma faca cega.
   Ou, quem sabe, cortar outra coisa da qual ele sentiria mais falta.
   A sua raiva só aumentou quando eles deixaram o palco e Kennedy deu um beijo que quase atingiu a boca da outra, dizendo algo, aparentemente engraçado, em seu ouvido.
   A Sra. Parker chamou a ela e a Bruno logo em seguida. praticamente arrastou o garoto para cima do palco, contando até cem para se acalmar.
   - Boa sorte, linda. - Kennedy sussurrou para ela quando os dois se esbarraram. Ela lhe mandou um dedo do meio e ele riu, voltando para o seu lugar ao lado de seus amigos.
   - , espera! - Bruno a segurou pelo braço, impedindo-a de chegar ao palco.
   - Algum problema? - Perguntou apreensiva, olhando dele para a Sra. Parker.
   - É... Eu 'to meio nervoso. - Mexeu em seus próprios cabelos, sorrindo por puro medo. - Eu nunca fiz uma apresentação pra tantas pessoas. Ainda mais ao lado de uma garota como você.
   - Uma garota como eu?
   - É. - Sorriu. - Eu sempre trabalho com os meus amigos e subir ao palco com uma das garotas mais lindas e seguras que eu conheço acaba sendo muita pressão, entende? Não quero fazer nada errado e te desapontar.
   - Awn. - Sorriu com o elogio. Não tinha reparado antes que aquele garoto era tão fofo. Ele vivia se escondendo atrás de seu celular, pelo menos agora ela sabia o porquê. - Sabe, eu não sou tão segura assim. Também estou um pouco nervosa, eu só não deixo isso transparecer. Ou tomar conta de mim.
   - É? - Ele ergueu uma sobrancelha para ela.
   - Ahan. E não precisa se preocupar vai dar tudo certo. Deu um passo para frente, abraçando rapidamente o garoto.
   Kennedy moveu-se desconfortável em seu lugar. Por que ela tinha quer ser tão carinhosa com aquele garoto mesmo?
   - Ok, vamos lá. - Segurou a mão de Bruno, finalmente chegando ao palco.
   Tentou deixá-lo o mais confortável possível durante a apresentação e evitou olhar para Kennedy para não ficar nervosa novamente.
   - Bravo. - Sra. Parker os aplaudiu assim que terminaram. - Obrigada vocês dois. - Disse, indicando as mesmas escadinhas que há pouco eles subiram, para que voltassem aos seus lugares.
   pegou a mão de Bruno novamente, tendo uma ideia que a mesma julgou genial.
   Todos ainda os observavam, aquela podia ser a vingança perfeita.
   Fez Bruno virar-se para ela e puxou-o sem dó, dando-lhe um beijo digno de filmes.
   Muitos na plateia começaram a gritar e a uivar. Kennedy desviou os olhos, sentindo-se incomodado.
   Aquilo costumava ser só um jogo, por que estava afetando-o tanto?
   - Certo, certo. - A professora pigarreou desconfortável. - Sentem-se jovens.
   separou-se de Bruno, fazendo questão de olhar para Kennedy antes de voltar a seu lugar.
   Houve também a apresentação das duplas de e Pat, com seus respectivos parceiros, que ocorreram tranquilamente, embora ambos preferissem ter dado a sorte de estarem juntos, como alguns de seus amigos tiveram.
   Para finalizar aquele dia puxado, a professora chamou ao palco o único trio das turmas do segundo ano.
   John e sorriram discretamente um para o outro e foram ao palco com Annabelle logo atrás deles.
   O casal apresentou o trabalho com pouca intervenção de Annabelle. O trabalho deles foi sem dúvidas o mais descontraído e engraçado, tal como o tema escolhido. Os dois tinham que mandar Annabelle calar a boca com frequência, já que essa se sentia pessoalmente ofendida com algumas das coisas que dizia.
   Ao final, enquanto todos aplaudiam. Os dois trocaram olhares cúmplices, antes de cada um seguir o seu rumo. Estava tudo bem entre eles novamente.
   Ou mais do que bem.

- Vamos para a minha casa? - sentou-se no banco do carona no carro de . Elas costumavam brigar entre si pelo banco da frente, mas atualmente concordavam que ficasse ali.
   - Sim! - concordou, lembrando quando ela ficava com aquele lugar. ficava sempre atrás dela, cutucando-a até que ela pedisse para parar o carro e trocar de lugar.
   - Acham que tiramos notas boas? - girou a chave na ignição, preparando-se para dar partida.
   - Não sei. Só estou feliz que tenha acabado. - fechou os olhos e suspirou, pendendo a cabeça para trás. Dormir à noite lhe fazia falta.
   - Eu acho que a não gostou disso. Agora não sobraram mais desculpas para falar com o Nickelsen. - riu. levantou a sobrancelha, desentendida. Ainda não sabia do acontecido.
   - A deu o maior beijo no Nickelsen. E a no Kirch. - explicou.
   - O quê? - gritou, quase batendo a cabeça no teto do carro com o pulo que deu. - E vocês só me dizem isso agora?
   - Calma, não foi nada demais. - sorriu nervosa. Não conseguia entender o grande problema naquilo.
   - É, foi só pra calar a boca do Robert. - rolou os olhos, sentindo uma pontada ao dizer aquilo.
   Não era só isso, ela sabia.
   - Mas vocês os beijaram na frente de todo o mundo?
   - É, tinha bastante gente. - fechou os olhos, lembrando-se da cena.

- A te beijou? - John encarava os amigos de boca aberta, sem conseguir acreditar. - E a beijou você? Na frente de todo mundo?
   - É, cara, para de gritar! - Garrett tampou o ouvido. O histerismo de John lhe fazia ter vontade de rir.
   - Cara... - O vocalista sentou-se, resolvendo que já fizera escândalo suficiente.
   - É, enquanto vocês se dão bem, minha linda fica beijando os gayzinhos da escola. - Kennedy abriu uma lata de cerveja com a cara emburrada e os outros o olharam.
   - Mereceu também né? - Jared riu.
   - É, tava bem nojento você e aquela outra lá no palco. - John completou.
   - Oh Kennedy, eu quero dar pra você, o que acha? - Pat tentou imitar a voz fina e enjoada de Pâmela, soando engraçado
   - Oh claro, claro. Sobe um pouco a sua saia que a gente...
   - Cala a boca Garrett! - Kennedy jogou uma almofada no amigo, atrapalhando o seu teatro. Todos riam.
   - Ela me dá bola, o que querem que eu faça?
   - Vai brincar com a sua mão! - Garrett devolveu a almofada. - E larga de ser carente!
   - Só no dia que você e o Pat largarem de ser brochas! Porra, se a me agarrasse assim na frente daqueles otários, eu só a largaria quando chamassem a polícia pra nos prender por atentado ao pudor.
   - Creeeedo! - Pat fez careta.
   - Seu tarado punheteiro! - Garrett fez o mesmo, rindo.
   - Seus broxas!- Sem que os garotos soubessem como, uma guerra de almofadas iniciou-se no meio da sala, só cessando quando a televisão de Kennedy foi ao chão.

Capítulo XVI

- Eu não devia ter vindo hoje, como é que eu vou olhar pra ele?
   - Com os olhos? - riu. - Ninguém mandou beijar ele.
   e conversavam deitadas no chão do quarto de .
   Virara uma espécie de tradição passar o dia com quando Pat ia para lá também. Os três ficavam conversando por horas, alheios à qualquer ponte social que havia entre eles.
   No entanto, naquele dia em especial, sentia-se insegura. Fazia pouco mais de vinte quatro horas que ela beijara Pat e as memórias daquilo ainda estavam frescas em sua mente.
   - Eu acho que vou embora. - Mordeu o lábio.
   - Tarde demais. - sorriu ao ouvir a campainha tocar - Espera aqui e não faz nenhuma loucura.
   - Ok né. - Suspirou resignada, passando a olhar para suas unhas. Estava decidida à tentar conter a vergonha e parecer normal. - Foi só um beijo, , você já fez isso antes. - Dizia baixinho para si mesma.
   - Vem logo, Patrícia! Tá vendo o que o cigarro faz com você? Mal subir uma escada consegue. - apareceu rindo na porta do quarto depois de um minuto e Pat veio logo atrás, corando ao ver .
   - Oi. - Acenou para a garota, que retribuiu o gesto. olhava para os dois achando graça.
   - Patzinho lindo, um dia você me leva num ensaio da The Maine? - A prima do garoto pediu fazendo bico.
   - Pode ser hoje? Eu vou pra casa do Kennedy à noite.
   - Perfeito! - Sorriu, batendo palmas e dando pulinhos com os pés juntos.
   - Você pode ir também, . Se quiser.
   - Eu? - Olhou diretamente para ele pela primeira vez no dia, sentindo o ar faltar. Sempre tivera uma queda pelo rapaz e aquela aproximação repentina não tinha melhorado sua situação. - Pode ser.
   - Mesmo? - Pat sorriu, entusiasmado.
   - Ahan. Vamos ver como a magia acontece. - Piscou para ele, não se sentindo mais nervosa. Incrível como Pat tinha esse dom de deixar todo mundo confortável com um simples sorriso.

- Odeio quando o Pat vai pra casa da e atrasa para os ensaios. - Os garotos esperavam já na casa de Kennedy, bebendo e olhando para o teto enquanto o baterista não chegava.
   - Ele deve estar aproveitando os últimos momentos com a . - Garrett deu de ombros.
   - Acha que ela foi pra lá depois de ter beijado a Patrícia? - Kennedy perguntou levemente interessado.
   - O que, o Pat beija tão mal que ela ficou assustada? - John riu.
   - Não sei, dude, me diz você. - Jared levantou uma sobrancelha para o amigo, sorrindo torto.
   - Filho da puta! - Lhe mostrou o dedo do meio. - Mas sei lá, vai ver a doida gostou.
   - Parem de zoar nosso Dumbinho, ele não merece isso. - Garrett deu a língua.
   - Cheguei! - Ouviram a voz de Pat no hall e logo ele apareceu na sala, com e logo atrás, ambas tímidas.
   John, que estava todo largado no sofá, deu um pulo assim que viu , endireitando-se. Corou, pigarreando.
   percebeu seu nervosismo e sorriu, notando a amiga da mesma forma que ele.
   - O que elas fazem aqui? - Jared apontou para as garotas.
   - Elas queriam assistir o ensaio. Tem problema?
   - Não, nenhum. - Kennedy cortou Jared, caminhando até com um sorriso torto. - Será um prazer tocar para garotas tão lindas. - Dito isso, pegou a mão da garota, beijando-a em seguida. John tossiu nervoso.
   - Obrigada. - Ela sorriu tímida, olhando para John enquanto Kennedy repetia o gesto com .
   - Obrigado por ter ajudado meus amigos ontem. - Piscou para , fazendo-a corar junto com Pat.
   - É... Vamos ensaiar? - Pat chamou, já seguindo sozinho para o andar de cima da casa, onde ficava a sala de música.
   Jared e Garrett foram logo atrás, seguidos de e Kennedy, que segurava a garota pela cintura.
   - Vem. - John mexeu os lábios, estendendo a mão para .
   - Oi. - Ela sorriu, depositando um selinho em seus lábios. Colocou sua mão sobre a dele e subiram as escadas daquela forma, até chegarem a um quarto no fim do corredor.
   John sorriu fraco para ela e eles se separaram.
   Pat observou os dois entrarem, levemente corada e John com um sorriso bobo, e arqueou a sobrancelha, resolvendo questioná-los depois. Será que eles ainda estavam de rolo, como Garrett dissera há um tempo?
   Então os garotos pegaram seus devidos instrumentos e prepararam-se para o ensaio. O primeiro ensaio que fariam com pessoas de fora da banda.
   - Vão tocar alguma música nova pra nós? - tentou, fazendo cara de coitada.
   - Nah, deixa isso pra sábado. - Kennedy piscou para ela.
   - Então nós podemos só escolher uma música? - imitou a expressão da amiga.
   - Isso vocês podem. - Foi Patrick quem respondeu.
   - Hm, nós queremos Girs Do What They Want então. - Pediram juntas após uma única troca de olhares.
   Aquela conexão que as garotas costumavam ter assustava os meninos.
   - Ok, vamos lá. - John sorriu. Se elas ao menos soubessem que eram a inspiração para aquela música... - Cantem comigo, se souberem a letra.
   Eles começaram a tocar a música, enquanto John e trocavam olhares que só eles mesmos achavam serem discretos.
   sorria para todos, cantarolando as partes que conseguia se lembrar. Pat encontrava-se hipnotizado.
   Aquele jeito meigo e sorriso espontâneo faziam ficar difícil não se apaixonar.
   Espera, apaixonar?
   Não, ele não podia estar apaixonado por uma delas. Não enquanto ele ria dos amigos na mesma situação. Não. Ele definitivamente não estava apaixonado.
   Mas bem que podia parar de olhar para Garrett e retribuir o seu olhar, sorrindo somente para ele.
   A The Maine ainda tocou Count'em One, Two, Three e Give Me Anything para as garotas, antes de resolver que já era tarde demais e ela precisava voltar para casa.
   - Eu te levo! - Pat se ofereceu histericamente. riu.
   - Não, fica ai, Pat. Eu levo as duas. - John sorriu com malícia para .
   - Já sei, o Pat me leva e o John leva a . - interrompeu o que estava para se tornar uma discussão. Todos a encararam e ela sentiu-se sem jeito. - É... A casa do Pat fica mais perto da minha. E eu sei que a ficaria segura com o John, porque ele é alto e as pessoas podem pensar que ele é forte também.
   - Hey! Como assim podem pensar? - O vocalista da banda resmungou, enquanto todo o resto ria. - Mas tá certo, é uma boa ideia. - Ele olhava de lado para , enquanto Pat olhava para o chão, sorrindo levemente.
   - Tá bom pra mim. - deu de ombros, só fingindo que não se importava com nada.
   - É, assim tá bom. - Pat usava o mesmo truque de esconder a animação que a prima.
   - Tchau, meninos! - sorriu, acenando.
   - Tchau. - Garrett respondeu. Gostava de desde a festa de Lana. Ela fora um anjo naquela noite.
   - Até amanhã, gatinhas. - Kennedy piscou, sendo fuzilado com o olhar por John e Pat.
   - Ér, vamos? - John chamou os outros três, disposto à tirar de perto de Kennedy antes que esse quisesse beijar a mão dela novamente.
   - Vamos. - Desceram as escadas juntos e esperaram até que John pegasse seu casaco, jogado em algum lugar na sala de Kennedy.
   - Por falar em casaco, você ainda tem o meu? - Pat perguntou à , lembrando-se do dia na pizzaria.
   - Tenho. - Ela sorriu sem graça. Ela gostava de usar aquele casaco (quando ninguém estava olhando, obviamente) e não queria ter de devolvê-lo, mesmo sabendo que deveria.
   - Menos mal, eu e o Ken apostamos que vocês os jogariam no lixo. - Riram.
   - A eu não sei, mas eu não joguei. Se quiser, eu te devolvo amanhã.
   - Quando você lembrar me devolve. - Deu um tapa no ar como se dissesse "sem problemas". Na verdade não o queria de volta. Gostava da ideia de a garota ter algo que a fizesse lembrar-se dele.
   - Pronto. - John apareceu no hall, onde os outros três esperavam.
   mantivera-se quieta durante todo o tempo, observando o primo e a melhor amiga.
   Eles saíram da casa para deparar-se com uma rua vazia e escura. Cada casal foi para um lado, despedindo-se rapidamente um do outro.

- Por que você quis vir comigo? - Pat perguntou após alguns minutos em que nenhum dos dois disse nada.
   - Eu meio que senti que a e o O'Callaghan precisavam de um momento sozinhos. - Sorriu, embora aquela não fosse a resposta que ela queria dar e nem a que Pat queria ouvir. - E eu gosto da sua companhia. - Completou, vendo um sorriso brotar nos lábios de Pat.
   - Você reparou nos olhares?
   - Da e do John? Aimeudeus e como!
   - Suspeito. - Ele ficou pensativo. riu.
   - Se eu descobrir que tem algo rolando entre eles, eu juro que te conto!
   - Ok, temos um trato? - Pat colocou a mão na frente da garota.
   - Só se você me contar também.
   - Ok. - Riram, apertando as mãos.

- Finalmente sozinhos! - gritou para o céu assim que viraram a esquina. John envolveu a mão da garota com a dele e a puxou para um beijo que ele queria lhe dar desde que ela chegara à casa de Kennedy.
   - Tenho que te levar pra casa mesmo? - Ele fez bico.
   - Depende... Tem uma ideia melhor?
   - Hmm e se nós ficássemos andando à toa por aí como um casal normal, só pra variar? - estremeceu com o uso da palavra casal para descrever eles dois. E deus, soava bem demais aquilo.
   Mas ela estava só exagerando, afinal, qualquer par de homem e mulher pode ser chamado de casal. Qual seria o significado para John?
   - No que você tá pensando? - John inclinou-se para conseguir olhar nos olhos de , que olhava para baixo. Ela mantinha a testa franzida e os lábios cerrados.
   - Você se referiu à nós como casal.
   - Bom, somos um garoto e uma garota; um casal, certo? - Mordeu o lábio, tenso. Que merda, ele a assustara. Ela já considerava ficar com ele loucura, imagina namorar. A garota assentiu devagar, deixando John ainda mais nervoso.
   Foda-se, ele a amava, não?
   - Mas a palavra tem mais de um significado.
   - Ahan. - sentiu um fio de esperança voltar. Desde quando namorar John O'Callaghan lhe parecia tão... agradável? E por que sua mão suava tanto, envolvida na dele? - Qual significado ela tem pra você?
   Eles estavam parados, frente a frente em uma rua totalmente deserta. A única iluminação ali provinha de um poste, que ainda assim só deixava clara a metade de seus rostos. Eles estavam nervosos.
   - Pra mim? - Fez um segundo de suspense, olhando para o céu. Sabia o que dizer, mas perdeu a coragem no último segundo, temendo ser rejeitado e perde-la para sempre. - O significado que você quiser. - Mordeu o lábio, procurando os olhos dela com os seus.
   - Hmmm...
   - Não, espera! - Ele a interrompeu num súbito de adrenalina e coragem. - Eu realmente gostaria de poder pegar na sua mão a qualquer momento e te beijar quando sentisse vontade, sem me importar com que visse ou deixasse de ver. Gostaria de poder te chamar de minha e mandar os garotos que chegam perto de você tomar naquele lugar. Mas eu sei que o preço que você pagaria por isso é bastante alto, então eu aceito qualquer decisão sua, porque eu te amo e não quero te perder agora que consegui você.
   John despejou tudo de uma vez, começando a arrepender-se ao ter que lidar com o silêncio por parte de . Ela não se movia e ele não tinha certeza se ela respirava.
   - Será que você pode dizer alguma coisa? - Pediu, mordendo o lábio com tanta força que quase podia sentir o gosto de seu sangue em sua boca.
   - Eu... - Suspirou. - John, eu já disse que quero estar com você, mesmo. Mas eu ainda não estou pronta pra dizer isso para o mundo e é errado pedir pra você fazer isso por mim. Não posso te submeter a isso. - John a encarava em silêncio e levou a mão ao rosto da garota para secar uma lágrima que escorrera dos olhos de seus olhos.
   - Hey. - Disse baixinho. - Você não tá me forçando a nada, ok? Eu também quero ficar com você, mesmo que tenha que ser assim por enquanto. Eu te espero. - Segurou o rosto de com as duas mãos, fazendo-a olhar para ele e não para o chão.
   - Eu te amo. - Entre lágrimas, ela disse aquilo que John sempre esperou ouvir dela. Seu coração pulou em seu peito e ele fechou os olhos sorrindo. Então resolveu passar toda a felicidade que sentia no momento para a garota, através de um beijo calmo e carinhoso.
   - Fala de novo? - Pediu baixinho, com os lábios quase colados nos dela. riu pelo nariz.
   - Eu te amo, loser.
   - Se você ama um loser, você é uma loser.
   - Não! - Fez drama, rindo.
   - Então, o que me diz? Namorada secreta?
   - Por pouco tempo. - Piscou, antes de beijá-lo novamente.

- Chegamos. - Pat sorriu levemente, parando na frente da casa de .
   - É a segunda vez que você me trás aqui. Se um dia você me trouxer num horário decente, te chamo pra entrar.
   - Sou um cavalheiro. - Ele estufou o peito, fazendo pompa.
   - É, ok, senhor cavalheiro. - Sorriu, empurrando-o sem aplicar força. - Até amanhã.
   - Boa noite. - Devolveu o sorriso, acompanhando com os olhos aproximar-se dele, beijando-o na face. Ela demorou uns bons segundos para tirar os lábios de seu rosto. Pat não resistiu a colocar as mãos em sua cintura, sentindo o quão fina e delicada ela era.
   afastou-se somente o suficiente para olhar em seus olhos, numa espécie de transe.
   Como era possível um garoto lhe causar arrepios só encostando nela?
   Sem querer, seus olhos baixaram para os lábios do garoto, lembrando-a do dia anterior. Inconscientemente umedeceu os lábios, percebendo Pat tão confuso quanto ela. Descansou uma das mãos no peito do baterista, sentindo-o soltar uma lufada de ar pela boca. O coração dele batia forte, ela podia sentir. O dela não estava diferente.
   Foi então que uma luz acendeu na varanda da casa, despertando-os. Eles se separaram assustados.
   - Tenho que entrar, Pat, boa noite. - Disse tudo muito rápido, correndo até a porta de entrada da casa mais rápido ainda.
   Pat, ainda que um pouco atordoado, esperou até que ela trancasse a porta por dentro para seguir caminho até sua casa.
   A expectativa sobre o que poderia ter acontecido não o deixaria dormir, daquilo ele tinha certeza.

Capítulo XVII

Os dias daquela semana correram rápidos e sem grandes acontecimentos para qualquer um que não fosse John e , que aproveitavam ao máximo aquele começo de namoro.
   Por incrível que pudesse parecer, Robert não fizera nada contra ou Garrett, como ele prometera. Na verdade, ele estava bem quieto naqueles dias.
   Quieto demais. , pensava distraída a ponto de se assustar quando levantou da mesa num pulo, anunciando às garotas que iria até a cantiga comprar alguma coisa.
   estava inquieta e nem sabia o motivo.
   Ou pelo menos fingia não saber.
   Entrou na fila da cantina respirando fundo. De certa forma, esperava que quando aquele trabalho idiota terminasse, Jared se afastasse de Camille, mas aquilo não acontecera.
   Sentiu alguém atrás de si, mas não se importou. Era uma fila, afinal.
   - Jar, vai em casa hoje à noite, certo? - A voz de Camille entrou pelo seu ouvido fazendo fechar os olhos com força e respirar fundo. Ela a odiava.
   - Ahan. - Agora era a voz de Jared, parecendo controlada demais. Então ele não sentia-se confortável em falar com Camille perto dela? Ótimo.
   - Meus pais estão loooucos pra conhecer você. - A voz de Camille não era enjoada ou forçada como a de Annabelle e suas amigas, mas mesmo assim provocava asco em .
   - Ai que lindo, o loser vai conhecer o papai da nerdzinha. - virou-se para os dois, sem conseguir conter a raiva que sentia. Ele agora ia conhecer a família de Camille? - Cuidado, o pai dela pode querer fazer testes para ver se você não tá comendo a filhinha dele. Porque não pare...
   - Chega. - Jared a encarou com raiva nos olhos. Camille olhava para o chão, para os lados... Para qualquer lugar desde que não tivesse que encarar .
   Essa por sua vez, saiu da fila bufando e correu para o interior da escola o mais rápido que pode. Qualquer vestígio de fome nela havia se esvaído.
   Aproveitou o corredor vazio do 3º andar e sentou-se na escada, olhando ao redor rapidamente e sorrindo sem humor.
   Não era a primeira vez que ela ia até ali, chorar pela situação em que ela mesma se colocara.
   Enterrou a cabeça entre as pernas, sentindo as lágrimas implorando para sair.
   - Por que você faz isso? - A voz vinha de cima, alta demais para a ocasião.
   - Jared? - Piscou para desembaçar a visão. Sua voz saiu como a de uma criança dengosa.
   - Me responde. - Ele mantinha as mãos fechadas em punho, em seu maior sinal de nervosismo. Também estava vermelho.
   - Não sei do que você tá falando. - Levantou-se fungando, limpando o rosto com a mão. Não queria que Jared a visse chorando.
   Estava mais alta que ele, por estar um degrau acima.
   - Pode parar de se fazer de coitada, isso não funciona mais comigo. - Tentou ser duro e manter a raiva que tinha quando foi atrás dela, mas não conseguiu conter um arrepio e uma leve comoção ao vê-la chorar. Seria por sua causa, afinal? Ele só queria entendê-la.
   - Eu não... Desaparece, garoto! - Tentou fugir dele, mas Jared a segurou pelo braço, antes que ela conseguisse descer o segundo degrau. Estavam na mesma altura agora, ambos respirando pesadamente por conta da agitação.
   - Por que você sempre foge? - Sentiu a irritação voltar. Estava cansado de ter a garota sempre fugindo quando era confrontada por ele.
   - Porque eu não quero ficar perto de você, é difícil entender isso?
   - Se você quer ficar longe, por que se intrometeu na conversa?
   - Por nada, só estou de mau humor. - Sentiu a voz falhar. Mentiras nunca foram o seu forte. - Não pense que eu estou com ciúmes ou algo assim. - Tentou ser o mais dura possível. - Eu só não gosto daquela garota.
   - Tanto faz, não é você que tem que gostar.
   - Você gosta dela? - Sua voz saiu um pouco esganiçada; não esperava aquela resposta.
   - Não é da sua conta. - Sentia a raiva aumentar cada vez mais. O que ela pretendia? Deixá-lo ainda mais confuso?
   - Eu...
   - O que você quer? Que eu fique te esperando para sempre? - Sem perceber aumentou a força com que segurava o braço da garota, fazendo-a soltar um gemido de dor. Não conseguiu responder nada, assustada com a reação de Jared.
   Nunca o vira assim antes.
   - Não fui eu quem desistiu! Eu disse que estaria aqui e fiquei. Quem fugiu foi você! Desde o primeiro momento. - Ele parou por um instante. o olhava com lágrimas nos olhos. - Talvez eu devesse ter ouvido o Jack quando ele me alertou.
   - Alertou sobre o quê? - Elevou a voz também. - O que ele disse? Eu nem sabia que você conversava com o meu irmãozinho.
   - Sabe qual é o seu problema? Você só vê o que quer, o que te interessa ver. Tudo é sobre você.
   - Não fala. - fechou os olhos, pois não aguentaria ouvir o que Jared estava para dizer. Queria fingir que era só um pesadelo.
   Jared suspirou, recuperando parte de sua calma.
   - Eu cansei. - Viu a garota voltar à abrir os olhos, o encarando com dor no olhar. Aquela última frase acabaria com ela, mas ele precisava dizê-la, precisava se libertar. - Eu cansei de você. - Jared a soltou, virando as costas e indo embora.
   estava tonta, suas pernas mal aguentavam sustentá-la e as lágrimas não conseguiam mais serem seguradas.
   - Jared! - Chamou-o com a voz embargada, correndo até ele e abraçando-o por trás. Ele parou de andar, respirando fundo antes de tirar os braços dela de seu redor e virar-se de frente para a garota novamente.
   Ele lhe dirigia um olhar totalmente frio e desprovido de emoção. Um olhar que a fez engolir um soluço. Sem pensar, jogou seus braços ao redor do pescoço do garoto e o beijou.
   Por um minuto pensou que ele não fosse corresponder e se desesperou. Mas as mãos dele em seu quadril e o contato de sua língua na dela a acalmou instantaneamente.
   Ele se arrependeria de retribuir, quando finalmente tivera a chance de estar livre, mas não aguentava mais torturar a si mesmo fingindo não se importar em ver a garota naquele estado. Precisava acalmá-la de alguma forma, ou ele mesmo não ficaria bem.
   Assim que a sentiu mais relaxada em seus braços, rompeu o beijo, sem afastá-la. Ela ainda parecia frágil demais.
   Foi então que seu telefone vibrou em seu bolso e ele se viu obrigado a afastá-la para ler a mensagem que recebera.
   Suspirou ao ver o nome na tela. logo entendeu de quem se tratava. Queria ela mesma sair de perto de Jared, provocá-lo ou qualquer coisa que pudesse mostrar o seu desprezo pela outra, mas não conseguia.
   Sentia que se ele fosse embora, ela cairia.
   - Vai atrás dela? - Perguntou com a voz fraca assim que o garoto voltou a guardar o celular.
   - Eu preciso.
   - Não precisa. - soou como uma criança naquela hora.
   - É como tem que ser. - Suspirou novamente.
   - Por quê? - Ele sorriu amargo com a pergunta.
  - Foi você quem escolheu assim. - Ele tirou as mãos da garota de si e lhe deu as costas novamente, sem dizer mais nada. Ela não fez mais nada a não ser observar Jared sumir no corredor.
   Era o fim? Ele estava mesmo desistindo dela? Jared escolhera Camille então?
   sentou-se no chão mesmo, voltando a chorar. Sentia-se mais fraca do que nunca e, curiosamente, a única pessoa que podia ajudá-la era a razão pela qual ela chorava.

~'s POV mode ON~

Caminhei em passos duros pelo corredor no momento vazio do térreo da escola.
   Achava o cúmulo aquele velho nojento do professor de literatura me mandar pegar material no almoxarifado.
   Logo eu! Qual é, é pra isso que os nerds servem.
   Cheguei à uma salinha minúscula e cheia de lixo (na minha opinião), que não sei porque era trancada à chaves. Quem ia roubar um monte de papel e quinquilharia?
   Deixei a porta aberta ao entrar, colocando a chave do lado de dentro da fechadura, caso algum imbecil passasse e tivesse a ideia de me trancar ali.
   Comecei a procurar distraída o material que o professor pedira, até sentir que não estava mais sozinha na sala.
   Virei-me para xingar o indivíduo que ousara me assustar daquela maneira, mas tudo o que consegui foi ficar de boca aberta e piscar várias vezes seguidas, encarando o sorriso prepotente do garoto à minha frente.
   Kennedy desviou os olhos dos meus para trancar a porta.
   E eu? Por que eu não fazia nada para impedi-lo de me trancar lá com ele?
   Eu não sei.
   Só sei que parte de mim desejava mais do que qualquer coisa ficar para descobrir o que viria a seguir.
   Porque eu nunca sabia o que Kennedy faria no minuto seguinte, e isso me deixava louca.
   Louca de vontade de ficar para saber.
   - O que você tá fazendo aqui? - Consegui perguntar. Ele se virou para mim e sorriu torto.
   - Estava passeando pelo corredor, te vi entrar aqui e resolvi que esse seria o lugar perfeito para termos uma pequena conversa sobre algo que tem me estressado bastante. - Ele veio até mim até que estivéssemos quase colados. Eu, pra variar, não conseguia me mover.
   - Eu posso gritar e te deixar bastante encrencado. - Sorri para ele, tentando manter a minha dignidade.
   - Claro. - Concordou, não dando a mínima para o que eu disse. - Mas vem cá, linda, deu para pegar os coitados agora?
   - Com quem eu fico ou deixo de ficar não é da sua conta.
   - Melhor tomar cuidado quando ficar com esses garotos, porque eles podem grudar e não largar mais.
   - Percebi. - Pisquei para ele. - Estou lidando com um desses agora. - Ele teve a coragem de balançar a cabeça negativamente, com aquele sorriso presunçoso. Vadio.
   - Você me quer, por isso vou atrás de você.
   - Eu não quero. - Retruquei, sentindo minha voz falhar quando ele colocou as mãos em meu quadril.
   - Achei que já tivéssemos passado da fase da mentira - Ele soprou em meu pescoço, me causando um arrepio gostoso. Sorri inconscientemente e torci para que ele não tivesse notado.
   Merda, odiava como ele conseguia fazer com que eu me sentisse como uma virgem intocada.
   - Então em que fase estamos? - Minha voz saiu rouca de desejo, mas não me importei. No momento só queria acabar logo com a tortura e senti-lo logo junto a mim.
   - Na fase em que eu te castigo por ter ficado com aquele gayzinho na minha frente. - Kennedy disse devagar enquanto distribuía beijinhos em meu pescoço, até chegar perto da minha orelha. Senti-me tremer com o que ele disse e é provável que ele também tenha sentido, pois o sorriso metido voltou à seu rosto.
   - E o que você pretende fazer? - Apoiei minha testa na dele, pouco depois de seus beijos chegarem até o canto da minha boca.
   - Primeiro, eu quero você. - Disse com simplicidade, pedindo permissão para me beijar. Coisa que concedi de bom grado, satisfeita por não precisar esperar mais.
   Já era inegável que ele me fazia perder totalmente o controle das minhas ações e eu nem podia sequer fingir que eu não gostava de tê-lo perto de mim.
   As mãos de Kennedy subiram para a minha cintura, enquanto ele afastava seus lábios dos meus para abocanhar meu pescoço. Ele alternava entre beijos e chupões, e eu tinha certeza que pelo menos um deles deixaria marca.
   Eu bagunçava e puxava seus cabelos freneticamente, à medida que ia cada vez mais perdendo o meu auto controle. Era provável que Kennedy saísse dali um tanto careca, mas aquela era a menor das minhas preocupações.
   - Diz que eu sou melhor que ele. - Sua voz estava rouca e terrivelmente sensual, me causando sérios arrepios.
   - Por que quer que eu diga isso? - Perguntei já sem fôlego. Kennedy era tão seguro de si, por que uma pergunta com uma resposta tão óbvia?
   Ele tirou o rosto de meu pescoço e me olhou com uma expressão que eu jamais pensei em ver em Kennedy Brock: ele tinha os olhos semi cerrados e a testa franzida. E parecia sentir dor.
   - Porque meu orgulho está ferido. - A forma com que ele disse aquilo me fez sentir algo estranho. Eu quis abraçá-lo e cuidar dele naquele momento.
   - Ciúmes, Brock? - Que é, não pude evitar. Ele sempre se aproveitava dos meus momentos fracos não é? Direitos iguais então. - Isso é contra as regras do jogo. - Ri, assistindo seu rosto voltar à expressão enigmática e indecifrável de sempre.
   - Então eu acho que nós dois violamos as regras. - Sorriu presunçoso.
   - Como nós dois?
   - Pâmela? - Arqueou a sobrancelha. Meu deus, Kennedy achava que eu tinha ciúmes dele, caraca como ele estava...
   Certo.
   - Aquela ruiva falsa? Eu não tenho ciúmes dela. - Ri esnobe, no melhor jeito de mentir que eu conhecia.
   A verdade é que eu tinha vontade de esfregar a cara daquela garota no asfalto toda vez que olhava para ela.
   - Ótimo, porque o jogo só é divertido com você, não se esqueça. - Ele piscou. - Fecha os olhos, linda.
   - Pra quê? - Não pude evitar sorrir. Instigava-me nunca saber o que estava por vir. Ele retribuiu o sorriso, controladamente.
   - Só fecha. - Soprou.
   E eu não sei por que diabos resolvi obedecê-lo. Eu devo estar pirando mesmo.
   Senti Kennedy roçar seus lábios nos meus, mas quando me preparei para recebê-lo, fiquei só esperando mesmo.
   Logo o calor vindo dele desapareceu e eu resolvi abrir os olhos a tempo de vê-lo abrindo a porta e saindo.
   Ele murmurou algo como "castigo" e deixou a sala de vez.
   Não fui atrás dele, obviamente.
   Não, me contentei em exercitar minha calma simplesmente chutando algumas caixas que estavam no chão, xingando cada uma delas.
   Kennedy Brock era o maior filho da puta do planeta e ele me tinha nas mãos.
   Tinha como eu estar mais fodida do que isso?

Capítulo XVIII

- Você não vai mesmo me dizer por que demorou tanto para voltar pra sala hm?
   - , meu amor, vai dormir. - Desde que voltara para a sala de aula, a amiga não parara de importuná-la, querendo saber o motivo de sua demora. Ela tentava se esquivar, mas a outra era insistente.
   - Vou mesmo, assim que chegar em casa. - Piscou para a amiga. - Mas você não vai fugir de mim para sempre. - Sorriu, dando saltinhos até as outras amigas, que já as esperavam para ir embora perto dos armários.
   - Que tal as aulas de vocês? - perguntou assim que as outras duas se juntaram ao grupo.
   - Pra mim normal, pra é que eu não sei viu... - sorriu sugestiva para a amiga, que, por sua vez, bufou.
   - Como assim? - As três perguntaram juntas, virando-se com interesse para a amiga.
   - É que a aqui saiu da sala para pegar material e demorou uns quinze minutos para voltar.
   - Hmm, tava fazendo o que ein? - cutucou a amiga. sentia-se extremamente corada. Ainda faria pagar por aquilo.
   - Eu não conseguia achar o que o professor pediu e fiquei procurando. Fim. Viu, nada de interessante. - Deu de ombros, fingindo descontração.
   - Sei... - As outras riram juntas.
   - Hmm, você não podia estar com o Bruno porque ele 'tava na aula. - colocou uma mão no queixo, fazendo cara de pensativa. - É alguém do terceiro! É, tá tudo explicado!
   - Não é ninguém, ok? - achou melhor encerrar por ali antes que batesse em cada uma das amigas, a começar por . - Até amanhã jumentinhas.
   deixou a escola nervosa. Não sabia o que faria se suas amigas descobrissem seu caso com Kennedy.
   Era orgulhosa demais para admitir que gostava de um loser.
   - Tá sem carro né, ? - lembrou-se, suspirando. Gostava de ter sua carona para casa todos os dias. Devia mesmo era arranjar um namorado que a levasse. Mas ela não conseguia pensar em nenhum outro garoto que não tivesse cabelo demais na cabeça e tocasse bateria.
   - É, vão ter que gastar os saltos de vocês hoje. Por isso já vim com um all star básico...
   - Pobreza é foda! - riu. - , tá com algum problema?
   - Só cólica. - Sorriu amarelo. - Acho que preciso ir ao médico. - Colocou a mão sobre a barriga para reforçar a desculpa. Por mais culpada que se sentisse em mentir para as amigas, nunca diria a verdade.
   - Conheço uns remedinhos muito bons que você deve ter em casa hm. - sugeriu, recebendo a atenção de . - Anota aí: sorvete, chocolate e filmes muuuuito românticos e melosos. - Sorriu.
   - Mas isso é remédio pra dor de cotovelo e não pra cólica! - se intrometeu, rindo do conselho estranho da amiga. Será que tinha pirado de vez? arregalou os olhos para , que piscou para ela.
   - Ops, então esquece. Até amanhã, chuchus!
   - Finalmente sexta-feira! - abriu os braços para o céu.
   - Finalmente! - As outras duas concordaram.

andava distraída pelas ruas, chutando todas as pedrinhas que ousavam se colocar em seu caminho.
   Tivera uma briga com os pais na noite anterior e acabara ficando sem o carro até o fim da semana. Felizmente, o dia seguinte já era sexta-feira.
   Levantou os olhos para atravessar a rua e reconheceu uma figura que caminhava igualmente distraída, um pouco a frente.
   Apertou o passo sorrindo e acenou:
   - Nickelsen! - Viu o garoto se virar devagar e correu até ele.
   - Oi. - Ele sorriu quando ela chegou perto dele, apoiando-se em seu peito para conseguir parar e respirar.
   - Oi. - Devolveu. - Posso ir com você?
   - Já estamos aqui mesmo. - ele deu de ombros. Ela ficava linda vermelinha daquela forma. - Mas cadê seu carro?
   - Confiscado até domingo.
   - Oh, sinto muito.
   - Eu não. - Deu de ombros e Garrett a olhou. - Eu gosto de andar com você. E a gente não se fala desde segunda. - olhou para ele de volta, que a encarava um pouco corado. Ela sentia a sua falta? Quais eram as chances reais de aquilo ser verdade?
   sorriu para ele:
   - Desculpa, minhas amigas sempre dizem que eu não devia ser tão sincera o tempo todo, mas eu não consigo.
   - Não, tudo bem. - Ele a fez parar, segurando seu rosto delicadamente. Ela o encarou, tirando o cabelo do rosto e expondo suas bochechas rosadas. - Eu senti sua falta também. - Ela sorriu docemente para ele.
   - Jura? Eu achei que você não gostasse de estar por perto, porque sempre acontece alguma coisa ruim. - Ela franziu a testa.
   - As pessoas seriam mais felizes se dessem mais valor para as coisas boas do que para as ruins. - Ele disse com uma convicção que a fez sorrir. já ia perguntar o que tinha de bom em andar com ela, mas lembrou-se de algo que fez seu sorriso desaparecer. Ela então tirou a mão de Garrett de seu rosto com cuidado e voltou a andar, com o garoto logo ao seu lado.
   - Garrett, o Robert fez alguma coisa com você?
   - Não, por quê? - Parou de sorrir também, franzindo o cenho.
   - Estou preocupada. Ele anda quieto demais.
   - Vai ver ele está buscando redenção. - Fez uma careta assim que terminou a frase. Como se aquilo fosse possível.
   - Duvido. - Ela sorriu nervosa.
   - Não esquenta, não tem nada que ele possa fazer com você. - Porque eu não vou deixar, pensou.
  - Não é comigo que estou preocupada, é com você. Você tem a banda e tudo o mais e não quero que você se prejudique por minha causa.
   - Olha, ... - Ele voltou a parar, ficando frente a frente com a garota, segurando-a pelos ombros. - Não precisa se preocupar comigo, ok? - Sorriu para ela. - O Robert pode até ser maior do que eu, mas eu sou mais esperto.
   - Eu não vou me perdoar se ele te machucar de novo.
   - Ele não vai, te prometo. E eu também não vou deixá-lo fazer nada com você.
   - Você é um anjo, Garrett. - Passou os dedos delicadamente pelo rosto do garoto, que fechou os olhos para aproveitar o carinho. - A propósito, que história é essa da The Maine não tocar no sábado?
   - Ah. - Ele sorriu, voltando a caminhar. - O dono do lugar, Mr. Rane tá doente e não vai abrir no sábado.
   - Sério? - Franziu a testa. - É grave?
   - Não sei, não disseram muita coisa pra gente. Mas espero que não porque não sei quem mais vai ser louco o suficiente pra querer a The Maine tocando no seu bar.
   - Ah para, vocês são bons.
   - Pelo menos em cima do palco né? Fora dele somos só os losers.
   - Eu não penso assim. - Empurrou o garoto, rindo.
   - Então você é a única. - Ele a olhou sério.
   - Duvido. - Ela disse, parando na porta de sua casa. - Até amanhã, Gary! - Ele arqueou uma sobrancelha, sentindo um leve arrepio. - Posso te chamar assim né?
   - Claro. - Riu, dando de ombros. - Até amanhã. - aproximou-se para lhe dar um beijo na testa.
   - Beijo! - Gritou antes de fechar a porta de casa.
  Garrett balançou a cabeça e seguiu até a casa vizinha. Tinha se esquecido de como era bom quando o chamava pelo apelido.

~'s POV MODE ON~

Coloquei os fones no ouvido e comecei a cantarolar uma música de McFly que tocava no aleatório.
   Apesar de já passar das cinco da tarde, o sol ainda estava forte no céu me forçando a manter os olhos semicerrados e eu me amaldiçoei por não ter pegado meus óculos de sol. Também, com meus pais brigando feito um par de galos, a última coisa que eu me lembraria de pegar seria meu óculos de sol. Tudo em que eu pensei foi pegar o iPod e os fones.
   Fechei os olhos, respirando profundamente. As brigas entre os dois vinham sendo cada vez mais frequentes e eu temia que eles acabassem se separando.
   Deixei-me levar para qualquer lugar, seguindo os meus instintos e sorri sozinha ao reconhecer uma praça que eu costumava frequentar há algum tempo, só pelo fato de haver uma pista de skate ali.
   Há quanto tempo eu não praticava!
   Sentei em um banco, de costas para a pista. Precisava espairecer a cabeça.
   As garotas me matariam quando soubessem de tudo que eu tenho passado sem contar nada pra elas, mas eu não me sentia pronta para dividir ainda.
   - ? - Ouvi alguém me chamar por trás e pulei assustada, ficando de pé. Pat me encarava com curiosidade, segurando um skate na mão direita.
   - Pat? - Olhava para o skate em sua mão. Ele sabia andar? - Isso é seu?
   - É, eu pratico. - Ele sorriu tímido, passando a mão livre nos cabelos.
   - Jura? Que legal!
   - Sabe andar?
   - Tá brincando? Eu adorava quando era mais nova. - Tentei maneirar na empolgação quando percebi que estava demais.
   - Mentira. - Ele me mediu e eu lhe mostrei a língua.
   - Só porque eu não pareço uma skatista? Você também não tem cara. - Levantei uma sobrancelha para ele. - E aposto que sou melhor do que você. - Desafiei, vendo-o abrir a boca e fechá-la em seguida, sem saber o que dizer.
   - Duvido. - Disse por fim.
   - Ah é? Me empresta esse skate pra ver. - Contornei o banco, até ficar frente à frente com ele.
   - Claro. - Ele gargalhou, entregando o objeto em minhas mãos. Sorte minha estar de shorts e All Star naquele dia e não saia e salto, como sempre.
   - Chato. - Dei a língua, colocando o skate no chão e subindo nele. Mas acabei perdendo o equilíbrio e cai para o lado de Pat, que me segurou, rindo como um idiota. - Não ri, faz tempo que eu não pratico. - Fechei a cara, fazendo bico.
   - Own, coitadinha. - Riu, me colocando em pé novamente.
   - Chato! - Cruzei os braços, ainda com bico.
   - Vem, eu te ajudo. - Pat esticou o braço em minha direção, fazendo esforço para não rir mais. Encarei-o por um momento, antes de colocar a minha mão sobre a dele.
   - Não é pra me zoar, só estou enferrujada.
   - Ok, deixo você me bater se eu rir de você.
   - Promete?
   - Prometo. - Rolou os olhos. - Vem logo. - Ele puxou minha mão, me levando para perto dele e me posicionando na frente do skate.
   Pat me ajudou a ficar equilibrada sobre o skate e ficou perto de mim, me segurando até que eu me habituasse com o objeto.
   Tentei fazer um flip, mas me desequilibrei novamente e Pat me segurou.
   Quando ele finalmente cansou de me ver pagar mico sem poder rir, me fez descer do skate e subiu lá no meu lugar, me lembrando de como fazer o que eu queria.
   - Vem, tenta de novo. - Me chamou e eu olhei pra ele. - Vai lá, você tá indo bem.
   - To indo bem? Tá tentando enganar quem? - Ri nervosa.
   - Faz quanto tempo que você não pratica?
   - Uns cinco anos. - Mordi o lábio, pensando. Não queria que ele pensasse que eu era uma patricinha covarde. - Tá, da licença. Agora eu consigo.
   - Ok, quebra a perna. - Me deu lugar e eu arregalei os olhos para ele.
   - Pat!
   - Ah sim, isso é só no teatro né? Desculpa, manda ver. - O filho da mãe estava rindo do meu desespero, isso me dava direito de bater nele né?
   Pat ficou atrás de mim, não muito distante. Ele estava atento à qualquer movimento em falso da minha parte e eu sabia que estaria segura com ele ali. Estava achando aquela atenção toda muito fofa e acabei sorrindo sozinha por causa disso, sem perceber.
   - Tá rindo de quê? - Pat perguntou por trás de mim.
   - Nada. - Me senti corar levemente. - Vou tentar o flip de novo, preciso de espaço. - Ele se afastou o suficiente, ainda alerta.
   Respirei fundo, de olhos fechados, me concentrando no skate abaixo dos meus pés.
   Um deles devia ficar sobre o tale e o outro junto aos parafusos na frente. Tentei relaxar e fazer o que tinha que fazer, entrando em transe até ouvir a risada gostosa de Pat por trás de mim. Ele também aplaudia e então entendi que tinha conseguido.
   - Conseguiu! - Ele veio até mim e eu me joguei em seus braços, pegando-o de surpresa. Ele me abraçou de volta, mas não me mantive ali por muito tempo, para a minha própria segurança.
   - Obrigada. - Sorri sem graça para ele, retirando uma mecha do meu cabelo do rosto.
   - Agora vamos ver se você fica em forma para descobrirmos quem é o melhor. - Ele piscou.
   - Claro, vou te fazer engolir suas risadas. - Pisquei de volta, pegando o skate do chão e entregando-o a Pat.
   - Fica contigo, eu tenho outro.
   - Sério? - Um sorriso bobo escapou dos meus lábios.
   - Ahan. Ai você pode praticar. Só não vai me aparecer toda fodida depois ok?
   - Eu te chamo pra me ajudar, aí vou ter você pra me segurar.
   - Ok.- ele riu. - Acho melhor te levar pra casa, tá escuro já. - Olhamos para o céu ao mesmo tempo.
   Realmente havia escurecido. Há quanto tempo eu estava ali afinal?
   - Patrick Kirch, skatista e baterista. Quem diria hm? – Empurrei-o com o ombro quando começamos a andar.
   - Você não sabe nem a metade. - Fez uma expressão enigmática.
   - Por acaso você é gogoboy nas horas vagas também? - Ele arregalou os olhos.
   - Oh, você descobriu o meu maior segredo! Como ousa?
   - Eu não conto pra ninguém, prometo. - Fiz sinal de escoteiro com a mão, enquanto ria sem conseguir parar.
   Fomos conversando sobre tudo e nada até chegarmos à minha casa e o meu sorriso morrer de vez. Pat pareceu perceber e me olhou preocupado.
   - Hey, tá tudo bem?
   - Tá sim. Obrigada pela companhia Pat, tenho que ir. - Já me preparava para fugir dele e de qualquer pergunta, mas ele me segurou.
   - Você não me parecia muito bem hoje mais cedo também, aconteceu alguma coisa? - Ele sustentava seus olhos nos meus e eu me deixei viajar em suas íris, até me esquecendo de que estávamos conversando. - Ok, você não precisa me contar.
   - O quê? - Perguntei, notando um tom chateado em sua voz.
   - Nós tecnicamente nem somos amigos.
   - Não eu... Eu não contei pra ninguém ainda. - Voltei a encará-lo. Não era como se Pat não fosse meu amigo, nós passávamos várias tardes juntos na casa da e nós até nos beijamos uma vez. E ele me fazia esquecer os problemas em casa.
   Não, ele tinha razão, não éramos amigos, mas não porque ele era um loser ou qualquer uma dessas baboseiras e sim porque eu nunca o vi dessa forma e também não era assim que eu o queria.
   - Ok, eu vou embora. - Ele sorriu triste, soltando o meu braço.
   - Não, Pat, espera. - Dessa vez eu o segurei. - Eu estou com uns problemas em casa. Do tipo acho que meus pais vão se separar.
   - É sério? – Assenti.
   Ele pareceu me compreender, mas não disse nada. Ao invés disso, me abraçou.
   - E o que vai acontecer? - Ele perguntou depois de um tempo em que tudo o que eu fiz foi fungar em seu pescoço. - Digo, com você.
   - Eu não sei. Não faço ideia, mas eu não quero que isso aconteça. - Desisti de controlar minhas lágrimas e as deixei cair livremente, sentando no chão da calçada. Pat sentou-se ao meu lado.
   - Eu sinto muito. E mais ainda por não poder fazer nada, mas eu estou aqui pra te ouvir.
   - Obrigada. - Sorri pra ele.
   - E não vou contar pra ninguém.
   - Ok. - Deixei minha cabeça cair em seu ombro. - E Pat...
   - Oi? - Ele me olhou.
   - Não diga que nós não somos amigos de novo. - Ele só continuou me olhando e percebi que ele não responderia. - O que a gente tem pode não ser uma amizade convencional, mas é alguma coisa. Quer dizer, eu confio em você e tipo, eu sei que você sempre vai estar em algum lugar por perto, então eu acho que isso é alguma coisa.
   - Tem que ser alguma coisa, porque você é a única amiga da minha prima que eu me permiti aproximar. - Ele disse por fim, sério. Que diabo de resposta era aquela? Eu não tinha sido sincera no que disse também, porque jamais poderia ser amiga dele com os sentimentos que eu tinha, mas...
   Porra o que aquilo queria dizer?
   - E você é diferente do que eu pensei.
   - Isso é bom? - Perguntei e ele riu.
   - É sim. - Sorri, dando aquela conversa por encerrada antes que eu falasse demais. Tudo o que eu precisava era um sinal de que ele gostava de mim como eu gostava dele, mas se fosse verdade ele sabia camuflar muito bem.
   Ou isso ou eu era só a amiga legal da prima dele.
   Pat colocou o braço ao redor do meu ombro e eu voltei a encostar nele, espantando qualquer pensamento que me fizesse mal naquele momento.
   Não me sentia bem assim há tempos e eu sabia que não era só por ter andado de skate por algumas horas. Era porque Pat estava comigo e isso me assustava.
   Muito.

Capítulo XIX

A manhã de sexta-feira chegou e todos estavam na expectativa para o final de semana.
   Era intervalo e os garotos da The Maine estavam sentados na mesa de sempre. Era mais afastada de todo o mundo, mas com uma visão privilegiada à uma outra onde sentavam ninguém mais ninguém menos do que as garotas mais populares da escola.
   - É impressão minha ou a tá mais linda hoje do que nos outros dias?
   - John, esse seu jeito gay de ser tá me irritando. - Jared rolou os olhos, tomando um gole de seu suco.
   - Deixa, ele só está apaixonado. - Camille riu baixinho.
   - Bom, então gente apaixonada é um saco. - Ele bufou.
   - Jared, tá tudo bem, filho? - Kennedy arqueou uma sobrancelha, roubando o suco de Pat, que protestou. - Você fica quietinho, baixinho.
   - Vai se foder. - Pat resmungou. Jared não respondeu, limitando-se a bufar novamente.
   - Bom dia, meninos. - Um par de pernas surgiu na visão de John, que descansava com a cabeça deitada na mesa, sendo obrigado a levantar os olhos para encarar a garota parada em sua frente.
   - Annabelle. - Suspirou impaciente.
   - Oi John. - Sorriu. - Vou dar uma festa em casa mais tarde e vocês estão convidados.
   - Nós?- John apontou para ele mesmo e depois para os amigos.
   - Ahan. Você pode ir também, Camille.
   - Obrigada. - Sorriu tímida, olhando para Jared. Queria ir, mas só o faria se Jared fosse também e, ao julgar pelo seu humor, ficaria em casa.
   - Vocês vão né? - Mary olhou para Garrett esperançosa.
   - Quem mais vocês chamaram? - Kennedy olhava descaradamente para a mesa de .
   - Não as convidamos, se é isso o que quer saber. - Pâmela respondeu num tom ofendido. Kennedy levantou uma sobrancelha para ela.
   - Não querem competição?
   - Não gostamos delas. - Sorriu cúmplice, como se os garotos tivessem a mesma opinião. Garrett sorriu falsamente para ela.
   - Vamos pensar se vamos, ok?- John resolveu terminar logo com a conversa, antes que tivesse problemas com .
   O que provavelmente aconteceria.
   - Elas não cansam de correr atrás deles? - Perguntou às amigas, de cara fechada.
   - Idiotas merecem idiotas. - rolou os olhos, morrendo de raiva por dentro. Kennedy podia ser mesmo um idiota, mas era o seu idiota.
   E ela estava pensando seriamente em botar fogo no cabelo daquela ruiva falsa, já que ela gostava tanto de vermelho.
   - O que será que elas querem? - mordia o canudo de seu copo enquanto olhava discretamente para Garrett.
   - Provavelmente encher o saco. - deu de ombros.
   tentava depositar a sua atenção em sua salada e não nos garotos que - deveriam ser - eram os perdedores do colégio.
   - Já volto. - se levantou. - Vou ao banheiro.
   As amigas concordaram e como nenhuma quis ir com ela, entrou sozinha no prédio principal da escola, preferindo o banheiro de lá por ser mais vazio.
   Não estava com vontade de falar com nenhuma garota naquele momento.
   Estava tão distraída em seu caminho que nem percebeu que estava sendo seguida e só se deu conta disso quando sentiu-se bater contra a parede fria do corredor.
   - Sentiu minha falta, gatinha? - A respiração de Robert bateu contra o seu pescoço e ela começou a se debater, tentando escapar daquele abraço.
   Não gritou, pois além de saber que seria inútil, não havia mais ninguém por ali, aquilo só irritaria o garoto mais ainda.
   - Me solta idiota! - Pediu, sentindo uma lágrima escapar de seu olho. Robert não estava ali para bater um papo, ela sabia disso. Tudo dentro dela alertava perigo.
   O corpo dele estava grudado no dela, imobilizando-a com seu porte de atleta e seu perfume a fez querer vomitar.
   A vontade só aumentou quando o garoto começou a beijar seu pescoço, colocando todo o seu cabelo de um lado só.
   - Quietinha. - Sussurrou, segurando as duas mãos de contra a parede com uma mão só e imobilizando suas pernas com as dele.
   Era inútil que ela tentasse escapar quando ele podia quebrá-la facilmente com uma mão nas costas.
   Robert aproveitou a sua mão livre para percorrer o corpo de por baixo de sua blusa, aproximando seus beijos dos lábios da garota.
   - Por favor. - Pediu, tentando inutilmente escapar. A mão dele chegou até o seu sutiã e ela fechou os olhos imaginando que aquilo fosse só um pesadelo.
   chegou a ouvir vozes exaltadas demais para que as palavras fizessem sentido em sua mente confusa e de repente ela estava livre.
   Ouviu também um baque surdo de algo caindo no chão e quando abriu os olhos viu Robert no chão, com a boca cheia de sangue e Garrett próximo a ele, pronto para socá-lo novamente.
   Ela tremia e ainda estava assustada, mas agiu rápido, colocando-se na frente de Garrett.
   - Para!- Gritou. - Por favor, ele não vale a pena.
   - Sai da minha frente, . - Garrett tentou conter o tom ameaçador para não assustá-la, mas falhou. Sabia também que a expressão em seu rosto não era das melhores e sua postura também não era reconfortante. Ele tremia de raiva pela cena que viu e mal podia imaginar o que poderia ter acontecido se ele demorasse um minuto a mais para aparecer.
   - Não! - Ela jogou-se sobre o garoto, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
   Robert olhava para os dois, completamente tonto e incapaz de se mover. O soco de Garrett o atingira em cheio e o pegara totalmente desprevenido.
   - Ele não consegue nem se levantar!
   - Mas ele... Se eu não tivesse chegado... Ele ia...
   - Ele não fez nada, eu 'to bem. Olha pra mim, Garrett. - Segurou o rosto do garoto com as duas mãos, forçando-o a olhar para ela. - Eu 'to bem. - Repetiu. - Por favor, vamos embora.
   Garrett olhou para Robert por cima do ombro de , ainda tendo as mãos dela em seu rosto. Suspirou.
   Robert realmente não se livraria daquele hematoma tão facilmente e não fazia sentido deixar a garota ainda mais tensa.
   - Ok. - Ele se livrou de suas mãos e a abraçou, sentindo a garota se afundar em seu peito. Tão frágil. - Vamos embora.
   Deixaram o prédio em direção ao pátio com ainda escondida nos braços de Garrett. Todos olhavam para os dois e os grupos de ambos não demorou para chegar ao lado deles.
   Os amigos de Robert olhavam para eles assustados.
   - Melhor irem atrás do seu amiguinho!- Garrett gritou com raiva para eles, que correram para dentro da escola.
   - ? - foi a primeira a chegar, olhando assustada da amiga para Garrett.
   - O que houve, cara? - John parou ao lado de , reparando no sangue na camisa do amigo. Os outros chegaram logo depois e tinham a mesma expressão nos rostos.
   - Me empresta seu carro, Kennedy? Vou levar a pra casa. - Garrett não conseguiria dar explicações naquele momento e muito menos, pois essa ainda continuava colada no garoto.
   Todos tirariam suas próprias conclusões quando vissem o estado de Robert.
   - Aqui. - Kennedy ponderou, segurando a chave na mão. - Tem certeza de que consegue dirigir?
   - , olha pra mim! - pediu desesperada. A amiga olhou para ela, dirigindo-lhe um sorriso fraco e triste.
   - Tenho. Só quero sair daqui, tá todo mundo olhando pra nós. - Tomou as chaves da mão do amigo.
   - Cuida dela, por favor. - tocou de leve no braço de Garrett e este assentiu antes de seguir com para o estacionamento, sob os olhares da escola inteira.
   O caminho para a casa de foi silencioso e tenso. A garota se acalmava pouco a pouco, mas Garrett parecia cada vez mais nervoso.
   - Você precisa se acalmar, Gary. - Colou a mão sobre seu ombro. As mãos dele tremiam e apertavam o volante com tanta força que se perguntava como não doía.
   - Fica comigo? Se eu ficar em casa sozinho é possível que eu volte para bater nele de novo. - Ele dizia a frase fazendo longas pausas. Ele tentava conter a raiva, sabia disso, mas começou a temer que ele não estivesse em condições de levá-los.
   - Garrett, para o carro. - Pediu antes que algum acidente acontecesse. Ele a obedeceu, puxando o freio de mão com força. - Agora olha pra mim. - Ele fez o que ela pediu novamente e ela respirou fundo.
   Agora a sua prioridade era parecer bem para poder acalmá-lo.
   - Eu 'to bem, ok? Ele não fez nada comigo.
   - Mas teria feito se...
   - Mas não fez. Você chegou antes e eu não quero que você fique se torturando por isso. - pegou as mãos de Garrett e as envolveu com as suas. Não desviou seus olhos dos dele nem por um instante.
   - , eu...
   - Eu sei. - Sorriu fraco. - Você cumpriu sua promessa. Nada de ruim aconteceu comigo.
   - Vamos pra casa. - Garrett suspirou após alguns minutos que usou para se acalmar, finalmente rompendo o olhar entre eles que em momento algum ficou desconfortável. Livrou-se delicadamente das mãos da garota e ligou o carro.
   Apesar de tudo ela parecia bem e ele usaria isso para se acalmar.

~’s POV mode ON~

As aulas terminaram e eu fui a última a ir embora, porque tinha algumas coisas do conselho da escola para resolver.
   Pela primeira vez eu estava achando as tarefas de representante uma merda.
   Eu precisava encontrar , o celular dela ficara desligado e não queria ligar em sua casa porque imaginava que ela ainda estivesse com o Nickelsen e caso isso fosse verdade, uma ligação minha no fixo deixaria os pais dela preocupados.
   Robert deixou a escola pouco depois de e Garrett e seu estado era deplorável.
   Eu podia imaginar o que tinha acontecido, mas isso não me agradava.
   As meninas todas estavam na casa da , tentando ligar para e quando ela ligasse seu celular provavelmente encontraria mais de cem ligações perdidas.
   sugeriu que fossemos atrás deles, mas eu e cuidamos para que isso não acontecesse porque algo me dizia que preferia estar com o Nickelsen naquele momento, por mais estranho que parecesse para mim.
   O que eu podia dizer? Estava apaixonada por um deles.
   Sorri sozinha, saindo da escola para encarar o pátio totalmente deserto. Cheguei ao portão de entrada e meu sorriso só aumentou ao ver um garoto alto e terrivelmente lindo encostado no muro. Ele usava óculos de sol, mas eu sabia que seus olhos verdes brilhavam embaixo dele.
   John sorriu para mim assim que me viu e nos encontramos no meio do caminho.
   - Não te vi indo embora com suas amigas, imaginei que ainda estivesse aqui.
   - E resolveu me esperar como um maníaco perseguidor? - Coloquei minhas mãos ao redor de seu pescoço, beijando-o em seguida. Ele rompeu o beijo para me olhar e balançar a cabeça em negativa.
   - Resolvi te esperar como um bom namorado. - Se o meu sorriso abrisse mais um pouquinho eu rasgaria a minha boca, porque ouvir aquilo fez as minhas pernas amolecerem.
   - Então obrigada, namorado. - Sorrimos um para o outro, mas logo ele ficou serio novamente.
   - Consegui falar com o Garrett.
   - Sério? O que aconteceu? Como a tá? Ai meu deus John me conta!
   - Calma. - Ele pediu rindo do meu desespero. Idiota se fosse a amiga dele ele não riria. - Eles estão bem. O Robert tentou forçar a a ficar com ele e num surto de super-homem o Garrett conseguiu acertar ele. A tava dormindo e o Gary ia tomar banho quando ele me atendeu.
   - Mas não faz sentido, o que o Garrett estava fazendo lá?
   - Foi atrás do Robert. Acho que ele estava esperando alguma coisa assim acontecer e ficou de olho. Ai quando viu o Robert indo atrás da ele foi atrás também.
   - Como a gente não viu isso? - Abaixei a cabeça. Que péssima amiga eu estava sendo, mentindo para as garotas e não prestando atenção aos problemas delas.
   - Não sei. - Ele me segurou pelo queixo, fazendo com que eu o olhasse. - Mas não fica assim , ninguém podia prever isso. Vamos fazer alguma coisa vai.
   - Eu quero ir pra casa. Preciso pensar um pouco. - Ele concordou, parecendo um pouco desapontado, mas ainda compreensível.
   - Ok, eu te levo. Posso ir te ver mais tarde então?
   - Claro. - Olhei para ele desconfiada. Havia algo que ele não me contava. - O que a Annabelle queria?
   Aha, achei o ponto fraco!
   - Chamar a gente pra uma festa. - Deu de ombros. - Mas eu não vou! - Acrescentou quando eu ia começar a falar. Ri. - Prefiro passar a noite com você.
   - Você deveria preferir, sou sua namorada. - Ele sorriu.
   - Isso soa tão bem quando você diz em voz alta.
   - Bobo. – Senti-me corar. Já fazíamos o caminho para a minha casaháà algum tempo, sem que eu mesma percebesse. - Aparece em casa mais tarde, vou ficar sozinha.
   - Seus pais não vão estar lá? - Ele engasgou. Rolei os olhos.
   - Foram viajar com a minha irmã e só voltam no domingo.
   Eu podia praticamente ouvir os pensamentos de John naquele momento e eles não eram nada inocentes.
   Meninos, todos iguais.
   - O... Ok. - Peguei a mão dele com a minha e fomos assim até a minha casa.
   Eu estava cada vez mais enrolada com aquilo tudo, mas eu não queria nem saber. Quem no mundo poderia imaginar que de todos os garotos possíveis eu tinha me apaixonado perdidamente por John Cornelius O'Callaghan?

Capítulo XX

Terminou de se arrumar no momento em que a campainha tocou. Vestia uma regata branca simples e um shorts jeans.
   Desceu as escadas correndo, parando rapidamente para checar o seu reflexo no espelho.
   É, aceitável
   A garota espiou pelo olho mágico da porta, encontrando John com uma regata da mesma cor que a sua, estampada com algo que ela não reconheceu e um jeans escuro. Sorriu sozinha e jogou-se nos braços do namorado assim que a abriu a porta. John a abraçou de volta, colando seus lábios nos dela.
   - Senti sua falta. - Ele soprou em seu ouvido, fazendo seus lábios se curvarem em um sorriso.
   - E eu senti a sua, vem. - O puxou pela mão para dentro de casa.
   Podia sentir o garoto quieto e pensativo e isso a preocupou. Parou no meio do caminho para lhe olhar.
   - Qual o problema?
   - Você não vai me expulsar de novo, vai?
   - Idiota. - Deu-lhe um tapa no braço, vendo-o rir.
   - Eu não sou mais problema então?
  - É o maior deles. - Ela riu. - Mas tenho gostado de problemas ultimamente.
   - Ah é? - Ele ergueu uma sobrancelha.
   - E essa história de namoro escondido é bem excitante.
   - Se você acha. - Deu de ombros. franziu a testa. Não era essa a reação que queria.
   - John...
   - Tá, sem problemas essa noite. - Colocou seus braços ao redor da cintura da garota, provocando-lhe arrepios.
   não pensava mais em John como um dos losers, mas sim como seu lindo namorado, vocalista da The Maine. Ela realmente não via problemas em assumi-lo para o mundo e quem quer que fosse, mas o medo da reação de suas amigas ainda a assustava.
   Ela tinha medo de que tudo mudasse.
   - Na verdade, eu quero bastante problemas essa noite. - Ela sorriu, com a melhor cara de inocente que pode fazer, mas seus olhos transbordavam luxúria. Assim como os de John, quando ele ouviu o que ela disse.
   Não esperou mais para tomá-la no que seria o beijo mais apaixonado da vida dos dois. Logo as mãos de se emaranharam nos cabelos de John, enquanto as dele passeavam pelo corpo da garota, por baixo de sua blusa.
   Foi quase automático que ambos procurassem o sofá sem se soltarem, cambaleando até ele.
   Caíram sobre o móvel, por cima. Ela se posicionou de forma que suas pernas ficassem cada uma de um lado do corpo de John.
   Lembrou-se da última vez que ele estivera ali, quando ela estava tão confusa sobre seus sentimentos que acabara brigando com o garoto.
   Agora era diferente, ela tinha certeza do que queria.
   Queria aproveitar todos os momentos que pudesse ter com ele e se perder em seus lindos olhos verdes, que naquele momento miravam o corpo da garota com admiração e desejo.
   De uma coisa ela tinha a mais absoluta certeza: John O'Callaghan era tudo o que ela pedira aos céus.

~'s POV mode ON~

Abri os olhos, ainda sonolenta, estranhando por um momento o ambiente em que estava. Forçando um pouco a vista, encontrei pontos conhecidos e acabei me lembrando de tudo. Desde o que acontecera de manhã com Robert até agora.
   Retrai-me, deixando um som abafado sair do fundo de minha garganta.
   Eu não podia acreditar que de tudo o que eu poderia ter feito com a minha tarde, acabara dormindo.
   - Merda. - Resmunguei.
   - , tá tudo bem? - Garrett apareceu no último degrau da escada com seus cabelos molhados, caindo em seu rosto de um jeitinho fofo, uma camiseta já velhinha de algum desenho qualquer, uma bermuda e uma toalha jogada no ombro.
   Ele me olhava com uma expressão preocupada que eu achei linda.
   - Tudo. - Pisquei forte, tentando parar de encará-lo. Eu sempre o achei lindo, fofo e tudo o mais, mas hoje eu simplesmente não conseguia tirar os olhos dele.
   - É... Tem certeza? - Sorriu esperto, de certo notando a minha expressão de idiota. Desviei o olhar do dele, sentindo-me corar.
   - Ahan. - Respondi rápido.
   - Ok... - Ele riu.
   - To com fome. - Mudei de assunto, aliviada pelo meu estomago ter mesmo roncado naquele momento. Como Garrett saíra da sala, provavelmente para se livrar da toalha, tive que gritar.
   - Fome? - Ele voltou, bagunçando os cabelos molhados pertinho de mim.
   - Hey!
   - O que foi? - Ele me olhou com cara de inocente e um sorriso maroto. E adivinha? Continuou mexendo no cabelo, parecendo fazer questão de me molhar.
   - Você tá me molhando! - Eu ria, enquanto segurava uma almofada em minha frente, como um escudo e com a outra mão tentava fazê-lo parar. - Para! - gritei entre risos, ficando ajoelhada no sofá.
   - Espera ai, tá quase seco! - Garrett encostou-se ao braço do sofá para tentar tirar a almofada de mim. Aproveitei que ele estava mais perto agora para estapeá-lo, mas ele foi mais rápido e segurou o meu braço.
   Garrett continuava tentando tirar a almofada do meu rosto e agora eu estava em maior desvantagem.
   - Ai, me solta! - Ainda ria, tentando fazê-lo me soltar do jeito mais óbvio que eu sabia: puxando o meu braço de volta.
   Tentava me desviar dele enquanto ele ria feito um idiota dos meus esforços inúteis (eu admito) para me livrar dele. Puxei o braço com mais força e tudo o que vi foi Garrett se desequilibrar e cair...
   Em cima de mim!
   Obviamente, quando todo o seu peso veio desgovernado para cima de mim, me desequilibrei também e a almofada acabou parando longe.
   Assim que paramos estáveis no sofá, começamos a rir descontroladamente, sem desviar os olhos um do outro. Grande merda que eu fiz porque quando as risadas cessaram eu estava novamente hipnotizada por aqueles olhos azuis.
   Eu não conseguia me mover e mal conseguia respirar.
   Não conseguia nem piscar!
   Tudo o que eu sentia naquele momento era a respiração pesada de Garrett sobre o meu rosto, os olhos de Garrett em meus olhos, o calor de Garrett sobre o meu corpo e finalmente a mão de Garrett nos meus cabelos, enquanto ele me olhava confuso.
   A minha respiração também estava pesada e tenho certeza que eu parecia tão confusa quanto ele.
   Eu queria beijá-lo como nunca quis beijar ninguém e mal podia pensar nele saindo de perto de mim.
   E eu não fazia ideia de onde isso vinha!
   Ah claro, ainda havia os arrepios por cada onda de calor que vinha do corpo dele para o meu.
   Garrett sabia que se ele tentasse qualquer coisa comigo naquele momento eu cederia de bom grado, mas não se aproximava.
   Continuava mexendo nos meus cabelos, até por fim resolver estacionar a mão na minha bochecha. Ele olhava tão fundo em meus olhos que eu sentia como se ele pudesse ver minha alma.
   Ou talvez fosse isso o que ele tentava fazer.
   Deixei o ar que eu segurava escapar, suspirando pesadamente e fechei os olhos.
   Eu só queria que ele me beijasse logo!
   Senti ele me observar e eu tenho certeza que as minhas bochechas estavam coradas. Sorri idiota com isso e logo senti os lábios dele contra os meus. Deixei que ele aprofundasse o beijo sentindo borboletas no estomago, que não faziam sentido algum.
   Mas aquilo não durou quase absolutamente nada porque o telefone começou a tocar e nós nos separamos assustados com o barulho repentino.
   - Merda. - Garrett bufou, levantando-se rapidamente. Ele parecia bem irritado e quando o vi mexer em seus cabelos concluí que ele realmente estava. Sorri com a cena, mesmo me sentindo estranhamente aborrecida.
   Ele atendeu à ligação com uma voz de poucos amigos e eu resolvi me levantar também.
   Meu coração batia rápido e descompassado e eu não entendia o porquê.
   Eu já beijara Garrett uma vez, mas fora diferente.
   Fora bom, lógico. Talvez mais do que bom, mas esse não é o ponto.
   Nem de longe fora como hoje. Hoje eu realmente me senti... Apaixonada.
   Não, nem vem.
   Arrumei meus cabelos e minha roupa, tentando me ocupar com outra coisa que não pensar, enquanto esperava Garrett desligar o telefone.
   Olhei ao redor novamente, achando estranho aquele lugar me parecer tão familiar e aconchegante, quando eu só fora ali duas vezes.
   - Ainda tá com fome? - Garrett voltou à sala principal, parecendo já conformado. Dirigiu-me um sorriso sem graça que foi correspondido por outro meu.
   Eu queria saber o que fora aquilo.
   - Muita! - Abri os braços para o ar, rindo. Eu estava com muita vontade de rir na verdade.
   - Ok, vamos achar algo pra comermos. - Ele esperou que eu o alcançasse e fomos lado a lado até a cozinha.
   - Vai fazer o que, chef Nickelsen?
   - Estava pensando no meu prato especial mais especial de todos.
   - Que seria?
   - Lasanha de microondas. - Ele fez cara de convencido, estufando o peito e tudo. Ele era um idiota.
   - Hmmm que delícia, posso ajudar? - Ofereci, rindo.
   - Não, só o grande chef Nickelsen pode trabalhar em seu prato especial.
   - Ok, vou ficar assistindo então. - Dei de ombros, me sentando num banco de costas para o balcão e de frente para Garrett.
   Fiquei observando ele tirar a lasanha do congelador e tudo o mais com um sorriso leve no rosto.
   Me sentia como uma menina de doze anos, desviando os olhos toda a vez que achava que ele estava me olhando de volta.
   Meudeus, eu estava secando o Garrett na cara dura.
   - Gosta de coca? - Me perguntou após colocar a lasanha no microondas. Quando ele virou-se pra mim, eu tive certeza de que ele me percebera o encarando, só pela expressão em seu rosto.
   - Claro, Coca é vida. - Sorri, contendo a vontade de sair correndo dali. - Gary, que horas são?
   - Hmm oito e meia. - Ele olhou no relógio do microondas e eu fiquei me amaldiçoando por ser idiota. - Ah, o Kenny ligou pra saber se nós iríamos à festa da Annabelle.
   - E o que você respondeu?
   - Bom, achei que você não fosse querer e disse que não.
   - Ah Garrett, você pode ir se quiser. Eu vou pra casa e você vai à festa, ok? Não precisa perder sua noite por minha causa.
   Eu não gostei de dizer isso, não sei por que. A verdade era que eu não queria ir embora e também não queria que ele fosse àquela festa, porque eu sabia que a amiga de Annabelle que tinha uma queda por ele estaria lá também.
   E isso... Incomodava-me?
   - Eu prefiro ficar mesmo. Além do mais, agora já fiz comida né? - Ele sorriu para mim, me deixando aliviada.
   - Ok então. Vamos, vai passar Batman Begins na TV daqui a pouco.
   - Batman? - Ele levantou uma sobrancelha para mim. - Você gosta?
   - Bom, é o Batman e ainda tem o Morgan Freeman. Eu adoro!
   - Jura? - Havia um pequeno sorriso em seu rosto. Que legal, agora ele me achava estranha.
   - É, mas as meninas não gostam de filmes de heróis então sempre assisto sozinha. - Fiz bico. - Me acha estranha?
   - Não! - Ele gritou, rindo. - Vamos, O Freeman manda bem demais.
   - Ae! Vou esperar na sala até o seu magnífico prato fique pronto.
   Sai de lá achando mais seguro -e menos vergonhoso- me distrair com a tv do que ficar olhando pro Garrett do jeito que eu estava.
   Coloquei no canal que ia passar o filme e pouco depois Garrett me chamou para ajudá-lo com a comida e levamos tudo para a sala para assistir o filme enquanto comíamos.
   - Chef Garrett, sua comida estava uma delicia. - Coloquei o meu prato ao lado do de Garrett (que já terminara) na mesa de centro e me acomodei mais perto dele.
   - Já posso abrir um restaurante?
   - Pode. - Respondi baixinho, deitando a cabeça em seu peito. Eu sempre ficava preguiçosa depois de comer. - E eu posso deitar em você né?
   - Pode. - Ele riu, mas senti seu corpo enrijecer a princípio. Quando ele relaxou, começou a brincar com uma mecha do meu cabelo que caíra em meu rosto.
   Com isso me permiti relaxar totalmente também. Eu me sentia bem ao estar com Garrett e sabia que podia confiar nele.
   Ele era tão diferente de Robert.
   Não sei por que me meti com aquele idiota, aliás. Nunca gostei dele. No começo era legal porque ele era popular também e gostoso, mas eu nunca me senti realmente bem com ele.
   Não assim como o Garrett fazia eu me sentir.
   Garrett sempre me tratara bem e eu nem sabia o porquê. Eu não merecia que ele gostasse de mim daquela forma, nunca mereci.
   - Garrett? - O chamei, fazendo-o baixar os olhos para o meu rosto. Meus olhos estavam fechados, mas eu sentia os dele sobre mim. - Você gosta de mim, não gosta? - Abri os olhos.
   Senti seu corpo ficar tenso novamente e seu coração bater mais rápido. Ele demorou um pouquinho para responder, mas logo o fez, com um sorriso de nervosismo:
   - Gosto.
   - Hmmmm... - Pisquei forte, sentindo aquele sorriso que não me abandonara por toda a noite voltar ao meu rosto. Franzi a testa para ele: - Então por que você nunca tentou nada comigo?
   - Porque você estava com o imbecil do Robert e, bom, até pouco tempo nós nem nos falávamos.
   - Muitos meninos na escola que eu nunca falei tentam me agarrar de qualquer forma. - Fiz careta e Garrett riu.
   - Você nunca teria falado comigo se eu fosse só mais um desses meninos.
   - Ponto pra você. - Sorri.
   - E eu sou só um dos losers, lembra? Tive medo que você me afastasse por isso.
   - Se eu fosse me importar com isso, não estaria aqui.
   - ... - Ele começou e eu achei melhor me sentar direito. Novamente me senti em transe e eu não queria mais conversar, só queria tê-lo o mais perto possível. Fiquei ajoelhada no sofá e Garrett também virou-se para que ficássemos frente à frente.
   Ele colocou a mão no meu rosto, acariciando-o com o polegar antes de agarrar meus cabelos e se inclinar para me beijar.
   Permanecemos com os olhos abertos, nos encarando rapidamente antes de fecha-los para aproveitar o momento.
   O que começou lento e tímido foi se tornando mais agressivo e logo eu estava sentada no colo de Garrett, com uma perna de cada lado de seu corpo. Ele tinha suas mãos sob a minha blusa e eu bagunçava todo o seu cabelo, adorando o quão macio ele era.
   Eu não queria pensar em mais nada naquele momento e nem tinha por que, mas minha mente teve que me levar até o episódio da manhã e me fazer romper o beijo assustada.
   - , tá tudo bem? - Garrett perguntou preocupado.
   - Tá, eu... Desculpa. - Pedi, torcendo para que a minha voz não tivesse soado estranha. Mas claro que Garrett tinha que não só perceber que algo estava errado comigo como também sacar o que era.
   - , a gente não precisa fazer isso. - Ele tentou sair de onde estava, mas eu não deixei. - Desculpa, eu perdi o controle e...
   - Não! Garrett, para. - Segurei seu rosto com as duas mãos, forçando-o a olhar para mim. - Eu quero. - O olhar que eu lhe dirigi atingiu algo profundo dentro dele, pois ele ficou tenso novamente.
   - Não parece certo depois de hoje de manhã. - Eu sabia que a sua consciência e o que ele sentia por mim estavam lutando bravamente contra o seu corpo para se manter forte e isso me fez sorrir.
   - Garrett, você me faz tão bem. Sério, você não faz ideia. E eu quero estar com você, ok? De todas as formas possíveis. Eu 'to bem, de verdade. Você faz eu me sentir bem.
   Nenhum de nós disse mais nada depois disso. Primeiro porque Garrett me beijou e depois porque nada mais precisava ser dito de qualquer forma. Não agora.
   Não sabia - ou não queria assumir - exatamente o que estava sentindo por Garrett naquele momento, mas o sentimento era forte e bom, então só me deixei levar por ele.
   Afinal, se eu tinha certeza de alguma coisa era que Garrett nunca me faria mau. Pelo contrário, ele cuidaria de mim.
   Que, aliás, foi o que ele fez a noite toda, mas não exatamente do jeito de sempre.
   Ele realmente cuidou de mim e eu não tinha absolutamente nada do que reclamar.

Capítulo XXI

- É por isso que nós sempre seremos os losers! - Kennedy bufou, gritando com os amigos assim que os avistou no estacionamento do 8123.
   - Ih, lá vem a estressadinha. - John riu. Estava num excelente humor naquela tarde e razão disso tinha nome e sobrenome.
   - Alguém finalmente nos chama para uma festa e só quem vai sou eu o Pat?
   - Você foi, Pat? - Garrett quem perguntou, curioso.
   - O Kenny me obrigou. - Deu de ombros.
   - A não queria que eu fosse e brigar com ela não estava nos meus planos.
   - Olha o John, nosso amigo domado!
   - Fica na sua, Kennedy. - O vocalista da The Maine fez cara de bravo. - Puro recalque.
   - E você, Garrett? - Pat perguntou.
   - Fiquei vendo filme com a . - Sentiu-se sorrir automaticamente ao lembrar-se da noite passada.
   - Oh não, mais um! Jary, se você disser que ficou na casa da Camille fazendo tricô com ela eu juro que te bato.
   - Fiquei em casa sozinho. - Respondeu à Kennedy de mau humor. - O que elas estão fazendo aqui?
   foi a primeira a descer do carro, que estacionara à do lado oposto do estacionamento.
   Porém, se o objetivo delas fosse entrar na lanchonete, elas teriam que passar exatamente ao lado dos garotos.
   - Ah, deixa elas. Quero falar da festa. - Kennedy sorriu esperto, tendo o olhar afixado em .
   - Pegou quem? - John perguntou, mais interessado em ver caminhando do que em ouvir as histórias do amigo.
   - A Pâmela. E não foi só pegação, se é que me entendem. A gente foi pro quarto da Annabelle e...
   - Tá, tá! Chega. - Garrett cortou. Não queria ter aquelas imagens em sua mente.
   vinha na frente com naquela hora e virou o rosto sem se atrever a olhar para Kennedy.
   - Mas o Pat também se deu bem! - Continuou narrando, mesmo percebendo o desespero do amigo. Pat queria que ele calasse a boca, pois passava por eles naquele momento, ao lado de e . - Ficou com aquela amiga da Annabelle que eu esqueci o nome.
   - Janice. - Respondeu irritado, tentando adivinhar o que pensava só de olhar para ela.
   Mas a garota não demonstrou reação alguma, limitando-se a continuar o seu caminho como se nem os tivesse visto ali.
   - Vou lá dar um oi pra minha prima. - Usou como desculpa para checar o estrago que Kennedy fizera.

- Quer dizer que os losers estão indo à festas agora? - perguntou esnobe às amigas. Teria Jared ido também?
   - O Brock devia estar muito necessitado pra ir pra cama com a Pâmela. - riu enquanto tentava decidir qual das duas vontades dentro de si era mais forte: de chorar ou de esmagar a cabeça de Kennedy com um rolo compressor.
   Tanto a de cima quanto a de baixo.
   - E seu primo que pegou a Janice. - riu também, mas ficou seria, virando o olhar para no momento em que Pat abriu a porta de vidro da lanchonete.
   - Meninas. - Cumprimentou, olhando de para , que virou a cara e não respondeu.
   - Oi Pat. - Somente e lhe cumprimentaram de volta.
   Ele já estava acostumado a ser ignorado por e , mas não por e aquilo lhe causou uma sensação estranha.
   - Tudo bom, ? - Arriscou perguntar. Afinal, ele não fizera nada de ruim para ela, certo?
   - Tudo. - Forçou um sorriso fraco, olhando rapidamente para ele. Sabia que não tinha mesmo direito de tratá-lo mal, mas não conseguia engolir pensar nele com outra garota.
   Ainda mais uma das garotas do grupo de Annabelle.
   - Por que não volta para a sua laia? - recebeu um olhar de reprovação de .
   - Podemos nos juntar a vocês? - Perguntou apreensivo.
   - Nã...
   - Podem! - e responderam juntas, olhando para o lado de fora. Pat sorriu.
   - Vou chamar os meninos.
   - Ficaram malucas? - quase berrou quando Pat não estava mais lá.
   - Ah, o que tem?- riu nervosa. Não aguentaria um grande discurso sobre não se misturar com os losers depois de ter dormido com um deles.
   - Hello, são os losers!
   - Tomar um lanche com eles não pode nos fazer tão mal assim. Vamos lá, meninas! - fez biquinho. Quem sabe se, se as amigas conversassem com eles, poderiam esquecer o preconceito.
   - Garotas. - Kennedy cumprimentou, sentando-se ao lado de no sofá.
   - Ainda bem que não tem como nenhum deles sentar ao meu lado. - comentou, sentindo-se feliz por ter se sentado na ponta, encostada na parede de vidro da lanchonete.
   Jared olhou para ela ao chegar em frente à mesa, mas sentou-se ao lado de Kennedy. - Acho que vamos precisar de duas cadeiras. - Foi John quem deduziu, notando que não caberiam mais do que quatro pessoas em cada sofá. - Alguém me ajuda?
   - Eu vou. - ofereceu-se, cedendo o seu lugar no sofá para Garrett, já que fora fazer o pedido das garotas.
   - Oi. - Ele sorriu para , que retribuiu corada.
   - Vou sentar aqui. - Pat apontou para o sofá, sentando-se ao lado de Garrett.
   logo voltou junto de e John e a divisão ficou: ao lado de Pat no sofá e e John lado à lado nas cadeiras.
   - Só quero explicitar a minha discordância com isso daqui. - usou a mão para simbolizar o circulo que se formara ao redor da mesa, querendo mesmo era dizer que não concordava com Kennedy estar ao seu lado.
   Ainda mais quando esse colocou a mão sobre a sua coxa, sorrindo cinicamente para ela.
   - Somo dois então. - Jared apoiou a cabeça na mão, como se tivesse tédio.
   - Você podia ir atrás da sua namoradinha então. Ninguém sentiria a sua falta. - sentiu as palavras saindo da sua boca automaticamente, amaldiçoando-se em seguida e torcendo para que ninguém tivesse percebido o grau de ressentimento em suas palavras.
   - Ooook, vão pedir o quê, garotos? - perguntou alto, olhando para Garrett.
   - Sem fome. - Jared respondeu, ainda olhando para . Essa por sua vez, olhava para fora através do vidro, fingindo não perceber o olhar de Jared sobre si.
   - E eu de ressaca.
   - Só ressaca? Tem certeza de que você não cheirou nada também? - perguntou rindo. Kennedy ergueu uma sobrancelha para ela sem entender. A garota corou, arrependendo-se de perguntar na hora. Ela nem tinha toda essa intimidade com ele, o que dera nela?
   - A gente ouviu vocês comentarem sobre a festa e... Pâmela? - ajudou a amiga, fazendo careta no final.
   se mexeu inquieta ao lado de Kennedy. Queria gritar e chorar só de imaginar aquilo e desejou que as amigas mudassem de assunto.
   Mas elas não tinham como saber que aquilo a incomodava, porque ela deixara seus sentimentos em segredo.
   - Qual é, deixem ele em paz. Não é da nossa conta com quem eles se relacionam! - intrometeu-se, com uma irritação na voz totalmente atípica à ela, atraindo a atenção de todos para si. olhava da amiga para o primo, desejando poder fazer alguma coisa.
   Nunca vira tão apagada quando naquele momento.
   - Tudo bem. - Kennedy sorriu. - Quem sabe se uma de vocês tivesse ido as coisas poderiam ter sido diferentes.
   - Ah claro, se estivéssemos loucas. - riu com escárnio, rolando os olhos. Kennedy levantou as duas sobrancelhas para ela.
   - Jura? - Deixou a pergunta no ar, olhando-a profundamente. Não com malícia dessa vez. Todos os observavam. - Vai jogar mesmo esse jogo, linda?
   Aquela foi a gota d'água para a garota.
   simplesmente não aguentava mais fingir que estava tudo bem. Ela estava com raiva.
   Mais raiva do que ela jamais pensou em poder sentir algum dia, mesmo por Kennedy.
   - Nem tudo é um jogo, Brock. - Cuspiu as palavras, não conseguindo conter o ressentimento quando olhou para ele. Levantou-se em seguida. - Me dá licença, tenho que ir ao banheiro.
   Kennedy e Jared levantaram-se também, dando espaço para a garota passar.
   Quando passou por Kennedy, este sentiu seu estomago girar em arrependimento. Achava que provocá-la seria legal, mas agora via que passara dos limites.
   Todos olhavam com um grande ponto de interrogação na testa para Kennedy quando esse não voltou a se sentar, mesmo um tempo depois de ter saído.
   - Eu... Eu vou ver o que deu nela. - levantou-se, olhando rapidamente para John.
   - Eu acho que tá na hora de ir embora. - Kennedy disse com uma voz nada normal para ele, que o fez parecer mais velho. Os outros integrantes da The Maine o encararam.
   - É... Nós vamos também. - John levantou-se e logo todos na mesa estavam em pé.
   e Garrett trocaram um olhar triste antes do garoto correr atrás dos amigos.
   foi atrás de no banheiro e as outras três ficaram para trás. Voltaram a sentar-se, mas nenhuma tinha mais vontade de comer.
   viu pelo vidro os losers irem embora. Também viu um outro grupo de garotos estranhamente familiares e sorriu ao lembrar-se deles.
   - Hey, são aqueles garotos da outra cidade! - Apontou, chamando a atenção das amigas.
   - São mesmo. - estreitou os olhos para ver melhor.
   - Eles estão com bebidas, vamos falar com eles? - levantou-se, sentindo-se entusiasmada de repente.
   - Eu topo. - ficou em pé, disposta a não se deprimir ainda mais.
   - Eu vou ver como a tá. - seguiu para o lado oposto às amigas, suspirando alto.
   De novo, tudo dera errado.

~’s POV mode ON~

Caminhava, ou pelo menos tentava, sozinha por alguma rua que eu não tinha certeza de qual era, indo para algum lugar que eu também não tinha certeza.
   A minha visão estava mega afetada, assim como o meu raciocínio e certamente o meu equilíbrio.
   Mas eu me sentia tão leve!
   Abri as mãos para o céu, dando um grito que ecoou pela rua deserta.
   Comecei a rir sozinha, até tropeçar sob o meu salto e cair no chão.
   Então ri de novo.
   Ri até ouvir o som de um carro quebrar o silêncio da noite com uma música chata que me lembrava daquelas que o Jared gostava de escutar.
   - Jared. - Sorri mórbida, sem nem ligar para o fato de que o carro tinha parado quase do meu lado e que uma das portas dele se abriu.
   - Meu Deus, , olha o seu estado. - Aquela voz era muito familiar e fez algo pular dentro de mim, mas eu realmente não fazia ideia de quem tentava me levantar do chão.
   Mesmo contrariada, resolvi ajudar a pessoa.
   Logo ele me colocara no banco de trás do carro e tudo o que eu via era um monte de cabelos claros.
   - Caraca! - Alguém cabeludo no banco do carona na frente virou-se para olhar para mim e depois pro cara ao meu lado.
   - Se ela vomitar no meu carro você tá fodido. - Disse outra voz, com um tom que me fez ter vontade de mandá-lo ir à merda. Eu não pedira para estar ali mesmo.
   - Fica na sua. - O cara ao meu lado disse um pouco mais alto.
   - Quem é você? - Olhei para ele, forçando os olhos para desembaça-los.
   - É... Jared? - Ele disse, parecendo não acreditar que eu não o reconhecera. Olhei melhor para ele. - Cara, você tá mal.
   - Não, você não pode ser o Jared porque o Jared me odeia. - Senti lágrimas virem à meus olhos, enquanto gesticulava para ele porque me sentia falando enrolado e queria ter certeza de que ele me entenderia.
   O garoto que dirigia riu e isso pareceu incomodar o garoto ao meu lado, que colocou sua mão sobre a minha. Senti um formigamento que só costumava sentir quando Jared pegava em minha mão e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
   - Quem são os outros dois? - Perguntei à ele.
   - Kennedy e Pat. - Respondeu o motorista que comecei a reconhecer como Kennedy.
   - Kennedy? Você deixou a minha amiga muuuito mal, sabia? - Ele parou de rir e ficou quieto.
   - Melhor você dar um jeito nessa garota antes que eu jogue ela para fora.
   - Calma, cara, quando você fica assim a gente te aguenta. - Pat interveio.
   - Tanto faz. - Bufou. - Chegamos.
   Kennedy pareceu parar o carro e Jared me ajudou a descer dele.
   Eu não fazia ideia de onde eu estava e me agarrei à Jared por isso.
   - Onde é aqui?
   - A casa do Kennedy. Suas amigas estão aqui.
   -'Tão?
   - Sim. - Ele me levou para dentro, onde estavam , , , , Garrett e John.
   Fiquei feliz de conseguir reconhecer todos, sentindo a minha visão já bem melhor.
   - Amigas! - Gritei, feliz em vê-las.
   - Ah, graças a deus vocês a encontraram! - disse aliviada. Eu não conseguia entender por que todos tinham expressões de enterro no rosto. Eu me sentia tão bem! - Ela sumiu do nada.
   - Ela tá um saco, boa sorte. - Kennedy disse com uma voz irritada.
   - Ainda tá bravo por causa da , Brock? - Perguntei compreensiva à ele, querendo ajudá-lo. Ele bufou e me encarou atônita.
   - Eu vou pegar alguma coisa pra ela comer. - Pat foi para algum lugar da casa, saindo da sala. Tive a impressão de que ele só não queria ficar por perto, mas quem ligava?
   - , o que deu em você? - disse num tom todo sou sua mãe e você fez merda.
   - Eu 'to bem, o Jary me achou. - Me agarrei mais a ele, numa espécie de abraço torto. Ele pareceu nervoso e pigarreou.
   - Eu acho melhor deixá-la sentada e. - Ele ameaçou se afastar de mim e eu reagi instintivamente, me agarrando à ele e gritando um "não" que assustou à todos.
   - Não me deixa de novo, por favor! - Só percebi as lágrimas rolando em meu rosto quando senti o gosto salgado de uma delas em minha boca. Segurava firme no colarinho da camisa de Jared. - Eu não queria, mas... Quando eu cheguei e você... Você era um loser. O Jack tinha me avisado, mas eu não quis ouvir. Eu achei que fosse passar, que eu fosse esquecer, mas eu não esqueci!
   Continuei chorando, afundando o rosto no pescoço de Jared, que me olhava surpreso e totalmente sem ação.
   - Eu não esqueci, Jared. - Seus braços fortes e protetores me envolveram em um abraço terno.
   A sala inteira ficou em silêncio e ninguém sequer respirava muito alto. Jared me guiou até o sofá e sentou-se comigo ao seu lado.
   Não tirei o rosto de seu pescoço e nem sequer abri os olhos. Jared não me soltou.
   Ficamos algum tempo daquela forma e eu usava o cheiro de Jared para me acalmar. Ele estava ali comigo. As minhas amigas também estavam.
   Todos os que eu amava estavam ali.
   E foi então que a realidade despencou em mim como uma chuva de hamburgueres no céu e eu sai do abraço de Jared abruptamente, olhando para todos ao meu redor com os olhos e a boca bem abertos.
   Minhas amigas me olhavam, as quatro com os olhos cheios de compreensão, como se elas soubessem pelo que eu estava passando.
   Arrisquei olhar para Jared, mas não havia expressão alguma em seu rosto.
   Meu Deus, o que eu tinha feito?

Capítulo XXII

acordou numa cama macia, porém estranha. Sua cabeça latejava enquanto ela tentava identificar a pessoa deitada ao seu lado.
   - ? - Chamou a amiga, que respondeu com um resmungo.
   - Que é?
   - Onde estamos? - abriu os olhos para dar uma olhada geral no ambiente e suspirou. - Na casa do Brock, quarto do Jared.
   - Como assim quarto do Jared?
   - Aparentemente cada um dos meninos tem um quarto aqui.
   limpou os olhos para poder enxergar melhor o local à sua volta.
   A decoração dali com as paredes num tom pastel e nada colado nas paredes, à não ser um quadro de flores, deixava bem claro que havia dedos da senhora Brock ali.
   Pensou por um momento se a mãe de Kennedy sabia que os amigos do filho praticamente moravam ali, mas logo desistiu de imaginar.
   - Por que a gente dormiu aqui? - Perguntou sonolenta.
   - Porque você tava louca demais para ir para casa. - Rolou os olhos. - Cadê a ? - Olhou por trás dos ombros de , procurando pela outra amiga.
   - Ela dormiu aqui também?
   - Era pra ela estar dormindo do seu outro lado.
   - Bom dia, meninas! - entrou no quarto naquele momento, sorrindo para as amigas.
   - Onde você estava? - perguntou curiosa.
   - Acordei antes de vocês e desci. - Deu de ombros, tentando não soar culpada. Na verdade, passara a noite no quarto de John.
   - Quem mais acordou? - quem perguntou, sentindo que não queria descer e encarar ninguém.
   - Todo mundo.
   - O que eu fiz ontem à noite? - Viu as duas amigas se entreolharem apreensivas.
   - Você basicamente disse pro Monaco que não o tinha esquecido.
   - É, isso foi estranho. Quando foi que você lembrou dele? E o que o seu irmão tem a ver com isso? - levantou uma sobrancelha.
   - Eu... Eu não...
   - Ok, você não precisa nos contar nada agora. - lhe sorriu com compreensão, imaginando-se na mesma situação. - To esperando vocês lá embaixo para irmos embora logo!

- meu amor, quer me explicar o porquê de eu ter acordado sozinha hoje? - perguntou à amiga, assim que chegou ao fim das escadas. estava sentada no sofá da sala, entre Garrett e Pat e eles jogavam vídeo game.
   - Ér... Não tive sono e passei a noite aqui em baixo. - levantou uma sobrancelha, vendo Garrett e a amiga ficarem subitamente nervosos.
   - Sozinha?
   - O Nickelsen me fez companhia.
   - Claro que vez. - Ela examinou profundamente o garoto, bastante desconfiada.
   - Sente-se melhor? - Garrett a olhou de volta, fazendo com que a sua atenção fosse dele para a coisa que não lhe deixara dormir à noite.
   Empalideceu.
   - É claro que sim. - Mentiu. Garrett percebeu a hesitação na voz da garota e achou melhor não prolongar a conversa.
   - O John e a estão fazendo uma espécie de panqueca, se você quiser arriscar. - A voz de Kennedy veio por trás dela, séria e grossa, embora tentasse soar divertido na última parte. não disse nada, virando-se para ele, que estava apenas três degraus acima dela. O mirou com um olhar frio e voltou a subir as escadas, dizendo que iria chamar as garotas para irem embora.
   - Se você queria conquistá-la fez um péssimo negócio ficando com a Pâmela. - o olhou compreensiva.
   - Sério? Eu não fazia ideia. - Rolou os olhos, seco.
   - Hey, vai devagar com o mau humor, dude! - Garrett interferiu sem sorrir.
   - Tudo bem, Gary. - Mirou o garoto ao seu lado com ternura. - Eu só acho que se você sente mesmo algo por ela, agora é uma boa hora de deixá-la saber disso.
   - Mas, por favor, do jeito menos Brock possível. - Kennedy rolou os olhos para Garrett e voltou a olhar para . - Obrigado. - Ela sorriu para ele, vendo-o terminar de descer as escadas e sumir em um corredor.
   - Acha que eles podem dar certo? - Foi Pat quem perguntou, assustando os outros dois que havia praticamente esquecido que ele estava ali.
   - Eu acho que tudo pode acontecer. - mirou um sorriso brilhante à Garrett. Não fazia ideia do que estava acontecendo entre os dois, mas aquilo era o bastante para lhe fornecer uma alegria que ela não acreditava ser capaz de conseguir sozinha.

- Agora você vira assim... - John tentava ensinar a fazer panquecas. Ele segurava o braço da panela, por trás da garota e com a mão dela por baixo da sua.
   - Ai!- Ela riu quando a massa deu um giro e caiu novamente na frigideira. Esperou um pouco até que estivesse pronta e a colocou num prato.
   John aproveitou o momento para beijar o pescoço descoberto da garota, já que seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Ela sorriu sentindo cócegas.
   - Para, John!
   - Não posso. - Soprou em sua pele, causando-lhe arrepios. - Eu quero repetir a noite passada. - Disse baixinho ainda com o rosto no pescoço da garota. Sentiu-se corar.
   - Shiu, alguém pode ouvir. - Riu.
   - Hmm, eu não ligo. - Colocou as duas mãos ao redor do pescoço da garota, que virou o corpo de frente para ele, beijando-lhe a boca. Ela usou as mãos para segurar os ombros do garoto, ficando na ponta dos pés para alcançá-lo.
   As mãos de John foram logo para baixo da blusa de que arfou, aproveitando todas as sensações que o toque do garoto a fazia sentir.
   - Ah não se incomodem comigo, só vim pegar uma maçã. - Kennedy entrou na cozinha naquele momento e quase gritou com o susto. Sentiu seu coração chegar à boca.
   Os dois olharam para o guitarrista, irritados e ele sorriu cínico antes de sair dali dando uma mordida em sua fruta.

- Bom dia! - desceu as escadas com e logo atrás, meio que tentando se esconder. Tudo o que não queria era ter que encarar Jared e seus amigos.
   Tudo o que ela queria era correr dali e escapar de todos os olhares que ela imaginava que iria receber durante aquele maldito café da manhã do qual e faziam questão de participar.
   - Bom dia. - Pat sorriu apreensivo para , que sequer olhou para ele.
   - Oi meninas! - cumprimentou de volta. - Tava esperando vocês para tomar café.
   - Então vamos porque eu estou morta de fome. - seguiu para cozinha, acompanhada dos outros.
   John e estavam lá, numa distância segura dessa vez. Jared entrou logo depois dos outros, sentado-se à mesa também.
   Ele e trocaram um olhar rápido antes de fingirem que nada aconteceu.
   - Ok... - olhava de um para o outro. - Quem quer panquecas?
   - Cadê o Brock? - perguntou, notando a ausência do quinto loser.
   - Daqui a pouco ele aparece. - Pat deu de ombros.
   - A propósito, garotos, preciso falar de negócios com vocês. - disse enquanto colocava um pedaço de sua panqueca na boca, sentindo todos os olhares se virarem para ela.
   - Negócios? - John ergueu uma sobrancelha.
   - É. Não sei se vocês se lembram, mas sexta-feira é aniversário da escola e esse ano vamos fazer uma festa. Aí eu pensei: e se The Maine tocasse? - Esperou um minuto para que eles processassem a proposta e então finalizou - O que acham?
   - Tocar na escola? Não sei não. - Pat olhou para os amigos, esperando encontrar em suas expressões a mesma que a dele.
   - Por que não? - Kennedy voltou à cozinha, sorrindo torto. - O máximo que pode acontecer é arranjarmos encrenca com o time de futebol.
   - Por favor! - fez biquinho, dando em John a vontade de mordê-la.
   - Por mim tudo bem. - O vocalista deu de ombros, sorrindo.
   - Eu topo. - Kennedy concordou.
   - Vai, Gary, The Maine tocando na escola vai ser épico! - sorriu com os olhos brilhando.
   - Gary? Vocês são amigos agora? - olhou para os dois, sentados lado a lado na mesa. a olhou de volta.
   - Somos. - Deu de ombros.
   - Ok, eu topo. - Garrett dirigiu-se à , achando melhor mudar de assunto.
   bufou irritada.
   Queria ir embora dali, não suportava olhar para Kennedy.
   - Pat? Jared? - olhou para os dois, suplicante. Se bem conhecia o primo ele parecia bastante indisposto.
   - Eu acho que não é uma má ideia. - Jared deu um pequeno sorriso para a garota.
   - Tá certo, eu me rendo. - Pat deixou os ombros caírem, provocando risos na prima.
   - Ah, obrigada, meninos! - Ela sorriu e, sem pensar abraçou John. Ele segurou sua cintura delicadamente, pego de surpresa.
   Quando ela sentiu todos os olhando, se separou do outro, vermelha.
   - Temos que fazer uma música nova. - Disse Pat, tentando desviar a atenção das amigas da prima para outra coisa.
   - Eu estou trabalhando em uma. - Garrett sorriu discretamente para .
   - Podemos ouvir? - pediu com uma cara digna do gato de botas do Shrek.
   - Não. - O próprio Garrett respondeu, ainda sorrindo para ela. fez bico.
   - Eles nunca deixam. - resmungou.
   - Você já tentou? - a olhou e voltou a corar.
   - A e a já assistiram à um ensaio nosso. - Disse Kennedy. , e olharam para as outras duas.
   - Foi é? - perguntou em tom de interrogatório.
   - O Pat foi lá em casa e como ele ia depois para o ensaio...
   - Nós nos oferecemos para ir junto. - completou sorrindo. Fora um bom dia aquele.
   - Ai, que inveja. - fez careta. Os garotos riram.
   - Querem se arrumar logo? Eu estou a fim de ir embora. - nem ao menos tentou esconder o mau humor em sua voz.
   - Ah, ok. - levantou-se da mesa pois já havia terminado de comer. Sentia-se mal por ter que ir embora, mas sabia que as amigas não gostavam da companhia dos garotos.
   - Obrigada por nos ajudarem ontem. - sorriu triste para John.
   - Imagina. - Retribuiu.
   Logo as garotas se despediram brevemente e foram embora.
   Aquela fora a primeira vez que a interação entre os dois grupos não acabara exatamente em tragédia.
   Pelo menos não para todos.
   - Mas que merda, que tipo de amigas essas garotas são? - Kennedy explodiu assim que a porta se fechou.
   - O quê? - John o olhou sem entender.
   - Você tá namorando a há sei lá quanto tempo; o Garrett e a estão no maior romance e o Jared já teve um lance com a pelo o que eu entendi. E todas elas guardam isso em segredo!
   Nenhum deles respondeu, refletindo sobre as palavras do amigo.
   - Aí a diz que não assume nada porque tem medo da reação das amigas e, porra, a já foi até pra cama com o Nickelsen!
   - Hey, cala a boca! - Garrett interrompeu o amigo, sentindo-se desconfortável.
   - Eu só acho que elas são frescas e complicadas demais. - Concluiu o pensamento, suspirando enquanto deixava os ombros caírem.
   - Só tá dizendo isso porque a tá puta com você.
   - Ela vai acabar me perdoando. - Disse sem toda a confiança que costumava ter.
   - Claro que vai. - Pat rolou os olhos. - Garrett, como é a tal música que você tá fazendo?
   - Eu ainda não tenho muita coisa. - Deu de ombros.
   - Tá, e o que você já tem?
   - Um nome.
   - Um nome? - Jared riu.
   - É. - Fez o mesmo. - A música vai se chamar Daisy.

Capítulo XXIII

- Cuidado com isso, dude! - Gritou Garrett rindo, enquanto Pat mexia na mesa do DJ, quase derrubando o equipamento.
   - Caralho, querem parar? A gente já não recebe nada pra tocar, imagina se vocês quebrarem tudo! - Jared não ria. Era tarde de segunda-feira e os garotos da The Maine haviam sido chamados para uma reunião no pub em que costumavam tocar.
   Jared temia que as notícias não fossem boas, devido aos problemas de saúde que o Mr. Rane andava tendo.
  - Ih, ainda de mau humor? - Kennedy deu um tapa nas costas do amigo. - Não é isso, será que vocês não podem levar nada a sério por um minuto? - Bufou.
   - Hey, nós estamos tão nervosos quanto você, só que não descontamos nos amigos. - John repreendeu o outro.
   - Meu tio fica doente e me deixa com isso? - Os garotos observam um homem de cerca de trinta anos, altura mediana, cabelos loiros escuros e barba por fazer adentrar no local sorrindo para eles.
   Todos pararam de fazer bagunça no mesmo instante, se perguntando quem seria o sujeito.
   - É... Oi? - Kennedy o encarou com uma sobrancelha arqueada.
   - Oh, que rude da minha parte não me apresentar. Sou Jason Moore, novo dono do lugar.
   - Dono? E o Mr. Rane? - Pat perguntou preocupado. Gostava do velho, ele lhes dera uma chance quando ninguém mais o fizera.
   - Meu tio não está nada bem e foi transferido para uma clínica no Texas, que por acaso é de onde eu vim.
   - Texas? Cara, você veio de longe!- Disse Kennedy.
   - O que você fazia lá? - A pergunta veio de Garrett, num tom descontraído.
   - Eu não tinha emprego fixo. Às vezes tocava em alguns bares em Dallas.
   - Você toca? - John sentiu-se empolgado. O mais velho riu para ele.
   - Violão. E canto.
   - Que massa! - Pat sorriu.
   - Eu tinha uma banda, assim como vocês.
   - E o que aconteceu? - Jared perguntou se interessando pelo assunto.
   - Bom, eu e os caras acabamos brigando e a banda acabou.
   - Acabou? Assim do nada? - John parecia inconformado que a história de Jason fosse realmente só aquilo.
   - Sim. - Deu de ombros. - Eu costumava achar que música era a melhor coisa no mundo, mas depois disso aprendi que não é.
   - É claro que é! - Garrett retrucou.
   - Cara, não dá pra viver sem música! - Apoiou John. - Se você tem realmente o dom da música, devia saber disso.
   - É, ninguém desiste da música se gosta de verdade! - Kennedy disse também. Jason só fazia sorrir com compreensão para eles.
   - Com o tempo vocês entenderão. Mas não percam isso que vocês têm, é muito valioso! - Disse o homem, aproximando-se dos garotos.
   - Não perderemos. - Jared sorriu maroto para ele.
   - Certo, vocês são a The Maine né? Eu ouvi falar bastante de vocês, agora quero ver do que vocês são capazes. Podem tocar algo para mim?
   - Bom, tem uma música na qual estamos trabalhando... - Garrett começou, trocando olhares com o restante do grupo. Por fim decidiu que não tinha escolha: se quisessem continuar a tocar ali teriam que se acostumar com o novo dono.
   - Sim, sim. Mostrem-me. Quem sabe eu possa ajudar com uma coisa ou outra. - Jason sorriu. De fato os garotos podiam perceber que o cara sabia de música, só de olhar para ele. Deram de ombros; quem sabe poderiam aprender algo com ele.
   - Ok, vamos lá. - Eles subiram no palco e pegaram seus instrumentos. - Ér, o Garrett começou-a ontem e nós ainda não temos muita coisa.
   - Tudo bem, John. Acertei?
   - Sim. - O mais alto do grupo sorriu. - Você sabe os nossos nomes?
   - Eu fiz a lição de casa. - Retribuiu. - Me mostrem o que vocês têm.
   - Um esboço da letra e talvez a melodia. - Garrett disse. Começaram com os primeiros acordes e John começou o primeiro trecho da música.

I picked you up and lifted your wilted frame into the sun
   I was taken back, yeah I was taken back
   And by the time I caught my breath
   You had blossomed into something that I did not expect

Parou, sorrindo sem graça para o homem que observava cada movimento dos garotos.
   - E temos o refrão. - Disse o vocalista. Jason assentiu, incentivando-os a continuar.

Sunlight, sunshine
   All for you my daisy
   We're getting this before you leave
   All for you my daisy.

- Ótimo, está ótimo. - Bateu palmas, de certa forma deixando os garotos menos nervosos. Eles desceram do palco e se sentaram perto de Jason.
   - Podemos tocar alguma que já está pronta. - Kennedy sugeriu.
   - Não, vamos trabalhar com Daisy. - Jason disse calmamente. - É esse o nome, certo?
   - É. - Garrett sorriu.
   - Bom, está boa. Mas pode melhorar. Como eu tenho a sensação de que a música é algo pessoal para o Garrett, vamos deixá-lo escrever a letra enquanto pensamos na melodia.
   - Certo. - Assentiram. Jared pegou seu violão e logo voltou à rodinha. Garrett pegou um caderno na mochila da escola. Não era difícil de conseguir inspiração depois daquele final de semana com .
   Eles trabalharam naquela música por toda à tarde, em meio a risadas e, claro, bebidas.
   No fim Jason se revelou um cara bastante legal para um adulto e útil para a banda. E o melhor de tudo era que The Maine voltaria a tocar no pub.

Pat saiu do pub e dirigiu-se para a praça onde costumava andar de skate. O final de semana podia ter sido tenso, mas aquele dia fora ótimo em termos artísticos.
   Ele podia dizer que estava feliz.
   Sorriu sozinho, deixando seus pensamentos vagarem até a última vez em que fora até aquela praça, quando encontrara e passara toda a tarde com ela.
   Decidira que realmente estava apaixonado por ela naquele dia e desde então não fizera grandes avanços com a garota.
   Muito pelo contrário, no momento ela mal queria vê-lo.
   Atravessou a rua vazia e viu uma garota sentada no meio-fio da calçada, com o rosto escondido entre as pernas. Era uma garota incrivelmente linda, com cabelos brilhantes com a pouca luz que a lua fornecia naquele momento. A luz artificial das lamparinas da praça pouco ajudava na iluminação geral.
   - ? - Chamou, vendo-a se exaltar. Ela o encarou com os olhos levemente inchados e vermelhos.
   - Ah não, por favor. - Disse ela, olhando para o chão. O garoto continuou a olhá-la sem entender.
   - O que aconteceu? - Perguntou. Quando viu que não teria resposta voltou a se pronunciar: - Você tá brava comigo? - Tentou soar irritado, mas sua pergunta saiu apreensiva.
   riu sem humor e voltou a olhá-lo.
   - Não. Não tenho motivos para isso. Somos amigos, certo? - Forçou um meio sorriso, que foi retribuído por um aliviado do garoto. Pat sentou-se a seu lado na calçada.
   - Certo. E você pode me contar se tiver algo errado. - Disse, obrigando a garota a olhar para ele. Encararam-se em silêncio por um minuto, até soltar um suspiro pesado e falar:
   - Eu vou embora.
   - O quê? - Ele quase gritou, pego totalmente desprevenido.
   - Os meus pais vão se separar e eu vou morar em Denver com minha mãe.
   - Denver? No Colorado? - Pat não sabia o que dizer. Queria abraçá-la, implorar para que ela não fosse, falar mil coisas que simplesmente não podia. Limitou-se então à ficar em silêncio, esperando que a garota dissesse mais alguma coisa.
   Ela somente assentiu, mordendo o lábio para não voltar a chorar. Como diria aquilo às amigas?
   - Quando? - Ele perguntou.
   - Daqui duas semanas.
   - Duas semanas? - Dessa vez foi Pat quem teve que se segurar para não chorar. Podia parecer gay, mas ele sentia todas as esperanças indo embora naquele mesmo momento. - Vai embora antes do Natal?
   - Eu não quero, Pat! Eu tenho tudo aqui! Tenho amigas, tenho a escola, tenho... - Não terminou a frase, olhando corada para o garoto. Ele era parte do motivo que não a deixava partir. Grande parte dele na verdade.
   - Tem que ter outro jeito. As garotas já sabem?
   - Ainda não. - Mordeu o lábio. - Será que você poderia não contar pra ?
   - Ok. - Disse depois de um minuto. Provavelmente sua prima ficaria muito irritada com ele, mas o que poderia fazer? Não era de sua alçada se meter entre e as amigas.
   - Obrigada. - Suspirou aliviada. Ficaram um minuto em silêncio até que as lágrimas voltassem a tomar conta dos olhos da garota.
   - Hey, não chora. Vamos pensar em alguma coisa. - Disse Pat, colocando o braço ao redor da garota, que apoiou a cabeça no peitoral dele. Pat passou a acariciar os cabelos de , que aos poucos ia se acalmando.
   - Obrigada. - Ela disse baixinho. Pat só sorriu assentindo.
   - Me desculpa. - Disse, ficando em silêncio em seguida. se afastou um pouco para poder olhar para ele. - Por qualquer coisa idiota que eu possa ter feito. - Ele deu um meio sorriso e a garota fez o mesmo, assentindo.
   Ficaram mais uma vez em silêncio, até lembrar-se de algo:
   - Hey, eu tenho duas semanas pra mostrar que sou melhor skatista do que você!
   - Ah não, nem vem! Nem em um ano você seria melhor do que eu. - Riu. o encarou de boca aberta, fingindo indignação.
   - É mesmo? - Levantou uma sobrancelha.
   - Aham. - Pat desafiou.
   - Cara, você vai engolir isso! - Riu. - Eu andei praticando okay?
   - Jura? - Dessa vez ele ergueu a sobrancelha, realmente surpreso.
   - Sim. - Piscou para o garoto.
   - Essa eu quero ver, sério. Mas agora eu acho que você precisa voltar pra casa.
   parou de sorrir no mesmo momento. As coisas em sua casa estavam realmente tensas e estar com Pat de certa forma a ajudava a esquecer.
   - Tenho mesmo? - Fez bico. Pat mordeu o lábio.
   - Tem sim. Vamos, eu te levo. - Sorriram ao mesmo tempo, pensando que mais uma vez ele a levaria para casa tarde da noite.
   - Não é hoje que você vai me deixar entrar né?
   - Não. - Ela riu.
   Foram conversando por todo o caminho, por um momento esquecendo-se de todos os problemas que cercavam os dois. Tudo o que sabia era que ela não podia perder aquilo, de jeito nenhum.

Capítulo XXIV

- Eu não acredito que estamos mesmo nos preparando pra tocar na escola! - Pat abriu os braços para o alto, tentando se decidir se estava mais nervoso ou ansioso.
   Todos diziam para eles que apesar de serem a The Maine no pub, na escola sempre seriam os losers. Agora finalmente eles teriam a chance de ser a The Maine no lugar onde eles eram odiados e discriminados.
   Das duas à uma: ou daria merda ou... Daria merda. Mas eles já haviam concordado e contava com eles, era tarde demais para voltar atrás.
   - Estou com um bom pressentimento sobre hoje, na boa. - Kennedy sorriu torto.
   - Bom pressentimento sobre o quê, sua besta? - Jared bagunçou o cabelo do amigo, que já estava à meia hora na frente do espelho arrumando-o.
   - Filho da puta, vai se foder! - Kennedy bufou irritado. - Eu só acho que hoje tudo vai mudar. Porra, Jared, sua bicha do caralho!
   - Meu Deus, Kenny, que boca suja! - Pat riu. - Devíamos te colocar de castigo.
   - Eu já to de castigo. - Fechou a cara, voltando a arrumar o cabelo.
   - Tá é? - John perguntou confuso, se colocando ao lado do outro para arrumar o cabelo também.
   - A nem olha mais pra mim. - Resmungou. Os outros riram.
   - Vai cara, com essas garotas você tem que andar na linha, elas não são fáceis não. - Garrett riu. - Vocês são todos bichas, há quanto tempo estão arrumando o cabelo?
   - Só porque você acha que é bonito esse seu estilo de morto vivo que nunca conheceu uma escova. - John lhe deu a língua através do espelho.
   - Pra mim todos os quatro são bichas. - Jared sorriu, dedilhando Count'em 1, 2, 3 no violão.
   Estava esperando os amigos ficarem prontos há quatro horas, desde que chegaram à casa de Kennedy.
   Os outros olharam feio pra ele antes de voltarem a se arrumar.
   - Vou buscar a Camille, nos encontramos na escola ok?
   - Ok vai lá, garanhão. - Pat lhe mandou um beijo.
   - Hey, o que vai fazer com a ? - Garrett lembrou-se de perguntar, mesmo pressentindo que aquela era uma pergunta um tanto delicada. Jared sentiu-se tenso.
   - O que tem?
   - Não vai fazer nada?
   - É cara, quer parar de ser idiota? Tá na cara que a garota gosta de você! - Pat também entrou na conversa. Jared bufou.
   - A é passado.
   - Ah claro. - John rolou os olhos. - Cara, na boa você tá fazendo merda.
   - É, você devia terminar logo com a Camille, porque ela não merece ficar no meio disso. - Kennedy completou, finalmente terminando seu cabelo. Sorriu para seu reflexo no espelho, dando uma piscadinha para si mesmo.
   - Você é a última pessoa que deveria me dar conselho, seu lance com a tá mais fodido do que puta.
   - Tranquilo, dude, só quero ajudar. - Levantou as mãos, sentindo-se ofendido.
   Jared saiu do quarto antes que seus amigos dissessem mais alguma coisa para deixa-lo ainda mais nervoso. O clima entre os quatro deixados para trás também não era dos melhores.

- , isso aqui tá incrível! - Os olhos de brilhavam, olhando para cada mínimo detalhe da decoração da escola. - Nem parece aquele cadeião que nós vemos todos os dias! - Sorriu. Admirava o talento que a amiga tinha para transformar lugares.
   - Obrigada, eu acho. - Sorriu de volta. A festa ainda estava no começo, mas tudo dera certo no final. Bom, era cedo demais para dizer isso, já que a atração principal nem ao menos chegara.
   - Essa noite vai ser linda, algo me diz isso. - sorriu também, olhando para o lugar destinado ao palco. Lugar onde a The Maine tocaria em algumas horas.
   - Tá bom, de quem foi a ideia da cadeia? - chegou até as amigas arfando. - Me colocaram lá com um idiota que tentou me agarrar. Aquilo é tipo estupro em cinco minutos! - Ela jogava os braços para cima, enquanto as amigas riam descaradamente de seu problema.
   - Foi meio que minha. - sorriu.
   - Filha da puta, se outro imbecil tentar me colocar lá dentro vou fazer escândalo. - Gritou, sem conseguir controlar o riso. Assim como grande parte das pessoas ali, as cinco não conseguiam conter a ansiedade para o show que aconteceria naquela noite

Enquanto as garotas conversavam um burburinho começou a se fazer ouvir e logo chamou a atenção delas, que viraram-se para ver os garotos da The Maine entrarem, os cinco lindos e alheios como sempre.
   Camille estava com eles, foi a primeira coisa em que percebeu, sentindo o seu estõmago revirar.
   Os cinco brincavam entre si e sorriam, sem aparentar notar que todos olhavam para eles.
   Annabelle e suas amigas foram as primeiras a irem falar com os cinco, se jogando sobre eles como sempre. sentiu asco quando Annabelle começou a mexer na roupa de John, mas não pode evitar sorrir quando esse se afastou abruptamente da outra, olhando para ela de longe.
   viu Pâmela se aproximar de Kennedy, que falou brevemente com a garota, antes de se afastar, lado a lado com Pat.
   - Vamos dançar!- se decidiu, puxando as amigas para a pista de dança improvisada, próxima da banca do DJ.
   Começaram a dançar juntas, mas logo cada uma tomou seu rumo, separando-se.

Fazia algum tempo que a The Maine chegara à festa, e os garotos já não andavam mais juntos. Hora ou outra viam um pessoal ser arrastado por outros para deus sabe onde, e aquilo chamou a atenção de Kennedy.
   - Hey! - Chamou um dos garotos que "arrastava" uma garota e esse se separou do restante do grupo.
   - O que é? - Perguntou arrogante. Assim como muitos, não gostava dos losers.
   - O que vocês estão fazendo?
   - Chama prisão. - Respondeu. - É uma brincadeira, você paga pra um de nós, escolhe duas pessoas e nós trancamos as duas no armário das vassouras por cinco minutos.
   - Jura? - Sorriu divertido, imaginando quem ele mandaria para a prisão.
   - É. - Disse impaciente. - Se quer mandar alguém pra lá me dá logo dois dólares porque não tenho a noite inteira.
   - Aqui. - Pegou o dinheiro na carteira e entregou para o outro garoto.
   - Quem você quer que a gente prenda? - Kennedy sorriu enigmático para ele, procurando sua vítima com os olhos e se inclinou para frente, para que só o outro garoto ouvisse.

dançava com um garoto qualquer, se insinuando um pouco e se afastando toda vez que o rapaz ameaçava tentar beijá-la.
   Ela não estava no clima naquele dia. Na verdade ela não estava no clima desde o sábado passado e a razão para isso respirava o mesmo ar que ela.
   Cansou daquele garoto e se afastou sutilmente, batendo as costas nas costas de outra garota. Elas se viraram uma para a outra e sorriram abertamente, dançando juntas.
   - O seu garoto também era chato? - Gritou para que a amiga conseguisse ouvi-la apesar da música alta.
   - Muito! - gritou de volta.
   - Meninas? - Um garoto do terceiro ano se colocou entre as duas, acompanhado de mais dois carinhas. os reconheceu como os mesmos que a levaram para a prisão mais cedo.
   - Ah não, saí pra lá. - Disse a eles, que riram para ela.
   - Tranquila, , agora estamos atrás da sua amiga aqui.
   - Mesmo? - sorriu tarada para , que quase se engasgou. Como assim eles estavam atrás dela?
   - Ah não, quem vocês vão colocar comigo?
   - Foi mal, é segredo. - Sorriu. - Vai por bem ou vamos ter que te carregar?
   - Não! To indo. - Levantou os braços, implorando por ajuda para a amiga, que só fazia rir dela.
   - Tchau, gatinha. - Um dos garotos piscou para antes de seguir o restante do grupo. Ela sorriu para ele e logo foi procurar outro parceiro de dança.
   - Boa sorte, amor. - O mais alto dos garotos trancou no armário escuro, sorrindo para ela.
   Ainda olhando para a porta, ouviu alguém tossir atrás de si e sentiu um arrepio ao reconhecer quem era.
   - Ah não. Deixem-me sair, por favor! - Bateu na porta algumas vezes, sentindo lágrimas nos olhos.
   - Fala sério. - Jared resmungou por trás da garota. Sua voz vinha de longe, então ela achou seguro se virar para procurar o garoto com os olhos.
   O quarto devia ter cerca de dois metros quadrados e a única iluminação provinha de uma lâmpada ridiculamente fraca que não iluminava praticamente nada.
   Mesmo assim, a luz era suficiente para que reconhecesse os traços de Jared, que a olhava de volta sem saber exatamente o que fazer.
   - Isso foi ideia sua? - Ela pergunta para ele, que apenas ri sem humor algum.
   - Não mesmo. - Aquela resposta não era o que esperava, mesmo que ela jamais fosse assumir aquilo. Tudo o que ela queria era que ele lhe desse algum sinal de que ainda a queria, tanto quanto ela ainda o queria.
   - Que bom. - Deu de ombros, fingindo não se importar. - Eu também não tive nada a ver com isso. - Disse rápido, antes que ele pensasse que ela estava desesperada a esse ponto.
   - Que bom. - Repetiu o gesto da garota, ambos sentindo a tensão enorme no ar. Eles ficaram em silêncio por cerca de um meio minuto, olhando um para o outro como se esperasse que o outro dissesse ou fizesse algo.
   Quando aquilo ficou insuportável, Jared foi até a garota a passos largos e antes que ela pudesse esboçar qualquer reação, ele já tinha um de seus braços ao redor da cintura dela enquanto o outro segurava seu rosto. Ela só teve tempo de segurar os cabelos dele e entreabrir os lábios para recebê-lo.
   O beijo de Jared era dominador, possessivo, quase raivoso. Ele a segurava com tanta força que ela poderia se quebrar, mas nenhum deles se importava com aquilo no momento.
   Aquilo nem de longe era uma reconciliação, ainda havia muita coisa a ser resolvida entre eles, mas agora Jared não poderia mais se fazer de indiferente.
   Quando ele se deu conta disso, afastou o rosto do da garota, encarando-a confuso.
   Ele se deixara levar por seus sentimentos de novo!
   Sentindo-se ainda mais irritado, empurrou a garota contra a porta com força, voltando a prensar seus lábios contra os dela.
   Ele segurava seus dois braços com uma só mão, pelos punhos dela, enquanto percorria o seu corpo com a mão livre.
   Jared não estava sendo carinhoso. Ele pouco lembrava o garoto que gostava, mas aquilo não era de todo ruim.
   Era bastante agradável na verdade. Os beijos de Jared logo se direcionaram para o pescoço de , que o sentia cada vez mais calmo. Seus lábios ardiam um pouco e o gosto de sangue em seu lábio inferior a fez perceber que se machucara.
   Pouco a pouco os beijos foram se tornando mais calmos, até que Jared parasse de vez, com o rosto enterrado no pescoço da garota. Ele soltou seus punhos e ela pode abraçá-lo, acariciando os cabelos dele.
   Por um momento pensou que ele estivesse chorando.
   - Jared? - Chamou, o som de sua voz afastando o garoto abruptamente. Em um segundo Jared já estava do outro lado da sala, de costas para . - Jared! - Quase correu para perto dele, tentando desesperadamente chamar a sua atenção.
   O garoto por sua vez mal se movia. As mãos, fechadas em punho, indicavam que ele estava bastante nervoso.
   Alguém bateu na porta naquele momento, e uma voz disse:
   - Estão livres! - A porta se abriu e quem saiu praticamente correndo de dentro da sala daquela vez foi Jared.
   Sem nem dirigir um último olhar para , que se sentia mais confusa do que nunca.

- E ai cara, como foi? - Kennedy esperava por Jared próximo à prisão.
   - Se você tiver algo a ver com isso prepare-se pra levar o maior soco que já levou na vida. - Disse devagar, tremendo de raiva.
   - Qual é, só queria ajudar! - Riu, não se importando nem um pouco com a irritação do amigo.
   - Nossa, você tá fodido. - Jared se preparava para bater no outro, quando os mesmos garotos que o abordaram se colocaram entre os dois.
   - Não me bate não, loser, vim atrás do seu outro amigo. - O garoto apontou para Kennedy, que arregalou os olhos.
   - Eu? - Apontou para si mesmo com os olhos brilhando. - Me diz se é gata?
   - Eu não sei quem é. - Deu de ombros. - Agora vamos logo, não me obriga a encostar em você. - O garoto pediu, parecendo contrariado de ter recebido aquela tarefa.
   - Ok. Me bate depois, Jared. - Acenou para o amigo, deixando-o para trás. Foi jogado dentro do cubículo e logo trancado lá dentro. Esperou por cerca de dois minutos até ouvir a porta sendo aberta novamente. Sorriu quando reconheceu a voz da garota, que era praticamente arrastada para dentro da sala.
   Imaginou se ela sabia que era ele lá dentro e por isso relutava tanto.
   - Velho, não é possível que não tenham mais garotas nessa festa, eu pago cinquenta dólares pra vocês não me trazerem mais pra cá! - Choramingou para o garoto com a chave, de costas para Kennedy, mas já dentro do quarto.
   - Sinto muito, amorzinho, essa ainda vai ter que aguentar. - Fez bico para ela, antes de fechar a porta em sua cara.
   - Eu sabia que essa noite seria interessante. - Kennedy se fez ouvir, já que a garota não parecia disposta a ver quem era o seu acompanhante, limitando-se a ficar parada olhando para a porta. Esta sentiu-se tremer ao ouvir a voz dele, mas não demonstrou qualquer reação.
   Ele suspirou, aproximando-se com cautela.
   - Vai mesmo fingir que eu não estou aqui? - Perguntou sério. virou-se para ele. A distância entre os dois era mínima.
   - Acabou ok? Eu não suporto mais ficar perto de você, será que você pode respeitar isso? - Ela disse seria também, olhando-o nos olhos. Sentiu sua vista embaçar com as lágrimas e as limpou rapidamente, tentando evitar que Kennedy as percebesse.
   Era inútil, no entanto.
   - Não posso. - Ele disse sincero. - Eu não consigo ficar longe de você, linda. - Tentou se aproximar mais, inclinando-se para tocar o rosto da garota. virou o rosto.
   - Chega de jogos, Kennedy. Eu não quero mais.
   - Eu não estou jogando. Sinto a sua falta. - Ela sorriu cética, rolando os olhos.
   - Ah, por favor! Você espera que eu acredite nesse monte de mentiras? Chega, Brock, cansei de tudo isso. Você estava certo antes, eu realmente gostava do que a gente tinha, mas no final você mostrou o que eu sempre soube: você é um idiota.
   - Hey, eu não sou o único culpado ok? Eu sei que fiz merda com você, mas se você não fosse tão complicada isso não teria acontecido.
   - Claro, você transou com a Pâmela por minha causa. - Riu nervosa.
   - Não, isso não foi sua culpa, mas como você acha que é pra mim te ver sempre com vários garotos e não poder fazer nada?
   - Achei que não houvesse regras sobre isso no seu jogo.
   - Só acho que você não pode me julgar por algo que você deve fazer o tempo todo. - Deu de ombros, sem esperar pela reação quase instantânea por parte de . O tapa em seu rosto não doeu tanto quanto o arrependimento que veio logo depois de ter as palavras saídas de sua boca.
   - Eu não acredito que você disse isso.
   - Desculpa. - Ele abaixou a cabeça.
   - Desculpa pelo quê, Kennedy? - Elevou a voz. Mesmo que a vontade de chorar dentro de si fosse grande, conservou-se de cabeça erguida e com a voz firme. - Pelo o que você fez antes ou por agora? Talvez seja melhor assim, sabe? Nunca daria certo pra gente.
   - Não fala isso! Por favor, eu sei que eu sou um idiota, mas eu... Eu me apaixonei por você! E eu não sei como lidar com isso ok? Ainda mais quando você me despreza, eu não sei como eu devo agir!
   - Você parecia não ter dúvidas antes! Sempre estava tão seguro de si, aparecendo e indo embora quando queria. Quem sempre se manteve longe foi você, não eu! - Ambos gritavam um com o outro, tentando não se abalar tanto com o que Kennedy acabara de dizer.
   Como ele podia dizer que se apaixonara por ela depois de tudo o que fizera?
   - Não me diga que você já se esqueceu da cena que você armou na frente da escola inteira. - Ele sorriu nervoso. - Quer saber? Você está certa. - Kennedy deixou a frase no ar, deixando a garota confusa.
   Certa sobre o quê?
   - Talvez seja melhor assim, eu não preciso de uma garota que se acha superior a mim.
   - Claro, melhor ir atrás da Pâmela certo? Os dois vêm da mesma merda, são o casal perfeito!- Gritou com raiva. Não esperava que ele desistisse tão rápido assim.
   - Talvez eu faça isso. - Ele gritou de volta, colando seus lábios nos de em seguida. Ela o recebeu assustada no começo, mas não conseguiu deixar de corresponder.
   Aquele beijo era um beijo de perdão, de paixão e de mágoa, todas as emoções misturadas. Tudo o que eles jamais conseguiriam dizer com palavras estavam ali, compreendidos entre os lábios dos dois, entre o nó de suas línguas.
   Foi quem rompeu o beijo, empurrando Kennedy para longe.
   - Isso acaba aqui. - Ela disse novamente séria, uma única lágrima escorrendo por seu rosto. Kennedy a olhou confuso. - Não me procura mais, Kennedy.
   - Eu não posso fazer isso. - Deu um passo na direção da garota, que recuou um simultaneamente.
   - É claro que pode.
   - Eu te amo, porra! - Gritou o mais alto que pode, assustando a garota. Ela o encarou boquiaberta, incapaz de dizer qualquer coisa.
   - Não ama. - Sorriu nervosa.
   - Amo sim. E eu não posso ficar longe de você então não me peça para fazer isso. - Ela se sentia prestes a fraquejar novamente, mas não podia deixar aquilo acontecer.
   Respirando fundo, sentiu a garganta rasgar ao dizer o que sabia que precisava dizer:
   - Seja como for, eu não te amo, então, por favor, não volte a ir atrás de mim.
   Coincidência ou não, a porta se abriu naquele momento e não pensou duas vezes antes de sair dali, a cabeça latejando.
   Não sabia até que ponto a sua última frase soara verdadeira, mas esperava que tivesse sido o suficiente para manter Kennedy longe.
   Não mentira ao dizer que seria melhor para os dois ficarem separados.
   O fato era que nenhum dos dois sabia jogar e não era bom para eles ficar se machucando o tempo inteiro.
   Kennedy ainda demorou pouco mais de um minuto para sair de lá, quase não suportando a dor que sentia por dentro.
   É claro que ele não devia ter pensado que seria assim tão fácil: só se declarar e teria novamente para si.
   Afinal, se isso acontecesse, certamente não seria a sua garota.
   Ele não acreditara no que ela dissera, mas de qualquer forma, escutar aquilo doera mais do que ele jamais pensou que pudesse doer.
   Ele, no entanto, fora sincero: estava apaixonado por e não conseguia pensar no que faria se aquele fosse mesmo o fim deles.

Capítulo XXV

- Como será que foi a prisão do Kenny? - John sorriu maléfico para Garrett.
   - Aposto que apanhou até a morte. - Disse o baixista, imaginado a cena.
   - E você Jary, apanhou?
   - Vai à merda. - O terceiro garoto na rodinha bufou. Seu humor estava péssimo.
   - Meninas. - Kennedy se juntou aos outros, cabisbaixo.
   - Ih, foi tão mau assim? - Garrett perguntou preocupado, apesar do tom de curtição. Kennedy até tentou dar um de seus sorrisos espertos, mas falhou. Contentou-se então em suspirar e assentir devagar.
   - Eu sou um imbecil.
   - Disso a gente já sabe, mas não tem jeito mesmo? - Kennedy estreitou os olhos para John. - Que foi? É verdade!
   - Fica quieto, John, não tá ajudando. - Garrett interferiu, dando um passo na direção do guitarrista. No entanto, antes que chegasse até o amigo, foi abordado por dois garotos.
   - Vem com a gente, Nickelsen. - Disse um deles entediado.
   - John? - O garoto olhou acusador para o amigo, que só fez sorrir para ele.
   - Não é porque você me ajudou com o Kenny e o Pat que ia ficar livre.
   - Seu gay. - Disse antes de seguir os garotos.
   Ele entrou na salinha e ficou esperando, sem conseguir deixar de sorrir. Finalmente tinha como ele queria.
   Há algum tempo atrás, quando a via com o troglodita do Robert nos corredores, achava que aquilo seria impossível.
   Quando entrou, alguns minutos depois com as mãos unidas na frente do corpo e um pequeno sorriso no rosto, Garrett já a esperava de pé próximo à porta e a segurou pela cintura, puxando-a para si.
   - Garrett! - Exclamou em tom de advertência, porém sorrindo.
   - Boa noite, menina linda. - Disse todo galante, colando sua boca na da garota enquanto essa sorria.
   - Boa noite, Gary. - Respondeu quando teve seus lábios liberados.
   - Só Gary? - Ergueu uma sobrancelha sem soltá-la.
   - Hm... Boa noite, garoto mais lindo do mundo? - Arriscou, fazendo uma expressão que o fez sorrir.
   - Nah, só Gary tava bom. - Ele balançou a cabeça fazendo careta. - Mas agora chega de falar.
   - Por quê? - Dessa vez foi ela quem levantou a sobrancelha.
   - Porque eu quero fazer outra coisa e falar atrapalha. - Ele lhe lançou um sorriso digno de Kennedy antes de voltar a beijá-la. sorriu durante o beijo, colocando as mãos nos cabelos dele para acariciá-los de acordo com a intensidade do carinho entre seus lábios.
   Ele, por sua vez, mantinha uma das mãos na cintura da garota enquanto usava a outra para passear suavemente pelas costas dela, provocando-lhe arrepios.
   Sua língua massageava a dela com carinho e ao mesmo tempo firmeza. Mistura perfeita para deixá-la sem ar.
   - O que foi que você fez? - Ela perguntou arfando. Garrett a olhou sem entender.
   - Como assim?
   - Até um tempo atrás você era só o meu vizinho fofo que gostava de mim. Quando isso mudou?
   - Me diz você. - Ele sorria divertido, achando graça da confusão de . - Eu nem sabia que isso tinha mudado.
   - É claro que mudou! Todos esses sentimentos que eu tenho agora eu não tinha antes. - Ficou vermelha assim que percebeu o que dissera. Garrett ainda sorria da mesma forma.
   - Continua.
   - Ah, cala a boca. - Ele riu alto quando levou um tapa forte no braço. por sua vez sorria nervosa. - Agora vai dar pra rir de mim, estava bom demais pra ser verdade. - Resmungou.
   - Eu não 'to rindo de você, vem cá! - Ele a puxou para mais perto, abraçando-a de lado. encaixou o rosto no pescoço do garoto, sentindo o cheiro gostoso de seu perfume.
   - Tá rindo de que então? Já sabe que eu tenho dificuldade pra guardar meus pensamentos pra mim.
   - Eu sei. - Ele sorriu, mordendo levemente o lábio inferior de , que formara um biquinho. - E eu adoro isso em você, então pode me dizer qualquer coisa que passar aí. - Disse sério, apontando para a cabeça da garota, que fez uma careta.
   - Não vou te dar essa vantagem sobre mim.
   - Que vantagem?
   - A de saber o que eu sinto, você vai agir como um idiota. - Garrett franziu o cenho, sentindo-se ofendido.
   - Eu não sou o Robert.
   - O Robert também já me buscou em casa e me deu flores enquanto abria a porta do carro pra mim. E também já pegou na minha mão em público com um sorriso no rosto. O problema é que o tempo passa e o encanto acaba. Aí você percebe que se entregou demais pensando que nunca fosse se machucar e se fode.
   - O Robert nunca te mereceu, .
   - Você se acha melhor do que ele? - Aquela pergunta o surpreendeu. Talvez pela simplicidade com que foi dita ou talvez porque ele nunca esperaria uma pergunta daquelas.
   Sua vontade era dizer que sim, mas isso soaria prepotente, exatamente como Robert costumava ser.
   E isso só o tornaria igual a ele.
   - Eu não... Que ridículo, , eu não sou como ele e você sabe disso.
   - Nem nunca vai ser?
   - Não! Primeiro porque ele é um jogador de futebol burro que se acha e eu sou um loser nerd. - Ela balançou a cabeça para os lados, com um leve sorriso.
   - Não, você é o baixista mais sexy do mundo, e o cara mais incrível que eu conheço. Eu to sendo uma idiota, me desculpa.
   - Hey, não é errado ficar insegura de vez em quando. - Garrett apertou suas bochechas, formando um biquinho nos lábios da garota.
   - Eu estou confusa porque me apaixonei por você. - Disse com uma voz engraçada por conta do bico.
   Garrett sentiu um arrepio gostoso ao ouvir aquilo, mas se limitou a sorrir esperto para ela. Mesmo assim, não conseguiu disfarçar um brilho nos olhos.
   - Você não precisava ter medo de dizer isso. - Ficaram em silêncio depois disso, até que começou a se sentir insegura.
   - Não vai dizer mais nada? - Perguntou nervosa. Queria uma resposta que lhe fizesse sentir-se segura com ele, e aquela com certeza não era o que ela queria.
   Garrett sorriu.
   - Espera até mais tarde. - Soprou em seus lábios pouco antes de beijá-la.
   Eles permaneceram dessa forma até que seu tempo ali terminasse e os dois tivessem que seguir caminhos separados.
   Garrett foi até os amigos com um sorriso brilhante nos lábios. Relatou parte de sua aventura no quartinho do estupro e, ainda sorrindo, virou-se para John:
   - Agora é sua vez. - Sorriu malvado. John o olhou de volta.
   - Jura que você fez isso? - Retribuiu o sorriso com os olhos brilhando. - Cara, eu te amo! - Pulou sobre o amigo, beijando-lhe a testa.
   - Nã... Saí! - Garrett conseguiu livrar-se, esfregando a testa com a mão. - Gay!
   - Você é demais! - Fez um coraçãozinho com as mãos para o baixista, que rolou os olhos.

- Posso saber o motivo da felicidade? - encontrou na mesa onde ficava o ponche, que àquela hora devia estar ridiculamente batizado.
   - Em breve. - Sorriu toda alegre.
   - Ok. - Analisou a amiga por um momento e deu de ombros. - Tem certeza de que vai beber isso daí?
   - Não sei, lembro que a cor era diferente no começo da festa. - encarava o liquido meio alaranjado no recipiente, recordado-se de que outrora este já fora vermelho vivo. - , você já se apaixonou por alguém que fosse... Diferente, digamos?
   gelou no mesmo instante, pensando ter sido descoberta. Mesmo assim, resolveu fazer-se de desentendida.
   - Como assim diferente? Tipo troglodita? Aimeudeus , você se apaixonou pelo Robert? Qual é, cadê sua auto estima?
   - O quê? Não! - gargalhou. - Não é nada disso, eca.
   - Então quem é?
   - Me responde primeiro. Você já gostou muito de alguém que todos os outros odeiam? - sorriu carinhosa para a amiga, pousando a mão em seu ombro.
   - , meu amor, me escuta: se você gosta do cara, fodam-se os outros, ok? Seja feliz com ele! É só isso o que importa. - Por um instante pensou se aquilo era muita hipocrisia de sua parte, mas mudou de ideia, afinal, seu caso com John era único, certo?
   Seja lá quem fosse o amor de , seria bem melhor aceito por todos do que um loser.
   - E eu prometo que vou ficar do seu lado, seja quem for o cara. - Completou, abraçando a amiga. Elas sorriram juntas. - Menos o Robert, ok? Odeio aquele cara.
   - Somos duas então. - Fez careta. - Mas obrigada, .
   - , lamento te dizer, mas você tá presa. - Um garoto dos que haviam se oferecido para trabalhar na prisão abordou e .
   - O quê? Não, espera aí, Jack, eu sou sua chefe. Você não pode me prender! - gritava, fazendo gestos com as mãos enquanto só ria.
   - Desculpa, chefinha, mas alguém pagou por você. - O garoto sorriu simpático.
   - Hey, eu não sou puta! - Ela então bate no peito do outro enquanto ri.
   - Eu sei, mas podia ser mais fácil né? - Jack mordeu o lábio inferior, encarando suas pernas. logo pensou em John e, sentindo-se desconfortável, resolveu acabar logo com aquilo.
   - Ok, ok, vamos logo antes que eu me arrependa. - Acenou para , que ainda achava graça de tudo e seguiu o terceiro anista em direção à prisão.
   - Você não me respondeu. - Jack disse sério, caminhando lado a lado com a garota.
   - Não respondi o quê? - O olhou rapidamente, pois sentiu os olhos dele queimando sobre ela.
   Jack e ela costumavam ser bastante próximos até que ele acabou entrando no ensino médio e a deixando para trás. Ele começou a andar com outras pessoas e gradativamente eles passaram a ser quase desconhecidos um para o outro.
   Mesmo assim ele era um cara legal e bastante atraente, com seus 1,80m, cabelos castanhos enroladinhos, corpo atlético de quem jogava qualquer coisa menos futebol e rostinho de bebê.
   - Jack, qual é? Somos amigos!
   - Não somos mais há muito tempo. E eu nunca quis ser somente seu amigo.
   - Não vamos falar disso ok? Agora não.
   - Quando então?
   - Não sei. E nem adiante me pressionar. - Sua voz saiu irritada e o garoto rolou os olhos. Sabia como detestava que tentassem mandar nela.
   Depois disso não falaram mais nada e foram assim, em silêncio, por todo o caminho até chegarem à pequena porta com uma placa colorida feita de cartolina, com prisão escrito em letras grandes.
   Quando se preparava para entrar na sala, Jack a segurou pelo braço, impedindo-a de continuar.
   - Qualquer coisa, grita. - Disse em tom protetor quando a garota o encarou com um ponto de interrogação na testa.
   - Por que eu gritaria? - Perguntou preocupada, olhando brevemente para dentro da sala escura. Nada viu, no entanto.
   - Porque um dos losers tá ai e eu não gosto deles. Especialmente do magrelo do O'Callaghan, que tem cara de alcoólatra.
   não sabia se ficava animada pela informação que acabara de obter, ou se rolava os olhos pela comparação. Por fim só assentiu e se soltou do garoto, entrando na sala.
   A porta se fechou e antes que ela pudesse olhar ao redor foi empurrada para a parede e teve sua boca invadida pelo beijo de John.
   Com os lábios nos dele, sorriu e enlaçou-o pelo pescoço.
   - Oi chuchuzinho. - John soprou, rompendo o beijo.
   - Oi jilózinho. - Ela riu de volta.
   - Jiló? Você me odeia?
   - Não! - Bateu em seu braço rindo.
   - Sei. - A olhou desconfiado. - Ansiosa para o show?
   - Muito! Vai tocar alguma música nova pra mim hoje?
   - Não, hoje o Garrett que vai tocar pra... - Deixou a frase inacabada, percebendo quase tarde demais que falara mais do que deveria.
   - Pra quem? - Perguntou curiosa.
   - A garota que ele gosta. - Respondeu dando de ombros, porém desconfortável por falar sobre aquilo. Se descobrisse alguma coisa e fosse falar com , Garrett o mataria.
   - A garota que ele gosta? Mas eu sempre achei que ele gostasse da e... O Garrett fez uma música pra ela?
   - Foi. - Ele suspirou, vendo que seria inútil negar.
   - Ai que fofo! Mas por quê? - Ficou pensando em silêncio por um momento, enquanto John mordia o lábio em sinal de nervosismo. Logo a verdade iluminou seu rosto num misto de surpresa com descrença. - Espera... Eles estão ficando!
   - Aí, não grita! - John fez careta. Riria da expressão no rosto de se não estivesse ocupado demais estudando sua reação. Ela, no entanto, estava atônita demais para esboçar alguma. - Desde o dia da festa da Annabelle.
   - Meu deus, isso é... É... - Incrível? Estranho? Impossível? Ela não sabia. Tampouco tinha ideia de como deveria reagir sobre aquilo. - Então era dele que a estava falando!
   - Falando do Garrett? Quando?
   - Agora a pouco ela me disse que tava gostando de alguém, mas não disse nenhum nome.
   - Você vai falar com ela? - Perguntou sério.
   - Eu não sei. Preciso pensar sobre isso. Ainda nem sei como devo me comportar!
   - Você deve ser amiga dela oras.
   - Tem razão. - Suspirou. Ficou séria por algum tempo, até esboçar um sorriso. John a olhou com uma sobrancelha arqueada.
   - Qual a magia que vocês têm ein? Nós duas aqui, apaixonadas pelos losers!
   - O que o Garrett fez eu não sei. Provavelmente alguma macumba brava, mas você só me quer porque tem fetiches com os garotos da banda.
   - Se fosse assim eu teria escolhido o Kennedy. - Deu a língua. - Mas bem que eu gostaria que você cantasse pra mim assim do jeitinho que estamos agora.
   - Quer que eu cante no pé do seu ouvido? - Perguntou sugestivo. assentiu, sorrindo com malícia.
   - Ok, você será a primeira a ouvir essa. - Ele se aproximou ainda mais seu rosto do da garota, de forma que suas respirações batessem no rosto um do outro.
   John começou a cantar baixinho, com a sua habitual voz rouca.
   fechou os olhos para sentir melhor a música

Tell me that you love me
   And all will be alright

Finalizou o primeiro trecho com um beijo na ponta do nariz da garota, que enrugou o rosto sentindo cócegas.

Are you thinking of me
   Just come to me tonight

Colocou as mãos ao redor do quadril da garota, aproximando ainda mais seus corpos.

You know I need you
   Just like you need me

Por fim selou seus lábios no que pretendia que fosse apenas um selinho rápido, mas não deixou que ele voltasse a se afastar, tornando o beijo algo intenso.
   Quando voltaram a se afastar, olhando um na íris do outro, John sorriu pelo nariz sussurrando:

I must be dreaming

Capítulo XXVI

Faltava cerca de quinze minutos para o show da The Maine quando alguns garotos tiraram da companhia de , com quem dançava contente, para levá-la para a temida prisão.
   Ela os acompanhou sem protestar, mesmo que se sentisse nervosa sobre o que a esperava ali.
   Entrou na pequena sala e respirou fundo, preparada para dar um soco em qualquer otário que tentasse se aproximar. Foi nesse momento que reconheceu a figura de Pat sentada num banquinho no fundo da sala e prendeu a respiração por um momento.
   - Oi. - Ele sorriu para ela assim que seus olhares se encontraram.
   - Oi. - Devolveu, sorrindo nervosa.
   - Você vai mesmo embora? - Pat levantou-se e caminhou lentamente até ela.
   - Sim. - Suspirou. - Tá tudo bem? - Ergueu uma sobrancelha para ele, estranhando a postura misteriosa que o garoto assumira. Especialmente naquela sala escura, quase não parecia o mesmo Pat que ela estava acostumada.
   - To. - Sorriu. - É só que eu percebi que tenho menos de oito dias pra tentar compensar o fato de eu ter sido um idiota por todo esse tempo.
   - Co... Como assim? - Involuntariamente ou não, deu um passo na direção de Pat nesse momento, tornando a distância entre os dois ainda menor.
   - Por todo o tempo eu tentei negar o que eu sentia porque não queria ficar como John e Garrett, sofrendo por uma relação impossível e por isso me mantive longe. Mas de um tempo pra cá eu percebi que ficar longe de você é impossível. Eu nunca consegui e talvez nunca vá.
   - Pat... - Ela tentou impedi-lo, sentindo lágrimas nos olhos. Ele não tinha o direito de fazer aquilo com ela quando faltava pouco mais de uma semana para que ela partisse.
   - Shiu, o pior é que eu sempre soube que você era especial.
   - Pat, eu vou embora daqui a uma semana! - Elevou a voz nervosa.
   - Uma semana pra mim é tempo o suficiente.
   - Suficiente pra quê?
   - Pra isso. - Assim que terminou de falar, segurou o rosto da garota com as duas mãos e a beijou. Ela nem tentou resistir, simplesmente aceitou o carinho, colocando as mãos nos braços de Pat.
   - Pat... - chamou no intervalo de um beijo para outro. Empurrou-o sutilmente para que pudesse falar sem que a proximidade a distraísse. Ainda assim eles não se soltaram. - Você não acha que é um pouco tarde pra isso?
   - Não é tarde se você quiser também. - Pat franziu a testa, sentindo a confusão da garota dentro dele mesmo. não respondeu a princípio, refletindo sobre o que ele dissera. - Antes tarde do que nunca né? - Ele completou apreensivo, nervoso pela demora para que a garota respondesse.
   Por fim suspirou e abriu um pequeno sorriso.
   - Você é um grande idiota.
   - Eu sou?
   - Sim, muito lerdo também! - Ela riu da cara que ele fez.
   - O que isso quer dizer? - Perguntou confuso. rolou os olhos rindo.
   - Quer dizer que você devia parar de pensar e me beijar. - Dessa vez quem se aproximou foi . Mas Patrick não a deixou dominar a situação, empurrando-a até a parede.
   As mãos dele foram parar em seu quadril, rapidamente mudando o rumo para a coxa dela. Ali ele espalmou a mão em sua perna, puxando-a para cima. enlaçou o corpo do garoto com a perna que ele segurava, enquanto brincava de desembaraçar seus cabelos sem parar de beijá-lo.
   Depois de todo aquele tempo, mal podia acreditar que estava sendo apalpada por Pat Kirch, o primo de sua melhor amiga e loser do colégio.
   Não, o garoto de quem ela gostava há bastante tempo e baterista da The Maine.
   Pat por sua vez, se encontrasse com seu eu de pouco tempo atrás e contasse o que estava fazendo naquele momento, podia apostar que ele não acreditaria e ainda riria dele.
   Como pode, em poucos meses, passar da amiga patricinha da prima à garota que não o deixava dormir à noite?
   Ela o conquistara com seu jeito fofo e meigo e com seu carisma. nunca demonstrou superioridade para com ele e os amigos, sempre sendo boa com todos.
   Ela era quase como um anjo.
   Pat sorriu levemente, sentindo-se quente com os toques de por seu pescoço e peitoril. Ele brincava com a barra da blusa da garota, levantando-a só o suficiente para que a sua mão livre pudesse sentir a pele lisa de sua barriga e quadril.
   - ... - Ele chamou com a voz falha, quando se separaram para respirar. Ela o encarou, esperando que ele fala-se. Pat respirou fundo e abriu olhou fundo em seus olhos. - Nós...
   - Acabou o tempo - A voz veio de fora, pegando os dois de surpresa. Por instinto eles se soltaram, mesmo que continuassem próximos.
   A porta foi destrancada, mas não aberta. No entanto eles precisavam sair.
   olhou esperançosa para Pat, mas viu em seus olhos que ele não diria mais nada. Sorriu triste para ele, que fez o mesmo.
   - Posso te ligar amanhã? - Pediu o garoto.
   - Claro. - Ela lhe sorriu abertamente, juntando seus lábios num selinho rápido antes de abrir a porta e sair pulando para fora.

Pat chegou correndo ao camarim improvisado atrás do palco. Era na verdade uma salinha que servia como dispensa, mas que fora ajeitada para os garotos esperarem ali. Sentia-se leve e um sorriso bobo não saia de seu rosto.
   - Desculpa o atraso, gente! - Disse parando para recuperar o fôlego.
   - Não esquenta, temos tempo ainda. - John deu de ombros.
   - Estamos decidindo as músicas. - Jared complementou. - Vamos começar com Girls Do What They Want.
   - Depois Give Me Anything? - Garrett perguntou.
   - Não, essa hoje não. - Kennedy disse sério, atraindo a curiosidade dos outros.
   - Essa música é dela? - Pat perguntou, sem necessidade de explicitar quem era "ela".
   - Eu não escrevi pra ela, mas sim, é dela. Nossa, na verdade. E eu não acho que ela queira ouvi-la hoje.
   - Sinto muito, dude. - Pat sentou-se ao lado do amigo, batendo em suas costas para consolá-lo. Kennedy pensou em afastá-lo, mas não estava em condições.
   Era até bom que os amigos estivessem ali para apoiá-lo, não conseguia pensar em como estaria se não fossem eles ali.
   Não pode evitar pensar em , que não podia dizer o mesmo que ele, já que escondia tudo das amigas e balançou a cabeça.
   Teimosa.
   - Façamos assim então: I Wanna Love, Count'em one, two, three e Daisy. Quero deixá-la por último.
   - Certo. - Os outros concordaram.

- Te achei! - gritou para , finalmente encontrando-a na primeira fila do aglomerado de gente que se amontoava para ver o show. Atrás dela vieram as outras garotas e logo as cinco estavam reunidas na fileira mais próxima ao palco.
   - Oi amor. - sorriu docemente para a amiga, voltando a atenção para o palco em seguida. Mal podia controlar a ansiedade de ver Garrett pulando pelo palco como se tivesse pulgas nas calças
   - Ansiosa para o show?
   - Bastante e você? - Sorriu sincera, mesmo estranhando o jeito com que falava com ela. Era como se ela soubesse de algo muito interessante que não lhe deixasse tirar um sorriso bobo do rosto.
   - Ahan. Só espero que dê tudo certo porque se não o peso caí todo sobre mim. - Ela dizia aquilo sem tirar o sorriso do rosto e chegou a cogitar a hipótese de que a amiga experimentara alguma droga ilícita.
   - , você tá bem? - Perguntou preocupada. - Você não tomou aquele ponche né?
   - Não, eu to ótima! E você? Já achou o carinha que você gosta? - corou um pouco, levando o olhar até o palco.
   - Não ainda. - acompanhou o olhar da amiga e sorriu.
   - Daqui a pouco você o vê.
   - Do que vocês tão falando? - perguntou a fim de entrar na conversa junto com as outras garotas.
   - Nada não. - respondeu antes que pudesse dizer qualquer coisa. Essa última olhava para a amiga tentando entender o que ela quisera dizer antes. - Vamos dançar enquanto os losers não começam a tocar!
   Dançaram juntas as músicas que tocavam até que tudo ficou em silêncio e as luzes se apagaram.
   Os garotos da The Maine entraram no palco e muita gente começou a aplaudir, para a surpresa dos mesmos e das garotas.
   As únicas pessoas que vaiavam, pelo que pode constatar em uma breve olhadela geral, eram Robert e seus amigos.
   Rolou os olhos e virou-se novamente para encarar os olhos azuis que lhe fazia perder noites de sono e viu o garoto sorrir para ela discretamente.
   Piscou para ele, batendo palmas e gritando como algumas pessoas faziam.
   olhava fixamente para John, que repetia o gesto. e Pat trocavam um sorriso cúmplice, enquanto tentava manter-se firme quanto a ignorar Kennedy e evitava olhar para Jared com medo de que ele não estivesse olhando de volta.
   - Hey, nós somos a The Maine e essa música se chama Girls Do What They Want.
   Eles começaram a tocar e, assim como as garotas, muitas pessoas que os acompanhavam no pub cantaram junto, enquanto os outros ouviam à música com bastante atenção.
   Na segunda música, alguns dos curiosos deixaram a multidão para ver outras atrações da festa, mas a maioria ficou e com certeza gostou da versão dos garotos para a música do Akon.
   Depois veio Count'em one, two, three e assim que ela acabou, Garrett foi até o microfone para apresentar a próxima música.
   - Hey gente, a próxima música é especial para mim e eu a dedico para alguém, não interessa quem, que ganhou meu coração desde o primeiro momento que a vi.
   - Aqui vai Daisy! - Kennedy completou, sorrindo pela coragem do amigo.
   Garrett procurou pelos olhos de na plateia e a encontrou o olhando de volta com um sorriso enorme no rosto. Reparou que sorria abobada ao lado de sem que essa percebesse e olhou para John confuso. O vocalista usou os olhos para confirmar a pergunta muda do amigo, pedindo desculpas silenciosas.
   Garrett respirou fundo para espantar o nervosismo, decidido a lidar com aquilo depois.

I picked you up and lifted your wilted frame into the sun.
   I was taken back, yeah I was taken back,
   And by the time I caught my breath,
   You had blossomed into something that I did not expect.

John cantava variando o olhar entre e , que vez ou outra sorria para ele, mas se concentrava mesmo em seguir o baixista com os olhos pelo palco, sorrindo em todas as vezes que ele enchia as bochechas de ar e depois soprava.

And if it takes all night,
   I swear I'll wait,
   For you,
   Forever.

Seus olhos se encontraram por um breve momento e ele sorriu para ela, desviando a atenção para o seu instrumento em seguida.

Sunlight, sunshine,
   All for you my daisy.
   We're getting this before you leave,
   All for you my daisy.

Garrett cantava baixinho o refrão e enquanto observava isso percebeu que não precisava ter medo de se machucar com ele e nem nunca precisara.
   Ele a amava e ela com certeza o amava de volta.
   Garrett parecia conhecê-la melhor do que qualquer um. Ele a adorava e cuidava dela. Nunca seria como Robert fora, ela tinha certeza.
   Talvez até porque algo dentro dela lhe dissesse que aquele garoto que pulava feito uma pipoca no palco era como o seu anjo da guarda, que nunca a deixaria cair.

You're a wreck and you know,
   You've got me wrapped around your finger,
   Like a boy tangled in vines,
   But i've figured you out.

Ela seria muito idiota se deixasse perdê-lo por algo tão ridículo e superficial como reputação.
   Ao seu redor, todos pulavam, dançavam e tentavam cantar junto, mas para ela só o que existia era Garrett, aquela música e ela.

And now we're here,
   We're so confused,
   And I wish that there was some way that I could tell you.

Pensou nas palavras que lhe dissera ainda à pouco, sobre não se importar com o que os outros pensariam e olhou para os lados, concentrando-se rapidamente em todas as quatro amigas ali.
   Talvez elas não aceitassem, talvez não se referisse à eles quando disse aquilo. Assumir o que sentia por Garrett para todos poderia causar uma revira-volta em tudo o que ela conhecia.

Sunlight, sunshine,
   All for you my daisy.
   We're getting this before you leave,
   All for you my daisy.

Garrett parou de pular naquele momento, ficando do lado direito do palco - enquanto estava do lado esquerdo na plateia.
   Ele a olhou um pouco sem graça e ela lhe virou as costas, dando-lhe a impressão de que ela iria embora. Garrett, John e acompanhavam sues movimentos de boca aberta.
   foi a primeira a perceber o que estava acontecendo e sorrir.

All for, all for, all for you my daisy.

dirigiu-se até a pequena escada de dois degraus que separava o palco da plateia e chegou ao palco pelo lado direito. Garrett parou de tocar para encará-la, enquanto John sorria para ela, encorajando-a.

Sunlight, sunshine,
   All for you my daisy.
   We're getting this before you leave,
   All for you my daisy.

Olhou rapidamente para as amigas, pálidas e assustadas (à salvo por , que sorria boba) e caminhou decidida até Garrett.
   Ele a encarava sem nenhuma reação e ela tampouco se movia. Ninguém na plateia ousava falar e sequer se mexer, mas John e os outros garotos continuaram tocando.

Sunlight, sunshine,
   Get me this, get me this

Antes que Garrett pudesse dizer alguma coisa, prensou seus lábios contra os dele, apoiando-se em seus ombros para alcançá-lo. Garrett se ajeitou para recebê-la melhor, enlaçando-a pela cintura.

All for you my Daisy

Dessa vez, quando a música acabou ninguém aplaudiu. A multidão assistia àquilo em silêncio fúnebre.
   Garrett não sabia se sentia mais assustado ou feliz, mas não interrompeu o beijo.
   Então os gritos e aplausos de romperam o silêncio. a imitou e do outro lado outra garota -que só poderia ser Camille, pois Jared sorriu para ela- fez o mesmo.
   Outras pessoas começaram a aplaudir e foi nesse clima que e Garrett se separaram, sem deixar de olhar um para o outro.
   - Eu te amo, pequena. - Ele sussurrou, mas mesmo assim quem estava perto do palco ouviu. sorriu abertamente para ele.
   John olhava para sugestivamente, com uma expressão de cachorro sem dono que a deixou com pena.
   Olhou para os lados, estudando a reação das amigas: e pareciam incomodadas, mas não tinham expressão de nojo, repulsa ou raiva. Elas pareciam... Tristes. sorria alheia para Pat. sorria com isso e criou a coragem que precisava, esticando a mão para que John a segurasse.
   Ele lhe abriu um grande sorriso ao colocar a mão sobre a sua, puxando-lhe para cima. Imitando a amiga, agarrou o namorado ali mesmo, iniciando outra onda de silêncio.
   olhou para Pat e depois para a amiga agarrando o vocalista com uma expressão de eu já sabia. Eles riram um para o outro e de repente surgiu um desconforto.
   Ela queria fazer como as amigas, mas sua relação com Pat ainda era confusa demais. E se ele não quisesse se envolver em toda aquela confusão?
   Lembrou-se da promessa antiga de agarrar o baterista da The Maine no palco e deu de ombros.
   Iria fazer de qualquer jeito.
   Subiu sozinha no palco, sem usar as escadas. Pat levantou-se e saiu de trás da bateria surpreso. De qualquer forma, abriu os braços para receber a garota e a beijou quando teve a chance.
   e não podiam se sentir mais incomodadas, olhando cada uma para um dos guitarristas da banda. tentava disfarçar, mudando a direção de seu olhar para qualquer outro lugar quando Kennedy lhe olhava de volta.
   Quando ele percebeu isso, abaixou o olhar tristemente. Se não fosse tão idiota, talvez ela fizesse como suas amigas. Mas ele tinha que estragar tudo.
   não disfarçava o rumo de seu olhar e chegou até a encontrar o de Jared por um momento, mas quem desviou foi ele. Mirou os três casais se agarrando no palco e suspirou pensando que ela podia estar ali também.
   Maldita covardia que a fizera negar seus sentimentos por aquele garoto até ali.
   John soltou e virou-se para o público uma última vez com um sorriso abobalhado.
   - Bom, vamos ficar por aqui e nos vemos depois no pub! - Dizendo isso puxou pela mão até a saída do palco que dava no camarim, sendo acompanhado pelo restante da banda.
   Todos os que ficaram para trás começaram a comentar loucamente o que acabara de acontecer.
   A verdadeira revolução começara.

Capítulo XXVII

O caminho para a casa de foi silencioso, uma vez que cada garota refletia sobre o que havia acabado de acontecer. Aquela noite certamente ficaria na memória de todas elas. Algumas por bons motivos, outras nem tanto.
   sentara-se no banco da frente ao lado de , e nervosa, procurava alguma estação de radio que tocasse uma música boa, anormalmente irritada com aquelas de batidas eletrônicas que ela costumava adorar.
   Por fim deixou em uma radio onde uma música do Queen tocava e voltou a olhar através do vidro da janela.
   dirigia distraidamente, triste por não ter ido para a casa de Kennedy, como fora sugerido. Agora tinha certeza de que e não se oporiam, mas não quis forçar as outras duas.
   Estacionou na frente da casa de , desligando o carro e o rádio.
   As amigas todas saíram de dentro do veículo e ela logo depois, acionando o alarme.
   Os pais de já dormiam por isso as cinco foram o mais silenciosamente possível para o quarto da garota.
   - Cara, to exausta!- se jogou na grande cama de casal da amiga, fechando os olhos com força.
   - Eu quero dormir pra sempre! - jogou os braços para cima, caindo ao lado de na cama.
   - Ok, nós estamos mesmo fingindo que nada aconteceu? - olhava para as outras com perplexidade. suspirou.
   - Ah ...
   - E aquela história de que ficar com os losers era suicídio social e tudo o mais? - Sentiu a voz falhar em nervosismo. levantou-se para depositar uma mão em seu ombro.
   - Eu sei que nós dissemos isso, mas as coisas mudaram desde aquele tempo. E também, não é como se eu tivesse planejado me apaixonar pelo John.
   - Apaixonar? Ah não! - bateu a mão na testa, sentando-se na beirada da cama.
   - Você devia saber como eles são. Já pegou o Brock e tudo o mais. E nem vem me dizer que não foi bom. - encarou a amiga, que por sua vez engoliu em seco.
   - Todas nós temos culpa, ok? Eu não sei qual é a da com o Monaco, mas todas nós sabemos que alguma coisa tem. - fitou , vendo-a fazer uma careta de dor e então desejou ter sido um pouco mais delicada em sua fala.
   - O Brock é um imbecil. - deu de ombros, fingindo indiferença.
   - Tem uma justificativa pra isso pelo menos? - se posicionou ao lado da amiga. era a única que permanecia deitada, de bruços e com os pés apoiados na cabeceira da cama. - E não vale dizer que é porque ele é um loser, porque depois de hoje esse apelido idiota devia deixar de existir.
   - É, a gente sabe que ele espalhou pra escola que vocês ficaram na festa da Lana, mas não é motivo para odiá-lo até hoje. - Disse enquanto balançava os pés, fazendo a cama balançar levemente junto.
   - Eu nem sei se foi ele quem começou o boato. - olhou ao redor, decidindo puxar a cadeira do computador para se sentar em frente às amigas na cama. - Ouvi dizer que foi a própria Lana quem fez a fofoca.
   - A Lana? - deixou-se surpreender com a informação, mesmo que aquele fosse o menor dos problemas em relação à Kennedy que ela possuía.
   - É, ela viu vocês dois juntos e resolveu contar pra todo o mundo.
   - Que vadia! Sabia que aquele jeitinho dela para com a gente era pura falsidade. - fechou a cara por um momento.
   - Isso não muda muita coisa. - suspirou, decidida a não esconder-se mais das amigas, que viraram-se para ela com curiosidade.
   - Qual a sua birra com ele então? É mesmo só por causa do status dele na escola?
   - Antes fosse, . - Ela sorriu sem humor para a amiga, ajeitando-se melhor para contar o que tinha para contar. Passara tanto tempo guardando seu caso com Kennedy em segredo que era até difícil por para fora agora. - Aquela vez na casa da Lana não foi a única que nós ficamos. - Assumiu, prendendo a respiração ao mesmo tempo em que mordia o lábio inferior.
   - Ahmeudeus eu sabia! Rolava tensão sexual demais pra ter sido só uma vez! - levantou-se também, ficando sentada enquanto batia uma mão na outra, em êxtase.
   - Menos, . - rolou os olhos para a amiga, rindo em seguida.
   - Vocês estavam tendo um caso então? - perguntou totalmente presa na história.
   - Não exatamente. É que o Brock é realmente irritante e convencido, e ainda um galinha.
   - Isso vocês tem em comum. - interrompeu, recebendo olhares de repreensão de todas as amigas. Calou-se.
   - Enfim, não dava pra levar ele a sério. E ele também inventou que tudo era um jogo, aparecia do nada me deixando maluca e depois sumia.
   - Hm, que sedutor. - brincou. foi a única que riu, pois as outras queriam ouvir a história com o máximo de atenção.
   - E então eu me apaixonei. Eu me apaixonei por aquele idiota do Brock, dá pra acreditar? - elevou um pouco a voz, sentindo-se frustrada por dizer aquilo em voz alta pela primeira vez.
   - Pior que dá. - foi para perto da amiga, dando tapinhas de leve em seu ombro.
   - Meu deus, a festa da Annabelle. - disse meio baixo, fazendo as outras a olharem em função de seu tom sério. De repente todas entenderam, e olharam piedosas para .
   - Filho da puta.
   - Cretino.
   - Galinha.
   - Na boa, não dá pra acreditar que ele tenha seja tão idiota! - falou um pouco mais alto, sendo advertida pelo olhar de . Elas acabariam acordando seus pais daquela forma.
   - Eu não acho que ele tenha feito por mal. - disse séria, sendo cruelmente encarada pelas outras. - Não, é sério. No sábado passado, quando nós ficamos na casa dele, ele tava muito mal. Eu meio que conversei com ele, disse que ele tinha feito merda. É claro que eu não sabia que a merda era tão grande, mas mesmo assim ele parecia arrependido.
   - Pensa que ele era virgem e só fez com a Pâmela porque não queria decepcionar você. - tentou descontrair, mas só fez a vontade de chorar de aumentar.
   - Valeu, ! - a repreendeu quando enterrou o rosto nas mãos, prestes a despencar em lágrimas.
   - Ele disse que me ama. - Disse, após cerca de dois minutos em que todas ficaram em um silêncio fúnebre.
   - O quê? - As quatro perguntaram juntas.
   - Naquele quartinho do estupro, alguém me mandou pra lá com ele e ele me pediu desculpas e disse que me ama.
   - E o que você fez? Meu deus, não dá pra acreditar no Brock falando essas coisas. - ficou tentando imaginar a cena, olhando para com cara de boba.
   - Eu disse que não o amava e fugi. - Confessou, sentindo um nó se formar em sua garganta.
   - Como assim? - perguntou inconformada.
   - Não ia dar certo! A gente sempre acaba se machucando. Quando não é ele quem faz merda, sou eu! Eu só não posso mais continuar me machucando assim.
   - Mas se você desse uma chance pra ele, as coisas poderiam dar certo! - não conseguiu controlar o tom defensivo em sua voz, que foi facilmente percebido pelas amigas.
   - E a sua história, qual é mocinha? - a encarou, acusadora. engoliu em seco.
   - É, você não deu uma chance pro Jared por acaso? - perguntou, maldosa, levemente irritada com o tom que a amiga usara com ela.
   - Eu... Eu conheci o Jared antes de vir pra cá.
   - O quê? - As outras deixaram os queixos cair, pegas totalmente de surpresa.
   - É, ele é amigo do meu irmão e dos amigos dele, e nós nos conhecemos nas férias.
   - E vocês ficaram juntos, se apaixonaram e tudo o mais. - supôs.
   - Eu o amava. - Disse simplesmente, totalmente nervosa por assumir aquilo. - Ele fez parte da minha decisão de vir morar aqui com meu pai.
   - Nossa, então era sério mesmo? Vocês dois já... - começou, sendo interrompida por uma mortalmente vermelha.
   - Cala a boca, ! - Riu nervosa.
   - Isso é um sim. - Presumiu. - Cara, por que vocês não estão juntos agora, com filhinhos bochechudos e tudo o mais?
   - Não é tão simples, , eu sempre dei muita importância para status.
   - Ah não. - tinha os pensamentos longe, no primeiro dia de aula daquele ano. - Você perguntou quem era o Jared pra gente.
   - E nós dissemos todas aquelas merdas sobre ele e os losers...
   - Ah não, nós acabamos com o romance de vocês! - sentiu-se extremamente triste e culpada de repente, assim como as outras amigas.
   - Nossa, , não dá pra acreditar que você nos deu ouvidos. Agora ele tá com aquela Camille e...
   - Eu sei, , não precisa me lembrar. - Disse seca.
   - Você ainda gosta dele, né? - perguntou delicadamente, percebendo que a amiga não estava em seu melhor humor.
   - Muito. - Sentiu uma lágrima cair, junto com uma enorme carência que a fez buscar um espaço para si na cama junto de suas amigas.
   a acolheu em seus braços, fazendo carinho em seus cabelos.
   - Então por que você não diz isso pra ele? - perguntou um pouco eufórica. Ainda não havia dito que estava prestes a partir, mas queria que todas suas amigas ficassem bem quando ela se fosse.
   - Ele não quer mais saber. - Se encolheu ainda mais, quase ficando em posição fetal. - Ele escolheu a Camille, eu não sei mais o que eu posso fazer. É tarde demais pra mim. Mas você ainda tem chance, , não acaba com isso por nada. - Olhou esperançosa para a amiga, como se vê-la ficar bem com Kennedy pudesse recompensar a falta que sentia de Jared.
   - Qual é, o Jared ficou todo preocupado quando nós ligamos pra eles para pedir ajuda naquele dia. Eu duvido muito que ele não goste mais de você. - tentou consolar a amiga, sentindo-se mal por ela.
   - É, e não vamos nos esquecer que estamos falando de e não de qualquer uma. Além do mais, a Camille não chega nem aos seus pés, amiga, me desculpa, mas o Jared seria muito burro se preferisse ela a você. - A frase de tinha a função de alegrar um pouco a amiga, mas acabou fazendo-a chorar ainda mais.
   - Ai, , melhor você ficar quieta porque não está ajudando em nada hoje. - riu para a amiga. - Aliás, sua vez de nos explicar algumas coisinhas.
   - Ah. - abriu um enorme sorriso ao pensar em Garrett e sabia que seus olhos brilhavam. Todas a olhavam, até , que tentava controlar o choro para ouvi-la. - Começou mesmo no dia da festa da Annabelle, mas pra mim parece muito mais tempo porque...
   - Dude, olha essa voz, ela tá apaixonada. - rolou os olhos, mesmo que quisesse rir pela felicidade da amiga.
   - O Garrett é tão fofo e especial. Eu não sei explicar, mas ele é diferente dos outros garotos. Ele é...
   - Gay. - brincou, sendo fuzilada por .
   - Posso te garantir que ele não tem nada de gay. - Levantou uma sobrancelha, sugestiva.
   - , sua suja! Não acredito que vocês já dormiram juntos!
   - Eu perco o controle! - riu, seguida das amigas. - Juro, a gente começa a se pegar e eu paro de responder por mim. Ele faz eu me sentir uma deusa.
   - Vocês tão namorando pelo menos? - perguntou, pensando em John.
   - Não oficialmente. Ele é meio lerdinho sabe?
   - Nisso o John também foi.
   - Espera, você e o O'Callaghan namoram? - gritou histérica.
   - Sim, há algum tempo. - sentiu-se corar, dividida entre vergonha e felicidade de poder finalmente contar para as amigas.
   - Awn, que lindos. - sorriu toda boba, assim como . também sorria, mesmo ainda se sentindo triste. mantinha a boca aberta, achando tudo uma loucura sem tamanho.
   - Há quanto tempo vocês estão juntos? - perguntou, querendo saber se fazia mais tempo do que ela suspeitava ou não.
   - Desde que tivemos que fazer aquele trabalho. - Suspirou, lembrando-se em detalhes do dia em que tudo começou. - Mas começamos a namorar bem depois disso, quando o John me levou pra casa depois do ensaio, lembra, ?
   - Eu sempre soube que tinha alguma coisa! - apontou um dedo para , sorrindo por sua própria perspicácia.
   - Aliás, quando foi que você e o Pat...
   - Hoje. - Ela disse, ficando vermelha.
   - Hoje? - quase caiu para trás. - Como assim hoje?
   - Bom, nós éramos só amigos, mas eu meio que gostava dele há um tempo. E hoje ele finalmente tomou uma atitude.
   - Meu primo tomando atitude? - sorriu, tentando imaginar. - Awn vocês são tão lindos juntos! Eu tava torcendo muito por vocês dois.
   - Obrigada. - Ela sorriu levemente, toda vermelha.
   - Ok, ok, pra mim chega de momentos gays, quero dormir. - levantou-se, jogando as mãos para cima.
   - Aonde você vai? - perguntou, assistindo os movimentos da amiga.
   - Escovar os dentes e tirar essa roupa infernal. Sério, vamos dormir porque quero ir pro pub amanhã.
   - Claro, The Maine vai tocar lá né. - disse sugestiva.
   - É, ouvi dizer que eles têm uns guitarristas super gostosos. - entrou na brincadeira, sendo fuzilada por e . - Tá bom, vamos dormir. - Saiu correndo na frente de , chegando ao banheiro antes da outra.
   Naquela noite, todas as cinco demoraram a dormir, cada uma com certo loser em sua mente.

pisava duramente no chão, totalmente contrariada. Havia dito aos pais que passaria o dia inteiro na casa de e de lá já iria para o pub, mas exatamente às 10h30 da manhã daquele sábado, ela fora acordada por uma ligação insistente de seu pai, que a obrigara a voltar para casa.
   Emburrada e de mau-humor, abriu a porta da frente de sua casa, passando pelo hall e depois pela sala. Sorriu ao ver o sofá com uma capa vermelha, que lhe lembrava de suas aventuras com John.
   John.
   Podia fazer apenas algumas horas desde que eles se despediram para cada um ir para a casa de seus respectivos amigos, mas ela já sentia falta do garoto.
   Não conseguia pensar em nada que a fizesse tão feliz quanto o fato de estar com ele.
   - ? - Ouviu a voz grave e séria de seu pai vir da cozinha, e seguiu o som até lá.
   - Bom dia. - Disse de mau-humor, encontrando o pai e a mãe, ambos de pé e com expressões nada acolhedoras nos rostos.
   - Precisamos conversar, filha.
   - Ah não, seja lá o que tenham dito pra vocês, é mentira. - Ela deixou os ombros cair, totalmente contrariada com a ideia de ter que ouvir sermões àquela hora da manhã, num sábado.
   - Então você não está namorando aquele garoto problemático da sua escola? - A mãe de perguntou esperançosa, enquanto o pai não moveu sequer um músculo.
   - O quê? - Ela não conseguia acreditar no que ouvira. Garoto problemático? Ela não estava se referindo a John, estava?
   - John O'Callaghan, uma das piores figuras daquele colégio. Eu não pago caro numa escola para ter minha filha metida com um marginalzinho qualquer.
   - Hey, cala a boca! - Não conseguiu impedir que as palavras saíssem de sua boca, mordendo o lábio inferior em seguida. A mãe lhe olhava horrorizada, enquanto o pai queimava de raiva.
   - Está vendo, isso que dá andar com esse tipo!
   - Não, querido, ela só se excedeu um pouco, mas não quis dizer isso.
   - O John não é nenhum marginal. - Disse grave, dando a entender que realmente quisera dizer o que dissera. A mãe engoliu em seco.
   - É só uma fase, querido. - Disse, olhando do marido para a filha.
   - Eu não quero que você o veja mais.
   - O quê? - gritou, sentindo-se prestes a chorar. - Você não tá falando sério.
   - Estou sim. Ele vai mal na escola, briga com todo mundo, tem péssima reputação e ainda toca numa banda! Francamente, filha, esperava mais de você. - Enquanto seu pai falava, a garota sentia seu mundo caindo. Não podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo.
   - Mas eu o amo! - Não mais controlava o volume de sua voz, repreendendo as lágrimas que insistiam em tentar cair. Seu pai lhe encarou como se não desse a mínima e continuou:
   - Ele não é bom para você! Consegue imaginar o que as pessoas vão falar? Você realmente não pensa em nada né? Se deixa levar por uma paixãozinha de colégio.
   - Mãe! - Pediu chorosa, numa tentativa desesperada de obter conforto.
   - Eu sei que garotos assim podem ser sedutores, mas você tem que ouvir seu pai. Logo esse garoto vai se interessar por outra menina e você vai ver que não vai ter valido a pena ter arruinado a sua reputação por ele.
   - Isso é ridículo. - ria nervosa. - Vocês nem ao menos o conhecem! Eu não vou ficar aqui ouvindo isso, licença...
   - Não ouse atravessar a porta. - Seu pai disse duramente assim que ela virou-se para deixar a cozinha.
   - Eu marquei com as meninas de sair!
   - Você não vai ver seu namoradinho tocar, sinto muito. - Ficou parada, olhando para seus pais de boca aberta. Tentou a sua mãe de novo, esperando que um fio de consciência tivesse entrado em sua cabeça. Em vão.
   - Queremos que fique em casa hoje. - Ela disse, tremendo um pouco na voz. sabia que ela estava sendo controlada pelo pai e que não havia jeito de argumentar.
   Aquilo era loucura.
   - Eu odeio vocês. - Disse. Sua mãe abriu a boca escandalizada, mas o pai permaneceu inabalável. - São exatamente iguais aos idiotas do colégio. - Depois de dizer isso, deixou a cozinha, subindo correndo para seu quarto.
   As lágrimas já não se controlavam mais enquanto pulava de dois em dois degraus para o andar de cima.
   - , o que... - Passou rapidamente por sua irmã pequena, que pareceu se preocupar com o estado da outra, mas simplesmente não tinha forças para conversar com a pequena.
   Entrou em seu quarto e bateu a porta com força, jogando-se sobre sua cama e enterrando a cabeça no travesseiro.
   Chorou toda a raiva que sentia e quando conseguiu se acalmar um pouco, decidiu ligar para as amigas, em busca de algum amparo.
   Justo agora que as coisas estavam começando a dar certo, aquilo não podia acontecer.

O show naquela noite fora tenso para os garotos e também para as meninas.
   John chegara ao ponto de não querer cantar, mas Kennedy o convencera de que ele precisava fazer aquilo.
   Assim que o show acabou, correu para o camarim, se jogando nos braços de Garrett.
   Mesmo que o problema fosse com e John, os dois não podiam evitar sentirem-se abalados, ao pensar que aquilo poderia estar acontecendo com eles.
   Garrett a abraçou com força e quando a soltou, colocou a mão sobre a dela, virando-se para os amigos.
   - Sinto muito, John. - o olhou piedosa, mordendo o lábio.
   - Obrigado. - Ele suspirou.
   - A não veio? - Pat ficou olhando esperançoso para a porta.
   - Não, ela foi ver a . - Respondeu triste, o peso fúnebre no ambiente atingindo a todos.
   - Não acredito que meus tios podem ser tão idiotas. Tipo o John é meu amigo. Eles devem me achar um lixo também. - Pat deixou os ombros caírem. sentiu-se mal por ele; aquilo nem passara por sua cabeça, Pat devia estar se sentindo tão mal quanto e John.
   - Nós vamos pra casa do Ken, quer ir também? - John convidou , querendo ir embora daquele lugar logo. Sentia-se sufocado e precisava ver . Só não sabia como o faria.
   - Claro. - Ponderou. - Eu não iria atrapalhar a noite de garotos de vocês? - Kennedy riu abertamente.
   - Querida, todos eles são gays, você não atrapalharia nada. É claro que você vai passar a noite fazendo as unhas de quatro caras, mas se você não tiver problemas com isso, pode vir.
   - Ok. - Sorriu para os garotos, apertando a mão de Garrett com a sua.
   Saíram do pub pelos fundos, para facilitar tudo e não precisarem passar por todas as pessoas que ainda estavam no local, curtindo o DJ novamente, e foram de carro até a casa de Kennedy.
   Passaram a noite ouvindo música, tocando, falando coisas sem sentido e sorrindo.
   sentia-se feliz por ser aceita ali com eles. Há alguns meses jamais pensaria que aquilo fosse possível.
   Se alguém lhe dissesse que ela passaria seu sábado à noite na casa de um loser, ela certamente riria, mas nunca acreditaria.
   O fato era que por mais motivos que os garotos tivessem para maltratá-la, eles a tratavam como uma igual, a fazendo sentir-se como parte daquilo.
   E ela adorava tudo, obviamente.
   - Duvido que você seja capaz de virar essa latinha inteira de uma vez. - Ela desafiou Kennedy, que ergueu uma sobrancelha para ela.
   - Quer apostar?
   - Se você não conseguir vai ter que sair pelado na porta da sua casa!
   - E se você perder? - Usou um tom malicioso que fez Garrett se mover desconfortável.
   - Se eu perder eu começo a andar com vocês na escola. - Sorriu para Garrett, que a olhou com uma sobrancelha arqueada.
   - Whoa, gostei disso. - Disse Kennedy, abrindo uma latinha. Ele se preparou e respirou fundo, virando a lata de cerveja de uma vez. Devia estar na metade quando se engasgou e acabou cuspindo todo o liquido em Pat, que deu um grito com nojo.
   - Vai tomar no cu! - Gritou, enquanto os outros morriam de rir.
   - Pra rua. - sorriu docemente para Kennedy, que começou a se despir sem um pingo de pudor.
   - Heey, termina lá fora! - Garrett reclamou, tapando os olhos de com a mão.
   - Não, eu quero ver! - A garota reclamou rindo.
   - Tá vendo, essa é uma garota esperta. - O outro piscou para ela.
   - Silêncio gente, meu celular tá tocando! - Jared gritou para poder ser ouvido, indo desligar o som para poder ouvir a pessoa do outro lado da linha.
   - Alô? - Atendeu, fazendo careta para os amigos que continuavam a fazer barulho. Reconheceu a voz do outro lado e não pode deixar de sorrir. Ao se convencer de que não conseguiria conversar com o outro em paz na sala, foi para a cozinha.
   - Hm, quem será? - Pat fez tom de suspense, fazendo todos se calarem para tentar ouvir Jared.
   Até Kennedy parou de se despir para esperar Jared voltar.
   Alguns minutos depois, Jared volta com um sorriso singelo, mas alegre no rosto, fazendo ar de suspense.
   - Quem era? - Pat e John perguntaram juntos.
   - O Alex. - Deu de ombros.
   - O Gaskarth? Como assim ele liga pra você e não pede pra falar com a gente? - Garrett se fingiu de magoado. olhava de um para outro, tentando entender de quem eles falavam.
   - Ele estava com pressa.
   - E o que ele queria? - Pat incentivou curioso.
   - Ele vem passar o natal com a gente.

Capítulo XXVIII

suspirou deitada no sofá, com preguiça de sair para o que fosse. Em seu rosto, um singelo sorriso permanecia como um espectro da noite anterior.
   Quem poderia imaginar que passar a noite com os losers pudesse ser tão divertido?
   E depois, o restante da madrugada sozinha com Garrett completara o que a garota classificava como uma noite perfeita.
   Espreguiçando-se, resolveu ir até o jardim da frente de casa para absorver um pouco de ar fresco. Somente uma cerca branca separava a sua casa da casa de Garrett.
   Sentiu um leve arrepio ao lembrar-se do garoto e saiu da casa, alongando-se demoradamente enquanto respirava profundamente o cheiro da natureza.
   - Bom dia, querida. - Ouviu uma voz familiar e doce e abriu os olhos, seguindo a direção do som até a casa ao lado, onde uma sorridente Sra. Nickelsen regava suas plantas.
   - Bom dia, Molly. - Sorriu de volta, caminhando para perto da mais velha.
   - Como está? - Perguntou sorrindo, com aquela expressão de quem sabe de alguma coisa.
   - Bem, e a Senhora?
   - Oh, senhora não. - Deu um tapinha no ar. - Estou bem, querida.
   - Que bom. - olhou para a casa vizinha, como se pretendesse ver Garrett por trás das paredes de concreto e então se pegou perguntando por ele: - Garrett tá bem? - O sorriso de Molly aumentou, como se suas suspeitas houvessem se confirmado e sentiu-se corar.
   - Ele tá dormindo. Parece que abusou com os garotos ontem à noite. Tenho tanto orgulho dos cinco, cantando para os amigos da escola... - Os olhos de Molly brilhavam tanto que achou melhor não contrariá-la quanto ao uso do termo amizade para definir a relação da The Maine com o restante da Tempe High School.
   - Eles são talentosos.
   - Eu nunca fui ouvi-los, mas tenho certeza que sim. Meu Garrett deve arrancar suspiros das garotas, não?
   - É... - Sentiu-se corar novamente, sem saber o que responder. O que Molly pretendia com aquela conversa afinal?
   - Tudo bem. - Balançou a cabeça, percebendo o desconforto da garota. - Fico feliz que vocês dois tenham voltado a andar juntos. Garrett pode não dizer nada, mas eu sei que ele sentia a sua falta.
   - Ah... É? - tentava não parecer confusa diante das palavras de Molly. Como assim voltar a andar juntos e sentia a sua falta?
   - Sim. Eu sempre achei que vocês fossem ficar juntos, mas aí você sumiu. - Ela tinha o olhar distante, encarando a porta de sua própria casa. - Vocês estão ficando ou alguma coisa assim? - Perguntou esperançosa.
   - Estamos. - respondeu aérea, tentando entender aquilo tudo. - Molly, tenho que ir agora, me desculpa.
   - Ok. Passa em casa mais tarde, o Gary já estará acordado até lá.
   - Certo. - Assentiu, quase correndo para dentro de casa.
   Assim que trancou a porta, após sorrir mais uma vez para a senhora Nickelsen, correu até seu quarto, sentindo-se completamente desnorteada; as coisas que Molly lhe dissera repetiam-se em sua mente, misturando-se à montes e montes de lembranças embaçadas de sua infância.
   Ela mal conseguia ouvir seus pensamentos naquela confusão interna. Sem saber o que fazer, tirou uma caixa velha e empoeirada debaixo de sua cama, sentando na mesma para então destampar a caixa.
   Enquanto retirava o pó de cima da caixa cheia de fotos antigas, que há muito não eram vistas, descolando-as uma das outras, tentava respirar fundo para desembaralhar sua mente.
   As imagens no topo eram de seu aniversário de catorze anos, sendo que na primeira de todas, ela posava ao lado de e . Elas estavam na oitava série quando tiraram aquela foto.
   Sorriu, vendo as caretas que todas faziam para a câmera e gastou um minuto lembrando-se daquele dia.
   Várias fotos depois, imagens de outro aniversário, dessa vez o de treze anos, surgiram e não pode deixar de rir ao ver-se com os cabelos bagunçados, maquiagem mal feita, espinhas, jeans frouxo e camiseta dos caça-fantasmas.
   - Meu deus. - Riu. Mal se lembrava daquela sua fase obscura. Conhecera e em algum momento daquele ano, quando começou a se arrumar melhor, era só disso que recordava. veio depois, quase no fim da oitava série e elas não se separaram desde então.
   Olhava as fotos daquele dia pela segunda vez, quando outra criança, de cabelos castanhos avermelhados e cheia de espinhas lhe chamou a atenção. Sentiu o coração pular em seu peito, espalhando aquelas fotos pela cama.
   Garrett aparecia em quase todas as fotos - o único, fora ela mesma -, sempre perto dela e a olhando. Às vezes disfarçadamente, outras vezes não. Seus olhinhos estavam sempre brilhantes e suas bochechas rosadas.
   Agora ansiosa e com o coração batendo rápido, tirou outras fotos da caixa, dessa vez de uma festa sem noção que seus pais deram.
   Vários amigos dos dois preenchiam as imagens, tornando-as desinteressantes, até encontrar uma de si mesma ao lado do mesmo garoto. Ambos estavam sentados no sofá, com expressões de tédio e nem ao menos se olhavam.
   Gelou.
   Ela se lembrava daquilo. Devia ter doze anos na época, mas lembrava-se do que poderia ter sido a experiência mais ousada que tivera nessa idade, quando as duas únicas crianças, totalmente cheias das conversas aleatórias dos adultos, fugiram para o quarto da garota e lá permaneceram por horas.
   A lembrança era meio turva, mas conseguia recordar que contara a história de toda a sua vida para aquele garoto que engraçado, sem nem ter certeza se o conhecia antes ou não. Na verdade, nem se lembrava de saber o seu nome.
   Contara seus sonhos e medos, seus anseios e paixões, contara as coisas que gostava de fazer e as que não gostava, os lugares que gostara de conhecer e os que ainda não conhecia, mas gostaria. Por fim, encostou seus lábios nos dele por um tempo que seu jovem coração achou longo demais e depois saiu correndo, escondendo-se na dispensa, toda envergonhada, onde permaneceu até o fim da festa.
   Agora sabia que aquele garoto era Garrett.
   Não conseguia acreditar que fora tão idiota a ponto de não ter feito essa conexão antes.
   Continuou olhando as fotos, essa remessa datada de dez anos antes, quando ela tinha apenas seis e estava parada em frente à sua casa, montada em uma bicicleta azul, ao lado de um garotinho de cabelos cortados no estilo tigelinha, que coçava os cabelos como se estivesse envergonhado, enquanto a outra mão segurava o guidão de uma bicicleta preta.
   Era Garrett de novo.
   Balançando a cabeça sem conseguir acreditar que fora capaz de se esquecer de tudo aquilo, jogou todas as fotografias sobre a cama e correu para a cozinha, onde sabia que encontraria sua mãe.
   A mais velha virou-se para a filha assim que a percebeu chegando, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, já enterrara o rosto em seu pescoço. Abraçou a garota, tentando acalmá-la por alguns minutos, afastando-a de si só o suficiente para que pudesse ver o seu rosto, o qual enxugou as lágrimas com a própria mão, fazendo sons com a boca para acalmar a mais nova.
   - Por que eu sou tão burra? - Perguntou, com os olhos cheios de lágrimas.
   - Querida, você não é burra. Só um pouquinho distraída, mas eu te amo por isso. - A mãe de a guiou até a pequena mesa que ficava na cozinha, sentando-a numa das cadeiras enquanto arrastava outra para ficar mais perto da filha. Pegou a mão da menor e a envolveu com as suas, incentivando a garota a se abrir. - O que aconteceu?
   - Como eu posso me esquecer das pessoas? Que tipo de monstro faz isso?
   - Você brigou com suas amigas? - Suspirou, pensando numa hipótese para o desespero da filha: - Não esqueceu o aniversário da de novo, esqueceu?
   - Não! - Reclamou. - O Garrett, mãe! Nós andávamos juntos quando pequenos?
   - Claro. - A mãe a olhava como se não entendesse mais nada. - Vocês viviam juntos até terem mais ou menos oito anos, quando ele viajou para viver com a avó por um tempo. Ele voltou uns três anos depois, até fizemos uma festinha para comemorar, mas vocês não voltaram a andar juntos, apesar de eu sempre convidá-lo para as comemorações aqui em casa. Então você começou a andar com as meninas e ele parou de aparecer. Até achei estranho, mas achei melhor não perguntar, porque você vivia de mau humor naquela época.
   não conseguia falar nada. Abriu e fechou a boca algumas vezes, mas nenhuma palavra fazia questão de sair.
   De repente, tudo fazia sentido.
   Ocorreu-lhe uma lembrança aleatória de andar de bicicleta ao lado daquele garoto da foto que implicava com ela por sua bicicleta ser de uma cor de menino, até que ela ficasse irritada o bastante para perder o controle da bicicleta e cair no chão com o joelho ralado e sangrando. O garoto parou ao seu lado, todo preocupado, tirando um vidrinho de álcool e um band-aid da cestinha de sua bicicleta para limpar o ferimento, cuidando dela com a maior delicadeza.
   Como pode ser tão ingrata?
   - , tá tudo bem? - A mãe perguntou preocupada, após ouvir a filha soluçar.
   - Sim, eu só... - Sentindo-se tremer quando firmou os dois pés no chão, levantou-se determinada, engolindo o choro que queria sair. - Preciso fazer uma coisa.

John se virava na cama, sem conseguir dormir, mas sem vontade de se levantar. Já voltara da casa de Kennedy, e, sozinho, era obrigado a lembrar dos últimos acontecimentos em sua relação com . Tentara ligar para a garota no meio da madrugada, mas essa não o atendera.
   Provavelmente tivera seu telefone confiscado por seus pais.
   Isso era tão injusto, eles nem o conheciam! Não tinham o direito de separar duas pessoas que se amavam por meros boatos.
   John era melhor do que aquilo. Era melhor do que o que os pais de haviam dito sobre ele e ele provaria aquilo.
   Isso, era exatamente isso o que ele faria.
   Obstinado, levantou-se, lavou o rosto e colocou uma roupa que fosse mais apresentável do que aquela que ele passara a noite, que ainda estava em seu corpo, e seguiu o caminho conhecido até a casa de .
   Conforme se aproximava de seu destino, a ansiedade e o nervosismo aumentavam, de forma que suas mãos suavam e se fechavam em punho involuntariamente.
   Chegou a pensar em desistir, em voltar para casa e tentar conversar com na escola, mas logo afastou essas ideias derrotistas de sua mente e continuou firme.
   Alguns minutos depois, John chegou à casa da namorada e passou a encarar a porta, apreensivo quanto a tocar a campainha ou não. Quando finalmente decidiu por fazê-lo e levantou a mão para tocar o botão, a porta se abriu sozinha, revelando um homem de pouco mais de quarenta anos, que encarava o garoto com uma expressão pouco convidativa. Ele tinha traços parecidos com os de , mas nem isso fez com que seu rosto se tornasse menos assustador aos olhos de John.
   A vontade de sair correndo no mesmo instante surgiu, mas balançando a cabeça, o garoto tomou a coragem que precisava para se pronunciar.
   - Boa tarde, senhor. - Disse, torcendo para sua voz não falhar. Esticou a mão para o mais velho, que só o olhou com desprezo antes de rejeitar o cumprimento.
   - O que faz aqui? - Perguntou grosseiro.
   - Sou John O'Callaghan. Sei que nós não fomos corretamente apresentados então eu pensei que...
   - Sei bem quem você é. - Analisou o garoto de cima a baixo, franzindo o cenho para as roupas largadas do mesmo. - Achei que você soubesse que eu não quero você perto da minha filha.
   - Eu... Eu pensei que pudéssemos conversar sobre isso e...
   - Não preciso conversar sobre nada. Não criei minha filha por todo esse tempo para que ela acabe grávida e abandonada por um vagabundo qualquer.
   - Eu jamais faria algo assim com ela. - John sentia o sangue ferver por dentro, sem conseguir acreditar nas coisas que ouvia. No entanto, sabia que precisava permanecer calmo, ou só complicaria ainda mais as coisas.
   - Claro que não. - O pai de rolou os olhos, rindo com deboche.
   - Eu amo sua filha! E eu quero cuidar dela, se o senhor permitir.
   - É claro que não permito, pensa que eu não sei como são vocês, carinhas de bandas? - O mais velho aumentou a voz, assustando até mesmo John. Aquilo estava fugindo do controle.
   - Querido!
   - Pai, quem é?
   - ! - John não conseguiu controlar a ansiedade ao ver a garota, vestida com um pijama branco de ursinho, que surgia no hall junto com uma mulher mais velha, mas bastante parecida com a menor.
   sentiu o coração apertar ao ver John parado do lado de fora da casa, como se fosse um criminoso que não tinha licença para entrar, sendo totalmente intimidado pela figura imponente de seu pai. Toda a vontade de chorar que ela oprimira durante toda a manhã voltou e de repente a garota se viu desesperada.
   O que ele estava fazendo ali? Só iria piorar as coisas.
   - , volte para dentro.
   - Não, pai! Eu quero... Me deixa falar com ele, por favor. - Pediu, pendurando-se no braço do mais velho. Ele bloqueava a porta, não deixando espaço para que ela saísse.
   - Não. É melhor você voltar para o seu quarto. E você - Dirigiu-se a John, enquanto imobilizava a filha com os braços, para que ela não saísse. - Vá embora antes que eu chame a polícia.
   - Não! - gritou, tentando esquivar-se de seu pai, que acabou por se irritar e empurrá-la com certa força para dentro. Sua mãe a segurou, tão assustada quanto a mesma.
   - Não faça isso com ela! - John não conseguiu se conter, levantando a voz para o outro.
   - Quem você pensa que é para gritar comigo, garoto?
   - John, não! - pediu, segurando o punho direito que machucara com a mão esquerda. A mãe lhe abraçava de lado, sem saber o que fazer. John a olhou incrédulo. - Por favor, não piora as coisas.
   - Mas...
   - Vá embora, garoto. E não volte mais. Não quero mais vê-lo aqui. - Apesar do tom do homem em sua frente ser bastante intimidador, John ainda demorou um pouco para aceitar que deveria mesmo partir, olhando confuso para . Em seus olhos podia ver suplica. Sim, ela também queria que ele partisse. Ele sabia que ela só não queria mais confusão, mas doeu do mesmo jeito.
   Derrotado, olhou mais uma vez nos olhos de , que nada disse, mas sustentou o olhar no dele, antes de abaixar os ombros e dar as costas para tudo aquilo, fazendo o caminho contrário ao que fizera para chegar ali.
   - John! - gritou, sem conseguir suportar assistir àquela cena sem dizer nada. Mas ele já estava longe demais para escutá-la. Não conseguiu mais segurar as lágrimas e chorou no ombro da mãe, que acariciava-lhe os cabelos, enquanto encarava o marido. Sr. suspirou, fechando a porta da casa. Tentou se aproximar da filha para se desculpar, mas esta se afastou, não suportando ser tocada por ele naquele momento. Não conseguia acreditar que seu pai pudesse estar agindo daquela forma.
   - ...
   - Não! Eu te odeio, nunca mais encoste em mim! - Dizendo isso, correu para longe dos mais velhos, em direção à sua fortaleza particular. Trancou-se lá, desejando não ter que sair dali nunca mais.
   Desesperada, correu para a janela, num pensamento agitado de ir atrás de John, mas desistiu ao ver que seria impossível que ela conseguisse pular daquela altura sem se machucar.
   Em prantos, jogou-se em sua cama e escondeu a cabeça sob o travesseiro, gritando toda sua raiva.

Nickelsen’s POV ~Mode ON~

- Gary! - Minha mãe chamava, enquanto batia insistentemente na porta do meu quarto.
   - Que é? - Perguntei ainda deitado, sem vontade sequer de abrir os olhos.
   - Vou sair por uma hora, preciso comprar algumas coisas. Melhor ficar apresentável porque terá visitas daqui a pouco.
   - Que visitas? - Gritei de volta, mas não obtive respostas. Grande. Minha mãe e sua mania de fazer mistério de tudo.
   Alguns minutos depois, ouvi o som da porta da frente sendo fechada e comemorei internamente o fato de poder voltar a dormir sem nenhuma interrupção.
   Me virei na cama algumas vezes, tentando achar uma posição confortável, mas acabei desistindo de tentar dormir graças ao comentário de minha mãe. Legal, ela era mestra em tirar meu sono também.
   Bufei e me sentei na cama, ficando tonto assim que fiz o movimento de me levantar.
   Uma ressaca era tudo o que eu precisava.
   Arrastei-me até o banheiro, pegando uma aspirina para a minha dor de cabeça proveniente da after party de ontem, deixando minha mente vagar para aquelas lembranças.
   O sorriso de invadiu meus pensamentos, me fazendo sorrir também. Enchi o copo (que eu deixava no banheiro para situações como aquela) de água e engoli o comprimido, tendo a bela visão da bunda de Kennedy, quando ele teve que sair na rua pelado. Franzi o cenho, totalmente contrariado por ter me lembrado logo daquilo.
   - Eca. - Balancei a cabeça, largando o copo no mármore da pia.
   Sentia o cheiro de cerveja em mim, mas não tinha grandes intenções de tomar banho, então só tirei a camiseta com a qual tinha virado a noite, jogando-a sobre a cama antes de sair do quarto para caçar alguma coisa pra comer.
   Meus domingos eram basicamente todos assim, ficar no tédio, só comendo e me recuperando das noites de sábado.
   Especialmente daquele, que acabara sendo mais longa do que as outras, graças à minha vizinha.
   Sentir meu estômago girar ao pensar nela. Já não era novidade, aquilo acontecia desde que eu voltara a morar em Tempe.
   Que os dudes nunca soubessem disso, ou iriam me zoar até o dia da minha morte, mas sempre fora a única garota para mim. Durante os últimos cinco anos, a vi se transformar de uma menina nerd e engraçada a uma quase mulher, mesmo que com muitos traços de garota ainda, cheia de pretendentes e histórias. Deixava-me alegre saber que, de alguma forma, eu faria parte de sua história.
   É claro que eu fazia mais do que ela se lembrava, mas eu não a pressionaria quanto à isso.
   Peguei uma caixa de suco de laranja, bebendo o conteúdo na boca mesmo, já que ninguém estava olhando. Já ia guardá-la de volta quando alguém bateu na porta, com tanta força e insistência que cheguei a pensar que algo ruim estivesse acontecendo lá fora, como um apocalipse zumbi e alguém estava batendo na porta a procura de um abrigo seguro.
   Joguei a caixinha de qualquer jeito na geladeira e corri até a porta, só então me lembrando de que minha mãe avisara sobre uma visita e que eu estava sem camisa.
   Chequei rapidamente no espelho do hall se meu estado estava muito lamentável e, dando de ombros, abri a porta sem nem procurar saber quem era.
   Os braços finos de se encaixaram ao redor do meu pescoço e seus lábios procuraram os meus quase antes mesmo de eu reconhecê-la. Rapidamente, acomodei minhas mãos ao redor de sua pequena cintura, carregando-a comigo para dentro sem partir o beijo, enquanto fechava a porta e encostava seu corpo na mesma.
   Uma de suas mãos passou do meu pescoço para meus cabelos, que ela bagunçava, ainda mais, com maestria, puxando alguns fios para trás com certa força. Quando já estávamos sem ar, afastei um pouco o meu rosto do dela, encarando-a um tanto surpreso. Ela me olhava de uma forma diferente e podia ver em seu rosto que andara chorando.
   - O que foi? - Franzi o cenho, passando meu polegar pela sua bochecha no momento em que uma lágrima escapou de seus olhos.
   - Me desculpa? - Ela pediu baixinho, desviando seus olhos dos meus para olhar para o chão. Senti-me ficar tenso, sem saber exatamente o que deveria desculpar, já formulando milhões de hipóteses na minha mente.
   - Desculpar o quê? - Perguntei, tentando não soar enciumado com algumas das imagens que vieram a minha mente.
   - Eu... Eu... Por que você nunca me disse nada?
   - Sobre?
   - Você sabe, Garrett, você era o meu melhor amigo. E também, naquela festa lá em casa, foi pra você que eu contei todos os meus segredos. - Enquanto uma parte de mim ficava mais tranquila por descobrir que não era nada do que eu pensara, outra se tencionava. Porque eu nunca contara a verdade a ela?
   - Você acreditaria?
   - Claro que sim. - Podia perceber que ela não estava assim tão certa de suas palavras.
   - E o que isso mudaria? - Eu falava baixo, bem perto de seu rosto. Ela então voltou a olhar nos meus olhos, tão profundamente que me senti fraco por um momento.
   - Eu não sei. - Disse sinceramente. - Mas de alguma forma, saber que sempre foi você mudou alguma coisa dentro de mim. Agora eu sei que eu não estou apaixonada pelo meu vizinho estranho. - Ela deu um sorrisinho nasalado, mas eu permaneci sério. Aquele suspense estava me matando. - Eu te amo, Garrett. E acho que sempre te amei, só não sabia disso. Ou tinha esquecido.
   Quando ela disse aquilo, um arrepio demorado subiu pelas minhas costas, me fazendo tremer levemente. Não sei se era a simplicidade com que ela falava, o conteúdo de suas palavras, a intimidade daquele momento, ou talvez a soma de tudo aquilo, mas eu não consegui mais me controlar, pressionando seus lábios com os meus, que se encaixaram perfeitamente um no outro, assim como o restante de nossos corpos.
   Dessa vez, suas mãos optaram por explorar o meu peitoril nu, assim como boa parte da minha barriga. Segurei sua coxa com força, fazendo-a enlaçar as pernas ao redor do meu corpo, para levá-la para um lugar mais decente do que a entrada da minha casa. Acabei por escolher o sofá, sem coragem para subir todas aquelas escadas até o meu quarto.
   Depositei-a com cuidado no móvel, caindo em cima dela em seguida, tomando cuidado para não jogar todo o meu peso sobre ela.
   sorriu para mim, enquanto eu me ajeitava junto a ela. Quando a puxei novamente para mim, pretendendo voltar a beijá-la, ela empurrou meu peito para trás sutilmente, levantando uma sobrancelha para mim.
   - Não tem nada pra me dizer? - Perguntou, com sua simplicidade de sempre. nunca jogava, era o que eu mais gostava nela. Ela sempre era sincera.
   - O quê? - A encarei como se não soubesse a que ela se referia, quase rindo da expressão que ela fez em seguida. - To brincando. - Tirei sua mão do meu peito, para que pudesse chegar mais perto dela. Quase colei meu rosto no seu para sussurrar em seu ouvido um eu te amo que a fez tremer. Sorri com isso, mordendo seu lóbulo para depois olhar em seus olhos e repetir as mesmas palavras, um segundo antes de encostar minha boca na dela novamente.
   tinha razão, alguma coisa havia mudado entre nós e aquilo estava longe de ser ruim. Pelo contrário, agora eu tinha certeza, pela primeira vez, que aquela garota que sorria durante o beijo era minha de verdade.
   E nada mudaria isso.

Capítulo XXIX

As segundas-feiras costumavam ter tudo para serem tediosas e estressantes, mas especialmente naquela, ninguém poderia reclamar de falta de fofocas, devido aos acontecimentos recentes.
   - Essa gente não tem mais o que fazer a não ser olhar pra nós? - se irritou. Estava até acostumada a receber olhares de todos, mas não tão hostis como aqueles que recebiam agora.
   - Não é possível que eles ainda achem que a opinião deles sobre os meninos vai mudar alguma coisa. - rolou os olhos, notando em um sorriso bobo e um brilho diferente nos olhos. - O que foi ein, projeto de gente?
   - Nada! - Disse rápido demais, aumentando o sorriso enquanto mordia o lábio inferior. Todas a olharam como se não acreditassem nem um pouco que nada tivesse acontecido e ela suspirou. - Eu estou namorando.
   - O quê? Cara que lindo! - se animou, pulando sobre a amiga para abraçá-la. sorriu pela amiga, abaixando a cabeça ao pensar em sua própria situação com o namorado.
   - Explica isso direito. Como, quando, com quem?
   - Lógico que com o Gary né, besta. - Deu a língua à . - Eu descobri que nós costumávamos ser melhores amigos quando pequenos, fui à casa dele e... Bom, uma coisa levou a outra.
   - , sua pervertida! Com os pais dele em casa?
   - Não, ! E fala mais baixo. - Abaixou a cabeça ligeiramente incomodada, olhando para os lados para ver se alguém mais ouvira a conversa. - Eles estavam fora.
   - Desculpa, mas não consigo imaginar o Garrett te pedindo em namoro, acho mais fácil você ter feito isso. - balançava a cabeça para os lados. - Ele é tão gay.
   - Vai se foder! - riu. - Se todos os gays fossem como ele...
   - Tá, não quero saber, sai com essa cara de besta apaixonada daqui. - empurrou a amiga no momento em que um grupo de garotos entrava no corredor, passando próximos a elas. acabou batendo em um deles.
   - Ai, desculpa... - Começou, só então reconhecendo as mãos que seguravam sua cintura e o rosto que sorria torto para ela.
   - Aqui não, gatinha, seu namorado tá olhando.
   - Cala a boca, Kennedy! - Bateu em seu braço com força, só fingindo irritação. bufou, desviando os olhos do garoto assim que esse olhou para ela. sorriu para os outros meninos, livrando-se de Kennedy para chegar a Garrett.
   - Eu devia ficar esperto com isso? - Ele levantou uma sobrancelha, olhando de para Kennedy. Ela rolou os olhos.
   - Vai se foder. - riu junto com ele. Kennedy, no entanto, já não prestava mais atenção, totalmente hipnotizado por .
   - Olá meninas. - Pat sorriu para todas, demorando-se especialmente em .
   - Oi. - Ela devolveu, em dúvida se ia até ele ou não. Olhou para , que não encarava nenhum dos garotos, olhando para o chão com uma expressão triste. A mesma expressão que se encontrava no rosto de John.
   - Bom dia. - Disse o vocalista da The Maine, apreensivo. acenou com a cabeça para ele, enquanto as outras o olharam nervosas. não se manifestou.
   - Eu acho melhor nós irmos. - Jared se pronunciou, colocando a mão no ombro de John. e Garrett se entreolharam.
   - Até daqui a pouco. - Disse ele, tentando não parecer chateado. concordou, voltando para perto das amigas. Eles se despediram brevemente e as garotas permaneceram em silêncio até que a The Maine já estivesse longe o suficiente.
   Então desabou.
   - Eu não posso continuar com isso. - Ela soluçou, pedindo ajuda com os olhos. Uma lágrima escorreu por seu rosto, causando nas amigas um aperto. Todas sentiam por ela.
   - Você não pode ignorá-lo, ! - Disse .
   - É, vocês tem que ficar juntos agora mais do que nunca. - concordou, aproximando-se da amiga para confortá-la. Colocou um braço ao redor dos ombros da outra, acariciando seu braço com força.
   - Sim, vocês têm que convencer seus pais a deixarem vocês em paz. - disse um pouco mais alto, revoltada com a situação. Odiava se sentir impotente.
   - E só vão conseguir isso juntos. - finalizou.
   - Eu sei, mas... Eu não consigo encará-lo depois de ontem. - Desabafou. Depois que John fora embora na noite anterior e ela conseguira se acalmar um pouco, ligara para as amigas para contar tudo.
   - Você não podia ter agido muito diferente de como agiu. Pede desculpas pra ele e segue em frente, amiga. - continuou.
   - Olha só se não são as garotas mais aproveitadoras da escola. - Uma voz irritante surgiu por trás das costas de , que estava frente a frente com e pode ver quando a expressão da amiga mudou para uma de nojo profundo. Já sabia quem iria encontrar quando virou-se para mandar a outra à merda.
   - Bom dia pra você também, Bel. - Sorriu falsamente.
   - Você é a maior delas, . - Mary cuspiu. - Primeiro o Robert, capitão do time de futebol. Ai, quando ele perdeu a graça, o trocou pelo Nickelsen. Sinceramente não sei o que eles viram em você.
   - Cala a boca, vadia. - interveio, se colocando entre Mary e . A amiga de Annabelle deu um passo para trás, pega de surpresa pela agressividade da outra.
   - Que foi não aguenta ouvir os fatos? Eu sei que a é fácil e dá pra todo mundo, mas não esperava que o Nickelsen gostasse desse tipo.
   - Repete isso. - voltou à frente, levantando a mão em punho para Mary, que empalideceu.
   - Você não faria isso. - Tentou parecer desafiadora, mas soou somente medrosa.
   - Claro que eu faria. - Sorriu venenosa para a outra.
   - E, se ela não fizer, eu faço. - se pronunciou novamente.
   - Falou a outra puta mal comida. - Disse Pâmela, com um ar sarcástico. a encarou estática.
   - Sabe, eu sempre soube que você gostava do Kennedy. Eu até achei que ele gostasse de você também, mas tudo isso mudou na festa da Ann. Preciso dizer... - Pâmela fez uma expressão suja. - Você perdeu, hm. O Ken é realmente bom, se é que me entende. Temos que repetir o mais rápido possível, porque só de lembrar já fico com calor.
   - Que nojenta, cara. - fez careta, sentindo-se enjoada. não conseguia formular frase alguma, tremendo de ódio.
   - Na boa, eu avisei. - Foi tudo o que disse antes de se jogar sobre Pâmela, que soltou um gritinho fino antes de cair no chão com sobre si, com uma perna de cada lado do seu corpo, enquanto tentava atingir o rosto da outra.
   - Sai de cima dela, sua selvagem! - Mary gritava, tentando defender a amiga. Mal percebeu quando um soco forte lhe atingiu bem o centro da face, fazendo-a se desequilibrar e, tonta, quase desfalecer no chão.
   e entraram no meio da confusão, tentando convencer a sair de cima da outra, enquanto se defendiam e batiam em Annabelle e Janice.
   assistia tudo sem saber se ria ou olhava preocupada para os lados, esperando não encontrar nenhum monitor. Há essa altura, vários alunos já observavam a cena, apontando e rindo.
   olhava para eles, até encontrar um rosto que a fez sentir-se aliviada. Os garotos da The Maine correram até lá, separando as garotas enquanto eram atingidos por unhadas e socos.
   Kennedy tirou de cima de Pâmela, tendo os braços arranhados pela mesma, que ainda não o reconhecera. Ele a virou de frente para si, puxando-a para abraçá-la. Assim que se percebeu nos braços de Kennedy, deixou-se acalmar, mesmo que por um curto momento.
   - Me solta, idiota! - Reclamou, chutando sua perna para escapar de seus braços. Seu coração batia rápido, não mais pela adrenalina da luta, mas sim pelo contato com o corpo de Kennedy, tão quente e forte.
   Garrett segurava , que balançava a mão ainda fechada em punho, sentindo um pouco de dor. No entanto, não conseguia parar de rir ao olhar para o rosto vermelho de Mary.
   - Eu sempre quis fazer isso. - Sorriu para Garrett, que a olhou assustado, soltando uma pequena risada depois.
   - Eu estou com medo de você nesse momento. - Confessou baixinho em seu ouvido.
   - Suas selvagens! - Annabelle apontou para as outras, ajudando Pâmela a se levantar. Seu rosto estava coberto de arranhões. - Isso não vai ficar assim. - Disse, saindo quase correndo dali com suas amigas.
   - Vadias. - Pâmela disse num súbito de coragem, se encolhendo toda quando ameaçou dar um passo para cima dela. Kennedy tentou não rir quando Pâmela saiu correndo com medo.
   - O que foi tudo isso? - Pat olhou para as garotas, que abaixaram a cabeça, envergonhadas. e foram as únicas que não o fizeram.
   - Essas vadias mereciam isso há muito tempo.
   - Eu não fiz nada! - jogou os braços para cima. - Não bati em ninguém. Embora tenha sido engraçado. - Deixou seus olhos encontrarem os de Jared, que a encarava de volta, serio.
   - A gente precisa sair daqui antes que chegue algum monitor. - Disse John, puxando -que já estava em seus braços- para longe daquele lugar. Os outros os seguiram até o pátio dos fundos, mais vazio.
   - O que adianta a gente fugir? Elas vão falar pro diretor de qualquer jeito! Lá se foi meu cargo de representante e minha bolsa pra faculdade! - falava alto, soltando-se de John.
   - Por que vocês brigaram? - Kennedy encarou .
   - Não é da sua conta. - Disse, ficando levemente vermelha.
   - Meus pais vão me matar. - completou desesperada. John abaixou a cabeça, sem conseguir não pensar que aquilo era culpa dele. O sinal para a primeira aula bateu naquela hora.
   - Eu vou pra sala. Se me chamarem eu vou, né. - deu de ombros, não sentindo nem um pouco de culpa. Há tempos queria se vingar de Mary por ter feito aquela fofoca sobre ela e Garrett.
   - Vou com você. - Garrett colocou sua mão na dela, olhando em seus olhos rapidamente. Ela apertou a mão dele com a sua, sorrindo.
   - Eu também vou, casal ternura. - Disse , seguindo os outros dois sem olhar novamente para Kennedy.
   - Vamos também, . - puxou a amiga, preocupada com o estado da mesma. - Vocês vêm também? - Perguntou aos outros.
   - Claro. - Kennedy deu um meio sorriso para a garota.
   - Eu vou ficar aqui um pouquinho. - John sorriu triste para , que o olhou compreensiva. não ousou fazer o mesmo.
   - Vou pra minha sala. - olhou para Jared, que pela primeira vez em muito tempo sustentou o olhar no dela por alguns segundos, antes de seguir em frente. Ela, Kennedy e foram logo atrás.
   - Vão ficar também? - John perguntou à e Pat, que se entreolharam. - Ah, já sei: estou atrapalhando vocês. Fiquem a vontade, vou dar uma volta. - Dizendo isso, saiu em direção ao corredor, deixando os outros dois para trás.

Kirch’s POV ~mode ON~

- Você tá bem? - Perguntei, colocando uma mecha do cabelo de atrás de sua orelha. Ela me olhou de um jeito fofo.
   - Eu devo estar totalmente descabelada. Isso foi loucura! - Riu agitada. Parecia que nunca fizera nada parecido com aquilo antes e não pude deixar de sorrir de volta.
   - Vocês estão andando muito com a gente.
   - Com certeza. - Piscou. - Ei, eu não quero ficar na escola pra todo mundo me olhar como se eu fosse um ET, o que acha de darmos uma volta?
   - O quê? - Perguntei surpreso com a sugestão. Eu realmente estava achando que aquelas garotas estavam se rebelando demais ultimamente. - Você quer fugir?
   - Dá pra pular esse muro, não dá? - Olhou para as próprias vestes, parecendo aliviada por estar de shorts e All Star. Do jeito que eu mais gostava de vê-la.
   - Dá...
   - Pat, para de ser chato. Por que tá me olhando assim?
   - Eu... Você me surpreende. - Não conseguia parar de olhar para ela, abobalhado. A cada segundo com eu me via mais fascinado por ela.
   - Só por que eu quero fugir da escola? Isso não é nada demais. - Deu a língua. - Vem logo antes que peguem a gente!
   - Ai, espera! - Corri atrás dela, que ria em direção ao muro dos fundos. Eu já fugira por ali com os garotos uma centena de vezes, mas jamais pensei que um dia o faria com .
   - Tá, você vai ter que ajudar. - Ela ponderou, percebendo que o muro era um pouco mais alto do que ela previra. Sorri.
   - Ok, te dou impulso e você pula. - Fiz minhas mãos de apoio para que ela pisasse ali e conseguisse agarrar a parte de cima do muro, coisa que fez com maestria e astúcia de um gato, e fiquei observando-a sentar-se sobre o parapeito, me olhando de volta como se me esperasse. Só então me dei conta de que era realmente o que ela fazia e sorri envergonhado. Imbecil.
   - Achei que tivesse desistido. - Ela me olhou quando cheguei ao seu lado.
   - Eu meio que me distraí. - Respondi coçando meus cabelos, nervoso.
   - Tudo bem. - Ela deu uma risadinha. Obviamente sabia o que eu quis dizer com ter me distraído. - Pula você primeiro pra me ajudar a descer também.
   - Ah, claro. - Bati em minha própria testa, me sentindo ridiculamente idiota.
   Era realmente ridículo que eu estivesse agindo daquela forma.
   Pulei, já acostumado com aquilo e me preparei para ajudá-la. O muro devia ter mais ou menos dois metros e pouco, não era exatamente o mais difícil do mundo para se pular, mas imaginei que não tivesse o costume de fazer aquele tipo de coisa, então fiquei pensando em um jeito de pegá-la e trazê-la para baixo, quando ela caiu em pé ao meu lado.
   - Hey. - Segurei em seu braço quando ela cambaleou para o lado por conta da velocidade da queda e ela virou-se para mim com um sorriso travesso, enquanto eu a olhava assustado. - Achei que quisesse ajuda pra descer.
   - Você me ajudou, oras. - Deu de ombros. - Eu sou um pouco menos frágil do que você pensa. - Seus olhos brilharam para mim, ao mesmo tempo em que ela aproximava seu rosto do meu. Segurei-a pelo quadril, fascinado pelo jeito obstinado e voraz com que ela me encarava. Engoli em seco antes de beijá-la.
   Seus movimentos eram mais ansiosos do que das outras vezes em que nos beijamos e eu sabia que ela queria me provar que eu estava errado em julgá-la completamente delicada.
   Ela era precisa e contagiante e eu lamentei por ter que interromper aquilo, mas não era exatamente inteligente ficar parado ali.
   - Temos que ir pra outro lugar. - Disse, tendo uma ideia genial. - Já sei, podemos ir na sua casa pegar seu skate?
   - Por que, o que você tem em mente? - Ela me perguntou com um sorriso sapeca.
   - Vamos ver quem é o melhor.
   - Ok. É óbvio que eu vou fazer você comer poeira, mas eu topo.
   - Beleza. - Passei meu braço por trás de seu corpo, pousando a mão em sua cintura e caminhamos assim até a sua casa, que não ficava muito longe da escola.
   Não trocamos mais do que algumas palavras por todo o caminho, nos comunicando apenas com olhares e sorrisos.
   Às vezes eu pensava que não aquilo não era uma boa ideia, dado a proximidade de sua partida, mas vê-la sorrir para mim tão intimamente como agora fazia com que eu mudasse de opinião na mesma hora.
   Eu sabia que estava agindo exatamente do jeito que eu deveria agir. Talvez estivesse um pouco atrasado, mas eu não me importava com isso se estivesse com .
   Ela fazia com que eu me sentisse melhor, um pouco menos quebrado e um pouco mais digno, porque ela sempre me aceitara, mesmo quando eu não era nada mais do que um loser.
   - Espera aqui fora, já volto. - Disse ela quando paramos em frente à sua casa. Era a primeira vez que eu ia ali durante o dia e não pude deixar de sorrir ao pensar nisso.
   Esperei por cerca de cinco minutos até que ela voltasse com o skate que eu lhe dera numa mão e um capacete azul na outra.
   Fui ajudá-la assim que percebi que ela teria dificuldades em fechar a porta com as mãos cheias, tomando o skate dela.
   - Obrigada. - Ela sorriu, puxando a maçaneta da porta para fechá-la. Reparei em algumas caixas empilhadas na sala e senti uma pontada profunda. Ela também tinha o olhar um pouco triste quando fechou a porta para trancá-la em seguida.
   - Como estão as coisas?
   - Nada bem. - Ela suspirou, segurando-se para não chorar. - Eu não quero ir embora, Pat! –Jogou-se sobre mim, agora não mais impedindo que as lágrimas caíssem. Abracei-a de volta, acariciando seus cabelos para confortá-la. Eu também não queria que ela se fosse.
   - Eu sei. Já conversou com as garotas sobre isso? Tem que ter algo que possamos fazer.
   - Eu não acredito muito nisso. - tentou sorrir, olhando nos meus olhos. - Ainda não consegui. Eu não vou aguentar me despedir.
   - Você precisa fazer isso logo. Falta pouco agora e eu sei que elas vão se sentir mal se ficarem sabendo no último momento.
   - Eu sei. Eu vou conversar com elas. Mas por enquanto eu só quero esquecer-me de tudo isso. - Ela me olhava dengosa. - Você pode me ajudar? - Sorri para ela, assentindo.
   - Vamos logo, quero ver você pagar mico. - Ela me deu a língua, secando as lágrimas do rosto.
   - Aposto que chego lá antes de você! - Correu, disparada na minha frente, obrigando-me a correr para alcançá-la. No entanto, quanto mais perto eu chegava, mais ela acelerava, só me deixando chegar até ela quando adentramos a praça da pista de skate. - Você é muito lerdo!
   - Eu... Eu to morrendo, espera. - Tentava falar, à medida que recuperava meu fôlego. Ser sedentário era uma merda.
   - Tá tudo bem? - Ela se aproximou, preocupada. Sorri, aproveitando a sua distração. - Ah, me solta! - Ela ria enquanto eu tentava abraçá-la. - Saí, você tá soado, eca.
   - Isso que dá me fazer correr como um condenado.
   - Eca, sai. - Me empurrou, desamassando sua camiseta. - Como você pretende andar de skate sem skate?
   - Pergunta perspicaz. - Pisquei. - O meu tá na mochila.
   - Bobo. Vamos na pista?
   - Você acha que tá preparada? - Perguntei serio, um tanto incerto se era uma boa ideia deixar praticar na pista.
   - Claro que sim, senhor super protetor. - Respondeu emburrada. Eu não era super protetor, era? - E eu tenho um capacete.
   - Ok, vamos então. - Não insisti mais, pois não queria ser tachado de super protetor novamente, quando só me preocupava com a segurança dela. Além disso, sabia do rolo dos meus tios com o John e não queria ter o mesmo problema com os pais de .
   Coloquei o capacete enquanto colocava o dela e subimos juntos na pista. Quando ela montou no skate, fiquei observando para ver se ela fazia tudo direitinho e só subi no meu quando ela já começara a andar com ele. A pista ali era na verdade uma mini rampa de pouco mais de dois metros, que era bastante adequada à iniciantes, para a minha sorte.
   - Onde a gente acha uma Bowl ein? - perguntou quando passou por mim enquanto descia pela pista.
   - Por que você quer uma bowl? Essa aqui está ótima, é baixinha e segura.
   - Pat, você é muito chato. - Ela disse, continuando seu caminho. Subi para o lado oposto ao dela, pensando em que manobra fazer. Sabia que era idiota tentar alguma manobra vertical ali a menos que quisesse me machucar feio, então fui de flip grind. ainda estava em pé, então presumi que ela andara treinando.
   Mas sorri por pouco tempo, pois, em questão de segundos, ela jogada no meio da rampa e o skate voara longe. Saltei do meu o mais rápido que pude, correndo até ela.
   Tirei meu capacete, me ajoelhando ao seu lado.
   - ? - Chamei. Ela não disse nada, só gemeu. Resolvi tirar também o seu capacete e assim que o fiz, fui puxado para baixo, perdendo o equilíbrio e caindo quase por cima dela.
   Ela tocou meus lábios com os seus e eu joguei seu capacete para o lado, sorrindo antes de beijá-la.
   Ajeitei-me, deitando ao seu lado, enquanto ela se virava para ficar frente a frente comigo. Envolvi-a pela cintura, tornando nosso beijo ainda mais profundo.
   Ela mexia no meu cabelo, puxando meu rosto para mais perto do dela, enquanto apertava sua pélvis contra a minha. Senti um tremor passar por todo o meu corpo. Podia ouvir seu coração batendo, tão descompassado quanto o meu.
   Inevitavelmente, minhas mãos procuraram sentir sua pele, quente por baixo de sua camiseta. Ela suspirou profundamente com o contato de minha pele contra a dela, pressionando ainda mais seu corpo contra o meu. Nossas pernas travavam uma guerra, sem conseguir entrar num acordo de onde cada uma delas deveria ficar.
   Eu já estava por cima dela quando me dei conta, brincando com o fecho de seu sutiã. Nossos lábios mal se separavam e nossas respirações eram pesadas. puxava meus cabelos sem dó, fazendo-me arfar pesadamente durante o beijo.
   Foi quando suas mãos trêmulas procuraram pelo fecho da minha calça que eu percebi a loucura de tudo aquilo, separando meu rosto do dela com certa relutância.
   - Espera. - Ela protestou. - , estamos no meio da praça! - Ri de sua indignação, saindo de cima dela mesmo contra a minha vontade.
   - Chato! - Ela resmungou.
   - Chato? Até onde você iria? Crianças brincam aqui, sabia? - Eu achava graça de sua expressão, até ela me responder.
   - Eu não to vendo ninguém. - Parei de rir, a tensão que aquela frase me causara tomando conta de todo o meu corpo.
   Não, Pat, seja racional, isso era no mínimo loucura e ainda ilegal.
   - , eu não acho que esse seja o momento mais apropriado... - Comecei, medindo as palavras para não machucá-la. - E nem o lugar. - Enfatizei com as mãos, apontando para a rua.
   - Ok, acho que me empolguei. - Ela assumiu, corando levemente. Sorri para ela.
   - Vamos, levanta. - Fiquei em pé, segurando sua mão para que ela fizesse o mesmo. - Vamos dar uma volta e depois vamos pra casa do Ken. Quem sabe os caras podem ajudar a contar tudo para suas amigas.
   - Quer que eu converse sobre isso com eles? - Ela se exaltou a princípio, mas depois pareceu considerar verdadeiramente a ideia.
   - Acha que seria estranho?
   - Não, acho que pode ser bom. - Ela abriu um sorriso radiante. - Eu gosto dos meninos. - Fiquei feliz com aquilo, por mais idiota que parecesse.
   Ela colocou sua mão na minha, encostando a cabeça em meu peito enquanto caminhávamos sem nenhum destino certo.
   Sim, os caras iam me zoar eternamente quando se soubessem do que acabara de acontecer, mas eu não me sentia arrependido por querer que cada momento com ela fosse especial.
   Doia tê-la perto de mim e pensar que dentro de alguns dias ela não estaria mais ali e isso só fazia eu ter ainda mais vontade de aproveitar ao máximo aquilo tudo. Eu pensava nisso quando duas palavras escaparam involuntariamente da minha boca, fazendo-a parar para me olhar atônita.
   - Namora comigo?

Capítulo XXX

- A vai embora.
   - A me ignora.
   - A não me quer.
   - A não sabe o que quer.
   - A me ama. - Garrett disse em tom sonhador, fazendo todos olharem para ele.
   - Vai se foder, seu gay! - Kennedy deu um tapa na nuca do amigo. - E você, Jared, não pode reclamar, porque a tá louquinha pra voltar pra você e quem fica fazendo cu doce é só o senhor mesmo.
   - Eu só consigo ouvir tudo isso e enxergar muito material. - Jason fez os garotos o encararem sem entender.
   - Eu acho que essa fase em que vocês se encontram é ótima para escrever. Por que não pegam tudo o que estão sentindo ai e transformam em música?
   - Claro, por que não escrever mais músicas pra ouvir enquanto se esfrega em outro carinha?
   - Ei, você não pode falar dela depois do que fez com a Pâmela. - Garrett apontou.
   - Qual é, tá andando tanto com a que tá virando uma das garotas? Traidor! - Kennedy tentou bater nele novamente, mas dessa vez Garrett estava preparado e se desviou, fazendo Kennedy se desequilibrar e cair para frente. Numa tentativa desesperada de se manter em pé, o garoto se segurou em Garrett que, desprevenido, acabou por cair junto.
   - Ai, sua bicha! - Garrett reclamou, tentando sair de baixo do outro e se levantar.
   - Querem parar vocês dois? - John resmungou, ajudando-os a se levantarem.
   - Eu poderia escrever uma música. - Pat parecia compenetrado em seus próprios pensamentos, anormalmente sério.
   Ele realmente levara para conversar com os amigos e juntos conseguiram convencê-la a falar logo com as garotas.
   Estranhamente, Annabelle e suas amigas nada comentaram sobre a incidência que fora a briga entre elas e então sua namorada e as amigas ficaram livres de advertências e suspensões.
   Sim, sua namorada. Surpreendentemente, aceitara seu pedido, mesmo após um pequeno drama sobre estar indo embora em poucos dias.
   Pat realmente não sabia se era justo com ambos estarem juntos só agora, mas algo lhe dizia que tudo daria certo no final e que, de um jeito ou de outro, eles ficariam juntos. Ela sempre estaria por perto, mesmo que estivesse longe.
   Talvez isso não fizesse sentido para mais ninguém fora ele mesmo, mas ele nunca fora de se importar com opiniões alheias de qualquer forma.
   - É mesmo, Patrícia? - Kennedy foi sacanear o outro, bagunçando seus cabelos.
   - Saí! - O baterista reclamou, empurrando a mão do amigo com força. – Garrett, me ajuda?
   - Claro. - Ele deu a língua à Kennedy, para provocá-lo.
   - Ei, por que não eu?
   - Porque você é grosso e sem sentimentos. - Pat deu de ombros, como se fosse óbvio.
   - Não sou nada! - Kennedy bufou.
   - É sim. Agora fica quietinho ai no cantinho e não atrapalha.
   - Ok, vou pro 8123 então. John, Jared?
   - Foi mal, to com umas ideias aqui e vou precisar do Jared pra me ajudar.
   - E mais uma vez, não querem minha ajuda porque eu não sei ser romântico.
   - Eu não disse nada disso. - John levantou as mãos, como se dissesse que era inocente. Kennedy rolou os olhos enquanto os outros riam.
   - Jason vai ficar para ouvir, certo?
   - Ei, não posso abandonar meu pub assim. Nem vou expressar minha mágoa por você trocar meu humilde bar por uma lanchonete barata.
   - Ah, ok. - Kennedy deu um meio sorriso. - Até mais então.
   Despediu-se brevemente, rumando para fora do bar.
   Olhou para seu carro, estacionado a menos de dois metros de si e seguiu até ele.
   Preferia ir a pé, o caminho não seria longo, mas o céu estava escuro, indicando que, possivelmente, choveria.
   Já dentro do carro, sorriu ao lembrar-se de certa vez que chovera. Não fazia muito tempo, mas pareciam anos; tanto havia mudado desde aquele dia.
   Olhou pelo espelho retrovisor, lembrando-se da expressão carrancuda com que o encarara naquele dia.
   Ela ainda usava aquela cara para olhá-lo, mas era diferente agora.
   Naquele dia, não passava de uma das garotas metidas, amigas da prima de Pat. Uma garota bem gostosa, mas, ainda assim, apenas uma garota.
   Agora era diferente, ele amava aquela menina.
   E ele estragara tudo.
   Bufou, batendo a mão com força no volante, ativando a buzina por acidente.
   Então percebeu que ainda estava parado na frente do pub e deu a partida no carro, fazendo o caminho para o 8123.
   Mal sabia o que pretendia fazer lá sozinho, mas não costumava ignorar esses desejos estranhos que lhe ocorriam vez ou outra.
   Gostava de pensar que era o seu sexto sentido tentando se comunicar com ele.
   Estacionou o carro na primeira vaga que encontrou, sorrindo ao olhar para dentro da lanchonete através do vidro transparente da mesma.
   Nunca falhava.

Terminou de tomar seu milk-shake, limpando os lábios gelados com um guardanapo. Sentia-se observada por uma porção de rostos diferentes e por isso seus movimentos eram lentos. Seus lábios esboçavam um sorriso satisfeito.
   Levantou-se da cadeira alta do balcão com pompa, sorrindo levemente para um ou outro cara que a olhava.
   Sabia que seus dotes ficavam bem demarcados com a calça skinny e a regata de cetim branca que usava e por isso sentia-se ainda mais confiante.
   Sorriu abertamente para o balconista:
   - Quanto lhe devo?
   - Esse foi por conta da casa. - Ele disse sorrindo sugestivamente. O cara não devia ter mais do que vinte anos e ela sabia que ele era novo ali, pois nunca o vira antes.
   Ela gostava de tirar vantagem dos caras novos, sempre conseguia coisas de graça com eles.
   - Imagina, eu pago. - Ela insistiu, sem muita garra.
   - Que isso, princesa, não precisa. - O garoto colocou a mão sobre a dela, empurrando o dinheiro que ela tentava lhe dar.
   - Obrigada então. - Ela fez um biquinho, piscando pra ele depois. - Nos vemos.
   - Vou contar os minutos. - Ele gritou para que ela o escutasse já perto da porta de saída e a garota acenou, sem olhar para trás.
   Ainda sorriu enquanto caminhava pelo meio do estacionamento, sem se importar se ali passavam carros ou não.
   - Ei, linda! - Ouviu a voz conhecida e gelou, parando de sorrir na mesma hora. Virou-se devagar, só agora notando o carro conhecido. Apoiado largadamente no porta-malas, Kennedy sorria despretensioso para ela. - Você vai fazer o cara perder o emprego desse jeito.
   - Me erra, Brock. - Lhe deu as costas, sem humor.
   - Espera ai! - Ele correu até ela, segurando-a pelo braço e a fez se virar para ele.
   - Me solta. - Ela disse controlando a raiva, com a voz excessivamente calma e grave.
   - Não até que você me diga por que brigou com a Pâmela. - A determinação de Kennedy em fazê-la ficar era ainda maior do que a dela em partir. desviou seus olhos dos dele, sentindo-se desconfortável com a proximidade e a maneira como o garoto a encarava.
   - Por que se importa? Eu não estraguei tanto a cara dela. Quer dizer, não mais do que sempre foi. Ainda dá pra alguém necessitado como você pegar ela.
   - Cala a boca. - Ele disse num tom que a fez obedecê-lo, mesmo contra vontade.
   - Não foi por sua causa. - Disse com a voz falha e rápida. Ele a olhava como se não houvesse mais nada no mundo e isso deixava-a desconcertada. Kennedy nunca a olhara assim antes. Não havia arrogância ali. - Eu jamais sujaria minhas mãos por tão pouco.
   - Claro. - Seus olhos brilharam tão maliciosos quanto o tom que a garota usara naquela última frase. Ela tremeu, já prevendo a reação do garoto.
   - Não se atreva. - Tentou recuar, mas se viu presa pelos fortes braços de Kennedy. Ele sorriu torto para ela antes de colar seus lábios nos dela.
   permitiu que a língua de Kennedy acariciasse a sua, ela mesma tomando a liberdade de transformar o carinho em uma guerra violenta.
   Uma das mãos do garoto estava em sua lombar, forçando seu corpo levemente para trás, enquanto puxava seus cabelos com a outra mão. Por sua vez, mantinha ambas as mãos encaixadas no rosto do rapaz, movendo-as para o colarinho da camiseta que ele usava.
   O beijo, comandado por ela, era furioso, expressando toda a raiva que ela sentia dele. não separou seus lábios até que estivesse satisfeita.
   Tendo saciado em partes seu desejo por Kennedy, aproveitou-se de seu despreparo para empurrá-lo para longe. Enquanto o garoto a olhava confuso pelo movimento hostil por parte dela, juntou todo o ódio ainda remanescente da briga que tivera com Pâmela, lembrando-se bem das palavras que essa lhe dissera, e desferiu um chute certeiro entre as coxas de Kennedy, fazendo-o se curvam e quase desfalecer no chão, tamanha a dor que sentia.
   Por um momento, sentiu pena. Chegou até a dar um passo para frente para socorrê-lo, mas impediu-se, correndo na direção contrária, para fora do estacionamento.
   Kennedy gritava, xingando todos os antepassados da garota, enquanto se retorcia. Se ela queria deixá-lo estéril, apostava que tivesse conseguido.
   - Caralho! - Reclamou mais uma vez, sentindo um pingo grosso de água atingir-lhe a cabeça. Depois desse vieram outros, numa velocidade grande. - Porra, tudo o que faltava! - Correu para dentro do carro, sentindo dor ao fazê-lo. Fez uma careta, batendo no volante novamente.
   A chuva caia com força do lado de fora e Kennedy sorriu maldoso ao constatar que ainda teria um caminho considerável a percorrer sob aquela tempestade.
   Tentou divertir-se a imaginando correndo, ensopada, eventualmente até caindo em alguma poça d'água, mas acabou sentindo um peso enorme na consciência e, bufando, ligou o motor do carro.
   - Merda, seu grande idiota. - Xingou a si mesmo, deixando o estacionamento e seguindo pelo caminho contrário ao de sua casa.
   Mesmo que a chuva forte atrapalhasse sua visão, não foi difícil reconhecer os traços de , tentando inutilmente se proteger sob um toldo de algum comércio.
   Buzinou.
   Ela olhou para o carro, desviando os olhos em seguida.
   - Teimosa. - Grunhiu, suspirando. - É não tem outro jeito.
   Sem parar para pensar uma segunda vez, e acabar se arrependendo, Kennedy abriu a porta do carro e saiu para a chuva, o vento forte o pegando desprevenido. Bateu a porta antes que o interior de seu carro encharcasse e correu até o abrigo do toldo. o encarava, boquiaberta.
   - Vem logo! - Ele teve que gritar, já que o vento quase não permitia que eles se ouvissem.
   - Não quero!
   - Você vai acabar doente.
   - Não me importo. Não vou entrar no seu carro.
   - Ah vai sim. - Dizendo isso, avançou para a garota, imobilizando-a e pegando-a no colo, mesmo sob protestos da mesma. Ignorando-a, rumou até a porta do carona e jogou a garota lá dentro, sem muita delicadeza. Fechou a porta e correu para o seu lado, antes que ela pensasse em fugir.
   Ao entrar no carro, certificou-se de travar as portas.
   - Vou te acusar de sequestro. - bufou, cruzando os braços.
   - Claro. - Ele respondeu tenso, tentando olhar para outro lado que não fosse a camiseta agora transparente de . Para sua sorte, ela pareceu não entender o motivo de seu desconforto. - Te levo para casa, certo?
   - Ahan. - Respondeu, achando o comportamento de Kennedy esquisito, até mesmo para ele. Ele não a olhava, como se tivesse medo de fazê-lo. Pensando que fosse em consequência do chute que lhe dera, sorriu sem se importar mais.
   Kennedy ligou o rádio numa estação qualquer, tentando se distrair. Suas mãos seguravam o volante com força e suavam. não entendia muito de carros, mas podia jurar que ele dirigia um pouco rápido demais, até mesmo considerando a tempestade do lado de fora da janela.
   Até mesmo quando estacionou o carro na frente da casa da garota, o fez com menos cuidado do que deveria. Não a olhou mesmo depois de ter puxado o freio de mão.
   - Brock, você tá legal? - Ela perguntou, verdadeiramente preocupada. Será que exagerara na força com que o atingira e o traumatizara para sempre?
   - Uhum. - Ele acenou com a cabeça, olhando com interesse exagerado para algum ponto em sua frente.
   - Ok, eu não vou pedir desculpas, então não adianta fazer seus joguinhos. - Disse ela, finalmente conseguindo que ele a olhasse.
   - A sua roupa... Eu realmente gosto de sutiãs vermelhos. - Ele apontou, fazendo a garota corar de imediato, cruzando os braços para tampar sua roupa íntima. Kennedy, no entanto, superara seu desconforto no instante em que começara o dela e agora lhe sorria como um cafajeste. - Você deveria ter se preocupado em tampá-lo há uns dez minutos atrás.
   - Cala a boca, seu pervertido nojento! - Ela descruzou os braços, para bater no peito de Kennedy. Este, por sua vez, ria, sem conseguir deixar de reparar que a respiração da garota estava mais rápida agora. De repente, parou de lhe bater, sorrindo tão maliciosamente quando ele alguns instantes antes, ajoelhada de frente para ele no banco do carona.
   Kennedy olhou para seu rosto sem entender.
   - Quer saber? Pode olhar. Assim você tem plena noção do que perdeu quando resolveu ficar com a Pâmela. - levantou uma sobrancelha para ele, colocando as mãos na cintura. Sim, ela o estava provocando e não, ele não sabia se comportar diante de provocações como aquela.
   - Eu não acho que tenha perdido nada. - Dessa vez ele ergueu a sobrancelha, com um sorriso esperto. franziu o cenho, sentindo-se ultrajada. - Nós dois ainda não terminamos.
   - É claro que terminamos. - Rolou os olhos, entendendo o que ele quisera dizer.
   - Ok, então pode sair. Já estamos na sua casa. - Kennedy destravou as portas do carro, ainda com aquele sorriso presunçoso.
   se viu perdida por um momento; não queria sair dali, por mais que soubesse que era o que deveria fazer. Bufando, voltou a sentar-se no banco para abrir a porta. Assim que fez menção de abri-la, o pino da trava abaixou de novo e ela virou-se para Kennedy descrente.
   - Não achou que seria tão fácil né? - Ele sorriu, avançando para ela ao mesmo tempo em que ela ia até ele.
   Os lábios dela, assim como o restante de seu corpo, estavam gelados.
   Kennedy usou os dedos para pentear seus cabelos molhados e levemente bagunçados para longe de seu rosto, tentando de alguma forma passar também para o banco do carona. o ajudou nessa parte, sentando-se sobre ele, com uma perna de cada lado de seu corpo.
   Apesar de também molhado, Kennedy estava quente, fazendo com que procurasse instintivamente ficar o mais próximo possível dele.
   Kennedy sorriu com a afobação da garota, abraçando-a na tentativa de esquentá-la.
   Ela o beijava com desespero, como se o contato de seus lábios pudesse aquecê-la. Suas mãos procuraram se emaranhar nos cabelos do garoto, mas lá não ficaram por sequer um minuto. Inquietas, abrigaram-se sob a camiseta de Kennedy, o contato das mãos gélidas da garota em seu corpo quente provocando-lhe arrepios.
   Ainda procurando aquecê-la, o rapaz repetiu o gesto da garota, aventurando-se debaixo do tecido leve que era a sua blusa.
   O choque térmico também foi sentido por ela, que separou seus lábios dos dele em cerca de um centímetro para soltar um leve suspiro. Kennedy puxou seu lábio inferior de volta com os dentes, beijando-a com voracidade. O barulho e a força da chuva tornando aquele momento ainda mais íntimo, pois impedia que qualquer um se atrevesse a interrompê-los.
   Mas nem a chuva poderia protegê-los das interrupções que estivessem no mesmo espaço que eles, como o celular de Kennedy.
   - Porra. - Bufou, afastando para alcançar o celular jogado ao lado do freio de mão. Conservou a outra mão na base das costas da garota, enquanto essa deixou as suas próprias, uma em cada um dos ombros dele. Ao identificar o número na tela do aparelho, Kennedy xingou baixo, palavras que não conseguiu compreender, atendendo por fim o telefone. – Porra, Alex, não podia ligar para outro cara não?
   não sabia quem era Alex, então não se dedicou muito a escutar a conversa. Ainda se sentia tonta. Olhou para Kennedy, com os lábios vermelho e camiseta amassada e imaginou que deveria estar no mesmo estado. Ela ainda estava no colo dele quando percebeu o que fizera.
   Em choque, pulou para o banco do motorista, assustando inclusive Kennedy, que ainda estava preso à ligação.
   Aproveitando-se disso, destravou a porta e correu para fora do carro, antes que o outro pudesse perceber seu movimento.
   - Merda! - Gritou. – Não, Alex, não foi com você. - Coçou a cabeça em sinal de nervosismo. - Tá me espera ai mesmo no aeroporto, chego ai em quinze minutos.
   Desligou o celular e o jogou em um canto qualquer, frustrado. Tentou enxergar a frente da casa para saber se ainda estava do lado de fora, mas não obteve sucesso. Irritado, ligou o carro com brutalidade e em menos de um minuto já estava bem longe da casa de .
   Mas longe dela mesmo não conseguia estar, pois ela havia deixado todos os possíveis vestígios de sua presença, como seu cheiro, seu gosto e até mesmo um resquício da dor sentida a menos de uma hora pelo garoto.
   Maldita hora que Alex havia escolhido para chegar em Tempe.

Capítulo XXXI

- Tá, começo a ter que admitir que não é paranóia sua, .
   - O quê? - virou-se para sem entender. As duas andavam lado a lado pelo corredor lotado da escola, recebendo olhares hostis das pessoas. - Ah, isso. - Disse seca.
   - Eles nos odeiam? - soou desprotegida. Não gostava de saber que as pessoas não gostavam dela. Na verdade, nunca gostara de ser foco de atenção, mas aos poucos acostumara-se com a popularidade. No entanto, aqueles olhares maldosos a intimidavam.
   - Calma, , ninguém vai tentar nos matar ou nada do tipo. - riu, rolando os olhos.
   - Ei meninas! - As duas olharam para trás e avistaram e . acenava para elas, pedindo que lhes esperasse.
   - Oi meninas. - sorriu para as amigas assim que essas a alcançaram. também percebera os olhares das pessoas e por isso estava de mau humor.
   - Cadê a ? - perguntou num tom de urgência.
   - Bem aqui. - A quinta amiga surgiu sorrindo levemente para as outras.
   - Eu preciso conversar com vocês. Podemos ir pra sua casa depois da aula ?
   - Claro. - a encarou, desconfiada. - Não me diga que aquela mulherzinha parente do Dumbo te engravidou.
   - O qêe? - gritou. - Não, sua tonta! - Riu nervosa.
   - É mais sério que isso? - confirmou com a cabeça e elas ficaram em silêncio, tentando imaginar o que poderia ter acontecido.
   Nesse momento, um grupo de garotos entrou no corredor, despertando o interesse da maioria. Até mesmo as líderes de torcida lançavam risinhos para eles, parecendo ignorar totalmente que três deles estivessem comprometidos. bufou ao perceber o olhar de uma líder de torcida loira, de quem ela nunca gostara, sobre John.
   Os garotos, por sua vez, estranhavam toda aquela atenção e cumprimentavam timidamente as pessoas que iam falar com eles.
   Ao se aproximarem de onde estava com suas amigas, o grupo se separou. Kennedy seguiu com John e Jared para um lado, enquanto Pat e Garrett foram cumprimentar as garotas.
   sentiu-se mal e teve vontade de correr dali quando Pat lhe deu bom dia, mas permaneceu forte; era melhor daquela forma.
   De onde estava John também não se sentia nada bem. Queria voltar à casa de e dizer umas boas verdades para o pai da garota, mas sabia que não podia.
   - Falta pouco, cara. - Jared lhe disse como se adivinhasse seus pensamentos.
   John assentiu: aquela situação com a namorada não passaria do dia seguinte, se as amigas dela concordassem em ajudar. Tudo o que elas precisavam fazer era levar até o pub.
   - Você acha que ela vai?
   - Claro que vai, ela te ama. - Kennedy colocou o braço ao redor dos ombros do amigo. John deixou um pequeno sorriso escapar de seus lábios, sentindo-se um pouco menos perdido.

- Bando de gays. - reclamou, caminhando sozinha em direção ao banheiro. Abandonara as amigas com Garrett e Pat, irritando-se com o romance deles. - Casais em começo de namoro são zoados.
   Agora enquanto duas de suas amigas ficavam vomitando arco-íris com seus devidos guys, as outras duas se lamentavam por seus infortúnios. E não tinha paciência de aguentar aquilo por todo o intervalo.
   Entrou no banheiro, distraída e sorriu com sarcasmo ao ver uma garota sentada sobre a pia de mármore, chorando com o rosto enterrado entre as mãos.
   Só pode ser brincadeira. Pensou sozinha.
   A outra garota ouviu o som da porta se fechando e levantou a cabeça para ver quem era. Bufou, levantando-se.
   - Ah não, tinha que ser você. - Dizia nervosa, enquanto pegava papel para limpar o rosto.
   - Tá tudo bem? - perguntou sem poder evitar sorrir.
   - O que você quer ouvir? Por que ainda pergunto? É claro que você não vê a hora de descobrir um problema entre mim e Jared pra se jogar nele.
   - Eu? - Se fez de desentendida. - Você deve estar me confundindo com outra pessoa, querida. Eu não tenho nada com ele.
   - Obviamente, porque ele me escolheu à você. - parou de sorrir, fechando a mão em punho. Não batera em ninguém no outro dia porque não tinha exatamente nada contra Annabelle e suas amigas, mas era bom que Camille não abusasse muito.
   - Eu não teria tanta certeza. - Disse baixinho. Camille a olhou.
   - Eu posso ser legal, mas não sou trouxa, entendeu? - Disse. - A Bel bem que me avisou que você tentaria me fazer acreditar em alguma mentira sua, mas eu estou esperta quanto à vadias como você.
   - Do que você me chamou? - deu um passo mais para perto de Camille, que pareceu nem perceber a irritação da garota. - Você é tão ingênua que dá pena, garota.
   - Vai descontar em mim sua frustração pelo Jared não gostar de você?
   - Não. - Sorriu venenosa. - Vou descontar a minha frustração por não gostar de você. - Camille engoliu em seco, percebendo tarde demais a proximidade de . - Fala de novo o que você tinha dito. - Ordenou, segurando os cabelos da nuca de Camille com força.
   - Me solta! - A outra tentou tirar as mãos de de si, mas não conseguiu. Ela era bem mais forte e tinha o dobro da determinação.
   - Do que você me chamou mesmo?
   - Vadia. Você é uma vadia que não sabe perder! - Nem bem terminou de falar, a empurrou contra o chão, partindo para cima da mesma e sentando-se sobre ela, com as pernas ao redor de seu corpo.
   Camille gritou pedindo socorro, mas mal se importava com o aparecimento de alguém. Só queria fazer com que aquela garota estúpida aprendesse a não falar mais dela.
   - Me solta! - Camille pedia, protegendo o rosto com as mãos. Ela chorava e não tentava bater em de volta. Aquela cena fez com que sentisse ainda mais raiva da outra: ela era tão sonsa!
   Sorriu, sem humor.
   - Fica tranquila, eu não machucaria esse lindo rostinho. - Saiu de cima de Camille, levantando-se e indo até a porta. - Mas ouse falar comigo assim de novo e você vai acabar beijando a pia. - Não olhou para trás e pouco se importou em checar o estado da outra. Tinha que ir para a aula, mas não sentiu vontade de fazê-lo, então ficou perambulando pelos corredores até a hora de ir embora.
   Quinze minutos para o sinal tocar e ela contava os segundos, ansiosa para ir embora. É claro que ela poderia fugir da escola pulando algum muro, mas o seu salto e a saia nova da cor branca não permitiam que ela o fizesse.
   Desceu do 3º andar, obstinada a se recompor e fingir que nada aconteceu e chegou ao primeiro andar, tão distraída que mal percebeu o que aconteceu em seguida:
   - Você ficou maluca? - Jared a segurou pelo braço com força para impedir que ela fugisse.
   - Aí! - Ela chiou assustada. Os olhos do garoto possuíam um brilho no mínimo intimidador. - Me solta.
   - Primeiro você bebe com um monte de estranhos e sai louca pelas ruas e agora ameaça bater na Camille? Qual o seu problema?
   - Me solta! - Tornou a repetir, dessa vez sacudindo o braço. Jared a obedeceu, mas ela não foi embora como ele pensou que ela faria. Os dois então ficaram se olhando à uma distância razoavelmente curta. - Já devia saber que aquela sonsa iria correndo contar pra você. - Riu sem humor.
   - Por que fez isso? - Perguntou sem mais sombras da raiva de antes. Ele só queria entender.
   - Porque ela me chamou de vadia. - Disse, sem rodeios. Jared olhou fundo em seus olhos, percebendo a fragilidade em que a garota se encontrava. Sentiu-se abalado por isso, mas tentou não demonstrar. - Devia conhecer melhor a sua namorada.
   - Ela não é mais minha namorada. - Sentiu-se idiota, pois a frase soou como se ele devesse alguma explicação para ela; como se precisasse muito que ela soubesse daquilo.
   nada respondeu, sem ação. Milhões de coisas vinham à sua mente e ela tentava refutar aqueles pensamentos que lhe diziam que ela era a razão daquele término.
   Ao ver que ela nada responderia, Jared continuou:
   - Nós terminamos pela manhã.
   - A senhorita perfeição não é tão boa assim? - Perguntou com arrogância, subitamente irritada: por que ele estava dizendo tudo aquilo para ela afinal?
   - Não como eu gostaria. - Ele a encarou profundamente, causando-lhe arrepios. não fazia ideia de como acontecera, mas agora eles estavam ainda mais próximos.
   Sentiu o peso dos olhos de Jared sobre os seus, junto ao peso das palavras que ele acabara de dizer. O silêncio ali era absoluto e, assim que Jared deu um sutil passo para mais perto dela, o pânico começou a tomar conta de si. Em sua mente, flashes de tudo o que já acontecera entre os dois começou a passar rápido, como um filme acelerado e ela começou a sentir-se claustrofóbica.
   Ficou tonta e seu estômago deu uma volta. Ela precisava sair dali rápido antes que algo acontecesse.
   Jared estava tão absorto na tarefa de memorizar os traços do rosto da garota, tão perto ao seu, que nem se preocupou em assegurar-se de que ela permaneceria ali, deixando-a totalmente à vontade para fazer o que ela fez: correr para o grande portal de entrada, no exato segundo em que o sinal para o fim das aulas bateu.
   Quando se deu por si, Jared estava novamente largado num corredor que começava a encher de alunos já fatigados de uma semana inteira de aula e ansiosos por aproveitar a noite de suas sextas-feiras.
   como sempre não olhou para trás, concentrando-se em não deixar as lágrimas escaparem de seus olhos. No entanto, a consequência disso foi que ela não conseguiu enxergar o garoto que estava em sua frente, chocando-se fortemente contra seu peito.
   - Ai me desculpa, eu...
   - ? - O garoto a encarou com um grande sorriso enquanto ela secava os olhos com as mãos. Ao ouvir seu apelido ser pronunciado com tanto carinho, levantou o rosto para o garoto, não podendo deixar de sorrir de volta.
   - Jordan? Cara, o que você faz aqui? - Jogou os braços ao redor de seu pescoço, ficando na ponta dos pés para isso, enquanto ele lhe abraçava pela cintura. Jordan a segurou com força e a rodopiou, fazendo-a gargalhar.
   De longe, Jared assistia à cena sem entender e ainda assim querendo ir até lá e arrancá-la dos braços do outro.
   - Hmmhmm - ouviu alguém pigarrear atrás de si e virou-se, encontrando ninguém mais ninguém menos do que Alex Gaskarth, um dos irritantes amigos de seu meio irmão. - Eu to bem claro, obrigado por perguntar. - Alex riu com sarcasmo.
   - Alex! - Apesar de não gostar muito do garoto, o abraçou também, percebendo que tinha sim saudades dele e dos outros garotos. Sentiu até uma vontade estranha de ligar para Jack, que a fez balançar a cabeça para afastar o pensamento maluco.
   - Meu deus, o que vocês fazem aqui? - Perguntou animada, voltando aos braços de Jordan, que a recebeu sem protestar.
   - ! - surgiu do nada, assustando a amiga e os dois garotos com ela. – Dude, onde você tava? Sumiu o intervalo inteiro e as meninas disseram que você perdeu as últimas aulas. - Tagarelava, parecendo nem perceber que a outra estava acompanhada.
   - Ih cara, eu deveria falar pro Jack que a irmãzinha dele tá virando uma desordeira? - Alex olhou para com zombaria, enquanto essa rolava os olhos.
   - Irmãozinho? Desculpa, quem são vocês? - analisou Alex de cima à baixo, sem nem ao menos disfarçar. Percebendo que estava sendo descaradamente observado, o garoto fez o mesmo, demorando-se mais do que o recomendado nas pernas descobertas da garota.
   - Alex Gaskarth, prazer. Sou amigo do Jack, irmão da aqui. - Ele disse todo galante, esticando a mão para .
   - Engraçado, a nunca me disse que o Jack tinha amigos gatos. Eu imaginava você e os outros um bando de nerds estranhos. - Deu a sua mão em retorno, sorrindo maliciosamente. - . - Alex beijou as costas de sua mão sem desviar seus olhos dos dela.
   - Encantado.
   - Eu não sei se tem alguma relevância, mas eu sou Jordan. - O outro garoto de cabelos compridos que abraçava por trás disse num tom que até achou meigo. Ela sorriu para ele.
   - Jordan? - Olhou para com um meio sorriso. - Aquele Jordan?
   - Tem mais de um? - Jordan perguntou à , obrigando-a a virar desconfortavelmente o pescoço para ele.
   - Claro que não. - Deu a língua. - Mas vocês ainda não disseram por que estão aqui.
   - O Alex se convidou pra passar o natal na minha casa e trouxe o Jordan com ele. - Kennedy chegou à roda com um sorriso torto que murchou assim que reparou que Alex segurava uma das mãos de .
   - Você vai ficar até o natal? - perguntou esperançosa à Jordan.
   - Não, na verdade só vou ficar por alguns dias.
   - Parece que vocês já se enturmaram, não? - Kennedy disse alto, sentindo-se desconfortável. Fez questão de passar entre e Alex para separar suas mãos.
   - Nossa, que privilégio a Gaskarth vindo nos buscar na escola. - John veio sorrindo, com Jared logo atrás. Esse tinha a cabeça baixa e olhou rapidamente para e Jordan, que tinha as mãos em volta da cintura da garota e o queixo apoiado em seu ombro.
   - Vai se foder, veado. - Alex lhe deu um soco no braço.
   - Tá, enfim! - virou-se para . - Vocês vão ter tempo para tirar o atraso depois. Agora você vem comigo porque a quer nos dizer alguma coisa importante e quero chegar logo em casa!
   - Ok. - respondeu baixo, envergonhada. Virou-se de frente para Jordan: - Nos vemos depois?
   - Claro. - Ele sorriu fofo. - Eu te ligo.
   - Certo, vou esperar. - Ela retribuiu, ficando na ponta dos pés para lhe dar um beijo estalado na bochecha. Quando virou-se novamente para os outros, seu olhar encontrou-se com o de Jared e sentiu-se estranha. - Vamos logo. - Puxou consigo, querendo sair logo dali.
   - Ai, até mais, garotos! - acenou, piscando especialmente para Alex, que sorriu torto para ela.
   Kennedy percebeu isso, fechando a mão em punho e rangendo os dentes.

- Porra, , trogloditas com instrumentos musicais uma ova! Aquele cara é gaaaato! E gostoso também. Aposto que canta muito!
   - Ah não, , você não pode ver um pinto que já fica acesa. - rolou os olhos.
   - Por que nós não vimos esses garotos? - fez bico.
   - Primeiro porque você tem namorado e tem que tirar o olho e deixar alguma coisa para as solteiras e depois porque vocês foram direto pro estacionamento. - piscou. - Vocês também perderam a chance de ver o Jordan-mega-gato-ex-da-.
   - Cala a boca. - corou.
   - Cara, você tem que nos contar! - pediu.
   - A gente ficava quando eu morava em Baltimore. - Deu de ombros. A expressão de Jared ao vê-la com o outro fizera com que ela perdesse todo o entusiasmo que sentira antes. Estava confusa.
   - E o que mais? - perguntou esperançosa, encarando a amiga com olhos pidões.
   - Não tem mais. Ele viajou nas férias, eu conheci o Jared, depois vim pra cá e nós nunca mais nos falamos.
   - Até agora. - sorriu com malícia.
   - Para! Não vai rolar nada. - Disse , prestes a chorar.
   - Se você me disser que isso tem a ver com o Monaco, eu pulo do meu terraço. - disse seria.
   - Eu não posso, é errado. E ele nem ao menos vai ficar até o natal. Eu estou confusa!
   - Você podia pegar ele só pra fazer ciúmes no Jared então. - sugeriu. a olhou como se ela houvesse dito algo totalmente errado.
   - Não, isso é muito idiota, se ela quiser ficar com ele, vai ser por opção. Fazer ciúmes só vai deixar todos os envolvidos machucados. - argumentou. Ninguém parecia perceber que estava anormalmente quieta, amuada no canto da cama.
   - Eu vou embora. - Disse por fim, fazendo com que todas a olhassem sem entender.
   - O quê? - Foi quem perguntou.
   - Meus pais vão se separar. Eu vou morar com minha mãe em Denver. - Disse, segurando o choro.
   - Meu deus, , quando? - chegou mais perto dela, colocando seu braço ao redor do pescoço da amiga.
   - Em menos de uma semana. - Conseguiu dizer, deixando as lágrimas que tanto segurara caírem. foi a primeira a abraçá-la, sentindo-se desorientada. Logo as outras se integraram ao abraço, formando um bolo de garotas.
   Em poucos minutos, todas estavam chorando e se abraçando, inconformadas. Jamais haviam se imaginado umas sem as outras, mesmo com toda a confusão recente em suas vidas.
   As cinco se completavam e a simples ideia de que uma delas partisse já deixava um peso fúnebre no ambiente. Permaneceram neste clima desolador durante todo o dia, tentando consolar-se pela nova ferida aberta.
   - O Pat já sabe? - perguntou.
   - Sim. - fungou. - Desculpem ter contado para ele primeiro, mas...
   - Shiu, não importa. Pelo menos você não guardou isso sozinha o tempo todo. - tirou um lencinho do bolso e ofereceu à amiga, que o pegou sorrindo.
   - A última pessoa que eu imaginaria com um lenço. - Riram.
   - Sabem como é, um lenço pode ser útil para muitas coisas e...
   - Que nojo! - gritou, jogando o pequeno pano branco bordado em dourado com as iniciais de de volta na amiga.
   - Ei, mas tá limpo!
   - Não importa como eu vou saber se isso já foi usado para fins pecaminosos? - apontou, gritando. sacudiu os ombros, a expressão em seu rosto denunciando-lhe. - Que absurdo! Lenço do demônio! Tá contaminado de pecado, que horror!
   - Cala a boca, . - lhe deu uma ombrada de leve, rindo. Depois disso, todas se abraçaram novamente e assim permaneceram até o cair da noite.
   Todas decidiram dormir lá, as cinco dividindo a cama de casal de . Obviamente faltaria espaço e seria desconfortável, mas nenhuma queria trocar o calor da amizade entre elas pelos frios sacos de dormir que ficavam no pequeno armário no canto do quarto de .

Capítulo XXXII

adorava ter as amigas dormindo em sua casa, mas odiava o fato de todas serem preguiçosas e a obrigarem a ir sozinha comprar café da manhã.
   - Devia ter comprado só um muffin pra cada uma pra deixá-las morrendo de fome depois. - Disse baixinho para si mesma, deixando um pequeno sorriso maldoso brotar em seus lábios.
   Realizava quase que automaticamente o trajeto de volta do 8123, quando ouviu alguém a chamar e parou, virando-se para trás:
   - Ei! - sorriu, enquanto o amigo dos losers atravessava a rua correndo para encontrá-la.
   - Cuidado! - Gritou de volta, fazendo-o parar instantes antes de um carro passar a apenas alguns milímetros do rapaz. O homem dentro do carro buzinou com raiva, xingando-o.
   riu, enquanto Alex chegava até ela envergonhado.
   - Oi. - Ele disse, coçando a nuca.
   - Oi. - Sorriu para ele. - Você é sempre assim atrapalhado?
   - Só diante de garotas bonitas. - Ele piscou com força.
   - Ah claro, isso costuma funcionar?
   - A cantada? Me diz você. - Sorriu esperto.
   - Desculpa. - Ela franziu o cenho. - Mas eu te deixo tentar de novo outra hora.
   - Você vai assistir os caras tocar hoje? - Alex perguntou entusiasmado.
   - Claro, não perco um show. Eles podem ser idiotas, mas tocam bem.
   - Eles não pararam de tocar na minha cabeça nessa madrugada, não aguento mais ouvi-los. Mas, se você vai, já arranjei um bom motivo pra dar uma passada lá. - Ele a olhou sugestivo e ela riu pelo nariz.
   - Você tem sorte em ser bonito e fofo, porque é péssimo em cantadas.
   - Mas você não parou de sorrir desde que nos encontramos, então, ponto pra mim. - A garota abriu a boca para retrucar, mas não encontrou palavras. Por fim desistiu, deixando-se sorrir junto a Alex.
   - Posso te perguntar uma coisa?
   - Não, eu juro que minha história com o Jack é só amizade! - Ele gritou, deixando a menina com um grande ponto de interrogação na testa.
   - O quê?
   - Nada. - Riu. - Diga.
   - Você me encontrou e começou a me seguir. Pelo menos você tem alguma ideia de para onde estamos indo?
   - Ér... - Ele olhou em volta, tentando identificar algum ponto de referência, mas foi em vão. - Eu sou novo aqui, mereço um desconto. Além do mais, não estou te seguindo, só me certificando que você vai chegar bem no seu destino.
   - Hum.
   - É que eu não tenho um carro aqui, mas encare como uma carona.
   - Certo, vou fazer isso. - Rolou os olhos, mesmo que tivesse vontade de sorrir. Há tempos um garoto não era assim tão fofo com ela.
   Inconscientemente, seus pensamentos a levaram à Kennedy. Ele era tão diferente desse garoto atrapalhado ao seu lado.
   - Você tá pensando demais. - Alex deu um cutucão leve em sua cabeça, fazendo uma expressão fofa.
   - Não gosta de garotas que pensam? - Desafiou.
   - Gosto, mas geralmente elas pensam em outros caras quando estão comigo. - Ela riu forçado.
   - Não tem outro cara, acredite. - Alex a encarou em silêncio por um minuto, e por fim sorriu dando de ombros.
   - Ok. Não me ache covarde, mas gosto de saber que não vou ter que enfrentar um cara de três metros e quinhentos quilos pra chegar perto de você. Quer parar de rir de mim? - Ele aumentou o tom, sorrindo envergonhado. gargalhou. - Não é engraçado.
   - Desculpa, você é o cara mais fofo que eu já conheci.
   - Espero que você não esteja achando que eu seja gay. - Ele arqueou uma sobrancelha, ficando parcialmente sério.
   - Se eu estiver como você me fará mudar de ideia? - Ela o desafiou de volta, vendo um pequeno sorriso brotar no canto de seus lábios.
   - Você vai comigo no pub essa noite. - Disse ele.
   - Vou, é?
   - Vai. Caso o contrário, nós não teremos a chance de terminar o que começamos.
   - Perdão, o que exatamente nós começamos? - Ela parou na frente de sua casa. Olhou para rua e se distraiu momentaneamente: podia ver ainda o carro de Kennedy estacionado ali, sob a chuva, enquanto a garota corria para fora, fugindo dele.
   Quando virou-se novamente para Alex, só teve tempo de levantar os braços, enquanto ele a segurava pela cintura, encostando seus lábios nos dela com certa força, mas com uma delicadeza com que há tempos ela não era beijada. Ela tentou aprofundar aquele simples roçar dos lábios de Alex nos seus, mas ele se afastou antes que o beijo se intensificasse, deixando-a desorientada.
   - Até mais tarde, pequena. - Alex voltou a se aproximar para lhe dar um beijo na testa, e depois voltou pelo caminho que fizera com ela.
   ficou ali parada com um sorriso bobo no rosto e o dedo indicador no lábio até ver o garoto dobrar a esquina, sumindo do alcance de sua visão.

Ela seguia seu caminho sorrindo, sentindo-se leve como há muito não se sentia.
   Chegou ao local combinado, uma praça florida, com um playground infantil de um lado e alguns bancos de metal pintados de branco do outro.
   Sentou-se, mexendo na barra de sua saia incrivelmente curta até que ele chegasse.
   Uma rajada de vento mais forte bateu em seu corpo, fazendo-a se abraçar.
   Droga, devia ter ao menos pego um casaco. Pensou, fazendo careta. A regata que escolhera também não ajudava
   - Não é porque o Arizona é o estado mais quente dos EUA que você pode sair assim todos os dias do ano, sabe? - Aquela voz fofa, que ela sempre adorara sorriu por trás dela, e logo Jordan estava ao seu lado, em pé, lhe oferecendo seu casaco. Quando ela esticou a mão para pegá-lo, já agradecendo, ele se esquivou, colocando ele mesmo a roupa na garota.
   - Sempre tão prestativo. - Ela sorriu. Jordan sentou ao seu lado em silêncio, e assim permaneceram por um minuto.
   - Eu queria ter me despedido. - Disse num tom meio triste.
   - Eu também.
   - Engraçado, porque meio que me pareceu que você fugiu de mim. - Eles se olharam. O tom e a expressão no rosto de Jordan não era acusadora, nem de raiva. Ele apenas parecia triste.
   - Eu não...
   - O Jack me contou sobre o Monaco. Tive a chance de conversar bastante com ele ontem. Ele parece ser um cara legal. Não acho que faça muito o tipo que você costumava ter. - Ele sorriu sozinho. - Mas ele é gente boa.
   - Eu e ele não temos nada. - Disse, como se se justificasse. Jordan sorriu nasalado, tocando suavemente a bochecha da garota, enquanto lhe fazia carinho com o polegar. fechou os olhos momentaneamente, aproveitando o carinho. Pendeu a cabeça para o lado da mão do garoto e relaxou.
   - Vocês se gostam. - Ela abriu os olhos para ele. - E você não precisa ficar com receio de me dizer a verdade. Nós sempre fomos amigos, certo? - Balançou a cabeça, confirmando. - Eu amo você, por isso estou aqui.
   - Como assim? - Perguntou confusa.
   - O Jack me contou que você andava tomando muitas decisões erradas. - Ela bufou. - Ei, não fica zangada com ele, ok? Ele quer o melhor pra você.
   - Ele tenta controlar minha vida!
   - Bom, você conhece o Jack, ele é um coruja super protetor. - Riram. - Mas enfim, foi por isso que eu vim.
   - Espera, você veio até aqui pra me fazer ficar com o Jared?
   - Também. - Um sorriso torto e pretensioso se abriu nos lábios do garoto.
   - Jordan? - Chamou um tanto receosa.
   - Eu também precisava desesperadamente fazer isso... - Antes que a garota pudesse perguntar o que era isso, Jordan inclinou-se sobre ela, beijando-a.
   o recebeu com volúpia, acompanhando seus movimentos sedentos e precisos. Cruzou seus braços ao redor do pescoço do garoto, enquanto este a segurava pela cintura.
   - Isso não é um pouco contra as regras do seu objetivo? - arfava, enquanto sentava-se sobre o garoto, virada de frente para ele. Os lábios de ambos estavam vermelhos e inchados.
   - Eu não sou de ferro. - Ele suspirou. - Eu realmente senti sua falta.
   - Você tá pegando a Georgina agora? - Perguntou, lembrando-se de uma garota que sempre dava em cima de Jordan.
   - Aham. - Ele franziu o cenho, sem entender onde a garota pretendia chegar.
   - Então é meio óbvio porque sentiu tantas saudades assim. - Riu. Jordan rolou os olhos.
   - Para de falar e me beija, antes que o encanto suma. - Ele disse por fim, e, antes que a garota pudesse protestar, ele já colara seus lábios nos dela novamente.
   A sorte de ambos era que não havia ninguém ali, pensava , enquanto sentia as mãos de Jordan passearem com objetividade por toda a extensão de suas costas, por baixo da camiseta que usava, causando-lhe arrepios.
   Continuaram naquela troca de carinhos por horas, até que fossem trazidos de volta à realidade, graças a um telefone desesperado de .

- Vai logo! - apressava as amigas, querendo chegar logo ao pub. Sabia que Alex já devia estar lá à essa hora e não queria dar espaço para nenhuma zinha que frequentava o lugar roubá-lo dela.
   No começo, encarara aquilo como uma oportunidade imperdível para matar Kennedy de ciúmes, mas, depois daquele curto período de tempo em que passara com Alex, sentia-se inclinada em conhecê-lo melhor. Gostara do jeito dele de agir e de tratá-la e esperava que, ao menos por algum tempo, ele pudesse fazê-la se esquecer de Kennedy.
   Sim, precisava tirar Brock de seus pensamentos e esperava que Alex pudesse ajudá-la nisso.
   - Estamos prontas, falta só a dona resolver sair do banheiro.
   - Ei, ela tem que estar irresistível para o O'Callaghan se sentir mal por estar sendo escroto com ela. - gritou de dentro do banheiro, onde ajudava a terminar de arrumar o cabelo.
   - Cala a boca, . - Ouviram repreende-la, sem humor.
   As garotas do lado de fora se entreolharam sorrindo.
   - Tem certeza que meus pais não vão ficar sabendo de nada? - perguntou apreensiva. Mesmo sem concordar muito, estava se deixando ser levada para o pub naquela noite, graças ao histerismo de suas amigas.
   - Temos sim, vamos logo. - rolou os olhos, irritada com a enrolação das amigas.
   De tanto insistir, meia hora depois, elas estavam prontas e chegando ao pub, onde a The Maine tocaria dentro de poucos instantes.
   - , já disse que morro de inveja do seu guarda-roupas? - disse, referindo-se ao vestido de couro colado que a amiga usava.
   - Você veio pelo Kennedy ou pelo Alex? - perguntou, em um tom maternal de você está fazendo tudo errado.
   - Pelo Alex, oras. - Deu de ombros, com um sorriso brilhante, fitando o palco.
   - Sei. - A outra a encarou por um minuto, antes de puxar para dançar. - Vamos lá pra frente para podermos ver nossos namorados de pertinho.
   - Claro. - sorriu ao pensar em Garrett, seguindo a amiga.
   - Eu sabia que você viria. - Ouviu a voz de Alex soar rouca e provocante em seu ouvido e tremeu.
   - Ah não, vamos sair daqui, . - rolou os olhos, procurando por um rosto conhecido entre a multidão. Ao encontrá-lo, deixou-se sorrir e entendeu tudo.
   - Vou procurar as meninas. - Rolou os olhos, sorrindo para a amiga em seguida. Não entendia direito o rolo dela com o garoto de fora da cidade, mas ficava aliviada em ver que ela não estava sofrendo pelo guitarrista da The Maine.
   - Oi. - corou ao encontrar-se com Jordan.
   - Oi. - Ele respondeu.
   - Você quer dançar?
   - Você está linda. - Eles disseram juntos, rindo disso.
   - Vamos lá pra frente, a The Maine daqui a pouco toca. - Disse Jordan, envolvendo a mão da garota com a sua e levando-a para mais perto do palco.
   Por estar perto do natal, o pub todo estava decorado num clima natalino. As luzinhas de natal estavam presentes, assim como um grande visco artificial estrategicamente colocado em um lugar de destaque, mas não no meio do salão, que atraía casais apaixonados, procurando por momentos românticos de puro clichê.
   - Como você consegue? - Alex perguntou de um jeito fofo.
   - Consigo o quê? - virou-se para ele. Estavam os dois no bar, esperando serem atendidos.
   - Ficar ainda mais bonita a cada vez que eu te vejo.
   - Tá quase. - Ela riu.
   - Quase o quê? - Perguntou sem entender.
   - Quase conseguindo alguma coisa com suas cantadas.
   - Eu não to te cantando. - Alex disse, parecendo ofendido. - Eu não sei como é o tipo de cara com quem você costuma sair, mas eu não brinco com as pessoas. Você não precisa ficar com a guarda levantada o tempo todo.
   - Perdão, mas como eu deveria agir? - Ela perguntou arrogante. Era só o que faltava um garoto estranho lhe dizer o que ela deveria ou não fazer.
   - Devia sorrir como você fez de manhã e aceitar meu elogio. - Ele lhe sorriu e ela acabou cedendo. - Isso, assim é melhor.
   - Idiota. - Deu a língua.
   - Idiota? Achei que eu fosse o cara mais fofo que você já conheceu - Alex imitou voz de garota, fazendo gestos engraçados.
   - Cala a boca. - Ela riu.
   Logo o DJ parou de tocar e tudo ficou escuro, anunciando que a The Maine começaria seu show em instantes.
   e Alex acabaram sendo empurrados para longe do palco, mas mesmo assim ainda tinham uma visão boa. Alex foi o único dos dois a perceber onde eles estavam e sorrir satisfeito.
   - E ai, galera? - John chegou ao palco com o restante do grupo, recebendo aplausos. Avistou praticamente na sua frente e, pela primeira vez em toda a semana, deixou-se olhar de verdade para ela. A garota sustentou seus olhos nos dele, e assim permaneceram até Kennedy pigarrear ao seu lado, despertando-o.
   Pat e Garrett avistaram cada um a sua garota e sorriam para elas. Kennedy e Jared também procuravam certas meninas, mas somente Jared encontrou , preferindo não tê-lo feito. Não enquanto ela estava de mãos dadas com Jordan, a apenas alguns metros de distância dele.
   Virou o rosto, olhando para um ponto qualquer da plateia.
   - Bom, como alguns de vocês sabem, temos passado por coisas malucas esses dias! - Olhou para de novo, e depois para as outras garotas. - Nosso amigo Jason, novo dono do pub, nos disse que drama do coração é sempre legal pra fazer música, então aqui vai a primeira que surgiu assim, do coraçãozinho do nosso baterista:
   - Essa música se chama Saving Grace! - Kennedy completou, começando a tocar.

I walk the tight rope
   On my way home
   You're my backbone
   I know you're somewhere close behind me
   I walk the fault line
   In a dirt field in the springtime
   I feel the wind start to remind me of you
   and the sweet talk on the sidewalk
   It's true, all I know is...

e Pat mantiveram contato visual durante todo o tempo. Eles não sorriam; só se olhavam como se dependessem um do outro para continuar.
   A voz de John era suave e deixou a sala toda num clima apaixonado.
   sentiu seu estômago se retorcer.

All we have is what's left today
   Hearts so pure in this broken place
   'Cause we are, we are, we are
   we are, we are, we are
   Lovers lost in space
   Searching for our saving grace

Uma lágrima escorregou de seu olho direito e ela nem se preocupou em secá-la. Estava vidrada em Pat, em seus olhos nos dela, naquela música.
   Ele não podia fazer com que ela se apaixonasse ainda mais quando ela estava prestes a partir, não era justo.

And I still remember
   How your lips taste
   On Holidays
   You leave in December
   What can I do to make you stay?
   'Cause we won't fade away
   We'll find peace while others change,
   And I know you're somewhere close behind me
   And it's true, the sweet sound
   In the background
   It's you
   All I know is...

Não, ela não podia partir. Ela não podia deixá-lo agora e nunca. Não podia deixar nada daquilo.
   Olhou para , que apertou sua mão com a dela, sorrindo-lhe compreensiva. Do outro lado estava , também envolvendo sua mão.
   Ela conseguira tantas coisas ali. Coisas que ela nunca imaginou ter. Ela amava e era amada.

All we have is what's left today
   Hearts so pure in this broken place
   'Cause we are, we are, we are
   We are, we are, we are
   Lovers lost in space
   We're searching for our saving grace
   Oh yeah...

Não, ela definitivamente não podia ir embora. Faria qualquer coisa, aguentaria as consequências, mas não abandonaria seus amigos.
   Porque, naquele momento, ela percebeu que jamais seria tão feliz em outro lugar como era ali. Nada substituiria seus amigos, seu amor.
   Mesmo que ela viesse a ter outras amizades e outros romances, nada se compararia àquilo, porque aquilo era real.
   Pat era real, , , e eram reais.

Keep on searching
   Keep on searching
   Keep, keep
   Keep, keep

Ela ficaria.

I walk the tight rope
   You're my way home
   You're my backbone
   You'll always be here right beside me

John cantava agora com mais emoção e casais já se beijavam por todo o lado, de modo que era até desconfortável assistir.
   Em certo momento, deixou-se olhar para um casal de sua escola quase se comendo perto de si e logo depois virou-se para Alex, que a fitava de volta com desejo.
   Ao som da música, Alex se aproximou suavemente e tocou seus lábios nos dela, iniciando um beijo calmo como as batidas de Saving Grace. E não se separaram até a música acabar. E John voltar a falar, nervoso:
   - Uh, parece que o Ken cansou de tocar com a gente. - Disse, com um pequeno sorriso sem graça, enquanto via o guitarrista ir para os fundos do palco.
   ouviu aquilo e se separou de Alex, olhando para o palco. John e Garrett a encaravam com censura.
   - Ele deve ter quebrado a unha. - Garrett brincou, fazendo o público rir.
   - Quem sabe se nós chamarmos bem alto ele volta? - Jared deu a ideia.
   - Isso, boa. Vamos lá gente. - John incentivou e aos poucos todos começaram a chamar o nome de Kennedy.
   começava a se sentir mal, mas a mão de Alex segurou a sua com carinho, deixando-a mais relaxada. Ele não sabia o que acontecera para deixá-la tensa, mas se dependesse dele, aquilo não duraria.
   Olhou para cima, sorrindo e acompanhou seu olhar, só então percebendo onde estavam: embaixo do visco natalino.
   Depois de dois minutos chamando, quando o coro estava morrendo, Kennedy voltou para o palco, fazendo todos gritarem.
   - Desculpe, gente, probleminha com a guitarra. - Sorriu amarelo. - E Garrett, não pense que eu não ouvi o que você disse. - Se fingiu de bravo.
   - Você me castiga mais tarde. - Garrett fez voz de gay. Kennedy riu, fazendo careta. - Agora vamos tocar porque já desperdiçamos muito tempo, o que acham? - A plateia consentiu.
   - Essa música é do John, fiquem quietinhos para ouvir. - Jared se pronunciou, começando a tocar.

We're too young
   This is never gonna work
   That's what thay say
   You are gonna get hurt
   But I know something they don't

John olhava diretamente para , piscando para ela ao cantar a última parte. Ela deixou o queixo cair.

I hear you heart beating right in time
   Right from the start I knew I had to make you mine
   And now, I'll never let you go
   Don't they know love won't lie

Algumas garotas deram gritinhos, mas John olhava para de um modo tão profundo que ela mal teve como sentir-se enciumada. Queria subir no palco e beijar o namorado como há tanto tempo não fazia.
   Percebeu o quão grande era a saudade que sentia do garoto e teve que se conter para não chorar também. Foi a vez de apertar sua mão. Riram uma para a outra.

Don't listen to the world
   They say we're never gonna make it
   Don't listen to your friends
   They would've never let us start
   And don't listen to the voices in your head
   Listen to your heart

Viu que sorria sem parar para Garrett, que vez ou outra fazia alguma gracinha para ela no palco. também trocava sorrisos cúmplices com Pat e então ela se pegou perguntando o que estava fazendo.
   Perdendo tempo, isso sim. Ela podia estar feliz como as outras.

This promise, doesn't have to be too loud
   Just whisper I can find in you in a crowd
   I think it's time we ran away

Sorriu sem humor, percebendo o quão idiota estava sendo por deixar que qualquer coisa atrapalhasse sua relação com John.
   Ela o amava, certo?

Your father
   He says i'm not good enough then
   Your mother she thinks that this is just a phase
   I think that we should run away

soltou um som baixo em protesto, pois o garoto não a olhava mais. Encarou aquilo como um castigo e bufou.
   Não estava sendo fácil para ela também. Nunca fora.
   Mas ele sofrera mais. Era ele quem sempre corria atrás dela e a fazia se sentir especial, enquanto ela o desprezava e o tratava como um nada. Fora ele quem a lembrara de que ela era mais do que somente aquilo que todos viam, que ela podia fazer coisas além de que ela pensava poder fazer. John lhe mostrara todo um novo mundo e desde o início ela só o fizera sofrer.

It will tell the truth
   It will set you free
   It will say that you were meant for me
   And this is where we supposed to be, yeah

Mas agora que entendera tudo, mudaria aquilo. Não desistiria dele como chegara a pensar em fazer, mas correria atrás de seu amor. Queria voltar a ser feliz como vinha sendo desde que concordara em abrir a porta da barreira que ela colocava entre ela e o garoto e não fazia sentido voltar a fechá-la agora.

Listen to your heart

John O'Callaghan POV mode ON

A música acabou e saímos do palco para uma pequena pausa. O pessoal aplaudia veementemente, mas eu só conseguia pensar em uma pessoa naquele momento:
   - Ela veio.
   - Veio, seu gay. - Jared me deu a língua
   - Eu te disse. - Kennedy disse sério, sem aquele humor estranho que eu gostava. O olhei com pena. - Eu to bem, ok?
   - Você devia ter aberto o jogo pro Alex. - Disse Garrett.
   - Agir como um idiota e dar esse gostinho para a ? Nunca.
   - Teimoso. - Balancei a cabeça, saindo da sala. Se Kennedy estava naquela merda a culpa era unicamente sua e de seu orgulho. A também não ficava atrás.
   Fechei a porta, distraído e me virei para o corredor, vendo a forma da pessoa que eu via todas as noites em meus sonhos se materializar nele.
   Aos poucos a surpresa foi se transformando em alegria e, quando ela correu para mim, abracei-a com toda a força que pude, sentindo o adorável perfume de seus cabelos. Então ela saiu dos meus braços, mas só o suficiente para, na ponta dos pés, conseguir alcançar a minha boca.
   O beijo era feroz e saudoso, mas não durou muito. Quando ela se afastou, a olhei sem entender nada.
   - Vem. - Ela me puxou.
   - Pra onde? Eu tenho que voltar pro palco daqui a pouco. - Expliquei, achando que ela parecia um tanto quando maluca.
   - Vamos fugir. - Ela sorriu sugestiva, fazendo referência à música. Me senti arrepiar com aquilo.
   - Mas... - Tentei dizer que não podia abandonar os caras, mas eu a deixava me arrastar para os fundos, onde havia uma porta de saída.
   - O Kennedy pode cantar! - Disse ela, como se adivinhasse meus pensamentos.
   Desisti de tentar argumentar, decidido a aproveitar aquilo.
   - Ok, pra onde vamos? - Perguntei, puxando-a para irmos mais rápido. Ela sorriu, percebendo que eu entrara no jogo. Cara, ela tinha um sorriso tão lindo.
   - Ainda não sei! - Ela gritou rindo, enquanto corríamos sem uma direção exata no meio da rua. Pelo menos eu achava que era um caminho qualquer, porque depois de um tempo correndo, paramos num ponto de ônibus.
   - Seu plano é entrar no primeiro ônibus que aparecer? - Perguntei inseguro. Será que ela estava bêbada?
   - Isso mesmo. - Me puxou novamente, dando sinal para um ônibus que passava naquele momento. Entramos e eu cacei algum dinheiro no meu bolso para pagar as passagens.
   - Pra onde esse ônibus vai? - Perguntei ao motorista, mas não o deixou dizer.
   - Não, vem. Vamos deixar que ele nos surpreenda! - Disse alto e o homem nos olhou como se fossemos loucos. Éramos os únicos passageiros ali.
   Fomos até o fundo do ônibus e ali permanecemos durante algum tempo.
   Não conversamos, mas não foi algo desconfortável; só estávamos curtindo ter a presença um do outro de novo.
   colocou sua mão sobre a minha e me olhou nos olhos sorrindo.
   Cheguei a me aproximar dela para beijá-la quando ela me fez levantar abruptamente e correu comigo para fora do ônibus.
   - Onde estamos? - Olhei em volta, reconhecendo uma praia onde eu ia às vezes com meus amigos. Cara, nós estávamos longe.
   - Numa praia seu idiota, vamos nadar! - Ela saiu correndo feito maluca.
   Estava escuro e não havia sequer mais uma alma viva por ali.
   As coisas que vieram à minha mente me fizeram tremer e só voltei a mim mesmo quando ouvi um gritinho de de longe. Corri atrás dela, encontrando-a já descalça, com os pés na água.
   - Tá gelada! - Ela reclamou.
   - É? - Perguntei sorrindo maldoso e ela não teve muito tempo de fugir quando percebeu o que eu pretendia.
   - Não! John, me solta! Paaaaaara! - Gritou, quando a peguei no colo e a joguei na água. Como ela não soltou o meu pescoço para cair, acabei indo junto com ela. - Bem feito. - Riu.
   - Ah não, agora nós dois estamos molhados. - Reclamei, sem estar realmente bravo.
   - E daí se você está molhado? Meu vestido é branco, fino e meu cabelo que eu passei horas arrumando está arruinado!
   - Patricinha. - Ela me olhou boquiaberta.
   - Não sou patricinha.
   - Seu cabelo ainda está lindo. - Disse, tentando impedir que ela tivesse um ataque. Não era mentira, no entanto. Tudo nela era lindo.
   - Mas... - Ela parou, baixando o rosto. Parecia prestes a chorar. - Eu queria que...
   - Shiu. - A segurei pelo queixo, fazendo-a olhar para mim.
   - Eu queria te impressionar. - Confessou, ainda com vergonha. Meu coração palpitou mais rápido.
   - Olha ao seu redor! - Ri, fazendo gestos com a mão. - Você não precisa se esforçar para me impressionar ou me fazer ficar mais apaixonado por você. - me olhou, engolindo o choro.
   - Mesmo?
   - Mesmo. Além do mais, acho que seu vestido está bem melhor assim.
   - Apontei, fazendo-a olhar para si mesma. O tecido branco e, assim como ela dissera, fino, agora estava transparente e colado ao seu corpo, revelando todas as formas de seu lindo corpo. Ela pareceu envergonhada por um segundo e depois ergueu o rosto para mim, sorrindo com malícia.
   - Você acha que eu devo ficar com ele então? - Engoli em seco, enquanto ela lentamente baixava uma das alças de sua roupa e depois voltava a levantá-lo.
   - Eu... - Cheguei mais perto dela, colocando as mãos ao redor de sua cintura. A segurei com força, fazendo-a entrelaçar as pernas ao redor do meu corpo.
   Dessa vez eu tinha o controle da situação e a beijava com volúpia, enquanto encaixava a mão em sua coxa, subindo seu vestido quase até a sua barriga. Ficamos dentro d'água até começar a me sentir pesado e cansar de lutar contra as pequenas ondas e então fomos para a areia.
   Deitei-a sobre a areia fofa e quente, ajudando-a a tirar suas roupas molhadas enquanto ela fazia o mesmo com as minhas. Deitei-me por cima dela, colando meus lábios nos seus novamente.
   Nossas mãos procuravam o calor do corpo um do outro e eu me deixei pensar por um momento que talvez não tivesse sido uma ideia assim tão boa deixar nossas roupas molhadas.
   Tudo o que eu não precisava era ter doente por minha causa.
   Ela chiou sobre mim, pedindo minha atenção.
   - Não me deixa fazer isso de novo. Nunca mais. - Pediu como se sentisse dor. - Não consigo ficar sem você.
   - Não vou. - Disse, seguro. Nunca mais.
   - Eu te amo. - Ela disse. Não importava quantas vezes eu ouvia aquilo saindo de seus lábios, ela sempre me fazia sentir arrepios com aquelas palavras.
   - E eu amo você. - Sussurrei em seu ouvido, sentindo-a se arrepiar também. Sorri, voltando a beijá-la primeiro na boca e depois por todo o rosto, até chegar em seu pescoço e seus ombros.
   Sequer ligava se fosse deixar marcas por onde passava, tudo o que eu precisava era matar as saudades que eu tinha daquela boca, daquele corpo, daquela garota como um todo.
   E, mesmo que eu quisesse, não poderia parar.
   Sonhava com o momento em que estaríamos juntos de novo há vários dias e, agora que se tornara real, iria aproveitar cada instante.

Capítulo XXXIII

John Ohh POV ~mode ON~

Acordei com o vento forte batendo sobre o meu corpo, me fazendo tremer de frio. Olhei para o lado, vendo dormir tranquilamente. Sua pele estava levemente arrepiada, o que só podia significar que ela estava com frio.
   - Merda. - Praguejei baixo, para não acordá-la. Embora, tinha que admitir, era isso o que eu deveria fazer.
   Aquele vento forte de inverno, principalmente ali na praia, só serviria para deixá-la doente.
   E eu me mataria se ela caísse de cama por minha causa. Ou, talvez o pai dela me matasse primeiro.
   Não deveria estar reclamando; aquela fora uma das melhores noites da minha vida e era por isso mesmo que eu esperava poder fugir mais vezes com . Mas eu fora mesmo um idiota inconsequente por deixar aquilo acontecer daquela forma.
   Levantei-me, procurando nossas roupas espalhadas pela areia. Pelo menos o vento fizera algo bom, secando-as o suficiente para que eu pudesse vestir a camisa. Ela estava gelada, mas era melhor do que nada.
   Olhei para novamente, vestida apenas com suas roupas intimas, respirando suavemente. Seus seios subiam e desciam de acordo com sua respiração.
   Tentei pensar em algum lugar para onde pudéssemos ir para fugir do frio, mas nada me ocorria. Não havia ônibus àquela hora e eu não conhecia ninguém que morasse próximo à praia.
   - John? - me olhou com sono. Percebi que estava com os dentes trincados e a postura tensa e tentei relaxar, para não entregar-lhe meu nervosismo.
   - Te acordei? - Fui me sentar ao seu lado, entregando-lhe seu vestido. Nossas mãos se tocaram e a sua estava gelada. Isso me deixou ainda mais frustrado.
   Idiota. Eu dizia amá-la, mas colocara sua saúde em risco num ato imprudente.
   - Não. Tava com frio. - Ela sorriu sem graça, vestindo-se rapidamente. - Tá tudo bem?
   - Não. Isso foi um erro. - me olhou, parecendo chocada e ofendida ao mesmo tempo e então percebi como soara. - Quero dizer, não... Foi tudo ótimo. Melhor do que isso, perfeito! Mas agora estamos presos aqui até o amanhecer e você está gelada. Se você ficar doente por minha causa, não vou me perdoar.
   - Ei, quem te arrastou pra cá fui eu! - Levantou meu queixo, para que a encarasse.
   - Mas eu. Eu fui inconsequente em ceder, mesmo sabendo que daria merda.
   - Você não pode curtir o momento? Meu deus, está parecendo o meu pai! - Resmungou mexendo nos próprios cabelos em sinal universal de nervosismo.
   - Eu to começando a entender porque ele não nos queria juntos. - Deixei escapar o que passava pela minha cabeça, me arrependendo de ter dito em voz alta assim que terminei de falar.
   - Você não disse isso. - balançava a cabeça em descrença.
   - Você merece muito mais do que eu jamais serei capaz de te oferecer.
   - Eu não consigo te entender, John! - Ela fez menção de se levantar e eu fiz o mesmo. então ficou parada, de costas para mim. Queria me aproximar e abraçá-la, dizer que eu não queria ter dito nada daquilo e me desculpar, mas eu seria ainda mais filho da puta se o fizesse. - Foi você quem me procurou, desde o começo. Quem sempre insistiu para que eu te desse uma chance, que me amou quando nem eu era capaz de fazê-lo. E agora, agora que eu estou completamente entregue, você quer terminar?
   - O quê? Não, espera. Eu nunca disse que queria terminar! Eu... - Cheguei mais perto dela, hesitando quando fiz menção de colocar as mãos em seus ombros. - Eu não acho que seria capaz de sobreviver sem você, agora que tive a oportunidade de experimentar o mundo ao seu lado. - Disse baixo, fitando a areia sob meus pés.
   Senti virar-se para mim e procurei seus olhos como um viciado procura por drogas.
   - Então por que... - Seus olhos estavam marejados e eu quis me afogar no mar por tê-la feito chorar.
   - Shiu, esquece o que eu disse, ok? - Envolvi-a com meus braços, sentindo-a enterrar o rosto na curva do meu pescoço. Acariciava seus cabelos com uma das mãos, enquanto a segurava com força com a outra.
   - Você ainda me ama, né?
   - Muito. - Beijei o topo de sua cabeça, sentindo seus olhos procurarem pelos meus. - O que foi?
   - O bastante pra não desistir, mesmo que as coisas fiquem difíceis?
   - Aconteceu alguma coisa? - Minha testa estava franzida de preocupação. O tom de voz dela não ajudava a dissolver minha angústia.
   - Vou tentar conversar com o meu pai de novo. - Ela parecia decidida. - Vou dizer tudo o que já deveria ter dito e, se ele ainda assim não nos aceitar, nós vamos fugir pra bem longe, o que acha?
   - Eu não acho que fugir seja uma boa solução, meu amor. - deixou o sorriso murchar. - Não é que eu não queira fugir com você! - Acrescentei rápido. - Eu seria capaz de deixar tudo pra ficar contigo, mas isso não te faria bem. Eu... Eu vou estar com você, quando você for falar com ele. Se você quiser, é claro. - Ela assentiu. - Ficaremos juntos ok? Agora e sempre, não importa o que aconteça.
   - Mesmo? - Sua expressão era tão fofa que tive que me segurar para não apertar suas bochechas e parecer um idiota apaixonado.
   - Mesmo. - Seus olhos brilharam quando sorri para ela. Selamos nossos lábios no beijo mais delicado de nossas vidas. Ele era diferente dos outros, talvez por representar um pacto que poderia mudar tudo.
   Eu estava seguro o bastante do que sentia por aquela garota para me propor a fazer de tudo para nunca mais tê-la longe de mim. Eu largaria a banda, tentaria me tornar alguém de quem ela tivesse orgulho de apresentar à família. Mesmo que eu tivesse que deixar uma parte de mim para trás nesse processo, eu seria o cara que merecia.
   - John... - Ela me chamou, despertando-me dos meus devaneios.
   - O quê?
   - Não me solta mais ok? To com um puta frio e você me esquenta. - Não pude deixar de sorrir, apertando-a com ainda mais força contra meu corpo.
   - Sem problemas. - Fechei os olhos, aspirando o perfume natural e delicioso de seus cabelos, do qual eu sempre gostara.
   Aliás, não havia nada naquela garota que eu não gostasse; eu era completamente viciado nela.

- Do you ever feel? Do you ever feeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeel? - Garrett gritou, recebendo uma travesseirada no rosto.
   - Cala a boca, Gary! Quer que sua mãe suba aqui pra ver o que aconteceu? - Garrett ria alto da expressão encabulada de .
   Encontrava-se sentado no chão, à mais ou menos um metro de distância de sua cama, onde estava , meio deitada, meio sentada. Deixou seu violão de lado e jogou o travesseiro num canto.
   - Não se preocupe, mamãe não arriscaria vir aqui e nos encontrar pelados.
   - Quê? - quase gritou, ficando roxa. - Ela... Ela sabe que...?
   - Ora, amor, minha mãe não é ingênua. O que mais você acha que ela pensa que nós fazemos trancados aqui em cima o dia inteiro?
   - Ah não, nunca mais vou conseguir olhar pra ela. - A garota sentiu as bochechas se avermelharem e quis afundar o rosto em algum lugar.
   - Não se preocupe, Sra. Molly sabe ser discreta. Já disse pra ela que usamos camisinha, então ela tá tranquila. - Garrett levantou-se, indo em direção à namorada.
   - Garrett! - Exclamou, indignada.
   - Que foi? - Tentou sentar-se próximo à garota na cama, mas esta o empurrou. - Outch. - Sai daqui. - um bico, que Garrett teria tentado morder se não percebesse que a namorada estava realmente nervosa.
   - Quer que eu saia? - Arqueou uma sobrancelha, achando tudo aquilo engraçado. conseguia ficar ainda mais linda enquanto brava e envergonhada ao mesmo tempo. - Eu só sirvo pros seus momentos de prazer, é? - Ele sorria, mas não achou engraçado - Quero. Odeio você. - Garrett levantou-se, caminhando até a porta. O fato dele não tirar o sorriso do rosto irritava ainda mais. Não era engraçado brincar com o que ela estava sentindo.
   Molly sempre fora tão boa com ela e agora devia achar que ela era uma puta.
   Quando Garrett encostou a mão na maçaneta, percebeu o modo como ele estava vestido e gritou:
   - Não, Garrett! Não sai assim, por favor!
   - Ué, você não queria que eu fosse?
   - Mas você tá só de cueca!
   - Tarde demais, chuchu. - Dizendo isso, o garoto abriu a porta e saiu. prendeu a respiração, sentindo o peito queimar por dentro. No entanto, cerca de meio minuto depois de ter sido deixada sozinha no quarto, a porta se abriu abruptamente e Garrett entrou correndo e gargalhando, batendo a porta rapidamente em seguida.
   - Meu deus, o que foi?
   - Minha mãe tava subindo a escada! - Riu. olhou para baixo, desesperada.
   - Ah não, Garrett, ela deve achar que eu sou uma puta agora. - Disse chorosa, e só assim Garrett parou de rir, indo ajoelhar-se na sua frente, para erguer seu rosto em direção ao dele. Segurou-a pelo queixo.
   - Ei, nunca mais repita isso, ok?
   - Mas é verdade!
   - Não é não. - Trocou a perna que usava para apoiar-se. sorriu sem humor.
   - Pode sentar aqui. - Ela disse, rolando os olhos.
   - Posso? - Assentiu, e assim o garoto o fez, sentando-se no colchão, bem próximo a ela. Sentaram-se de pernas de índio, um de frente para o outro. Suas pernas se tocavam, proporcionando calor para ambos.
   Garrett ainda a olhava nos olhos quando continuou:
   - Escuta: minha mãe é uma das pessoas que mais torceu para que nós dois ficássemos juntos. - Ele corou levemente ao dizer isso, fazendo um pequeno sorriso brotar nos lábios de . - Ela nunca pensaria algo assim de você.
   - Mesmo?
   - Ela sabe que nós nos amamos.
   - Eu não disse isso. - disse seria. Garrett franziu a testa.
   - Quer dizer que não ama?
   - Hmm hmm. - Negou. - Só tô com você porque você é o baixista da The Maine.
   - Ah é? - Garrett desafiou, rindo. - É assim então?
   - Aham. - sorriu convencida, como que o desafiando. O sorriso que Garrett devolveu, no entanto, beirou mais ao presunçoso. Ela queria brincar?
   Que fosse então.
   - Quer dizer então que quando eu chego perto assim - Ajoelho-se sobre a cama, para aproximar seu rosto do rosto de . Essa, por sua vez, quase que automaticamente ao movimento de Garrett, deixou que suas pernas fossem se posicionar uma de cada lado do corpo do garoto, facilitando a aproximação. Podiam sentir a respiração um do outro naquela distância e Garrett não quebrou o contato visual. - Você não se sente afetada?
   - Não. - Respondeu quase que num sussurro, deixando o olhar vagar rapidamente para os lábios macios de Garrett. Este ergueu uma sobrancelha.
   - Mesmo? - Ela assentiu determinada. - Certo. Então, quando eu te beijo assim, você também não sente nada, né? - Tocou os lábios na curva do pescoço da garota, beijando a região com delicadeza. sentiu os pêlos ali se arrepiarem, mas tentou não demonstrar nada.
   As carícias de Garrett começaram delicadas, tornando-se, aos poucos, mais possessivas. Em pouco tempo, ele passara de beijos suaves e molhados à chupões que certamente deixariam marcas.
   suspirou, mordendo o lábio para não demonstrar nenhum outro sinal de que gostava daquilo.
   - Garrett, para. - Forçou-se a dizer, mesmo que a frase tenha soado mais como Garrett, continua.
   - Você ainda não me ama? - Levantou o rosto para encará-la, a sobrancelha ainda arqueada em desafio.
   - Não. - Respondeu com a voz falha. Garrett sorriu, voltando a atenção à seu pescoço.
   - E que tal se eu... - Garrett passou os olhos por todo o corpo semi-nu da garota, fitando-o com tanto interesse e adoração que a mesma não pode deixar de corar, sentindo uma onda de calor tomar conta de seu corpo todo, em especial de algumas partes.
   - Garrett... - Pediu, num sussurro, enquanto o namorado brincava com a alça de seu sutiã rosa rendado, puxando-a para baixo e depois colocando-a no lugar certo. Seus olhos, escurecidos em luxúria, deixavam-na com ainda mais vontade de terminar logo com aquilo.
   - Não gosto quando me chama assim, minha margarida. - Disse ele, vagamente, rolando a alça esquerda de seu sutiã para baixo novamente. suspirou pesadamente, sentindo o corpo inteiro tremer pelo modo como Garrett falava e a tocava.
   Ele contornou o corpo dela com a mão direita, passando pelo pescoço, ombro, seio, cintura, barriga e quadril, parando na barra de sua calcinha, que combinava com o sutiã, voltando a beijar seu pescoço, dessa vez também com a língua.
   - Gary, por favor. - Sua voz soou fraca e pidona. Não aguentaria mais muito tempo. Certo, ele ganhara aquela partida.
   - Você sabe o que eu quero ouvir.
   - Eu te amo, droga! - Retrucou irritada. Como se ele já não soubesse disso.
   - Mais sutil, vamos. - Ele sorriu para ela, que o encarava incrédula e nervosa. - Eu sei que você consegue.
   - Inferno, só... Acaba logo com isso. - Resmungou. Garrett negou com a cabeça. A garota respirou fundo, tentando acalmar-se. Deixou um sorriso divertido ocupar seus lábios, puxando o rosto de Garrett para perto do seu, com as mãos em suas bochechas.
   - ? - Chamou com uma voz engraçada, já que a garota apertava seu rosto, forçando-o a fazer um biquinho. Pensava que ela ficara maluca, graças ao sorriso um tanto sádico esboçado em seu rosto.
   - Gary. - Encarou seus lábios com desejo. Foi a vez de Garrett se arrepiar. - Você é tão lindo. - Disse sonhadora, aquecendo o corpo do namorado. Jamais pensara que uma garota como ...
   Não. Que pudesse desejá-lo daquela forma.
   - Droga, eu te amo tanto! - Tinha seus olhos fundos nos dele. Garrett piscou longamente, saboreando aquelas sôfregas palavras saindo da boca da garota que ele amava. - Tanto, tanto!
   - . - Chamou novamente, suplicante. Se não a beijasse naquele momento, sentia que poderia explodir. Por isso, retirou as mãos da garota de seu rosto com delicadeza, e terminou com o espaço que havia entre os dois, beijando-a com volúpia. Suas línguas travavam uma guerra dentro da boca de .
   Sem muito cuidado, Garrett colocou a mão na base da coluna da garota, fazendo-a deitar-se sobre a cama. Deixou-se cair sobre ela, tomando o cuidado de apoiar-se com a outra mão na cama, para não depositar todo seu peso sobre o corpo da namorada.
   Passou a dedilhar círculos pela região da barriga da garota, que se retraia com os toques. Assim, mais uma vez, o casal deixou-se levar pelo desejo que um tinha em relação ao outro.

- Você me beijou. - Lançou-lhe um sorriso bobo, fazendo com que a garota corasse.
   - Cala a boca. - Bateu com pouca força no braço do garoto.
   - Embaixo do visco. - Continuou ele, chocando seu ombro no dela.
   - Quer parar? - grunhiu, parando subitamente. - Droga, por que mesmo aceitei sair com você?
   - Porque você quer repetir a noite passada. - Levantou as duas sobrancelhas para ela, parando em sua frente. Ela engasgou.
   - Qual é, Alex, você não desiste?
   - Desistir do quê? - Franziu o cenho, genuinamente confuso.
   - Achei que já tivesse conseguido o que queria e fosse me deixar em paz. - Disse o que veio em sua mente, sem se preocupar com a reação do garoto.
   Afinal, aquela era a verdade, certo? Nenhum garoto nunca quisera mais do que só alguns momentos de diversão com ela, tanto que ela mesma se acostumara a agir dessa forma também. Realmente não entendia porque aceitara sair com Alex novamente.
   - Você não pode estar falando sério. - Balançou a cabeça, sorrindo sem acreditar. franziu o cenho.
   - O quê?
   - Escuta, pequena. - Alex começou, segurando o queixo de para que essa o encarasse. - Eu realmente não sei o que fizeram com você, mas você não pode se esconder pra sempre.
   - Eu... Não entendo. - Deixou suas defesas caírem por um momento, tocada pela suavidade com que Alex falava com ela. Ele era tão doce e carinhoso.
   - Me deixa te ajudar a curar essa dor que você carrega consigo. - Pediu, com os olhos apertados. Ele falava sério.
   E aquilo deixou a garota assustada.
   - Quer me deixar em paz? - Gritou, empurrando a mão de Alex de perto do seu rosto. Deixou uma lágrima escorregar por sua bochecha e a secou rapidamente. - Não sei que tipo de brincadeira doentia é essa, mas não é engraçado.
   - Brincadeira? - Riu. - Eu não to brincando com você.
   - Mas isso não faz sentido! - virou-se para ele, aumentando o tom de sua voz. Sentia que não poderia segurar as lágrimas de raiva por muito mais tempo.
   Quem Alex pensava ser para brincar com ela daquela forma?
   - O que não faz sentido? Eu te achar a garota mais interessante da cidade e querer aproveitar o pouco tempo que tenho aqui para te conhecer melhor?
   - Eu não... Eu não sei o que você ouviu, mas eu não sou esse tipo de garota.
   - Que tipo de garota?
   - O tipo que deixa os garotos se aproximarem, que gosta de ser mimada e chamada por apelidos carinhosos. O tipo que procura um namorado desesperadamente e que gruda, que é melosa e gay... Que... Ama. E se deixa amar. - Disse a última parte com dificuldade, engolindo o nó que se formou em sua garganta. Alex a encarou por um momento, em silêncio.
   A garota tremia levemente, e não se importava mais em segurar o choro. Dedicava-se agora a tentar entender a expressão com que Alex a fitava.
   Esperava que ele tivesse raiva dela e fosse embora. Desistisse e fosse procurar uma garota menos complicada, como todos os outros fizeram.
   Como Kennedy fizera.
   Chegou a soluçar antes que Alex se aproximasse dela, numa velocidade que sua vista embaçada quase não percebeu, envolvendo-a num abraço forte. Uma mão a envolvia pela cintura, enquanto a outra puxava seu rosto para o seu pescoço. deixou-se ser abraçada, enroscando as mãos ao redor do pescoço de Alex, enquanto afundava o rosto no mesmo local.
   - Shiu. - O garoto sussurrava em seu ouvido, enquanto fazia carinho em seus cabelos. Pouco depois, levantou o rosto e passou a encarar o garoto com o cenho franzido.
   Alex lhe sorriu complacente.
   - Só uma chance. - Pediu. engoliu em seco.
   Aqueles olhinhos brilhantes e pidões praticamente não davam espaço para uma resposta negativa. E o calor que emanava do corpo dele para o dela dificultava ainda mais a recusa.
   Mas não seria correto, seria?
   Abusar da bondade do forasteiro, sendo que jamais poderia retribuir aquilo.
   Simplesmente não conseguia mais ser boa com qualquer garoto. Não conseguia se permitir abrir-se para ninguém, não depois de tudo o que passara nos últimos anos. Coisas que só lhe ensinaram que garotos não mereciam mais do que alguns minutos gastos de seu tempo.
   Sua última tentativa -se é que poderia ser chamada assim- não acabara muito bem. E a culpa disso era unicamente dela.
   Fora ela quem nunca dera uma chance verdadeira à Kennedy, sempre o tratando mal, até que ele desistira. Não podia culpá-lo.
   Aturá-la devia ser uma merda mesmo.
   - Pequena? - Alex chamou, preocupado, trazendo-a de volta à realidade. Ainda nos braços do garoto, abaixou o rosto, fitando o peitoral do rapaz, que subia e descia num ritmo um pouco acelerado, de acordo com sua respiração.
   Em silêncio, retirou uma de suas mãos da nuca de Alex, deslizando-a até a altura de seu coração. Pode sentir o ritmo de seus batimentos aumentarem um pouco, mas ele não se moveu. Ela olhou rapidamente em seus olhos, que tentavam lhe passar algo que ela não conseguia compreender.
   Sentiu algo quente sobre sua mão e voltou a olhar para o local onde ela estava, encontrando a mão de Alex sobre a sua, um pouco áspera e bem maior do que a sua própria. O toque fazia com que ela se sentisse quente e protegida.
   - Acho que você vai se arrepender disso. - Voltou a encará-lo, com o cenho franzido. Não sabia o porquê, mas não queria que Alex a odiasse.
   - Não vou. - Ele sorriu, e o silêncio voltou a dominá-los. voltou a olhar para suas mãos unidas, mas Alex não tirou os olhos da garota.
   - Hmm. - Disse vagamente.
   - Isso é um sim? - Arriscou, mordendo o lábio por pura insegurança. riu baixinho.
   - É sim. - Sua vez de morder o lábio, envergonhada.
   Foi então que Alex abriu o maior dos sorrisos para ela e, com os olhos brilhando, segurou seu rosto pelo queixo, aproximando seu rosto do dela. A garota fechou os olhos, deixando-se curtir o momento.
   Alex tocou seus lábios com os dele, delicadamente. Demorou quase cinco segundos para pedir passagem com a sua língua, só aproveitando para sentir o toque macio dos lábios dela contra os seus.
   Apertou a mão de sob a sua, enquanto a outra apertava a sua cintura. Com a mão livre, passou a acariciar os cabelos da nuca de Alex. Apesar de o beijo ser calmo, o coração de Alex batia razoavelmente rápido, fazendo com que sorrisse durante o beijo.
   Sabia que não se arrependeria de ter dado uma chance àquele forasteiro, mas, devido aos problemas anteriores com garotos, temia que ele pudesse se arrepender.

Jared Monaco POV ~mode ON~

A chuva começou a engrossar e logo toda minha roupa estava encharcada. Meus cabelos caiam pelo meu rosto, impedindo-me de enxergar sequer um palmo à minha frente. Penteei-os com a mão, puxando-os para trás. Precisava encontrar logo um abrigo.
   Com dificuldade, avistei um toldo de um comércio que poderia servir bem para me proteger das fortes gotas de chuva que teimavam em cair sobre meu corpo, deixando minha calça jeans pesada. Havia alguém ali, que tivera a mesma ideia que eu, mas não poderia reconhecê-la.
   Corri para lá o mais rápido que pude, respirando aliviado quando parei de sentir a chuva sobre minha pele. Mal tive tempo de recuperar o ritmo dos meus batimentos cardíacos antes de ouvir um som engraçado e irritado da pessoa que dividia aquele espaço comigo.
   - Tá me seguindo? - Ela perguntou. Virei-me para ela, querendo rir pela ironia do destino. Tantas pessoas naquela cidade, e justo ela tinha que ter tido a mesma ideia maluca que eu de sair quando o céu estava mais preto do que Londres sendo coberta por Dementadores nos filmes do Harry Potter.
   Rolei os olhos. Como alguém podia se achar tanto?
   - Claro que sim, não sabe que você é a razão da minha existência? - Disse com sarcasmo, me amaldiçoando por ter dito aquilo assim que voltei a mim. Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, buscando algo para dizer. Por fim, optou por ficar em silêncio.
   Era só isso mesmo que eu tinha que ter feito desde o começo pra fazê-la calar a boca?
   Haha, bom saber.
   O silêncio tomou conta da atmosfera, sendo quebrado apenas pelo barulho não muito tranquilo da chuva chocando-se contra o asfalto e a parte de cima do toldo. Um jato forte de vento me atingiu em cheio, me fazendo encolher-me de frio, graças às minhas roupas molhadas.
   Dei uma boa olhada em : ela vestia um shorts jeans curto, uma blusa de manga comprida verde-claro, de tecido fino. As mangas eram soltas, apesar de o resto ser bastante justo. Ela pigarreou e então percebi que passara muito tempo analisando-a e me senti estúpido. Ótimo, agora ela ficaria se gabando. Voltei minha atenção para seu rosto, vendo-a corada.
   Corada? Aquilo não era comum na nova . Algo estava errado.
   Foi ai que percebi o pesado casaco masculino que ela segurava nas mãos. Bufei, fechando minhas mãos em punho, por puro nervosismo. Minhas unhas arranharam minha pele, mas não me importei.
   Por que ela estava usando o casaco dele?
   - Jared? - A ouvi me chamar, parecendo preocupada. Me dei conta de que minha expressão devia estar um tanto quanto feroz e assustadora, mas a raiva era demais para que eu sequer me importasse com esse pequeno detalhe.
   - Qual é a sua com o Jordan? - Me ouvi perguntar, querendo bater minha própria cabeça contra a parede em seguida. A chuva aumentou no mesmo momento, aumentando também a força da ventania. Eu quase tremia de frio por fora, mas a raiva era suficiente para me deixar queimando por dentro.
   - Isso não... - Sua voz falhou, deixando-me ainda mais irritado. Ela diria que não era da minha conta.
   Por que eu tinha que me importar?
   Bufei.
   - Ele é meu melhor amigo.
   - Ele é gay? - Perguntei sério.
   - Não! - Exclamou, parecendo indignada.
   - Então vocês já dormiram juntos. - Não medi as palavras, permanecendo inabalável, mesmo quando ela se aproximou para tentar bater em meu rosto. Segurei seu punho para impedi-la e fiz com que abaixasse a mão, sem soltá-la.
   - Como ousa dizer isso? - Perguntou legitimamente ofendida. Senti uma pontada dolorosa no peito ao olhar em seus olhos, cheios de lágrimas.
   baixou o rosto, encarando nossas mãos juntas, e disse num tom tão baixo que eu quase não pude escutar:
   - O que eu tive com o Jordan foi antes de te conhecer. E você foi o primeiro, sabe disso. Sim, eu sabia. E agora me sentia um filho da puta por ter sequer insinuado aquilo. Eu até merecia o tapa que ela tentara me dar.
   Nós dois estávamos olhando para nossas mãos, mas, após aquilo, senti a necessidade de olhar em seus olhos. Então, segurei-a pelo queixo, fazendo-a olhar para mim:
   - Me desculpa. - Pedi, sinceramente. Ela me olhou de volta, surpresa. Seus olhos brilharam singelamente. Um observador desatento não teria percebido aquilo, mas o que eu menos conseguia ser, mesmo que contra a minha vontade, era desatento, perto de .
   Tudo nela parecia implorar pela minha atenção, que eu concedia de bom grado.
   - Eu sei disso. Me desculpa. - Ela não disse nada. Ao invés disso, subiu na ponta dos pés, tentando ficar na minha altura. Tirou sua mão da minha e levantou-a até a altura do meu rosto. Esperando por um tapa, que eu não impediria dessa vez, fechei os olhos.
   Suas mãos tocaram minhas bochechas com delicadeza e abri os olhos, sem entender. Seu rosto estava muito próximo do meu agora e senti meu estômago dar uma volta de 360º, por mais clichê e escroto que isso soe, quando percebi suas reais intenções. Ela olhou fundo em meus olhos antes de fechar os seus. Fiz o mesmo, sentindo finalmente seus lábios doces e macios sobre os meus. Ela me pediu passagem com a língua, e eu permiti que ela aprofundasse o beijo. Minhas mãos se encaixaram na base de sua cintura, enquanto as dela foram segurar o colarinho de minha camisa molhada.
   Beijávamo-nos devagar, explorando-nos, relembrando como era antigamente, quando nós não tínhamos medo de nos entregarmos um para o outro. Suas mãos brincavam com os cabelos em minha nuca, enquanto as minhas se divertiam com a barra de sua blusa, puxando-a para cima sorrateiramente. Podia dizer que fazia aquilo para ter contato com sua pele quente e esquentar a minha, para não ficar doente ou algo do gênero, mas só queria estar mais perto dela.
   suspirou, assim que toquei sua pele e um sorrisinho divertido tomou conta de meus lábios.
   Separamo-nos pouco depois em busca de ar, mas não quebramos o contato visual.
   Assim, assisti de camarote o olhar de passar de algo que eu não consegui decifrar para um de dúvida. Encarei-a, confuso, com o cenho levemente franzido.
   Claro.
   Essa era à hora em que ela se dava conta do que fizera e saia correndo sem rumo, só para estar o mais longe possível de mim.
   Não. Não dessa vez.
   Eu não aguentaria ser dispensado daquela forma de novo.
   - Tenho cara de idiota? - Perguntei, já sentindo raiva novamente.
   - O quê? - Franziu o cenho, confusa.
   - É divertido brincar com os meus sentimentos, não? Porque eu sou tão idiota e ingênuo que não vou entender nunca que pra você eu não passei de um caso no meio das férias. Tão idiota que, quando teve a chance de ficar com uma garota que gostava dele pelo que ele era e que não tinha medo de assumir isso, terminou com ela no primeiro sinal de que você ainda sentia alguma coisa.
   - Jared...
   - Não, eu cansei mesmo de tentar te entender, de facilitar pra você. Eu sei que eu já disse isso antes, mas eu cansei de amar você. Você não merece isso. Não merece nenhum desses garotos apaixonados por você. Eu queria nunca ter feito aquela viagem, nunca ter te conhecido. - Jogava tudo aquilo que guardara por tanto tempo para fora, sem me importar com as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e, muito provavelmente, pelo meu também.
   - Jared! - Aumentou a voz, tentando fazer com que eu a escutasse. Mas eu não queria isso. Não queria ouvir mais o quanto ela queria que fosse mais fácil e todo aquele blá blá blá de sempre.
   - Chega, ! - Gritei de volta, vendo-a se encolher. Balancei a cabeça, decidido a sair dali antes que fizesse alguma besteira. Estava irritado demais para ter controle sobre meus atos.
   Dei-lhe as costas e sai da proteção do toldo, voltando a sentir a chuva bater ainda mais forte contra a minha pele, como se me castigando por ter dito tudo aquilo para . Podia jurar que, quando a água gelada encostava em mim, transformava-se em vapor, de tão tenso que eu estava. Sentia-me quente, mesmo com todo o frio que fazia.
   Ouvia me chamando de longe e, conforme eu me afastava, fui deixando de escutá-la.
   Dessa vez, quem estava indo embora era eu.
   Era estranha aquela sensação. Era como se fosse a última vez.
   Aquilo definitivamente fora o nosso adeus.
   - Jared! - Voltei a ouvi-la, supondo que ela correra atrás de mim. Ela estava perto, podia sentir. Não parei de andar, querendo saber se ela me acompanharia ou desistiria. - Jared, para! Por favor. - Não o fiz.
   Continuei a ouvir os passos dela até um pouco depois, quando eles pararam. Ela finalmente desistira.
   Ótimo.
   Pensei, começando a sentir um vazio dentro de mim. Sim, eu sabia que tudo estava acabado agora.
   - Por favor, Jared, eu te amo! - Ela gritou aquilo, deixando a voz falhar no final. Parei de andar, sem estar realmente convencido se realmente ouvira certo, ou era só uma pegadinha da minha mente. Voltei a escutar sons de passos. - Eu te amo. - Disse mais baixo dessa vez, mas ainda consegui escutar.
   Meu coração deu um mortal dentro do meu peito e senti minha respiração acelerar quando me virei para ela.
   olhava esperançosa em minha direção, os olhos vermelhos e os cabelos, que antes conservavam graciosos cachos, que emolduravam seu rosto, agora estavam encharcados e escorriam quase até seu quadril. Suas roupas não estavam diferentes. A camiseta já estava um pouco transparente e tive vontade de cobri-la, para que ninguém mais ali pudesse vê-la daquela forma.
   Idiota, eu era o único num raio de dez metros.
   - Jared? - Me chamou, trazendo-me de volta à realidade.
   Eu tinha essa mania estúpida de me distrair ao olhar para ela, em momentos inoportunos.
   Então percebi que, daquela vez, eu não sabia o que dizer, ou o que fazer.
   Acostumara-me tanto com a rejeição de que nem pensara no que fazer caso ela realmente me quisesse de volta.
   Desesperado, fiz a única coisa que me parecia certa: corri até ela, terminando com os malditos dez passos que nos separavam, e colei meus lábios nos dela, segurando-a pela cintura com tanta força que a levantei do chão.
   Ela interrompeu o beijo para dar um gritinho, mas logo voltou, beijando-me como se fosse a primeira vez.
   Talvez fosse mesmo, nossa primeira vez de uma segunda tentativa.
   A água que caia cada vez mais devagar sobre nós, talvez só tivesse permanecido ali até agora para nos limpar do passado.
   O vento forte parecia ser impedido de nos atingir por um escudo de calor intenso que queimava meu corpo, principalmente nos locais onde a pele de mantinha contato com a minha.
   Separamo-nos superficialmente para recuperar o ar que nos fora tomado. As pontas de nossos narizes estavam conectadas e quando ela sorriu para mim, pude ver de novo a garota que conheci durante certas férias que passei com alguns amigos, bem longe de Tempe.
   olhou para cima, percebendo antes de mim que a chuva parara. Com um sorriso enorme, colocou a língua pra fora e só entendi o motivo quando um pequeno floco branco pousou ali.
   - Tá nevando! - Ela riu gostoso, voltando ao chão e se afastando de mim para abrir os braços e rodopiar no meio da rua.
   Sorri junto, apreciando a visão. Suas bochechas estavam avermelhadas e ela sorria como uma criança, divertindo-se quando um floco de neve caia sobre ela. Ao poucos, me deixei levar também, dançando com ela conforme a quantidade de neve que caia do céu aumentava.
   - Esse vai ser o melhor natal da minha vida! - Ela me olhou divertida, subindo nos meus pés e enlaçando meu pescoço para tocar seus lábios nos meus. Sua intenção era me dar somente um selinho, mas quando ela tentou escapar, não permiti, aprofundando o beijo.
   - Nah, me solta! - Resmungou, dando um tapa leve em meu ombro direito. Ri.
   - Nunca mais. - Soprei em seu ouvido, sentindo-a se arrepiar.

Capítulo XXXIV

Os garotos da The Maine encontraram-se na casa de Kennedy, só pelo prazer de ter uma carona até o pub. Precisavam ensaiar para o próximo show e não havia melhor lugar para isso do que o local onde eles tocavam todos os sábados. Principalmente porque lá podiam contar com a ajuda de Jason.
   - Ele pode ter sido um fracasso com sua banda no passado, mas que o cara entende de música, isso não dá pra negar. - Disse Jared, sentando-se no banco do carona ao lado de Kennedy.
   - Queria saber o que deu errado. - Kennedy pensou alto, atraindo o olhar dos amigos.
   - Duvido que você pergunte. - Desafiou John. Kennedy riu.
   - Nem morto, vai que ele resolve mandar a gente embora por pisar no calo dele.
   - Tem razão, melhor esquecermos isso. - Pat se pronunciou, enquanto os outros assentiam. O silêncio logo tomou conta do ambiente, mas só porque todos estavam concentrados em imaginar a causa do fracasso da banda de Jason.
   Permaneceram daquela forma até que Kennedy estacionasse na frente do pub. Eles então dirigiram-se à porta lateral do local, já que, durante o dia, a porta principal permanecia fechada.
   - Garotos, que bom que chegaram cedo. - Jason sorriu misteriosamente para os cinco, assim que colocaram os pés lá dentro.
   - Temos que ensaiar né? - John respondeu, já seguindo até o palco, para ajeitar os instrumentos. Como sempre, os outros meninos o acompanharam.
   - Na verdade, pensei em fazermos algo mais divertido por hoje.
   - Beber até cair? - Kennedy sugeriu animado, fazendo seus amigos rirem e Jason rolar os olhos.
   - Tenho um amigo que tem um estúdio pequeno na cidade. Como ele me devia um favor, pedi que ele gravasse uma demo de vocês.
   - O quê? - Pat quase derrubou o amplificador que segurava. Todos se viraram para Jason, que ainda conservava aquele sorriso misterioso no rosto.
   - Eu acho que vocês têm talento e quero ajudá-los. Chamei o Tim para ir conosco, já que ele é melhor relacionado do que eu e daria um bom empresário, caso vocês consigam fazer sucesso de verdade.
   - O Tim? - Jared perguntou, olhando diretamente para Pat.
   - Meu irmão?
   - Sim. Ele já deve estar chegando. - Jason mal terminara de falar, quando a porta se abriu novamente e o irmão mais velho de Pat entrou no local, piscando para o irmão.
   - Garotos. - Cumprimentou.
   - Tim! E ai, cara? - John foi o primeiro a descer do palco e ir abraçar o amigo.
   - Era pedir demais me contar que você seria o empresário da minha banda, quando sentamos a mesa pra tomar café da manhã hoje? - Pat resmungou indo ao encontro do irmão. Tim, por sua vez, sorriu, puxando o irmão para um abraço de lado e fazendo-lhe cafuné.
   - Desculpa, Patzinho. O Jason pediu pra fazer surpresa.
   - Minha culpa. - Jason mostrou as palmas das mãos, sorrindo. - Agora vamos logo, antes que o cara desista.
   Levantou-se da cadeira onde estivera sentado e todos o seguiram para fora, esperando que ele trancasse o pub.
   - Eu vou no carro do Tim e vocês nos seguem, ok?
   - Certo. - Kennedy assentiu, seguindo para seu carro. Todos os garotos sentiam-se extremamente nervosos e excitados.
   - Que músicas nós vamos gravar? - Pat perguntou, já dentro do carro. Dessa vez fora ele quem se sentara ao lado de Kennedy.
   - Count'em One, Two, Three tem que estar na lista, por favor. - Garrett pediu, sendo apoiado por John.
   - É justo. Foi nossa primeira. - Kennedy balançou a cabeça afirmativamente, enquanto pensava. - Quantas nós iremos gravar?
   - Essa é uma boa pergunta. - Jared coçou o queixo, virando-se para John: - E a ?
   - O quê? - John pareceu despertar de um sonho distante. - Ah, os pais dela me chamaram pra jantar em sua casa essa noite.
   - O quê? E você só nos diz isso agora? - Kennedy ficou histérico, se desviando por pouco de um gato que passeava tranquilamente pela rua. - Olha por onde anda!
   - Calma, Ken! - Pat riu, mesmo um pouco assustado. – Relaxa, John, meus tios não são tão ruins quanto parece.
   - Espero que não.
   Não demorou muito para que eles chegassem ao tal estúdio. Logo de cara dava para se perceber que o dono do lugar construíra tudo sozinho. Por fora parecia ser um lugar não muito grande e a tinta clara na parede já estava velha e descascada.
   Jason dirigiu-se até a porta e tocou a campainha, esperando por cerca de dois minutos até que fosse recepcionado por um homem baixo e corpulento, com uma barba que não devia ser feita há um bom tempo e os cabelos perfeitamente arrumados no topo da cabeça.
   - Jason, há quanto tempo! - Disse o barbudo, abraçando o outro.
   - Ei, xará! - Jason retribuiu, apontando os garotos assim que se viu livre do abraço. - Esses são os caras de quem te falei.
   - A The Maine, hm? Ta aí, vocês me parecem bons. Sou Jason.
   - Os dois são Jason? - John olhou de um para o outro, sorrindo.
   - Somos. - Os dois sorriram juntos.
   - Vamos lá garotos, entrem. - O barbudo entrou no estúdio, chamando os outros para fazerem o mesmo. - Vamos gravar umas três músicas, ok? Não é legal fazer um demo com muitas músicas, porque na maioria das vezes os caras grandes não escutam todas.
   Jason falava alto enquanto caminhava cada vez mais para o fundo daquele estúdio improvisado e muito mal iluminado. Eles caminhavam por um corredor enorme e escuro e Garrett não pode evitar comparar aquele senhor com o Gimili, o anão do Senhor dos Anéis.
   Riu sozinho, tentando conter-se para não chamar atenção dos outros. Kennedy arqueou uma sobrancelha para ele, que balançou a cabeça como se dissesse “deixa pra lá” .
   No fim do corredor, havia uma porta grossa, daquelas típicas de estúdio que não deixavam o som vazar.
   Jason parou, olhando para os garotos com um que de suspense e, por fim, sorriu.
   - Vamos começar, garotos.

John nunca estivera tão nervoso em toda a sua vida.
   Usava calça e sapato preto sociais e uma camisa de manga comprida de botões e podia sentir-se prestes a sufocar a qualquer momento, enquanto caminhava incerto até a entrada da casa de .
   Por que diabos estava ali mesmo?
   No instante em que tocou a campainha, foi tomado completamente pela ideia de sair correndo dali antes que fosse tarde. Suas mãos, fechadas em punho bem perto de seu corpo, suavam mais do que no dia do primeiro show de sua banda.
   A porta foi aberta no instante seguinte e ele logo lembrou-se do motivo de estar ali, a ideia anterior de fugir parecendo-lhe extremamente ridícula. sorria abertamente para ele, usando um vestido preto simples e sandálias de salto baixo na mesma cor.
   - Oi. - Ela disse tímida, balançando o pé e desviando seus olhos dos do namorado para olhar para o chão.
   - Oi, amor. - John retribuiu o sorriso inicial e já se aproximava para depositar um selinho em quando seu pai surgiu por trás da garota, deixando-o novamente tenso.
   - Callaghan. - Disse a voz grave do Sr. , enquanto o mesmo encarava John com uma expressão no mínimo intimidadora. John engoliu em seco antes de dizer:
   - É O'Callaghan, senhor. - O mais velho ergueu uma sobrancelha para o garoto, parecendo esforçar-se para soar menos duro quando continuou a falar.
   - Bom, sinta-se bem vindo. Estávamos te esperando para começar a jantar. - Sr. puxou a filha para que John pudesse entrar na casa e fechou a porta assim que o garoto assim o fez.
   - A sala de jantar é por aqui. - O homem indicava o caminho, que John fingia não conhecer. Afinal, não que Sr. precisasse saber, mas aquela não era a primeira vez que John ia a sua casa.
   piscou para o namorado quando passaram pela sala de estar, olhando diretamente para o grande sofá, que John recordava ser extremamente confortável. Engoliu em seco, tentando não demonstrar nenhuma reação fora do normal ao lembrar-se da última vez em que deitara naquele sofá com .
   - John! - Exclamou uma animada Jane, praticamente pulando sobre o garoto quando este adentrou a sala de jantar. A Sra. sorriu para ele, sem se levantar de seu lugar a mesa.
   - Vocês se conhecem? - Sr. olhou desconfiado para os dois, enquanto John e olhavam para a mais nova, suplicantes.
   - Não, mas a me falou tanto sobre ele que sinto como se já nos conhecêssemos. - A irmã mais nova de piscou para os outros dois, após convencer o pai utilizando sua melhor cara de gatinho do Shrek.
   tocou rapidamente na mão de John antes de seguir para a sua cadeira na mesa de seis lugares.
   - Hmm, ok então. John, pode se sentar ali. - Sr. apontou para uma cadeira do lado oposto à que se sentara. - Sinto que você não possa se sentar ao lado da , mas a Jane não deixa ninguém se sentar na cadeira dela.
   - Eu troco de lugar com você, John! - Jane disse tão rápido que fez o falso sorriso de tristeza do pai sumir quase que na mesma hora que brotou em seus lábios. quis rir, mas segurou-se ao encontrar os olhos de sua mãe. John só parecia cada vez mais assustado.
   - É... Tudo bem, Jane, eu...
   - Não senhor. - Jane cruzou a mesa até chegar ao lado de John, empurrando-o. Era uma cena engraçada de se ver, já que a garota tinha metade da altura do outro. Jane ignorava totalmente os olhares suplicantes da mãe. - Vai se sentar ao lado da sua namorada e não se fala mais nisso.
   A palavra namorada pareceu ter um efeito imediato no pai de , que praticamente gritou, perdendo o controle que ele se esforçara tanto para manter.
   - Chega! - Brandiu, fazendo com que todos parassem para olhar para ele - O'Callaghan, sente-se logo no lugar da Jane para podermos comer.
   John imediatamente fez o que lhe foi mandado, sentindo a mão de apertar a sua com força por baixo da mesa assim que se acomodou. A sua frente, Jane lhe sorria com uma expressão tão fofa que não deu outra saída ao garoto a não ser retribuir.
   Todos se serviram e John se sentia sendo observado o tempo todo. Jane não parava de sorrir para ele, o que já estava começando a incomodá-lo. Os pais de também o encaravam incessantemente, dando-lhe vontade de afogar o rosto no salmão que fora preparado exclusivamente para ele, segundo a Sra. . Ele preferia a cozinha italiana, mas não disse nada.
   - Então, O'Callaghan, o que pretende fazer quando terminar a escola? - Perguntou a Sra. , tentando quebrar o clima pesado na sala. apertou a perna de John por debaixo da mesa.
   - O John ainda não pensou sobre isso...
   - Na verdade, eu gostaria de continuar com a minha banda, sabe? Tentar fazer carreira pela estrada. - A mãe de lhe lançou um sorriso amarelo, enquanto seu pai bufava. Jane ria sem pudor e coçava a cabeça, nervosa.
   John foi o único que não percebeu que aquela declaração não ajudara em nada a sua situação.
   - Eu acho que pode dar certo. Todo mundo fala muito bem da The Maine. - Jane declarou, recebendo a atenção de seu pai para si. implorava com os olhos para que ela parasse, mas não o fez. - Mesmo. Não sei como nenhum empresário os contatou ainda! Acho que você deveria ir escutá-los algum dia desses, papai.
   - É... - Sr. desviou seus olhos dos da filha mais nova, implorando pela ajuda da esposa. Não sabia como escapar daquele pedido tão inocente da caçula da família. Quando percebeu que seu pai parecia desconcertado, sorriu para a irmã.
   - Talvez...
   - Algum dia. - Disse o Sr. , sorrindo sem graça para John, que se sentiu um pouco mais confiante com isso. Piscou para Jane, que abriu um sorriso gigantesco.
   O restante do jantar aconteceu em silêncio, que só foi quebrado quando a mãe de foi buscar a sobremesa.
   - Você vai adorar, é a especialidade da mamãe. - Jane piscou demoradamente com os dois olhos. - Ela passou a tarde inteira preparando.
   Logo a Sra. voltou, segurando uma bonita travessa acima de sua cabeça. Tinha um sorriso bonito no rosto, que lembrou a John da namorada, parecendo estranhamente desconfortável, enquanto todos, até ele mesmo, sorriam descontraídos.
   - Quando vou a festas de família, eu sou praticamente intimada a levar uma dessas, ou todos ficam tristes. - John sorriu com a mãe de , sentindo a postura ficar tensa assim que a mulher depositou a travessa na mesa.
   - É sim, todos amam a torta de morango da minha esposa. - Sr. olhou para a mulher de um modo terno, diferente de qualquer outro momento em que John já o tivesse visto. Imediatamente, John desejou que pudesse olhar daquela forma para dali a uns vinte anos.
   - Mãe... Começou , com uma voz nada animada. John sentiu-se gelar.
   Se dissesse que não poderia comer a especialidade da mãe de , perderia todo o possível progresso que fizera naquela noite.
   - . - Ele interrompeu, tentando dizer-lhe com os olhos que estava tudo bem. Todos olhavam para os dois.
   - Não, John, você pode se ferrar de verdade.
   - Eu não... Nem é tão grave assim, dá pra...
   - Alguém pode explicar o que aconteceu? - Jane pediu, pela primeira vez na noite dando em a vontade de esfregar seu rosto no asfalto.
   - O John é alérgico a morangos. - Disse, acompanhando desde os olhos desesperados de John, enquanto sua mãe primeiro parecia triste e depois tentava sorrir.
   - Tudo bem, querido, eu... Devemos ter sorvete ainda.
   - Não se preocupe com isso, Sra. , eu...
   - Eu acho que te disse isso. - olhava para a mãe com a testa franzida, como se tentasse se lembrar de alguma coisa.
   - Talvez tenha dito, mas fiquei tão empolgada em agradá-lo que devo ter me esquecido.
   John nunca se sentira tão envergonhado antes.
   Embora tentasse não fazê-lo, a Sra. falhava ao tentar esconder sua decepção. Seu marido tinha uma expressão indecifrável e Jane ainda sorria da mesma forma de antes, apoiando o queixo nas duas mãos, com os cotovelos sobre a mesa.
   - Posso pegar sua fatia, John? - Jane perguntou animada, cortando um pedaço enorme da torta.
   Logo todos terminaram de comer e, enquanto Jane e o pai (provavelmente por insistência da Sra. ) ajudavam a mãe de a retirar a mesa, puxou John até a varanda.
   - E então? - mordia o lábio, encarando o namorado com uma expressão fofa.
   - Você não precisava dizer nada. Um pedaço da torta não me mataria e deixaria sua mãe feliz.
   - John! Eu não podia deixar você ficar cheio de bolas vermelhas só pra agradar minha mãe! Além do mais... - sorriu de um modo que fez o garoto acompanhá-la. - Acho que tivemos um progresso hoje.
   - Jura? - John quase gritou.
   - Meu pai concordou em ajudar a tirar a mesa e nos deixar sozinhos, então, sim. Tivemos um progresso.
   - , isso é ótimo! - John não conseguiu controlar a alegria, pegando a namorada no colo e rodando com ela, que começou a gargalhar.
   - Acho que você deveria dar uma chance para o garoto. - A Sra. colocou os braços ao redor do marido, abraçando-o pelas costas e descansando a cabeça em seu ombro. Da janela da cozinha, viam o jovem casal brincando.
   - Ela está tão grande. - Disse o homem, esforçando-se para soar duro, mas tantos anos de casamento já não permitiam que ele enganasse a esposa.
   - Filhos crescem rápido. E nós não podemos impedir isso.
   - Eu sei. Eu só... Só quero que ela seja feliz.
   - Olha bem pra eles. - A mulher depositou um beijo carinhoso na base do pescoço do marido. - Não acha que ela já é?
   - Eu... - Olhou com atenção o garoto que agora abraçava sua filha com ternura, enquanto lhe dava um beijo na testa. - Se ele machucá-la, juro que acabo com a raça dele e da bandinha miserável que ele tem tanto orgulho em possuir.
   Sr. virou-se de frente para a esposa, que sorria para ele. Ela ficou na ponta do pé para tocar seus lábios nos do marido, enquanto, do lado de fora, um jovem casal tinha a mesma ideia.
   - Eu te amo. - John sussurrou no ouvido de .
   - Pra sempre. - A garota piscou, olhando rapidamente para a janela da cozinha e vendo seus pais saindo dali de mãos dadas. Sorriu. - Acho que devemos entrar.
   - Mesmo? - John engoliu em seco.
   - Não se preocupe. Algo me diz que vai dar tudo certo.

Brock’s POV ~mode ON~

Levantei o queixo, deixando que a água quente molhasse o meu rosto mais uma vez, antes de desligar o chuveiro, contra minha vontade. Ali estava quentinho e o som da água caindo era extremamente relaxante. Lá fora, o frio do inverno e a solidão que se tornaram meus dias me cortavam e o silêncio chegava a ser desconfortável, zombando de mim, enquanto só o que eu sabia fazer era beber cerveja e compor.
   Por um lado, aquela fossa em que me encontrava atualmente estava sendo extremamente benéfica à minha criatividade e eu já estava até ficando bom em escrever letras românticas.
   Por outro, aquela vida de ficar em casa o tempo todo, me xingando por ter perdido a única garota de quem eu realmente gostei, era um saco.
   Ri sozinho, me secando com a toalha e depois a enrolando na minha cintura. Agradecia por ter uma suíte e não precisar desfilar pela casa daquela forma, correndo o risco de um dos meus simpáticos amigos gays puxarem a toalha do meu corpo pelo simples prazer de me ver pelado. Mas, ultimamente, minha casa ficava bastante vazia.
   O Alex e o Jordan estavam lá de hóspedes e os caras apareciam bastante, mas, na maior parte do tempo, ou eu estava sozinho, ou me sentia sozinho. Talvez fosse assim porque a companhia da qual eu necessitava ardentemente não era a daqueles marmanjos magricelas e retardados que eu tinha o prazer prazer de chamar de amigos, mas a da garota mais linda e cabeça dura que eu já conhecera.
   Vesti uma boxer qualquer e uma calça jeans e sai do quarto em direção à sala. Ali chegando, liguei a televisão num canal qualquer e me deixei ser distraído por um desenho idiota qualquer, até que a vontade de pegar uma cerveja me venceu.
   Eu poderia passar um dia sem comer nada, mas cerveja nunca poderia faltar naquela casa. Nunca, em hipótese alguma.
   Como mais eu suportaria ver a garota que eu amava saindo com um dos meus melhores amigos?
   Isso mesmo, só com uma boa quantidade de álcool correndo pelas minhas veias.
   No dia anterior, Alex chegara em casa pisando nas nuvens e babando porque lhe dera uma chance. Só não voei pra cima dele e quebrei aquela cara de hamster gordo porque ele não sabia de nada.
   Alex realmente acreditava que não havia chances do "otário que quebrou o coração dela" ser um de nós. E, principalmente, de ser eu.
   Quando perguntei o porquê, ele simplesmente olhou pra minha cara e riu.
   Maldito.
   Resolvi deixar tudo do jeito que estava e não dizer nada porque sabia que se estragasse a merda que tinha com Alex, ela nunca mais me perdoaria. E isso era exatamente o oposto do que eu queria.
   Corno manso?
   Nem um pouco.
   Eu não estava desistindo, no entanto. Não, eu a teria de volta antes do ano novo.
   Isso era uma promessa.
   Abri a latinha em minha mão e bebi um grande gole daquela bebida fantástica, voltando para a sala em seguida. Desliguei a TV, aceitando que mantê-la ligado só me irritaria ainda mais e peguei um violão que estava largado num canto. Já nem sabia se era um dos meus ou se alguém o deixara ali por engano.
   Sentei-me no sofá, posicionando o instrumento no meu colo e passando a dedilhá-lo.
   Começara a praticar uma canção nova, que pretendia só mostrar aos caras quando estivesse pronta, ou talvez nunca.
   A luz apagada e o silêncio na casa criavam uma atmosfera maravilhosa para a criatividade.

Oh God I did the wrong thing, to the right girl
   My mind was only in it for a minute

Fechei os olhos, concentrando-me apenas na música e na garota para quem eu a escrevera.
   Eu podia vê-la ali, na minha frente. Dentro da minha mente, presa em cada pensamento.
   Tudo, absolutamente tudo me levava a pensar nela.

Had a bad fling, with a good girl,
   I was stupid and dumb, not giving a...

Foi quando percebi isso que comecei a pensar que eu talvez pudesse estar ficando louco.
   E quem disse que o amor não era uma loucura?
   Podia vê-la, sorrindo maliciosamente para mim, sem mostrar os dentes. Seus grandes olhos brilhavam em minha direção, enquanto ela enrolava uma mecha de seus cabelos nos dedos.

The blank stare, at the window,
   If I could just sober up, if I could just admit

Podia sentir seu cheiro, deliciosamente fresco, como se ela houvesse acabado de sair do banho. Era assim o tempo todo. Era doce e não muito forte.
   E estava me deixando maluco.

I did the wrong thing, to the right girl,
   It was your world baby and I just lived in it (x2)

Abri os olhos, sem deixar de tocar. Sentia-me tão confortável e relaxado que tomei um susto maior do que o necessário ao ver um corpo encostado no batente da porta que separava o hall de entrada da sala.
   Tá, eu tinha mesmo o direito de me assustar, estava escuro e tudo o mais. E eu tinha essa mania idiota de nunca trancar a porta de entrada.
   Ela também se assustou ao ser descoberta, tomando uma postura tensa.
   - Gostou? - Sorri divertido para ela, que tentou me olhar com desprezo. Aparentemente, ouvir minha música a deixara menos arisca.
   - É... Acho que tem potencial. - parecia um pouco desesperada e olhava em direção à escada a todo momento. Apoiei o violão no sofá e me levantei, sorrindo disfarçadamente ao perceber o olhar demorado que ela deu em meu corpo. Ótima hora mesmo que resolvi não usar uma camiseta, mesmo que lá fora nevasse.
   - Vai acabar doente. - ela disse, tentando soar irritada. No entanto, parecia mais envergonhada.
   - Obrigado por se importar, linda, mas eu sou forte. - Pisquei para ela, procurando não sorrir como um idiota quando ela rolou os olhos e bufou.
   - Cadê o Alex? - Perguntou, fazendo qualquer resquício de humor em mim desaparecer.
   - Saiu. - Cheguei à sua frente, parando a cerca de um metro de distância.
   usava um sobretudo branco pesado que chegava até pouco abaixo de seus joelhos e botas pretas.
   - Tem alguém aqui? - Tentou disfarçar o nervosismo na voz, mas eu a conhecia bem demais para ser enganado. Isso me fez lançar-lhe um meio sorriso que deve ter saido bastante malicioso.
   - Tem. Eu... Você... - Dizia baixo, de um modo arrastado que costumava deixar as garotas tensas. engoliu em seco.
   - Acho melhor eu ir embora. - Ela disse, mas não se moveu. Eu continuava sorrindo para ela, enquanto me encarava como se eu fosse mordê-la.
   E eu realmente o faria, se ela me deixasse.
   - Ok. - Ergui uma sobrancelha em sua direção, sem me mexer também. Ela pareceu ainda mais desesperada, mas não se movia.
   - Eu to falando sério. Não tem motivo algum pra eu ficar aqui... Com você... No escuro... - A cada pausa, o tom de voz dela saia mais baixo e resignado, enquanto ela mesma ia aos poucos se aproximando de mim.
   Senti-me ficar tenso quando a distância entre nós passou a ser mínima o bastante para que conseguisse sentir sua respiração contra mim.
   levantou os braços e eu quase fechei os olhos, não suportando aquele suspense. Meu coração batia ridiculamente depressa e minhas mãos formigavam.
   No entanto, ela logo voltou a abaixá-los, olhando para mim com uma expressão confusa e sofrida.
   Não me distanciei dela e também não disse nada, só esperando por seu próximo passo, que veio logo em seguida.
   colocou os braços ao redor do meu pescoço, embrenhando os dedos em minha nuca, de um modo que fez todos os meus pelinhos da região se arrepiarem. Sorri para ela, um pouco envergonhado pela minha reação tão boba, mas ela não pareceu se importar. Continuava a olhar em meus olhos, vez ou outra mirando meus lábios e logo passei a fazer o mesmo, enquanto ela puxava minha cabeça para perto da dela, colando nossas testas de forma que as pontas dos nossos narizes se tocavam.
   Minha respiração estava descompassada e pesada e a encarava com um grande ponto de interrogação na testa, enquanto ela parecia calma e levemente dopada.
   Cheguei a cogitar perguntar-lhe se ela andara bebendo, mas desisti da ideia quando seus lábios tocaram os meus.
   Só tocaram, levemente.
   Dessa vez sim, fechei os olhos, ansioso por matar as saudades que eu há tanto tempo sentia, daqueles lábios, daquele corpo, daquela garota como um todo. Mas acabou muito rápido.
   Em um segundo, já estava distante novamente, parecendo assustada e pálida. Tinha uma mão na altura do coração e me encarava com os olhos arregalados.
   - Eu tenho mesmo que ir embora. - Virou-se em direção à porta e eu só tive a certeza de que se ela partisse daquela forma eu ficaria pelo menos mais algumas noites sem dormir.
   - Espera! - Chamei-a num tom mais alto e mais necessitado do que pretendia. Voltou-se para mim, igualmente desesperada.
   - O quê?
   - Você podia... É... O Alex não vai demorar. - Praticamente gritei. Imbecil. Limpei a garganta, respirando fundo antes de continuar. Consegui captar sua atenção e agradeci mentalmente por isso - Você pode esperá-lo aqui.
   - Eu...
   - Ora, vamos! - Deixei um sorriso desnecessário escapar. Meu deus, eu estava me odiando naquele dia. pareceu ser pega de surpresa por aquele sorriso e me olhou com curiosidade. - Eu fico naquele canto do sofá – apontei -, tocando violão e você fica no outro canto. Nem precisamos nos falar. - Acrescentei essa última parte, fazendo sinal de escoteiro.
   E, por incrível que pareça, ela não rolou os olhos, ou disse algo para me ofender. Ela simplesmente riu, uma risada gostosa e verdadeira, e balançou a cabeça.
   - Ok, eu fico. Mas só se você continuar a cantar aquela música que estava cantando quando cheguei. - Piscou para mim e senti meu corpo ficar tenso.
   Eu fizera aquela música pensando nela, continuar a tocá-la seria um péssimo modo de tentar me manter longe dela.
   Porém, se tocá-la garantiria que ela iria ficar por mais algum tempo, então que fosse.
   - Combinado. - caminhamos até o sofá e voltei a me sentar onde estivera antes, esperando que ela fizesse o mesmo.
   Para a minha surpresa, no entanto, ela não sentou-se no sofá, o mais longe possível de mim e sim na mesinha de centro, empurrando minha lata de cerveja para o lado de modo a se sentar exatamente onde a minha fiel companheira antes estivera.
   O problema, se é que pode ser chamado assim, dela ter escolhido aquele lugar infeliz para se sentar era que nos deixava muito próximos, de modo que, se eu movesse minha perna, encostava perigosamente na dela.
   Diante do meu nervosismo ridículo do momento, além de só perceber que segurava o violão do lado contrario quando riu sem dó, também não percebi que ela agora não usava mais o casaco, estando vestida com uma jeans skinny escura e uma blusa de tricô.
   Ela conseguia ficar linda de qualquer forma, aquilo me deixava maluco.
   - Não vai tocar? - Sorriu com uma malicia mal disfarçada, me deixando perceber -talvez sem querer- que ela escolhera sentar-se ali exatamente para me provocar.
   - Ah, claro. - Sorri, sem graça, recuperando o fôlego antes de voltar a tocar de onde havia parado. - Ela ainda não está pronta. Só tenho o refrão e a segunda parte, na verdade.
   - Ok. - Sorriu, percebendo com satisfação o meu nervosismo.
   Estava me sentindo um idiota.

I've never been the best with my mouth,
   Try to say smart but the dumb comes out
   Maybe I'm shy, I drive an old car,
   Maybe I'm amazed that I got this far

sorriu para mim como nunca fizera antes. Ela me observava com tanto afinco que achei que quisesse enxergar dentro de mim.
   Ou talvez tivesse adquirido visão de raio-x e estivesse dando uma boa espiada no meu corpo por baixo das roupas.

When I got my stand by's waiting on the line,
   But the hardest part is knowing
   That it won't be her this time

Pegou a latinha de cerveja ao seu lado e deu um gole devagar, de um modo extremamente sexy que fez com que eu me distraísse por um segundo e errasse uma nota.
   A filha da mãe estava fazendo de propósito.

Oh God I did the wrong thing, to the right girl,
   My mind was only in it for a minute

Antes que pudesse evitar, puxou o violão de minhas mãos, apoiando-o do lado da mesinha e lançou-me um olhar profundo e cheio de segundas intenções. Mal tive tempo de sentir o arrepio que veio da cabeça até os pés, antes que ela fosse para cima de mim, sentando-se sobre mim com os joelhos apoiados um de cada lado do meu corpo no sofá. Lançou-me um sorriso que achei um pouco tímido, mas bastante sugestivo e corri minha mão por seus cabelos, tirando-os de seu rosto e colocando uma mecha atrás de sua orelha.
   colocou sua mão sobre a minha, forçando-me a parar e atraindo minha atenção para seus olhos, que brilhavam para mim, praticamente implorando para que eu fizesse logo alguma coisa. Escorreguei a mão até a sua bochecha, chegando com o rosto mais perto do dela para beijar-lhe em seus lábios macios e carnudos. O efeito que sempre me dominava quando nossas línguas se tocavam foi instantâneo. De repente, eu já não estava em minha casa, mas sim no mais adorável dos lugares, seja lá como você prefira chamá-lo.
   Puxei seu corpo para mais perto do meu, sentindo que a distância entre nós, por menor que fosse, ainda era excessivamente desnecessária. Suas mãos foram se apoiar em meu peitoral, fazendo-me me arrepiar com o seu toque sobre mim.
   Ela não era delicada.
   Não, ela definitivamente não era esse tipo de garota.
   era precisa e felina; determinada e plena. E esse jeito dela me fascinava.
   Todos os seus movimentos que contornavam meu corpo com seu dedo indicador eram medidos e propositais e me deixavam extremamente excitado.
   Em êxtase, invadi sua pele por baixo da blusa que usava, tocando-a com certa brutalidade, mesmo que tentasse me controlar para não jogá-la naquele sofá e beijar cada pedacinho de seu corpo.
   Devo confessar, no entanto, que embora eu mesmo tenha pensado bastante que aquela blusa estava atrapalhando demais, o fato de colocar as mãos sobre as minhas, ajudando-me a tirá-la, me pegou de surpresa.
   Sua respiração ficou bem mais rápida quanto sua blusa tocou o chão e pude jurar que a vi corar um pouquinho quando meus olhos recaíram para o sutiã preto de renda que ela usava. Meu queixo caiu e ela gargalhou, beijando-me em seguida.
   Explorava a parte descoberta de seu corpo, da mesma forma que ela fazia com o meu. Mais rápida do que eu, me jogou contra o sofá, fazendo-me ficar deitado sob ela.
   Sorriu para mim, um sorriso cheio de malicia, que esquentou meu corpo de tal forma que não consegui suportar que ela estivesse tão longe de mim, puxando-a para mais um beijo desesperado.
   Dedicava-me a tentar passar-lhe tudo o que sentia por ela naqueles beijos e talvez finalmente estivesse conseguindo obter algum resultado, baseado no olhar significativo que ela me lançou quando nos separamos em busca de ar. Não deixei, no entanto, que ela se afastasse muito, deixando nossas testas e narizes colados.
   - Eu te... - Fui interrompido por um beijo desesperado, que tivera mesmo o objetivo de não me deixar dizer o que eu queria. Pude ver em seus olhos o desespero crescer quando comecei a falar.
   Contrariado, não insisti naquilo, permanecendo calado quando seus lábios deixaram os meus para rumarem ao meu pescoço, onde depositou beijos e chupões fraquinhos. Suas mãos passaram por meu peitoral e depois pela minha barriga, arranhando-me levemente com suas unhas compridas. Suspirei quando ambas parar na barra de minha calça, indo se colocar no passador do cinto.
   Mais uma vez, procurei seus lábios com os meus, sentindo-me ficar tenso quando as mãos de procuraram o fecho do zíper.
   Não, aquilo estava indo longe demais.
   Embora eu quisesse aquilo mais do que eu jamais quis qualquer coisa na vida, não queria que fosse nem ali, nem daquela forma.
   Por isso, quando fez menção de tentar abrir minhas calças, respirei fundo e pisquei com força antes de colocar minhas mãos sobre as suas, obrigando-a a parar. Ela pareceu confusa por um momento e tentei passar com o meu olhar que aquilo não era certo naquele momento.
   Então, ela se irritou.
   Num pulo ela ficou de pé, bufou e foi procurar sua blusa no chão.
   - Linda, espera... - Levantei-me também, subindo meu zíper para ir atrás dela.
   - Não se aproxima, Kennedy. - Sim, ela parecia terrivelmente ofendida.
   - Não... Não é o que você tá pensando. Eu quero isso também, mas não assim.
   - Ah claro, aposto que você não disse nada disso pra Pâmela.
   - É óbvio que não, ela não é você. - Parei na frente dela, impedindo a sua passagem. Olhou em meus olhos com uma raiva absurda, mas não me deixei abalar.
   - Me deixa ir embora.
   - Eu quero que seja especial com você. - Levei a mão direita à sua bochecha, fazendo-lhe carinho com o polegar. Isso pareceu acalmar-lhe um pouco, mesmo contra sua vontade.
   - Por quê? - Sua voz falhou e sua cabeça tombou um pouco para o lado em que minha mão a segurava, fazendo-a soar como uma garota extremamente frágil. Sorri para ela.
   - Porque eu te amo. - A senti tremer levemente, mas não reagi àquilo, para não lhe deixar desconfortável. Um sorriso quase conseguiu escapar, no entanto. Continuamos em silêncio e não parei de lhe fazer carinho. Ainda nos encarávamos e achei que fosse uma boa hora para tentar me redimir.
   Movido por esse pensamente, me aproximei de , tocando seus lábios com os meus. No entanto, calculei mal e, antes que pudesse impedi-la, ela já se livrara de mim e fora parar a mais ou menos um metro de distância.
   - Eu realmente tenho que ir. - Ela disse, já caminhando para o hall para pegar seu casaco. E eu, não sei por que, não consegui sequer me mover. - Avisa pro Alex que vim aqui.
   Maldita hora para tocar no nome dele.
   - Claro. Aviso pra ele também que você não ficou chateada por ele não estar, porque eu cumpri muito bem a função dele? - Ergui a sobrancelha, usando meu melhor jeito canalha. Ao invés de me xingar, ela simplesmente corou.
   Muito.
   - Não... Não diz nada ok? Fingi que você não me viu. Depois eu ligo pra ele. - Dito isso, ela pegou o casaco para colocar no corpo, evitando olhar para mim.
   - Ei, linda? - Chamei-a. Ela me olhou. - Sua blusa tá do lado avesso.
   parou de vestir o casaco no mesmo momento, olhando para o próprio corpo e constatando que eu dissera a verdade.
   Continuava encarando-a sem pudor algum, dando a entender que não olharia para o outro lado caso ela pedisse privacidade para se ajeitar.
   Só me esquecera de que sabia muito bem jogar o nosso jogo.
   Ela arqueou uma sobrancelha para mim de volta e, sem desviar seus olhos dos meus, tirou a blusa e a ajeitou antes de voltar a vesti-la.
   Tentei não me abalar muito naquele momento, agradecendo que estivéssemos agora bastante longe um do outro, ou minha consciência perderia aquela batalha para os meus instintos.
   - Até mais, Brock. - Perdi-me em pensamentos e, quando me voltei à realidade, já passava pela porta, deixando-me ali, sozinho novamente.
   Suspirei resignado, pegando a lata de cerveja em cima da mesa e tomando todo o seu conteúdo de uma vez só.
   Merda, depois de tudo aquilo eu realmente não conseguiria dormir por algumas noites, se é que me entendem.

Capítulo XXXV

Dois dias.
   Em apenas dois dias o sonho em que Pat se encontrava desde que começara seu romance com acabaria.
   Mal conseguia descrever como se sentia. Tinha raiva de si mesmo por não poder fazer nada para impedir que ela partisse, aquele maldito sentimento de impotência estava enlouquecendo-o.
   Também sentia dor. Muita dor só de imaginar o vazio que deixaria dentro de si assim que entrasse no avião em direção à Denver.
   No dia seguinte os amigos fariam uma pequena festa de despedida para a garota. Naquela noite, porém, seriam só os dois.
   Pat aproveitou que os pais estariam jantando na casa dos pais de naquela noite e chamou para lá. Estava tudo preparado: a melhor torta que pudera fazer seguindo as instruções de um livro de receitas da mãe, a iluminação fraca propiciada por algumas dezenas de velas e a música suave de Bob Dylan construía uma atmosfera que tendia à perfeição.
   A campainha da casa tocou e Pat correu para abrir a porta para , que esperava por ele com as bochechas rosadas, um longo sobretudo preto e pesado e salto. Ao vê-la, o garoto abriu um grande sorriso iluminado, que foi retribuído por outro, um pouco tímido. enlaçou os braços pelo pescoço de Pat, dando-lhe um selinho que acabou se tornando um beijo calmo e apaixonado.
   Quando se separaram, ambos estavam sem ar.
   - Que cheiro gostoso. - sorriu ao entrar na casa, suas narinas sendo tomadas pelo aroma da comida preparada pelo namorado.
   - Eu fiz uma torta. - Pat coçou a cabeça de um modo fofo.
   - Aposto que está ótima. - Disse animada, largando a bolsa no chapeleiro, junto com seu casaco.
   - Espero que esteja. - Pat sorriu de volta, alcançando a garota já quase na sala de estar. - Tá com fome?
   - Estou, graças a esse cheiro. - esfregou a barriga em movimentos circulares, fazendo Pat rir. Tinha ajeitado tudo ali mesmo na sala de estar, agradecendo pela sua mesa de centro ser grande o suficiente para caber todas as coisas das quais precisaria.
   correu os olhos demoradamente por toda a sala, coberta por velas de todos os tamanhos, que desempenhavam sozinhas o papel de iluminar o ambiente. O grande sofá vermelho, no centro da sala, era o objeto que mais se destacava em todo o ambiente, seguido pela lareira de pedra paralela à mesa de centro que Pat cobrira com uma toalha também vermelha e arrumara caprichadamente e ao sofá.
   - Vem aqui então. - Pat indicou o sofá para que ela se sentasse, contornando-o para fazer o mesmo. Uma vez sentados, ficavam de frente para a lareira, que conferia um calor gostoso e contrastante com o frio de inverno que fazia do lado de fora da casa.
   - Você caprichou em tudo. - sorriu, virando-se de lado para poder olhar para Pat. Ele retribuiu o sorriso.
   - Você merece muito mais. - Respondeu, dando um beijo estalado na testa da garota, que riu anasalado.
   - Fofo.
   - Linda. - Houve um momento de silêncio em que o casal ficou se encarando, admirando as luzes do fogo da lareira dançando sobre os olhos um do outro. - Posso te servir?
   - Claro. - assistia Pat colocar sua torta nos pratos com demasiado interesse, suspirando só de pensar que dentro de menos de 48 horas não poderia mais vê-lo.
   Chorara durante toda a semana, enquanto fazia suas malas. Principalmente quando o pai passava por seu quarto nas vezes em que ela esquecia a porta aberta e perdia alguns minutos apenas observando-a, com aquele ar de pai coruja.
   Sentiria a falta dele.
   Dele, de Pat, das amigas e até mesmo dos outros losers.
   - Não vai comer? - Pat a chamou, preocupado. Balançou a cabeça tentando lhe lançar um sorriso alegre, que deve ter saído como uma expressão de dor. O garoto não precisou de muito tempo para deduzir em o que ela pensava, deixando uma expressão triste assumir seu rosto.
   fez o mesmo, sem saber o que fazer para remediar a situação. Sabia desde o começo que esse dia chegaria, mas ter que enfrentar aquilo era arrasador.
   Derrotada, deixou os ombros cair e pegou um pedaço da torta de Pat com o garfo, levando-a até a boca.
   - Que delícia! - Gritou animada, fazendo Pat a encarar um pouco assustado.
   - Tá boa mesmo? - Ele riu da animação da garota.
   - Tá brincando? Você poderia ser meu chef particular! Isso aqui tá divino. - Fez jus à frase dita comendo mais um pedaço gigante da torta e assim incentivando Pat a fazer o mesmo.
   Comeram sorrindo cúmplices um para o outro, mas em quase absoluto silêncio. Quando terminaram, jogou-se contra o encosto do sofá, suspirando longamente.
   - Pat, você é muito bom nisso. - Disse numa voz sonolenta e dengosa.
   - Acha que eu devo largar a The Maine e seguir carreira?
   - Sim! Como meu chef particular. Você deveria cozinhar pra mim todos os dias. - Ergueu os braços, animada, só depois lembrando que seu desejo jamais se tornaria realidade, afinal, partiria em breve.
   - Nós podemos esquecer que você vai embora. - Pat afirmou, e o fitou como se ele tivesse enlouquecido.
   - Não sei como. - Suspirou, abaixando a cabeça para olhar sua mão entrelaçada à de Pat sobre sua perna.
   - Por essa noite, só por agora apenas, vamos pensar que ficaremos juntos pra sempre. - Eles se encararam novamente e Pat sorria tranquilamente, como se já tivesse se decidido sobre isso a muito tempo.
   Tomada pela coragem que Pat transmitia com seus olhos, assentiu, encostando seus lábios nos do garoto com carinho.

(Eu escrevi essa parte com essa música. Ouçam-na a partir de agora, se quiserem)

Pat sorriu contra os lábios de , pedindo permissão para aprofundar o beijo. Pousou as mãos ao redor do quadril da garota, por cima da camisa azul clara de botões que ela usava.
   As mãos dela procuraram os compridos cabelos de Pat, onde se embrenharam sem qualquer dificuldade. Suas línguas se enroscavam num misto de paixão e carinho, mas sem qualquer agressividade.
   Pat sempre a beijava como se fosse a primeira vez, disposto a saborear cada momento, sempre a tocava como se ela fosse algum objeto raro e precioso, sempre a olhava como se ela fosse uma das sete maravilhas do mundo e sempre a tratava como se ela fosse a pessoa mais importante do universo.
   Ele conseguia deixá-la sem ar até quando não tinha intenção nenhuma, como quando sorria por algo bobo que ela dissera, ou quando estava extremamente concentrado tocando com sua banda.
   Pat levou a mão direita até o rosto de , fazendo carinho em sua bochecha com o polegar. Eles se afastaram um pouco, só o suficiente para conseguirem olhar-se e tombou sutilmente a cabeça sobre a mão do garoto.
   - Você é tão linda. - Disse ele, um pouco perdido em tentar decorar todos os traços do rosto de .
   Ela não respondeu.
   Simplesmente voltou a beijá-lo, com mais urgência dessa vez. Quando os lábios já começavam a doer, Pat passou a beijar seu pescoço. suspirou no momento em que os lábios de Pat tocaram sua pele sensível, incentivando-o com puxões um pouco mais fortes em seus cabelos. Com a mão na base das costas da garota, Pat empurrou-a sutilmente, até que ela estivesse deitada sobre o sofá. Beijava toda a extensão de seu pescoço e colo e suas mãos dedicavam-se à explorar a pele da namorada por baixo de sua camiseta.
   Assim, não demorou muito para que aquele pedaço azul de tecido se tornasse um incomodo; um obstáculo que implorava para ser vencido.
   Pat abriu com cuidado os dois primeiros botões, com afobação o terceiro e todos os outros com um puxão só. pensou em reclamar ao ver um dos botões azuis voarem e baterem na mesinha de centro, mas desistiu assim que os lábios de Pat entraram em contato com a pele quente de sua barriga, dando um beijo cálido no local que a fez se arrepiar.
   Com a ajuda da garota, terminou de tirar a blusa azul de seu corpo, jogando-a em qualquer lugar da sala.
   Assim que se viu livre da parte de cima de sua roupa, aproveitou para fazer o mesmo com a camiseta preta que Pat usava, tirando-a com pressa e sem muitas cerimônias.
   A urgência de senti-lo de verdade era maior do que tudo naquele momento.
   Para aceitar a ideia de ficar longe dele, pelo menos precisava saber como era estar o mais perto o possível.

Era animador ver sua casa tão cheia como naquele dia. Há tempos não via tanta alegria naquele ambiente.
   Claro que os garotos estavam ali o tempo todo, mas era a presença de espécimes raros do sexo feminino no local que deixava tudo mais bonito.
   Pat e ainda não haviam chegado, assim como e Alex, para a alegria de Kennedy, que não sabia como reagiria ao vê-los juntos novamente.
   Já quisera enfiar seu microfone goela abaixo no amigo quando o viu beijando sua garota no pub no sábado anterior e não conseguia prever o que faria se eles começassem a agir como um casal fofo e gay na sua frente.
   Disso já bastavam e John, e Garrett e e Pat.
   Merda, ele queria formar um casal assim com .
   - Kenny, dança comigo? - o tirou da poltrona de um só lugar que ele ocupava, despertando-o de seus pensamentos.
   - Não sei não, amor, o Gary tá aqui. - Ele sorriu com malícia, fazendo a garota rir alto.
   - Não se preocupe, ele não vai falar nada. - piscou para o namorado, sentado ao lado de e John no sofá maior. Garrett segurava um copo de cerveja na mão direita e tudo o que fez ao ter a atenção da namorada e de Kennedy viradas para si foi erguer o copo, como se dissesse que não se importava.
   - Beleza então. Mas depois não venha reclamar quando ela me quiser ao invés de você. - Kennedy fez rodopiar até que ficasse de costas para ele e, com a mão direita em sua cintura, conduziu-a para uma área mais livre no canto da sala, bem próxima de onde as caixas de som tocavam Don't Go Breaking My Heart, das Spice Girls.
   apoiou as mãos ao redor do pescoço de Kennedy, que tinha as suas nos quadris da garota. Ele então colocou suas mãos nas dela e a empurrou e puxou de volta, rodopiando-a em seguida, como se estivessem em Grease.
   - Acho que você perdeu sua namorada, amigo. - Jared, sentado entre Garrett e , deu tapinhas consoladores no amigo, observando e Kennedy dançarem e rirem como crianças.
   - Don't go breaking my heeeeart! - Kennedy gritou desafinado, junto à voz de Elton John.
   - I wont go breakin' your heart. - respondeu rindo, sendo rodada novamente pelo garoto. Viu as sombras borradas de e Alex na entrada da sala no meio do giro e parou de dançar, virando-se de frente para os dois sorrindo. - Vocês chegaram!
   - Cheguei, amor, não precisa mais chorar a minha ausência. - Disse com sarcasmo, deixando os olhos encontrarem rapidamente os de Kennedy, mas os desviando em seguida. Alex sorria bobo para todos, sem perceber que todos na sala pararam (e se viraram no sofá) para observar a cena.
   A mão de Kennedy sobre a cintura de a apertava com um pouco mais de força do que o necessário, por puro nervosismo ao ver a mão de entrelaçada à de Alex.
   sentiu um pouco de dor, mas não disse nada ou tirou a mão dele dali, sentindo pelo garoto. Colocou sua mão sobre a dele, tentando acalmá-lo. Kennedy parou de apertá-la assim que se deu conta de que provavelmente a estava machucando.
   - Desculpa. - Sussurrou em seu ouvido, abandonando-a para seguir rumo à cozinha. quis fazer algo para ajudá-lo e procurou os olhos de Garrett com os seus, pedindo ajuda com o olhar.
   - Vem cá. - Ele moveu os lábios, sem emitir som.
   - Ué, pararam de dançar só por que chegamos? Onde está a atração principal da festa? - Perguntava um todo alegre Alex, indo sentar-se na outra poltrona de um só lugar. sentou-se no colo de Garrett e no de Alex.
   - Acho que o Kenny cansou. - deu de ombros, sorrindo simpática. - E a e o Pat devem estar achando que quarenta minutos de atraso ainda é chique.
   - Eles devem estar se despedindo devidamente. - John comentou, levando um tapa no braço de . - Ouch!
   - Trouxe mais cerveja. - Kennedy voltou à sala com um engradado de cerveja na mão e mais uma garrafa na outra, da qual ele bebia no gargalo.
   - Me dá, me dá! - Pediu , sacudindo as mãos como criança. Kennedy tentou ignorar a visão de sentada sobre Alex, mas agradecia que o vidro da garrafa em sua mão fosse grosso o suficiente para não despedaçar com a força exercida sobre ela.
   Pensou por um momento se o vidro seria forte o suficiente para resistir a não se quebrar sobre a cabeça de Alex, mas desistiu da ideia quando Pat e entraram correndo e gritando do hall à sala de estar.
   - Nãããão! - Gritou ao ser abraçada pelas costas por Pat. Ambos riam muito e tinham suas bochechas coradas pela corrida.
   - Meu deus, vocês estão tentando ficar em forma? - Perguntou , rindo. Estava de muito bom humor naquela noite e o motivo disso escorregava discretamente a mão para a sua coxa naquele momento. Nem a despedida de Jordan naquela manhã fora capaz de arrancar-lhe o sorriso do rosto.
   - Estávamos apostando corrida. - Explicou Pat, libertando para tirar seus cabelos do rosto.
   - Skate, corrida... Vocês são atléticos demais pro meu gosto. - Brincou Jared.
   - É só porque o Pat não conhece nenhum esporte mais divertido do que esse. - Kennedy sorriu sugestivo, fazendo corar. - Querem cerveja?
   - Eu quero. - A garota apressou-se a pegar uma lata, feliz por ter uma desculpa para não responder a ele.
   - Ah não, acabou o salgadinho. - John fez biquinho, encarando a embalagem vazia de Doritos sobre a mesa de centro.
   - Eu tenho mais na despensa, lá fora. - Kennedy jogou-se em sua poltrona, mostrando que John teria que buscar seu salgadinho se pretendesse comer mais.
   - Que anfitrião de merda você. - Resmungou o vocalista da The Maine.
   - Você praticamente mora aqui também, para de ser imbecil. - Respondeu, observando a cerveja dentro da garrafa dar voltas conforme ele a balançava. Seu humor estava péssimo, qualquer um podia ver isso.
   - Eu pego! - Jared saltou do sofá, demonstrando muito mais animação do que deveria. Kennedy levantou uma sobrancelha para ele, que pigarreou. - Acho que um Doritos iria bem. Vou pegar todo o seu estoque.
   - Boa sorte, tem muitas embalagens lá dentro. Vai acabar derrubando tudo no caminho. - Kennedy deu de ombros, olhando agora para , estranhamente agitada.
   - Quer ajuda? - Ofereceu , fingindo muito bem seu desinteresse suficientemente bem para enganar qualquer pessoa menos atenta que Kennedy e , que trocaram olharem cúmplices quando levantou-se.
   - Ahn... Ok. - Jared deu de ombros, seguindo para a porta ao lado da porta da cozinha, que os levaria para o lado o quintal da casa. Quando os dois saíram e fecharam a porta, Kennedy e levantaram-se simultaneamente, atraindo o olhar do restante dos garotos.
   - A gente tem que ver isso. - Disse a garota. Kennedy assentiu, percebendo os olhares confusos dos outros.
   - Qual é, vocês não acham estranho eles terem se sentado lado à lado sem brigar e terem ido juntos pegar salgadinhos na dispensa?
   - O que você está sugerindo? - dirigiu-se à Kennedy pela primeira vez na noite, fazendo-o a encarar por cerca de um segundo antes de conseguir responder, com a voz um pouco falha.
   Ridículo.
   - Eu acho que eles estão tendo um caso e não nos contaram.
   - Não seria a primeira vez, né? - olhou acusadora para e John.
   - Vamos logo, não quero perder isso! - Kennedy correu em direção à porta, seguido de perto por . Logo atrás vinham os outros quatro um tanto quanto confusos.

Deram as mãos assim que escaparam da vista dos amigos, seguindo assim até a dispensa, que ficava à uns dois metros da sala, num pequeno quarto sem janelas, na frente da piscina.
   Como todos os quartos da casa de Kennedy, a porta daquele estava destrancada. Entraram com pressa, sem nem fechar a porta completamente ao fazê-lo, de modo que sobrou uma pequena fresta aberta.
   Assim que se sentiram seguros no abrigo daquele quarto pequeno e escuro, abraçaram-se com força, colando seus lábios em um beijo faminto e apressado.
   - Eu não aguento mais isso. - Disse Jared, eufórico. franziu o cenho e ele sorriu. - Fingir indiferença quando tudo o que eu quero fazer é te agarrar e não soltar nunca mais.
   - Você fazia isso muito bem antes. - Ela bateu o dedo no nariz dele sem usar força. Jared fez uma careta fofa.
   - Mas era diferente. Agora que estamos bem, só quero passar todo o tempo com você.
   - Recuperar o tempo perdido? - Ela perguntou, numa voz fofa e infantil. Jared riu pelo nariz.
   - Isso mesmo.
   - Eu sabiaaaaaa! - Kennedy entrou no quarto gritando e apontando para os dois, que se afastaram um pouco por puro reflexo, assustados.
   - Kennedy! - reclamou da porta e só então o casal percebeu que todos os seus amigos estavam ali. corou na hora e Jared sorriu, voltando a abraçá-la pela cintura.
   - Vocês estão juntos ou o quê? - Perguntou o dono da casa, com um sorriso animado no rosto.
   - Estamos. - Foi quem assumiu o óbvio. - Eu ia contar pra vocês! - Completou, olhando para as amigas com ar de culpa.
   - Relaxa. - lhe sorriu compreensiva.
   - Na verdade, antes de vocês entrarem aqui desse jeito, eu estava prestes a oficializar isso. - Quando Jared disse isso, virou-se para ele boquiaberta. Ele sorriu. - É sim. Quer ser minha namorada? De novo?
   Os lábios de se curvaram tanto que poderiam ter-se rasgado. Seu coração deu um ou dois mortais em seu peito e a reação mais controlada que conseguiu ter foi pular no pescoço do garoto, que a segurou pela cintura em reflexo, tirando-a do chão.
   - Isso é um sim? - Ele riu alto, nem ligando para todos os olhares bobos que recebia de seus amigos. Kennedy, mais à frente em relação aos outros, os observava descaradamente com um sorriso gay, e os casais parados na porta assistiam à cena, abraçados.
   - É um super, hiper, mega, ultra, power sim! - abriu os braços para o ar, segurando as bochechas de Jared em seguida para beijá-lo apaixonadamente. Jared a recebeu da mesma forma, travando uma batalha entre suas línguas.
   Kennedy foi o primeiro a assobiar, e logo todos batiam palmas e uivavam.
   Quando o casal se separou para respirar, ambos sorriam bobos.
   - Vocês são trouxas. - deu a língua, um pouco corada.
   - Vocês são lindos juntos! - Kennedy foi abraçá-los ao mesmo tempo, sendo empurrado por Jared.
   - Você tá muito gay hoje Kennedy, sai fora. - Riu.
   - Ei, vamos pro pub? - sugeriu. Os amigos a encararam. - Hoje é dia dos amadores, tem um pessoal engraçado que toca lá.
   - Como assim? Você pega o microfone e canta, mesmo sem saber? - quis saber, já se imaginando sobre o palco.
   - É. Querem ir?
   - Claro, vamos! - sorriu animada - Precisamos comemorar!
   Todos a olharam, estranhando o motivo de tanta felicidade. Será que se esquecera que estaria partindo no dia seguinte?
   - Olha, eu to muito feliz que vocês tenham voltado e tudo o mais... - Pat dirigiu-se à Jared e , que assentiram sorrindo. - Mas não é bem o suficiente para me dar vontade de comemorar. - Os amigos concordaram cabisbaixos, enquanto o sorriso de só fazia aumentar.
   - E quem disse que o namoro deles é o único motivo para celebração?
   - Quer que a gente comemore sua partida? Meu amor, eu até poderia comemorar se a fosse embora, mas você, nunca. - comentou, recebendo um olhar indignado da parte de . riu baixinho.
   - Ei! Como assim? - Gritou , totalmente ofendida.
   - To brincando, sua tonta.
   - E se eu não estiver partindo? - Perguntou , num tom sugestivo. Pat foi o primeiro a encará-la, boquiaberto.
   - Você vai ficar? - Ele praticamente gritou.
   - Meus pais ainda vão se separar e minha mãe ainda vai pra Denver. Mas a ideia de deixar todos vocês pra trás estava me deixando louca! Então pensei "a mora com o pai dela e nunca reclamou" e resolvi dar uma chance pro meu velho.
   - Eu... Não... Acredito. , sua filha da puta, como só nos diz isso agora? - gritou, dividida entre a vontade de chorar e abraçar a amiga e arrancar sua cabeça fora por tê-la feito praticamente ficar de luto por sua partida.
   - Eu... Meio que só decidi completamente hoje de manhã. - Suas bochechas coraram, assim que seu olhar encontrou o de Pat. - percebeu isso e sorriu com malícia.
   - Hmm, você deve ter encontrado um motivo muito bom mesmo pra deixar sua mãe ir sozinha pra outra cidade. - Brincou sugestiva. sentiu seu rosto esquentar, mas tentou disfarçar. Por sorte, a ajudou nisso, pulando sobre ela.
   - Cara, eu não acredito que você vai ficar! Não vou te soltar nunca mais, meu Deus! - Ela gritava e pulava abraçada à amiga, provocando o riso em todos os presentes. Não demorou muito para que as outras amigas se unissem ao abraço e logo depois foi a vez dos garotos.
   Pat esperou do lado de fora do montinho e, quando a namorada foi libertada, com o rosto vermelho e um sorriso brilhante no rosto, deu cinco passos em sua direção, até ficarem frente a frente.
   Todos assistiam à cena de perto, colocando o casal no meio de uma rodinha. O silêncio dominava o ambiente quando Pat puxou para si com certa pressa, beijando-a com ferocidade.
   Queria mostrar-lhe que, agora mais do que nunca, ela era dele, assim como ele pertencia à ela, por completo.
   - Beleza, vamos comemorar! - Kennedy abriu os braços para o alto, sendo apoiado por um coro de vozes alegres.

Os onze dividiram-se nos carros, ficando , Garrett, Pat e no carro de Kennedy e Alex, John, , Jared e no carro de .
   - Quem diria que eu teria duas garotas lindas e legais no meu carro um dia? - Kennedy comentou sorrindo, olhando para e pelo espelho retrovisor. Garrett ficara ao seu lado na frente.
   - Esqueceu o comprometidas na sua equação, amigo. - Disse Pat, abraçando com um só braço. As garotas riram.
   - Tudo bem, eu não me importo em dividi-las com vocês. - Kennedy piscou para as garotas.
   - É, claro. - Garrett rolou os olhos, rindo. - Só dirige logo ou nós ficarem muito pra trás em relação à eles. - Indicou o carro de , logo à frente.
   Alex estava no banco do carona, ao lado dela.
   - Whoa, e tenta chegar inteiro lá, só pra variar! - Pat sorriu nervoso no banco de trás, após Kennedy ter se distraído e girado o volante para o lado errado na hora da curva. Conseguiu recuperar a direção certa por pouco.
   - Merda! - Reclamou, batendo no volante com força. e Garrett trocaram um olhar preocupado.
   - Quer que eu dirija? - Garrett ofereceu.
   - Não. Tá tudo bem. - O outro respirou fundo, tentando mudar o rumo de seus pensamentos para algo menos perigoso. Por sorte, chegaram ao pub em menos de cinco minutos após o pequeno incidente.

- Dude, tá tudo bem? - John foi ao encontro de Kennedy assim que este estacionou na frente do pub. - Vimos você perder o controle do carro. Aconteceu alguma coisa?
   Kennedy sentiu o olhar de sobre si e arriscou olhar para ela de volta, mas esta desviou seus olhos, mirando-os em algum ponto qualquer da rua.
   - Tá sim. - Ele sorriu, sem humor. - Vamos entrar? Preciso de álcool.
   - Você tá conseguindo ser pior do que eu. Acho melhor maneirar. - John disse num tom preocupado, que fez Kennedy rir.
   O grupo entrou no pub de uma vez. O local não estava nem de longe tão cheio quanto ficava aos sábados à noite, mas havia sim bastante gente ali.
   Quando entraram, uma garota bêbada cantava My Heart Will Go On, totalmente desafinada.
   - Vou dar um oi pro Jason e pegar uma bebida. - Kennedy anunciou, apontando para o bar, onde Jason acenava para o grupo.
   - Não exagera! - John gritou para o amigo, acenando de volta para Jason. - Cara, alguém faz essa mina calar a boca? Na boa.
   - Eu faço! - Alex se manifestou, chamando a atenção do resto do grupo. lhe franziu a testa, enquanto ele sorria largamente para ela, entusiasmado. - O Kennedy tem muitos violões em casa e eu tenho muito tempo livre de madrugada.
   - Isso quer dizer que...? - John perguntou, ainda tentando fazer uma conexão entre as duas coisas.
   - Eu fiz uma música. - Exclamou, entusiasmado. Deseje-me sorte! - Pediu, beijando o topo da cabeça de e saindo correndo em direção ao palco.
   - Vamos lá. - puxou , que ainda não sabia como reagir àquela situação.

- Não deixe ninguém saber que eu to te vendendo isso ein. - Jason apontou para o copo na mão de Kennedy.
   - Morreu aqui. - Sorriu o mais novo, virando a bebida de uma vez só.
   - Aquele não é seu amigo de Baltimore? - Viu Jason apontar com curiosidade para o palco e virou lentamente o banquinho rotatório do balcão do bar, sabendo que se arrependeria de fazê-lo.
   Viu Alex pegar o violão da garota bêbada e pedir licença, sorrindo daquele jeito imbecil que fazia as garotas morrerem.
   - Mais um. - Empurrou o copo em direção à Jason, sem desviar os olhos do palco. O mais velho rolou os olhos e encheu o copo do garoto.
   - Oi galera. - Alex pigarreou um pouco nervoso. Já tocara várias vezes com sua banda, mas nunca o fizera tão longe de casa. As pessoas encaravam-no sérias e impenetráveis. Concentrou-se então em olhar para seus amigos, os únicos rostos amistosos e curiosos no local. Ao olhar para , completamente assustada, sorriu. - Vim passar o natal com uns amigos, acho que vocês os conhecem até. Quem aqui gosta da The Maine?
   Muitas pessoas gritaram. As mais próximas aos garotos sorriram para eles, cumprimentando-os.
   - Ótimo. Então, nessa viagem conheci uma garota. - , e sorriram para , que conservava sua expressão pálida e assustada. - Ela é incrível, sério! - Alex sorriu e Kennedy voltou a entornar toda a bebida de uma vez.
   - Acho melhor você ir devagar. - Alertou Jason. Kennedy lhe mostrou o polegar, sem realmente prestar atenção no que ele dissera.
   - E eu fiz uma música pra ela. - Ele coçou a cabeça. - Não é exatamente uma música romântica, mas ela vai entender. É mais ou menos assim...
   (coloquem Hit The Lights pra tocar agora)

Todos ficaram em silêncio, enquanto Alex tocava a introdução da música. Ele sorria diretamente para , que o olhava de volta boquiaberta. apoiou a cabeça no peito de Pat, que depositou as mãos em seus quadris. e Garrett arranjaram uma cadeira livre e correram para sentar-se nela antes que outro o fizesse.
   Jared e foram para um canto qualquer, isolados de todo o resto. Naquele momento, não estavam ligando muito para a vida amorosa de seus amigos, só queriam continuar o que fora interrompido na dispensa de Kennedy.
   John e começaram a se beijar ali mesmo, ao lado de , Pat e , como se não houvesse ninguém ao redor.
   Kennedy batia seu copo vazio na própria perna, esperando que Alex começasse a cantar.

I'm sitting here wishing for something that's missing
   I'm waiting for you to tell me
   That time keeps on passing
   I'm hoping, i'm asking
   To stand by your side
   At least for tonight

- Quer saber, esquece o copo. - Kennedy rodou o banquinho de volta para o lado do bar, tirando a garrafa das mãos de Jason e virando-a em sua boca.
   - Ei! - Jason tentou recuperá-la, mas desistiu assim que Kennedy encostou a boca no gargalo. Não poderia mais comercializar aquilo. - Me deve cinquenta dólares. - Suspirou, sem parecer zangado. - É a sua garota?
   - Aparentemente, a garota dele.

Let's follow through with this reckless dream
   That's tearing me up inside
   And all the time we've been so innocent

Alex piscou para , e Kennedy rolou os olhos ao perceber isso, tendo medo de arriscar olhar para a garota e estudar sua reação. Deu mais um grande gole na bebida em suas mãos, sacudindo a cabeça em seguida.

So don't you go i've got you where i want you
   And i'm never letting go
   Hit the lights we'll be all right
   Tonight our dreams come true

não conseguia sequer formular algum pensamento. Sabia que sua expressão deveria estar assustadora e tinha plena noção de que muitas pessoas haviam seguido o olhar de Alex até ela, de modo que podia sentir olhares queimando sobre si.
   Queria se lembrar de como conseguia vestir a sua máscara de eu não ligo para nenhum de vocês, mas também não conseguia fazê-lo. Estava quase que completamente paralisada, de medo, surpresa, inquietação e mais um milhão de sentimentos que a deixavam desnorteada.
   No meio de toda essa confusão que estava sua mente, surpreendeu-se quando um rosto embaçado surgiu em seus pensamentos.
   O rosto dele.

So don't you go I've got you where i want you
   And I'm never letting go
   Hit the lights we'll be all right
   Tonight our dreams come true

Todo o seu corpo formigava, implorando para que ela procurasse por ele, mas sabia que não deveria fazê-lo.
   Não enquanto Alex dava tudo de si naquele palco, cantando exclusivamente para ela.
   Não desviou os olhos dos de Alex por sequer um instante.
   - Agora ela vai subir no palco e nós vamos ver toda aquela melação. - Kennedy levantou a garrafa em sua mão, como se propusesse um brinde. Sentiu a cabeça latejar por um momento, mas ignorou isso.

Let's follow through with this reckless dream
   It's tearing me up inside
   And all the time we'll make it seem
   Like we have nothing to hide nothing to hide

- Nós deveríamos dar um apoio ao Kenny? - perguntou preocupada à Garrett, observando o outro erguer uma garrafa de vodka, parecendo um pouco tonto. Garrett pareceu despertar do transe em que entrara, prestando atenção à música de Alex, e seguiu o olhar da namorada até o amigo.
   - Acho que deveríamos. - Ele ponderou, fazendo careta. - Mas vamos perder nossa cadeira.
   - Ai, para de se lamentar! - rolou os olhos, rindo em seguida. - Para de ser gordo e vamos logo!
   Deu um tapa na bunda de Garrett quando este levantou-se e, de mãos dadas com ele, seguiram em direção à Kennedy.
   - Ah, graças a deus. Nunca tive filhos porque não sei lidar com esse tipo de coisa. - Jason suspirou aliviado quando viu o casal se aproximar, praticamente largando Kennedy aos cuidados dos dois.
   - Tá tudo bem? - perguntou, tirando a garrafa dele, que protestou.
   - Ei! Me devolve isso, por favor. Eu to bem. Tenho que levá-los de volta pra casa, esqueceram? - Ele riu sozinho. e Garrett se entreolharam. - Ei, vocês não precisavam ter deixado o showzinho do Alex pra vir me mostrar sua misericórdia, ok? Ela nem vale tudo isso.
   Não era preciso ser alguém sensível para perceber a dor na voz de Kennedy ao terminar aquela frase. As palavras saíram como se rasgassem sua garganta.
   teve pena.
   - Ela nem vale tudo isso. - Repetiu baixo, para si mesmo. Quem sabe, se repetisse aquilo umas mil vezes, o fato de que agora ela estava com outro parasse de doer tanto dentro de si.

So don't you go i've got you where i want you
   And i'm never letting go
   Hit the lights we'll be all right
   Tonight our dreams come true

- Na boa, Kennedy, vamos pra casa. - Garrett segurou o amigo pela parte de baixo do braço, dando-lhe sustentação. Ele agora gritava que ela não valia tanto assim e algumas pessoas que estavam próximas o olhavam feio.
   Kennedy recusou a ajuda do baixista, dizendo que sentia-se bem para andar sozinho, mas cambaleando quando ficou em pé sem apoio.
   - Vamos, não quero ficar pro grand finale. - Kennedy rumou para fora do pub, após acenar com a mão para Jason, que murmurou um "cuida dele" para Garrett e .
   O guitarrista caminhava trombando e empurrando as pessoas em seu caminho, apressando-se ao máximo. e Garrett seguiam-no de perto, desculpando-se com aqueles que eram empurrados por Kennedy.
   Quando chegaram do lado de fora, Kennedy pode respirar o ar fresco da noite, sentindo-se, de certa forma, aliviado. A música de Alex já não chegava à seus ouvidos, na certa já tendo chegado ao fim.
   Tentava não imaginar que ele agora estivesse em seu grande momento romântico com , mas a imagem dos dois abraçados no palco não saia de sua mente.
   Sentiu-se tonto e sua cabeça latejou. Chegou a cambalear para o lado, mas logo a mão de estava sobre a sua, dando-lhe apoio. Olhou para ela e viu seus olhos solidários e bondosos, praticamente implorando para que ele fosse forte. Procurou por Garrett, encontrando-o mais a frente, na porta de seu carro.
   - Vamos. - incentivou, caminhando devagar, ainda de mãos dadas com ele. Kennedy mal conseguiu chegar à dois metros de seu carro quando sentiu toda a bebida ingerida tão rapidamente exigindo sair de seu corpo.
   Por reflexo, soltou a mão de abruptamente e virou-se para o lado oposto ao que ela estava, curvando o corpo para vomitar a vodka consumida. Sentiu a mão suave de em suas costas, ajudando-o, e depois a de Garrett, nada delicada, praticamente enforcando-o ao puxar a gola de sua camisa para trás.
   - Seu idiota, não acredito que chegou à esse ponto. - Ouviu Garrett dizer, enquanto levantava a cabeça, sentindo-se um pouco fraco. lhe ofereceu um lenço de pano branco, com o qual ele limpou o rosto, sentindo-se tonto, envergonhado e, sobretudo, humilhado. É, ele se sentia um lixo.
   - Meu Deus, tá tudo bem? - A voz espantada de por trás de si não fez com que ele se sentisse melhor. Muito pelo contrário. Ele quis vomitar ainda mais quando virou-se e a viu, de mãos dadas com Alex. O restante dos amigos também estava ali, todos o olhando como se vissem um fantasma.
   Alex o olhava com a testa franzida, percebendo seu olhar queimar sobre e só então entendendo o que estava acontecendo.
   - Oh não, não precisa se preocupar, linda. Pode voltar pra sua festinha com seu príncipe encantado. - Toda a raiva que sentia de si mesmo naquele momento por se deixar chegar àquele ponto transbordava por suas palavras. se assustou; Kennedy nunca falara com ela daquela forma antes.
   - Ei, ei, Kenny, chega. - Garrett pôs a mão em seu ombro, sendo repelido. Ele atingira seu limite.
   - Não, eu preciso fazer isso. - Sem que Garrett pudesse impedir, Kennedy chegou até a frente de , que se manteve ereta e conseguiu sustentar seus olhos nos dele, deixando-o um pouco desnorteado.
   Kennedy cheirava à bebida e, no momento, a vômito. Seu rosto estava lívido e, de perto era possível visualizar pequenas manchas escuras sobre a pele abaixo de seus olhos.
   Alex apertou com mais força a mão de quando Kennedy se aproximou, mas pensou em recuar quando os viu frente a frente.
   Como deixara aquilo passar despercebido por todo aquele tempo? Ele estava praticamente morando com Kennedy desde que chegara ali e, embora tivesse percebido que o amigo estava no fundo do poço, jamais imaginara que fosse por sua culpa.
   Deu um passo para trás, mas não permitiu que ele a soltasse, deixando-o numa posição um tanto desconfortável.
   A respiração de ambos estava acelerada, ele podia ver. Nenhum dos dois disse nada por cerca de meio minuto e tampouco outra pessoa se atreveu a fazê-lo.
   Alex viu quando os olhos de Kennedy deixaram de ficarem ameaçadores e irritados para se tornarem apenas tristes.
   - Isso precisa acabar. - Ele disse, implorando com os olhos e com o tom de voz. tremeu, deixando Alex perceber, sem querer.
   - Não sei o que você quer. - A garota respondeu, com a voz mais firme do que ela pensou ser capaz de produzir.
  - Você sabe o que eu quero. - Nenhum sorriso presunçoso, nenhum tom malicioso. Ele parecia desesperado, só desviando de seus olhos para encarar seus lábios por alguns segundos, como um leão que não via comida há dias.
   - Eu não posso. - Disse ela, sentindo a voz falhar. Alex, a esse ponto, se perguntava por que tinha que assistir à tudo aquilo de tão perto. Eram duas pessoas extremamente importantes para ele e, por mais que estivesse envolvido naquela história, não conseguia se intrometer.
   Nem queria, na verdade.
   - Por que não? - Kennedy soou completamente desesperado. - Por causa dele? - Olhou para Alex rapidamente. assentiu rápido, mordendo o lábio inferior em nervosismo.
   Kennedy riu mórbido.
  - Então é isso? - Silêncio. - Vai ficar com ele. Depois de tudo, você vai ficar com ele.
   - Vou. - Respondeu impassível. Aquelas três letras quebraram o resto do coração de Kennedy.
   Quando ele voltou a falar, cerca de meio segundo depois, sua voz era outra.
   Era grave e sem emoção.
   - Ótimo. Espero que não se esqueça disso quando voltar à minha casa sozinha. - Deu-lhe as costas, caminhando energicamente em direção ao seu carro. Garrett deu-lhe as chaves com receio.
   - Não vou. - Respondeu da mesma forma, falando alto para ter certeza de que ele escutaria. Kennedy parou no caminho, virou-se lentamente para ela e, com um meio sorriso, disse:
   - Melhor, não volte lá. - Desativou o alarme do carro e abriu a porta sem olhar ou se despedir de qualquer um que fosse. Deu a partida no carro e saiu de lá cantando pneu.

Capítulo XXXVI

Seus passos eram desengonçados e ele praticamente não conseguia caminhar em linha reta. A noite clara e estrelada não combinava com seu humor. Uma ou duas lágrimas de pura raiva escaparam por seus olhos, as quais ele secou com a manga da camisa de mangas longas que usava.
   Como sempre, as ruas de Tempe estavam desertas. Não havia viva alma pelas calçadas em que ele caminhava sem rumo.
   Não queria voltar para casa. Fora lá para deixar seu carro, decidido de que poderia causar um acidente grave dirigindo pelas ruas do modo como estava e voltara a sair, antes que alguém mais chegasse lá.
   Não queria a companhia de nenhum dos amigos lhe consolando e muito menos o pesar de Alex.
   Alex, apesar de tudo, era um grande amigo. Mesmo que desejasse com todas as forças, não conseguia odiá-lo. Tendo passado a loucura do momento, se achava incapaz de fazer qualquer coisa contra ele.
   No final, Alex era o maior inocente naquela confusão toda. Ele não sabia da relação entre Kennedy e quando se interessou por ela e Kennedy, assim como a garota, não fez questão de contar a história para ele.
   Não podia culpá-lo por gostar justamente da garota que fazia seu coração acelerar e sua boca secar. Ela era absolutamente linda, em quase todos os sentidos. Nesses em que ela não conseguia ser boa, seu jeito era suficiente para encantar o guitarrista, mesmo quando deveria permanecer longe.
   Kennedy nunca deveria ter se deixado apaixonar por aquela garota. Todos sabiam que ela não era do tipo que buscava relacionamentos, mas até ai, ele também não os desejava. No entanto, foi esse mesmo jeito desencanado e divertido de que o seduziu mais.
   Ela gostava de brincar tanto quanto ele. Seu problema foi não ter percebido quando os jogos deveriam dar lugar a uma atitude mais adulta.
   Ele a perdera. Era no que pensava quando avistou um grupo de jovens parados na entrada de uma casa a cerca de três metros de distância dele, seguindo em frente.
   Sem vontade de alterar seu trajeto, porém sem ânimo de falar com alguém, caso conhecesse as pessoas, enfiou as mãos nos bolsos de sua calça e baixou a cabeça, pretendendo passar pelo grupo sem ser percebido.
   Obviamente, como nada andava acontecendo como ele queria, uma voz feminina irritantemente estridente e familiar teve que chamar seu apelido, obrigando-o a olhar para as pessoas na porta da casa.
   - Kenny! - Pâmela correu ao seu encontro com as mãos levantadas na intenção clara de abraçá-lo, mas mudou de ideia ao reparar no estado do garoto. Fez uma careta: - O que houve?
   - Nada. Tenho que ir embora. - Ele respondeu nada simpático, fazendo a garota franzir o cenho.
   - Nossa, Brock, dormiu comigo foi? - Usou uma expressão brava, mas sorriu em seguida. Kennedy teve vontade de bater em uma garota pela primeira vez na vida. Ela era tão promíscua. - Ah, esqueci. Dormiu mesmo.
   - Olha, Pâmela, eu tenho mesmo que ir andando.
   - Por quê? A mamãe briga se você chegar tarde? Ou está com problemas com a de novo? Porque você sabe que posso fazer você esquecê-los como fiz da outra vez. - Pâmela se aproximou ainda mais, correndo os dedos pelos botões da camisa do garoto. Kennedy sentiu vontade de vomitar e afastou a mão da garota de seu corpo sem nenhuma delicadeza.
   - Ai. - Ela resmungou. - Como você está mal-humorado. Quer saber? Me procura quando estiver melhor. Não vejo a hora de repetir aquela noite. - Piscou, caminhando de volta para onde Annabelle e todas as suas amigas assistiam à cena. Podia tê-la deixado ir embora daquela forma e seguir seu caminho, mas precisava acabar logo com aquilo, para se sentir bem consigo mesmo novamente.
   - Sobre isso - Disse alto, fazendo com que Pâmela se virasse para ele novamente, com olhos esperançosos. - Não vai acontecer de novo. - Pâmela sorriu, caminhando até ele.
   - Já entendi a sua, gatinho... - Começou, mirando Kennedy com os olhos negros de malícia. - Não quer que ninguém saiba certo? Só vou lembrá-lo de que não fui eu quem contou para sua tão amada .
   - Foi um erro. - Kennedy pronunciou cada palavra bem devagar e com determinação, de forma que Pâmela conseguisse entender que ele falava serio. O sorriso da garota desapareceu.
   - Você não pode dormir comigo e dizer que foi um erro. - Disse ela, ofendida. - Nós tivemos uma coisa, Kennedy!
   - Nós nunca tivemos nada, Pâmela. - Ele massageou as têmporas, apertando os olhos, como se sentisse dor de cabeça por ter que explicar os fatos à garota. - Eu só dormi com você pra provocar a .
   - Tá brincando, né? - Pâmela sorriu nervosa, com os olhos levemente embargados.
   - Não. Eu nunca gostei de você. Desculpe-me, mas eu te usei. - Kennedy sentia pena, até levar um tapa doloroso em seu rosto. A garota se esforçava para manter as lágrimas em seus olhos, mas não conseguiu impedir que uma escorresse enquanto a palma de sua mão se chocava com o rosto do garoto.
   Ele segurou sua mão, tirando-a de perto do próprio rosto e, respirando fundo para manter a calma, disse:
   - Eu sinto muito. O que eu fiz foi errado. Não agi certo comigo mesmo, com você e nem com a . Consegui estragar tudo.
   - Que se foda a ! - Pâmela tirou sua mão de perto da mão de Kennedy com certa violência. - Eu não sou uma puta, Kennedy.
   Ele pensou em devolver algo como mas age como tal, mas a bebida já não agia em seu organismo tão fortemente para que se sentisse inibindo o suficiente para ofendê-la daquela forma.
   - Quer que eu acredite agora que você já não dormiu com metade do time de futebol da escola? - Ergueu uma sobrancelha, irritado. Mais uma querendo fazê-lo sentir-se culpado.
   - Mas com você é diferente. Eu gosto de você de verdade. - Sua voz soou fraca. Kennedy riu.
   - Claro. - Rolou os olhos. - Tenho mesmo que ir embora, Pâmela. Me desculpe por aquele dia. Vou te recompensar nunca mais olhando na sua cara e tudo o mais, que é o que uma garota com um pingo de amor próprio me pediria para fazer.
   Kennedy não ouviu os xingamentos de Pâmela. Desligou-se de todo o barulho vindo da festa na casa e dos gritos da garota e continuou em frente. Sentia-se mais leve, mesmo que conservasse certa pena de Pâmela.
   Ainda conseguia ouvir o som da música eletrônica da festa depois de virar a esquina e teve de andar por pelo menos mais um quarteirão até alcançar a calmaria completa novamente. Suspirou aliviado por isso, mas fechou a cara novamente quando o som de um carro em baixa velocidade quebrou o silêncio.
   Conhecia o ranger daquele motor como conhecia à si mesmo. Talvez por isso tenha se virado em direção à rua e parado quando o carro o alcançou, parando também. O vidro foi abaixado e o rosto preocupado de Alex se fez visível.
   Kennedy sorriu amargo. Primeiro sua garota, agora seu carro.
   - Quer entrar? - Gaskarth perguntou num tom apreensivo. Kennedy ponderou por um segundo, suspirando ao puxar a maçaneta.
   Acomodou-se no banco do carona, fechou a porta e virou todo o corpo na direção de Alex, sem por o cinto.
   - Precisamos conversar. - Foi Alex quem disse. Kennedy assentiu devagar. Alex desligou o motor do carro e tirou o cinto, virando-se também para Kennedy. - Você saiu cantando pneu, fiquei preocupado, achando que ia bater no primeiro poste que surgisse no caminho. Fiquei aliviado quando vi seu carro na sua casa. - Alex tagarelava, denunciando seu nervosismo. Ao perceber que Kennedy não diria nada, calou-se, respirando fundo para continuar: - Me desculpa. Eu não fazia ideia de que a era a sua garota. Se você tivesse me dado qualquer sinal, eu terminava tudo na hora.
   - Não podia fazer isso com você. Além do mais, eu não tenho o direito de interferir na vida dela. - Disse a última parte em tom amargo. Alex rolou os olhos.
   - Mas é claro que tem; você a ama. Escuta, eu vou embora hoje mesmo se você quiser. Só preciso passar na sua casa pra buscar minhas coisas e...
   - Ei. - Kennedy interrompeu o monólogo de Alex, lançando-lhe um pequeno sorriso para aliviar-lhe o nervosismo. O amigo o encarou. - Não quero que vá embora. Você é bem vindo na minha casa, ok? Minha história com a não tem nada a ver com você. E não quero que termine com ela por minha causa.
   - Mas... Eu não consigo fazer isso com você. - Alex franziu o cenho. Estava numa situação difícil, dividido entre a grande amizade que sentia por Kennedy e o encanto pela garota que ele julgava a mais bonita e interessante de Tempe.
   - Eu vou ficar legal. Só estou um pouco irritado com você. Escrevo uma música te xingando e tudo fica acertado, ok?
   - Me xingando? - Alex riu, fazendo careta. - Muito?
   - Não. - Kennedy retribuiu o sorriso. - Só um pouco. Mas você não pode ir embora ainda porque já te comprei presente e tudo o mais.
   - Vou ganhar presente?
   - Só se você tiver um pra mim também. - Eles riram juntos, e logo o silêncio tomou conta do ambiente. Kennedy se manifestou, após bocejar. - Podemos ir pra casa? Quero tomar um banho e dormir até o dia 25.
   - Até dia 25 não, agora vai ter me escrever uma música me xingando e eu vou cobrar.
   - Você é uma bicha obesa, Alex Gaskarth. - E você é um guitarrista magricela e sexy, Kennedy Brock. Por isso acho melhor eu ligar esse carro antes que eu aproveite que a rua está deserta e tente te estuprar.
   - Ecaaaaaa! - Gritou Kennedy, rindo enquanto Alex ligava o carro. - Desliga o carro, quero ir a pé!
   - Nada disso, amor, vai ter que coladinho comigo.

Nevava do lado de fora da casa dos Nickelsen. O tapete branco no chão, visto através da janela, servia para deixar aquele dia ainda mais especial e característico.
   Dentro da casa, o cheiro do peru terminando de ser assado e as luzes verdes e vermelhas conferiam ao ambiente um ar familiar e aconchegante, quase tanto quando as risadas na sala de estar.
   Molly, mãe de Garrett, junto à senhora , planejaram minuciosamente aquele dia, de modo que nada poderia dar errado.
   Estavam todos ali: a The Maine, as garotas, seus familiares e Alex. Garrett nunca vira sua casa tão cheia.
   Todos os pais conversavam alegremente, enquanto as mães se reuniam na cozinha. Os mais novos brincavam no quintal da casa, enquanto os jovens tocavam próximos à árvore de natal, que também nunca esteve tão recheada de presentes.

(Coloca Ho Ho Hopefully pra tocar)

Jared tocava o violão, enquanto John cantava sentado num banco bem menor do que ele, de olhos fechados e mãos unidas apoiadas sobre as pernas, como se sua música fosse uma oração. Todos escutavam em silêncio, deitada entre as pernas de Garrett, sentado no chão, enquanto acariciava seus cabelos, e Pat dividindo uma cadeira de balanço de um só lugar, abraçados, pois jurava estar morrendo de frio, mesmo com seu casaco de lã. e Alex estavam sentados lado a lado em um puff gigante ao lado de e Garrett, de mãos dadas. Kennedy fora buscar uma cerveja com os mais velhos, sem que estes percebessem, enquanto e encontravam-se hipnotizadas por seus devidos namorados.
   O pai de finalmente aceitara completamente o namoro da filha com John, de modo que até consentira que a garota fosse passar os últimos dias do ano com os amigos na casa de campo de .
   Kennedy era o único que ainda não se decidira em ir ou não, mesmo que não tivesse sido deixado para fora da lista de convidados. Também não fora exatamente convidado, no entanto. chamara a The Maine, sem especificar quais integrantes. Pela lógica, ele também fora chamado, mas na prática, não tinha certeza se seria bem vindo.
   fechou os olhos para absorver a música, com um sorriso bobo no rosto. Garrett aproveitou o momento e apertou seu nariz, prendendo sua respiração. riu de forma engraçada, batendo na mão do garoto para conseguir respirar.
   - Otário. - Fechou a cara, enquanto Garrett ria descaradamente.
   - Linda. - Inclinou a cabeça para frente e para baixo, para selar seus lábios nos dela. Sorriram em sintonia, de olhos fechados durante o beijo.
   Enquanto se abraçavam, as mãos de Pat corriam pelo corpo da namorada, vez ou outra se fixando em seus glúteos, deixando-a corada com a possibilidade de serem vistos por um dos adultos. Num desses momentos, quando, além de colocar a mão em suas nádegas, ele também apertou o local, deixou escapar um gritinho, fazendo todos os garotos olharem para o casal.
   corou tanto que seu rosto ficou completamente vermelho. Sem saída, escondeu o rosto no pescoço de Pat, que ria descontroladamente.
   - Filho da puta. - Ela disse baixinho, para só ele ouvir.
   - Ninguém tá mais olhando. - Pat riu. Um segundo depois de terem olhado para , todos já haviam voltado suas atenções para John e Jared. , no entanto, não tirou o rosto do pescoço do namorado.
   - Jura?
   - Sim, amor. - Rolou os olhos, ainda achando graça. - Vai, pode parar de se esconder. - Ele encarou o pescoço da garota, depositando um beijo ali.
   tremeu inconscientemente, só incentivando-o a continuar com os carinhos. Pat fez uma trilha de beijos pela extensão livre das roupas que ela usava para se aquecer, fazendo caminho em direção ao rosto da garota. Ali, o primeiro lugar beijado numa lentidão torturante foi seu queixo, seguido por suas bochechas, testa, olhos, nariz e, por fim, boca.
   suspirou sofregamente durante o beijo, segurando o rosto do rapaz com as duas mãos e puxando-o para mais perto.
   encostou o rosto no peito de Alex, sentindo as batidas de seu coração acelerarem por um momento breve quando o fez. Sorriu com isso.
   Alex era tão puro e transparente.
   - Obrigada por estar aqui comigo. - Sussurrou. Teve medo de que Alex terminasse com ela após saber de sua história com Kennedy, mas ele não o fez. Tampouco mudou o modo como a tratava.
   Chorara um rio na noite da discussão com Kennedy. Sabia que não tinha esse direito, já que fora ela quem escolhera mandá-lo embora de sua vida.
   Pelo menos na teoria, porque se via pensando nele a todo momento e seu coração dava saltos quando ele adentrava o recinto.
   Fora assim, pelo menos, quando o vira chegar à casa da Sra. Nickelsen, já que não tivera outro contato com ele desde a outra noite.
   Ele vestia um casaco preto de couro e uma blusa de manga comprida cinza, sem estampas por baixo. A calça jeans parecia velha e bastante gasta, mas caia perfeitamente bem no garoto. Seu rosto indicava que ele andara bebendo muito e dormindo pouco nos últimos tempos e sua barba por fazer só reforçava o fato de que ele não parecia bem.
   Apesar disso, percebera que a relação entre ele e Alex também não se alterara. Eles ainda eram amigos.
   Tinha que confessar, pelo menos a si mesma, que parte de seu orgulho mesquinho sentiu-se ofendida com isso. Esperava que eles brigassem por ela. Esperava que Kennedy implorasse que Alex partisse para deixá-la livre para ele. Sabia que Alex só estava com ela nesse momento porque Kennedy permitira e isso fazia algo doer em seu peito.
   Teria ele desistido dela assim tão fácil?
   - Onde mais poderia estar? - Ele sorriu de volta. - Prometi que ia cuidar de você, não prometi?
   - Está fazendo um bom trabalho. - Disse , levantando a cabeça para olhar nos olhos do garoto, que brilharam com a afirmação dela.
   - Obrigado. - Ele beijou sua testa com carinho, mas se afastou um pouco desconfortável em seguida.
   quase nem precisou olhar para o lado para entender o motivo: Kennedy voltara para perto deles, agora com uma latinha de cerveja na mão. Parecia leve quando disse:
   - Eles nem perceberam que peguei. - Indicou a lata. - Estão distraídos demais jogando poker.
   - Sinto muito que seus pais não tenham vindo. - mordeu o lábio inferior, chamando o garoto com a mão para que este se sentasse próximo a ela e Garrett.
   - Não é a primeira vez, já estou acostumado. Além do mais, se tenho cerveja, não preciso de mais nada.
   - Talvez só de uma gilete. - Pat brincou, referindo-se à barba rasa que crescia no rosto do garoto. Kennedy sorriu nasalado.
   - Não acha sexy? As mulheres costumam achar barbas curtinhas sexy.
   - O que você tá insinuando? - Pat apertou os olhos, ao encarar Kennedy. Todos riram.
   - Nada. - Deu de ombros, inocentemente. - , como seus pais reagiram quando você contou para eles que era lésbica?
   - Eu... O quê? - quase engasgou quando finalmente entendeu a piada. Pat bufou, enquanto os amigos explodiam em gargalhadas.
   Garrett ouviu a mãe chamar por ele, mesmo que bem baixinho por conta de todo o barulho na casa.
   - Galera, acho que o almoço tá pronto.
   - Eba, vamos comer! - Pat foi o primeiro a se levantar, quase num pulo. Ele e Garrett então saíram correndo, como se apostassem uma corrida até a sala de jantar. Os que não aderiram à brincadeira os seguiram rindo.

Após o almoço, a tarde correu tranquilamente, com a troca dos presentes e uma maior interação entre os adultos e os jovens. Alex ganhara de Kennedy uma calcinha fio dental rosa, que fora retribuída com um vibrador da mesma cor.
   O mais constrangedor daquela cena fora explicar aos mais novos que aquilo não era um brinquedo adequado a eles. Kennedy ainda presenteara Pat com uma tiara, John com uma girafa de pelúcia, Jared com uma barrinha de cereal e Garrett com um Happy Troll Doll de cabelos verdes. Deu presentes simplórios para as garotas, mas nada para . Seu presente viria depois.
   Jared, John e Pat compraram presentes úteis para os amigos, ao contrário de Kennedy. Garrett presenteara a todos com artigos de uma loja de gibis e brinquedos nerds.
   Depois que todos haviam distribuído e recebido seus presentes, foram reunir-se próximos à lareira, para tocar algumas músicas natalinas.
   John cantava Deck The Halls quando Kennedy apareceu na sala pedindo o violão para si.
   , sentada ao lado de e Jared num sofá de três lugares, tencionou as costas quando percebeu a movimentação de Kennedy. Olhou para os lados procurando por Alex, mas não o encontrou. Por fim, respirou fundo, endireitando-se enquanto Kennedy arrumava o violão em seu colo.

(Põe Santa Stole My Gilrfriend pra tocar)

Já começando a tocar, Kennedy procurou Alex com os olhos, vendo-o aparecer pelo menos lugar de onde ele saíra minutos antes. Provavelmente também fora traficar bebida na cozinha. Alex sorriu para ele, encostando-se ao batente da porta. Kennedy retribuiu rapidamente, mirando o violão para começar a cantar.
   Não ousou encarar qualquer outra pessoa, com medo de deixar seus olhos procurarem os de .

It's Christmas day
   And I’m alone again
   She’s with him now
   I'm with my loneliness
   She ran away
   4 months ago
   Left with his sleigh
   For the North Pole

Kennedy cantava encarando fortemente as cordas do violão preto. Não tinha coragem de olhar para qualquer outro lugar, especialmente porque sentia certo par de olhos queimando sobre si. Pela primeira vez em muito tempo, tinha a atenção dela inteiramente para ele. Sorriu de lado com esse pensamento, balançando a cabeça rapidamente para tirar a franja dos olhos.

Please come back home,
   And leave that fat man alone

Dessa vez olhou para a porta da sala, de onde Alex ouvia a música que, em partes, fora escrita para ele. Sorriram um para o outro nesse momento, enquanto Alex balançava a cabeça.
   observou Kennedy sorrir para o nada e gelou ao imaginar que ele sorria para Alex. Queria saber qual estava sendo a reação do garoto, mas não teve coragem de desviar os olhos de Kennedy.

Santa, you bitch
   Didn’t get a damn thing from my Christmas list
   All I got was this broken heart
   And that's it
   Santa, you bitch
   Oh there’s only one thing that I truly wish
   I wish my old girl
   Would’ve never kissed st. Nick
   Would’ve never kissed st. Nick

Já consumido pela própria música, Kennedy arriscou olhar para por somente um segundo, e quase não conseguiu escapar daquele contato visual. Teve de piscar com força para quebrar o encanto que causara os olhos dela, iluminados pelas luzes de natal, encarando os seus com tanta força.
   pigarreou, movendo-se desconfortável no sofá. Sentiu a mão de apertar a sua, e olhou para a garota, que sorria para ela. Sorriu de volta, sentindo-se estranhamente bem.

I saw them dancing under mistletoe
   Thought it was nothing but I guess I didn't know
   That there was something going on with them
   Santa, you player
   I thought that we were friends

Não tinha vontade de sair correndo dali, e tampouco de chorar. A verdade era que estava totalmente hipnotizada pela voz e pelo modo como Kennedy cantava. Ele estava tão... Fofo.
   Não se parecia de forma alguma com o Kennedy arrogante e malicioso de sempre. Parecia dedicado.

Please come back home,
   And leave that fat man alone

Ao parar para pensar, se deu conta de que há algum tempo ele não se parecia com o Kennedy de antes. Algo nele havia mudado. Algo que ela não se deixara perceber, talvez por puro medo.

Santa, you bitch
   Didn’t get a damn thing from my Christmas list
   All I got was this broken heart
   And that’s it
   Santa, you bitch
   Oh there's only one thing that I truly wish
   I wish my old girl
   Would've never kissed st. Nick
   Would've never kissed st. Nick

Kennedy ainda sorria em direção à porta, e chegou a cogitar que ele ou estivesse maluco, ou tivesse algum tipo de brincadeira sádica com Alex. Imaginava que Alex deveria estar irritado, mas ao olhar rapidamente para ele, por trás dos ombros, o viu sorrir do mesmo modo de Kennedy. Era óbvio que era ele quem Kennedy chamava de puto, como ele podia sorrir?
   piscou com força, sentindo-se confusa. Não conseguia entender absolutamente nada naquele momento.
   Alex não percebeu o olhar de sobre si. Sabia que Kennedy tinha sua atenção por completo e nem sequer se sentia mal por isso.

Oh Santa, you bitch
   Didn't get a damn thing from my Christmas list
   All I got was this broken heart
   And that's it
   Santa, you bitch
   Oh there's only one thing that I truly wish
   I wish my old girl
   Would've never kissed--

Foi nesse momento, enquanto observava a intensidade do olhar de para Kennedy, que percebeu que não era mais necessário ali. não precisava mais dele. Talvez tivesse finalmente se dado conta de que só o que a impedia de estar com o cara que ela amava e que certamente a amava de volta, era ela mesma e seu medo de ser machucada.

Santa, you bitch
   Didn't get a damn thing from my Christmas list
   All I got was this broken heart
   And that's it
   Santa, you bitch
   Oh there's only one thing that I truly wish
   I wish my old girl
   Would've never kissed st. Nick

Ergueu a cerveja em sua mão para Kennedy, virando-se para dentro da cozinha de novo. Kennedy franziu o cenho, sem entender para onde ia o amigo. Arriscou olhar para os amigos, para medir suas reações e ver se mais alguém havia percebido a ausência de Alex. Todos, no entanto - inclusive os mais velhos e as crianças-, prestavam total e completa atenção nele. Sorriu para , com quem fizera uma amizade que jamais pensara em fazer com qualquer daquelas garotas, e depois para e , sentadas juntas, ao lado de seus respectivos namorados. Esperou que os aplausos cessassem para se levantar e seguir o mesmo caminho feito anteriormente por Alex.
   acompanhou seu trajeto com os olhos, ainda sem entender qualquer coisa que fosse. Enquanto tentava seguir algum raciocínio lógico, foi interrompida por , que se jogava sobre ela desejando um "feliz natal" catarrento em função de suas lágrimas.
   Os abraços e votos de um feliz natal e um próspero ano novo começaram a partir desse momento, impedindo que pudesse sequer pensar em ir atrás de Alex... ou de Kennedy.
   Molly ainda fez surgir um gigantesco bolo de chocolate natalino, do qual ela fez questão de que todos experimentassem, de modo que só se viu livre cerca de quarenta minutos depois da partida de Kennedy. O pai de liderava o coro de "We Wish You a Merry Christmas" com John, quando encostou-se a para perguntar-lhe em seu ouvido se havia uma passagem para o hall da cozinha de Garrett.
   - Tem sim, por quê? - Perguntou a garota, ligeiramente desconfiada.
   - Nada não. Preciso dar uma saída, volto logo.
   - Ok. - inclinou o rosto para receber um beijo na bochecha e só então se deu conta de que não via Kennedy ou Alex à algum tempo. Ainda virou-se para ver seguindo em direção ao hall, mas achou melhor não intervir e deixar a amiga resolver as coisas sozinha daquela vez.
   Pegou o próprio casaco, pendurado no chapeleiro no hall e abriu a porta, sentindo o forte vento do inverno congelar seu rosto. Colocou a mão no bolso direito, procurando as chaves de seu carro. Riu ao lembrar-se de como reclamava que agora ela usava o próprio carro ao invés do carro da amiga e, balançando a cabeça e sorrindo, desligou o alarme e abriu o carro, respirando aliviada ao sentir-se protegida contra o frio do lado de fora.
   As ruas, como de praxe, estavam vazias. As casas, todas enfeitadas com luzes de natal e bonecos de neve, de touca e cachecol. sorria, vendo crianças fazendo guerra de bolas de neve eventualmente durante o caminho.
   Seu destino era certo: iria até a casa de Kennedy. No entanto, ainda não tinha certeza de quem ela queria encontrar lá.
   Sua mente lhe dizia que era óbvio que o que a tirara da casa de Garrett era o desejo de encontrar Alex e saber o que acontecera com ele, mas seu coração batia num compasso que pensar em Alex nunca fora capaz de alcançar. Num compasso que só obedecia às ordens de Kennedy.
   A parte mais profunda e menos racional de si queria desesperadamente encontrar Kennedy, e ela tinha medo disso.
   Sua insegurança só aumentou quando essa estacionou na frente da casa de Kennedy. Não viu o carro do garoto, na vaga da rua onde ele sempre ficava e isso causou um irritante desconforto dentro dela.
   E se nenhum dos dois estivesse ali?
   se arrastou até a porta de entrada da casa, não estranhando encontrá-la destrancada.
   Adentrou o hall, fechando a porta em seguida.
   Tudo na casa era completo silêncio e escuridão.
   - Alex? - Chamou uma vez, com a voz falha. Pigarreou. - Alex, você tá aqui?
   Chegou até a sala de estar, caminhando lentamente até estar próximo ao sofá. Olhou para lá, lembrando-se de quando se rendera ao charme de Kennedy ali mesmo, por pouco não fazendo algo do qual ela se arrependeria amargamente depois.
   Não chegara a um ponto irreversível porque Kennedy não deixara. Ficara brava com ele à principio, mas agora entendia tudo. Havia uma chance de o motivo pelo qual Kennedy a rejeitou naquele dia não fosse o que ela pensara na hora, de que ele não a queria mais, mas sim de ele não a querer daquela forma, ficando com um de seus melhores amigos.
   Sentiu o rosto ficar um pouco mais quente ao pensar nisso, só então se lembrando do motivo pelo qual fora até ali.
   Sentiu uma rajada de vento gelado pelas suas costas e se abraçou, colocando as mãos nos bolsos. No bolso esquerdo, sentiu a mão entrar em contato com um pedaço pequeno de papel do qual não se recordava de ter deixado ali.
   Com o cenho franzido, tirou o papel do bolso, deparando-se com um pedacinho de folha de caderno rasgado à mão, onde uma caligrafia certamente masculina se fazia notar. Leu as palavras nele com dificuldade, em função da falta de iluminação na sala.

I'll be fine, even thought I'm not always right, I can count on the sun to shine. Dedication takes lifetime, but dreams only last for one night
   Vou sentir sua falta.

Os olhos se encheram de lágrimas automaticamente e foi só ela piscar para que as pequenas gotas salgadas molhassem seu rosto.
   - Alex? - Voltou a chamar, fazendo eco pela casa. Desejou ter se lembrado de ligar a luz, para deixar o ambiente um pouco menos assustador. Com a voz temerosa, arriscou chamar: - Brock?

(Coloque essa música pra tocar agora)

A música começou de repente, quebrando o silêncio de modo tão invasivo que deu um pulo, virando-se para trás bem a tempo de ver Kennedy entrando pela porta do hall, onde ela mesma passara à alguns minutos.
   - Finalmente chamou a pessoa certa, linda - Ele sorria aquele sorriso convencido e malicioso que fazia as pernas de tremer.
   Quando a garota ia se pronunciar, no entanto, a voz de Frank Sinatra se fez ouvir, acompanhada pela de Kennedy, que cantava olhando fixamente para ela.

Some day, when I'm awfully low,
   When the world is cold,
   I will feel a glow just thinking of you...
   And the way you look tonight.
<

- Onde está o Alex? - Ela perguntou, com a voz falha novamente, recuando dois passos, até se chocar contra as costas do sofá. Kennedy levantou a sobrancelha, dando alguns passos para frente. Voltou a cantar.

Yes you're lovely, with your smile so warm
   And your cheeks so soft,
   There is nothing for me but to love you,
   And the way you look tonight.

Eles estavam agora frente a frente e sequer se moveu quando Kennedy tocou sua bochecha, fazendo carinho na região e aproveitando para secar as lágrimas que caíram ali por conta do bilhete deixado por Alex.
   Deixou as mãos escorregarem para baixo de seu pescoço, empurrando seu casaco para fora de seu corpo. Ela também não o impediu que o fizesse.

With each word your tenderness grows,
   Tearing my fear apart...
   And that laugh that wrinkles your nose,
   It touches my foolish heart.

Apertou a ponta do nariz da garota, com um pequeno sorriso nos lábios. Rendida, ela fez o mesmo, sentindo o coração bater mais rápido quando se deu conta de que o que a fazia não sentir frio naquele momento era o fato de que o corpo de Kennedy estava praticamente colado ao seu. Ela tremeu e Kennedy se aproximou ainda mais, franzindo o cenho.

Lovely ... Never, ever change.
   Keep that breathless charm.
   Won't you please arrange it ?
   'Cause I love you ... Just the way you look tonight.

- Kennedy, onde está o... - Kennedy a calou com o dedo indicador, fazendo um shiu baixinho com os lábios. Perdeu alguns segundos encarando o local onde estava seu dedo, voltando a atenção para os olhos da garota em seguida.
   - Ele foi embora. - Disse, por fim, parecendo descontente por ter sido atrapalhado em sua canção.
   - Embora?
   - Sim. - Resmungou, afastando-se um passo da garota, que imediatamente sentiu como se parte dela tivesse sumido. - O deixei no aeroporto há cerca de vinte minutos.
   - Por... Por quê?
   - Ele teria que ir embora uma hora ou outra, certo? - Deu de ombros. Dando as costas para a garota para caminhar pela sala. Ele estava nervoso, era fácil de perceber.
   - Você o mandou embora? - Perguntou em tom acusador, arrependendo-se assim que Kennedy voltou a encará-la, dessa vez de um modo nada atrativo.
   - Se eu quisesse mandá-lo embora, teria feito antes. - Ótimo, conseguira ofendê-lo em menos de cinco minutos de conversa.
   - Eu... Desculpa. - O pedido pareceu surpreender Kennedy, que abrandou o olhar ao mesmo tempo em que voltou a se aproximar da garota. - Mas então... Por que?
   O modo triste com que ela falava causou uma dor forte em seu peito. Era isso então, ela realmente tinha se apaixonado por Alex e pouco se importava com ele.
   - Ele... Acreditou que estaria cumprindo a promessa que te fez. - Kennedy encarou o chão e a proximidade entre eles permitiu que percebesse que seus olhos não brilhavam mais. Sentiu uma batida dolorida no peito.
   - Ele foi embora por que queria me ver feliz? - Pensou em voz alta, fazendo Kennedy encará-la suplicante por uma fração de segundo. Sentia sua alma se dilacerando tendo que responder às perguntas de sobre Alex.
   Que importava que Alex tivesse partido? Ele estava ali, cantando Frank Sinatra para ela e se expondo mais uma vez.
   Uma última vez.
   - Talvez, se você ligar para ele, ainda consegue pedir pra que ele fique até o ano novo. - Sugeriu, sentindo todos os pedacinhos de seu coração se quebrando em outros ainda menores.
   o encarou atônita por um segundo. Ele estava mesmo tentando ajudá-la com Alex?
   - Qual o seu problema? - Ela perguntou, pegando o garoto de surpresa. Kennedy a encarou sem entender. - Como assim você está sugerindo que eu ligue para o Alex? - Eu...
   - Você virou gay ou o quê? Achei que estivesse aqui para me convencer de que eu deveria ficar com você. O Kennedy de antes me jogaria nesse sofá e me doparia com uma voz rouca e um perfume filho da puta, até que eu esquecesse do meu nome e não quisesse fazer mais nada a não ser beijá-lo. - Ela dizia tudo praticamente aos gritos, gesticulando com as mãos e os braços. O sorriso tarado de Kennedy só aumentava a cada palavra, de modo que ele a olhava de um jeito totalmente pervertido quando esta terminou de falar, tão vermelha quanto possível.
   - Terminou? - Ele perguntou, com a sobrancelha arqueada. assentiu balançando a cabeça devagar.
   Quando parou, Kennedy praticamente voou à seu encontro, tomando seus lábios nos dele, num beijo sedento e necessitado. rapidamente envolveu seu pescoço, segurando seus cabelos da nuca com força. Deu um gritinho quando se sentiu ser tirada do chão, mas não separou seus lábios dos de Kennedy, travando uma luta apaixonada entre sua língua e a dele. Sentiu as costas encontrarem uma superfície macia e já conhecida e sorriu durante o beijo.
   O sofá.
   - I'm feeling you, you're feeling me, what exactly is holding us back? - Kennedy cantou com os lábios ainda praticamente grudados nos dela, e a voz baixinha, no mesmo tom que usara da primeira vez que cantara para ela. sentiu todos os pelos de suas costas se arrepiarem, enquanto Kennedy roçava a ponta de seu nariz pelo rosto da garota, ainda cantando Give Me Anything. - I'm feeling you, are you feeling me? Enquanto as mãos de , assim como o resto de seu corpo, encontravam-se paralisadas apertando, talvez com força demais, os cabelos de Kennedy, as dele acariciavam o corpo da garota, subindo e descendo de sua cintura a seu quadril, o qual ele apertava com certa força.
   Em certo momento, enquanto subia os dedos de volta para a cintura da garota, levou junto o tecido de sua camisa. A pele dela queimava por baixo da camiseta e o choque térmico com as mãos um tanto frias de Kennedy a fez estremecer. Ele sorriu, agora com os lábios próximos à seu pescoço, provocando-lhe cócegas. Beijou a área com carinho e calma, dando leves mordidas após os beijos.
   Quando conseguiu recuperar os movimentos, puxou o rosto do rapaz para o seu com certa brutalidade, necessitando ardentemente ter seus lábios nos dele novamente. Kennedy sorriu com a pressa da garota, que agora levava as mãos a percorrer o corpo do rapaz, passando pelo pescoço, peitoral, barriga, costas e indo pararem em seu glúteos, os quais ela apertou com uma vontade que fez Kennedy rir alto.
   Irritada, apertou o local com ainda mais força, provocando um gemido de dor por parte de Kennedy. Ela sorriu satisfeita, enquanto ele a olhava de olhos semicerrados.
   - Você quer guerra? - Perguntou, sorrindo presunçoso. retribuiu a expressão, arrependendo-se assim que ouviu o som, mais do que sentiu, do tecido de uma das suas camisas de manga comprida mais bonitas sendo rasgadas.
   - Filho da puta! - Xingou alto, dando um soco forte no peito de Kennedy, que praticamente não sentiu o golpe, estando distraído demais com a visão do sutiã vermelho rendado de . Ao perceber o que acontecera, a garota sorriu. - Feliz natal.
   Trocaram um sorriso cheio de segundas intenções, uma fração de segundo antes de Kennedy voltar a selar seus lábios nos dela, num beijo muito mais do que necessitado.
   era, sem duvidas, o melhor presente de natal que ele poderia sonhar em receber.

Capítulo XXXVII

- Aaah, tira esse bicho de perto de mim! - corria apavorada pelo estábulo, enquanto Jared segurava o potro recém nascido nos braços e ria da reação da namorada.
   - Qual é, seja boazinha com ele, o coitado acabou de nascer e já perdeu a mãe. - Aquilo pareceu surtir efeito, pois logo parou de correr e assumiu uma expressão triste. Jared olhou nos olhos do animal. - Pobrezinho.
   - Ele é feio. - Disse a garota, aos poucos se aproximando do local onde Jared estava sentado, junto do recém nascido.
   - Você também não é tão bonita assim, mas eu te amo do mesmo jeito. - Ele disse aquilo com simplicidade, ainda prestando atenção ao potro. arregalou os olhos e deixou o queixo cair.
   - O quê? - Gritou, com a voz esganiçada. Jared riu quando a garota lhe deu um tapa no braço. - Jared!
   - É brincadeira, amor. - Jared soltou o potro no chão para abraçar a namorada, que havia se sentado ao seu lado.
   - Não, não encosta em mim com essas mãos sujas de essência de potro! - Ela recuou e acabou perdendo o equilíbrio, caindo sobre um monte de feno. Jared tentou impedir que ela se machucasse, mas tudo o que conseguiu foi cair sobre ela.
   Os dois se encararam em silêncio por quase um minuto, antes de começarem a rir descontroladamente. Quando começaram a sentir dor na barriga, provocada pelas risadas, Jared conseguiu parar e ajudar a outra a se levantar, retirando alguns pedaços de feno que se prenderam no cabelo dela.
   - Ah não, meu cabelo! - resmungou, tirando um espelho do bolso de seu shorts. - Jared, olha isso, tá cheio desse negócio!
   Enquanto ouvia a garota choramingar, Jared mordeu o lábio inferior, checando o estado do cabelo dela. Por fim, suspirou:
   - Eu acho que você ainda está linda.
   - Ah, cala a boca. - Soprou, desdenhosa.
   - É sério, combinou com o tema "garota da fazenda".
   - Jared! - Reclamou, enquanto ele ria.
   - Vem cá, deixa eu te ajudar. - Jared a puxou para mais perto, fazendo-a ficar de costas para ele, e assim começou a tirar os pedaços de feno dos cabelos dela.
   O cheiro que vinha de seus cabelos era suavemente intoxicante. Era um perfume doce, mas não enjoativo. Marcante, mas não dominador. Era um aroma que combinava bem com a personalidade de . Enquanto tirava um por um os pedacinhos de feno que ficaram nos cabelos da garota, Jared se viu totalmente distraído pela textura macia e o brilho de seus cabelos, a contração suave que a sua respiração conferia ao seu corpo e até mesmo o som de sua respiração. O mais fascinante, no entanto, era o fato de ele poder tocá-la.
   Era quase surreal imaginar que, depois de todo aquele tempo, e tudo o que eles haviam passado, agora eles estavam juntos de verdade.
   - Jared, olha isso! - chamou-o, despertando-o de seus pensamentos. Seguiu com os olhos a direção que o dedo indicador da garota apontava, encontrando o pequeno potro arriscando alguns passos tortos.
   - Uau, cadê o fazendeiro? - Jared olhou em direção à porta do estábulo, procurando o homem que os deixara sozinhos há pelo menos vinte minutos, alegando que iria buscar o material necessário para cuidar do filhote e até agora não retornara. - O que devemos fazer?
   - Acho que devemos ajudá-lo. - parecia empolgada demais quando, colocando-se de joelhos e andando na direção do filhote, deu-lhe impulso para que este tentasse andar novamente.
   O filhote voltou a se levantar e cambaleou por um momento, mas logo conseguiu ajeitar a posição das pernas, dando os quatro passos que o separava de Jared, antes de voltar a cair de bunda no chão. Ele esfregou a cabeça contra a mão de Jared que, rindo junto à , começou a lhe fazer carinho.
   - Acho que ele acha que você é a mãe dele. - Ela riu.
   - Eu? Mas eu nem ao menos sou mulher!
   - Tem certeza? - o encarou sugestivamente, e foi a vez de Jared protestar.
   - Ei, qual é? Se eu fosse o Pat, pelo menos, esse comentário teria algum sentido.
   - Justo. - Sorriu, voltando seu olhar para o potro, que brincava com a mão de seu namorado. - Deveriamos lhe dar um nome.
   - Um nome?
   - É. Que tal James?
   - Mas eu sou James. - Jared apontou para si mesmo com a mão que não acariciava o filhote.
   - Exato. E você é a mãe dele!
   - Eu não sou mãe de ninguém. Especialmente de um cavalo. - Ele voltou a resmungar. riu.
   - Ah, qual é, Jary? - Fez um bico, do jeito que ela sabia que Jared não seria capaz de lhe dizer não. - Eu posso ser o pai.
   Jared gargalhou.
   - Você não é nada masculina para ser pai. - Ele disse num tom divertido, que logo foi substituído por um ar mais malicioso. - Além do mais, se você quer brincar de mamãe e papai, conheço outros joguinhos mais interessantes do que este.
   Assim que terminou sua frase, Jared avançou em direção à garota, tão ágil que ela nem foi capaz de perceber o exato momento em que foi parar novamente naquela pilha de feno, com Jared sobre ela.
   - Jared, para! Estamos num estábulo! - Ela pediu entre risos, enquanto o garoto beijava toda a coluna de seu pescoço, até seu colo.
   - É sempre bom variar um pouco. - Ele respondeu, continuando sua rota de beijos.
   - Mas o James tá olhando! - Segurou o namorado pelas bochechas, afastando-o de seu pescoço. Jared fez biquinho e olhou para o potro, que se distraia brincando com alguma coisa que encontrara, a alguns metros de distância do casal.
   - Não tá não. - Dessa vez Jared procurou os lábios de , beijando-os com volúpia. Mesmo relutante, ela não pode negar-lhe o beijo e, por alguns minutos, parou de tentar impedir que algo acontecece, dedicando-se somente a retribuir os beijos e as carícias de Jared.
   Só voltou a se pronunciar quando Jared, de uma vez só, tirou a blusa da garota, expondo seu sutiã rendado vermelho.
   Jared suspirou, perdendo-se por um minuto a adimirar a visão privilegiada que tinha sobre aquela parte particularmente avantajada do corpo da garota, até ser despertado de seus devaneios.
   - E se o fazendeiro voltar e nos ver assim?
   - Ele já deve ter assistido pornô antes. - Jared deu de ombros. riu, sem acreditar que ele tivesse lhe dado aquela resposta.
   - Você bebeu. Só pode ser isso. - Ela fez menção de se levantar, mas foi impedida por Jared, que aumentou a pressão de seu corpo sobre o dela.
   - Quer calar a boca? - Ele pediu, sem muita delicadeza, voltando a roubar seus lábios. A intensidade dos beijos de Jared quase a levavam à loucura. Ela queria sentir o toque quente e macio de seus lábios por todo o seu corpo, precisava daquilo. Quando Jared mudou o foco de sua atenção para a área próxima aos seus seios, ela suspirou seu nome. Jared sentiu-se arrepiar com isso, sentindo-se estimulado a continuar. tampouco queria que ele parasse, até, pelo menos, lembrar-se de onde estava.
   - Jary, meu cabelo... - Os lábios de Jared tocaram a parte de seus seios que o sutiã não cobria, e ela suspirou. - Meu cabelo vai ficar cheio de...
   - . - Ele parou o que estava fazendo, levantando o rosto para a garota. Ela olhou em seus olhos, sentindo-se contrariada por ele ter parado, mesmo sabendo que ela pedira por isso. - Boneca, por favor.
   A voz de Jared saiu rouca e suplicamente, de uma forma que a garota classificou como orgasmicamente sensual. Ela teria feito qualquer coisa que ele lhe pedisse naquele momento, se ele usasse aquela voz.
   - Eu não acho que eu consiga sair daqui agora. - Ele suspirou, franzindo o cenho. Foi nesse momento que a garota conseguiu sentir o que ele dizia, mais ou menos na altura de suas coxas. Ela ofegou, apertando seu corpo contra o dele, que suspirou, fechando os olhos com força por um momento.
   - Eu não quero sair daqui agora. - respondeu numa voz que ela não reconheceria ser dela, totalmente dominada pelas sensações que o corpo de Jared colado contra o seu lhe proporcionava. Tudo o que ela queria era aquele sentimento único de saber que, por alguns minutos maravilhosos, os dois seriam um só.
   Era nisso que ela pensava quando deixou que Jared lhe tirasse seu shorts e seu sutiã, enquanto ela mesma tirava a camisa do garoto.

- Você tá muito sexy. - Disse Jared, acolhendo o corpo de mais próximo ao seu. As mãos deles contornavam todo o seu corpo, enquanto eles estavam deitados de conchinha. Ambos já estavam vestidos agora, por precaução, caso o fazendeiro decidisse dar o ar de sua graça. No entanto, ainda estava dopada o suficiente para não ligar que seus cabelos estivessem totalmente bagunçados e cheios de palha.
   - Nossa, claro. Tão sexy quanto a medusa. - Rolou os olhos.
   - Quietinha. - Jared sorriu contra o seu pescoço, lhe causando arrepios. - Isso é um sonho?
   A voz embargada e suave de Jared fazia com que um singelo sorriso não deixasse o seu rosto, e que seu coração acelerasse a cada som que saia da boca do garoto.
   - Se for, é o melhor que já tive na minha vida, e não pretendo acordar jamais. - Ela respondeu devagar.
   - Nem eu. - Soprou em seu pescoço. - Eu te amo tanto.
   escutou as palavras de olhos fechados, para poder sentí-las melhor. Então, com um grande sorriso nos lábios, virou-se para Jared e disse:
   - Não mais do que eu amo você.
   - Não mais? Como assim, quer apostar? - A voz de Jared assumiu um tom divertido e ele apertou mais seu corpo contra o dela.
   - Ai, você vai me sufocar! - Reclamou. - E é claro que eu te amo mais.
   - Impossível!
   - Verdade. Você pode até perguntar por James, se quiser. - Ela olhou para o potro, do outro lado do estábulo. - James, não é verdade que eu amo o Jared mais do que ele me ama?
   O cavalo relinchou baixo, movendo-se desengonçado em direção ao casal.
   - Viu, ele disse que sim!
   - Ei, nada disso. Eu sou a mãe e eu tenho certeza de que o que ele disse foi um não.
   - Sim.
   - Não.
   - Ah, quer saber? Você é um chato, insuportável. Eu te odeio. - riu da expressão com a qual Jared a encarou.
   - Vai ser assim então? - Jared assumiu um olhar sapeca e a garota percebeu tarde demais as suas intenções.
   - Nããããão! Para, por favor, eu odeio cócegas! - Ela se contorcia, resmungando e gargalhando, enquato era atacada por Jared. Logo o pequeno James se juntou a brincadeira, mesmo sem compreender o que estava acontecendo e assim os três permaneceram pelo resto da tarde, ou pelo menos até que o fazendeiro voltasse para cuidar do pequeno orfão.

~o~

- Você acha que as coisas serão diferentes agora? - Sua voz não saiu mais alta do que um sussurro, pois ela sentia que qualquer som mais alto imacularia aquele ambiente tão acolhedor.
   Pat, que acariciava seus cabelos, esperramados sobre suas pernas, onde apoiava a cabeça, levantou uma sobrancelha.
   - Você sabe. Nós, vocês, o fato de estarmos todos juntos agora, a The Maine...
   - Acho que as coisas já vem mudando há um tempo, mas sempre para melhor. Quero dizer, quem poderia imaginar que eu estaria aqui com você há alguns meses atrás? - Pat tirou uma mecha de cabelo de seu rosto com carinho, recebendo um sorriso em troca.
   - E ainda mais neste lugar maravilhoso. - completou, correndo os olhos pelo campo onde eles estavam.
   Um casal de passarinhos brincava ao redor de um ramalhete de girassóis e outros sons de pássaros podiam ser ouvidos. Todas as árvores em volta da clareira conferiam um frescor agradável ao clima e contribuíam para o retrato paradisíaco. A grama que forrava o solo onde eles estavam sentados era de um verde escuro e brilhante e crescia de forma tão regular que parecia que um jardineiro subia àquela colina todas as semanas para podar a área.
   - Não acredito que a escondeu isso de nós por tanto tempo. - fez biquinho e Pat inclinou a cabeça em sua direção, para morder seu lábio inferior.
   - Ela nunca trouxe vocês até aqui?
   - Nunquinha. - Balançou a cabeça em negativa, levantando-se do colo de Pat para sentar-se ao seu lado. Ajeitou superficialmente os cabelos e continuou - Ela disse que o estava guardando para uma ocasião especial.
   Pat pareceu pensar por meio minuto, e então disse:
   - Ainda não consigo ver qual seria essa ocasião que nos trouxe até aqui.
   - Não? Qual o seu problema? - deu um tapa no braço do namorado, que deu um gritinho em protesto, esfregando a área atingida com a outra mão. - Ah, nem doeu, vai. - Sua... Sua... Sua... Maria macho! - Pat caiu de costas sobre a grama, gargalhando com as mãos na barriga, graças à expressão com que o olhou.
   - Idiota, imbecil, retardado, filho da puta! - Ela xingava, enquanto batia em todas as partes acessíveis no corpo de Pat, que se contorcia de rir.
   - Você precisava ter visto a sua cara. - Disse o garoto, se esforçando para parar de rir, enquanto tentava bloquear os socos de .
   - Não tem graça. - Ela cruzou os braços, fechando a cara. Demoraram poucos segundos para a contrariedade dela dar espaço à um sorriso sapeca. - Ei, se eu sou maria macho, então você é a mulher da relação.
   - O quê? - Pat gritou, enquanto explodia em risadas. - Eu não sou a mulher da relação!
   - Ah, é sim. - parou de rir, aproximando-se do namorado de joelhos e abraçando-o por trás. Como ele estava sentado, ela ficava mais alta do que ele. - Mas não se preocupe, eu seria lésbica por você. - Disse, beijando o topo da cabeça do garoto, que virou-se para ela após essa afirmação.
   - O que... - Ele tentou formular uma frase, mas não conseguiu. o encarava com uma expressão inocente e uma risada presa entre os lábios, ameaçando escapar a qualquer momento. Pat balançou a cabeça, em negativa. - Eu deveria ficar feliz com isso?
   - Você seria uma garota adorável. - Apertou suas bochechas. - E sobre o motivo especial que nos trouxe aqui...
   - Vou ignorar a minha namorada me chamando de garota. Continue. - sorriu.
   - Eu não conseguiria imaginar situação melhor para isso. Agora que até a e o Kennedy se entenderam, é simplesmente perfeito. Sabe o que dizem: ano novo, vida nova.
   - Olhando por esse lado, você tem razão. E esse ano vai ser com certeza maravilhoso, porque terei a garota mais linda do mundo do meu lado. - Pat puxou a garota de forma que ela caisse em seu colo, tocando a ponta de seu nariz no dela, num beijo de esquimó.
   - Mesmo quando vocês ficarem ultra famosos e tiverem que lidar com um bando de groupies peitudas? - Pat riu nasalado.
   - Mesmo assim. - Ele confirmou e, sorrindo, encostou seus lábios nos dele. Pat achava que seria impossível enjoar, ou sequer conseguir impedir que seus batimentos cardíacos aceleracem quando sua lingua tocava a da garota, mesmo em cinquenta anos. Ele não conseguia mais se imaginar sem ela, a sua salvadora. - Eu te amo.
   Disse, enquanto retomava o ar. Os olhos de brilharam, mesmo não sendo a primeira vez em que ele se declarava. Isso porque ela não se cansava de ouvir aquilo. Para ela era quase inacreditável estar junto de Pat depois de todo o tempo em que gostara dele em silêncio. Ela jamais imaginara que o primo loser de sua amiga pudesse um dia ser o seu namorado e seu melhor amigo. A vida sem Pat, seu pequeno dumbo, não faria o menor sentido para ela.
   - E eu amo você. - Sorriu, voltando a beijá-lo. Eles permaneceram dessa forma, sentindo um o gosto do outro, um a forma do outro, por tempo o suficiente para que o sol brilhante da tarde desse lugar ao brilho avermelhado do crepúsculo.
   - É tão lindo... - Disse , referindo-se ao pôr-do-sol, visto do topo daquela colina.
   - É sim. - A atenção de Pat, na verdade, estava focada na garota. O que ele via do pôr-do-sol era o reflexo disso nos olhos de .
   - Para de me olhar assim! - cutucou o braço do garoto, ficando levemente corada.
   - Por quê? Acho você mais bonita do que qualquer pôr-do-sol.
   - Mas assim você me deixa constrangida. - Deu a língua. Pat rolou os olhos.
   - Quando eu pensava que você iria embora, eu fiquei morrendo de medo de que, com o tempo, eu fosse me esquecer de como você é. Da cor dos seus olhos, dos seus cabelos, de como o rosa envergonhado das suas bochechas combina com o tom da sua pele... - Enquanto falava, Pat corria a mão direita delicadamente pelo rosto da garota, que a essa altura já desistira de olhar para o céu e encarava o namorado avidamente. - De que a sua respiração se torna mais rápida quando eu toco em você, do timbre da sua voz, da expressão que você tinha na nossa primeira vez e até mesmo da sua expressão de sono quando você acorda. Essas coisas, eu não quero me esquecer nunca delas. É por isso que eu olho tanto pra você.
   - Você gosta de mim tanto assim? - Ela abaixou os olhos, bastante envergonhada. Pat levantou seu queixo, fazendo-a olhar para ele novamente.
   - Eu disse que sim.
   - Eu sempre gostei de você, sabia? - sorriu com a expressão de surpresa de Pat.
   - Quanto é sempre?
   - Desde que eu te conheci, na primeira festa na casa da em que eu fui. Isso foi o quê? Na sétima série?
   - Espera, você tá falando da festa de aniversário da minha tia? - Pat elevou um pouco a voz, altamente envergonhado ao se lembrar daquele dia.
   Naquela festa, Pat se encantara com uma das novas amigas da prima e, disposto a imprecioná-la, usou das mais diversas artimanhas. Entre cantar - de forma terrivelmente desafinada - "I Will Always Love You" e dedicá-la para a tia e acabar num hospital com o braço e pé direito quebrados por tentar descer o corrimão das escadas de skate, ele passara a maior vergonha de toda sua vida. Passou o mês inteiro em que não podia sequer tomar banho sozinho jurando que nunca mais se aproximaria das amigas da prima.
   - Eu achei você terrivelmente fofo e engraçado! - ria alto, lembrando-se daquele dia. Pat ainda estava corado.
   - Que bom que minhas fraturas serviram para alguma coisa.
   - Sinto muito por isso. - Ela tentava parar de rir, para que ele conseguisse entendê-la. - Por que você fez aquilo, afinal? - As bochechas de Pat ficaram ainda mais vermelhas, mas agora não havia motivos para não ser sincero.
   - Estava tentando chamar a sua atenção. - Disse emburrado. parou de rir para olhar fixamente em seus olhos.
   - É sério?
   - Ahan. Mas depois daquele mico achei que você devesse me achar um retardado e nunca mais pensei sobre o assunto.
   - Quer dizer, nunca mais pensou em mim.
   - Eu não tinha chances. E eu já conhecia o Garrett naquela época, que só sabia falar de , e . Como eu não queria ser como ele, Desencanei de vez.
   - Isso até eu te dar bola.
   - Mas eu fui lerdo demais para perceber isso. Me diz, você começou a ir pra casa da minha prima no mesmo dia que eu por que gostava de mim?
   - Foi. - Foi a vez de corar, enquanto Pat sorria.
   - Mesmo?
   - Mesmo.
   - Então, mesmo que eu não fosse o baterista da The Maine e você tivesse uma queda por bateristas, você ainda aceitaria ser minha namorada?
   - Obviamente. Você ser baterista é só um extra.
   - Um extra bem legal, não?
   - Maravilhoso. - sorriu, dando um selinho nos lábios de Pat. Ele sorriu, iniciando um beijo e colocando as mãos nas costas da garota, puxando-a de volta para o seu colo. entrelaçou as pernas ao redor do corpo do garoto.Sobre o casal brilhavam as estrelas que com a chegada da noite se tornavam visíveis, especialmente naquela área campestre, longe da poluição da cidade.

Capítulo XXXVIII

- Que tal Frank?
   - Não começa, Brock.
   - Hmm, Harry?
   - É, quem sabe ele tenha a sorte de ser chamado para estudar em Hogwarts. - rolou os olhos, inclinando o pescoço para olhar para Kennedy. Coisa difícil, considerando que ela estava sentada entre as pernas do garoto. Ele riu.
   - Jack?
   - O irmão da se chama Jack. - Ela fez uma careta engraçada.
   - Acho que você não quer um menino então. - O garoto balançou a cabeça, pensando. - Que tal Angeline? O apelido dela poderia ser Angel.
   - Kennedy, já deu de escolher nomes pros filhos que nós não temos, não? - Bom, se o problema é eles não existirem, nós podemos resolver isso bem rápido. - Ele deu uma risada maliciosa e afastou a cabeça que repousava em seu peitoral para encará-lo.
   - Você tá começando a me fazer achar que esse papo é sério. - levantou uma sobrancelha e Kennedy parou de sorrir.
   - Eu estou falando sério, linda . - Com essa declaração, mordeu o lábio inferior.
   - Kenny, nós acabamos de começar a namorar e ainda nem terminamos o Ensino Médio. Não acha que está se precipitando um pouco?
   - Você começou a namorar comigo só agora, eu já te namoro há muito tempo. Eu te amo, já se esqueceu?
   - É claro que não. - Ela corou. - Você não me dá tempo para que eu me esqueça.
   Por incrível que parecesse, Kennedy se tornara outra pessoa desde que eles começaram a namorar. Ele era gentil e carinhoso, e, embora os sorrisos tortos e maliciosos não houvessem desaparecido de seu rosto, eles agora eram muito mais tenros. tinha arrepios só por pensar do efeito que aqueles sorrisos lhe causavam. E se somente isso já era suficiente para tirá-la do sério, os beijos de Kennedy, em seus lábios, suas bochechas, em seu pescoço, seus seios e em todo o restante de seu corpo poderiam lhe render um ingresso só de ida para algum hospício.
   - É porque eu não quero que você se esqueça. Eu não aguentaria outro Alex Gaskarth. - Ela sorriu envergonhada.
   - Queria saber como ele está. - Confessou.
   - Bem. - Kennedy abraçou-a com seu braço esquerdo. Protegidos pelas quatro paredes do quarto de e pela porta seguramente trancada, eles não tinham preocupação alguma em serem interrompidos. Além do mais, todos os seus amigos estavam ocupados com seus devidos pares. - Nos falamos com frequência.
   queria saber se Alex perguntava sobre ela quando ele falava com Kennedy, mas não tinha coragem de perguntar. Kennedy sorriu para ela, como se conseguisse ler seus pensamentos.
   - Ele sempre me pergunta se eu estou cuidando de você direito.
   - Sério? - A garota tentou mostrar-se menos curiosa do que sentia-se de fato, não tendo certeza se conseguira.
   - Sim. Isso me irrita às vezes. Me deixa com ciúmes.
   - Deveria mesmo. É bom saber que se você não agir com decência, eu posso voltar pra ele. - Ela riu da expressão no rosto do namorado.
   - Não repita isso mesmo se estiver brincando. Não consigo suportar pensar em vocês dois juntos, mesmo que ele seja meu amigo. Naquele dia no Pub eu tive que me controlar para não descer do palco e fazê-lo engolir a minha guitarra.
   - Você é muito malvado, Brock.
   - Não estou brincando. Eu não gosto disso.
   - Eu não conhecia esse seu lado. - Ela não conseguia deixar de sorrir, mesmo que Kennedy estivesse sério e tenso ao seu lado. Ele nem mesmo a abraçava mais.
   - Que lado?
   - Esse ciumento. Eu me lembro de quando você disse que eu não deveria ter ciúmes da Pâmela, porque o Jogo só era divertido comigo.
   - Então o Jogo também só é divertido comigo?
   - Não. - soltou uma leve gargalhada pela expressão cada vez mais desesperada que Kennedy lhe dirigia. Falar sobre Alex sempre era algo delicado. começava a pensar que Kennedy não era assim tão confiante como ele sempre procurara mostrar.
   Ela inclinou-se em sua direção, mordendo seu lábio inferior.
   - A minha vida só é divertida com você. Nós não jogamos mais, certo?
   - Certo. - Kennedy respondeu após lutar contra um delicioso arrepio que tomou conta de toda a sua pele. - Eu acabei descobrindo que jogos não são nada divertidos.
   - Então você não gostou da noite passada? - fez bico. Kennedy corou, confuso.
   - Não! Esse tipo de jogo é muito divertido.
   - Ótimo. Eu preparei outro para hoje à noite. - Kennedy engoliu em seco. cada noite passada com era uma aventura.
   - Preparou?
   - Aham. - Ela sorriu, sentando-se em seu colo com seu rosto virado para o dele. Beijou seu nariz, dando-lhe um beijo de esquimó em seguida, com suas testas coladas uma na outra. Kennedy não podia fazer nada a não ser sorrir como um bobo apaixonado.
   Um bobo apaixonado; era assim mesmo que ele se sentia. Estar ali com ela era como ver todos os seus sonhos se tornarem realidade.
   Como um bobo.
   - Eu te amo. - Ela sussurrou em sua orelha, beijando seus lábios suavemente. partiu para a sua bochecha e quando chegou ao lóbulo de sua orelha e Kennedy voltou a se arrepiar, soltando um gemido. Sentia-se torturado.
   - Eu amo o jeito que a sua voz soa quando você diz isso.
   - Como? - Perguntou a garota, encarando seus lábios. Ele tremeu.
   - Como sexo. - Respondeu, terminando o espaço entre eles só para beijá-la com todo seu desejo. Era como se nada mais importasse no mundo todo.
   As mãos de foram parar nos cabelos de Kennedy, puxando-os sem se importar se aquilo doía ou não. Uma das mãos dele estava em sua nuca, puxando-a para mais perto, para intensificar o beijo. Kennedy gostava de tudo intenso quando se tratava dela.
   - Canta aquela música para mim de novo?
   - Qual música?
   - Aquela sobre a garota certa.
   - Aquela sobre você? - Ele riu, enquanto ela corava.
   - É.
   - Você gosta quando eu canto no seu ouvido? - Ele perguntou com uma voz maliciosa, mordendo o lóbulo de sua orelha direita.
   - Muito. - Confessou. Sua voz soou completamente excitada.
   - Had a bad fling with a good girl, I was stupid and dumb, not giving a...The blank stare out the window If I could just sober up I could just admit I did the wrong thing to the right girl - Sua voz estava rouca enquanto ele sussurrava a letra da música em seu ouvido, mordendo-o levemente de tempos em tempos. - It was your world baby and I just living in it.
   Quando ele cantou as últimas palavras, não conseguiu evitar beijá-lo novamente, buscando por seus lábios como um sedento procura por água num deserto. Nesse momento, nenhum dos dois voltou a parar os beijos, pois ambos estavam famintos um pelo outro.
   Kennedy tirou a camiseta dele do corpo de , expondo um dos sutiãs vermelhos que a garota tanto gostava de usar.
   Não que ele achasse aquilo ruim, ele realmente gostava de como a lingerie de cor vermelha ficava em contraste com a pele levemente bronzeada da garota e ele concordava com ela quando esta dizia que vermelho a fazia sentir-se mais sexy. Só não gostava mais disso do que gostava de quando ela se vestia com roupas negras de couro, que se adaptavam ao seu corpo como se fizessem parte dele, como se tivessem prazer em vesti-la, dando ainda mais contorno às coxas grossas e seios avantajados da garota, à sua cintura modelada por anjos, assim como todo o resto de seu corpo. Às vezes, enquanto admirava a namorada, pensava que ela devia mesmo ter algo de sobrenatural, pois jamais conhecera uma garota tão bonita quanto ela em toda a sua curta vida.
   É claro que tudo aquilo que lhe havia sido dado em beleza fora privado em gênio, porque era necessária uma tremenda paciência da parte de Kennedy para transformar todas as pequenas discussões entre eles em coisas mais proveitosas.
   Quando pensava em tudo o que eles haviam passado, em parte por culpa sua, em parte por causa dela, espantava-se com a sua própria persistência. Um cara menos confiante do que ele teria desistido. Realmente, não fazia questão de ser alguém que se pudesse amar com facilidade, mas Kennedy amava desafios quase tanto quanto ele a amava.
   A camisa de Kennedy era a única coisa que tampava a sua lingerie, assim como a calça jeans surrada do garoto era a única peça que escondia a boxer do garoto. ajudou-o a livrar-se dela com destreza, usando suas longas unhas pintadas de esmalte vermelho para arranhar a extensão da barriga e peitoral do rapaz. Suas costas já estavam cheias de marcas mais antigas, mas ele não se importava. Era uma dor boa de se sentir. Suspirou quando mordeu seu pescoço, enquanto arranhava seu corpo na altura do cós de sua boxer. Ela adorava torturá-lo e nem ao menos sentia vergonha em fazê-lo. As mãos de Kennedy, impacientes, procuraram seus seios fartos, ainda que estivessem cobertos pelo sutiã, apertando-os com certa força. Sentiu a carne afundar em seus dedos, preenchendo toda a sua mão. arfou quando Kennedy inclinou-se sobre ela para beijar a parte de seus seios que não era coberta pelo sutiã. Kennedy encontrou a abertura frontal dele e abriu-o com os dentes, tendo maior liberdade para poder brincar melhor com aquela parte do corpo da namorada que ele gostava tanto.
   parou o que estava fazendo, sentando-se sobre ele com as pernas ao redor de seu corpo, aproveitando as carícias por parte do namorado.
   Da primeira vez que ficara com Kennedy, não poderia imaginar que seu relacionamento com ele chegaria a este nível. Fora intenso desde a primeira vez e, Deus, como ela gostara de ouvi-lo cantar Give Me Anything para ela, mesmo que na época ele não significasse nada mais do que apenas outro garoto dos tantos com ela ficara naquela mesma noite.
   O que ela ainda não sabia era que Kennedy não era e nem queria ser apenas mais um dos garotos, mas ele deixara aquilo bem claro daquele dia em diante. O relacionamento deles não fora algo saudável desde o começo: Kennedy insistia em seus jogos e em seu orgulho. Ambos se machucaram muito até descobrirem que não conseguiriam ficar um sem o outro. Ambos tiveram que descobrir os defeitos um do outro e aprender a lidar com eles antes que pudessem ficar juntos de verdade. sabia que seu jeito era impossível às vezes, mas os sorrisinhos fáceis de Kennedy também eram bastante irritantes. Kennedy mudara desde os tempos da festa de Lana. Ele estava mais sério agora, mais profundo e até mais bonito, ela podia dizer. Seus olhos não carregavam mais o ar de um garoto bobo e mulherengo, mas sim o olhar de um homem que escrevia músicas sobre um coração partido, que não abandonava seus amigos, mesmo que estes roubassem o coração de sua garota. tinha orgulho do modo como Kennedy lidara com a situação entre ela e Alex. De como ele a respeitara, mesmo que estivesse morrendo por dentro.
   Não fora nem de longe os grandes gestos de Kennedy que fizeram com que ela se apaixonasse por ele. Foram os seus sorrisos, a sua insistência, a sua perseverança e seu carisma, a sua mania de sempre surpreendê-la, fosse para o bem ou para o mal. A vida era sempre uma caixinha de surpresas quando se estava com Kennedy Brock.
   - Kenny, por favor. - Ela suspirou um tanto desesperada, tirando sua última peça de roupa de seu corpo de forma desastrada. O pequeno pedaço de renda vermelha caiu em algum canto do quarto, quase ao mesmo tempo em que a boxer azul de Kennedy fez o mesmo. O Garoto depositou um beijo molhado na testa da namorada, sussurrando algo que fez o corpo de tremer enquanto os dois embarcavam juntos em um mundo de sensações e emoções:
   - Linda.

- Você tem alguma ideia de aonde nós estamos? - Perguntou , no momento em que se cortou numa planta selvagem. Garrett a convencera de que uma expedição desacompanhada pela floresta que rodeava a casa de campo de seria divertida, mas agora os dois estavam perdidos. - Ai!
   - Você tá bem? - Garrett se aproximou dela, pegando seu braço direito para ver o machucado. Estava arranhado, mas só superficialmente.
   - Sim, estou. - Respondeu de mau humor, desviando-se de Garrett abruptamente e voltando a andar. - Eu sabia que isso era má ideia.
   - Shiu. Se nos concentrarmos, conseguiremos voltar.
   - Você tá brincando? Estamos tentando voltar há mais de duas horas!
   - Eu sei, mas acho que estamos perto de conseguir. Eu já vi esse lugar antes.
   - É, eu sei, porque estamos andando em círculos!
   - , será que você pode se acalmar e parar de gritar? - Garrett tentava manter-se calmo e confiante, mas os constantes resmungos da namorada pelas últimas duas horas estavam tirando-lhe do sério. - Eu não teria que gritar se você me escutasse quando eu falo com você.
   - Eu poderia te ouvir até se você sussurrasse. Essa floresta é silenciosa o bastante para isso.
   - Nós não deveriamos ter vindo, em primeiro lugar.
   - Ok, mas já que estamos aqui, o que você quer que eu faça? Peça pro Doctor me emprestar a Tardis?
   - Por que você está sendo tão grosso? - perguntou num tom ofendido, parando de andar. Garrett fez o mesmo, virando-se para ela.
   - Porque você não para de reclamar há horas e eu não aguento mais. Como se fosse exclusivamente minha a culpa de nós estarmos perdidos aqui. Você concordou em vir quando eu te chamei.
   - E eu paguei por isso. Olha pra mim, eu estou uma bagunça! - soou como uma criança a ponto de chorar.
   Seus braços e pernas estavam cheios de arranhões e picadas de insetos. Havia uma ferida em sua perna que Garrett tinha certeza de que deveria estar doendo ainda, porque parecia inflamada. Seus cabelos, presos num rabo de cavalo alto no início da jornada, agora estavam só parcialmente amarrados, num coque baixo, frouxo e bagunçado. A sua camiseta regata branca mostrava manchas de suor e seu shorts jeans estava sujo de terra na parte traseira, graças a um tombo que a garota levara logo na primeira hora de aventura. Nenhum dos dois se lembrara de levar nada para comer e a água já havia acabado há cerca de uma hora. Seus celulares não funcionavam ali e o sol já começava a mostrar os primeiros sinais de sua partida.
   Olhando para a garota daquela forma, Garrett não conseguiu manter-se bravo por muito mais tempo.
   - Me desculpa. Só estou preocupado porque está escurecendo e pode ser perigoso ficar aqui à noite.
   - O que faremos? - deixou-se cair em seus braços, quando este ofereceu-lhe um abraço. Estava cansada e faminta.
   A segurança que sentia sempre que era abraçada por Garrett foi o suficiente para dar-lhe forças para mais algum tempo de caminhada.
   - Vamos... Trabalhar juntos, ok? Ainda estamos sem sinal? - ele perguntou, pegando suas mãos com as dele. checou as telas dos dois aparelhos celulares guardados em seu bolso e então suspirou.
   - Sim.
   Eles andaram juntos em silêncio por mais uma hora, até que pisou em algo que cheirava muito mal e tinha aspecto de cocô e voltou a reclamar.
   - Deus! - Ela gritou, enquanto esfregava o pé na grama para se livrar da coisa. - Garrett, eu quero sair daqui agora! Estou cansada, machucada, com sede e com fome e não quero passar a última noite do ano perdida no meio de uma maldita floresta!
   - Whoa, desculpe-me senhorita, se eu te coloquei numa situação tão ruim assim, mas eu estou amando estar aqui, sabe? Eu não sou o tipo de pessoa que precisa de comida e de água e eu adoraria ficar até escurecer e servir de comida pra sei lá que tipo de bicho! Sempre foi meu sonho ficar perdido numa floresta com uma garotinha que não para de resmungar. - Garrett gritou de volta, mais alto do que ela. Chegara a um ponto em que a frustração falava mais alto do que tudo.
   - Uma garotinha? - arqueou uma sobrancelha.
   - Você está agindo como uma criança. Eu gostaria de ter trazido uma silver tape pra colocar na sua boca, só para você ficar quieta.
   - Por quê? Você não gosta quando eu falo? Eu só tenho serventia na cama?
   - Não foi isso que eu disse. - Garrett franziu o cenho, sentido-se ultrajado. - Por que você está agindo assim? Deve estar me confundindo com o seu ex.
   - É porque você está extremamente parecido com ele hoje.
   - Eu estou parecido com ele? - O garoto não conseguia acreditar que estivesse ouvindo aquelas palavras. Compará-lo com Robert já era demais para ele. - Quer saber? Se você era assim com ele, como uma maluca, eu consigo entender um pouco o porquê de ele te tratar do modo como te tratava.
   Garrett estava tão nervoso que não foi capaz de se mover tão rápido quanto deveria, se quisesse se livrar do forte soco que lhe deu no estômago.
   - Cala a boca! - Ela gritou. Seus olhos brilhavam com as lágrimas presas neles.
   - Mais forte, vamos! - Garrett incentivou quando ela o bateu novamente. Por dentro, sabia que passara dos limites com as palavras e sabia que acabara de fazer algo que jurara nunca fazer: machucá-la. Sentia que merecia aqueles socos, embora não fosse a culpa o único motivo que não o deixava acabar com aquilo.
   - Eu te odeio, ouviu? Nunca mais ouse tocar em mim novamente! - Ela gritava e batia nele ao mesmo tempo. Estava tão brava com ele naquele momento que ela poderia deixá-lo ali sozinho para que os Outros o matassem quando a noite caísse, se aquela floresta fosse a Floresta Assombrada.
   - Não o farei. - Sua resposta a chocou, talvez pelo seu tom de voz. Garrett nunca falara daquela forma com ela. Com aquela voz tão séria e impassível, desprovida da delicadeza e do carinho que ele costumava dedicar a ela. Naquele momento, teve medo.
   O garoto sorriu, tomando vantagem de sua distração para prensá-la contra uma árvore, com raiva o suficiente para não se importar com a força que utilizara para isso. Acabara de descobrir aquilo, mas, aparentemente, brigar com o deixava excitado.
   Ela gemeu, numa mistura de dor e surpresa.
   Garrett não lhe deu tempo para dizer uma palavra sequer, pressionando seus lábios, e o resto de seu corpo, contra os dela com força. Cada milímetro de seus corpos estava conectado. Estava quente. O corpo dela contra o dele estava quente.
   possuía um efeito magnético sobre ele. Seu gosto, seu perfume, tudo nela parecia ser uma arma predatória contra ele.
   Seus beijos se intensificaram, enquanto as mãos de , que antes estavam espalmadas em seu peitoral, foram para as suas costas, abraçando-o.
   - Ainda não quer que eu te toque? - Ele levantou uma sobrancelha para ela, sorrindo.
   - Cala a boca. - puxou-o para outro beijo, e ele ainda sorria quando fechou seus olhos para beijá-la.
   Com o braço direito, ele levantou a perna de , segurando-a pela coxa, de forma que esta abraçasse seu corpo na altura de sua cintura. Logo o garoto fez o mesmo com a outra perna, dessa vez com a ajuda da namorada, que comandava o ritmo dos beijos com uma violência surpreendente.
   - Me ajuda. - Ela pediu baixinho, abrindo o botão de seu shorts. Garrett ajudou-a a se livrar de suas inconvenientes roupas, assim como ela o ajudou a livrar-se das dele depois.
   Garrett jamais pensara que um dia fosse ter qualquer tipo de desentendimento com , já que eles sempre se deram muito bem, mas se todas as brigas acabassem daquela forma, então talvez elas não fossem de todo ruins.

- Me desculpa. - Garrett depositou um beijo no topo da cabeça de . Estavam sentados sob a árvore, descansando antes de voltar a procurar por uma saída.
   - Tudo bem. Eu sei que você não quis dizer aquilo. - Ela disse de olhos fechados. Um singelo sorriso se instalara em seu rosto havia algum tempo e não saia dali por nada.
   Melhor um sorriso do que lágrimas. Garrett sorriu, observando-a. Ela estava sentada em seu colo, com sua cabeça repousando suavemente em seu peitoral.
   A respiração de Garrett era lenta e suave, fazendo com que a cabeça de subisse e descesse num ritmo que lhe dava vontade de dormir por horas. Lembrava-se da primeira vez que dormira com a cabeça em seu peito, quando eles ainda sequer namoravam. Seu coração batia tão rápido que chegara a pensar que ele estivesse se sentindo mal. Riu de leve com o pensamento, fazendo Garrett franzir o cenho. No que ela estaria pensando?
   Tudo estava diferente agora, ela aceitara os sentimentos de Garrett em relação à ela e ainda os adotara em relação à ele. Sentia-se uma garota de sorte: Garrett era o seu melhor amigo, seu amante e seu protetor.
   Quem os visse naquele momento, abraçados no meio da floresta, sequer imaginaria que eles haviam acabado de experimentar a primeira briga em seu relacionamento.
   - , olha! - Ele apontou para uma clareira de flores amarelas um pouco a frente de onde eles estavam, e teve que olhar bem atentamente para entender do que se tratava. Quando o fez, sorriu abertamente para o namorado. - Vem.
   Eles se levantaram e caminharam de mãos dadas para o campo de imponentes margaridas amarelas e vistosas.
   - São tão lindas! - A garota suspirou, afetada. Margaridas sempre foram suas flores preferidas e Garrett nunca se esquecera disso.
   - Eu acho que é um sinal. - Garrett pegou uma das flores e colocou-a atrás da orelha de , junto com um mecha de seus cabelos. - Vai dar tudo certo agora. A garota assentiu, pegando ela mesma uma flor e fazendo o mesmo que Garrett fizera.
   - Ficou lindo. - Ela sorriu.
   Garrett simplesmente amava aquele sorriso. Era puro e doce. E nunca saia de seu rosto, a não ser que algum imbecil o tirasse por ela. Franziu o cenho lembrando-se da época em que voltara a falar com ela, por causa do trabalho de Sociologia. Ela sorria pouco naquele tempo, embora sempre tivesse um sorriso para ele, quando se encontravam sozinhos. O porquê de ter se envolvido com um cara como Robert ainda era um mistério para ele. Ainda tremia de ódio só por se lembrar do dia em que lhe dera alguns socos para salvar . Sequer conseguia pensar no que poderia ter acontecido se ele não tivesse chegado a tempo. Ainda não acreditava que fora capaz de bater num cara que devia ter duas vezes a sua altura e peso, mas são as coisas que se faz por amor, certo?
   E ele a amava demais, disso não havia dúvidas. Ele a amava desde que eles eram pequenos. Ele, um garotinho magrelo e sardento e ela, uma menininha sapeca e atrevida. Ele conhecera e estivera com a sua vida toda, mesmo que ela não soubesse disso, e não se importaria nem um pouco em estar com ela por mais oitenta anos que fossem. era a mulher de sua vida. Com as lembranças que ele possuía com ela, ele seria capaz de conjurar um Patrono e, se ela estivesse com ele, ele seria capaz de sobreviver à um Inverno na Muralha. Garrett só não passaria para o lado negro da Força por ela, porque ele sabia que isso seria idiotice de sua parte.
   - Tem certeza de que não me deixa afeminado? Já é difícil fazer o Pat me deixar em paz normalmente!
   - Acho que se você virar uma garota, ele sai do seu pé. - Ela piscou. Garrett deu uma gargalhada alta.
   - Acho que sim. - Garrett abraçou o corpo de pela cintura, puxando-a para mais perto para depositar um beijo suave em sua boca. Ela o abraçou de volta, ficando nas pontas dos pés para aprofundar aquele toque de lábios que fora o beijo de Garrett. - Eu te amo, minha margarida.

Capítulo XXXIX

- Pega esse!
   - Ai! - deu um gritinho agudo, conseguindo por pouco pegar o tomate que John jogara para ela - Você enlouqueceu?
   - Você parecia distraída. Só queria te chamar de volta à Terra. - John sorriu de um modo que achou encantador.
   - Eu estava pensando.
   - Em mim?
   - Em tudo. - O garoto riu da expressão contemplativa da namorada.
   - Ok, vou te deixar viajar enquanto termino de colher os tomates.
   John voltou sua atenção ao que estava fazendo, enquanto , sentada num tronco cortado de árvore, dedicava-se a pensar.
   Tudo o que acontecera nos últimos meses parecia-lhe muito surreal. Há menos de um ano, ela e suas amigas eram as mais populares e invejadas. Ela mesma era estudiosa e dedicada. Era a garota que impedia as brigas, não a que participava delas. A garota que não queria mais nada a não ser uma bolsa de estudo na melhor universidade possível.
   Muita coisa havia mudado. Agora namorava John O'Callaghan, que deixara de ser o loser pelo qual ela tinha uma quedinha secreta para tornar-se o vocalista da The Maine, a banda mais querida da cidade. o amava. E queria que todos soubessem disso. Queria gritar ao mundo que estava apaixonada pelo cara que, tendo acabado de colher os tomates, fora pegar cenouras e, percebendo que tinha a sua atenção, começou a imitar um coelho, para fazê-la sorrir.
   Sentia-se diferente agora. Mais leve e feliz. Como se nada pudesse tirá-la daquele estado de alegria. Nem mesmo Annabelle, a mais desprezível das criaturas que habitavam a Terra.
   - Ei, John! - Chamou. O garoto olhou-a com curiosidade. - Nada.
   John deu de ombros. Às vezes achava que pensava demais e dizia muito pouco. Às vezes tinha certeza disso.
   De qualquer forma, ele respeitava o seu silêncio. Mesmo que no fundo, ou não tão no fundo assim, morresse de vontade de saber de todas as coisas que se passavam naquela cabecinha teimosa. Queria saber se ela sentia-se tão feliz e completa quanto ele. Queria saber se ele conseguia fazer com que ela se sentisse assim.
   Será que ela tinha noção do quanto ele a amava? Que tinha consciência de que ela era a musa de todas as suas canções?
   Ela sabia que era a única capaz de dar sentido às suas músicas e ritmo ao seu coração?
   Alguns minutos passaram-se sem que nenhum dos dois dissesse nada. John terminou de colher os vegetais que julgava necessários para a preparação do almoço e levantou-se. estava tão longe em seus pensamentos que nem sequer percebeu quando o namorado aproximou-se dela. Flexionando as pernas para ficar na mesma altura que ela, disse baixinho em seu ouvido:
   - Eu te amo. - arrepiou-se e assustou-se ao mesmo tempo. O garoto sorriu enquanto ela se levantava. Ele a segurou pela cintura ao mesmo tempo em que ela passava os braços ao redor de seu pescoço. Sorriram cúmplices um para o outro.
   - E eu amo você. - Respondeu, inclinando-se para frente para beijar suavemente a boca do namorado.
   Foi um beijo lento e tranquilo. A urgência não os atingia naquele momento, pois o mundo parecia congelado num momento no qual só os dois existiam. Os dois e seus sentimentos.
   - Lembra da primeira vez que fizemos isso? - Perguntou num tom saudoso.
   - Você chama de primeira vez aquela na festa da Lana, que você fugiu, ou aquela durante o trabalho de sociologia?
   - Durante o trabalho né? Nossas línguas nem se encontraram na festa da Lana! Foi só um selinho.
   - Foi um selinho porque a senhorita saiu correndo como uma louca.
   - Eu tava treinando pras Olimpíadas. - deu de ombros e John riu.
   - Sua idiota. Aposto que você só não foge de mim agora porque gosta de poder dizer que eu escrevi minhas músicas pra você.
   - Como você sabe? - Fez uma expressão de surpresa. John franziu o cenho.
   - Ah, é verdade?
   - Sim. - Ela deu de ombros novamente. John parecia inconformado.
   - É bom que você não tenha perdido o condicionamento físico, porque se você não correr rápido, vai ficar toda suja de tomate... - Disse ele num tom maligno, segurando uma das frutas colhidas na mão direita. olhou-o sem compreender se ele falava sério, mas não teve mais dúvidas após ter um tomate esmagado contra a sua cabeça - Será que faz bem pro cabelo?
   - AAAAAAAH! - Ela gritou. - Seu maluco!
   John ainda sorria.
   - Corre.
   Não precisou repetir para que saísse correndo em disparada, com John logo atrás dela. Viu um ou dois tomates voando em sua direção, mas nenhum deles chegou a atingi-la. Saíram da horta e já tinha um destino em mente: iria fugir por entre as árvores. Correu para elas achando uma abertura que deveria ser uma trilha, até encontrar uma pequena clareira, sem saída.
   Que tipo de pessoa faria uma trilha que não dava em lugar nenhum.
   Encurralada e cansada, virou-se para esperar que John a alcançasse.
   - Fim da linha, meu amor
   - Ok, ok, eu me rendo! Eu te amo e não é só porque você é o vocalista da The Maine! Eu te amo porque é divertido, inteligente, fofo, companheiro, inusitado, porque faz com que eu me sinta uma pessoa mais aberta e menos superficial, porque você me mostrou caminhos e eu gostei deles. Porque com você eu sinto como se tudo fosse possível. Eu não queria te deixar entrar porque tinha medo de descobrir quem eu era de verdade, de descobrir os meus desejos reais, de me arriscar, de sair do meu plano ordinário. Mas não ter desistido foi a coisa mais certa que eu fiz na vida. Porque eu gosto mais de mim com você e porque eu quero continuar a fazer novos planos ao seu lado.
   dizia tudo tão rápido que John teve que se esforçar para não perder nenhuma palavra. Ao final do discurso ele só queria correr os últimos poucos passos que os separava e abraçá-la, para nunca mais soltar.
   Mas ele tinha uma missão para completar.
   - John?
   - Eu também te amo. - Disse ele, estourando outro tomate, dessa vez no colo da garota.
   - Droga! - Ela gritou, enquanto John praticamente rolava no chão de tanto rir. - Não tem graça! Qual é o problema desses tomates? Estão podres?
   - Não, aqueles que eu joguei, errei de propósito pra não te machucar. Os que acertei em você eu já tinha destruído antes.
   - Meus parabéns! Tanta gente passando fome e você desperdiçando comida!
   - Desculpa, mas valeu a pena só pra ver essa sua carinha fofa.
   - Fofa? Eu vou te matar! Você destruiu minha roupa! E eu não vou nem falar do meu cabelo.
   - Tira. - Foi a vez de John dar de ombros.
   - Ah, tenho certeza de que você adoraria que eu fizesse isso. Sexo de reconciliação no meio do mato... É, não vai acontecer.
   - Eu só disse pra você tirar a blusa, no resto você pensou sozinha.
   - Acho bom você fugir agora...
   - Eu não tenho medo de você. O que uma menina baixinha pode fazer comigo?
   - Pegar essas cenouras da sua cesta e enfiar num lugar que você não vai gostar.
   - Não tem lugar nenhum que você possa colocá-las que eu não vá gostar, pergunta pros garotos.
   ficou em silêncio por um momento, piscando os olhos repetidas vezes. Estava irritada. Por que pra ele era tão divertido tirá-la do sério?
   - John Cornelius O'Callaghan V...
   - Outch. - John parou de rir. Nada de bom espera por uma pessoa que é chamada pelo nome inteiro.
   O olhar de lembrou-lhe inevitavelmente do dia em que jogara uma bolinha de papel na garota e fora quase levado à diretoria.
   Percebendo o medo no rosto do namorado, sorriu com malícia, retirando sua própria camiseta. John engoliu em seco, deixando seus olhos recaírem sobre os seios da garota, cobertos por um sutiã meia taça rosa rendado. Ótimo, agora seria torturado.
   - Hmhm. - A menina pigarreou, apontando para o próprio rosto - Aqui em cima.
   - Desculpa.
   - Desculpa?
   - Desculpa por jogar tomates em você e por te chamar de baixinha. Ah, e por dizer que não tinha medo de você.
   - E pelo que mais? - Arqueou uma sobrancelha. John engoliu em seco.
   - E por querer desesperadamente fazer aquele tal sexo de reconciliação no meio do mato.
   riu, jogando a cabeça para trás. Vê-la daquela forma, ainda bravinha e com aquele ar de superioridade deixava o garoto completamente excitado.
   - John?
   - O... Oi!
   - Você tá olhando pra baixo de novo.
   - E... Eu... Por favor!
   - Ok, vem cá. - Aquela permissão era tudo o que John precisava para, num segundo, voar sobre a garota, pressionando-a contra uma árvore.
   Seus lábios procuraram os dela com desespero. Ele a desejava acima de qualquer coisa. Desejava sentir seu corpo, seu cheiro, seu sabor. Queria tê-la por completo e toda essa ânsia o fazia perder o controle. Seus beijos passaram para o pescoço e orelha da garota. Ele beijava, chupava e mordia. Já não sabia bem. Suas mãos, incontroláveis, corriam entre o quadril e a cintura de . Quando chegaram ao feixe, no entanto, mostrou que estivera no controle o tempo todo, empurrando-o ligeiramente para trás. John piscou algumas vezes, confuso.
   - Vamos voltar.
   - Mas... Eu não posso voltar desse jeito.
   - Tenho certeza de que você se recompõe até encontrarmos o pessoal. Além do mais, está ficando tarde. Esse almoço vai sair no jantar. Me dá sua camisa.
   - O quê?
   - Eu é que não posso voltar assim. E você é o responsável pelo estado deplorável da minha roupa. Pode usá-la se quiser.
   John tirou a sua camisa e entregou-a para a namorada. Pegou a cesta com os vegetais, que fora largada no chão e saiu resmungando, alguns passos a frente da garota.
   - Idiota. - Disse baixinho e sorriu, respirando fundo para recompor-se. - Mas por que tem que beijar tão bem?
   - O que você disse? - John perguntou, achando que ela falara com ele.
   - Nada! - respondeu, ainda sorrindo para as costas dele.

~o~

- Vocês conseguem acreditar que estamos aqui? Todos nós?
   - E juntos?
   e Kennedy sorriram um para o outro.
   - Agora vocês completam as frases um do outro? - Garrett riu.
   - Hmm, estou com ciúmes. - fez biquinho para Kennedy. Garrett beliscou levemente sua mão. - Ai!
   - Fresca.
   - Grosso. - O casal trocou um sorriso. rolou os olhos.
   - Depois falam de nós.
   - Ei gente, olha quem veio passar a virada conosco! - Pat saiu da casa em direção ao gramado, onde todos estavam reunidos em volta de uma fogueira. Atrás dele, uma figura ainda não reconhecida surgia das sombras. Jared apertou os olhos para conseguir identificar o sujeito.
   - Tim! - Ele e o restante dos garotos levantaram-se num pulo e saíram correndo para pular sobre o irmão de Pat.
   - Ai, vão me matar!
   - Isso é seguro? - perguntou à , que deu de ombros.
   - Espero que se... - Piscou, assim que Tim caiu no chão, sendo massacrado pela The Maine - Acho que não.
   - Eu me reeeeeeendo! - Gritou o mais velho. Os meninos ainda o importunaram por mais alguns instantes até se levantarem. John estendeu a mão para ajudar Tim a fazer o mesmo.
   - O que faz aqui, cara? - Perguntou Jared.
   - Tenho uma notícia pra vocês. - Tim respondeu num tom que não dava para concluir se tratava-se de algo bom ou ruim.
   - E...? - incentivou. Tim sorriu para ela.
   - E vocês só saberão no ano que vem.
   - No ano que vem? Mas ainda falta meia hora! - Reclamou Pat. - Aliás, que tipo de louco aparece sem ser convidado no sítio dos outros desse jeito?
   - Seu irmão. Só podia ser. - riu da cara indignada que Pat fez.
   - Mas é uma notícia boa?
   - Isso depende do que você considera uma boa notícia, . - O tom de Tim era ainda indecifrável. Ele só podia trabalhar na CIA.
   - Você vai realmente nos fazer esperar até a meia noite? - John perguntou incrédulo.
   - Vou sim. - Desde que tivera a notícia, Tim imaginara-se contando-a para os garotos de diversas formas. Mas nenhuma delas conseguia ser mais divertida do que aquilo. As expressões de curiosidade e agonia no rosto de todos eram imperdíveis.
   Aquela meia hora demorou uma eternidade para passar. Por mais que todos tentassem se distrair com outras coisas e, vez ou outra, extrair alguma informação de Tim, o tempo parecia que havia parado. Dessa forma, todos foram pegos de surpresa quando o irmão de Pat anunciou que faltava menos de um minuto para a meia noite.
   Vamos lá, pessoal, preparados para começar a contagem?
   - 10! - Tim começou, imaginando as expressões de felicidade dos amigos e do irmão quando soubessem o que ele tinha a dizer.
   - 9! - sorriu para Kennedy e depois para seus amigos. Jamais imaginara que passaria sua virada de ano com os losers.
   - 8! - Foi a vez de Jared gritar, segurando a mão de com a sua. Naquele instante, prometera que nunca mais a soltaria, dali em diante.
   - 7! - contou logo em seguida, balançando a cabeça em afirmativa para Jared. Ela também não soltaria.
   - 6! - Kennedy se ocupava em rapidamente encher as taças de champagne para o brinde.
   - 5! - tomou um pequeno gole de sua taça, recebendo uma olhar de reprovação de Kennedy.
   - 4! - Pat mostrou o dedo para Kennedy e deu um gole também.
   - 3! - sentia-se totalmente completa naquele momento. Tinha certeza de que seria o melhor ano de sua vida.
   - 2! - Foi a vez de um Garrett risonho contar. Ele tinha seus melhores amigos e a garota de seus sonhos ali. E ela era tudo o que ele sempre pedira.
   - 1! - tivera um ano difícil e naquele momento só podia agradecer o fato de ter ficado. Jamais seria feliz longe daquelas pessoas. Longe de Pat.
   - Feliz ano novo! - John ergueu a sua taça para que todos fizessem o brinde. Piscou para , fazendo um brinde especial com ela. - Ao nosso ano.
   - Posso propor um brinde agora? - Perguntou Tim. No meio de toda a euforia, haviam esquecido que ele tinha um comunicado a fazer.
   - A que brindaremos? - Quis saber Jared.
   - Que tal ao primeiro álbum da The Maine?
   - O quê? - O grito veio de Pat.
   - Parece que vocês conseguiram um contrato com a Warner Brothers!
   Pat rasgou a blusa e começou a pular sobre a fogueira. tentou impedi-lo, mas ele parecia não ouvir. Todos estavam muito felizes e eufóricos e logo Garrett juntou-se ao amigo, tirando a própria camiseta e dançando com ela na mão. Jared iniciou uma dança engraçada e cobriu os olhos com as mãos, fingindo-se envergonhada.
   - Por que nós namoramos eles? - Perguntou , cujo namorado pulava e gritava com os braços para cima, às amigas. Elas balançaram as cabeças. Kennedy pulava a fogueira com Pat, que agora estava só de cueca.
   - Ah, que se dane. Vem, . - puxou a amiga pela mão e logo as duas já faziam parte da algazarra com os garotos. As outras três se entreolharam.
   - Nem que me paguem eu vou fazer isso. - apontou para Pat.
   - Eu prefiro não sujar a minha roupa branca. - Concordou .
   - Quem sabe se nós sorrirmos e batermos palmas, eles se esquecem de nós. - Sugeriu .
   - É uma boa ideia! - E assim as três fizeram até que sentiram-se empurradas em direção à fogueira.
   - Nem pensar, vocês vão comemorar também! - Era Tim quem levava as três.
   - Eu comemoro com uma taça de champagne e um abraço, não pulando fogueira como uma lou... - não conseguiu terminar de falar. Kennedy a calara com a sua própria boca antes disso. - Parabéns!
   - Obrigado. - Ele lhe lançou aquele sorriso torto que ela tanto amava.
   - Posso ganhar um beijo também?- John surgiu por trás de , pegando-a de surpresa.
   - Pode ganhar mil! - A garota colou seus lábios nos dele, num beijo que pareceu durar horas. - Anda, vamos terminar o que não terminamos antes. - Sussurrou no ouvido de John, aproveitando-se da distração dos outros para fugir para dentro da casa com o garoto.
   Subiram as escadas em direção ao quarto deles, mas a urgência quase não lhes permitia chegar até lá. empurrou John contra a parede do corredor, beijando-o novamente. Suas mãos seguravam o colarinho de sua camisa branca, enquanto John usava as suas para segurá-la pelo quadril.
   traçou uma rota de beijos que começava na boca de John, seguindo para o pescoço, orelha, e novamente para a boca. Da segunda vez que fez o percurso, começou a abrir lentamente os botões da camisa do garoto, que, por sua vez, levou uma das mãos à coxa dela, levantando sua perna, de modo que seus corpos pudessem ficar mais próximos. Ela agora conseguia sentir perfeitamente a excitação dele e isso só aumentava a sua própria.
   - Você não imagina o quanto eu queria fazer isso. - O tom necessitado do sussurro de em seu ouvido fez com que John arrepiasse. Em resposta, apertou com força a bunda da garota, agradecendo o fato de ela ter escolhido um vestido para aquela noite.
   Que só ficaria melhor no chão do quarto - E, pelo visto, você também. - afastou seus corpos só o bastante para que conseguisse desabotoar a calça de John. Deixou os dedos escorregarem para a sua ereção, ainda por cima da roupa, como se isso provasse o seu argumento.
   John soltou uma interjeição confusa, que mais parecia um grunhido, antes de beijá-la novamente com fúria, completando desastradamente o caminho que os separava do quarto.
   Aquele realmente seria um ano excelente.

Capítulo XL - Can't Stop Won't Stop

Vinte dias. Vinte longos dias haviam se passado desde a última vez em que elas os viram.
   Logo no primeiro dia de janeiro, a The Maine viajou para uma cidadezinha pequena, não muito distante de Tempe, e lá ficou isolada, trabalhando no primeiro álbum da banda.
   - Ai, eu não aguento mais! - explodiu, quebrando o silêncio entre as garotas. Todas elas estavam no quarto dela, e deitadas em puffs - aquisições recentes de , que recebeu aprovação de todas - e e deitadas na cama e andando de um lado para o outro do quarto.
   - Você não aguenta mais ficar sem notícias do Brock, ou quase vinte dias sem beijar na boca? - perguntou, rindo. Também estava morrendo de saudades do namorado e do primo, mas achava divertido o desespero da amiga.
   - Os dois! - Bufou. - Não venham me julgar ein? Quero ver qual de vocês pode dizer que não está morrendo de vontade de um bom sexo.
   - Nossa, por favor! - abanou as mãos.
   - Será que se fizermos uma suruba entre nós cinco, eles vão considerar traição? Duvido que não façam isso também. - deu ombros. As amigas olharam pra ela e riram.
   - Mas gente, hoje vocês estão cheias de fogo ein? - riu, escondendo o rosto com as mãos. - Amanhã eles chegam, vamos ouví-los cantar e vai estar tudo certo.
   - Eu só acho um absurdo que eles não venham nos ver antes do show! Como assim namoradas não tem prioridade? - continuava a resmungar.
   - Amiga, senta. Você ta me deixando nervosa. - a puxou pela barra da camisa que usava, para que se sentasse ao seu lado no puff.
   - Não consigo. Eu quero pegar aquele idiota do Kennedy e... - Pareceu refletir por um momento.
   - E? - As amigas incentivaram.
   - E enchê-lo de beijos. Se ele não quiser sair comigo logo depois que o show acabar, vou arrancar a roupa dele no palco mesmo.
   - AI MEU DEUS, que menina carente! - gritou.
   - Eu quero só ver essas músicas novas deles. Ver se valeu a pena esperar esse tempo todo.
   - Com certeza vai valer, . - disse confiante. Estava quase explodindo de saudades de seu zumbi, mas estava feliz por ele ao mesmo tempo. Era tudo o que eles queriam, não é? Aquele poderia ser um momento decisivo para a carreira deles. E depois, se a banda fizesse mesmo sucesso, teriam que se acostumar a passar mais tempo sem ele.
   - Eu acho que deveríamos todas irmos dormir. Assim amanhã chega mais rápido. - suspirou. Mal tinha conseguido Jared de volta e já precisava passar por todo aquele tempo sem ele. Os dias pareciam demorar uma eternidade para passar. Ir todos os dias para a aula e não ver aquele grupinho especial de garotos bagunceiros era tão estranho.
   - Vocês acham que eles vão voltar pra escola? - fez a pergunta que todas se faziam em suas mentes. Se eles saissem em turnê, para divulgar o primeiro álbum, não conseguiriam voltar às aulas.
   - Acho que não. - fez bico.
   - Droga. - se sentou na cadeira da escrivaninha. - Anda, vamos dormir.
   As cinco se arrumaram para dormir - dormiriam todas na casa de - em silêncio. Todas estavam muito ansiosas para o dia seguinte e se começassem a falar qualquer coisa, o assunto inevitavelmente voltaria a ser a The Maine, aumentando ainda mais a ansiedade de todas.
   Os garotos - como de costume, tocariam no pub de Jason. Estariam também vendendo o novo álbum e distribuindo autógrafos. As garotas não tinham certeza de quantas pessoas iriam à aprensentação, mas estavam contentes em poderem entrar antes de todo o resto das pessoas, garantindo lugares especiais próximos ao palco.
   Não viam a hora de poderem pular no palco - todas as cinco dessa vez - e agarrarem os seus respectivos namorados.

~o~

- Ansiosos para voltarem? - Perguntou Kennedy, colocando seus braços ao redor de Pat e Garrett. Os cinco estavam se preparando para entrar na van que os levaria de volta para a sua cidade natal.
   De volta para ela, cada um deles pensava.
   Aqueles vinte dias de isolamento, embora muito produtivos e gostosos, foram uma provação do ponto de vista psicológico. Cada um deles sentia a saudade de sua respectiva namorada até os ossos.
   - Estou nervoso. - Disse John. - As pessoas sempre iam nos ver tocar, mas será que podemos dizer que elas são fãs da The Maine? Que comprariam o nosso CD?
   - É claro que vão comprar! - Tim chegou até a van, aonde os cinco já o esperavam. Era o única que tinha mantido contato com o mundo externo naquele período. A cidade inteira estará no pub amanhã. Vocês são as celebridades de Tempe agora.
   - Fala sério. - Pat rolou os olhos.
   - Quero voltar a ser um loser. - Disse John. Sentia-se enjoado só de pensar em subir naquele palco, como se fosse a primeira vez.
   - Eu não. - Todos olharam para Kennedy. - Se eu ainda fosse só um loser, minha linda nunca estaria comigo.
   - Afe, lá vem. - Garrett riu. Você não consegue ficar sem falar dela por dez minutos!
   - Olha quem fala! Chama a até dormindo! - Kennedy apontou - "Aaaaaaah , , aaaah"
   - Cala a boca! - Garrett fechou a cara. - Eu não fico gemendo.
   - Ah fica. - Disse Pat, apoiando Kennedy.
   - Vocês todos não tem jeito. - Tim balançou a cabeça. - Vamos embora logo, ou não chegaremos a tempo. Todos prontos?
   - Sim, Senhor Capitão! - A The Maine gritou em coro, como se estivessem no exército. Tim balançou a cabeça, rindo. Embora talentosos, os amigos de seu irmão eram completamente malucos.
   A viagem de volta para casa pareceu durar muito mais tempo do que de fato durou. Os garotos estavam num misto de ansiedade, insegurança, medo e saudades. Ansiosos para mostrarem logo suas músicas novas para as garotas (e os seus "fãs" - ainda era estranho para eles usar essa palavra -, inseguros com a reação das pessoas (acreditavam que somente suas famílias e namoradas estariam esperando por eles), com medo de não agradar, medo de que algo desse errado, ou que desse certo demais e fossem obrigados a passar ainda mais tempo longe das garotas de suas vidas, e saudades de suas namoradas.
   Mal podiam esperar para que elas ouvissem a música na qual todos eles trabalharam exclusivamente para elas.

~o~

- Eu não acredito que você vai fantasiada de mulher gato! - olhava para , rindo.
- E você, que vai fantasiada de gibi?
   - Ei, eu não estou! Sempre gostei de me vestir assim, ok?
   - Não tem nada a ver com agradar um certo baixista de uma certa banda?
   - E você? Quer que o Kennedy tenha um ataque cardíaco em cima do palco?
   As duas discutiam, enquanto o restante das meninas, já prontas (inclusive , por um milagre divino), assistiam à cena sentadas na cama de , olhando de uma para a outra.
   estava vestindo uma calça skinny de couro, um corpete tomara que caia de couro, uma jaqueta, também de couro e uma bota de cano curto... De couro. Realmente parecia alguma heroina de filmes, mas as outras amigas não disseram nada. Sabiam que elas se vestira daquela forma porque Kennedy simplesmente babava toda vez que a garota vestia algo com aquele tecido.
   , por sua vez, vestia uma calça legging estampada com o R2-D2, personagem de star wars, e uma regata preta, soltinha no corpo e de tecido brilhante. vestia um shorts jenas de lavagem escura e uma regata preta com uma cruz branca desenhada. Usava uma bota de cano baixo e salto agulha. usava shorts jeans, sneakers coloridos e uma camiseta de banda. Por fim, escolhera um vestido azul bebê, com babados na saia e uma sandalia de salto clássica completava o visual.
   - Andem logo, parem de discutir as duas. Temos que chegar lá antes que o Jason tenha que abrir a casa pro resto das pessoas. - disse irritada, fazendo com que as duas amigas parassem de brigar e olhassem para ela.
   - Ai meu deus, é verdade! - acabou de passar o blush rapidamente, olhou-se no espelho uma última vez e concluiu que estava pronta. fez o mesmo, assim que terminou de passar a última camada de rímel em seus olhos.
   - Vamos? - Perguntou , já se levantando.
   - No meu carro! - gritou. As outras a olharam. - Estou com saudades de dirigir pra todas vocês. - Deu a língua.
   Depois que começara a usar seu próprio carro, geralmente as duas se dividiam para dar carona para as amigas, de modo que há um bom tempo as cinco não estavam juntas no mesmo carro.
   - Se alguma coisa acontecer, morremos todas juntas! - olhou para zombando. Essa se limitou a mostrar o dedo para a amiga.
   - Zoada, te odeio.
   - Eu também te amo, chuchu.
   Desceram as escadas e foram todas para o carro de . Mal podiam acreditar que faltava tão pouco para verem os seus meninos de novo.

Entraram pela porta dos fundos. Era engraçado ver aquele lugar vazio.
   - Boa noite, Jason!
   - Boa noite, garotas. - Ele sorriu para elas. Parecia nervoso, como se ele mesmo fosse se apresentar. - Ansiosas?
   - Muito! - abriu os braços, como para ilustrar o tamanho de sua ansiedade.
   - Ok, agora que vocês já estão aqui dentro, posso abrir a porta da frente. Não percam os seus lugares ein? Esse pessoal me infernizou a semana toda, comprando ingressos para hoje. - Sorriu. - Quem diria que esses garotos idiotas estariam agora fazendo um show com venda de ingressos!
   - Eles já estão aqui? - perguntou, pensando ter ouvido um som de bateria ao longe.
   - Estão. - Teve que interromper a fala, porque as garotas começaram a se mover inquietas e falar umas com as outras, de forma que ele não conseguia entender nada do que elas diziam. Pigarreou. - Mas achamos melhor que vocês não os vejam agora, eles precisam de foco. O show começa em breve e...
   - Que otários, não acredito nisso. - reclamou. - Vou encher a cara daquele ridículo do Kennedy de porradas!
   - Calma amiga, daqui a pouquinho eles entram no palco. - tentou acalmar a amiga, mas na verdade também queria ver Pat logo. Se ele já estava ali, qual seria o problema de vê-lo por alguns minutos?
   Jason as deixou discutindo e foi para entrada do pub, abrir a porta para deixar que as pessoas que já faziam fila do lado de fora entrarem. Contratara alguém para conferir os ingressos, mas a pessoa estava atrasada, de forma que ele mesmo teve que fazer o serviço.
   Em pouco tempo, o pub estava quase lotado. Tinham pessoas que as garotas nunca haviam visto na vida, provavelmente atraídas por amigos que já conheciam a The Maine, mas também frequentadores comuns do pub.
   Cada minuto de espera parecia infinito para as garotas, que não ousaram sequer se mover, para não perderem os seus lugares na frente do palco. Sentiam vários olhares sobre elas e sabiam que, até que os garotos entrassem no palco, seriam o centro das atenções e dos comentários. Já estavam ficando impacientes, quando todo o ambiente ficou completamente escuro, o sinal clássico de que a The Maine logo entraria no palco. As cortinas pretas ainda estavam fechadas quando os primeiros acordes de uma música inédita começaram a ser tocados.

(coloquem Everything I Ask For pra tocar)

A cortina caiu quando John começou a cantar. Foi um momento mágico para as garotas. Era como se elas estivessem olhando para eles pela primeira vez. Eles pareciam tão diferentes daquela vez. Em questão de segundos, todos os casais já haviam encontrado os olhos uns dos outros. As meninas não conseguiam evitar em olhar abobalhadas para seus namorados, que sorriam para elas. Kennedy piscou para , que lhe mandou um beijo.

She takes her time with the little things
   Love notes reminding me (reminding me)
   She wears red when she's feeling hot (so hot)
   I have her but it's all I got
   She looks best without her clothes
   I know it's wrong but that's the way it goes
   I don't know what she sees in me (she looking at me)
   But I'm happy that she's happy now that she's with me
   And I'm freaking out because I'm just so lucky

Oh she makes me feel like shit (it's always something)
   But I can't get over it (she thinks it's nothing)
   'Cause she's everything I ask for
   Everything I ask for
   And just a little bit more
   Everything I ask for
   Everything I ask for and so much more

She loves music but she hates my band
   Loves Prince, she's his biggest fan
   She's not big on holding hands
   But that's alright 'cause I still got her
   She keeps up on current affairs
   Prada is what she wears
   I don't know what she sees in me (sees in me)
   But I'm happy that she's happy now that she's with me
   And I'm freaking out because I'm just so lucky

Oh she makes me feel like shit (it's always something)
   But I can't get over it (she thinks it's nothing)
   'Cause she's everything I ask for
   Everything I ask for
   And just a little bit more
   Everything I ask for
   Everything I ask for and so much more

Fist fights turn into sex
   I wonder what comes next
   She loves to always keeps me guessin' (guessin')
   And she (she) won't (won't) give it up
   And we (we) both (both) know
   it's because...

Oh she makes me feel like shit (it's always something)
   But I can't get over it (she thinks it's nothing)
   'Cause she's everything I ask for
   Everything I ask for
   And just a little bit more
   Everything I ask for
   Everything I ask for (oh she's a little bit more)
   Just a little bit more
   Everything I ask for
   Everything I ask for (whoa)
   So much more
   Everything I ask for
   Everything I ask for and so much more

, , , e sorriam. Cada uma delas podia se enxergar em vário pedacinhos daquela letra. Era incrível. Vê-los tocar aquela música para elas fez com que todo o ressentimento pelo tempo em que tiveram que ficar longe da banda passasse. Valera a pena, afinal de contas.
   Quando a banda tocou I Must Be Dreaming, todos foram a loucura. já conhecia parte dela, pelo menos da letra. John a cantara para ela uma vez, na prisão. Mas escutá-la terminada era ainda melhor. Era uma música linda. E, mais uma vez, que refletia a relação de todas elas. Eles tocaram ainda mais algumas músicas antigas.
   Todos pareciam estar adorando o show, e, aos poucos, os garotos foram ficando menos nervosos. Estar no palco era uma sensação única de entrega. Estavam ali, colocando suas almas para fora, na frente de todas aquelas pessoas. Todos os que estavam presentes eram importantes para eles, uma vez que estavam no palco. Se sentiam extremamente satisfeitos quando tentavam cantar junto, ou quando pulavam e dançavam ao som de suas músicas. No entanto, as pessoas mais importantes estavam logo na primeira fileira. Esperavam que elas pudessem se encontrar em cada pedacinho das músicas que eles tocavam. Queriam que elas soubessem que não ficaram de fora de seus pensamentos em nenhum momento.
   - Vocês estão se divertindo? - John perguntou. - A última música é muito especial para nós. Espero que seja para vocês também. Como vocês devem saber, até pouco tempo, éramos só os Losers da Tempe High School. E hoje, quem diria, todos vocês que se divertiam nos xingando pela escola, pagaram para nos ver aqui! - John parou por um momento, porque várias pessoas de sua escola começaram a rir (inclusive e suas amigas). Riu também. - É, pois é. Mas a verdade, a verdade mesmo, é que sempre seremos os losers. E eu digo isso com orgulho. Eu sou um loser. O Kennedy é um loser, o Garrett é um loser, o Pat é um loser, o Jared então, nem se fale... Essas cinco garotas que estão aqui na frente também são losers. O dono desse pub também. E cada um de vocês que está aqui, certamente também é. E eu espero que, depois de hoje, todos nós tenhamos orgulho em dizer isso. Então vamos lá.

(coloquem We'll All Be agora)

Surrounded by familiar faces, the people that you love to see
   Where everybody knows your name, and they're smiling
   We may not be gettin' younger, our days might be slippin' away
   Yeah we're still so fucking young, so we'll party like it's our last day

And for the first time, I feel less alone
   And for the first time, I can call this home

It's our last time, to say goodnight
   Don't say goodbye, 'cause in the morning we'll
   we'll see you around
   And we'll sing it again, same time tomorrow, yeah we'll all join in

I'm ashamed of feeling down now
   'Cause we're the people we've been waiting on
   All we needed was some good friends
   And a song to sing a long
   With voices yelling in the front room
   No one could tell us keep it down
   So we all just kept it loud, and tried to wake the entire town

And for the first time, I feel less alone
   And for the first time, I can call this home

It's our last time, to say goodnight
   Don't say goodbye, 'cause in the morning we'll
   we'll see you around
   And we'll sing it again, same time tomorrow, yeah we'll all join in

It's our last time, to say goodnight
   Don't say goodbye, 'cause in the morning we'll
   we'll see you around
   And we'll sing it again, same time tomorrow, yeah we'll all join in

secou uma lágrima do rosto. Todas se sentiam tão orgulhosas. Há um ano, nenhuma delas seria capaz de imaginar aquela situação.
   lembrava-se da noite em que pegou carona com Kennedy, quando ele se recusara a cantar para ela, lembrava-se do primeiro beijo deles, de como se sentiu quando ele cantou Give Me Anything no pé do seu ouvido. Depois dos beijos roubados no corredor da escola, no banheiro, no almoxarifado, de como foi gradualmente se apaixonando por seus sorrisos maliciosos, seus beijos, seu toque, sua voz. Lembrou-se de todas as promessas, dos dias que passaram juntos em sua casa de campo, de tudo o que os levara até o presente momento.
olhava para Garrett, aquele garoto que sempre fizera parte de sua vida, mesmo que ela não se lembrasse disso por um tempo. Como ele doce e divertido. Como ele a tratava com carinho, a amava. Sentia-se a mulher maravilha ao seu lado. Nunca pensou que poderia amar tanto alguém como o amava. Um amor que surgiu de uma amizade inesperada, que surgiu de conversas aleatórias até a porta de casa, de encontros inesperados nas madrugadas.
O muro que John acusara de erguer contra ele há tempos não existia mais. Não é que ela havia lhe mostrado a porta. Ela simplesmente o derrubara. Haviam passado por tantas coisas juntos. Provações para eles nunca faltaram, mas, mesmo quando pensava em desistir, John estava sempre pronto para lutar por ela. Lutar por eles. Ela já não era a mesma pessoa, ele tampouco. Sorriu, lembrando-se que tudo começara com uma macarronada.
sorria ao observar Pat tocar. Quem o via tão concentrado e ágil tocando aquele instrumento certamente não fazia ideia de como aquele garoto era lento. Mas também não deveriam fazer ideia de que ele era o garoto mais adorável e prestativo de todo o mundo. Não sabia como teria aguentado a situação com os seus pais sem ele. Sequer conseguia dizer se ainda estaria ali, se não fosse por ele. Provavelmente teria se mudado com a mãe, quilometros e quilometros distantes de tudo aquilo. Lembrou-se de quando ele a ajudou a andar de skate novamente, sempre atento a seus movimentos, para que ela não caísse e sorriu. Sabia que seria sempre assim.
e Jared tinham uma longa história de encontros e desencontros. Ela se apaixonara por ele no mesmo instante que o viu, sentando no banco que ela estabelecera como dela. Aquele sorriso gentil, seu abraço quente e o fato de ele nunca ter realmente a abandonado, mesmo quando ela não o merecia, eram só alguns dos motivos disso. Jared era o seu porto seguro, o seu ursinho.

Oh these days are numbered, but we can't forget last summer
   When we sang and threw our arms into the air
   Go on and sing it out
   Our days are numbered, and we know we're not gettin' younger
   But it's nights like these that make you not really care

Oh these days are numbered, but we can't forget last summer
   When we sang and threw our arms into the air
   Go on and sing it out
   Our days are numbered, and we know we're not gettin' younger
   But it's nights like these that make you not really care

We all have been degraded
   We all have been the greatest
   We all have been degraded
   We all will be the greatest

Assim que a música acabou, toda a plateia gritava e batia palmas.
   - Obrigado por isso pessoal, vocês foram incríveis! Vamos fazer uma pausa e já voltamos pra curtir com vocês. Se quiserem comprar o nosso cd, vão ali com o Jason.
   Os garotos sairam do palco e as meninas foram logo atrás. Assim que os casais se encontraram, partiram para abraços apertados e beijos saudosos.
   - Can't Stop, Won't Stop? - leu o título do álbum.
   - Vocês gostaram? O que acharam das músicas? - Assim que as saudações acabaram, Pat perguntava entusiasmado.
   - Vocês foram incríveis! - Disse .
   - Aquela última música me matou. - confessou.
   - Pra quem era o "fist fights turn into sex"? - perguntou, curiosa. e Garrett se entreolharam e os outros garotos riram.
   - Coisa do Garrett isso ai. - Apontou Kennedy.
   - Seu traidor! - resmungou, dando um tapa nele. Estava levemente corada.
   - Amiga, você precisa contar isso pra gente. - riu.
   - Parem! - Fez careta. - Vocês não precisam voltar lá pra fora para darem autógrafos?
   - Só depois que autografarmos os de vocês. - John pegou cinco cds de cima de uma mesinha. Distribui um para cada uma das garotas.
   - Can't Stop, Won't Stop? - leu o título do álbum. - Não gostei, queria algo do tipo "somos todos losers"
   John riu.
   - Pois é, somos mesmo. Tentei sugerir isso, mas os meninos não gostaram. Então, é. Can't Stop, Won't Stop - John repetiu o título com orgulho.
   John demorou-se olhando para aquela caixinha em suas mãos. As listras douradas e brancas se destacavam. Sorriu. Sentia que aquele seria o primeiro grande trabalho deles. O primeiro de muitos. Enquanto todos na sala embarcavam em conversas sobre os títulos das músicas, pediam para que os garotos fizessem um show particular, contassem sobre como foi o processo de produção e tudo o mais, John se afastou. Nem mesmo pareceu notar que ele saira do meio da roda de amigos, para observá-los com um pouco de distância.
   Todos sorriam. Os dois grupos conversavam entre si como se todos fossem amigos há muito tempo. Como se nunca tivesse havido toda aquela história de losers e populares. Assim, ele sorriu. Embora o futuro da banda ainda fosse incerto, de forma que era muito difícil prever como as coisas seriam dali pra frente, de uma coisa ele tinha certeza: aquelas pessoas, todas elas, eram a sua família. E, com elas, ele estava em casa.

Epílogo

As coisas eram bem simples no Tempe High School: havia as garotas populares, os garotos populares, os atletas, as líderes de torcida, os nerds e os garotos da banda.
   O grupo de John O'Callaghan, que já fora uma vez chamado de "Os losers", agora era conhecido como "os garotos da banda", ou, simplesmente, "The Maine". Os cinco nunca se ajustaram às regras da escola, e tampouco ligavam para a hierarquia imposta pelos estudantes. Eles eram eles mesmos e ponto. The Maine seria para sempre uma lenda para os estudantes daquela escola. Embora não estudassem mais ali, por conta da turnê pelos Estados Unidos, que não combinava com os horários de aula, a história daqueles cinco garotos estaria para sempre marcada em cada pedacinho daquele lugar.
   e suas amigas já não mais se encaixavam no grupo de garotas populares. Se alguém perguntasse à alguma delas a qual grupo elas pertenciam, certamente todas diriam "ao grupo dos losers". Eram sempre as melhores em tudo. era a representante da turma, vivia com seu skate, fazendo todo o tipo de manobras. era uma da melhores alunas que o colégio já tivera. sabia tudo sobre filmes e séries, principalmente no tema de ficção científica, e ninguém nunca conheceu alguém com uma autoestima tão grande quanto a de . Ela brilhava e inspirava todas as garotas a gostarem mais de si mesmas. Sem falar nos excelentes dotes que as mantinham como as mais desejadas da escola. E também, as mais invejadas.
   A relação entre os dois grupos? Não, não era só o parentesco entre e um dos garotos. Dentre todas as garotas daquela cidade, eram essas cinco que possuiam os corações dos garotos da The Maine. E, dentre todos os garotos da cidade, foram eles quem conseguiram conquistar os complicados corações daquelas garotas. Afinal, no Ensino Médio, não há nada mais importante do que uma boa paixão.
   Ou pelo menos, foi assim que elas aprenderam a pensar.

FIM



Comentários da autora


  Ok, eu to triste.
  Não sei se alguém ainda vai ler esse capítulo, mas acho que terminar essa história foi muito mais uma questão pessoal. Se eu não me engano, iniciei ela em 2011. Tanta coisa mudou de lá pra cá e eu já não sou mais uma garota no Ensino Médio. Talvez tenha demorado para escrever esse capítulo (mesmo que eu sempre soubesse como ele seria), porque dar tchau para CSWS é a mesma coisa que dar tchau para o meu eu de 2011. Foi muito bom poder viver e reviver essa história de novo e de novo. Surtar ao ler cada cena Brock, suspirar com cada cena Nickelsen, chorar com as cenas Monaco... Sobre CSWS, eu me divido entre autora e leitora.
  Queria agradecer a todas vocês que já leram essa fanfic. Queria pedir desculpas pra aquelas que esperaram tanto por esse final, que possa ser que se decepcionem. O fato é que, falando de Can't Stop, Won't Stop (e remetendo diretamente pra One Evening With The Maine) não tem como terminar um show sem ser com essas duas músicas.
  Então, enfim, o show acabou. Agora vamos abaixar as cortinas e esperar para nos encontrarmos novamente no próximo.
  xx Dana Rocha