Country Song
Escrito por D. C Ferreira | Revisado por Julia (Até Capítulo 11) | Mariana
Prólogo
- Olha só quem resolveu aparecer, se não é o Charlie Sheen em pessoa. – brinca Louis, apesar do clima pesado na sala.- Dá um tempo, Louis. – murmura Harry ao sentir a porta se fechando às suas costas.
A sala é do hotel em que estão hospedados. Com o papel de parede, pisos e móveis claros, a única coisa que se sobressai no ambiente é o grande sofá vermelho escuro que está disposto no centro da sala. Também é nesse sofá que está sentado o responsável pela relações-públicas da banda. Dan está de pernas cruzadas, o pé balançando ritmicamente enquanto segura um jornal dobrado nas mãos. Ao lado do sofá, sentado em uma cadeira rústica de madeira, está Louis com um sorriso idiota nos lábios.
- Se divertiu bastante ontem... Quer dizer, até hoje de manhã? – pergunta Dan com uma calma mal controlada. A calmaria antes da tempestade.
- Por que você não me diz logo o que quer dizer, Danny?
Ele vai até o mini bar no canto direito da sala, pega um dos copos de cristal pendurados e procura com os olhos alguma garrafa que lhe interesse em meio de tantas. Talvez não fosse a opção mais sábia, beber enquanto ainda sente os efeitos da bebedeira passada, mas ele não está ligando para isso. Principalmente, com a bronca que se seguiria.
- Ok. – levanta do sofá e joga o jornal em cima da mesinha a sua frente. – Você quer me explicar alguma coisa da noite passada?
Harry vira-se de frente para ele com o copo nas mãos. Bebe lentamente o líquido marrom, passa a língua pelos lábios e só depois responde.
- Não.
- Não? – essa pequena palavra parece enfurecê-lo. – Mas eu acho que você deve explicações. Primeiro: você sai sem avisar ninguém, segundo: você decide ir num lugar com reputação desfavorável e terceiro: você dança a porra da festa toda com uma atriz pornô e deixa que o fotografem.
Nessa hora Louis explode em risadas. Harry o olha com desgosto.
- Por que ele tem que estar aqui? – aponta para Louis.
- Ei cara, não sou eu quem saiu da linha. – levanta as mãos.
- Eu também não fiz nada demais.
- Fez sim. – Dan está com o rosto vermelho, criando um contraste absurdo com sua camisa social branca e gravata cinza. – Você sabe que esse tipo de publicidade é ruim para banda.
- Você fala como se eu tivesse planejado tudo antes.
- E não foi?
- Não, claro que não. – acaba de tomar a bebida e coloca o copo vazio no balcão. – Você acha que eu queria encontrar uma atriz pornô na festa?
- Eu queria. – Louis intromete-se.
- Cala a sua boca, Louis.
- Não me interessa o que você queria ou não. O estrago já está feito, a notícia já saiu no jornal da manhã e está correndo o mundo. – ele pega o jornal e lê em voz alta: - “Harry Styles, integrante da banda One Direction, é visto dançando obscenamente com uma atriz pornô”.
Harry ri.
– Obscenamente? Meu Deus, estávamos só dançando. Como todo mundo ali, aliás.
- Sim, mais alguém ali era famoso, integrante de uma banda com sucesso mundial? E ainda por cima, dançando com uma mulher que faz filmes adultos?
Revirando os olhos, senta-se no banquinho que fica em frente ao bar.
- Tudo bem. O que você quer que eu faça? Peça desculpas? Fale que ela era um fã? O quê?
- Não acho que isso vai adiantar dessa vez, Harry. – responde pesadamente.
- Então, o que você quer que eu faça?
Parecendo perceber só agora o seu estado, Dan volta a sua postura normal, ajeita a gravata e suspira profundamente.
- Nós temos que consertar isso de alguma maneira, nem que seja sumir por um tempo até a poeira baixar.
- Começamos a turnê daqui a um mês.
- Eu sei. Por isso que você vai sumir por duas semanas, voltando na última semana do mês para os ensaios.
- Voltando? Para onde você quer me mandar?
Dan sustenta seu olhar firme no de Harry antes de falar:
- Brasil.
Capítulo 01
O calor naquele país é absurdo. O sol bate forte em sua cabeça enquanto sai do aeroporto para o ar sufocante do Rio de Janeiro. Como Dan não comunicou a ninguém sobre sua ida ao país, nenhum fotógrafo ou fãs desesperadas o esperam do lado de fora. Sorri com isso. A ideia de fazer o que quiser sem que isso vire notícia no dia seguinte é uma proposta tentadora. Mas é claro que não poderia fazer isso. Dan fez questão de mandá-lo para um lugar afastado. Um sítio no interior do Rio de Janeiro, aonde ele poderia “esfriar a cabeça”, como ele dissera.
Para na calçada com sua única mala preta. Duas semanas que passariam rápido se fossem férias comuns, mas estando no meio do nada seriam as “férias” mais longas que já teve. Passos apressados ecoam atrás dele.
- Você é bem rápido, sabia?
Louis e Niall, também integrantes da banda, estão agora parados ao seu lado com suas respectivas malas as suas frentes.
- Me lembre de novo o porquê de vocês estarem aqui junto comigo. – pede.
- Ah, isso é simples. – Niall tira seus óculos escuros para observá-lo melhor enquanto fala. – Não temos nada de melhor para fazer nessas duas semanas.
- Nem ficar nas suas casas sentados, comendo porcarias e jogando videogame como vocês sempre fazem?
- Eu acho que já está na hora de botar o bronzeado em dia. – Louis joga o pano da sua camisa para trás e bota a mão na cintura, fazendo uma pose digna de calendário de verão.
Niall ri com a pose e Harry revira os olhos.
- Vocês não precisavam fazer isso. – comenta em um sussurro. Sua cabeça está abaixada e os óculos escuros impedem que eles vejam seus olhos.
- Ah, que isso. Nós achamos que o Danny pegou pesado com você, quase o exilando para cá. Nada mais justo nós virmos com você. – Niall o abraça de lado.
- Obrigada.
- Não seja por isso, Harold. – Louis o chama por um dos seus apelidos. – Garanto que até o final dessa viagem você estará pedindo pelo completo exílio a ficar perto de nós por mais um minuto.
- Para quem praticamente convive diariamente com vocês, não acho que vai ser um problema.
- Veremos. – ajeita os óculos no rosto e dá um riso diabólico, fazendo os três rirem.
O caminho até o sítio é longo. Saindo do aeroporto, pegaram trânsito na cidade até saírem do centro e irem para uma estrada menos movimentada. Depois de um tempo, parece que estão sós naquele pedaço de terra se não fosse um carro ou outro que passa ocasionalmente por eles.
Acomodados dentro de um SUV preto, os três estão sentados nos bancos de trás, jogando e mexendo em seus celulares. No banco do motorista e do passageiro, estão dois guarda-costas que ficariam encarregados da segurança deles nas próximas duas semanas. Harry não entendeu bem o porquê deles ali, afinal não iriam ficar em um sítio, totalmente isolados? Mas é difícil colocar alguma ideia contrária ao que Dan está pensando quando cisma com alguma coisa.
Harry enruga a testa quando vê o sinal da internet enfraquecer em seu celular.
- Será que nesse final de mundo tem internet? – pergunta para os meninos.
Eles param de jogar em seus celulares e o encaram por um minuto.
- Deve ter algum tipo de eletricidade por lá, não? Quer dizer, Dan não nós mandaria para um lugar completamente atrasado. – Louis olha para Niall. – Mandaria?
Niall os olha com uma expressão apavorada.
Os três praguejam baixo. O carro continua correndo pela estrada, logo chegando ao seu destino.
A entrada para o sitio é estreita e o caminho é de terra. O carro balança ao passar pelos buracos e os meninos tem que se segurar em algo para não ficarem batendo uns nos outros.
- Aio Silver! – Niall exclama a quase pula quando o carro passa por um buraco fundo.
Finalmente chegam. O caminho que os leva para a casa principal é liso e coberto por grama. Eles soltam de onde estavam segurando e espremem-se para observar o lugar pela janela do carro.
O dia claro e ensolarado contribui muito para realçar a beleza do lugar. As copas das árvores estão cheias de folhas que balançam ao menor sinal de vento, o gramado é puro verde e os garotos podem jurar que deve ser macio ao pisar. Algumas flores rasteiras circundam o caminho, dando uma cor para o local. Ao lado esquerdo deles, uma piscina enorme e azulíssima os convida para entrar, com cadeiras e mesas de banho brancas colocadas ao seu entorno. No lado direito, o sítio estende-se mais com um campo de futebol, um campo de areia e mais algo ao final que não conseguem enxergar.
- Olha esse lugar. – Niall está com o olhar vidrado para a piscina. – Vocês já viram um lugar tão bonito como esse?
Os outros dois balançam a cabeça em negativa e continuam a observar a paisagem. A casa ergue-se as suas vistas um segundo depois. A casa em um estilo colonial possui somente um andar, mas de proporções grandes. A frente da casa é contorna por uma varanda feita em arcos e toda a parede é de tijolinhos laranja. As janelas são grandes, ocupando quase toda a parede, e a porta principal é toda trabalhada em desenhos e com uma maçaneta dourada.
Uma mulher de calça jeans escura, blusa social branca e sapatilhas os esperam na entrada.
- Bom dia, meninos. – a mulher os saúda em um inglês perfeito ao descerem do carro. – Fizeram uma boa viagem?
- Sim, obrigado. – respondem em uníssono.
- Ótimo. Meu nome é Marina, sou a responsável por fazer a estadia de vocês a melhor possível nessas duas semanas e também sou a governanta da casa.
Marina é uma mulher de pele escura, aparentemente em seus trinta e poucos anos, alta e magra. Os olhos amendoados são grandes, assim como seus lábios. Os cachos escuros, com as pontas levemente mais claras, caem até seus ombros como várias “molinhas”. Ela sorri educadamente para eles e estende as mãos para a casa.
- Vocês gostariam de fazer um tour pelo sítio ou querem descansar um pouco antes do almoço?
Os três olham entre si e dão de ombros.
- Podemos fazer o tour agora. – Louis responde por eles.
- Perfeito. Acompanhe-me.
Todos a seguem pela casa. A primeira parada é na enorme sala de estar. As paredes também são de tijolinhos e há vários quadros e alguns castiçais pendurados por elas. O sofá e as cadeiras postas são de madeira branca e forradas por um tecido floral. Uma televisão de plasma está em frente ao sofá e, entre as cadeiras, uma lareira marrom e bege está apagada. No canto oposto a esse ambiente, estantes com livros e DVD’s ocupam o resto do lugar. Passam para outro cômodo que é a sala de jantar com mesas e cadeiras de moldagem antiga.
O próximo aposento é a cozinha. Clara pela iluminação das janelas abertas, ela é toda branca desde seus azulejos até os móveis. Uma bancada imensa de mármore branco estende-se por duas paredes, dando espaço somente para um fogo elétrico, outro de lenha e duas geladeiras. Há duas pessoas na cozinha que se viram rapidamente quando os ouvem chegar.
- Fátima, Helena, esses são os nossos hospedes durante essas semanas. – Marina fala em português para elas entenderem. – Esses são Harry, Louis e Niall.
Ao ouvirem seus nomes, eles dão um passo à frente para abraçá-las e lhe darem beijos nos rostos.
- Os outros só vão chegar semana que vem. – complementa. – Mas por enquanto só são esses três e mais dois seguranças deles.
Elas balançam a cabeça em concordância. Marina vira-se para eles e sorri.
- Desculpem-me, meninos. Estava falando para elas que Zayn e Liam só chegarão semana que vêm.
- Eu não sabia que eles viriam. – Harry os olha com duvida.
- Eles também concordaram com a gente, mas eles precisavam resolver algumas coisas em Londres antes que virem para cá. – Louis dá os ombros.
- Perdão por interromper. – uma das mulheres que foi apresentada chega mais perto, falando em um hesitante inglês com eles. – Mas vocês gostariam de algo especial para o almoço? Algum tipo de comida?
Enquanto Harry e Louis pensavam, Niall de adiantou para responder:
- Que tal uma comida típica brasileira? Eu adoraria isso, de verdade.
- É. Eu voto por comida brasileira.
- Eu também. – Harry concorda por último.
A mulher sorri e concorda também com a cabeça. Vira-se para falar com a outra e juntas pedem licença para continuar seu trabalho.
- Que tal darmos uma olhada lá fora antes de escolherem seus quartos? – Marina opina.
Marina e os três garotos saem para a varanda de trás. O quintal estende-se por um tapete verde até que se curva em um pequeno declive, dando para os limites da propriedade. Em um lado antes do declive, há um pequeno lago com uma ponte de madeira.
Louis coloca um braço em volta do ombro de Harry enquanto o outro se estende a sua frente.
- Olhe Simba, tudo isso que o sol toca é o nosso reino. – cita uma das frases do filme Rei Leão, como se ele fosse Mufasa e Harry fosse Simba.
Harry ri e entra na brincadeira.
– Nossa! Tudo isso será meu?
- Não. – Louis acaba com a brincadeira, balançando os cachos do amigo.
Eles descem da varanda e caminham pela grama macia. Marina está explicando sobre a história da casa, apontando alguma coisa interessante e falando mais outras coisas quando para de andar. Os meninos tem que frear rapidamente para não baterem em suas costas.
- Aconteceu alguma coisa? – Niall está olhando para todos os lugares, tentando ver o que a fez parar.
- Não, é só... Pensei ter visto... – ela arregala os olhos. – Uma coisa. Com licença.
Marina caminha em passos rápidos, seguindo em linha reta até uma arvore grande, parando alguns centímetros dela. Os meninos a seguem lentamente e só quando estão perto que conseguem ouvir a conversa.
- O que você está fazendo, ? – Marina está com a cabeça inclinada para cima, olhando alguma coisa na árvore.
Harry mexe-se desconfortável em seu lugar. Marina voltou novamente a falar em português, então tudo o que pode fazer é ficar lá e escutar essa troca de palavras estranhas. Uma laranja cai da árvore e estala-se em cheio na cesta que só agora Harry percebe ao chão.
- Pegando laranjas. – uma voz grita lá de cima.
Harry, Louis e Niall erguem suas cabeças na direção do som. Os três estão com uma carranca de confusão em seus rostos, que aumenta quando veem um pé tateando o tronco da árvore ao procurar descer.
- Já estou descendo. – fala aquela voz de novo.
Um pouco mais da perna fica exposta. Os dedinhos sujos continuam tateando a árvore em busca de apoio, logo a barra de um vestido de renda branca pode ser vista. A menina está de costas para eles, balançando-se para arrumar sua posição, fazendo com que o vestido ondule-se em volta do seu corpo.
Harry levanta a sobrancelha e olha para seus amigos. Os dois tem um princípio de sorriso no rosto e olham com expectativa para cena.
Ela desce um pouco mais e fios soltos do seu cabelo aparecem. O cabelo está amarrado em um coque bagunçado e alto. Não sabe dizer se a cor do cabelo é castanho ou um ruivo fechado. Uma exclamação escapa da menina.
- Não é melhor ajudá-la? Ela pode cair. – Harry pergunta para Marina.
- Eu não preciso de ajuda. – A menina responde sua pergunta no mesmo idioma que ele.
Desce a outra perna e fica parada por um instante enquanto parece escolher o melhor jeito de cair. Salta da altura que está, mas ao encostar seus pés no chão, eles não aguentam o peso dela e antes que possa impedir a loira/ruiva está deitada de costa com o rosto virando para o dele, de modo que a enxerga de cabeça para baixo.
- Oi.
Um sorriso cresce em seus lábios. – Oi.
A menina da árvore tem a pele bronzeada, levemente corada e brilhante, com bochechas e lábios salientes, nariz fino e olhos castanhos. O cabelo é um castanho que ao sol reflete alguns tons de ruivo. Ela lhe sorri quando percebe que está sendo analisada.
- Vai ficar só olhando ou vai me ajudar a levantar?
Harry finalmente acorda e a pega pelo braço, ajudando-a à levantar.
- Meu Deus, , você está bem? – Marina chega ao seu lado, olhando-a com preocupação.
- Eu estou bem, Marina. Foi só uma quedinha. – ela bate em seu vestido tentando tirar as folhas que ficaram presas. – Mamãe me pediu para pegar algumas frutas antes que os hospedes chegassem. – olha novamente para Harry. – Acho que estou um pouco atrasada.
Marina parece se lembrar da etiqueta e corre para ficar ao lado dos meninos.
- , esses são Harry, Niall e Louis. – Ao falar seus nomes, aponta para cada um. – Eles acabaram de chegar, estava mostrando o sítio para eles.
- Nossa, que boa ideia. – pega a cesta com as frutas do chão e a carrega com um só braço. – Espero que gostem daqui. Com licença, mas agora eu preciso entrar.
Observando-a partir, os quadris ondulando enquanto caminha, ela mantem um postura altiva e reta, como se tivesse controlando alguma coisa. Antes de virar-se para continuar o tour, Harry tem o último vislumbre das belas pernas bronzeadas entrando na casa.
Capítulo 02
- Não demos sorte, companheiros. Não há nenhum sinal sequer de internet nesse lugar. – Niall chega ao encontro deles, sentando em uma das cadeiras.
- Não acho que vamos precisar. – Louis está de óculos escuros. Tira-os e olha para Niall e Harry. – Temos muito com o que nos distrair por aqui.
- Bom, eu só acho que o Danny vai ter muito trabalho em explicar a nossa ausência por tanto tempo.
Harry dá os ombros.
– Ele que escolheu nos afastar por tanto tempo. Problema dele.
Os três garotos estão relaxando em baixo de um guarda sol gigante, com refrescos em cima das mesas em volta da piscina. Depois de um almoço excepcionalmente espetacular, com feijão carregado que os meninos adoraram, eles saíram da casa e foram até a parte do sítio que lhes chamou mais a atenção desde que chegaram.
O espaço da piscina é elevado do chão, com cercas brancas em volta. A piscina é de tamanho olímpico, com escadinhas e um tobogã médio. São três mesas no total e os meninos ocupam a que fica na direção oposto à sauna.
- Ok, eu já esperei demais. – Louis levanta da cadeira e corre até a beira da piscina, saltando para dentro dela logo depois, espalhando água nos dois.
Niall corre atrás em seguida, pulando na água no momento em que Louis volta à superfície e cai em cima dele. Os dois riem e começam a jogar água um no outro. Louis pega um flutuador de espuma em forma de macarrão e o bate na cabeça de Niall. Eles ficam nessa brincadeira enquanto Harry fica sentado, observando-os.
- Não vai entrar, Harry? – Niall para e pergunta, levando um golpe na cabeça de Louis. – Ei! Essa doeu.
Harry ri.
– Depois. Eu vou ficar relaxando aqui mais um pouco.
Com um copo em mãos, termina a bebida gelada e leva sua cabeça para trás, desfrutando da sensação refrescante que se segue. Por detrás dos óculos escuros, fecha os olhos. Pensa em Londres, na sua casa e de como gostaria de estar lá. Teria duas semanas de férias antes que começasse os ensaios e isso é raro. Se não fosse por aquela saída escondida poderia estar lá, agora, em um lugar onde existisse conexão com internet e sua sobremesa favorita, estranhamente desconhecida por aqui. Mas não pode reclamar totalmente. O lugar é maravilhoso e, logo que os outros garotos chegassem seria como aquela vez em que resolveram tirar umas férias juntos. Na ocasião, não escolheram um lugar tão “quente” como o Rio de Janeiro, então essa vez será uma experiência nova para compartilhar com eles.
Ao abrir os olhos, a imagem de duas pessoas caminhando ao local da piscina chama sua atenção. A primeira pessoa, que logo percebe que é uma garota, caminha um pouco a frente da segunda, que carrega uma bandeja com as duas mãos. A primeira garota anda quase saltitando, seus cabelos negros longos mexendo-se contra o vento e constantemente vira sua cabeça para o lado, falando alguma coisa com a outra e a apressando. Ao chegarem mais perto, nota que a segunda é aquela garota que caiu mais cedo da árvore. A garota da laranjeira. As duas sobem os pequenos degraus que dão para o espaço da piscina. toma a frente, depositando a bandeja na mesa em que Harry está, enquanto a outra para à poucos centímetros olhando-o com receio misturado com uma euforia muito mal disfarçada.
- Trouxe mais suco se quiserem. – termina de tirar os copos e a jarra de vidro da bandeja.
- Obrigada.
olha para a outra menina as suas costas e suspira.
- Se não for incomodar, tenho uma amiga que gostaria muito de conhecer vocês.
- Claro, sem problema nenhum. – deposita os óculos escuros na mesa e levanta-se sorrindo.
- Essa é a... – antes que pudesse terminar sua amiga já se adianta e fala a sua frente.
- Eu sou a . , se preferir. – apresenta-se. Sua voz treme ligeiramente. – E você é o Harry. Oi, Harry.
- Oi, . Tudo bem?
Dá um passo para abraçá-la e a menina, depois de um momento de choque, retribui o abraço com muita mais força do que ele. Harry acha engraçada a reação das fãs com ele. Não importa o que fizesse, desde um simples “oi” até um abraço, elas sempre se comportavam como se isso fosse a coisa mais legal que já lhes acontecera e isso é motivo suficiente para Harry sentir-se que está recebendo muito mais do que merece.
- Ai, nossa. Eu nem acredito que eu estou abraçando você. – solta um gritinho agudo. – Você é tão cheiroso.
Harry ri e agradece. A menina demora mais um pouco o abraçando e é só quando pigarreia que ela o solta, mas mesmo assim o faz relutante.
- Você é tão bonito. Eu sou a maior fã de vocês.
- Obrigada, babe. Gostaria de falar com os outros? – Harry chama Louis e Niall que estão do lado aposto da piscina. – Eles vêm em um minuto. Então, você também veio passar algum tempo aqui?
- Não, não. Mas eu moro perto daqui... Quer dizer, não “perto” daqui. Nada por aqui é perto de nada, mas eu sou praticamente vizinha da .
Harry olha para a amiga de . está limpando a mesa, retirando os copos sujos e passando um pano úmido na superfície. Tem uma expressão fechada no rosto.
- ? – a chama. Ela vira-se para eles. – Não somos praticamente vizinhas?
dá de ombros.
– Esse sítio é o mais perto da cidade, apesar de ser distante por vários quilômetros, e você mora na cidade. Então, acho que se pode dizer que sim.
- Mas não fique tão emocionado. – emenda, não esperando qualquer reação de Harry. – Quando ela diz “cidade” não quer dizer o significado de cidade que você está acostumado. A vida por aqui parece ter parado no tempo. Apesar de termos algumas pequenas evoluções de uns anos para cá, ainda é uma roça comparada ao centro do Rio de Janeiro.
- Você quer parar de chamar aqui de roça. Estamos em um sítio, pelo amor de Deus. Não é como se fossemos duas caipiras. – joga o pano da mesa com uma brusquidão desnecessária.
- Mas é o que somos. Cai-pi-ras.
A amiga desiste de continuar a conversa e olha para Harry.
- Vai precisar de mais alguma coisa?
- Não. – responde, olhando-a cautelosamente.
- Ótimo. – pega a bandeja e desce as escadas, batendo os pés com força enquanto anda.
Harry a observa partir. Enquanto desce as escadas, murmura para si mesma palavras que Harry supôs ser em português. Talvez esteja irritada demais para perceber que faz isso, ou talvez fizesse isso de propósito para que ele não conseguisse entender o que dizia. De qualquer forma, acha bonitinho o modo como sai enfezada dali.
- Desculpa a , ela tem problemas em aceitar a verdade. – comenta .
- Tudo bem, mas não acho que sejam caipiras.
Harry analisa por um momento. Os longos cabelos escuros caem abaixo da cintura, que é fina e delicada assim como toda a sua estrutura. É alta, mas não parece ser de um jeito desengonçado, com seus shorts jeans claros e a batinha rosa-bebê que caem perfeitamente nela. Os olhos castanhos, emoldurados por grossas sobrancelhas, os encaram enquanto espera que ele inicie outro tópico para a conversa. No final não é necessário, já que Louis e Niall saem da piscina e a atenção de concentra-se exclusivamente nos corpos molhados dos outros dois garotos.
- O quê foi, Harold? – Louis passa o braço pelo ombro de Harry e percebe a presença da garota. – Ah, oi. E aí, tudo bem?
acena bobamente para Louis, vidrada na visão dele apenas com shorts de banho.
- Essa é a . – apresenta, já que ela parece ter perdido completamente a noção de como se fala. – Ela é a vizinha aqui do sítio.
- Oi, . Eu sou o Louis.
- E eu sou o Niall. – Niall chega por trás deles, sorrindo para a garota. – Tá a fim de se jogar na piscina? A água está ótima.
A boca de abre e fecha como a de um peixinho. Se ela fosse uma fã como diz ser, Harry pensa que isso deve ser demais para ela. Não está acostumada a ver seus ídolos tão de perto e agora um deles a chama para tomar um banho de piscina. Harry sente que teria a mesma reação se Rosie Huntington-Whiteley o chamasse para um mergulho.
- Está um dia quente, afinal de contas. – Niall reforça o convite.
recupera-se do choque e sorri para eles, andando para o gramado enquanto fala rapidamente:
- Ok. Eu vou ver se a tem um biquíni para me emprestar. Eu já volto, não saiam daí. – arregala os olhos com esse último aviso e sai correndo para a casa.
- Garota legal. – Niall comenta enquanto a vê se afastando.
- Claro que você a achou legal. – Louis dá um peteleco na bochecha do amigo. – Vai achá-la ainda mais legal se ela aparecer com um minúsculo biquíni preto.
- Ei! Eu nunca disse que tinha preferência por cores.
Um pouco mais tarde naquele dia, os quatro estão brincando de vôlei dentro da piscina. Separados por uma rede posta no meio da piscina, Harry e Louis formam um time enquanto do outro lado está Niall e . Ela e Niall estão perdendo por dois pontos, provavelmente pelo fato de que Niall aproveita cada chance que tem para colocar seus braços em volta dela ou apenas por que se distrai a olhando. Louis saca a bola que voa diretamente para Niall, acertando-o no rosto. Louis dobra-se de rir enquanto o rosto do amigo vai ficando cada vez mais vermelho no lado em que a bola de vôlei bateu.
- Seu idiota! – Niall resmunga com uma mão na face.
- Se você prestasse atenção no JOGO talvez não tivesse levado uma bolada na cara.
- Você fez isso de propósito.
- O quê? – Louis bate com as mãos abertas na água. – Você está maluco? Claro que não.
nada para mais perto do seu companheiro de time.
– Me deixa ver o seu rosto.
Niall tira a mão e sente seu rosto esquentar. Todo o lado esquerdo está vermelho, criando um contraste com sua pele branca e cabelo loiro. morde os lábios e o olha apreensiva, com pena nos olhos castanhos. Afaga seus ombros com uma mão enquanto a outra toca levemente o vermelho, sentindo o calor da pele dele antes mesmo de encostar.
- Está doendo?
- Um pouco. Parece que meu rosto está queimando.
- Tadinho.
Harry olha os dois. Niall não é bobo, ele está se aproveitando, fazendo um alarde muito mais do que a situação pede. Tem certeza disso ao notar o olhar esperto que ele dirige a menina que está a sua frente.
- Eu vou pegar um pouco de gelo para colocar aí. – se apoia na beirada da piscina e joga seu corpo para fora da água.
A água escorre pelo seu corpo, seus pés molhados fazem barulho ao andar pelo piso gelado até encontrar a grama. Pequenas folhas da grama grudam em seus pés e as sacode para livrar-se delas ao entrar na casa. Para um minuto na sala tentando se lembrar do caminho para a cozinha. Gotas grandes de água caem no chão, formando uma pequena poça envolta dele e seu corpo gela ao sentir o vento frio passar por ele. O barulho de panelas sendo mexidas e conversas altas chama sua atenção, o guiando em direção ao o que deveria ser a cozinha. Alguns centímetros longe da porta, toda a conversa acaba e se faz um instante de silêncio antes que uma voz comece a cantar baixinho.
(Dar play nesse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=6FjV1SjVKQg)
Harry para no batente da porta e cruza os braços, olhando a cena que se estende a sua frente. A amiga de , , está de costas para ele. Ainda com seu vestido de renda branco, o cabelo preso com alguns fios saindo do penteado, ela canta com uma voz afinada e firme. Apesar de não entender as palavras, a melodia é muito bonita. A música calma pede o acompanhamento do som de um violão e logo ele se vê balançando sua cabeça no ritmo. Enquanto ela canta, seu pé direito está apoiado na panturrilha esquerda fazendo um “quatro” com as pernas. Está de frente ao fogão e o movimento ritmado do braço mostra que está mexendo na panela ao fogo. Harry sem perceber faz um barulho de agrado com a garganta e chama a atenção dela. vira seu rosto na direção dele, solta um grunido de surpresa, deixa a colher cair e um pouco do conteúdo quente da panela respinga em seu braço.
- Merda! – segura aonde o caldo tocou sua pele.
Harry atravessa a distancia que os separa e fica a sua frente.
– Me desculpe, eu não pretendia te assustar.
- Sério? E ficar parado atrás de mim, me espiando, não era para me assustar?
Abre rapidamente a torneira e a água cai forte na pia, respingando no vestido dela e no peito dele. Coloca a parte machucada em baixo da torneira e deixa ali por alguns instantes.
o olha de lado.
– Você estava me ouvindo?
- Eu... – sente suas bochechas corarem por ter sido pego espiando. – Eu não queria te atrapalhar.
Ela ri sem vontade alguma e revira os olhos.
- Me desculpe outra vez pelo seu braço.
fecha a torneira e pega um pano que está pendurado ao lado da janela. Seca delicadamente o braço e depois retira o pano para olhar sua pele. Não há nada demais ali, só alguns pontinhos de queimadura, mas nada sofrível.
- Está tudo bem. Sem danos.
- Era uma música brasileira que estava cantando, não é? Muito bonita... Quer dizer, você tem uma voz muito bonita.
Harry a sente encolher quando vira de costas para ele ao recolocar o pano no seu lugar. Quando volta a encará-lo, está com uma cara fechada e seu olhar é duro ao mirar seus olhos.
- O que você quer?
- Eu vim aqui pegar um pouco de gelo...
- Não. Eu perguntei o que você quer. – enfatiza bem as últimas palavras, pontuando cada uma. – Eu sei muito bem o que vocês estrangeiros pensam das brasileiras, e posso te dizer agora que não é nada disso. Então, se você está alimentando alguma esperança que vai se dar bem por aqui está enganado.
- Eu não... Eu nunca pensei...
- Só estou te avisando. E avise isso para seus amiguinhos também. – vai até a geladeira, abre o freezer na parte de cima e retira a capinha de gelo. – Para quê mesmo você quer o gelo?
- Para o Niall, ele levou uma bolada na cara. – Harry a olha quase sem reação alguma, atropelando-se ao falar e gaguejando.
Retira alguns cubos de gelo, pega o pano que usou para secar seu braço e faz uma trouxa com o gelo. Empurra a trouxa no peito dele e vira-se de novo para o fogão, retomando a sua tarefa.
- Ele não precisa ficar muito tempo com isso, à água da piscina também vai ajudar a melhorar a vermelhidão do rosto.
- Hm... Obrigada. – olha para os lados sem saber muito bem o que fazer. Não sabe como parece ter dado a impressão errada para , mas ela ficou bem chateada e agora se sente desconfortável com esse desentendimento.
Por fim, anda de costas para a saída que dá para a varanda sem uma única vez tirar os olhos de . Antes de virar para a saída, percebe um olhar dela. Um olhar que guarda uma mistura de raiva e tristeza.
Antes de a noite chegar, os meninos já estão em seus quartos dormindo. Cada um está em um quarto da casa, que tem o mesmo estilo: uma cama de casal, um armário de madeira e uma escrivaninha, todos de madeira pintada de branco. Cada quarto tem uma janela grande que dá para o quintal lateral ou do fundo, com cortinas de renda que balançam por causa do vento que entra pela janela aberta. Harry está jogado na cama, de barriga para baixo. Depois de tomar um banho rápido, colocou uma calça folgada verde-musgo e caiu na cama. Os colchões macios deram o conforto necessário para fazer seu corpo relaxar, sua mente vagando entre o sono e a realidade.
Seus cachos molhados respingam gotas em seu nariz, mas o cansaço é maior que o desconforto. Junte a sensação de jet leg, metade do dia passado dentro de um avião e outro passado embaixo de um sol forte e piscina, e aí terá chegado ao estado que Harry está agora. Pega um travesseiro para abraçar e respira fundo, a dormência tomando conta do seu corpo.
Alguém bate na porta do seu quarto. Apesar de ter feito um som de reconhecimento, não sabe bem se é conscientemente ou não.
- Harry? – uma voz feminina o chama ao abrir a porta. Ouve passos atrás dele. Tenta abrir os olhos, mas o esforço é inútil.
Um baque surdo vem ao seu lado esquerdo, onde fica a escrivaninha. Mais passos. A luz é apagada, aliviando o desconforto das pálpebras, e escuta o barulho da porta sendo fechada. Abre pequenas frechas pelos olhos, dando apenas para ver um copo d’água depositado na escrivaninha antes de apagar por completo.
Capítulo 03
Um canto mais alto de algum pássaro faz Harry despertar. Ele abre seus olhos de uma vez só, mas volta a fechá-los imediatamente por causa da forte luz que entra no quarto. Espera um minuto e os abre lentamente, deixando que sua retina acostume-se com a forte iluminação. Senta-se na cama e esfrega os olhos. Pegando o relógio digital na cabeceira da cama, vê que são seis horas da manhã. Volta a cair com tudo no colchão, dessa vez de bruços. Revira-se um pouco na cama, mas não consegue voltar a dormir. Resolve levantar da cama e procurar alguma coisa para fazer. Talvez pudesse andar um pouco mais pelo sítio, ver a paisagem com o sol da manhã, ou talvez simplesmente entrasse no quarto de Louis e o acordasse para não ficar sozinho. De qualquer maneira, sua primeira parada será a cozinha.
Os pés descalços arrastam-se pelo chão frio de madeira. A cozinha também está muito bem iluminada e antes de entrar, prepara-se para enfrentar a forte luz branca que toma conta de todo o ambiente. Dá somente um pequeno passo para dentro da cozinha. Coloca uma mão sobre os olhos, fazendo uma sombra para eles. E só no momento em que sua visão relaxa que nota uma figura parada em frente ao fogão, de costas para ele, exatamente como no dia anterior.
está com um pão espetado em um garfo que está sobre o fogo aceso. Na mesa atrás dela, uma jarra de suco, presunto e ovos mexidos estão esperando sua atenção. Ela desliga o fogo e vira-se para mesa, percebe sua presença e assusta-se novamente com ele.
- Droga! – coloca a mão livre em cima no peito. – Você tem que parar de entrar de fininho assim.
- Desculpe. – entra mais na cozinha, puxa uma cadeira e se senta. – Não foi a minha intenção. De novo.
para um minuto, sem graça com o seu tom de voz duro e sem emoção. Harry a olha de lado. Ela está vestindo o que provavelmente é o seu uniforme escolar. Saia de pregas azul marinho, camisa branca com o símbolo da escola, meias ¾ brancas e sapatilhas pretas. Os longos cabelos castanhos estão puxados em um rabo de cavalo alto.
- Falando nisso... – ela senta na cadeira ao seu lado da mesa. Parece pensar nas suas palavras e as troca no último minuto. – Você quer comer alguma coisa? Minha mãe vai acordar daqui a pouco para preparar o café da manhã completo para vocês, mas se estiver com fome agora eu posso...
- Não é necessário, mas obrigada.
O silêncio toma conta do ambiente e só é quebrado quando reparte o pão com a faca. Ela tem os olhos baixos, não o olhando nem mesmo quando ele vira-se para encará-la. Por mais que estivesse receoso em iniciar uma conversa com ela, com medo dela reagir como ontem, Harry não aguenta o silêncio sufocante.
- Sua mãe trabalha aqui? Eu já a conheci?
Os grandes olhos castanhos disparam para seu rosto.
– Talvez. Ela é uma das cozinheiras. O nome dela é Helena.
Harry tenta forçar a memória, tentando se lembrar de alguma mulher com aquele nome. Lembra-se das cozinheiras que foram apresentadas a ele, mas não ligou nenhuma das duas com a mãe de .
- Como ela é?
- Hm... Ela não é muito alta, magra, o cabelo é loiro escuro... – o olhar dela suaviza-se ao falar da mãe. – Tem os olhos castanhos e é muito gentil, mas um pouco tímida.
- Acho que sei quem é. Ela que perguntou o que nós iríamos querer de almoço.
- É bem o estilo dela isso, fazer vocês se sentirem em casa. – move-se desconfortável na cadeira e o olha por debaixo dos cílios. – Diferente da filha dela. Harry, eu... Desculpe-me por ontem.
- Tudo bem. Eu só não entendi muito bem o porquê daquilo tudo. Juro que não falei por mal quando...
- Eu sei, eu sei. – ela rapidamente segura na sua mão repousada em cima da mesa. – Você não fez nada, eu é que exagerei. Perdoe-me.
- Não precisa pedir desculpas.
- Preciso sim. Eu fui injusta com você, sem ao menos te conhecer.
- Bem, talvez agora você possa me conhecer e ter a chance de julgar certo.
o encara longamente antes de lhe sorrir, o sorriso ocupando boa parte do rosto.
- Claro, eu adoraria.
Ela volta sua atenção para o seu café da manhã e eles ficam sem falar nada, mas o ambiente não fica carregado como antes. O sol levanta-se mais no horizonte, os pássaros cantam cada vez mais alto e o brilho da manhã parece refletir em cada canto daquele lugar. É uma paisagem de tirar o fôlego.
- Em que ano você está na escola? – pergunta-lhe sem desviar a atenção do cenário lindo do lado de fora.
- Terceiro ano, o último ano. – ela termina de comer seu pão e em um gole também termina o suco. – Termino daqui a oito meses.
- Oito meses? Parece bastante tempo.
- Não quando comparado a uma vida inteira de estudos. – levanta-se e pega a mochila que está pendurada na cadeira. – Vou indo. O quê vai fazer pelo resto do dia?
- Não sei. Talvez andar um pouco até alguém acordar, ou voltar para cama. – dá os ombros.
- Por que você não vai até a extrema esquerda do quintal da frente? Eu acho que você vai achar alguma coisa legal por lá.
- O que tem lá? – Harry a segue com os olhos enquanto ela vai até a saída, parando para olhá-lo por cima do ombro.
- Acho que você vai ter que descobrir por si mesmo.
Harry está parado com as mãos na cintura, de frente para o pequeno estábulo que fica na direção que tinha lhe falado. Ao entrar no estábulo, o cheiro de feno toma conta do seu olfato, tornando-se mais fácil respirar somente pela boca. Para na primeira baia com um cavalo. O animal é marrom, com uma listra branca na cabeça, seus pelos brilhantes a luz do sol. Ele bufa quando Harry chega mais perto, e no momento em que levanta sua mão para afagar a cabeça do animal, alguém fala a suas costas. Harry vira-se rapidamente em direção à voz. Um homem de pele escura, olhos castanhos e cabelos grisalhos está segurando um saco com grãos enquanto repousa o ombro no portão de madeira. Ele sorri para Harry enquanto caminha em sua direção, colocando o saco no chão.
- Desculpe?
- Ah, ok. – o homem responde agora em um inglês carregado. – Você é um dos novos hóspedes. Eu sou José, cuidador do estábulo.
- Eu sou Harry.
José chega à frente do cavalo e dá batidinhas em seu torso.
– Está a fim de montar Barroso? Ele é um cavalo tranquilo. Você já montou alguma vez?
- Uma vez. Não foi uma das melhores experiências.
José ri.
- E estaria disposto a tentar novamente?
Harry dá os ombros e encara o animal.
– Eu posso tentar.
- Ótimo. – José olha para um ponto atrás de Harry e grita em português. – Jéssica, vem ajudar o pai a preparar o Barroso.
Uma menininha de pele morena, cabelos encaracolados, que não pode ter mais de cinco anos, atravessa o portal e corre em direção a eles. Chega perto do seu pai e abraça sua perna, olhando Harry com grandes olhos castanhos.
- Harry, essa é a minha menina Jéssica.
- Oi, Jéssica. – abaixa-se para ficar na altura da menina.
Ela olha para o pai e o mesmo lhe sorri de volta.
– Ele está dizendo oi, Jéssica. Como é que se diz?
- Oi. – Jéssica fala baixinho.
- Jéssica já aprendeu a falar algumas coisas nessa língua estranha de vocês. São tantas pessoas que passam por aqui e todas se afeiçoam a ela, ensinando-a uma coisa ou outra.
- Todo mundo por aqui fala inglês? – levanta-se.
- Não todo mundo, só quem tem contato direto com os hospedes. Mas aqui é uma região que os turistas visitam muito, principalmente americanos. E esse sítio é especializado em atender turistas, então, alguém sempre fala uma segunda língua. – José segura a mão da filha, retirando-a da boca dela. – Além do mais, os patrões estão pedindo para que os empregados aprendam pelo menos o básico. Por isso, perdoe o meu inglês fraco.
- Não, eu consigo te entender perfeitamente.
- Obrigada. Então, pronto para Barroso? Jéssica, pega para o papai a sela de montaria.
Jéssica corre para atender ao pedido do pai. Seus cachinhos, que mais parecem pequenas molinhas, balançam a qualquer movimento dela. Vai até o segundo cabide da parede e derruba a sela no chão, arrastando-a no caminho de volta. Harry apressa-se para pegar o objeto pesado das pequeninas mãos.
- Deixa eu te ajudar com isso.
Harry pega a sela e a passa pelos ombros, carregando-a sob a direção do olhar divertido de Jéssica. José pega a sela e termina de arrumar Barroso para a montaria junto.
- Agora Harry, dê impulso pelos estribos e suba. – Harry faz como José pede. – Ombros direitos e olhe para frente. Não se preocupe, no começo vou andar junto com você.
José pede para que Harry aperte só um pouco a barriga do cavalo enquanto ele puxa as rédeas para frente. Saindo do estábulo, eles mantêm um passo lento até que Barroso acostume-se com o ritmo da caminhada. Quando Harry consegue confiança o bastante, ele segura as rédeas e assume a montaria.
A primeira experiência de Harry com um cavalo talvez tivesse sido bem sucedida se não fosse por Liam ter assustado seu cavalo, fazendo com que ele inclinasse e o derrubasse. Agora, ao montar de novo, sente um frio na barriga que é logo afastado à medida que assume o controle do cavalo. Dá a volta na pequena árvore que José lhe indicou e retorna para o seu lado.
- O que achou, criança?
- Foi ótimo. Eu ainda lembrava algumas coisas da última vez que eu montei, então foi mais fácil dessa vez.
- Ok. – José monta em seu próprio cavalo e para do seu lado. – Vamos, tem uma trilha muito bonita para fazer por aqui a cavalo.
Os dois cavalgam pela grama até chegarem a um caminho de terra cercado por árvores altas. José não é muito de conversar, talvez seja pela barreira da língua, mas isso não atrapalha Harry. Em vez de conversar, fica observando o cenário a sua volta. O calor que faz por aqui é mais brando nesse lugar, e uma brisa fresca constantemente toca seu cabelo, fazendo as folhas se agitarem nas copas das árvores. Os diversos tipos de pássaros tocam suas canções, quase como se fizessem parte de uma orquestra e não algo natural e inusitado. O seu companheiro de viagem começa a assoviar uma canção que tem um ritmo bem alegre e animado. Caminham mais um pouco, sobem uma pequena inclinação e param em uma planície que dá para uma vista surpreendente do sítio em sua totalidade.
- Aqui é uma das primeiras paradas ao longo da trilha, nem tão bonita quanto à do ponto mais alto, mas já dá para você ter uma ideia da vista.
- Há quantos lugares assim na trilha?
- Mais dois. No último dá para ver enxergar a cidade, é uma coisa muito bonita de se ver, principalmente à noite.
- E é seguro subir à noite?
- Normalmente, quando alguém quer fazer a trilha até o último ponto não se faz a cavalo e sim a pé já que o caminho é complicado demais para ir a cavalo. – José segura as rédeas mais firmes. – E a caminhada leva metade do dia, tendo que acampar por lá.
- Acampar? Muito hóspedes já fizerem isso?
- Não, não. Mas meus outros dois filhos, a e eu já acampamos muito por lá.
Não sabe o porquê o nome dela lhe chamou a atenção, mas logo sua atenção desvia-se da paisagem para José ao ouvir o nome de .
- ? A menina da casa?
- Sim, sim. Você já a conheceu, não é? Ela não é bonita?
Harry sente seu rosto esquentar e o abaixa, tentando esconder sua vergonha.
- Hã... Eu-Eu não reparei... Quer dizer, eu não... Er... Ela parece ser uma garota legal. – Sente vontade de se socar. Que coisa mais ridícula para falar, afinal qual é o problema de dizer que a garota é bonita? É a verdade.
José ri ruidosamente.
– Ela é legal sim. Bonita, gentil, uma garota de ouro.
- Hm... – balança com a cabeça concordando, ainda muito sem graça para responder mais eloquentemente.
- E pensar o que ela já teve que aguentar na vida, apesar de muito nova.
Dito isso, ele vira-se para voltar para trilha e manda Harry o seguir. O caminho de volta é o mesmo que o da ida, tranquilo e sem muita conversa, mas em vez de aproveitar novamente a paisagem Harry vê-se pego em pensamentos. São muito estranhas as palavras que José lhe disse sobre . Ela parece uma menina tão normal, talvez um pouco bipolar, mas fora isso o que levaria alguém a pensar que ela tinha sofrido na vida? Não tem coragem de perguntar, óbvio, mas a curiosidade não o deixa em paz.
Não sabe que a trilha tinha demorado tanto, quando saíram da cobertura das árvores viram que o sol está muito mais alto do que pensaram, podendo estar perto do meio dia já. Enquanto chegam perto do estábulo, uma figura torna forma e Harry nota que está em pé fora do estábulo, com Jéssica em seu colo enquanto com a outra mão segura alguns papéis. Ela lhe sorri ao vê-lo desmontar e se aproximar.
- E aí, cowboy? Como foi?
- Nasci para isso. – dá os ombros, gabando-se de brincadeira.
- Talvez devesse pensar nisso como uma verdadeira profissão.
- Se a música não der certo.
- Algo me diz que já deu certo até demais. – sussurra.
- O que disse?
- Nada. – ela lhe sorri e ajeita a menina em seu colo. – Jéssica estava me dizendo que conheceu o menino dos olhos verdes hoje.
- Ah é?
- É. – a olha. – Ela também estava dizendo o quanto bonito ele era.
Jéssica esconde seu rostinho com as mãos, embaraça por ser objeto de atenções, e eles riem com o gesto dela. Ela vê seu pai saltando do cavalo e corre atrás dele, saindo tão desengonçadamente do colo de que faz todos os papéis dela espalharem-se pelo chão. senta de joelhos rapidamente e tenta recolher seus papéis o mais rápido possível. Quando Harry faz um movimento para tentar ajuda-la, ela arregala seus olhos e quase grita um “não”, respira fundo e fala nervosamente um “não precisa, já cuidei disso”. Harry ia deixar para lá e ajudá-la mesmo assim, mas uma coisa salta aos seus olhos. Seu nome está impresso em uma das folhas e ao olhar as outras que ainda estão espalhadas pela grama, vê seu nome nelas também. Pega uma aos protestos de , que tenta arrancá-la da sua mão, mas Harry é mais rápido e lê o que está escrito. “Harry Styles, integrante da boyband One Direction, é visto saindo da festa da sua querida amiga...”. É uma notícia sobre ele. Harry olha para que está com uma cara bastante irritada no rosto.
- O quê é isso? – levanta o papel entre seus dedos.
Ela pega rapidamente o papel da sua mão.
– Já te disseram que é falta de educação ficar bisbilhotando as coisas dos outros?
Harry solta um riso sem vontade alguma.
– Não quando tem meu nome no meio. – ele pega os restos dos papéis que estão nos braços dela e lê as outras notícias sobre ele.
“Harry Styles é flagrado saindo com uma garota misteriosa”, “Harry Styles é visto aos beijos com garota em boate”, “Harry Styles saí da casa de uma “amiga” de manhã cedo com a mesma roupa do dia anterior” e o que acredita ser a mais recente: “Harry Styles está namorando uma atriz de filmes adultos?”. Tudo são notícias de tabloides de fofoca e ele fica enjoado ao ver sua vida tão exposta assim, sendo que aquelas histórias estão cheias de meias verdades e algumas são completas mentiras inventadas pelos jornalistas. O que não entra na sua cabeça é o porquê está com essas coisas em mão.
- O que é isso tudo?
- Harry. – está com o rosto rubro de raiva, mas seus olhos demonstram vergonha.
- Por que está com todas essas histórias sobre mim?
- Me devolva. – estende a mão para ele.
- Me responda.
Ela bufa em descontento.
– Eu... Eu só... – Fecha os olhos e solta tudo de uma vez: - Eu só queria saber mais sobre você.
- O quê?
- Eu queria saber sobre você e...
- Não, isso eu entendi. Agora, o que eu não entendo é o porquê de você precisar acessar sites de fofocas para saber alguma coisa de mim.
Ele não disse isso com raiva, está apenas confuso com o que ela queria com aquilo.
- Estava curiosa em saber algumas coisas sobre você, então como você é uma pessoa famosa pensei que poderia jogar seu nome na internet e matar a minha curiosidade. – parece mortificada com essa admissão. Não consegue olhar para ele diretamente, seus olhos vagando por tudo menos pelo seu rosto.
Harry ri ao vê-la usar a palavra “famoso”. Respira e diz calmamente:
– Só por que tem várias notícias sobre mim espalhadas por aí, isso não quer dizer que ao lê-las possa tirar conclusões sobre mim.
Finalmente seus olhos encontram com de . Um início de sorriso surge nos lábios dela e está receosa ao perguntar:
- Tudo bem, Harry Styles. Então, quem é você?
Harry chega mais perto dela, coloca os papéis em suas mãos e mantem seu olhar firme com o dela.
- Acho que você vai ter que descobrir por si mesma.
E sai.
Capítulo 04
A tarde do dia seguinte estava menos quente do que dos dias anteriores, podendo-se até sentar ao ar livre e ficar apenas relaxando com a brisa que vinha aleatória. E é exatamente isso que Harry estava fazendo. Deitado em uma rede posta na varanda de trás da casa, encostado às suas pernas dobradas há um caderno e na mão um lápis que dá voltas em seus dedos. A folha a sua frente está cheia de desenhos sem significado algum e palavras rabiscadas diversas vezes. Está tentando escrever alguma coisa decente. Pensou que estar em um lugar desses fosse ajudá-lo a se inspirar, relaxando até que sua mente estivesse livre de preocupações e a criatividade aflorasse. Mas nada ocorre, sua cabeça está vazia de ideias e tudo o que consegue pensar é em todas as coisas que poderia estar fazendo que não isso.
Desiste de escrever alguma coisa produtiva e fecha o caderno com o lápis dentro, coloca-os no chão e deita com as mãos cruzadas atrás da cabeça. Isso sim é melhor. Não exige muito dele, mas não impede que sua mente vague por outras coisas que não gostaria de pensar agora. Ele está há alguns dias sem dar nenhuma notícia, até mesmo antes dessa viagem, e isso sempre causa um grande furor por parte da mídia para descobrir onde eles estão o que estão fazendo e, o mais importante, com quem estão. Tudo isso é um grande circo, em que você apenas tem que mantê-los entretidos ao mesmo tempo em que fica de olho para eles não o abocanharem pelas costas. A mídia é um jogo, em que você escolhe se quer ser um jogador ou o brinquedo deles, e desde o começo Harry escolheu não ser mais um brinquedo para eles. Ele ia jogar sim, mas não deixaria ser controlado por isso.
- Harry? Você está acordado?
Harry abre os olhos e vira seu rosto.
– Sim. Oi, . E aí?
Desde o acontecimento de ontem, não tinha lhe falado até agora. Primeiro pensou que pudesse ser constrangimento, mas ao vê-la agora, apesar de seu olhar um pouco envergonhado, sua postura não demonstra constrangimento algum. Aliás, comporta-se como se não tivesse nenhum arrependimento no mundo.
- Hm... Eu sei que você ainda deve estar chateado comigo por causa...
- Eu não estou chateado com você.
- Não? – arregala seus olhos em surpresa.
- Não.
- Ora. – ela solta um suspiro e bota as mãos na cintura. – Eu pensei que você estava com raiva, se eu soubesse eu não teria bolado todo um pedido de desculpas.
Harry levanta suas sobrancelhas.
– Você bolou um pedido de desculpas?
Agora parecia envergonhada. Seu olhar parou em algum ponto do chão e ela torce suas mãos nervosamente em frente do corpo.
– É... Eu não queria deixar as coisas desconfortáveis entre a gente, ainda mais sendo por uma bobagem minha. Então eu pensei se você não aceitaria um piquenique como um pedido de desculpas.
Nessa última parte, as bochechas dela adquiriram um tom marcante de vermelho. Harry acha graça daquela timidez repentina e lhe sorri amigável.
– Claro. Eu devo ajudar a preparar as coisas ou isso está incluso no pedido de desculpas?
revira os olhos em brincadeira e acompanha seu sorriso.
– Está tudo incluso, Styles. Tudo o que tem que fazer é aproveitar o meu raro momento de consciência pesada.
No fim, acabou que tudo conspirou a favor deles. Niall e Louis saíram com para passar o resto da tarde conhecendo a cidade, enquanto Harry teve que alegar um mal estar para poder ficar. Não acha que conseguiu enganar nenhum deles, mas pelo menos eles não demonstraram nada além de preocupação. Alguns minutos depois da partida deles, Harry e carregavam as coisas do piquenique para um lugar um pouco afastado da casa.
O lugar escolhido é debaixo das árvores enormes do espaço de trás, perto daquela que caiu quando ele chegou aqui. Estendem uma toalha azul e branca na grama e começa a colocar as coisas em cima dela. Primeiro vem alguns pães pequenos e torradas, condimentos para acompanhar os pães, uma tigela com frutas, suco e por último uma vasilha com pedaços de bolo de chocolate. Antes que pudesse terminar de arrumar tudo, Harry já se joga no chão de barriga para cima e fica observando os raios de sol que ultrapassam a espessa folhagem da árvore. Ele apoia-se nos cotovelos quando senta-se sobre os joelhos, analisando tudo que organizou para ver se não falta nada.
- Parece estar tudo ótimo. – Harry diz enquanto pega um morango e o morde.
- Bom, não posso levar credito pela maioria das coisas, mas... O bolo de chocolate foi de minha autoria.
Ainda mastigando os restos do morango, Harry lança-se por cima de para pegar um pedaço do bolo da vasilha e coloca metade na boca. Sem terminar de comer tudo, fala de boca cheia.
– E está uma delicia!
ri do entusiasmo dele e da maneira como ele fala.
– Obrigada.
- Então, me diz. Por que um piquenique como um pedido de desculpas? Eu me contentaria com você de joelhos implorando o meu perdão.
- Vai sonhando, Styles. – joga uma uva solta que vai em direção a ponta do nariz dele. – Eu escolhi fazer isso porque, vamos falar sério, as pessoas estão mais dispostas a perdoar quando tem comida envolvida no meio.
Harry dá uma gargalhada e responde irônico:
– Aí está uma lógica com que não se pode discutir.
o encara com um olhar perdido e lhe confidencia:
- Quando eu brigava com o meu pai, ele sempre fazia as pazes me trazendo um pedaço da minha sobremesa favorita. A gente faria as pazes de qualquer maneira, mas a comida tornava tudo mais rápido.
mantêm um sorriso no rosto, mas antes que pudesse desviar seu olhar, Harry percebe um toque de tristeza neles. E mesmo sem saber, mesmo que ela não tivesse lhe dito nada, Harry sabe que o pai dela tinha morrido. Há certas coisas na vida que, não importa quanto tempo passe, elas ainda continuarão marcadas profundamente na alma. E os olhos são as janelas mais lindas da alma, onde ao espiar por eles você pode encontrar o mais belo ou triste sentimento. E é isso que vê agora nos olhos de . Uma tristeza que não consegue ser contida dentro de si, que grita como uma sirene dentro dela, mas que consegue mantê-la abafada a não ser quando transborda pelas aquelas lindas janelas de cor castanha.
Sem que percebesse, está contando uma coisa que poucas, senão nenhuma pessoa sabe sobre ele:
- Toda vez que eu ficava triste quando criança, minha mãe sempre me trazia no final do dia uma caneca com chá quente e os biscoitos mais gostosos que você possa imaginar. – Harry sorri ternamente com a lembrança. – E toda vez que eu me sinto mal, eu me pego preparando o mesmo chá quente e comendo biscoitos.
- Isso é muito fofo.
- O engraçado é que, apesar de eu fazer a mesma coisa, nunca é igual. Não é aquela mesma sensação que eu sentia quando mais novo.
- Acho que nunca é. – dá os ombros. – Quando uma coisa significa muito para você, nada pode substituí-la.
- Talvez não substituí-la, mas sempre se pode encontrar algo que signifique tanto quanto.
então lhe dá um sorriso, volta a sufocar toda a tristeza para dentro de si de modo que seus olhos apenas refletem uma minúscula porção de tudo o que sente. Pega um pedaço de pão morno e começa a beliscá-lo.
- Conversa tão seria para essa hora do dia.
- Desculpe se sou um artista sensível. – brinca.
- Que estranho. Em nenhuma das notícias que eu li, nenhuma menciona o quão sensível você é.
- Para você ver como não deve acreditar em toda besteira que lê.
finge retirar um fiapo invisível da roupa enquanto pergunta:
- E alguma daquelas coisas é verdade?
Harry respira pesadamente.
– Depende. Se eu saio com garotas? Claro que sim. São todas minhas namoradas, como os jornais dizem ser? Não. Eu tenho muitas amigas, nem por todas eu mantenho algum interesse romântico.
- Pelo visto, você não pode ter nenhum segredo.
- Todos têm segredos. – seu olhar é firme a fitá-la.
limpa a garganta antes de continuar:
- E quais são os seus segredos?
- Meus segredos?
- É. Diga-me uma coisa que ninguém saiba sobre você.
- Mas eu acabei de dizer... Sua vez.
Ela pensa por um minuto. Seus dedos alisam seu queixo em um gesto pensativo antes de respondê-lo.
- Eu tenho o costume de ensaiar conversas na minha cabeça, assim quando elas acontecerem eu terei respostas satisfatórias. O problema é que quando chega a hora, eu nunca respondo do modo em que tinha pensado.
Harry tosse para disfarçar uma risada.
– E você já pensou em uma conversa como essa? - balança a cabeça em afirmação. – E essa foi a resposta que queria dar?
- Não.
- Não? Então qual é?
- Nada disso. – aponta para o peito dele. – Sua vez.
- Eu tenho medo de aranhas.
Ela enruga a testa em confusão.
– Como?
- Tenho medo de aranhas. – repete. – Desde as pequenininhas, que me dão nervoso, até as maiores. Morro de medo, nem gosto de falar sobre isso.
Harry finge um calafrio e ri do gesto dele.
– Quem diria. Harry Styles tem medo de aranhas.
- Pare de enrolar. Você de novo.
pega algumas uvas do cacho e as come uma por uma até ter outra ideia.
– Isso vai parecer meio idiota, mas eu converso com os animais daqui. Às vezes vou até o estábulo e fico batendo um papo com os cavalos. Fico sozinha a maior parte do tempo, então eles são o meu escape para falar.
- Isso parece mais triste do que engraçado.
- Talvez minha vida seja mais triste do que engraçada. – ela diz isso com um sorriso no rosto, mas suas palavras não concordam com sua expressão.
Harry pensa em contar mais alguma coisa boba para aliviar o clima, mas ela está sendo tão sincera que é injusto ele não fazer o mesmo.
– Eu sempre rezo antes de dormir. Pode parecer bobeira já que eu não sei bem para quem eu rezo, mas eu acho bom agradecer por tudo o que está acontecendo comigo.
lhe sorri carinhosamente e fala calmamente:
- Você não é o vilão que todos pensam que é.
- Isso é para ser um segredo?
- Na verdade não. Está mais para um lembrete. E não digo isso por você ser uma pessoa... – ela nota que Harry fecha a cara ao ver que mencionaria a palavra “famosa” e toma outro rumo. – Que está constantemente em frente aos olhos do público. Todos nós precisamos de alguma positividade em nossa vida.
Antes de lhe falar outro segredo, Harry pensa carinhosamente: “Talvez você devesse começar a seguir seus próprios conselhos, .”
Enrolam tudo o que sobrou do piquenique junto com a toalha e continuam conversando enquanto caminham de volta para casa. Estão quase passando pela porta dos fundos quando o barulho de rodas os chama a atenção. Largam a toalha com as coisas na cozinha e se dirigem para a porta da frente. Uma caminhonete preta está parada perto das escadas e duas mulheres saem do carro para pegar as sacolas que estão no porta-malas. anda até elas e Harry a segue.
- Oi, mãe. Não sa que tinham ido fazer compras. Por que não me chamou? Teria ido com você.
- Não se preocupe, querida. Marina me fez companhia e você estava ocupada.
Harry vê as bochechas de corarem enquanto Marina, a mulher que os recebeu quando chegaram, olha os dois em sinal de confusão. Harry esfrega suas mãos em sinal de embaraço e se adianta para pegar as compras.
- Ah não, Harry. Não precisa incomodar-se com isso. – a mãe de lhe fala, sorrindo amavelmente.
- Está tudo bem, senhora. Só me diga onde botar essas sacolas.
- Pode botar na cozinha, por favor. E meu nome é Helena, não senhora. Não sou tão velha quanto pareço. – Helena sorri uma última vez antes de entrar com algumas sacolas.
A mãe de , Helena, não faz lembrar muito a filha. Seus cabelos médios, que batem nos ombros, são de um loiro cinza. Os olhos são castanhos, mas não tem o mesmo brilho que os de . Talvez a coisa mais parecida entre as duas seja o sorriso, amplo, com os lábios cheios e bem desenhados. Mas uma coisa que destoa claramente entre elas é o semblante. , apesar de toda dor que parece possuir, não deixa que ninguém a perceba, seja através de um sorriso ou da sua atitude afastada. Sua mãe, apesar das palavras gentis, carrega em sua expressão um aspecto cansado e abatido que não tem nada a ver com a idade. Todo seu sofrimento está exposto para qualquer observador mais atento.
Harry termina de carregar as compras e senta do lado de na cozinha. Bate seu ombro com o dela.
- O que está fazendo?
- Descascando batatas.
- Por quê?
- Para o jantar. Se não se lembra, vocês comem iguais a uns animais.
- Você quer ajuda?
levanta suas sobrancelhas.
- Sério?
- Sério.
sorri brincalhona, empurra a vasilha com as batatas para ele e lhe entrega uma faca.
Quando e os outros meninos chegam, encontram Harry fazendo alguma outra tarefa culinária. Louis é o primeiro a disparar gracinhas, mas logo é silenciado por que deposita em sua frente um prato com tomates para serem picados. Niall se vira muito bem com as cebolas, mas Louis demora mais que todos para terminar sua tarefa. No entanto, no momento que a refeição é servida, é ele que está mais se vangloriando, fazendo todos rirem e mandarem-no fazer o próximo jantar sozinho.
Capítulo 05
- Você está muito devagar, Harry. – reclama à sua frente.
Harry lhe lança um olhar irritado antes de apoiar as mãos nos joelhos. Respira fundo algumas vezes para recuperar o fôlego. Ouve a risadinha de e a vê se aproximando. Não pode ficar irritado com ela, afinal foi ele mesmo que teve essa ideia. A proposta foi a seguinte: tirar o resto da tarde de sexta para fazer uma caminhada pela trilha que ele e José tinham feito antes. Os voluntários para a caminhada foram: Louis, Niall, José e sua filha, Jéssica, e ele. Vestiram roupas mais confortáveis e partiram. No começo, conseguiram todos manter o mesmo passo, mas no final da primeira etapa Harry já estava respirando com dificuldade. Ao chegarem à primeira clareira, e destino do programa, todo o cansaço foi esquecido por um momento. O céu abria-se em tons rosados e violetas, com o sol em um alaranjado intenso que escondia metade do seu corpo no horizonte. Alguns minutos depois, resolvem voltar antes que ficasse muito escuro. Louis e Niall partiram na frente com José, somente permaneceu ao seu lado enquanto segurava a mão de Jéssica.
- Deveria ter vergonha, sabe? Jéssica está melhor que você.
- Ok, então me deixe aqui para morrer. – cai dramaticamente no chão, sua palma virada em direção a testa. – Talvez os lobos me encontrem.
- Lobos? – ri. Jéssica a acompanha, batendo suas pequeninas mãos ao vê-lo deitado no chão. – Não temos lobos por aqui. Talvez as aranhas o achem.
- O quê? – levanta em um salto e sacode com as mãos suas roupas.
- Você caia na pilha muito fácil, Styles.
vira-se para voltar a andar. Jéssica para a sua frente, os braços cruzados e formando um bico com os lábios. Harry tinha acabado com a sua diversão rápido demais ao levantar do chão. Ele lhe sorri, dá os ombros e a pega no colo, fazendo-a trazer seu sorriso de volta ao rosto. Aperta o passo para chegar ao lado de . Enquanto caminham a observa pelo canto do olho. Ela mantém um sorrisinho nos lábios, que estão comprimidos para não revelarem toda a amplitude deles. Suas bochechas estão coradas por causa do esforço físico e seus olhos estão brilhando ao olhar para frente.
Desde o piquenique, passaram-se dois dias e nesse tempo eles acabaram por conhecerem-se melhor. É incrível como em um “clique” você consegue se sentir confortável com uma pessoa, como se a conhecesse há anos. Em questão de pouco tempo, já podem dizer que conhecem bastante um ao outro para dois estranhos. E por passar a conhecê-la melhor, Harry percebe que esconde-se de trás de um muro que ela própria construiu, sendo difícil fazer com que ela fale mais de si. Alguma coisa parece fazê-la se sentir insegura em relação a compartilhar e sempre fica “no ar” uma sensação de que algo está faltando, como se ela tivesse se contendo e não se permitindo sentir tudo por completo.
- Como foi a escola hoje?
- Está me perguntando sobre a escola? – enruga a testa ao olhá-lo.
- Sim... – sorri sem graça. Não gosta de ficar sem conversar com , então perguntou a primeira coisa que surgiu na sua cabeça.
- Foi normal. – dá os ombros. – Nada demais.
- Hm... Você acaba esse ano, não é? O que você pretende fazer depois?
- Está aí uma pergunta que eu não sei te responder.
- Por que? Não tem nada que gostaria fazer? Nenhum sonho para o futuro?
- Eu não sonho com o futuro há muito tempo. – ela lhe dá um sorrisinho de lado, como se pedisse desculpa.
- Você não tem nenhum sonho? – Harry pergunta incrédulo, mas pensando que ela está brincando.
- Não.
- Isso é triste. – ajeita Jéssica em seu colo e depois a encara.
- Eu só não me iludo desse jeito.
- Isso não é se iludir... É sonhar.
solta um risinho com a resposta dele. – Todos os sonhos são uma ilusão, não?
- Você é bem cínica sobre a vida.
- E você é muito ingênuo.
Sem que dessem conta, estão parados no meio da trilha encarando um ao outro. Jéssica que está todo esse tempo no meio dos dois não percebe nada, apenas fica brincando com o cordão que Harry leva ao pescoço.
- Não sou ingênuo, eu apenas acredito que as coisas são possíveis.
- Ótimo, e deveria mesmo, afinal você realizou o seu sonho.
- E você pode realizar o seu.
- Já disse, eu não tenho nenhum.
- Desculpa, mas eu não consigo entender. – Harry balança a cabeça em confusão, seus cachos acompanhando o movimento.
- Que parte você não consegue entender?
- Talvez a parte de uma garota como você não desejar ter um futuro diferente.
- Uma garota como eu?
Antes que Harry pudesse lhe responder, Niall entra no campo de visão deles. O cabelo loiro está um pouco para baixo por causa do suor e suas bochechas estão vermelhas. Seu peito sobe e desce por causa da respiração pesada e seu olhar vaga entre os dois.
- Er... Desculpe interromper qualquer coisa. – Niall olha fixamente para Harry. – Mas, , tem uma pessoa querendo falar com você lá na casa.
Harry volta sua atenção para e vê uma expressão confusa em seu rosto. Ela o olha por um minuto para depois balançar a cabeça como se fosse para clarear as ideias. Passa a sua frente e caminha o restante do caminho rapidamente. Harry segue atrás em um ritmo mais lento, Niall acompanhando seus passos.
- O que eu interrompi? – Niall vai direto ao assunto.
- Nada.
- Nada? Mas vocês pareciam bem... Tensos.
- Ela só estava sendo uma cabeça dura.
Niall bate as mãos para chamar a atenção de Jéssica, que pula para o seu colo. Na primeira vez que Niall a conheceu, Jéssica ficou encantada pela cor bonita do seu cabelo e automaticamente tornou-se seu favorito entre os garotos só por causa desse detalhe. Jéssica até confidenciou para , que mais tarde contou para Harry, que quando crescesse planejava casar-se com Niall. Um plano tão bem estruturado que é incrível que tenha saído da boca de uma criança de cinco anos.
- Você gosta dela?
- O quê? – Harry espanta-se com a pergunta. De onde ele tirou isso?
- Gosta?
- Niall... – suspira pesadamente.
- Sério, eu só quero saber, porque um cara acabou de chegar e está perguntando por ela. Por isso eu vim correndo chamar vocês.
- Um cara?
- É. Sabe se ela tem namorado?
- Ela não me disse nada.
Mas ele não tinha perguntado e também não achou necessário. Afinal, eles estão compartilhando todos esses “segredos” e por que ela iria esconder que tem alguém? E importa que ela não lhe tivesse dito nada sobre isso? Antes que pudesse responder sua pergunta, apressa seus passos e está junto com quando ela entra pela porta principal.
Na hora em que pisam para dentro da sala, três pares de olhos voltam-se para eles, cada um com uma expressão diferente. Louis os olha com interesse, analisando a interação entre ele e . , que deve ter chegado agora, está olhando-os nervosamente, suas unhas sendo destruídas pelos seus dentes enquanto intercala seu olhar entre todos ali. O outro garoto, um moreno alto, com a pele bronzeada de praia, tem uma carranca no rosto e com o olhar semelhante de Louis, só que mais agressivo.
- Ian? – sorri e vai até o encontro do garoto. – Oi.
Os dois falam mais alguma coisa que Harry não consegue entender. Mesmo que entendesse português, não acha que conseguiria compreender já que sua concentração está mais naquilo que eles não dizem. Por exemplo, os braços dele ao redor dos ombros de , ou como ela se aproxima dele com intimidade ao mesmo tempo em que abre um sorriso convidativo. Nota esses pequenos detalhes até que os lábios dela encostam-se ao do garoto em um breve beijo. Ela tem um namorado. Sente o sangue subir ao rosto e pressiona os lábios com força, como para impedi-los de dizer algo. Não sabe dizer o porquê de sentir traído.
O garoto, Ian, aponta com a cabeça em direção ao quarto dela e ela balança a cabeça concordando. Antes de segui-lo, lança um olhar de desculpas para todos e demora um pouco mais ao encarar Harry.
Imediatamente depois que fecham a porta, exclama em um tom de voz baixo e indignado: - Idiota.
- Desculpe, está falando com algum de nós? – Louis pergunta.
- Não, não. Claro que não. – balança as mãos em descaso. – Estava falando dele: Ian.
- O namorado da sua amiga?
- Hã... Sim.
Niall compartilha um olhar significativo com Harry. – Você não parece estar muito certa sobre isso.
- É que... – morde os lábios, refletindo se deve falar ou não. – Ok. Venham olhar aqui na janela por um minuto.
Louis levanta rapidamente do sofá, Harry e Niall também a acompanham. Juntos, espremem-se para todos poderem ver pela janela o que está indicando.
- Estão vendo um carro cinza, estacionado um pouco abaixo do lugar que vocês voltaram da trilha? – os três balançam a cabeça concordando. – E também conseguem ver uma mulher encostada na porta? Uma morena, de braços cruzados?
Tendo que esforçar um pouco a vista, Harry consegue ver a tal mulher. – Tudo bem. O que tem ela?
- Ela é o motivo de Ian ter vindo ver a hoje.
- Ok. O que tem demais nisso? – Niall pergunta, parecendo confuso com todo o rodeio que está fazendo com a explicação.
- Acontece que ele não vem vê-la faz mais de três semanas. Nenhuma visita, telefonema... Nada.
- Mas eles não são namorados?
olha com impaciência para Niall. – Sim. Não está vendo? Essa, essa... Garota está com Ian agora. Ele veio terminar com a . - termina de dizer isso com tristeza.
- Tem certeza? – ok, Harry. Talvez não devesse parecer tão satisfeito.
- Tenho, eu mesma vi. Depois que me despedi de hoje mais cedo, fui andando até a padaria e sentados de mãos dadas nas mesinhas de fora estavam os dois, cheios de romancinho um com o outro. – mostra a língua como se fosse vomitar. – Na hora eu não pensei, simplesmente me plantei em frente aos dois e com a cara mais lavada do mundo perguntei o que estava fazendo ali, já que ele não mora por aqui. Depois de se dignar a ficar envergonhado por ser pego, ele me disse que veio falar com . Não podia deixar minha amiga sozinha, o forcei a me trazer junto.
- E você realmente acha que ele veio terminar com ela? – é uma pergunta idiota a se fazer.
- Por favor, Harry. Já viu como a outra está como um gavião ali fora, vigiando para ter certeza que ele vai terminar com ? Ela até o trouxe de carro.
Todos voltam a olhar para fora. A morena está olhando as unhas com impaciência, consultando o relógio a cada cinco minutos.
- Que idiota. – Niall consegue dizer antes mesmo que Harry tivesse a chance.
- Nem me diga. – concorda com ele.
Nesse momento, escutam a porta do quarto de se abrir e voltam o olhar para lá. Saindo de cabeça baixa, Ian fecha a porta lentamente antes de parar para olhar o pequeno grupo que está reunido a sua frente. Troca algumas palavras com , que as devolve com muito mais hostilidade do que ele. Ian balança a cabeça uma vez só, despede-se e sai o mais rápido possível dali.
respira fundo. – Será que eu devo falar com ela?
Pelo o que Harry pode perceber de , sua resposta a essa pergunta seria um redondo: não. não é do tipo que gosta de falar dos seus sentimentos, pelo menos com ele, e tem quase certeza que ela agirá como se tudo tivesse normal e nada tivesse acontecido. É assim que ela é.
- Eu não sei. – responde em fim. – Não acha que ela gostaria de ficar sozinha?
- Não sei... – responde também. – Ela provavelmente não vai querer conversar sobre isso, mas... Talvez... Ela precise de um abraço?
Olha para eles em busca de algum incentivo, mas acaba por ficar sem e entra no quarto assim mesmo.
Os três, que até agora pareciam normais, soltam o ar que nem sam que estavam prendendo.
Demorou uma hora até que saísse do quarto. Eles ainda estão na sala, Louis e Niall jogando videogame e Harry sentado ao lado deles no chão. Quando aparece, eles param o que estão fazendo e a olham em expectativa.
- Então? – Niall não aguenta o silêncio e é o primeiro a perguntar.
- Ela está bem.
- Mesmo? – é a vez de Louis.
- Sim, sim. Ela está bem... Tranquila. Não está triste ou com raiva.
- Isso é... Bom? – Niall olha para os amigos em busca de ajuda.
- É, é ótimo. – bate as mãos em conclusão e senta ao lado deles no sofá.
- Ela vai sair do quarto dela em alguma hora? – finalmente Harry manifesta-se.
- Daqui a pouco. Ela disse que só iria trocar de roupa. – dá os ombros como se não entendesse a atitude da amiga.
Mais alguns minutos se passam e distrai-se com Niall e Louis jogando. Harry está sentado no chão, com uma perna esticada enquanto a outra está dobrada para apoiar o cotovelo. Ele não está surpreso com a reação que descreveu de . Apesar de estar convivendo só alguns dias com ela, já pode perceber que não é o tipo de garota que fica se lamentando. Não será uma surpresa de fato, mas ao vê-la sair do quarto, Harry não pode deixar de ficar nada menos do que isso: surpreso.
Não é como ela estivesse vestida impecavelmente, apenas uma calça jeans normal de lavagem escura, saltos e uma blusa diferente, além de estar maquiada. O que impressiona mais é a sua postura, a energia que ela libera e faz todo o ar a sua volta se modificar. De novo, não é nada em especial, mas ao mesmo tempo é algo que a faz ficar deslumbrante.
- ? – Harry pergunta já se levantando do chão.
Os outros param de olhar para a tela da televisão e levantam-se também afetados por aquela coisa diferente que não conseguem identificar.
- Uau, amiga. Aonde vamos? – coloca as mãos na cintura e faz uma cara conspiratória.
começa a brincar com os dedos, demonstrando nervosismo. – Eu pensei no que você disse, . E você está certa. Eu passei tempo demais esperando que Ian demonstrasse o quanto eu valia para ele, que fizesse algo que realmente significasse alguma coisa. – respira fundo e os encara. – Está na hora de eu fazer algo por mim mesma.
- E o que você vestida desse jeito tem a ver com a história? – anda até ficar ao lado dela.
a olha de lado e sorri. – Bom, se estar vestida desse jeito não servir para seu irmão deixar a gente entrar na boate dele, então eu não sei o que mais vai.
Agora Harry entende o que é aquilo que a está deixando diferente. Determinação.
Capítulo 06
Música do capítulo: I’m With you – Avril Lavinge
É necessária muita persuasão, algumas garantias e inúmeras promessas feitas pelos meninos para que os deixassem sair com e . Então, eles junto com mais dois seguranças e as meninas foram em direção à primeira saída oficial deles.
A boate fica um pouco afastada da cidade, com nada próximo em um raio de 10 km. O lugar por fora é perfeito: discreto, sem muito tumulto e a impressão que se tem dele é de ser apenas um galpão grande abandonado, sem nenhuma música ou luminosidade passando para o exterior. A única indicação de que algo estaria acontecendo lá dentro são os dois seguranças troncudos que estão parados em frente da porta. Para entrar tiveram que chamar o irmão de , Carlos, para burlar a entrada de uma menor de 18 anos. Depois desse pequeno contratempo resolvido, eles se enfiam para dentro do galpão mal iluminado e abafado. Há somente algumas luzes no chão indicando o caminho até a única outra porta do recinto. Seguem as luzes até lá e a porta dá para uma descida de escadas.
Conforme vão descendo pelos degraus, passando por um corredor estreito e escuro, a música alta vem crescendo em ondas até invadir completamente seus sentidos. Chegando ao térreo, o cenário abre-se em uma mistura de cores, pessoas e música alta. O lugar não é muito grande, há apenas um bar ocupando toda uma parede e um ponto mais alto para o DJ da noite ficar, o resto está ocupado por corpos que balançam no ritmo da batida.
, que tinha pegado algumas roupas emprestadas de sua amiga, é a primeira a ficar excitada com a promessa que a noite oferece.
- Cara, olha esse lugar. Carlos fez uma ótima reforma nisso daqui. O lugar não podia ser mais perfeito.
- É. – concorda timidamente, seus olhos mostram preocupação ao rodar o lugar com eles.
- Pare com isso. – percebe a hesitação da amiga. – Hoje é para ser uma noite de diversão.
continua olhando o lugar. rola os olhos para a amiga e segura seus ombros, sacudindo-os levemente. – Pare de se preocupar. Você disse que ia se soltar hoje, lembra?
- Não me lembro de ter feito essa promessa. – olha para os meninos procurando ajuda.
- Ok, talvez não tenha feito. – levanta as mãos como se entregasse. – Mas não custa tentar, não é?
Niall já está balançando sua cabeça em concordância. – Sabe do que você precisa, ? De uma bebida.
- Exatamente o que eu acho. – bate no braço de Niall em comemoração e segura sua mão enquanto o leva em direção do bar. – Vem, vamos pegar alguma coisa.
Os cinco seguem em direção ao bar e tem que se espremer entre as pessoas ali até conseguirem chegar ao balcão. Mais alguns minutos são gastos até conseguirem algumas bebidas e logo depois, partem em busca de algum ponto em que possam ficar.
- Como cabem tantas pessoas aqui? E, além disso, de onde surgiram tanta gente? – Louis pergunta quando conseguem achar um lugar. – Quando fomos à cidade nós quase não vimos ninguém.
Harry olha em volta. Realmente, há muitas pessoas para um espaço não tão grande assim. Todos ali estão espremidos e tendo que dançar minimamente para não correrem o risco de serem pisados nos pés. Mas o melhor mesmo é estar em movimento, já que estando parados como estão eles só recebem empurrões e batidas no ombro.
esclarece: – Essa é uma das poucas boates decentes por uns bons quilômetros, há muita procura do pessoal. Meu irmão tem ficado louco com a demanda da boate.
- E vocês nunca estiveram aqui antes? – Harry pergunta.
- Já, algumas vezes. – olha para .
Niall dá um longe gole na sua garrafa de bebida. – Eu gosto daqui.
- Claro que gosta. – Louis dá um tapa na nuca de Niall de brincadeira, assustando-o quando ele estava olhando para uma garota que estava passando por eles.
Deixando os três conversarem, Harry encosta seu cotovelo em , chamando sua atenção.
- Está tudo bem?
balança sua cabeça e olha nervosamente para os lados. – Sim. Eu estou ficando meio nervosa no meio de tanta gente.
- Você quer ir lá para fora?
- Não, não. – balança a garrafa de cerveja na sua mão. – Só preciso de mais algumas dessas daqui e estarei bem.
Dito isso, ela termina sua bebida em um grande gole, e seca a boca com as costas das mãos. Harry sorri com esse ato. , ao mesmo tempo em que parece transpirar confiança vestida daquela maneira, ainda consegue se sentir pequena e acuada em meio a tantas pessoas. Ele mesmo sentia-se assim ás vezes, é menos comum agora tem que admitir, mas isso porque ele enfrenta uma multidão quase todos os dias e sabe o que fazer para se sentir mais tranquilo. Normalmente antes de algum show, por exemplo, ele e os outros botam uma música e ficam distraindo-se seja jogando, fazendo algum tipo de exercício ou qualquer outra coisa que não os fizessem ficar pensando em todas as pessoas que os estariam esperando do outro do palco.
- Você não gosta de ir a lugares cheios?
abre a boca para lhe falar, mas a fecha e pensa por um minuto. – Eu não tenho tanto problema com isso, é só que... Olha como é esse lugar: sem janelas, embaixo do solo... Sufocante demais.
- Então por que resolveu vir?
- Precisava me distrair. – faz voltinhas com o dedo indicador na boca da garrafa.
Harry pressiona os lábios para impedi-lo de falar algo. Por mais que queira, sabe que não será bem-recebido com qualquer coisa que tivesse a falar. Afinal, o que ele sabe sobre o ex-relacionamento dela? Que tipo de ajuda pode proporcionar a ela agora? Por mais que quisesse conforta-la, não sabe como irá reagir. Enquanto tem esse pequeno monologo dentro da sua cabeça, seu corpo parece ignorar completamente a lógica dos seus pensamentos e quando vê, uma de suas mãos está na cintura dela, afagando-a enquanto diz:
- Você o amava?
levanta sua cabeça para ele, seus olhos mostrando surpresa com a atitude dele ou com as suas palavras, talvez com as duas coisas. – É uma longa historia.
- É uma longa noite. – retruca, dando os ombros com indiferença.
- Ei, gente. – Louis balança sua mão na frente deles. Os dois o olham com espanto, tendo esquecido completamente que não estão sozinhos. – Eu vou pegar mais uma bebida.
- Onde estão Niall e ? – pergunta estranhando a falta dos dois.
- Eles foram dançar... Sinceramente, onde vocês estavam com a cabeça para não terem notado? - tanto Harry quanto olham para o chão em constrangimento. – Tanto faz. , você pode me ajudar a pedir as bebidas?
- Claro.
Lentamente, sai do seu enlace e fica a sua frente ao lado de Louis.
- Você vai vir, cara?
- Não, eu vou ficar por aqui. – responde a Louis.
Os dois concordam e seguem o caminho de volta para o balcão. Harry fica os observando de longe enquanto terminar de beber. Peter, um dos seguranças, desloca-se mais para perto deles enquanto James, o outro segurança intercala sua atenção entre ele, Niall e que estão em algum lugar da pista de dança. Harry volta a olhar para Louis e . Eles voltam lentamente para onde estavam, conversando e rindo um com o outro no caminho.
- O que é tão engraçado? – pergunta quando eles chegam ao seu lado.
- Niall dançando junto com . – Louis ainda está rindo pra valer do amigo.
- Pare. Ele está fazendo o seu melhor.
- Exatamente. – Louis arregala os olhos para . – Se esse é o melhor dele, eu nem quero saber qual é o pior.
- Você precisa vê-lo nos shows... – Harry sorri.
- A verdade é que somos todos péssimos dançarinos.
- Diga por você.
- Ah, ok, Fred Astaire. – Louis vira-se para Harry e com a mão que segura à garrafa mostra a pista. – Mostre-me seus passos de dança.
está rindo para ele. Seu humor parece ter melhorado bastante em relação há alguns minutos atrás, não estando mais tão nervosa e sim mais relaxada e tranquila. Os dois estão esperando alguma reação dele, mas não consegue achar nada de inteligente para dizer e prefere dar os ombros e tomar um gole de cerveja.
- Sabia que ia dar para trás. – Louis o provoca.
Antes que pudesse responder algo, mete-se entre os dois e ergue sua própria garrafa. – Vamos fazer um brinde. – espera eles levantarem suas bebidas junto com a dela e diz: - A uma ótima noite.
Todos repetem o brinde e entornam o conteúdo de suas garrafas em vários goles.
Harry está sentado em um dos bancos altos que estão dispostos pelo balcão. As luzes da boate dançam diante dos seus olhos e faz tudo dentro da sua cabeça, e estomago agitar-se. A música segue tremulando nos seus ouvidos, fazendo sua cabeça doer mais ainda. Agora que a hora é mais avançada, há poucas pessoas restantes ali, podendo-se até finalmente ver o chão do lugar. Apoia sua cabeça em sua mão e seu cotovelo no balcão enquanto espera sair do banheiro.
Depois do brinde que ele, e Louis fizerem, a noite parece ter passado em modo avançado. Juntaram-se na pista com e Niall, dançaram um pouco, ficaram batendo papo e a bebida nunca parava de chegar. E o restante das pessoas parecia estar no mesmo estado de espírito do que eles, já que depois de mais alguns copos pareciam ter feito amizades que durariam uma vida inteira, sendo que agora não consegue lembrar o nome de nenhum deles.
entra na sua linha de visão andando de modo afetado, quase tropeçando nos saltos altos. Harry adianta-se para segura-la.
- Acho que a noite terminou para você.
- Não. - a sua fala sai embolada. – Nós estamos nos divertindo tanto.
- A diversão já acabou há algumas horas atrás, quando você caiu no chão da pista de dança.
- Eu tropecei. – arregala os olhos. Sua indignação aumentada por causa do álcool.
- Claro. – Harry agarra a gola da camisa de Louis que está por perto. – Louis, vamos embora.
- Eu gostaria, mas onde está Niall?
solta uma risada exagerada por motivo nenhum.
Harry olha de lado para ela enquanto fala com Louis: - Eu preciso voltar com a . Olha o estado que ela está.
- Eu estou perfeitamente bem. – seu pé nessa hora enrola nas pernas do banco e quase cai para frente se não fosse por Louis e Harry a segurando.
- Por que vocês vão primeiro com o James? Eu e o Peter ficamos aqui procurando pelos dois.
- Tudo bem. – Harry pega pelo braço, ajudando-a a ficar de pé. – Vamos, .
- Tchau, Louis. – dá um tchauzinho para Louis, esquecendo-se da sua resistência anterior de ir embora.
Harry a leva para fora, sendo escoltado por James. O dia ainda está escuro enquanto voltam para o sítio. O caminho é longo e ambos estão cansados quando entram no carro. Antes que Harry possa impedir, joga seu corpo no vão entre os dois bancos da frente e coloca o rádio em uma estação aleatória. Ao voltar para se recostar, deita sua cabeça no ombro de Harry e respira profundamente.
- Você tem um cheiro bom.
Harry fica em silêncio por algum tempo, apenas olhando o topo da cabeça dela. Finalmente sai do choque e passa seus dedos pelo cabelo sedoso de . – Obrigada, love.
Agindo totalmente ao contrário do que espera dela, se acomoda mais no ombro dele e fecha os olhos. Uma música conhecida começa a tocar, não deixando que o silêncio constrangedor reine mais. A música serve de trilha sonora para aquele momento e Harry encosta a cabeça no vidro frio. Um sorriso se vê em seu rosto, mesmo quando ele fecha os olhos e relaxa.
(Tocar a música)
- Harry?
Ainda de olhos fechados, lhe responde com a voz rouca: – Sim?
- Eu tenho um sonho, sabe?
- Do que está falando, ?
Um minuto se passa, a música toca mais um verso antes de ela voltar a falar: - Hoje mais cedo, você me perguntou se eu não tinha um sonho. – lentamente, a compreensão do que ela está falando chega a Harry. – A verdade é que eu tenho sonhos. Acho que... Só não queria admitir que tivesse.
- E por que? Não entendo, qual é o problema?
senta-se ereta e olha para as mãos entrelaçadas em seu colo. – Você não sabe de muitas coisas sobre mim. Na verdade, não sei se alguém sabe de tudo sobre mim.
- , do que você está falando?
Harry tenta fazê-la passar pela nuvem de embriaguez que se encontra, tenta fazer com que ela se concentre e fale as coisas direito. A música estoura no refrão nesse momento e continua em silêncio. Talvez ela tenha mudado de ideia. Talvez ela não queira mais compartilhar mais nada com ele. - Não consigo entender. – fala suavemente.
- Ah, Harry. – de repente ela sai do seu torpor e explode. Sua voz sai cada vez mais firme. – Eu não quero que você pense que sou insensível, ou cínica... Mas se você entendesse... A sorte que eu tive esses anos não me permite ter sonhos. Sonhos só servem para aliviar a dor da realidade, e o pior é que o alívio não dura por muito tempo.
- ...
- Você não entende. – abaixa o rosto e o apoia nas mãos, o escondendo.
- Me faça entender.
- Por que?
- Porque a melhor coisa que eu posso fazer por você agora é te ouvir.
Ela vira seu rosto em um único, e rápido, movimento. Seus olhos encaram o dele firmemente e é tão intenso. Ali, nesse momento, Harry consegue enxergar tudo o que ela vem mantendo contido. Os pequenos relapsos que ela deixou escapar antes não são nada comparados o que Harry vê em seus olhos agora. Uma menina frágil que está exposta agora, deixando para ele tudo aquilo que não consegue suportar por si mesma. Ela grita que quer dividir sua dor, mas sua expressão é dura como se o desafia-se a entender, a compartilhar esse sentimento com ela. E ele sabe que não pode. Como poderia? Ela está tão triste e ele não sabe o que fazer ou falar. Mas sempre pode ouvi-la, e é isso que quer fazer por .
- Harry... – sussurra seu nome. Sabe que ela não tem nada para lhe falar, ele também não tem.
Muito devagar, pega suas mãos e entrelaça seus dedos com os dela. não se move, mas sua expressão cede um pouco. Vendo que ela não irá afastá-lo, puxa seu corpo ao seu encontro até ter aninhado a cabeça dela embaixo do seu queixo.
- Você me faz sentir segura. – Harry não sabe se é o alto teor de álcool no organismo dela que a faz se abrir tanto, mas não consegue conter a imensa satisfação ao ouvir aquelas palavras. – Não me lembro de qual foi à última vez que alguém me fez sentir assim.
Naquela posição, relaxa completamente e ficam assim pelo resto do caminho.
Take me by the hand
(Me pegue pela mão)
Take me somewhere new?
(Me leve para algum lugar novo?)
I don't know who you are
(Eu não sei quem você é)
But I, I'm with you
(Mas eu, estou com você)
I'm with you
(Estou com você)
A porta do carro não fecha corretamente, já que Harry tenta ao mesmo tempo fechá-la e apoiar enquanto sai do carro.
- Está se preocupando demais. Eu estou bem. – lhe sorri.
livra-se de seus cuidados, mas continua andando ao seu lado em direção a casa. Suas mãos vão se tocando em intervalos de tempo ao andarem. Parecem como duas crianças quando conseguem ficar sozinha com a sua primeira paixão: Há o medo de estar fazendo alguma coisa errada, mas acima disso, há a euforia de finalmente fazer uma coisa há tanto tempo almejada. Chegam à varanda. tem a mão na maçaneta da porta no momento em que Harry a segura pela a mão livre.
- Espere. – Harry deixa suas mãos entrelaçadas caírem entre eles. – Você não me disse seu sonho.
Talvez não devesse tocar no assunto novamente, mas tem que aproveitar quando ela se mostra tão acessível.
- Quero abrir minhas asas e voar. Voar para longe e me libertar. – ri da sua própria declaração.
- Por que você quer se libertar?
- Porque minha vida não pode ser só isso. Tem que haver mais.
Sua outra mão afaga gentilmente o rosto dela. fecha os olhos, desfrutando da sensação boa desse gesto. Harry inclina-se para beijá-la na testa, pensando se não deve beija-la um pouco mais para baixo, mas quando está perto o suficiente à porta se abre e cai com tudo no chão. Em vez de se sentir envergonhada, gargalha ruidosamente, relevando seu estado de embriaguez.
Zayn alterna o olhar para sentada no chão rindo em plenos pulmões, e Harry com a cara mais cômica que ele já viu.
- Então, o que eu perdi?
Capítulo 07
- Ai você já viu. Foi um pandemônio e tivemos que sair de lá praticamente escondidos. - Liam termina de contar sua história.
Estão conversando nos sofás da sala: Liam, Zayn, ele e . Bem, não está exatamente conversando. Ela está mais para uma participação inconsciente, já que está com a cabeça apoiada no colo de Harry enquanto está encolhida toda deitada no sofá. De vez em quando Harry perde a concentração na conversa, principalmente quando faz algum movimento ou solta algum murmuro incompreensível. Ela parece tão serena e a sensação é tão boa de vê-la assim confortável com ele. O sorriso, que está em seu rosto desde a volta deles de carro, ainda continua firme ao olha-la agora.
Liam e Zayn tinham estranhado como se encontrava. Depois do tombo que tinha sofrido, ela ficou rindo por uns bons minutos e os três a ficaram a olhando e esperando que ela voltasse ao normal. Quando o acesso de riso acabou, as apresentações foram feitas e todos sentaram na sala para botar o assunto em dia. rapidamente sentou-se ao seu lado, tirando os sapatos e colocando os pés debaixo do corpo. Ficou batendo papo com eles por um tempo, mas logo o cansaço foi a vencendo e ela disse que iria fechar os olhos por um minutinho, mas que ainda os estaria ouvindo. foi caindo e se ajeitando perto de Harry até que se encontra na posição que está agora. Os outros dois tinham sorrido ao vê-la assim com ele, mas tiveram a decência de não perguntarem nada. Ao contrário de Louis e Niall quando chegaram.
- É a nova namorada dele. - Louis tinha sussurrado para Liam, sentando-se ao lado dele.
Harry atacou uma almofada em resposta na ocasião, mas isso pareceu perturbar então apenas ficou ali escutando e estalando a língua enquanto os ouvia falar deles dois.
- Acho que sua namorada dormiu. - Zayn aponta para .
- Você deveria leva-la para cama. - Louis levanta uma sobrancelha, dando um tom malicioso a suas palavras.
Harry apenas revira os olhos para eles e pensa em um jeito de acordar gentilmente . Ela está tão tranquila, seu rosto está em uma expressão tão suave que tem pena de acorda-la. Não pensa nem duas vezes no que tem que fazer, mas sabe que os meninos irão ficar falando e soltando piadinhas até não aguentarem mais. Dá os ombros e decide fazer o que acha melhor. Move uma mão para que fique presa atrás dos joelhos dela e a outra se apoia na cintura, a coloca mais em cima do seu colo e a puxa para cima quando levanta. Agora que está com em seu colo, percebe que talvez não tenha sido a ideia mais brilhante que já teve. Se a situação já é constrangedora com ela dormindo, imagine se ela estivesse acordada. Mas ao mesmo tempo, ela fica tão pequena assim em seus braços e tão natural, que isso faz parece... Certo.
Vai andando com em seu colo em direção ao quarto dela, deixando as risadas de seus amigos para trás.
- Calem a boca. - Harry fala mais alto antes que fechar a porta.
O quarto de é quase uma cópia do seu, apenas se difere por ter duas camas e alguns objetos de decoração pessoal. Quando se vira para o quarto, a mãe de , Helena, está sentada na cadeira da escrivaninha, folheando um grande álbum de fotos. Acha estranho ela estar acordada há essa hora, afinal ela sempre acorda cedo para preparar o café da manhã deles e se retirava para o seu quarto antes do anoitecer. A verdade é que a mãe de não é de se socializar, apesar de ser gentil todas as vezes que fala com ele. Helena levanta-se rapidamente quando vê sua filha sendo carregada por ele.
- Aconteceu alguma coisa? - chega perto deles e coloca a mão sobre a testa de .
- Não, não. - ajeita em seu abraço. - Ela só está dormindo.
- Aqui. - Helena afasta as cobertas da cama. - Coloque-a aqui, por favor.
Harry coloca deitada na cama, primeiro soltando as pernas dela e depois depositando a cabeça gentilmente no travesseiro. Ela remexe-se um pouco, deitando as mãos juntas em baixo do rosto e juntando as pernas em frente ao corpo. solta um suspiro de contentamento e enruga os dedos dos pés, fazendo com que Harry sorrisse com a vulnerabilidade dela. Helena cobre a filha e estala um singelo beijo em seu rosto. Acaricia seu rosto e vai retirando a mão vagarosamente, olhando-a de modo carinho e saudoso.
- Aceita uma xícara de café, Harry? Parece que você está precisando. - ela afaga seu ombro e sai do quarto, não dando outra opção a Harry a não ser segui-la.
Antes de chegarem à cozinha, passam pela sala e nota que todos se retiraram para seu quartos. A casa está completamente silenciosa, somente o leve ruído das lâmpadas fazendo-se notar. Harry senta-se em um dos bancos altos dispostos perto dos balcões, enquanto a mãe de começa a procurar as coisas para fazer o café. Para um pouco e bota as mãos do quadril, pensando onde está alguma coisa, remexendo em algumas portas dos armários até achar. Ficam sem falar nada enquanto ela bota o café na cafeteira. O burburinho da água esquentando toma conta do ambiente e logo se segue o cheiro forte da bebida.
- Está gostando do seu tempo aqui, Harry? - ela o surpreende ao perguntar enquanto enche uma xícara para eles dois.
- Sim, sim. Está sendo ótimo.
Termina de servir o café e senta-se a sua frente. Pega a xícara com as duas mãos e beberica a bebida para prova-la. Descansa a xícara no balcão e o olha amavelmente. - Estou feliz que esteja aqui.
Harry acha estranha essas palavras. - É mesmo?
Helena concorda com a cabeça. - Está sendo bom para .
No instante que ouve o nome de , seu corpo começa a formigar e sua atenção dobra-se ao tentar descobrir aonde essa conversa vai chegar.
- Por que diz isso?
- Minha filha... , ela... Ela vem tendo um tempo difícil e a chegada de vocês a está fazendo bem. Ela está com o sorriso de antes.
- O quê você quer dizer com “tempo difícil”? - se não consegue suas resposta com , excedendo quando ela está sob os efeitos do álcool, talvez conseguisse com a mãe dela.
- Ela não lhe contou? - Helena levanta seu olhar da xícara que está bebendo e por um momento essa expressão lembra a de : os olhos desafiadores quando o olham, a sobrancelha levemente arqueada e o sorriso de canto de boca que o provoca. A expressão de Helena não tem tanto impacto quanto da sua filha, sendo mais uma lembrança vaga daquilo que é uma imagem tão nítida e marcante de na cabeça de Harry.
- Não.
- Ah, . - Helena parece censurar em sua cabeça. - Eu pensei que por vocês estarem tão juntos, ela já tivesse lhe contado.
- Me contado o quê?
Ela demora um pouco para responder, talvez pensando se devesse ou não falar. Olha mais uma vez para ele e alguma coisa em seu olhar se modifica, ficando mais concentrado e determinado.
- Como você já deve ter percebido, não é muito de compartilhar da sua vida. Mas não é só com pessoas “estranhas”, sabe? Até comigo... - Helena limpa a garganta. Sua voz estava saindo tremula. - Acho que isso começou depois que o pai dela morreu. Ela já lhe contou como ele faleceu?
Harry apenas responde negativamente com a cabeça. Está completamente absorvido pelas respostas que Helena está dando as suas perguntas, mesmo que ele mesmo não as tenha feito em voz alta.
- Jason e eu nós conhecemos em uma viagem que fiz para o exterior. Ele era americano e eu estava fazendo uma excursão para a América com duas amigas. - Helena olha para o nada com saudade, relembrando dos acontecimentos a partir da ordem em que conta. - Ele trabalhava na bilheteria da casa de show que iriamos em uma noite e foi lá que o conheci. Quando eu me dei conta, ele deixou minhas amigas e eu entrar de graça no show, e no show seguinte, e no outro e no outro. - ela ri. - Ele acabou sendo demitido depois que descobriram o que ele estava fazendo, mas não antes de me levar em um último show.
“O show era da Celine Dion, veja só. Fiquei com tanta raiva na hora, quer dizer, ela ainda nem tinha feito sucesso com aquela música do Titanic, então eu ainda não conhecia nenhuma música dela. Mas o resultado final talvez tenha sido melhor por causa dessa minha ignorância. A emoção foi melhor. Ele esperou tocar “When I Fall In Love” e sussurrou em meu ouvido que queria entregar seu coração para mim, se eu pudesse entregar o meu também. E foi o que fizemos. No final da minha viajem ele voltou comigo para o Brasil, contrariando toda a família dele e gerando uma briga que não foi resolvida até hoje. Tivemos , ou como ele gostava de chama-la, logo depois”.
Harry sente que a parte triste da história está chegando. O ar da cozinha parece ficar mais denso, antecipando o que virá.
- Ele e eram tão próximos. Sei que aparece óbvio dizer isso, afinal ele era um pai dedicado e ela uma menina carinhosa. Mas o relacionamento deles era diferente. Era algo quase espiritual, como duas almas gêmeas que se reconhecem. A conexão entre eles era forte e eu ficava feliz que eles me incluíssem nessa interação, mesmo sabendo que entre eles era outra coisa... Era mágico. - nessa altura, Helena tem os olhos nublados com lágrimas. - Então, descobrimos o câncer no pulmão. Foi tudo tão de repente. Terminou rápido demais, cedo demais. tinha apenas 13 anos e eu não estava pronta, acho que nunca estaria pronta. Ele faleceu um ano depois e tudo se transformou em completo caus.
“Por razões que não cabem aqui, nos mudamos para cá e mudou completamente o seu jeito de ser. Sinto que uma parte dela se quebrou quando o pai dela faleceu. Algo nela nunca mais foi o mesmo, acho que grande parte por minha culpa. Ela teve que se tornar forte por nós duas e isso, ainda mais em uma terna idade, faz com que uma pessoa se modifique drasticamente”.
Helena calou-se de repente, talvez esperando que ele dissesse alguma coisa, mas Harry simplesmente não consegue achar nada para dizer. Tudo aquilo que Helena lhe dissera, nunca pensou que a vida de pudesse ser tão pelicular e triste.
Harry inclina a cabeça para cima, olhando o teto branco da cozinha. - Eu sinto muito, Helena. Eu...
Mais silêncio.
Helena lhe sorri enquanto limpa o rosto das lágrimas que teimam sair de seus olhos. - É uma ótima história para se contar, apesar do final. Não podemos estragar todos os momentos felizes por causa de um final ruim, não é? - ela lhe segura à mão. - Afinal, não acabou realmente. Quer dizer, eu ainda tenho . Quando eu me pergunto por que ele me deixou, eu olho para e o vejo. Eu o vejo em seu sorriso, no modo como se preocupa comigo ou como me olha ás vezes.
Harry aperta mais forte a mão dela. - Só posso imaginar que seu marido deve ter sido uma pessoa maravilhosa, porque é uma das pessoas mais extraordinárias que eu já conheci.
- Oh, querido. - Helena o puxa mais para perto a fim de abraça-lo. - Não sabe o quanto fico feliz de ouvir isso.
- Mas o que eu queria dizer antes disso tudo... - ela continua depois de abraça-lo - Era que , apesar de tentar disfarçar, não tem sido a mesma. Vocês têm a trazido de volta aos poucos. Obrigada, Harry.
Harry fica realmente comovido com o que ela diz. sempre parece um enigma para ele e poder descobrir um pouco mais dela, e saber por Helena que a está afetando do mesmo modo que ela está fazendo com ele, é uma coisa maravilhosa de se ouvir.
Depois de se despedirem com um “boa noite”, Helena fica na cozinha terminando de guardar as coisas e Harry encaminha-se para o seu aposento. No caminho para seu quarto, Harry passa pelo de e a olha pela abertura da porta. Ela dorme tranquilamente, as cobertas emboladas ao longo do seu corpo e os cabelos espalhados pelo travesseiro.
Sorrindo, Harry entra furtivamente e deixa a porta aberta para deixar um pouco de luz iluminar suas feições. Para no pé da cama e a olha.
Qual é o momento em que você percebe que gosta de uma pessoa? O que essa pessoa faz, que você não nunca percebeu antes, que o faz se sentir diferente em relação a ela? Ou talvez por gostar de alguém, algumas peculiaridades você só nota agora. A questão é: O que faz uma pessoa se apaixonar? Será que é um segredo escondido no canto de um sorriso? Ou um brilho nos olhos que só prestando a devida atenção pode-se perceber? Qualquer que seja o motivo, a verdade é que não se pode evitar uma coisa dessas. Quando já se vê, pronto, você gosta dessa pessoa, seja pelo sorriso misterioso ou pelo olhar diferente.
Como se para confirmar seus pensamentos, exibe um pequeno sorriso no rosto. Seus sonhos devem estar bons e, em um desejo insano, espera que ele seja o motivo desse sorriso em seus sonhos.
Capítulo 08
- Ai! Isso dói. – Louis tira rapidamente sua mão.
revira os olhos enquanto espera pacientemente.
Harry os observa de longe. Estão todos sentados em algum lugar do lado de fora da casa. É um domingo, o sol começa a sua descida para o horizonte gradativamente enquanto o fogo da fogueira começa a fazer diferença na noite. Depois de um sábado ocioso, graças a grandes dores de cabeças e enjoos causados pelo álcool da sexta, só puderam fazer algo para comemorar a chega dos outros no domingo. Não resolveram fazer nada demais, apenas uma fogueira e alguns colchões para passarem a noite observando o céu estrelado. Começaram pegando madeiras para montar a fogueira e finalmente quando Louis resolveu ajudar, uma farpa entrou pelo seu dedo e o estava ajudando a tirar. A cena seria engraçada: Louis fingindo um grau de dor maior só para provocar os limites da paciência de , mas os olhando agora não consegue dar um sorriso sequer.
A questão é que desde sábado, quando finalmente acordou após as duas da tarde, ela não tinha falado com ele direito, muito menos olhado na sua cara. De princípio pensou que fosse por que tinha acordado de mau humor, mas o tempo foi passando e ela continuava a ignora-lo. Sua paciência chegava ao limite. Depois da conversa que teve com Helena na madrugada de sexta para sábado, descobriu algumas coisas que confirmavam algumas suposições sobre , vendo-a de uma perspectiva totalmente diferente. Com essas novas informações, e o que já sabia sobre , Harry pode entender alguns pontos que o deixava confuso antes. Por exemplo, o jeito como ela encara a vida é muito frio para uma garota como ela, mas Harry entende. Ela se viu na posição de ter que assumir responsabilidades muito cedo, e pelo o que tirou das conversas com ela, ela faria qualquer coisa para cuidar da sua mãe, até desistir de seus sonhos.
Então têm todos esses novos pensamentos sobre ela, uma visão mais clara de sua personalidade e algo começa a se desenvolver dentro de si. É uma coisa inquieta, igual ao frio na barriga quando se depara com a primeira descida de uma montanha russa. Mas não percebe nada disso por que ela simplesmente não o olha.
Seus pés batem ritmicamente na grama cerrada enquanto olha seu amigo e ela interagindo. Ela dá um daqueles sorrisos grandes, amplos que o deixa a encarando um tempo maior do que socialmente aceitável. O tipo de sorriso que ilumina um lugar, sendo até mais caloroso e quente do que o fogo que está no meio deles.
Harry limpa a garganta e passa as mãos, estranhamente suadas, na calça jeans que está vestindo e vai em direção a eles. Olha para o resto do pessoal quando faz seu caminho. Niall está sentado com o violão nas mãos, dedilhando seus dedos por entre as cordas. Zayn está deitado com as mãos cruzadas sobre a cabeça e olhando o céu escurecer sob os olhos cerrados. Liam está com o celular acima da cabeça, esticando as mãos o máximo que pode para vê se consegue encontrar qualquer ponto de sinal. Ele logo aprenderia, Harry pensa. Para a poucos centímetros deles.
Louis vira-se para o olha-lo, mas apenas abaixa a cabeça e recolhe o material que estava utilizando para tirar a farpa do dedo de Louis.
- O que há? – Louis o encara. Ele sabe, claro que ele sabe. O sorrisinho está escondido no brilho de seus olhos.
- Nada demais. – olha fixamente para . – Acho que já podemos colocar os marshmallows para assar.
- Ei, sabia que a nunca tinha feito isso antes? Isso vai legal.
Louis alterna seu olhar para os dois, esperando que alguém fale alguma coisa. Harry continua encarar . Ela por sua vez continua com a cabeça baixa, sua face vermelha quase não se notando por causa da luz da fogueira.
- Hã... Eu acho que eu vou... Falar o Liam ali... Já volto. – e sai rapidamente.
Harry aproveita a chance e toma o lugar em que Louis estava sentado, mas levanta no mesmo instante. Ela dá um sorriso forçado e vira-se para sair. Harry consegue pegar a mão dela no ar, antes que de que ela possa se livrar dele.
- O que está acontecendo?
enruga a testa como se não estivesse entendendo. – Do que está falando?
- . – levanta as sobrancelhas em desdém.
Uma expressão de dor passa rapidamente pelo rosto de ao finalmente olha-lo nos olhos. Ela passa a mão livre pelas mechas de cabelo em sinal de frustação.
- Harry... Nós podemos falar sobre isso depois?
- Falar sobre o que depois? Isso que eu estou tentando entender.
Um estalo da madeira ouve-se antes de ela falar de novo:
- Depois, ok? Por favor.
E não pode fazer nada a não ser dá os ombros e liberar sua mão.
- Cuidado, cuidado! – solta uma risada quando Liam a adverte sobre o marshmallow derretido.
Quando o sol finalmente sumiu, a fogueira ganhou uma nova vida e começaram a fazer os sanduíches com marshmallow. fica empolgada com essa novidade. Para eles é apenas uma coisa que comiam desde que se lembram, mas para ela é um novo jeito de comer biscoito, marshmallow e chocolate. Toda hora ela ria como uma criança que ganhou um novo brinquedo e apesar do clima estranho entre eles, Harry sente-se feliz ao vê-la tão distraída.
- Ai meu Deus! Como eu nunca provei isso antes? – falava de boca cheia. – Isso é maravilhoso.
Os cinco riem com o entusiasmo dela. As primeiras tentativas de com o marshmallow foram desastrosas, saindo com a comida toda queimada. Sons de contentamento saem da sua boca a cada mordida até que ela não consegue engolir mais nenhum pedaço.
- Eu não consigo comer mais nada. – dito isso, joga seu corpo para trás e deita na grama.
Harry fica virando seu graveto no fogo. A noite é preenchida com o som do estalar da madeira e os zumbidos dos insetos. As estrelas a cima de suas cabeças toma conta de todo o céu, só dando espaço para uma enorme lua cheia. A lua parece estar tão perto, dando a impressão que possa se esticar a mão e pega-la. É uma noite perfeita.
- Sabe o que devíamos fazer? – Zayn pergunta enquanto fica jogando a garrafa vazia de refrigerante para cima e para baixo.
- Dar uns amasso? – Louis brinca.
Niall pega alguns folhas arrancadas da grama e joga nele. Harry ri dos dois.
- Não. – joga a garrafa mais uma vez e a pega uma última vez. – Verdade ou consequência.
- Eu tenho uma ideia melhor. – Niall se manifesta. – Vamos jogar Triple Dog.
Enquanto todos os outros fazem som de descontentamento, volta a se sentar e pergunta:
- O que é “Triple Dog”?
- Triple Dog é um jogo parecido com verdade ou consequência, mas só com a parte das consequências. Ou seja, só os desafios. – Liam explica. - Niall ficou obcecado por esse jogo desde que viu o filme*.
- Mas não pense que é tão simples assim. – Niall fala com uma voz misteriosa.
- Ah, não?
- Não. – um sorriso ameaçador aparece no rosto de Niall. – As regras são as seguintes: Todo mundo recebe e dá um desafio. Você pode escolher quem te dá o desafio. E o mais importante: se você não quiser cumprir o que foi mandado, ou falhar, você tem que pagar.
- Pagar de que modo? – olha apreensiva para todos, até para Harry.
- Com alguma coisa pior do que o desafio em si. – Harry a responde.
solta um riso nervoso, preparando para levantar e sair dali: - Não. Não mesmo.
- Vamos, . – Niall lamenta.
- Não.
- Eu não sei se é a melhor ideia, Niall. – Liam coça a barba por fazer enquanto pensa sobre o assunto. – Lembra-se da última vez que você tentou jogar isso? Você nos contou que seu amigo saiu com um braço quebrado.
Os olhos de se arregalam. Sua convicção mais firme do que antes em não participar daquilo.
- Vamos pensar em outra coisa. – Harry tenta tranquiliza-la.
- Qual é, pessoal? Quem está a fim?
Niall espera as mãos se levantarem. Junto com a sua, Zayn e Louis levantam as deles.
- Vai dar empate. – Zayn dá os ombros.
Niall sai do seu lugar e quase se joga em cima de Liam ao sentar ao seu lado. – Vamos lá, camarada. Vai ser legal, você sabe que sim.
Liam pensa um pouco. – O que teríamos que fazer se não quisermos fazer o desafio?
Niall tenta pensar em algo e vira-se para Louis em busca de ajuda: - Louis?
- Que tal quem perder tem que fazer uma tatuagem com o nome de quem o desafiou?
e Niall fecham a cara na hora e falam ao mesmo tempo: - Não.
- Ok. Quem não cumprir o desafio deve raspar metade da sobrancelha.
- Nós vamos ficar ridículos com isso. – Harry desaprova Louis com um olhar.
- Então é melhor aceitar qualquer coisa que o desafiem.
Todos os olhares se voltam para . Depende dela se vão jogar ou não. Os outros aceitariam qualquer coisa que propusessem, mas é ela que vai dar o ponto final.
- Eu não quero ficar sem sobrancelha. – murmura em uma voz triste.
- Eu encaro isso como um sim. – Niall bate as palmas das mãos como para encerar o assunto. – Quem começa?
- Que tal você, campeão? – Harry sugere com um inclinar irônico de sobrancelhas.
- Tudo bem. – Niall olha para eles a sua volta. – Liam. Diga-me um desafio.
Liam esfrega as mãos em expectativa. – Deixe-me pensar... Oh, já sei.
- Isso não vai acabar bem. – Harry falar no meio de um suspiro.
- Eu o desafio... – Liam continua. – Eu o desafio a passar um dia cantando tudo o que você falar.
- Que desafio bobo.
- Acho que você quis dizer...
Niall revira os olhos antes de falar cantando: - Isso é um desafio bobo.
- Mas lembre-se: tem que passar um dia inteiro cantando. Quem agora?
- Pode ser eu. – Zayn passa a mão pela nuca, disfarçando o nervosismo. – Eu escolho Niall.
- Eu o desafio... – Niall cantarola.
- Nada de andar pelado, Niall. – Louis o interrompe bruscamente. – Há algumas coisas que não se consegue apagar da memória.
- Eu o desafio... – continua como se não tivessem dito nada. – A passar uma cantada no James.
A risada de Louis, Liam e Harry ouve-se de longe pela noite calma.
- Logo James? – Zayn resmunga.
James é um dos seguranças que está aqui com eles. Diferentemente dos outros seguranças, ele é o mais sério e intolerante a brincadeiras. Não é ele que costuma dar os sermões neles quando aprontam alguma, mas o olhar duro e severo dele os intimida mais do que qualquer conversa. Sua postura é sempre rígida e nesse momento ele está sentado em uma das cadeiras da varanda, dando para o lugar que estão fazendo a fogueira. Seus olhos passam por todo o lugar, concentrando-se nas partes mais escuras e escondidas, como se algo pudesse sair de lá a qualquer momento.
- Não quer escolher outra coisa? – Zayn balança a cabeça em descrença enquanto suas duas mãos cobrem seu rosto.
- Vai dar para trás?
- Não. – suspira pesadamente, pensando no que teria que pagar se não fizesse, e levanta-se do chão.
Enquanto faz seu caminho para onde se encontra James, os outros o seguem a custa de comentários bobos e risadas. Apensar de estar vestido com roupas sociais, diferentemente do terno que costuma usar, ao aproximar-se dele, Zayn nota que sua expressão continua assustadora. Vira-se para falar mais alguma coisa com seus amigos, mas ao olhar para trás vê que todos saíram de trás dele e se esconderam em algum lugar. Que ótimos amigos. Pensa consigo mesmo.
- E aí, James? – diz subindo as escadas que dão para a varanda.
Ele reconhece seu cumprimento com apenas um aceno de cabeça.
Para ao seu lado. – Quais são as novas?
James o olha sem interesse, incomodado com a atenção que lhe é depositada. – Nenhuma. Há algum problema?
- Não. Por quê? - James dá os ombros em reposta. – Se importa se eu sentar ao seu lado?
Novamente, o olhar estranho volta ao seu rosto. – Como quiser.
Zayn senta no chão ao seu lado, abraçando as pernas. Consegue sentir o olhar dos seus amigos nele, quase ouve também as gargalhadas deles. Como começar esse desafio? A ideia de ter a sobrancelha raspada quase parece tentadora. Quase.
- É uma noite muito bonita, não é? – a vergonha toma conta de si, sua cara ficando vermelha ao perceber o que falou.
- Todas as noites aqui são.
- E o brilho da lua... – limpa a garganta. – É muito romântico.
- Pena que sua namorada não está aqui.
Agora é a vez de Zayn o olhar estranho. Apesar de conviver sempre com eles, James nunca deu sinal de saber ou muito menos de se importar com a vida pessoal deles. Ele saber da sua namorada o deixa surpreso e por um minuto perde a concentração do que deve fazer.
- Você sabe da minha namorada?
- É o meu trabalho saber sobre vocês.
- Mas você nunca mostrou se preocupar com nada.
- Ora, Zayn. Isso não seria muito profissional, seria? – o observa com uma sobrancelha levantada. - Ficar jogando conversa fora sobre assuntos românticos.
- Sim, acho que sim...
- Então vamos ao assunto. Por que não faz logo o que veio fazer?
- O quê? – arregala seus olhos. Como ele pode saber?
- Sabe... No meu trabalho não só meus movimentos, mas minha percepção e audição são treinadas para serem melhores. Os que mandaram você fazer?
- Mandaram... Dar em cima de você.
James solta um riso discreto. – E como você pretende fazer isso?
- Eu não sei.
- Ok.
James levanta sua mão para o ombro de Zayn e fica o acariciando. O rosto de Zayn congela e seu corpo trava. A mão dele sobe e passa delicadamente pelo seu rosto e cabelo, sorrindo todo o tempo. – Isso é suficiente para eles acreditarem que você acabou de me passar uma cantada? Ou deveria apenas de dar um soco em resposta?
- Não, não. Isso é suficiente. - fala apressado.
Recolhe a mão e senta-se ereto, olhando para o nado. – Ótimo.
Zayn não pode acreditar. James tinha acabado de fingir retribuir a cantada dele, confirmando para os outros o seu desafio. Levanta ainda meio atordoado com o que aconteceu e para antes de descer o último degrau. – Obrigado.
Acena a cabeça novamente em reconhecimento. Parece que as coisas voltaram a ser como antes.
Harry vê Zayn voltando para onde eles estão. Os últimos minutos foram estranhos: vê Zayn conversar com James e depois o gesto do mesmo com o seu amigo. Muito estranho e no mínimo, engraçado. Niall dobrava-se de rir, com Louis apoiado nele para não cair também. Liam tem o mesmo olhar confuso que o seu e olha a cena toda como se os achassem seres de outro mundo.
- Então, quando é que vai ser o próximo encontro? – Louis pergunta quando Zayn chega ao lado deles.
Ele apenas mostra o dedo do meio. – É a vez de quem?
- Louis. - Niall canta seu nome.
- Ok. – olha ao redor e para em uma pessoa. – .
- Eu? - fala em um fiapo de voz.
- É. Manda.
morde os lábios. Dá para perceber o nervosismo dela. Suas mãos se entrelaçam sem parar e não consegue parar quieta, trocando o peso do corpo de um pé para o outro. Já está para murmura um “não sei” quando Harry chega perto e fala baixo em seu ouvido:
- Diga a ele para comer algo nojento.
- Ei, sem ajudar. - Louis grita.
Sem se incomodar, complementa: - Ele não tem estômago para isso.
- Harry!
- Já sei. - olha agradecida para ele antes de se concentrar em sua vitima. - Eu desafio você a comer dois ovos crus.
Todos fazem um som de nojo, Harry sorri para ela.
- Argh! Eu não posso fazer isso.
- Vamos. Eu tenho total fé em você. - Liam diz isso antes de empurra-lo para a cozinha.
Vão a passos rápidos para dentro da casa e chegam à cozinha. Harry abre a geladeira e pega dois ovos, colocando-os em cima do balcão em frente a Louis.
- Bom apetite, amigo. - diz.
- Então já sabe: primeiro você quebra o ovo, deixando que o conteúdo viscoso... Nojento... Passe pela sua garganta até que...
- Chega. Chega. - sai de perto do balcão. - Não posso. Não consigo.
- Ah, vamos Louis... - o encoraja.
- Não. Não. - cruza os braços.
- Você sabe o que isso significa. - Niall canta animado.
- Sei.
Harry ri. - Tem certeza disso? Você vai ficar ridículo.
- Cala a sua boca, Harry. - isso o faz ri ainda mais.
- Hora de alguém fazer as sobrancelhas.
Alguns muitos minutos depois, Louis se vê com metade de uma sobrancelha raspada. O mau humor nota-se claramente em seu rosto, com suas feições fechadas e músculos tensionados.
- Mal posso esperar para ver a reação da Lou. - Harry comenta.
- Ela vai ter um ataque. - Zayn balança a cabeça em desaprovação.
- Ou pior, vai nos obrigar a fazer a mesma coisa.
Um sorriso tímido surge no rosto de Louis.
- Acho que a sua vez . - Liam passa seu braço pelos ombros dele. - Quem você escolhe?
analisa suas opções: Louis, Zayn ou Harry. Depois do que ela fez com Louis, ele é a sua última opção. A disputa fica entre ele ou Zayn. Harry quase consegue ver a cabeça dela trabalhando nos prós em contras de cada um. Zayn por ter tido um desafio difícil talvez quisesse compensar nela, por outro lado ele a conhece bem. Pelo menos gosta de pensar que conhece.
- Zayn. - diz tenebrosa.
- Ah, querida . Eu mal a conheço, mas mesmo assim... - troca um olhar com Niall. - Eu a desfio a dar um mergulho na piscina.
Ele balança a mão em descaso, como se não fosse nada demais. O rosto de acende-se com o desafio fácil, mas Harry sabe que não acaba por aí.
- Mas espere. - a expressão de felicidade desaba no rosto de - Eu a desafio a tomar um banho de piscina... Só com as suas roupas íntimas.
Capítulo 09
- Eu não estou gostando disso.
Isso poderia facilmente ter sido dito por , já que o desafio de ficar só com as suas roupas íntimas e mergulhar na piscina é para ela, mas na verdade quem disse foi Harry.
Quando Zayn propôs para ela esse desafio o primeiro pensamento de Harry foi: não. Que tipo de brincadeira é aquela? Não pode deixar que ela se submetesse a isso, então estava pronto para interromper e acabar com os desafios logo de uma vez. Mas não lhe deu tempo para isso.
- É sério que é isso o meu desafio? - ela tinha dito.
Zayn apenas balançou a cabeça, muito orgulhoso de si e parecia estar dividindo alguma piada interna com os outros. Uma piada que Harry não entendia.
- Então vocês esperam que eu faça um show particular de strip para vocês?
- Não, claro que não . - Niall passou seu braço pelos os ombros dela. - Nunca a envergonharíamos em pedir que você tivesse uma plateia para ver o seu desafio.
- Vocês não se preocuparam com isso quando foi a minha vez. - diz Zayn indignado.
- Shhh. - Niall continua. - Na verdade só precisamos de uma pessoa para confirmar se você o cumpriu ou não.
- E essa pessoa seria...?
Da mesma forma que sabia quem era ao fazer essa pergunta, também sabia Harry. Agora ele está parado no espaço da piscina, está de costas para ele somente com seu sutiã e calcinha, olhando a água escura sem qualquer perturbação. Mesmo não querendo reparar demais e constrange-la de algum modo, não pode deixar de observa-la. Ok, isso é mentira. Ele a está secando. O conjunto é liso, sem nenhum enfeite e branco. Claramente não foi planejado para ser visto por ninguém, já que não possui qualquer apelativo que saltasse os olhos. Mas é bonito, quer dizer, ela é bonita. O branco realça sua pele bronzeada, os cabelos, castanho escuro e sem nenhum reflexo do ruivo que se via ao sol, caem pelas costas até a altura das omoplatas. Sua cintura afina para depois se relevar em redondos pares de quadris que se estendem até formar belas pernas. Ela é alta e todo seu corpo se orquestra de modo perfeito.
Está ligando os espaços entre pintas nas suas costas quando ela volta a retomar a conversa:
- Se você não está gostando imagina eu.
- Se você quiser eu posso falar para eles que você pulou, não precisa fazer se...
- Harry. - ela o corta. - Eu vou fazer. Por favor, Zayn teve que dar em cima de um dos seus seguranças. O que é isso em comparação?
Ela está sendo irônica? Harry se pergunta. Sabe que ela o está olhando por cima dos ombros, mas não consegue tirar os olhos do seu corpo. Sua pele parece tão macia de longe, como seria tocá-la? Como seria ter pele contra pele? Seus lábios contra os dela? Ok, agora está divagando.
- Mas me explique. - continua. - Por que não está gostando? Alguma coisa o aborrece?
Sim, eu estar tão distante de você. Pensa.
- A única coisa que me aborrece é eles terem a desafiado a isso. É humilhante.
dá os ombros. - Eu estava precisando mesmo tomar um banho de água gelada.
E dito isso pula para dentro d’água. Ela poderia ter se aproveitando da situação. Podia ter pulado com suavidade, mas em vez disso resolveu fazer um canhão d’água, espalhando água para todos os lados. Espera ela voltar à superfície. Dessa vez ela volta como uma sereia. Seu rosto aparece devagar nas águas, suas feições reaparecendo como se ela fosse uma visão. Seu cabelo está todo grudado para trás e ao olha-lo de lado, algumas gotas de água caem de seus cílios. O castanho dos seus olhos está mais claro em contraste com a água escura, seu olhar parece ser o único ponto de luz ali e Harry sente-se arrastado para lá.
- Ok, Harry. Já foi suficiente. Hora de voltar para os outros desafios. - Louis o grita de algum lugar.
Harry acorda do transe que está e percebe que sua boca está aberta, Fecha-a imediatamente e encara mais uma vez.
- A gente se vê quando o jogo acabar. - ela lhe diz.
- É. - não tendo nada melhor para lhe falar, sai andando para onde os outros estão.
Quando chega perto o suficiente deles, Niall é o primeiro a lhe falar todo convencido: - De nada.
- Supostamente eu deveria agradecer a alguma coisa?
- Ah, por favor. Até Zayn que chegou agora soube o que tinha que ser feito.
- E você está sendo tão ingrato. - Zayn lhe dá um falso olhar desaprovador.
- Não estou conseguindo te alcançar, Niall. - senta-se no degrau. - Vocês pretendem me dizer do que estão falando ou vão só ficar balbuciando sem parar?
- Cara, você gosta dessa garota? - Liam pergunta para ele.
- Você está perdendo seu tempo. - Niall volta a falar. - Ele não vai falar nada.
Harry apenas afunda sua cabeça em suas mãos em uma esperança que as vozes deles desaparecessem. Sem qualquer sucesso, claro.
- Você não percebe como olha para essa garota. - Louis senta-se ao seu lado. - Você a fica procurando com os olhos e quando a acha, fica todo tempo inquieto esperando que ela o note.
Harry apenas afunda mais em sua colcha. O que eles estão dizendo não é nada mais do que já sabe.
- Vocês ficam bem juntos, pena que ela more tão longe. Outro país e tudo mais.
Nada no que ele já não tivesse pensado.
- O que acontece quando a pessoa que você gosta está muito distraída para notar o que você sente? - Harry pega-se perguntando, sem esperar ou desejar uma resposta.
- Você a faz prestar atenção. - Zayn o responde, afinal.
- Ok. Harry. É a sua vez. - Liam diz depois de beber uma mistura particularmente nojenta com alho, molho de tomate e pasta de dente. Logo depois de beber ele correu atrás de um banheiro, mas pelo menos ele tinha cumprido com o desafio. - Sobrou para você o Louis.
- E a vida volta ser boa novamente. - Louis comenta alegremente.
- Você está ridículo. - fala em um meio de irrita-lo por causa da sua sobrancelha.
- Não tanto quanto você vai parecer. - ri diabolicamente. - Não, estou brincando. Você vai até gostar.
- Diga de uma vez, Louis.
- Ok. Ok. É muito simples, querido Hazza. Eu repito o desafio de Zayn... - e como alguém que não quer nada, conclui: E acrescento mais uma coisa. Você tem que chegar a primeira base* com .
- Você só pode estar de brincadeira. - joga as mãos para o céu exasperado.
- Sabia que você ia gostar.
- Por que vocês continuam insistindo nisso? - se dirige a todos.
- Chame isso de um pequeno empurrãozinho. - Niall o acompanha até a varanda. - Ou um chute na bunda. Qualquer um que o faça andar mais rápido.
Enquanto caminha pela recém-cortada grama, seus pensamentos voltam para a atitude de seus amigos. Eles estão certos, óbvio. Harry está fazendo uma coisa em relação à que nunca fez: hesitar. Antes mesmo de formar uma banda com os garotos, nunca teve dificuldade em se dirigir a uma mulher. Depois da One Direction muito menos. Tem até mesmo provas disso, basta só olhar em algum site de fofoca sobre as suas supostas “namoradas”. E casos e casos que não deram certo não serviram para intimida-lo... Até chegar . Não é que fosse mais bonita que as outras, ou a mais inteligente ou a mais engraçada. é , se isso faz qualquer sentido. E além do mais, ela o enxerga e o olha de uma maneira que só as pessoas mais ligadas a ele fazem. Da mesma maneira que sua família e seus amigos mais antigos. Ela não vê “Harry Styles, integrante da One Direction”, seu comportamento não é milimetricamente calculado para agradá-lo ou impressiona-lo. traz uma normalidade consigo. Algo que não pensava sentir saudade até passar mais de dois dias com ela.
Ao subir os degraus para a piscina, a imagem dela torna-se visível pela luz da lua. Ela está de costas para ele, seus cotovelos apoiados na beirada da piscina e seus pés movimentam-se vagarosamente na água. Metade do seu corpo está submerso e Harry pensa no frio que ela deve estar sentindo. não nota sua chegada, fica apenas cantarolando, olhando para nada em especial. Um sorriso surge nos lábios de Harry. Lembra-se do dia que a ouviu cantar na cozinha e sua reação ao elogia-la. Ela tinha pensado que ele estava dando em cima dela e logo colocou as cartas na mesa. Sabendo o que sabe agora, será que ela falou isso por causa do ex-namorado? Pode ser, mas Harry pensa que é daquele jeito. Dane-se se ele é alguém importante ou não, ela sempre iria dizer o que pensa.
Talvez sua respiração tenha soado mais alto, por que ela se vira e depara-se com ele a encarando de um jeito abobalhado.
- O que houve, Harry?
- Nada, nada. - tenta tirar o olhar apaixonado da sua expressão.
- Já posso sair?
- Não... Os desafios ainda não acabaram.
- Qual é o próximo?
Decide não contar toda a verdade. - Louis não tem muita criatividade. Desafiou-me a fazer a mesma coisa que você.
- Oh... Então você vai ficar só com... Hm... Só com suas roupas íntimas?
- Sim. - Harry ri. - Só com as minhas cuecas. - fala sem titubear.
- Junto comigo? Aqui?
- Isso foi bem frisado no desafio.
solta um “Ah” aspirado e fica movendo nervosamente as palmas das mãos abertas na superfície da água. Mas seus olhos não desviam de Harry, quase como se tivesse esperando um primeiro movimento dele. Harry solta um riso sem graça e abaixa a cabeça, sentindo-se constrangido com a situação.
- Ora, vamos. Não está com vergonha, está?
Harry levanta a cabeça descrente. Ela está implicando com ele? Sorri com o comportamento leve dela e retruca: - Imagine. Toque uma música sexy.
solta uma gargalhada e faz uma precária imitação do tema da Pantera Cor de Rosa. Os dois riem ainda mais. Harry desabotoa um botão da calça, fazendo uma cara cômica e ri mais ruidosamente.
- Ok, vamos terminar logo com isso. - tira sua calça e as chuta para algum lugar, ficando só com seus boxers preta e camisa. Livra-se depois da camisa e sente o vento gelado em contato com sua pele.
parou de rir a algum tempo, agora ela apenas o olha com intensidade. Seu olhar fica vagando pelo seu peito, passando pelas suas tatuagens até terminar na ponta de seus pés. Ela acabou de lhe fazer uma inspeção?
- Tatuagens engraçadas.
- Qual delas?
- Todas. - sorri tímida.
- Como está a água? - muda de assunto.
- Quente, em compensação ao lado de fora. - e dito isso, mergulha o corpo toda na água, deixando apenas a cabeça de fora.
- Acho melhor eu fazer isso logo, não é?
Os ombros de aparecem momentaneamente por fora da água quando ela dá os ombros.
Sem esperar mais, Harry anda um pouco mais para trás e corre em direção da piscina. Antes de entrar com tudo na água, ouve dizer um “Harry, não!” antes de se afastar. Ao mergulhar até o fundo da piscina, seus sentidos são todos imobilizados pela água gelada. Sua respiração fica mais pesada e tem que subir rapidamente para a superfície. Solta o ar em uma grande lufada e escuta o riso de .
- Você disse que a água estava quente.
- Para quem está aqui a mais de meia hora.
- Você me enganou. - a acusa, fingindo aborrecimento.
- Claro que não.
- Você agiu de má fé. - vai nadando para mais perto dela.
- Não... - não se afasta, mas seus olhos o acompanham em qualquer mínimo movimento.
- Você se acha muito esperta. - vai a encurralando para o canto da piscina.
- Disso eu não vou discordar. - ela tenta sorri, mas seu sorriso se perde ao sentir suas costas tocarem a parede da piscina.
O espaço entre eles não é muito grande e Harry dá mais um passo para encurtá-lo.
- Por que você estava agindo tão estranha comigo hoje mais cedo?
- Harry... Você está perto demais. - coloca suas mãos espalmas no peito dele para afasta-lo, mas não consegue exercer nenhuma força contra eles. Nem mesmo tenta. Apenas fica assim com as mãos paradas.
Sente a respiração de ficar mais rápida e seu olhar concentrado onde estão suas mãos. Harry acompanha seu olhar e com suas mãos pega as dela, segurando-as entre eles para que ela não possa fugir. agora o encara com seus grandes olhos castanho. Ela parece assustada e excitada ao mesmo tempo. E a olhando agora, esquece-se de qualquer desafio que lhe foi dado. Se fosse beijar não será por causa de um desafio idiota, mas por que ele queria isso mais do que se lembra de querer algo. Não irá contar nada disso para os outros. Eles podiam raspar toda a sua sobrancelha se quisessem, mas aquele momento é só dele. Dele e de . Tira a pressão que seus dedos estão fazendo nas mãos dela e chega mais perto, seus corpos só se encostando a cada nova respiração. Seus lábios estão a milímetros de se encostar-se aos dela, quando vira o rosto e seu beijo acaba em sua bochecha.
O gosto amargo de frustação e desapontamento chegam a sua boca. O peito de sobe rápido com a sua respiração, mostrando seu nervosismo.
E sem dizer mais nada, afasta-se só mais um pouco para dar impulso na beirada da piscina e sobe. Recolhe sua roupa do chão, vestindo sua camisa e short mesmo estando com o corpo molhado.
- . - ela termina de vestir o short. - . - Harry fala mais alto.
Ela continua a ignorá-lo. Harry sai da piscina e quando vai atrás dela, sem vestir suas calças, ela já está quase chegando à varanda. A grama gruda nos seus pés molhados à medida que anda mais rápido para alcança-la antes de ela entrar na casa.
- Para. - lhe segura o braço, fazendo-a virar-se para ele.
- Por que você sempre age tão estranha? Uma hora você está rindo comigo e na outra me afasta, como você tivesse com medo. Do que você tem medo? - já não é mais tempo para delicadezas. Harry fala com ela em uma voz firme e carregada de ressentimento.
- De você. Tenho medo de você. - a voz de também sai carregada cheia de fúria.
- De mim? Mas de que merda você está falando?
solta um longo suspiro antes de lhe dizer. - Agora mesmo, quando você olha para mim. O sentimento que vejo é tão assustador. Eu não posso lidar com isso, Styles. Não posso. - consegue se livrar do seu aperto. - E apesar de querer isso, o que vai acontecer depois?
Harry está completamente parado. Tem que lembrar constantemente de soltar o ar que insiste em prender a cada palavra que fala. Ela continua:
- Nós vamos nos divertir e quando esse segunda semana acabar você vai embora. E aí? Você vai voltar para sua vida, com sua família e amigos, e o que aconteceu aqui vai sumir até ser nada mais que uma vaga lembrança de verão. E eu vou continuar aqui, alimentando-me de algo que nunca poderia ter ido para frente.
afasta-se um passo para trás.
- Então, me perdoe por não querer me colocar nessa situação. - e antes de sumir por completo, termina dizendo: - E antes que a gente se aproxime mais, deixe-me cortar isso antes que comece. É mais fácil assim.
Ela está subindo as escadas quando Harry volta a segui-la novamente. As coisas não precisam ser daquele modo que ela está colocando, não precisam estar naquela luz pessimista. A porta da varanda se abre e Liam dá um passo para fora, olhando-os.
- E aí, gente? Já fez o desafio, Harry a beijou?
E nesse momento Harry tem vontade de esganar Liam.
o olha por cima do ombro. Consegue ler seu olhar, ele diz: “Então tudo aquilo que aconteceu na piscina foi para um desafio?” e “Tudo o que eu acabei de dizer foi para nada, já que você nem ao menos sente o mesmo?”. Merda, merda, merda.
- Liam...
Harry começa mais o interrompe.
- Sim. - ela dá um sorriso falso, mas que parece enganar Liam. - Eu quase me senti tocada, não vou mentir. Mas agora que percebi que era um desafio, foi até engraçado. Mas acho que chega de desafios por hoje.
E sai com o mesmo sorriso no rosto, como se tudo o que tivesse acontecido não fosse nada mais do que uma brincadeira entre amigos. Liam percebe o comportamento de e levanta uma sobrancelha em questionamento para Harry.
- Eu vou te matar, Liam. - apesar das suas palavras intimidadoras, seu tom de voz sai vazio e sem qualquer ameaça.
Capítulo 10
A expressão no rosto de está dividida. Em um momento a euforia fica claramente estampada em suas feições, mas na maior parte do tempo é ofuscada pela desconfiança e hesitação em seu rosto.
- Ok, mas se eu decidir ajudar você... Promete que não irá brincar com os sentimentos dela?
- Eu nem sei se ela tem qualquer sentimento por mim, . - responde Harry, já cansado.
Faz mais de uma hora que estão nessa situação. Depois do que tinha falado ontem à noite, e depois do que ela escutou de Liam, Harry soube que perderia se deixasse as coisas seguirem como ela queria. Por isso que, aproveitando que tinha aula de vôlei a tarde, Harry ligou para conversar com . Mais especificamente para pedir sua ajuda.
revira os olhos para ele. - Deixando essa obviedade de lado, o que você quer que eu faça? Não sei se posso ser de muita ajuda.
- Você é toda a ajuda que eu preciso.
- Oh, muito obrigado. - caçoa Niall ao seu lado.
Harry o ignora. - Então?
pondera e dá um sorriso fraco para ele. - Tudo bem.
Sem pensar duas vezes a abraça. - Obrigada, .
- Ok... Ok. - tem que respirar fundo mais de uma vez. - Vai valer a pena. Já está valendo.
Os dois riem. Niall interromper arranhando a garganta. - Ótimo. Agora que as tropas estão prontas, qual é o plano de ataque?
Harry olha em dúvida para . Ela acena com a cabeça o incentivando. - Primeiro, eu vou precisar de todos vocês para me ajudar. Tudo precisa ficar pronto antes de chegar.
Ouviu a porta abrir e fechar, alguns passos pelo chão de madeira e novamente o barulho de uma porta. acabara de chegar e foi direto para o quarto tomar uma ducha. Harry está com na cozinha, dando um jeito nas últimas coisas enquanto os outros estão do lado de fora. Sem questionar ou fazer um alarde com a situação toda, eles estão o ajudando com . Será que seus sentimentos por ela estão tão óbvios para assim como para eles? Acha que não. Se tivesse, por que ela teria dito todas aquelas coisas ontem?
- Porque ela não quer ficar vulnerável.
Olha confuso para até perceber que tinha feitos seus pensamentos em voz alta. Primeiro sente vergonha, mas pode muito bem aproveitar-se já que tinha começado a falar.
- Ela nunca me conta exatamente o que pensa. Parece que ela sempre fala as coisas pela metade. Apesar de ela ter me contado algumas coisas, sempre parece algo ensaiado e controlado. - apenas balança a cabeça concordando. - Por que ela age desse jeito?
- Você sabe do que ela tem medo?
- De mim? - chuta aquilo que tinha lhe dito ontem.
- Não. - ri. - Quer dizer, não de você exatamente. Dos sentimentos que você a faz ter.
Harry solta um ar carregado e coloca as duas mãos no balcão da cozinha. - Ela é uma porra de dor de cabeça.
- Ela o está te deixando maluco?
- Maluco? - Harry em deboche. - Quem dera. Sinto-me mais como um masoquista, querendo a atenção dela quanto o que mais ela quer é me ver longe.
apenas sorri para ele como se fosse uma velha sá e Harry uma criança tola que não enxergasse o óbvio.
- Você sabe de algo que eu não sei.
- Sei.
- Me diga. - Harry pede.
- Não.
- Por que não?
- Porque não é da minha conta. Se ela não quis te contar até agora, então não tem o porquê de eu falar.
- ...
- Escute. - vira-se para ele. - A única coisa que te posso falar é que ela tem seus motivos. Motivos para ser tão reservada em relação a você e de não ceder aos seus encantos.
- E você não pretende me falar?
- Não posso.
Harry suspira frustrado. - Não vê minha situação?
- Vejo, por isso mesmo que o estou ajudando. Se fosse diferente, pode ter certeza que eu não estaria aqui agora. Acredito que você realmente goste dela e acho que está na hora de dar uma chance a alguém, mas alguém que valha a pena.
- E você acha que valho a pena?
- Tenho certeza. - e dando um empurrãozinho para ele sair da cozinha, completa: - Você é Harry Styles.
Dá duas batidas na porta até ouvir a voz de o mandando entrar. Abre uma frecha e coloca sua cabeça para dentro do quarto.
- Posso...?
- Claro.
, sentada na cama, guarda embaixo de si o pente com o que estava penteando o cabelo molhado. Os cabelos molhados caindo envolta do seu rosto lembra a Harry a noite de ontem. Apesar de estar usando um vestido preto de algodão em vez de apenas roupas íntimas, o efeito que ela causa nele é o mesmo. Ao se deparar com aqueles maravilhosos olhos, sua determinação para o que tem que fazer crescer. Abre a boca para começar, mas ela o interrompe:
- Eu preciso falar com você.
- Ok... - senta-se na cama ao seu lado.
Ela parece nervosa e como sempre faz quando está assim, suas mãos acaba indo parar juntas e começa a torcer seus dedos. Isso sem olha-lo diretamente, já que desde o momento em que sentou ao seu lado, ela desviou o olhar para qualquer coisa menos ele.
- Eu preciso me desculpar com você.
Por isso Harry não esperava. Olha surpreso para ela e um pouco tenebroso com o rumo que essa conversa pode levar. - Precisa?
- Sim, preciso. - dá um longo suspiro. - Sobre ontem... Quando eu te falei aquelas coisas, eu supus que você estava mesmo interessado em mim. - ri como se achasse a ideia absurda, mas consegue captar um pouco de magoa em seu tom de voz. - Acho que devo ter interpretado mal alguma coisa e comecei com aquele discurso. Desculpe. E pensar na sua cara quando...
- , chega. - agora é a vez de ela parecer surpresa. - Você sabe como eu me sinto em relação a você.
- N-Não, Harry. Eu pensei que sim, mas...
- . - encosta suas mãos com as dela para cala-la. - Você sabe. Pare de inventar desculpas. Está claro para todo mundo, está claro para mim e para você não?
O olhar dela está concentrado nas mãos deles entrelaçadas. Ela não está negando, o que deve ser um bom começo.
- A questão é: Quais são os seus sentimentos por mim?
Harry sente tremer com esse confronto direto. Talvez o que estivesse faltando fosse isso: deixar as coisas claras e simples. Não pode deixar complicar só por causa dos temores dela. Tudo isso tem que ser resolvido e será agora.
Harry levanta e o acompanha com os olhos. Da posição em que está, olhando de baixo, parece ingênua e inofensiva. Aproveita-se desse momento em que ela parece não irá reclamar de nada e resolve começar com a noite.
- Vamos.
- Vamos aonde? - Harry tenta lhe puxar para levantar, mas ela faz pressão para baixo.
- Vem comigo?
E essa não é mais uma pergunta para acompanha-lo para qualquer lugar que ele for. Torna-se algo mais, algo que tanto Harry quanto conseguem ler nas entrelinhas. Transforma-se para algo com mais significado.
- Vem comigo? - “Confia em mim?”.
- Vou. - “Confio.”
De mãos dadas, Harry a guia até o lado de fora.
- Lembra-se do dia do piquenique? - responde que sim. - E se lembra do que você me disse naquele dia?
- Eu te disse muitas coisas naquele dia.
- Você me disse que as pessoas estão mais dispostas a perdoar alguém quando há comida no meio. - e dando espaço para ela passar a sua frente, Harry aguarda enquanto ela passa para a varanda dos fundos. - Espero que você aceite meu pedido de desculpas.
Acompanhando a mudança na expressão de , Harry espera que ela esteja gostando do cenário de ele montou. Como plano de fundo, um céu escuro com várias estrelas piscando. Em baixo da árvore que viu pela primeira vez, há uma pequena mesa com cadeiras de madeiras roubadas da varanda da frente. Há uma singela toalha de renda branca cobrindo a mesa e, por cima dela, um vaso com flores e uma única vela. Um pouco mais a frente, parados com um braço dobrado para trás, estão Liam e Louis. Um pouco afastado deles, Niall e Zayn. Todos com um sorriso de expectativa no rosto.
- Harry? - sua voz sai arrastada e tem que limpar a garganta antes de falar: - O que é isso tudo?
- Um pedido de desculpas.
- Pelo quê?
- Por deixar as coisas como estão. Já é tempo de mudar isso.
- O que você quer dizer com isso?
- Você vai entender. - pega novamente a mão dela e a leva para perto da mesa.
Antes de chegarem à mesa, Louis e Liam intrometem-se na sua frente.
- Boa noite. - Liam se pronuncia. - Meu nome é Liam, esse é Louis. - diz apontando para seu amigo ao lado. - E seremos seus garçons essa noite.
Harry vira-se para ver o que acha disso e ela tem um principio de sorriso no rosto, mas o seu semblante ainda é de confusão.
- Se pudermos leva-los aos seus lugares...
Louis acompanha até uma cadeira, a puxando para ela se sentar. Liam faz o mesmo que ele para Harry, e antes de sair, toca seu ombro em sinal de encorajamento.
- Hoje à noite, começaremos servindo um belo vinho comprado às pressas no mercado mais próximo. E de entrada, um delicioso prato feito pela nossa chef da noite: . - quando Louis acaba de falar, deixa escapar uma risada que é escondida por um guardanapo tampando sua boca.
Liam serve pelo lado esquerdo o vinho, primeiro na taça de e depois de Harry. Louis continua:
- Enquanto esperam pela entrada, por favor, aproveitem essa playlist cuidadosamente preparada, e maravilhosamente interpretada, pelos garotos da banda. - e fazendo um sinal insolente e apressado para os outros, Niall começa a tocar o violão e Zayn a cantar uma música antiga.
Toda essa situação é boba, mas parece estar funcionando com . Ela tem um olhar maravilhado sempre que olha para tudo que foi preparado por eles.
Liam e Louis se retiram. ainda passa algum tempo observando tudo antes de falar novamente.
- Harry isso é... - solta o ar, surpreendida com tudo aquilo. - Nunca alguém tinha... Está tudo tão perfeito.
Harry mexe com a cabeça, aceitando o elogio.
- Como você conseguiu fazer com que todos colaborassem com isso?
- Eles sabem quando algo é importante.
Harry vê olhar dela que uma parte da barreira pela qual se cerca é derrubada. Ela abaixa os olhos para disfarçar, mas Harry consegue perceber antes que ela possa desviar.
- Ainda não entendi o porquê de você precisar se desculpar.
- Não queria deixar você com a impressão que, seu eu fosse te beijar na piscina, seria por causa de uma aposta. Errei em deixar você sair sem deixar claro o que eu quero. - toma um gole da sua bebida. - Não se preocupe. Isso não vai mais acontecer.
A entrada chega antes que pudessem falar mais alguma coisa.
Niall está terminando de dedilhar uma canção no violão quando terminam o prato principal.
- Então, o que vocês acharam da sua refeição? - Liam pergunta enquanto retira os pratos.
- Ótima. Diga a... Chefe que estava delicioso. - pede em um tom conspirador.
- Pode deixar. Já volto com a sobremesa.
alivia o peso dos ombros e olha para Harry. Toda vez que Harry a olha, ela está com um sorriso bobo no rosto. Parece que ela não consegue conte-lo. Mesmo quando está comendo, há um princípio de levantar de lábios que indica o seu humor.
- Nunca imaginei que você poderia fazer algo assim.
- E por quê?
- Acho que... - ela parece medir suas palavras. - Não pensei que você fosse esse tipo de cara.
- Que tipo de cara?
- Que se importa.
- Eu pensei que, depois de todas as conversas que tivemos você entendesse o tipo de pessoa que eu sou.
apenas dá os ombros, não negando nem confirmando as palavras dele.
E, como se algo o atingisse, Harry finalmente entende. Todo o medo, a insegurança que tem é por que ela não quer ser magoada. Pelo menos não mais magoada do que já foi. Por que isso Harry consegue perceber. Ela já foi magoada antes. Não por Ian, o ex-namorado idiota dela, mas por alguém que realmente significava algo para ela. Ninguém tem tantas reservas quando a se entregar emocionalmente a alguém se não tivesse motivos para isso. O medo de se machucar é maior do que a vontade de arriscar algo novo.
A verdade o libertará, já dizia alguém muito importante que Harry não consegue lembrar o nome.
- O que aconteceu, babe? - é a primeira vez que a chama assim, tem certeza disso e ela também. parece levemente assustada e aquecida com esse apelido.
- Não sei se entendi a pergunta, Harry.
Harry chega quase até a ponta do seu assento para conseguir cobrir as mãos dela com as suas.
- . Quem sou eu?
Mesmo sem entender a pergunta, responde hesitante: - Hm... Harry Styles?
- Não.
- Não? - sabe que ela está confusa, mas ele tem um ponto a qual chegar.
- Não. Sabe o que eu vejo quando você fala Harry Styles? Eu vejo um garoto, integrante de uma banda que consegue encher vários estádios e viaja o mundo realizando seu sonho.
- E você não é esse garoto?
- Sou. - fixa seu olhar no dela. - Mas também não é a única parte de mim. Também sou Harry, filho de Anne e irmão Gemma. Também sou Harry, amigo de infância de Jules e Kevin.
está mergulhada em seu discurso e termina, no que espera, seja a última conversa que tenham sobre isso. - Muitas pessoas pensam que eu sou só o Harry Styles, mas não percebem que eu também sou todos esses Harry’s. Posso ter visto e vivido muitas coisas proporcionadas pela One Direction, mas isso não mudou quem eu sou: o Harry de Anne, Gemma, Jules e Kevin.
“O que eu quero te dizer, , é que você só enxerga em mim o cara que você leu nas notícias. O crápula, o conquistador, o filho da puta. Não sou esse cara, . Não vou quebrar seu coração.”
Harry consegue ver que ela está incomodada com a conversa, sua voz sai levemente tremula: - Por que está me dizendo essas coisas?
- Porque alguém já te magoou antes.
- Quem te contou sobre isso? - ela recua, afastando suas mãos das deles.
- Então, estou certo?
O rosto de se transforma ao notar que tinha se entregado. Sua postura fica defensiva e rapidamente suas paredes voltam a se reerguer.
- Que discurso bonito, adorável, realmente. - ironia pinga em cada palavra que pronuncia. - Mas não sei aonde você quer chegar com isso.
Ele tenta explicar, mas ela continua:
- E eu pensando: “Que noite maravilhosa! Sem preocupações, nem nada. Uma noite para se distrair”. Acho que estava engada, não é?
- Era para ser uma noite de esclarecimentos. Queria tirar essa impressão que você tem de mim.
- Mas isso que você não entende, Harry. Eu não tenho nenhuma impressão ruim de você. Esse não é o problema. - respira pesadamente. - Pensei que tinha te explicado. Não posso entregar meu coração para alguém que daqui a alguns dias vai embora para sempre. Não vou fazer isso de novo.
- ...
- Quer saber realmente o que aconteceu? Ok, eu te falo. - a raiva borbulhada nos olhos que o encaram. - Quando meu pai faleceu, minha mãe não aguentou ficar na nossa antiga casa. Muitas lembranças, ela dizia. Então voltamos para o interior em que minha mãe foi criada e passou a maior parte da adolescência. Conhecia pessoas aqui que poderiam ajudar. Afinal, não tínhamos parentes próximos e Deus sabe que a parte da família do meu pai nos odeia. - inspira antes de prosseguir: - Voltamos e minha mãe conseguiu um emprego aqui em tempo integral. A mãe de que nos sugeriu para trabalhar aqui.
“E por eu ter sido criada em dois idiomas e minha mãe falar fluentemente inglês, conseguimos vaga nesse sítio. Como já deve saber, o sítio é um lugar de escape para personalidades, na maioria estrangeiras que querem aproveitar uma atmosfera bucólica e sem interrupções quando vem ao Brasil. Um lugar para sossegar, pensar e talvez se inspirar.”
“Logo depois que nos mudarmos, um ator americano se hospedou por aqui por um mês. Veio com a família: a mulher, a irmã da esposa e seu filho. Entenda que isso foi logo depois que meu pai morreu e além de estramos ainda perdidas por mudarmos muito rápido, a gente ter que desistir das nossas vidas e praticamente construir tudo do zero. Eu estava um caco e tentava ser forte para minha mãe. Queria que ela entendesse que estava tudo bem, que se podia apoiar em mim para passarmos por isso juntas. Mas eu não estava bem, estava bem longe disso.”
finalmente está contanto sua história, talvez com muita mais raiva do que Harry gostaria, mas pelo menos está falando. Sente os meninos se aproximarem com a sobremesa, sem perceber o que está acontecendo entre eles, e os dispensa com a mão escondida em baixo da mesa. Eles chamam os outros e voltam para a cozinha. ainda não acabou de falar:
- E então veio esse garoto, o filho do ator famoso. Ele era tudo o que eu precisava na época: seguro, carinhoso e, o mais importante, ele não esperava eu fosse forte. Ele não precisava disso de mim e por que precisaria? Nem me conhecia, mas eu acreditei que ele era alguém em que eu podia confiar. Se ninguém estava mais do meu lado, ele estava. - ela abaixa os olhos tristes antes de terminar. - O resto é previsível. Envolvemo-nos, fizemos promessas de continuarmos nos falando e de nos encontrar de algum modo. Eu era ingênua. Ele não se importava, eu era só uma diversão de verão. - E por ela usar essa palavra, a mesma coisa que tinha dito a Harry na noite anterior, o machuca ao saber que ela o tinha em tão pouca baixa estima.
- Eu estava em cacos e pensei que ficar com ele fosse ajudar a me juntar aos poucos. Mas não. Só serviu para me quebrar em pedaços menores ainda.
Harry inclina-se para tocá-la no rosto, mas ela vira a cara.
- O envolvimento com Ian veio como uma forma de provar a mim mesma que eu estava imune a qualquer sentimento. Uma forma de testar essas novas barreiras pelo qual me cerquei. - dá os ombros. - Quando ele me falou que gostava de outra, pouco me importei. Não doeu como antes. Não significava tanto quanto antes.
- Então por que você continua me afastando, se nada mais importa? Se você está tão vazia quanto acredita estar, por que você tem medo de mim?
puxa o ar como se fosse chorar, mas suas lágrimas estão bem presas em seus olhos.
- Porque você faz isso se aquecer de novo. - fala com a mão espalmada em cima de seu coração. - Você traz todos aqueles sentimentos de volta, até mais fortes. Eu olho para você e...
- E...?
Ela sorri como se estivesse entregando os pontos. - E você tem uma coisa... Uma coisa que você faz. Você olha as pessoas nos olhos. Você realmente presta atenção. Parece besteira, mas é uma coisa tão intima. Faz-me sentir como se você pudesse ler tudo dentro de mim, saber todos os meus segredos. E quando eu olho para eles de volta, vou me perdendo. E eu não posso perder a única coisa que me mantem sã.
- O que te mantem sã? - Harry pergunta com carinho, manso como se qualquer palavra em falso pudesse sobrecarregar ainda mais a conversa que estão tendo.
- Meu coração. Não posso perder meu coração para você.
Capítulo 11
Música do capítulo: Feels Like Home - Chantal Kreviazuk, cover de Caleb Hawley. Link: https://www.youtube.com/watch?v=tJzJVP1neVI
- Sobremesa? - Liam chega depois do que diz e, em menos de 24 horas, Harry sente a vontade de mata-lo de novo.
Enquanto Harry o fuzila com o olhar, suspira aliviada e praticamente se joga no encosto da cadeira. Sorri tímida para Liam quando ele põe o prato com a sobremesa primeiro a sua frente, depois na de Harry.
Antes de sair novamente, Liam troca um olhar de encorajamento com o amigo. Ao voltar sua atenção para , Harry a vê encarando o prato a sua frente.
- Não é apenas uma mera coincidência, não é? - ela lhe diz.
- Não.
ergue o olhar para ele e dá um pequeno sorriso.
Em uma das conversas que teve com durante o dia, uma coisa que ele perguntou sobre ela respondeu: Qual é a sobremesa favorita dela. Aquela que era usada como moeda de troca quando o pai dela queria fazer as pazes. A resposta é um simples bolo de chocolate com pedaços de morango. E, como ela tinha lhe dito na outra vez, tomara que aquilo agilize as coisas entre eles.
- Minha sobremesa favorita. - mesmo sabendo que Harry já descobriu isso, fez questão de comentar.
- É. Fiquei sabendo. - é a vez dele de dar um sorriso tímido para ela.
aperta os olhos e balança a cabeça levemente, como se estivesse tentando entender Harry. Só consegue ver esse garoto lindo, preocupado em agradá-la e em não ferir seus sentimentos. Será que iria ser tão ruim dar uma chance para ele? O que pode perder além do resto do seu coração? Harry vale a pena, não vale?
- O que está pensando? - Harry pergunta, desconfiado com o silêncio dela.
- Nada. Eu só estava... - inspirar o ar forte mais uma vez. Para e ri quando percebe que não sabe o que falar. - Eu não sei. Estava pensando no dia do piquenique.
- E o que tem aquele dia?
- Estava pensando que aquele dia foi perfeito. Pensava que seria a melhor lembrança que eu teria de você quando fosse embora. - encara os verdes dos olhos dele. - Eu estava errada.
- Fico feliz que tenha substituído essa lembrança por uma melhor.
- Foi a comida. - indica com a cabeça o prato vazio a sua frente.
- Lembre-me de agradecer depois.
Harry vira a cabeça para o lado, como se para analisa-la melhor e suaviza seu olhar.
- Você gostaria de dançar, ?
- Com você? - arregala os olhos, assustada e nervosa com o pedido.
Harry olha para os lados e ergue os braços para o nada. - Espero que sim.
Harry levanta-se e vai para o lado dela, dando sua palma da mão para ela aceitar. Consegue ver claramente o quanto está dividida. Novamente, como quando ele mais cedo pediu para ela vir com ele, esse simples pedido para dançar significa algo mais. Tanto ele quanto sabem disso. Ele deixou claro e em aberto o que sente por ela. Ela tinha lhe dito seus medos e inseguranças.
Harry acaba de dar um passo para o desconhecido, tudo o que está pedindo para é que seja louca o bastante para acompanha-lo.
Ela aceita sua mão, mas não antes de fazer uma última pergunta. Claro, não seria se fosse diferente.
- Não há nenhuma música.
- Como se isso fosse me impedir de dançar com você.
Com a mão dela entre o aperto da sua, a puxa gentilmente e a levanta da cadeira.
A mão de Harry que não a está segurando vai parar na cintura dela, aninhando-se ali e a puxando mais para perto dele. solta o ar quando sente quase todo seu corpo encostar-se com o dele. Suas bochechas ficam coradas quando olha para cima e o vê encarando-a com um sorriso sem-vergonha no rosto, do jeito que só Harry Styles consegue fazer.
Dão pequenos passos de lá para cá, apenas desfrutando o momento de poderem ficar assim tão juntos. Harry está olhando por cima da cabeça de , que fica na altura do seu nariz. O plano de estrelas piscando brilhantes por toda sua volta faz todo o cenário parecer mais romântico e irresistível. Assim como Harry pretendia.
(Tocar a música)
Harry sobressalta com os acordes do violão. Estando de costas para o que está acontecendo, Harry levanta uma sobrancelha em questionamento a Niall e Zayn. Niall retribui com um sorriso malandro para ele quando Zayn começa a cantar.
As primeiras palavras da música parecem flutuar entre eles, embalando-os e aquecendo seus corações. volta a olhá-lo, dessa vez seus olhos parecem febris ao encará-lo.
- Styles, Styles... O que você está fazendo comigo? - parece murmurar, mas o olha diretamente quando fala. Não sabe se ela quer que ele responda ou não.
- Eu também não sei. - fala por baixo da música.
- Gostaria de saber como isso vai terminar.
Harry aperta sua mão que está na cintura dela.
- Já está se adiantando para o final?
- Para o inevitável final. - o conserta.
Balança a cabeça em descrença. Tira sua mão da dela por um minuto e bate com indicador na testa dela. - Pare de pensar demais nas coisas por um minuto, sim?
sorri sem graça e abaixa a cabeça, envergonhada. - Desculpa. Força do hábito.
- Velhos hábitos nunca mudam. - brinca com ela.
- É, acho que sim.
- Talvez eu possa te ajudar a tentar.
- Tentar o quê?
- Mudar. Seus velhos hábitos. - novamente, Harry dá aquele sorriso. - O que me diz?
Harry quase consegue ouvir o coração de batendo cada vez mais rápido. A boca dela está aberta como uma boca de peixinho, o que dá vontade de pressionar seus lábios com os dela. E é isso mesmo que Harry vai fazer se não falar nada nos próximos cinco segundos.
Um... Dois... Três...
- Essa música é perfeita. - ela finalmente fala.
- Perfeita?
- É. Perfeita para nós dois. - dá os ombros. - Pelo menos para mim.
Aproveitando uma passagem da música, acompanha bem baixo a voz de Zayn.
- “If you knew how lonely my life has been. And how long I've been so alone...”* - Harry sente-se ficar sério, prestando maior atenção na letra da música a medida que vai cantando. - “If you knew how I wanted someone to come along. And change my world the way you've done.”**
Harry esqueceu o quanto a voz dela é bonita. Começando pequena, tímida e ela tendo que se conter para não termina-la em uma grande explosão que sabe que a voz dela pode alcançar. Tem vontade de sorrir, mas algo o impede. Está concentrado em como murmura a música agora, de olhos fechados e ainda dançando com ele. Uma sensação quente espalha-se por todo o seu corpo, entorpecendo-o ao ponto de tudo a sua volta ficar desfocado, a não ser pelo rosto de que está em total nitidez.
- ?
Ela abre seus olhos devagar para ele. O castanho dos olhos dela está mais intenso, e ao olhá-lo, sabe que ela está percebendo o mesmo nele.
- O que me diz? - faz a mesma pergunta de novo para ela.
Aperta-a mais ainda. Seus rostos estão quase se encostando, seus narizes estão se esfregando milimetricamente e suas respirações se confundem de tão perto que estão um do outro. Os olhos dela desviam-se para a boca de Harry e voltam para ele como se dissessem: Posso? Deveria?
Para ele foi rápido demais. Quando já se deu conta, já estava tomando conta da boca de . Finalmente sentir a maciez de seus lábios e o hálito quente dela contra os seus, poder sentir como é o gosto dela... Não se lembrava de desejar tanto um beijo desde que beijou alguém pela primeira vez. E com , de certa forma, parece ser a primeira vez de alguma coisa. Alguma coisa que não cabe colocar nome agora, algo que não vale a pena gastar pensando nesse valioso tempo. Agora, se dependesse de Harry, todo o tempo do mundo poderia ser gasto beijando . E é isso que faz, pelo menos até gastar todo o seu ar.
Ao afastar-se de um pouco, mas longe o bastante para ele sentir-se incomodo com a distância, Harry não resiste e seus lábios já estão se abrindo em um sorriso único. Antes de beijá-la de novo, afaga seu nariz com o dela e murmura a última frase da música:
- “Feels like I'm all the way back where I belong.”***
*Se você soubesse quão solitária minha vida tem sido. E quanto tempo eu tenho me sentido sozinha.
**Se você soubesse como eu queria alguém que aparecesse. E mudasse a minha vida da maneira que você fez.
***Parece que estou no caminho de volta para aonde pertenço
Capítulo 12
Harry quase sente pena em acordá-la. Quase.
- ?
Tem que sussurrar na escuridão do quarto. Está agachado ao lado de , que está na cama, sacudindo levemente seu braço e chamando seu nome. Ela está completamente entregue ao sono. Sua respiração é leve, seu peito subindo e descendo em um ritmo constante.
- ? - chama seu nome de novo e dessa vez ela parece escutá-lo.
- Harry? - continua com seus olhos fechados, mas sua voz sai um pouco alta demais.
- Shhh! - Harry pede silêncio. Olha por cima do corpo dela para ver se Helena acordou. Volta para falar com . - Vamos falar baixo.
Isso parece despertar sua curiosidade o suficiente para fazer com que ela abra os olhos.
- O que está acontecendo?
Sim, Harry definitivamente está gostando dela. Ao olhá-la sonolenta, com a cara amassada e cabelos revoltosos, ele não consegue deixar de acha-la uma das coisas mais adoráveis que já viu. Isso é um dos sintomas para quando se está gostando de alguém, não é? Achar beleza onde ninguém mais vê.
- Louis tem um plano.
- Desculpe. - deita-se de lado para olhá-lo melhor e parece estar completamente acordada agora. - Mas eu fico um pouco tenebrosa a ser acordada... - olha para o relógio e vê que são três da manhã. - No meio da madrugada e a primeira coisa que tem a me dizer é: Louis tem um plano.
Harry revira os olhos, mas mesmo assim abre um sorriso.
- Explique-se, Styles. - termina.
- Um pouco depois de você ir dormir, eu e os outros ficamos conversando lá na beira da piscina. Estávamos falando de como nosso tempo aqui no Brasil está acabando, e não tivermos a oportunidade de sair e passar um tempo no Rio de Janeiro.
Mencionar o quão perto está de partir, três dias para ser exato, é sempre algo que o deixa em conflito. Não é hipócrita para dizer que não está com saudades de casa. Sente falta de ver sua família, alguns amigos e até de sair por Londres, mas o problema é . Quer dizer, ela não é um problema... Não vê-la mais, isso sim é o problema de verdade. Depois do dia em que resolveram as coisas entre eles, tudo tinha se tornado mais fácil. Os dois dias que passaram depois do jantar que Harry fez para ela foram perfeitos.
- Mais especificamente, vocês querem ir às praias.
Harry dá os ombros, não confirmando, mas também não negando o que ela diz. - Por aí.
- E qual é o plano do Louis?
- Uma fuga.
- Uma fuga? - seu tom de voz aumenta e rapidamente tampa a boca com a mão.
Um minuto de silêncio se passa para verem se ouvem algum som.
- Uma fuga? Vocês estão loucos? - ela chega mais perto de Harry. - De quem foi essa ideia?
- Hm...
- Sua? - arregala os olhos para ele.
- Eu só dei essa sugestão. Louis que colocou tudo em prática.
balança a cabeça em desaprovação.
- Vocês estão loucos.
- Não. Vai dar certo.
- Não vejo como.
- Nós vamos sair daqui à meia hora. disse que estará aqui com o jipe do irmão...
- ? - leva a mão para a testa. - Deveria saber que ela estaria nessa. Como vocês a colocaram nisso?
- Talvez Niall tenha o celular dela, talvez Niall seja bastante persuasivo...
- Talvez seja muito suscetível ao charme do seu amigo.
- Talvez.
- Continue. - tenta esconder um sorriso, mas Harry o vê. Ele sabe que ela vai concordar com eles.
- Daqui a pouco ela vai estar aqui para levar a gente.
- E você não vê quando esse plano vai falhar? E os seguranças, você acha que eles não vão reparar quando nenhum de vocês aparecerem na hora do café da manhã?
- Por isso que temos que ir agora. - dessa vez, Harry que se aproxima dela. - Se ver o nascer do sol é tudo o que pudemos fazer, então pelo menos vamos fazer alguma coisa. Voltamos antes de todos acordarem às sete. Na verdade, temos até às oito que é quando James e Peter acordam.
- Harry... Não vai dar certo.
- Ah, vamos! Vamos, vamos! - agora ele parece uma criança pedindo alguma coisa. Está praticamente pulando em seu lugar. - Não quer ver o por do sol comigo?
aperta seus olhos para ele.
- Golpe baixo.
Harry apenas ri para ela, controlando-se para não acordar a mãe dela.
- Vamos? - e oferece sua mão para ela, como fez nas últimas duas vezes.
Ela olha para sua mão estendida e reconhece o gesto. Balança a cabeça mais duas vezes, como se para mostrar ao seu lado racional que seu lado emocional já fez sua escolha. Aceita a mão dele e antes que notasse está com sua boca pressionada contra a dele, em um beijo que gostaria que pudesse durar muito mais. Talvez para sempre.
A lua ainda está alta no céu, a neblina ainda confunde um pouco a paisagem e a grama molhada abafa os passos furtivos à medida que eles vão correndo até o jipe, com no volante. Niall, como sempre, parece não conseguir controlar seus risos e é o mais animado para o que estão fazendo.
- Niall, você quer calar a boca? - Zayn pede quando entram no jipe.
Zayn é o mais mau humorado de manhã. Quando eles decidiram por fazer essa pequena fuga, ele já tinha ido dormir. Não é a coisa mais fácil do mundo convencer Zayn a levantar da cama antes do horário previsto, por muitas vezes até no horário combinado. Harry duvida que seu humor só fosse melhorar quando chegassem ao seu destino. Na verdade, talvez só melhorasse quando ele fosse voltar a dormir de novo.
Louis da um empurrão em Zayn.
- Não seja rude.
Niall, sentado no banco do carona ao lado de , vira-se para Zayn e mostra sua língua. Zayn apenas revira os olhos, encosta a cabeça no vidro e fecha os olhos.
Na primeira divisão do espaço de trás, estão Liam, Louis e Zayn. Na segunda parte do jipe de quatro portas, estão e Harry. Harry não ficou muito tempo pensando em qual seria a distribuição dos lugares, apenas segurou a mão de e a trouxe junto para os últimos bancos. Louis apenas sorriu ao passar por eles e disse: “Deixe o casal ficar com os bancos de trás. Lembrem-se: Não importa o barulho que escutarem. Em hipótese alguma virem à cabeça para trás.” Ele tinha levado um tapa muito bem dado em resposta.
- Chegamos, chegamos! - batem no teto do jipe, acordando Harry.
Nem se lembra de ter caído no sono. A última coisa que recorda é de estar conversando com sobre qualquer bobagem. Estavam brincando, cada um em uma ponta do jipe, quando ela começou a escorregar no assento e encostar sua cabeça na janela. Harry colocou as pernas dela em seu colo e a observou dormir por um tempo. Deve ter dormido ao ficar olhando o subir e descer de seu peito.
Demora um pouco para saber onde está. O céu só agora está começando a clarear, abrindo-se em vários tons de azuis. O barulho das ondas chega aos seus ouvidos e o cheiro de mar que a brisa traz enche seus pulmões.
Os outros já estão a sua frente, mas não parece ter acordado com o barulho. Chega mais perto do banco dela e tira uma mecha que está em seu rosto. Demora um pouco ao observar suas feições. O nariz delicado, os olhos fechados com os cílios mais longos que ele já viu e a boca... Não tão delicada. É cheia, com os lábios desenhados e avermelhados. Tenta gravar tudo isso em sua memória, em uma ínfima esperança que possa recorrer a ela e não lhe faltar nenhum detalhe.
Inclina-se para lhe dar um leve beijo, quando acorda e o faz recuar.
- Harry. - ela olha para os lados. - Já chegamos?
Harry tenta conter o suspiro de frustação.
- Já. - avança um pouco para cima dela a fim de lhe abrir a porta. - Vamos. Os outros já estão lá.
Harry sai por último e fecha a porta do jipe. Vão andando lado a lado até o lugar que todos estão sentados. Antes de caminharem na areia, tiram seus sapatos e Harry consegue sentir a areia morna entre seus dedos. Tem um pouco de dificuldade de andar na areia de inicio, e ri do jeito desengonçado dele.
O céu começa a criar tons alaranjados, anunciando o sol que daqui a pouco surgirá no horizonte. As ondas batem fracas, reproduzindo um som que nenhum instrumento no mundo consegue fazer. É um som calmante, que geralmente acompanha reflexões mais profundas sobre a vida ou até mesmo somente uma escapulida no meio do intervalo de almoço no trabalho.
Ele e sentam em cima de uma toalha que trouxe e que todos estão dividindo. Há outras pessoas na praia, também esperando o por do sol. Um pouco mais a frente deles, um casal de adolescente abraçado. Um surfista está na margem com a sua prancha em mão, como se estivesse esperando algum sinal para poder entrar na água. O importante nisso tudo é que todos param para ver o pequeno espetáculo que é o nascer de mais um dia. Até mesmo algumas pessoas param seu caminho habitual para esperar esses poucos segundos.
Os primeiros raios de sol surgem pelo horizonte. O sol começa a aquecer aos poucos suas faces e o dia revela-se diferente bem na frente de seus olhos.
- É engraçado. - sussurra para ele. Pelo menos Harry acha que é para ele. - Eu acordo cedo todo dia, mas eu nunca parei para observar o nascer do sol.
- Isso é engraçado por quê? - Pergunta sem tirar os olhos do horizonte.
- Porque talvez esse momento não seria tão especial se eu o olhasse todos os dias. Se tornaria algo banal, comum.
- Eu não acho.
- Não?
- Não. Só por que você convive com algo todos os dias, não quer dizer que isso o torne menos especial. - Harry vira-se para olhá-la. - Às vezes se é sortudo o bastante em ver a mesma coisa todos os dias, e ainda assim acha-la especial como na primeira vez que pôs os olhos nela.
Pronto. Está aí. Aquela exposição de sentimento que faz Harry sentir-se incômodo por não ouvir nada de de volta. Aquele pânico por achar que ela não retribui o que ele sente por ela. Mas, surpreendentemente, dessa vez é diferente.
Depois de ouvir essas palavras e reconhecer o verdadeiro significado por detrás delas, lhe dá um sorriso que quase se equipara com o efeito que o sol tem de aquecê-lo. Sentada ao seu lado, com o sol terminado sua subida para o céu da manhã, lhe toca a bochecha e lentamente chega seu rosto perto do dele. Antes de suas bocas se tocarem, com só suas respirações se entrelaçando, lhe diz em uma voz baixa que espera que só ele possa ouvir:
- E certas coisas, apesar de não estarmos acostumadas com elas, se tornam importantes por motivos que não cabe à razão justificar.
E ela lhe dá aquele que é o seu sorriso favorito. O sorriso que parece iluminar tudo a sua volta, e ela não tem a mínima noção do efeito dele. Claro que ela não tem. Se tivesse, pensa Harry, ela não o usaria com tanta frequência se soubesse que faz o coração dele dar um passo em falso. Esse sorriso é o seu sol particular.
o beija docemente e respirar já não é uma prioridade, mas parece que os outros discordam disso.
A próxima coisa que sente é a desconexão com a boca dela e um Louis muito pesado em cima dele.
- Louis. - o chama como se tivesse falando um palavrão.
- Casal, casal... Não é legal se excluir do grupo.
- Porra, Louis. Sai de cima de mim.
Ignorando completamente o que Harry está dizendo, Louis vira-se para e fica em uma posição como se tivesse em uma cadeira de praia, não em cima do seu amigo.
- Olá, . Eu quase não a vi com a cabeleira do Harry aqui em cima de você.
cora antes de sorri para eles dois, levantar e ir atrás de .
Harry finalmente consegue se livrar de Louis, jogando-o para o lado.
- Obrigado, idiota.
- De nada, querido. Mas do que exatamente você está me agradecendo?
Harry revira os olhos para ele e senta na areia, abraçando suas pernas.
- Pensei que tínhamos um código para quando estivéssemos ficando com uma garota.
- Tínhamos?
- Sim. O código era: Não atrapalhar. - Harry dá ênfase em cada palavra. - Garotas são garotas.
- Mas ela não é qualquer garota, é? - Louis o olha com um olhar questionador, como se soubesse demais.
Harry pega um punhado de areia com a mão e joga com força para o nada.
- Estou na merda.
- É, está.
- Eu moro em Londres, e ela... Aqui.
- Já é difícil manter um relacionamento com as nossas agendas...
- Nós vamos entrar em uma turnê de oito meses.
- E você não pode simplesmente assumir um relacionamento com ela, ir para Londres e deixa-la sozinha com toda a má publicidade. - Louis olha solidário para o amigo. - Você sabe que isso acontece.
- Se as namoradas de vocês não tivessem uma pessoa para ajuda-las a lidar com toda a mídia... Não é qualquer pessoa que lida com uma pressão desse tipo. - Harry dá um riso sem graça. - É meio injusto, se você pensar bem. Se preocupar com mídia, pressão, fãs... Quando o maior dos meus problemas deveria ser qual é a hora certa de aprofundar o relacionamento sem ofender a garota.
- Acho que esse é o preço que se paga por estar realizando um sonho. Um sonho que poucos conseguem. - Louis dá os ombros. - E não pense que esse problema do sexo não existe. Nenhum cara, famoso ou não, está livre desse problema. Sinto em te dizer isso, amigo.
Eles passam alguns minutos em silêncio, apenas observando a paisagem à volta deles. Pensando em alguma solução mágica que possa ajudar Harry.
É Louis que quebra o silêncio.
- Mas ela vale à pena?
tinha lhe feito uma pergunta parecida há poucos dias atrás, mas ela tinha falado em relação a ele. Ela lhe tinha dito que ele valia a pena, que ele era uma boa opção. E ? vale a pena?
Olhando-a de longe, os cabelos longos ganhando tons de ruivo pela luz do sol, seu rosto iluminando-se quando a água gelada toca seus pés e como todo o corpo dela move-se, como se o mundo a sua volta girasse em torno dela. Tudo isso, todas as pequenas coisas que a faz ser quem ela é...
- Vale. Ela vale a pena.
Louis dá um tapinha amigo em seu ombro, reconfortando-o.
- Então, camarada, vocês vão encontrar o caminho no final.
Agora Harry tem que sorrir. Isso que ele precisa: ouvir palavras de esperanças pela voz de outra pessoa, não só a dele.
Harry está para levantar e ir atrás de , quando um grito agudo chama a atenção dele e de Louis.
- Oh meu Deus, Oh meu Deus! - a garota diz tudo junto, em um único fôlego. - Você é o...? E você o...? - ela está claramente tremendo.
- Meu Deus! - outra garota grita um pouco atrás da dessa. - Ali estão os outros. É One Direction!
E o caos se instala naquela praia, faltando pouco para dar 6h30min da manhã.
Capítulo 13
o está olhando com um sorriso no rosto quando ele termina de falar com as fãs.
- O que foi? - pergunta ao chegar perto dela.
Ela apenas balança a cabeça sem lhe responder de imediato. Harry deita a cabeça de lado, esperando a resposta dela. arregala os olhos e inclina a cabeça para ele, como se estivesse dizendo que a resposta é óbvia.
- Você está bem? - pergunta afinal.
- Estou. - levanta os braços e coloca as mãos atrás da cabeça. - Por quê?
- Você acabou de ser atacado por, pelo menos, umas dez garotas. - aponta para um ponto do lado de dentro do seu antebraço. - Está até com uma marca vermelha onde uma garota apertou com mais força.
- Marca de amor não doí.
revira os olhos para ele e lhe dá um leve soco no peito. Harry ri e põe a mão em cima de onde ela o atacou.
- Viu só? Não doeu.
- Posso fazer doer, se quiser.
- Tenho certeza que sim, love.
tem que se controlar para não soca-lo de novo, então apenas revira os olhos mais uma vez.
- Que coisa estranha é essa que você faz com os olhos?
- Que coisa? - Harry revira os olhos de modo engraçado, como uma imitação exagerada da careta dela. ri para ele. - Eu não faço assim.
- Sim, você faz. E normalmente é muito engraçado de se olhar porque seu rosto fica estranho quando faz isso. Então, sugiro que você pare.
levanta as sobrancelhas para ele e o olha com uma expressão petulante, desafiando a falar mais alguma coisa.
- Aí sim. - aponta para o rosto dela. - Essa expressão me assusta. Você pode usar essa.
Ela ainda fica mais um pouco mais o olhando desse jeito, só mudando sua expressão quando Harry circula sua cintura com um braço e a coloca mais próximo dele. Tem que se controlar para não ficar muito perto dela. Sabe que há algumas fãs da banda ainda por aí, e depois do pequeno tumulto que fizeram, todos estariam olhando na direção deles. Se tirassem uma foto deles juntos, já seria motivo para especulação...
Mas nada que não pudesse dar um jeito.
- Hey. - Harry vai desvencilhando o abraço na cintura dela para pegar sua mão. - Vamos dar uma volta?
concorda com a cabeça e Harry vai a levando até aonde as ondas acabam. Seus pés vão pisando na areia molhada, moldando o caminho percorrido por eles. O clima ainda está agradável, sem o calor forte de quando o sol está a pino. A brisa bagunça seus cabelos e quando Harry se dá por si está rindo, olhando para ele.
- O quê?
- Você está à própria imagem de um modelo em um catálogo de verão.
- E isso é ruim? - a cutuca com o ombro.
- É engraçado. - dá os ombros, como se não soubesse explicar. - Como na hora que você estava falando com aquelas garotas... É diferente te ver nessa perspectiva.
- Que perspectiva?
- Ah, nessa luz mais... Glamorosa? - sua reposta acaba saindo como uma pergunta no final, pois não sabe como responder de acordo com o que passa na sua cabeça.
- Glamorosa? Por acaso eu exalo purpurina?
O ronco, que na verdade é uma risada, que dá a faz parar de andar e Harry tem que voltar alguns passos para trás para ficar ao seu lado.
- O que foi?
- Nada. - ela balança as mãos para fazê-lo esquecer do assunto, ou talvez para se controlar e não rir mais. - Eu só te imaginei cheio de purpurina, como a globeleza.
- Quem?
sorri mais uma vez e volta a andar, com Harry ao seu lado.
- Esqueça. Você quer andar até o final da praia ou podemos ficar por aqui?
- Aqui está ótimo. - e cai na areia levando com ele.
solta um grito de susto ao cair por cima de Harry. Olhando para ele abaixo dela, seus rostos estão a poucos centímetros de se tocar. O olhar de vai se suavizando, ficando mais caloroso e Harry precisa gira-la de cima dele, quebrando a conexão que estavam criando.
Se ela está confusa com o que ele acabou de fazer, não demostra. Só dá um sorriso sem graça enquanto tenta tirar a areia do seu cabelo.
O cabelo dela reflete alguns tons de ruivo quando o sol bate neles, tornando-a uma visão mais agradável do que já é.
- Seu cabelo tem uma tonalidade diferente. De quem você puxou?
Ela desiste do seu cabelo e bate as mãos juntas para tirar o excesso de areia.
- Não sei. Meu pai tinha cabelo castanho, mas não ficava dessa cor no sol. - ela olha para frente, tentando se lembrar de algo. - Pelo menos eu acho.
- Mas quando eu era mais nova, eu vi uma foto da irmã do meu pai e ela parecia ter um cabelo parecido com o meu. Era o que dava para sugerir da foto, e também era o que meu pai dizia.
- Você tem uma tia?
- Sim. Chloe. Ela era mais nova do que meu pai. Fez gastronomia.
Simples assim. Ela expõe dados de um parente seu como se tivesse listando os conteúdos de sua lista de compras. Claramente, não há uma relação explorada na parte da família de seu pai.
- E sua mãe? Algum tio, tia?
- Não, não. Minha mãe foi filha única.
- Então, você não é daquelas pessoas que não tem família grande?
Ela olha para Harry como se ele estivesse perdendo alguma coisa.
- Minha família é só eu e minha mãe.
Condiz com o que a mãe dela tinha lhe relatado. A briga do pai de ter mudado sua vida por Helena, fez com que não tivesse construído nenhum laço com a família de seu pai. E a mãe não tem parentes próximos. A família dela era só o pai e a mãe, agora somente Helena. Talvez isso fosse uma das inúmeras explicações para sempre se retrair quando o assunto é família.
- E você? Tem família grande?
Harry dá os ombros.
- Normal, eu acho. Uma irmã, alguns primos. Nada demais.
- Mas os garotos, eles viraram sua família não é?
- Sim. - Harry sorri calmamente e deita na areia com os braços debaixo da cabeça. - Depois de tudo o que passamos, tudo o que dividimos, não tem como considerar eles menos do que irmãos.
- Tem sido um longo caminho desde que vocês começaram.
Ela não lhe perguntou, mas responde do mesmo modo.
- Sim.
Deitada ao seu lado, ela fica de barriga para baixo e descansa seu rosto em seus braços cruzados e o olha.
- O que foi?
Ela balança a cabeça para negar uma vez, mas para no meio do movimento.
- Surgiu uma dúvida minha... Mas deixa pra lá.
- Pergunte. - e sacode o braço dela levemente, para encoraja-la.
Demora um pouco até finalmente falar o que quer.
- Por que você veio para cá, para o Brasil? - Harry sente-se parar de respirar. - Quer dizer, eu sei que não foi para tirar férias. Quando ligaram para reservar o sítio, nos disseram que não seria uma estadia de férias, com o pacote completo que temos. Seria apenas descanso. E tivemos que deixar bem claro que o sítio era um lugar afastado e de difícil acesso.
Solta o ar que está prendendo em uma grande lufada. Senta-se e bagunça o cabelo, talvez tentando clarear a cabeça para achar um modo melhor de falar o que . Harry pensa que não seria de bom gosto falar: “Ah, por que eu estava de saco cheio do circo todo e resolvi dizer foda-se para todos e tudo”. Não, com certeza não seria de bom grado falar algo assim.
- Algumas coisas que eu andava fazendo, não eram bem vistas e causavam alguns problemas com a mídia. Dan, o representante da banda, achou melhor eu me “afastar” de tudo um pouco.
A maneira que o olha dá a entender a Harry que ela precisa de mais explicação do que isso.
- Não que eu fizesse algo extremamente errado ou ruim. - decide começar por aí. - Acontece que, por estar na posição que eu e os outros nos encontramos, temos um olhar constante de todos a nossa volta. Qualquer vacilo, qualquer coisa que julguem inadequada, pesa muito mais para nós do que para qualquer outro. Só pelo motivo que temos uma banda.
“Acontece que depois de algum tempo jogando o jogo deles, você se cansa. Parece que tudo na sua vida é controlado. O que fazer, o que dizer ou vestir. Era pior no início, mas agora nem tanto. Só que há pequenas coisas que ainda incomodam.”
- Tipo o quê?
- Por exemplo, um de nós está namorando uma garota que veio a uma de nossas festas. Ela foi convidada pela empresa que gerencia nossa imagem. Não me leva a mal, a garota é ótima e todos nós gostamos dela, mas por ela ter uma ligação com essa agência fica mais fácil para eles “administrarem” a relação deles.
“Nas festas que nós cinco vamos, sempre há garotas que estão ali a convite deles. Ou porque foram aprovadas e tem a reputação limpa ou porque são fãs, mas são reservadas ao mesmo tempo. Parece tudo muito sujo e frio se você olhar por fora, e... E é”.
- E isso te incomoda?
- Não vou dizer que é difícil, ou demasiado incomodo ter uma linda garota ali querendo conquistar sua atenção. - olha para para notar sua reação. - Mas eu, na verdade nós cinco, somos mais do que isso. Mais de quem iremos namorar ou o que vamos vestir em tal momento. E isso vem me incomodando de uma maneira absurda já algum tempo...
- Ócios do ofício, eu acho. - sorri solidária para Harry.
- É. - a encara com riso nos olhos. - Pareço ridículo reclamando disso, não é? Quer dizer, olha onde estou e aonde cheguei. Tudo o que conquistei até agora graças ao que me aconteceu. Parece um preço pequeno a se pagar, não?
- Não sei se concordo com a parte do “pequeno”, mas... Para tudo se tem um preço nessa vida. - levanta-se rapidamente e está sentada ao seu lado. - Você acabou enrolando e não me disse o que eu realmente queria saber.
- Tem razão. Respondi mais do que você merecia saber. - frisa bem cada palavra para irritá-la. Ela volta a olha-lo daquele modo que o intimida e ele ri para amenizar. - Ok. O que você quer saber mesmo? Prometo ser direto.
- O motivo de você ter vindo para cá.
- Fiz algo... Inadequado. - decide usar a palavra de antes. - Foi uma junção de coisas mal vistas atrás de outras, e essa foi à gota d’água para o Dan.
- O que você fez? - chega mais perto dele, seus olhos arregalados em expectativa.
- Eu saí com uma mulher que faz filmes pornôs.
A boca de se abre em um “o” perfeito.
- E aí?
- E aí o quê?
- O que aconteceu?
- Hm... Nada? - ri com a decepção estampada no rosto dela.
- Não acredito. Pensei que teria uma história para me contar.
- Não, só foi um ato de rebeldia. Sabia como isso pareceria para o Dan, mas não pensei que sairia nos jornais. Ingênuo, eu sei.
é a descrença em pessoa.
- E como ela era?
- A mulher? Ah, ela era legal. Muito simpática e meiga. Conhecia algumas músicas nossas.
- Não foi isso que eu estava perguntando, mas...
Agora é a vez de Harry parecer lívido com o que está dizendo.
- !
Os dois ficam rindo por um tempo até o celular de Harry começar a vibrar. Ele atende na segunda vez que toca.
- Sim?
- Harry. Aonde você se meteu, cara? - é Liam do outro lado da linha.
- Estou em algum lugar da praia com . Por quê?
- Hm... - ele se demora, pensando no que dizer. - Só volte para onde estávamos, ok? Temos que resolver algumas coisas. - e desliga.
Harry afasta o celular de perto do ouvido e olha preocupado para , que ainda está envolvida na nuvem de risos de há pouco.
- Estamos aqui. O que houve?
Todos estão reunidos em uma roda e ao chegarem, primeiro seus olhares passam por Harry para terminarem em . E ficam fixos nela.
- O que foi? - pergunta assustada com a atenção que lhe é depositada.
Liam é o primeiro a falar.
- É o Dan. Ele tem tentado entrar em contado conosco.
- Ok. - Harry fica um pouco apreensivo. - O que mais?
- E em vez de falar com a gente diretamente, ele ligou para o James.
- Espere um minuto. Por que ele queria falar com a gente, em primeiro lugar?
Liam e Louis trocam um olhar. É Louis que o responde.
- As fãs de hoje. As fotos que elas tiraram... Já foram para na internet e estamos sumidos por uma semana...
- Pensei que era o trabalho do Dan dar uma desculpa para o nosso sumiço.
- É, mas depois das fotos as desculpas dele foram para o espaço.
- Tudo bem. Então, ele quer falar sobre termos tirado as fotos? Eu sei que erámos para estarmos “escondidos”, mas negar tirar uma foto é tão...
- Não é isso, Harry. - Liam o interrompe. - Quando Dan falou com James, ele foi chamar a gente e viu que não estávamos no sítio. Isso por si só já é motivo para o Dan começar a afrouxar a gravata dele, mas aí vieram às outras fotos.
- Que outras fotos?
O olhar de Liam desloca-se para .
- Algumas de você e .
Nessa hora, se manifesta dando um passo a frente, ficando no meio do grupo.
- Como assim? Fotos minhas? Por quê?
- Você está andando com One Direction, amiga. - lembra .
- E o que isso tem de tão ruim? - e demora só alguns segundos antes de Harry responder sua própria pergunta. - Ah, droga. Eles pensam que e eu...
- Sim. - é a vez de Niall se manifestar. - E soma isso ao fato que desaparecemos do radar sem avisar para ninguém aonde iriamos.
- A primeira foto que aparece é de você junto com uma garota em uma praia. Os dois sozinhos, tendo um “momento”. - à medida que fala, a voz de Louis ganha cada vez mais um tom dramático.
Harry solta um palavrão enquanto passa as mãos pelo cabelo. vira-se para olha-lo e volta a ficar ao seu lado, seu rosto leva uma carranca apreensiva.
- O que isso quer dizer?
- Quer dizer - responde a mais uma vez. - que todo mundo está maluco para saber quem é a garota que está com Harry Styles.
- E que há inúmeras suposições circulando por aí. - Liam complementa.
- E quer dizer que estão perguntando se você é minha nova namorada ou não. Se somos sérios ou não. E... - Harry termina de juntar tudo o que lhe foi falado, compreendendo todo o quadro da situação. - Se por acaso você é a razão de eu ter vindo para cá. E se for, por que esconder de todo mundo.
- Uau. - isso é tudo que escapa da boca de .
- Isso vai dar um trabalho gigantesco para Dan explicar. - Zayn comenta.
- Por isso que ele está que nem um louco tentando falar com a gente. - Liam checa seu celular mais uma vez. - James pediu para que esperássemos aqui. Ele e o Peter estão vindo para cá.
Todos ficam em silêncio por um minuto. vira-se para Niall e eles se comunicam por olhares, trocando um olhar sofrido com ele. Finalmente, ele concorda com qualquer coisa que estivesse lhe perguntando silenciosamente e limpa a garganta antes de falar.
- Tem mais uma coisa.
Harry e levantam a cabeça para olhar para ele. Sem perceber, o resto deles procura olhar para qualquer outro lugar, menos para os dois.
- O quê? - parece adivinhar que é com ela, pois se adianta ao falar.
- ... - fica frente a frente com ela e lhe segura às mãos. - É a sua mãe.
A expressão de desaba na frente de Harry.
- O que aconteceu?
- Ela está no hospital.
Capítulo 14 - Porque na escuridão somos mais que amigos
- Ela vai ficar bem, cara. - a voz de Niall chega até Harry, mas ele está a muito perdido em pensamentos para poder responder. Por isso, só confirma com a cabeça e continua olhando a paisagem campestre passar por ele.
Tinham ido embora da praia já algum tempo, e no jipe e eles nos SUVs com os seguranças. Elas tinham saído bem à frente, o jipe desaparecendo da sua vista aos poucos até não poder vê-las mais.
Quando ficou sabendo que sua mãe estava no hospital, as duas foram diretamente para onde Helena estava. ficou tão abalada com essa notícia que nem se despediu direito dele, na verdade de nenhum deles. Claro que não era realmente uma despedida, mas... Algo diz a ele que é algo próximo a isso.
Por isso, que quando chegaram ao sítio, elas ainda não tinham voltado e Harry duvida que elas fossem chegar logo. Para Harry e os outros, o que virá agora será uma sucessão de diálogos que só serviram para deixa-los mais estressados. Poderia estar agora com , mas foi lhe dado instruções para voltar diretamente para o sítio. E é isso que ele fez, mesmo querendo dar as costas para tudo e acompanhar .
O primeiro a se atirar ao sofá é Louis, Niall logo repete o mesmo gesto que ele e Liam senta tranquilamente ao lado deles. Em uma cadeira ao lado deles está Harry e no chão aos seus pés está Zayn, abraçando as pernas. James está irritado falando ao celular. Harry sente-se culpado por ter colocado ele e Peter nessa situação.
James termina de falar e indica com a cabeça o celular, apertando logo em seguida o viva voz.
- Dan quer falar com vocês.
- Desembucha, Danny. - Louis fala em uma voz monótona, olhando para as unhas em total sinal de desinteresse, mesmo que Dan não pudesse ver.
Como sempre acontece nessas situações, Dan começa com um palavrão antes de qualquer coisa:
- Vocês podem me explicar o que diabos aconteceu com vocês? Fugir do sítio? - ele frisa bem a palavra “fugir”. - Estão malucos?
- Nós não fugimos... - Zayn começa, mas é interrompido pela voz estridente que sai do telefone.
- Pelas minhas definições, sair escondido pela madrugada a fora é fugir.
Zayn revira os olhos e Harry nota que esse gesto não é tão bonito e adorável quanto quando faz.
- E ainda tiraram fotos? - Dan continua. - Pensei que tinha dito a vocês que seriam duas semanas que vocês deveriam passar despercebidos, sem ninguém sequer sonhar que vocês estão no Brasil.
- Foi mal. - Niall desculpa-se.
- Você sabe que nunca recusamos quando alguém quer tirar foto conosco. - Harry comenta. - Não fazemos isso.
- Ok, mas vocês não precisariam recursar se... - Dan solta um suspiro cansado. - Tudo bem, tudo bem. Os estragos já foram feitos. Não adianta discutir isso.
- Qual o tamanho dos estragos? - Liam se manifesta pela primeira vez.
- Deixe-me ver... - Dan para por uns segundos para dar um tom mais dramático a tudo que tiver que falar. - A situação já não estava nada boa com vocês sem dar as caras por esses dias, mas tudo controlável. Postamos algumas coisas nos perfis de vocês no twitter, como se estivessem aproveitando as férias com a família ou algo parecido.
Harry se mexe desconfortável na cadeira. Aquela manipulação toda o irrita, mas entende que é necessário às vezes.
- O que mais... - Dan prossegue. - Ah é. Aí vocês resolvem me aparecer uma das praias mais famosas do Rio de Janeiro. Algumas garotas os viram e tiraram fotos com vocês, indo parar imediatamente na internet. Foi questão de poucas horas até tudo chegar a nós para tentarmos arrumar isso.
Todos os que estão na sala olham para Harry, sabendo o que virá a seguir. Ele também sabe, e encolhe-se minimamente no assento ao se preparar para aquilo que Dan irá despejar nele.
- E como se tudo não fosse ficar pior, é mandado a nós fotos do senhor Harry Styles deitado na areia com uma morena em seus braços. Falando nisso, quem é essa garota?
Ninguém responde de imediato. A voz de Harry soa como uma faca cortando o silêncio, que tinha ficado quase palpável no intervalo em que Dan parou de falar.
- ... , ela é uma amiga que fizemos por aqui.
- Amiga, é? - Dan solta um som de escarnio. - Sei. Ela vai nos arrumar problemas futuros? Com essa exposição que vai ter com as notícias que vão sair sobre ela...
- Não. - Harry senta-se mais a beirada do seu assento, seus cotovelos apoiados em seus joelhos e suas mãos entrelaçadas uma nas outras. - Mas que história é essa sobre exposição? Nós não vamos manter a identidade dela em segredo?
- Nós estamos fazendo o possível, Harry, mas vai ser difícil. Hoje em dia eles descobrem tudo, se já não sabem que ela é.
- Mas não há nada que possamos fazer? Ela não merece todo o lixo que vão jogar nela. - olha para seus amigos a sua volta, tentando conseguir o apoio deles.
- Ela é completamente invisível para eles. Não tem qualquer conexão com a internet, nenhum perfil em redes sociais, vive aqui nesse sítio isolado. - a dura realidade das coisas que Liam ia falando para Dan toca Harry, mas que precisam ser ditas. - Não deve ser difícil manter quem ela é em segredo.
A voz de Dan fica fraca por um minuto. Talvez ele tenha se distanciado e esteja falando com alguém.
- Ok. Nós podemos fazer isso, mas precisamos saber quem ela é. Só assim para tentarmos abafar as coisas.
Harry concorda:
- Tudo bem.
- Eu vou pedir para James conseguir o máximo de informação dela. Acho que podemos conseguir.
- Obrigado. - e Harry se sente realmente grato.
- Agora podemos ir para o que interessa a vocês?
- Manda. - Zayn fala.
- Vocês precisam ir embora o mais rápido possível. - ele é direto aonde quer chegar.
- O quão rápido? Só teríamos mais três dias, de qualquer forma. - Louis lembra olhando para Harry, sabendo o que se passa na cabeça dele.
- Rápido tipo amanhã de manhã. - o peso das suas palavras paira na sala. - Não conseguimos um horário para vocês ainda hoje, mas vocês vão amanhã no voo das nove horas da manhã.
- Mas para quê essa pressa toda? O que são mais três dias?
- Para vocês agora? Muita coisa. James e Peter se certificaram que não fossem seguidos ao retornar, mas não podemos dar certeza. E se alguém seguiu vocês e descobriram onde estavam? - a respiração de Dan fica cada vez mais rápida. - Além do mais, não vai demorar muito até que descubram. Isso está fora do nosso controle, por isso que vocês têm que sair daí amanhã mesmo.
Harry coloca as mãos na cabeça e solta demoradamente o ar antes de se levantar e ir para qualquer outro lugar que não fosse ali.
- O que houve? - Dan pergunta quando escuta o barulho da saída de Harry.
- Nada. - Louis acoberta o amigo. - Pode continuar.
Quando Louis encontra Harry mais tarde depois de conversar e ajeitar tudo com Dan pelo telefone, ele está sentado na rede da varanda. Está quase perto da hora do almoço e ainda não tinha voltado. O céu acima dele está de um azul celeste, sem quase nenhuma nuvem e com o sol queimando suas cabeças. Um tempo totalmente diferente de mais cedo que até parece que é outro dia.
Louis senta-se ao seu lado e a rede balança um pouco, fazendo com que os pés de Harry arrastem-se acompanhando o movimento.
- O que decidiram? - Harry pergunta antes mesmo que Louis pudesse dizer alguma coisa.
- Nada de novo desde que você saiu de lá. - dá os ombros. - Vamos amanhã no horário combinado, saímos daqui as seis da manhã. Já vi a merda que vai ser acordar depois desse tempo todo sem hora para acordar.
- Então o Dan não se convenceu a deixar a gente ficar os dias restantes?
Apesar de estar olhando fixamente para o chão, Harry sente o peso do olhar de Louis nele.
- Não. Ele disse que é arriscado e não beneficiaria em nada a nós agora. - Harry solta um arquejo desanimado. - É. Eu sei.
- Eu só gostaria de ficar mais alguns dias. - Harry desabafa. - Louis, a mãe dela está no hospital... Ela precisa de alguém que esteja lá para ela.
- Tenho certeza que ela deve ter alguém para isso. Não é algo que você tenha que se preocupar, Harry. Não é sua responsabilidade.
Louis tem razão. Não é uma responsabilidade, porque isso dá a impressão que é algo que ele faria obrigado ou por algum instinto de dever. A verdade não é essa. Gosta de ajudar de alguma maneira . Gosta do pensamento que, em um momento que ela precise, ela venha falar com ele. Mas ele está falando de , e ela é... Forte, pelo menos é o que ela gosta que todos pensassem dela.
- Não é uma questão de responsabilidade, Louis. É só...
- Você gosta dela e quer estar com ela. - termina de falar para Harry.
- É. - e sente todo seu corpo relaxar ao admitir o que seus pensamentos estão discorrendo já algum tempo. - E ela não tem mais ninguém com quem possa contar. São só ela e a mãe.
Louis arregala os olhos e solta o ar devagar, surpreso e comovido com a revelação sobre .
- Eu sei o que você quer ouvir, Harry, mas...
- Tudo bem. - Harry coloca sua mão sobre o ombro dele, impedindo-o de continuar. - Eu sei.
Louis sorri sem-graça, sem saber mais o que fazer e levanta.
- Nós vamos comer alguma coisa agora. Você vem?
Harry diz que sim. Não há nenhum bem em ficar aqui se remoendo. O que resta fazer é esperar chegar e aproveitar o tempo que lhes resta juntos.
Já passa das seis da tarde. Sentado nos degraus da varanda da frente, Harry está batendo ritmicamente a ponta do seu sapato enquanto espera voltar. Seus olhos estão fixos na estrada de terra, na curva onde se tem o primeiro relance de qualquer um que esteja vindo para o sítio. A noite está muito escura, mas por estar ansioso, sua visão parece captar qualquer mínimo movimento.
Reconhece o jipe de virando a curva. Harry rapidamente levanta e coloca as mãos nos bolsos da frente de sua calça. O jipe faz o seu caminho e para um pouco afastado da casa. Passa alguns minutos e ninguém sai de dentro do carro. Harry começa a ficar preocupado e está para se adiantar, quando a porta do carona abre e sai do carro. Caminha até os degraus e para um pouco antes de chegar. Vira-se e acena para que está manobrando para ir embora. Quando desaparece da sua vista, está com uma mão no corrimão quando Harry move-se e chama sua atenção.
- Ai, Harry, é você. Que susto! Não te vi aí.
- Como está sua mãe? - sem poder controlar-se, já está com o rosto de entre suas mãos. Abaixa-se um pouco para seus olhos ficarem na altura dos dela.
- Ela vai passar a noite em observação no hospital. - ela parece amolecer entre suas mãos. Sua postura relaxa. - Fiquei até agora lá porque esperei ela dormir para vir embora.
- Você vai voltar, para ficar com ela? - Harry já está pensando nas possibilidades, em como convencer James a deixa-lo ficar com ela essa noite.
- Não. Eles não deixam acompanhantes menores de dezoito anos passarem a noite. Marina está indo para lá. Ela disse que não se importava, e eu estarei lá no primeiro horário para visitas de manhã.
Ela parece abalada e exausta. Harry pega a mão de e começa a andar, levando-a consigo. - Vem, vamos entrar. Você precisa comer alguma coisa.
- Não tenho fome. - o som de seus pés pesados ecoa a cada subida de degrau.
Harry suspira frustrado, mas decide não forçar.
- Ok, então o que você quer fazer?
- Deitar. - seus ombros caem um pouco para enfatizar seu cansaço. - Preciso deitar.
E vai para seu quarto, mas quando vê que Harry não a está seguindo volta alguns passos e o puxa pelo braço. Ao entrarem no quarto de , seus olhos vão diretamente para onde é a cama de Helena. Sem deixar muito tempo para qualquer um deles falar algo, senta pesadamente na cama primeiro para depois se jogar com os braços abertos. Harry sorri para a figura espalhada na cama e deixa seus olhos percorrem pelo quarto.
É um quarto bem simples. Duas camas com colchas brancas com detalhes em rosa em um canto, e no outro uma penteadeira e um armário simples. Ao lado da penteadeira, um quadro de avisos está cheio de coisas penduradas. Fotos, e uma delas é de mais nova com a mãe e o que Harry acredita ser o pai dela, alguns avisos de escola e um pôster que chama sua atenção. É um pôster simples com a imagem de uma construção antiga, mas bem preservada, e com o brasão e nome da Royal Holloway estampado em um canto.
- Por que você tem um pôster da Universidade de Londres?
- O quê? - pergunta com uma voz sonolenta.
- Royal Holloway, universidade de Londres. Esse pôster. - e apontando para ele, vira-se para ver primeiro sentando na cama para depois vir ao seu lado.
- Foi a faculdade que meu pai fez.
- Seu pai fez faculdade em Londres? Mas ele não vivia na América até ele vir para o Brasil?
- Como você sabe que ele era americano?
Todo o sangue escapa do rosto de Harry ao lembrar que não foi que tinha lhe dito que o pai era americano, e sim a mãe dela. Engole em seco.
- Hã... Você me disse, não?
- Disse?
- Disse.
pensa por algum tempo e parece aceitar a pequena mentira dele.
- A família do meu pai é bastante tradicional. É uma daquelas famílias antigas, sabe? Com dinheiro e tudo, sempre achando que sabem mais que todos e tudo. Sempre achando que só por que eles têm nome e algum dinheiro podem nomear-se donos do mundo. - ela entorta a boca em sinal de desgosto. - E pelo o que meu pai falava, ele também era assim antes de ir para Holloway.
“Fazia parte da tradição de sua família todos irem para Royal Holloway fazer seus cursos. Mas não qualquer curso, claro. Economia, Direito ou algo equivalente “importante”. Meu pai começou fazendo Direito, mas ele disse que conviver com tantas pessoas que não faziam parte do seu “mundo” serviu para lhe abrir os olhos”.
parece tão imersa na sua história, contando os fatos como se ela mesma os tivesse vivido. Dá para perceber em seu tom de voz uma devoção quase cega, ou um carinho tão grande, que Harry pensa que se saísse agora do quarto ela ainda continuaria falando nem que fosse para si mesma.
- Meu pai recebeu um choque, foi sacudido pela realidade. Viu que seus valores estavam todos errados, seu comportamento era desrespeitoso com os outros que não aqueles no mesmo “nível” que sua família e que tudo que sabia não condizia com a realidade. - sorri ao lembrar-se das palavras do pai. - Ele me disse que foi na Holloway que teve o maior conflito da sua vida entre quem ele era e quem ele gostaria de ser. Todo mundo passa isso em algum momento na vida, mas ele disse que se não tivesse ido para essa faculdade, quem ele gostaria de ser nunca teria se transformando em quem ele viria a ser. Em quem ele foi para mim.
- Você disse que ele começou fazendo “Direito”?
- Sim. Depois que ele viu que não era isso que queria, e sim o que sua família esperava dele, meu pai trancou a faculdade por um ano e foi encontrar aquilo que o tocasse, que o motivasse. Nem preciso dizer que a família do meu pai ficou louca, mas nesse ponto ele já tinha resolvido quem ele era há algum tempo. Quando voltou para a faculdade, ele trocou o curso de Direito pelo curso de Literatura.
- Uau. Isso é bem... Diferente de Direito.
- Sim. - ri. - Mas foi a melhor decisão que ele fez, porque ele conseguiu se libertar das amarras da família dele.
- E você tem esse pôster por causa do que ele representa?
- É. Por isso e por que é meu sonho fazer minha faculdade lá. - vira-se para ficar cara a cara com Harry. - Eu cresci ouvindo essa história do meu pai. Ele sempre me falava: Não deixe que alguém te diga como deve viver sua vida. E se a Holloway foi uma das grandes responsáveis por ter tornado meu pai o homem que conheci, então é o lugar em que quero estar.
O peito de Harry se incha inexplicavelmente de orgulho por essa garota. Todas as suas ideias, o modo como pensa e os valores que carrega para si o preenche de felicidade não só por estar gostando dela, mas por ter dito o privilégio de ter conhecido alguém assim.
E isso o lembra...
Odeia-se por ter que estragar o clima tão camarada que ela criou.
- , eu preciso lhe dizer algo.
- Até que fim. Pensei que só eu que iria ficar falando. - ela ri, mas Harry não a acompanha dessa vez. - O que houve?
- Se lembra de hoje mais cedo, na praia? - Harry caminha com até sentarem na cama.
- Claro.
- E lembra-se daquelas garotas que tiraram foto com a gente? Então, essas fotos circularam e criam um problema para nós.
- Um problema? Que tipo de problema?
- Nada a ver com você. - Harry garante a ela. - Mas você sabe que não deveríamos sair do sítio, que nossa passagem pelo Brasil deveria passar despercebida. O Dan ficou maluco e ele... Quer que a gente vá embora. Amanhã.
- Amanhã? - arregala os olhos. - Por quê?
- Ele disse que é arriscado ficarmos mais os dias que ainda tínhamos para ficar. Podemos gerar uma situação complicada se ficarmos, tanto para a gente quanto para vocês do sítio. Muita gente está querendo saber onde estivemos esse tempo todo e é só questão de tempo até descobrirem. E quando descobrirem... Bom, o sítio vai ficar um lugar insuportável.
Os olhos de descem de seu rosto para olharem o colo dela, evitando seus olhos. Ela fica quieta por longos segundos até que Harry decide falar alguma coisa.
- , eu não quero que você pense que...
Mas ele não consegue completar o que está falando. toma conta de sua boca de repente em um delicado beijo. Dura pouco tempo, mas é o suficiente para deixa-lo atordoado, tanto pela surpresa do ato quanto pela atitude dela.
- Eu não estou pensando em nada. - ela fala quando termina de beijá-lo. - Somente em quantas poucas horas a gente tem.
- Você quer falar sobre sua mãe? - pergunta preocupado com ter que lidar com tudo sozinha.
- Não, agora não. Agora eu quero... Só... - e vai se aproximando do rosto de Harry de novo, beijando-o dessa vez com uma profundidade diferente.
A noite avança ainda mais. Passaram todo o tempo conversando sobre tudo que ainda não tinham falado, e até de coisas que já conversaram e que foram revistas de novo. Começaram sentados uns do lado do outro, depois ficaram frente a frente e terminaram deitados, seus rostos a centímetros do rosto do outro. Quando ficam sem saber o que falar, o silêncio é preenchido com o toque de seus lábios até que um novo assunto apareça.
está terminando sua explicação sobre o estado da sua mãe, quando Harry percebe o quão tarde está.
- As dores de cabeça não são frequentes, por isso que quando elas aparecem são sempre fortes e seguidas de tonteiras e enjoo.
- E isso começou antes de descobrirem a doença do seu pai?
- Sim. E quando descobrimos que meu pai estava com câncer, ela parou de investigar o que tinha para se concentrar no meu pai. Depois que meu pai morreu, demorou algum tempo para as dores de cabeça voltarem, mas quando veio foi... Horrível. - ela para de falar para engolir em seco. - A gente não estava morando no sítio ainda. E quando ela resolveu sair de onde estávamos eu reclamei para que continuássemos ali. Não por mim, mas por ela.
- Mas eu não entendo. Você disse que a família do seu pai tem dinheiro... Por que eles não ajudam você e a sua mãe?
O sorriso que dá é amargo e cheio de uma raiva contida.
- A mãe do meu pai nutre certa raiva pela minha mãe por ter “levado” seu filho para longe dela. Minha mãe até tentou uma aproximação, principalmente quando eu nasci, mas aquela mulher é tão implacável. Cabeça dura, não muda de ideia, está com as suas cismas enfiadas até o seu último fio de cabelo.
- Ela não quis conhecer a própria neta. - sussurra com medo de deixar suas emoções transbordarem pela sua voz. - Sabe o que isso diz de uma pessoa? E quando meu pai morreu... Eu não lembro muito bem. Só lembro-me de ver duas mulheres, as duas com uma pose altiva, separadas de todo mundo no enterro. Não falaram com ninguém, e não aceitaram os pêsames ou conforto de ninguém também.
- E seu avô?
- Eu nunca soube muito dele. Ele se separou da família quando meu pai ainda era criança. Não sei muito sobre ele, a não ser o nome que é o mesmo que do meu pai. Jason .
- Seu sobrenome é ?
- Sim. .
Harry desvia a atenção do rosto de para a janela aberta acima do seu corpo.
- Já é tarde. É melhor eu ir.
Ele levanta e quando está se ajeitando para sair do quarto segura sua mão, fazendo-o virar para ela ainda deitada.
- O que você acha... O que você acha de... - ela está insegura.
- De o quê?
respira fundo antes de falar:
- Se essa noite é tudo que tivermos... Fique.
Capítulo 15
Harry não quer abrir os olhos. Ele está semiconsciente, entre a realidade e o sonho. Consegue sentir seu corpo, mas parece que ele está flutuando em nuvens. Tenta ficar com os olhos fechados por mais tempo, a fim de aproveitar essa sensação boa, mas dura pouco. Sua consciência vai voltando gradativamente e logo consegue perceber tudo a sua volta: A cama estranha em comparação a sua que está acostumado há duas semanas, o sol batendo no lado errado do rosto e .
não está ali com ele na cama.
Abre os olhos só para se deparar com o rosto de Liam muito próximo ao seu. Arregala os olhos e se afasta o mais rápido possível dele.
- Mas que merda, Liam.
- Bom dia, raio de sol.
- O que você quer? - responde mal humorado, enquanto vasculha com os olhos o quarto em busca de .
- Temos que ir embora hoje, se lembra?
Harry pressiona os olhos com as palmas das mãos.
- Lembro.
Liam fica sem dizer nada até que não se aguenta e pergunta:
- O que você está fazendo aqui, afinal? Por acaso, passou a noite aqui? - Harry o olha como se ele estivesse perdendo algo óbvio e Liam se toca. - Ah...
- Nada de “Ah”, Liam. Não aconteceu nada, só conversamos.
- Entendo.
- Estou falando sério. - reforça o que disse.
- E eu também. não parece ser o tipo de garota que, só porque você vai embora, vai convidar você para a cama dela. - Liam às vezes é tão formal. - O que vocês ficaram conversando?
Harry senta devagar na cama e olha para os lados. Lembra-se da última conversa que tiveram antes de dormir, logo depois que ela lhe pediu para ficar.
- Me diga um segredo seu. - ela tinha falado, quebrando um silêncio confortável.
- Não vai parar com isso até saber todos os meus segredos? - apenas sorriu e esperou a resposta dele. - Mais um segredo... Sua cama é bem mais confortável que a minha.
- Isso não é bem um segredo. - ela riu.
- Para mim era. - ele a acompanhou rindo. - Sua vez.
ficou séria.
- Eu não queria que você fosse embora amanhã. Queria os nossos três dias a mais.
- Você acha que mais três dias mudariam alguma coisa?
- Eu não sei, e é justamente por isso. Eu odeio não saber.
Seus corações batem iguais mais duas vezes até Harry voltar a falar:
- Eu acho que estou me apaixonando por você. - era a vez de Harry contar um segredo, mas tinha dito sem pensar e na mesma hora sentiu o corpo de ficar rígido com a sua confissão.
- Isso só complica as coisas.
- Pensei que já fossem complicadas.
Deitada com a cabeça apoiada em seu peito, levantou a cabeça para olha-lo. Ela não disse nada, mas conseguiu ver o medo e a insegurança refletidos em seus olhos. Apesar de tudo, ela tem medo de admitir seus sentimentos por ele.
Voltando ao presente, Harry olha para Liam ao lado dele.
- Nada demais. O que sempre falamos.
- E como ela reagiu quando você contou que iria embora hoje?
- Bem. - Harry sorri ao lembrar-se do beijo inesperado que ela lhe deu.
- Ela é uma garota legal e esperta, Harry. Ela sabe que isso um dia teria que acabar.
Harry observa os passos de Liam quando ele sai do quarto, suas palavras ecoando em sua cabeça.
Tem que haver um final?
Parece que o Rio está se despedindo dele da mesma maneira que o cumprimentou da primeira vez. O sol queima sua cabeça, mesmo com o chapéu que está usando. O céu está tão limpo como das outras vezes e Harry tenta gravar em como o dia aqui parece mais brilhante, mais bonito.
- Harry, ela não vai aparecer. Vamos embora. - Zayn grita de dentro de um dos carros.
Harry está parado a alguns centímetros da casa olhando para tudo a sua volta, buscando algum sinal de . Uma mecha ruiva ao sol, uma perna descendo de uma árvore, um vestido branco contra o vento... Qualquer coisa. Ela não pode o deixar ir sem falar com ele, pode? Então tudo o que eles falaram ontem, o pedido dela para Harry dormir ao seu lado foi uma despedida? Harry não sabe como se sentir em relação a isso.
- Harry. - dessa vez mais vozes se misturam ao pedido de Zayn.
Ele desiste. não vai querer se despedir dele. Talvez ela esteja certa, é melhor desse jeito. Por que se torturar com algo que não podem mudar? Com isso, ela deixa bem claro que não quer que qualquer coisa que eles desenvolveram nessas duas semanas siga em frente. Tudo bem, ele pode respeitar isso.
- Harry! - uma voz grita bem ao fundo, mas ele consegue escutar.
Graças a Deus, pensa.
- ... - ela está correndo, tentando alcança-lo. Quando está perto, se joga para ele e o abraça.
- Harry. Desculpa, desculpa. - sua voz sai abafada por estar com o rosto enterrado em seu peito. - Não acredito que quase deixei você ir sem te abraçar uma última vez.
- Está tudo bem. - afasta-se um pouco só para colocar o rosto dela entre suas mãos. Ela sorri de um modo adorável e só resta a Harry imitar o gesto. - Oi.
- Oi.
- Então é isso.
- Acho que sim. - sua respiração é pesada por causa da corrida.
- Isso é mais difícil do que eu pensava. - Harry admite.
- Deve ser por que você gosta de mim...
- Deve ser. - ri.
- Sei exatamente como se sente.
E os dois se beijam no que ambos gostariam que fosse por mais tempo do que lhe foi dado. Duas semanas são o suficiente para alguém se apaixonar? Talvez, mas quem sabe alguma coisa relacionada aos assuntos do coração? O importante é se deixar levar, deixar que o amor alimente suas esperanças e o desejo de um futuro. Porque para amantes, tudo o que resta é o desejo e a esperança. E isso basta.
- Tenho que te dar uma coisa. - Harry fala depois que terminam de se beijar.
- Me dar? O quê? - ele leva as mãos para trás da nunca e desamarra o cordão que leva ali. - O que está fazendo?
- Esse cordão foi dado a mim por alguém muito especial. - coloca o pingente na palma da mão aberta. - É uma cruz. Quando foi me dado, a pessoa me disse que serviria como um símbolo de proteção para tudo o que ainda estava por vir na minha vida. E eu quero dar agora para você.
- Harry... Não posso aceitar.
- Claro que pode. - a faz virar para poder colocar o cordão nela. - Além de servir como algo para te dar proteção, também servirá como um pequeno lembrete de mim.
volta para olha-lo nos olhos.
- Como se eu precisasse de algo para me fazer lembrar de você.
Harry fica observando cada detalhe do rosto de , tentando memoriza-lo. Seu coração se despedaça um pouco em ter que deixa-la.
- Isso não é um adeus. - Harry garante a ela.
- Claro que não. - passa as pontas dos seus dedos pela face de Harry. - É só um até logo.
Alguns meses depois...
Está a mais de meia hora olhando o cartão em sua mão. O papel é de cor marfim, quadrado, pequeno e levemente riscado. Fica virando o cartão nos seus dois lados. Em um lado, há uma linha simples com algumas palavras em tinta preta e letra cursiva. Sua letra, suas palavras.
Passa a língua nos lábios em sinal de nervosismo. Não deve ficar nervoso com um pedaço de papel. O que está para fazer agora é muito mais preocupante do que isso. Não tem por que ficar nervoso. É só um pedaço de papel, repete para si mesmo.
- Harry?
Vira-se em direção ao som do seu nome.
- Nós estamos prontos para o show. - uma pessoa do backstage o alerta. - Você está pronto?
Balança a cabeça uma vez concordando. Pega o pequeno pedaço de papel, o coloca em um envelope e o estende para a pessoa. - Você pode entregar isso para Rose? Ela sabe o que fazer com isso.
Agradece e sai em direção pelo longo corredor em direção ao local em que todos estão concentrados. Anda dando pulos, sacudindo seus braços para aliviar a tensão. Treina a garganta um pouco e testa seus alcances vocais. Dá um último suspiro antes de virar no último corredor e encontrar todos reunidos.
- Já não era sem tempo. - Dan é o primeiro a falar. Como sempre. - Vamos, garotos. Vamos fazer mais um ótimo show. - e sai batendo palmas.
Ele e os outros se reúnem em um circulo. Cada um olha para o rosto já muito conhecido do outro.
- Mais um grande show. - Louis comenta, imitando o jeito do Dan.
- Na contagem. Um... - Liam estende sua mão para o meio, com a palma aberta virada para baixo.
- Dois... - é a vez de Niall.
- Três... - Louis.
- Quatro... - Zayn.
E por último, Harry:
- Cinco.
Com todas as mãos juntas, as balançam mais cinco vezes antes de as retirarem para cima. Terminam de ajeitar seus microfones e retornos.
A banda começa a tocar a introdução. Vão para seus lugares, esperando a deixa para entrarem. A segunda virada da bateria anuncia que é a vez deles. Liam começa cantando e logo todos eles entram atrás. Luzes os cegam, mas é só questão de se acostumarem.
Uma coisa que sempre os deixa com frio na barriga e com o coração na boca é ouvir o grito crescente quando eles aparecem. A adrenalina sobe e todas suas preocupações somem, restando só aquilo. Só esse momento.
- Eu espero que essa esteja sendo uma noite maravilhosa para vocês. - Liam, sempre muito educado. Gritos por todos os lados. - Porque, para nós, está sendo uma noite espetacular. Tudo graças a vocês.
Mais gritos.
- Sim, vocês são uma plateia maravilhosa. - Niall chega acompanhando Liam. - Me deixe ouvir vocês gritarem mais uma vez.
Não que ele precisasse pedir isso. Gritos, gritos e mais gritos. Harry sorri com a excitação da plateia, não conseguindo não se contagiar com toda aquela energia emanando para eles.
- E por serem uma plateia maravilhosa, você merecem algo especial.
Gritos.
- Vocês querem escutar nossa mais nova música que estará no nosso próximo álbum? - sem que Niall pudesse terminar de falar, sua voz fica fraca em comparação a todas aquelas vozes no estádio.
Mas que música é essa que Niall está falando? Eles têm algumas, mas nada que esteja pronto. Algumas letras, alguma melodia tirada do violão... Nada circunstancial. Do que ele está falando?
- Essa música foi escrita por um dos nossos garotos. Harry pode vir aqui, por favor?
Mesmo sem olhar, Harry consegue perceber como sua cara deve estar nos telões. A própria face do susto. Quase automaticamente, levanta-se e vai até o lado de Niall. Liam volta e senta-se onde Harry estava. Os outros não estão muito longe, todos sentados espalhados pela escada.
- O que está tramando, Niall? - chega perto dele e coloca a mão nas suas costas.
- Acho que o mundo precisa saber do seu talento, garoto. Deus sabe que você ainda não teve uma chance. - e solta uma daquelas risadas típicas dele.
Revira os olhos, mas tem um sorriso no rosto.
- Niall...
- Ok, Ok. Sem mais delongas... Senhoras e senhores, Harry Styles. - antes de sair com um grande gesto, deixando Harry sozinho no centro do palco, Niall o abraça e diz em seu ouvido: Ela estará ouvindo você.
E então ele sabe o que Niall quer. Na verdade, o que todos eles ali querem pela cara deles. A música que ele fez. A música que fez para . Mas ela não está boa, ainda falta ajeitá-la e... Harry olha para a multidão de pessoas ali, prestação atenção em cada movimento seu. Não importa. Hoje é um dia especial, é o aniversário dela. É o momento perfeito. Se o cartão que escreveu para ela não conseguir transmitir tudo o que sente, talvez essa canção consiga.
Respira fundo e sorri para plateia.
- Perdoem pela falta de jeito. - tenta ri, mas sai mais como um barulho desengonçado.
Olha direto para a câmera que sabe que é a do telão do estágio e diz como se estivesse olhando para os olhos castanhos de :
- Essa é Country Song.
I see you're afraid
(Eu vejo que você está com medo)
Afraid of what you can't control
(Medo do que não pode controlar)
It makes you insane
(Isso a faz ficar louca)
Not knowing what is in front of you
(Não saber o que está a sua frente)
But I see things in a way so clear
(Mas eu vejo as coisas de um jeito tão claro)
I could be the one to make you see
(Eu poderia ser aquele a fazê-la enxergar)
I could be the one to set you free
(Eu poderia ser aquele a te libertar)
If you just
(Se você apenas)
Hold my hand
(Segurar minha mão)
I can show you the way
(Eu posso te mostrar o caminho)
So that you can bear all the pain
(Para você suportar toda a dor)
All you have to do is trust me
(Tudo que tem que fazer é confiar em mim)
And let me take you
(E me deixar levá-la)
While this country song plays in the background
(Enquanto essa “country song” toca no fundo)
One night
(Uma noite)
You in my arms, that's what I call Peace
(Você em meus braços, isso que eu chamo de paz)
I looked to the other side and realized
(Eu olhei para o lado e percebi)
falling in love should be that easy?
(se apaixonar deveria ser assim tão fácil?)
Your walls are so high,
(Suas paredes tão altas)
impossible to climb
(impossíveis de escalar)
You tell me you're ok
(Você me diz que está bem)
But your eyes tell me another history
(mas seus olhos me dizem o contrario)
But I see things in a way so clear
(Mas eu vejo as coisas de um jeito tão claro)
Couldn't you see,
(Será que você não vê,)
How easy it would be you and me?
(Quão fácil seria eu e você?)
If you just
(Se você apenas)
Hold my hand
(Segurar minha mão)
I can show you the way
(Eu posso te mostrar o caminho)
So that you can bear all the pain
(Para você suportar toda a dor)
All you have to do is trust me
(Tudo que tem que fazer é confiar em mim)
And let me take you
(E me deixar levá-la)
While this country song plays in the background
(Enquanto essa “country song” toca no fundo)
And while I dance with you
(E enquanto eu danço com você)
Let this song play in forever
(Deixe essa música tocar para sempre)
In a way that you will come back to me
(Em uma maneira de você voltar para mim)
Everytime you listen it
(Toda vez que escutá-la)
You better come back to me
(É melhor você voltar para mim)
Epílogo
Dan está excepcionalmente excitado com essa turnê em particular. Os shows dos garotos estão sendo em países que não puderam ir na última turnê, estão atraindo mais gente e em consequentemente, os estádios em que se apresentam são maiores.
Esse em que estão agora tem a capacidade para 60 mil pessoas e conseguiram encher o lugar. Dan não consegue evitar imaginar se seus olhos estão parecendo com dois cifrões de dinheiro, como nos desenhos animados de antigamente. Ele ri desse pensamento. Dan sabe que nem tudo é sobre dinheiro. Olha os garotos se divertindo no palco. Eles são especiais. Tem química uns com os outros e quando estão se apresentando, não veem isso como um trabalho.
Não pode estar mais orgulhoso por estar participando de algo assim.
Alguém cutuca seu ombro. Uma mulher toda equipada o entrega um telefone, impaciente para voltar ao seu trabalho.
- Telefone do Harry. Está tocando desde a metade do show.
Dan tem que se esforçar para entendê-la com todo o barulho a sua volta. Pega o celular e checa as últimas ligações. Seis ligações de um número desconhecido, e a última ligação está gravada como “ - Brazil”.
... A garota do Harry no Brasil. Por que ela estaria ligando para ele agora? Com Harry em turnê, nunca se sabe o horário em que estarão fazendo show, no avião ou dormindo. Pelo o que Dan sabe, é Harry que faz as ligações para , mas elas ficaram escassas quando acabaram os shows na Europa e tiveram que ir para os outros continentes.
Quando está para guardar o celular no bolso, a fim de entregar a Harry quando ele saísse do palco, o celular toca mais uma vez. Olha o celular por cinco toques antes de atender.
- .
- Hm... Harry? - a voz dela é baixa, quase um sussurro.
- , ele está ocupado fazendo um show agora. - a ouve prender o ar do outro lado. - Alguma coisa que eu possa fazer por você em vez disso? Meu nome é Dan, cuido de alguns assuntos da banda.
- Dan... Você podia... Esquece. Nem sei por que liguei.
Ela parece abatida e antes que pudesse evitar, já está perguntando:
- Está tudo bem, ? Não quer que ele retorne a ligação?
- Não, não. - a voz dela começa a perder a força. Ela está chorando? - Eu só... Queria falar com ele.
- Está tudo bem? - repete sua pergunta.
funga do outro lado da linha. Parece limpar a garganta antes de falar.
- Hm... Você podia avisa-lo sobre mim mãe? Ela veio a falecer e eu... Eu estou avisando todo mundo, e ele chegou a conhecê-la. Será que... Podia avisa-lo?
Dan não sabe o que dizer. Algo explode no palco, indicando que o show está no final.
- , eu... Sinto muito.
- Só achei que ele deveria saber. - ela parece estar com pressa para terminar a conversa.
- Claro, claro. Eu falo com ele.
- Obrigada. - ela desliga.
Mais um show da turnê termina. Os garotos saem todos agitados, pulando e fazendo bagunça com as outras pessoas do backstage. Estão todos anestesiados, com o sorriso esticado o máximo possível.
- Você viu aquela loira na primeira fila? - Niall comenta com eles enquanto se seca com uma toalha branca. - Ela ficou me olhando o show todo.
- Você faz parte do show, Niall. É claro que ela vai olhar para você. - Louis implica com ele e recebe uma toalhada na cara. - Que nojo.
Harry ri da conversa deles.
- Você acha que alguém me viu caindo na escada? - pergunta.
- A questão é: Será que alguém ainda se importa de te ver caindo? - Zayn o responde. - Está quase virando uma pauta fixa no nosso show.
Todos começam a listar qual foi a pior queda de Harry para eles.
- Calem a boca.
- Harry. - Dan o chama e ele olha em sua direção.
- O que foi? - Harry está terminando de trocar sua blusa por uma limpa.
- Eu tenho uma notícia para te dar.
Harry olha para baixo e vê Dan segurando seu celular. Volta a olhar seu rosto, notando só agora o nervosismo estampado nele. Ao encontrar os olhos de Harry, Dan sabe que ela já adivinhou o que seja.
- É a ?
Todos param de fazer o que estavam fazendo e a expectativa parece ficar suspensa no ar.
- Sim. Harry... Acho que você deva ligar para ela.
AVISOS:
ANTES que vocês me matem, vou esclarecer algumas coisas para vocês:
1. Sim, gente. Eu fiz isso com a mãe da principal. Podemir lá no grupo e reclamar comigo, eu entendo HAHA
2. Agora vocês sabem o porquê do nome da fic. Sobre a letra da música... Relevem, por favor. Tentei o meu máximo para fazer algo bonitinho, que sintetizasse bem o relacionamento deles. Se não gostou, pule essa parte. Na verdade, pule essa parte de qualquer maneira *vergonhamil*
3. Criei um tumblr para a fic. Lá vocês podem me fazer perguntas, ler os capítulos e ainda ver algumas coisinhas que vou postando que complementam a história.
4. Se vai ter parte dois... Eu tenho vontade sim de escrever a continuação e já tenho até algumas ideias, mas não adianta nada se vocês não quiserem ler HAHA Por isso me deixe saber se querem a parte dois, aqui nos comentários, no grupo ou no tumblr.
AGRADECIMENTOS:
Claro que o primeiro agradecimento vai para vocês: leitoras. Obrigada por todo o carinho aqui e no grupo. Nunca pensei que fosse postar uma história, imagine acabar uma. Devo isso a vocês, pelo apoio, pela leitura e por cada comentário. Vocês são dez <3
Mariana, já disse isso, mas vou repetir mais uma vez: Obrigada por aceitar CS no finalzinho e ser tão fofa *-* Obrigada. E é claro, não posso deixar de agradecer a Julia. Eu sei que você me abandonou, mas isso não faz seu papel em CS ser menos importante. Você sabe o que fez e o quanto sou grata por isso. Não vou ser fofa com você aqui, você não merece hahaha<3
Enfim, é isso pessoal. Não se esqueçam de entrar no grupo e, novamente, o meu muito muito obrigada por terminarem Country Song comigo :D
(Nós vemos na parte dois?).
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