Cool Kids

Escrito por Line T. | Revisado por Isabelle Castro

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“She says they're walking in a straight line
But that's not really her style
They all got the same heartbeat...”

  Os corredores da escola estavam cheios, os grupinhos divididos, cada qual com seu líder, a garota caminhou lentamente, sempre com a cabeça baixa, suas roupas eram dois números acima do que ela usava, sempre com alguma touca velha tapando seus cabelos loiros. Passou despercebida por cada um dos grupinhos, ninguém a cumprimentou, nem mesmo um aceno foi direcionado a ela.
  Para ela, todos eles são iguais, é como se o coração de cada um tivesse a mesma batida, menos o dela, ela sabia que não se encaixava, por isso nunca tentou, mas, é claro que dentro dela era o contrário, a vontade dela, era estar junto de algum grupinho idiota. Adentrou a sala sem olhar para os lados, logo estava sentado no mesmo lugar de sempre, a última carteira da última fileira. Jogou a mochila preta no chão, e se ajeitou na cadeira, arrumando o fone de ouvido e aumentando o som, uma música aleatória tocava, ela não se importava.

“But hers is falling behind
Nothing in this world could
Ever bring them down...”

  Observou cada aluno entrar na sala, alguns davam risadas escandalosas, outros apenas cochichavam baixinho. Cada grupo tinha sua sincronia. As patricinhas conversavam sobre o novo salão do shopping, os drogadinhos estavam segurando um cigarro novo nas mãos e rindo, os roqueiros estavam falando sobre guitarras e bandas pesadas. Era como se eles tivessem um muro ao redor do próprio grupo, ninguém iria conseguir invadi-lo e quebra-lo, eles já não eram mais vistos sozinhos, porque eles sabiam, que sozinhos estariam vulneráveis, mas juntos, juntos seriam impossíveis de derrubar.
  Os nerds entraram logo depois, dando algumas risadinhas e segurando uma espécie de cubo mágico, a garota parou nesse momento, para perceber que, ela era quem estava ficando pra trás, nem um cubo mágico estava tão ultrapassado quanto ela. Então, ela parou para se perguntar, qual era o problema daquele lugar e rapidamente ela conseguiu uma resposta, ela era o problema, não iria se encaixar em nenhuma turma, em nenhum grupinho, em nada.

  O professor entrou na sala, escrevendo algumas coisas no quadro negro, ela leu e soltou um suspiro, trabalho em duplas, ela era a própria dupla, sempre fora ela e ela, o professor deu um sorriso triste em direção a garota, algumas pessoas viraram para trás, ela encolheu os ombros, mas logo todos estavam arrastando as carteiras, enquanto ela apenas abria o caderno e se virava para a parede fria.

“Yeah, they're invincible
And she's just in the background...”

  Ela escrevia em seu caderno algumas coisas, tentou várias vezes chamar o professor para tirar dúvidas, mas era como se ela estivesse em segundo plano, ninguém nem percebia a existência dela, cansada de tentar, apenas continuou rabiscando qualquer coisa no caderno, logo arrancando a folha, é eles são invencíveis em comparação a ela. O professor pulava de grupinho em grupinho, em alguns ele fazia uma piada ou outra, era incrível, ela sozinha em um canto qualquer, enquanto o professor brincava com alunos cujo o cérebro era inexistente.
  Aquele maldito sorriso que o professor lhe direcionou no começo da aula não serviu para nada, ele demonstrou pena e logo depois a tratou como os demais a tratavam, ela até podia reclamar, gritar, mas não iria adiantar, ninguém se importava. Ela começou a lembrar da vez, em que, machucou o braço e foi para enfermaria, a enfermeira passou qualquer pessoa em sua frente, e quando chegou sua vez, a enfermaria fechou e a enfermeira não disse nada, apenas mandou ela ir para o hospital ou para casa.

“And she says
I wish that I could be like the cool kids...”

  Levantou do lugar e caminhou até a mesa do professor, deixou a folha ali e jogou a mochila no ombro, tentou dar um tchauzinho para o professor, mas o mesmo a ignorou, deu de ombros, arrumando o fone e aumentando novamente a música, caminhou pelos corredores vazios, olhava pela janelinha de cada sala e via os grupinhos rindo, abaixou a cabeça e continuou andando. Ela só queria ser como eles, só queria vestir roupas normais, ter conversas normais, mas o máximo que ela conseguia, era ser ignorada por todos.

“'Cause all the cool kids
They seem to fit in...”

  Depois de dar voltas e voltas, escutou o barulho do sinal, hora do intervalo, caminhou até o próprio armário e jogou a mochila lá dentro, tirou os fones e pegou um livro em mãos, ela não tinha companhia durante esse horário, na verdade, ela não tinha companhia em nenhum horário, mas nesse ela podia ler tranquilamente e ficar na dela, apesar de sempre estar na dela.
  Empurrou a grande porta do refeitório e caminhou, indo até o final do lugar e deixando seu livro ali, ninguém sentava naquela mesa, apenas ela, então não se preocupou em deixar o livro ali sozinho, voltou com a bandeja cheia de guloseimas e abriu o livro, ela levantou a cabeça e viu todos os grupinhos, como eles se encaixavam perfeitamente, a líder de torcida beijando o capitão do time, um casal geek, um casal de roqueiros, todos eles tinham encaixe perfeito, o encaixe que ela nunca iria ter.

“He says I'm talking with a big smile
But they haven't got a clue...”

  Dentro do refeitório, ele pode olhar ao redor e percebeu que todos os grupinhos estavam concentrados apenas neles mesmos, deu de ombros e foi se servir, pegando pouca quantidade de comida, achando aquilo o suficiente para esquecer que ele era um loser, andava com um sorriso enorme nos lábios, mas ninguém o correspondia, apenas faziam caretas estranhas, mas ele ainda tentava. Tão ingênuo, achava que eles iam dar bola para ele, mas ele não tinha nem ideia, de que, eles não estavam nem aí para ele. Sentou na mesa que ficava ao lado da garota com roupas maiores que ela mesma, ele a olhou sorrindo, mas ela nem sequer o olhou, ele abaixou a cabeça, triste por ela não lhe dar bola.

“Yeah, they're living the good life
Can't see what he is going through...”

  A garota ao lado se levantou, ele ergueu a mão, mas ela o ignorou novamente, por que ninguém poderia ser amigo dele? Continuava sorrindo, mesmo que por dentro chorasse, afinal, doía saber que não se encaixava em lugar algum, olhou a garota de longe, vendo ela passar por entre as mesas, era como se ninguém a visse também, juntou as sobrancelhas, afinal, ele achava que era ela quem se excluía de tudo, mas pelo jeito não, então tentou comer o mais rápido possível, lembrando que sua mãe não iria gostar de ele ter pulado uma refeição.

“They're driving fast cars
But they don't know where they're going
In the fast lane
Living life without knowing...”

  Ele até tentou procurá-la, mas não achou, ele andou por todos os corredores, observou cada garota que passava, mas não adiantou, então teve que voltar para a sala, ainda triste por não ter falado com a garota, ele queria apenas uma amiga, mas ele não sabia se ela queria ter um amigo. Depois de mais algumas aulas, ele arrumou o próprio material e caminhou para fora, todos gritavam e riam, menos ele, ele não tinha do que rir ou gritar. Quando chegou ao estacionamento, olhou ao redor e viu carros enormes, verdadeiras máquinas velozes, olhou para o próprio carro e bufou, até nisso ele era diferente, enquanto carros enormes corriam pela avenida, ele apenas andava em baixa velocidade, nem uma música ele tinha para colocar no carro.

“And he says
I wish that I could be like the cool kids
'Cause all the cool kids
They seem to fit in...”

  Antes de entrar no carro, olhou para os lados e não achou a garota, iludido, pensou que talvez ela estivesse por ali, o que ele viu foi algo bem diferente, todos rindo e gritando uns com os outros, tinha até um casal diferente ali, uma garota geek e um jogador, ele balançou a cabeça, porque ele só queria ser como eles, queria apenas se encaixar e ser descolado, queria poder chegar em casa e dizer a mãe que ele tinha amigos, mas pelo jeito isso não seria possível. Cansado de observar aquelas cenas, entrou no carro e saiu dali. Uma chuva fina começou a cair, junto com algumas lágrimas dele, alguns socos no volante.

“And they said
I wish that I could be like the cool kids...”

  A chuva aumentou.
  Ele virou uma rua qualquer. Ela se escondeu embaixo de um toldo. Ele acelerou. Ela tentou não gritar de raiva. Ele quase bateu. Ela sentou. Então, como num passe de mágica ele a viu de longe e parou o carro, desceu o vidro e depois de anos sem falar com alguém, que, não fosse sua mãe, ele falou.
  - Hey, quer uma carona? – a garota levantou o olhar, olhou para os lados, vendo que a chuva não ia diminuir e sim aumentar, ela entrou, batendo a porta e se virando para o garoto. – ! – ele estendeu a mão.
  - ! – ela apertou a mão do garoto, deu um sorriso leve. Então, ele arrancou com o carro dali, seguindo as orientações de , durante todo o caminho eles conversaram, riram e até deram alguns gritinhos. Pela primeira vez, ambos não quiseram ser como todos aqueles grupinhos, mas ainda assim, eles queriam ser um pouco iguais a eles.

“I wish that I could be like the cool kids.”

FIM