Come What May
Escrito por Mariana A. | Revisado por Lelen
Música: How To Save A Life, por The Fray
Andar sem rumo foi a primeira coisa que eu fiz quando eu acordei, mas fazia sentido naquilo tudo, minha vida estava sem rumo. Fiquei pensando no que dizer ou no que fazer, eu não estava entendendo como tudo aquilo chegou naquele ponto. O pior ainda, é que o clima estava frio como eu nunca tinha visto antes na vida, talvez ele quisesse só acompanhar o meu humor. Quando percebi na besteira que minhas pernas haviam feito, não tive coragem para recuar, de virar as costas e ir embora. Eu precisava de uma explicação. Andei até a porta imaginando se não era muito cedo para estar lá, mas minhas dúvidas sumiram quando ele apareceu na porta todo acabado e com uma cara horrível, engoli em seco.
- Precisamos conversar – eu digo o mais firme que consigo.
- Não temos nada para conversar – ele diz com uma voz rouca.
- É só uma conversa! Eu estou andando sem rumo e tentando adivinhar o porquê de tudo isso – respondo com uma voz chorosa.
Ele suspira e me dá passagem. A casa dele não havia mudado muito, sempre bem arrumada e aconchegante. Pergunto se os pais dele ainda estão dormindo e ele apenas afirma com um aceno breve de cabeça, suspiro pesadamente. Andamos até a cozinha, fiquei parada logo na entrada enquanto ele se sentava na bancada mais próxima – ou mais longe de mim.
- Então? – ele me encara.
O que eu fiz? Eu me perguntei a semana toda atrás dessa resposta e não a tive. Sei que não fiz nada de errado, e agora fico me perguntando qual é a finalidade disso. Ele havia me ignorado quase o mês inteiro e eu fiquei me sentindo culpada por uma coisa que eu nem sei se fiz. Então, porque eu tinha vindo aqui? Não faz sentido.
- Me diz o porquê de tudo isso – bufei – Você em um dia estava todo carinho comigo, como o meu melhor amigo, e no outro, nem olhar na minha cara olhou. Eu fiz alguma coisa pra você?
- Você realmente não sabe? – ele deu um sorriso irônico.
- O que? Que você é um garoto muito idiota? , quantas vezes eu te deixei na mão? Sempre estive do seu lado, te dei conselhos quando eu nem sabia dar, te aguentei quando você estava bêbado e nunca te deixei nos momentos difíceis.
- – ele fechou os olhos – Eu não me importo! Você mentiu pra mim! Disse que me amava, mas no momento seguinte estava agarrada com aquele cara nojento do time de futebol! – ele aumentou a voz e eu recuei.
- pela última vez – falei em um tom baixo – Ou você acredita em mim, ou me esqueça.
Sai de lá sem uma resposta. Eu não tinha ficado com Peter! Ele me agarrou e viu achando que eu estava adorando ser agarrada por um brutamonte! Eu não estava feliz por estar com Peter, eu estava feliz por eu e termos nos acertado, minha paixonite por ele foi no começo desse ano. Eu fiquei assustada quando percebi que gostava do meu melhor amigo, mas disse que isso seria normal, que nós dois faríamos um casal perfeito. Isso não vai mais acontecer. O negócio é que, no mesmo dia, foi à minha casa exigindo saber o que era aquilo que tinha acontecido e eu disse que Peter havia me agarrado a força e tentou levar para uma parte mais solitária do colégio, mas eu não deixei. E nem ele acreditou. Mas eu nem imaginava que era esse o motivo de ele estar estranho comigo, eu achava que depois daquele dia ele iria perceber que o que eu estava falando era verdade. Quando cheguei em casa, ouvi o meu celular tocar.
- ? – suspirei ao ouvir a voz de , eu precisava mesmo conversar.
- Oi – respondi me jogando no sofá – Aconteceu alguma coisa?
- Eu é que te pergunto! Aconteceu alguma coisa? – ela sabia que eu tinha ido à casa do ?
- Como você sabe que eu fui à casa dele?
- É porque eu moro na frente da casa dele? – ela perguntou como se fosse óbvio, era verdade.
- Ah... Sim, eu tentei conversar, mas ele começou a levantar a voz e eu dei uma escolha pra ele. Disse que se ele não acreditar em mim, era pra ele me esquecer.
- Mas , você não acha que está sendo dura demais com ele? – ela perguntou receosa – Sabe, se ponha no lugar dele. Se eu visse a menina que eu mais amo beijando outro cara, eu provavelmente faria algo bem pior do que só olhar e ir embora.
- Mas ! Eu já tentei falar que a culpa não foi minha! – eu me exaltei – Mas ele prefere não acreditar, eu não posso fazer nada!
- Olha, vocês podem conversar amanhã na escola – ela suspirou derrotada – Só não esqueça que ele faria tudo por você – e então ela desligou.
***
Eu não havia pregado os olhos a noite toda. Eu pensei em como fazer acreditar em mim, pensei no que havia dito no dia anterior e pensei em como os meus sentimentos por ele haviam mudado repentinamente. Eu estava tão perdida! Eu não queria perdê-lo, ele tinha sido a melhor coisa que já havia acontecido comigo depois da morte da minha mãe. Eu me lembro muito bem daquele dia, lembro-me de que quando o carro bateu no nosso, meu pai ficou tão desesperado que não conseguia fazer nada além de chorar, alguns minutos depois, o carro dos pais de chegaram e perguntaram se nós precisávamos de ajuda e é claro que o meu pai disse que minha mãe precisava ir urgentemente ao hospital, pois ele não sabia como salvar a sua vida. Depois foi só drama e eu mal sabia que dali, de um acidente trágico, nasceria uma grande amizade.
Me peguei chorando, isso sempre acontecia quando eu relembrava dessa história. Suspirei e fui para o banho, precisava relaxar um pouco antes de o dia começar. Assim que terminei, desci e vi o meu pai lendo o seu tão habitual jornal. Ele sorriu quando me vi e eu sorri de volta.
- Quer carona hoje? – ele deixou o jornal de lado e começou a tomar o seu café.
- Não precisa pai – sorri em agradecimento – Preciso pensar um pouco.
- E esses pensamentos tem o nome de ? – arregalei os olhos e o meu pai riu, ele riu!
- Pai! – gaguejei – É claro que não! e eu somos apenas amigos, nada mais.
- Minha filha, eu sei que você é apaixonada por esse rapaz, sei que vocês já estão há algum tempo sem se falar. Não precisa esconder nada de mim.
Por mais que eu achasse o máximo o meu pai me apoiar, não me sentia confortável em falar sobre os meus sentimentos com ele. Apenas agradeci e saí em direção à escola, sabia que hoje seria um longo dia.
Assim que avistei o carro de , andei até lá, mas nem sinal dele. Comecei a escutar de novo os comentários de que ele estava muito mudado e que tudo era culpa minha, isso não me ajudava em nada, Peter começou tudo isso e a culpa é minha? Andei pisando duro até o grupo onde Peter se localizava e falei que precisávamos conversar.
- Pode falar – nós estávamos perto da sala de biologia, onde tinha um pequeno jardim no meio da escola.
- Por que fez aquilo? Me agarrou? Você estragou a minha vida! – quase gritei e Peter olhou em volta notando os olhares em nós.
- Ah eu não sei – ele deu de ombros – Só agarrei por agarrar, convenhamos, você é uma gata.
- Isso não importa agora – bati na testa – Quero que você desfaça essa burrada, está sem falar comigo há quase um mês!
- Eu não tenho nada a ver com sua vida – ele pareceu impaciente e eu já estava prestes a dar uma voadora nele ali mesmo.
- Eu não perguntei se você tem alguma coisa a ver com minha vida ou não Peter – falei impaciente – Quero que fale pro que você me agarrou, a força.
- Wow – ele levantou as mãos – Tudo bem. Onde ele está?
- Provavelmente fumando lá no jardim de fora – falei o puxando pela jaqueta. Eu não estava acreditando que tudo se resolveria assim tão fácil! Mas eu estava com um pressentimento ruim, talvez seja porque – pela primeira vez – tudo daria certo. Fomos andando até lá, mas eu parei bruscamente quando vi se agarrando com uma menina qualquer.
- Opa! – Peter exclamou e finalmente pareceu nos notar ali. Ele se assustou e saiu de perto da garota sem tirar os olhos de mim – Parece que eu não vou precisar explicar mais nada.
- Do você está falando? – se voltou para Peter.
- Ah... Você sabe, me fez vir aqui para falar a verdade. Mas só pra você saber, fui eu quem a agarrei, mas parece que não precisa mais de nenhuma explicação, se deu bem ! – eu estava muda. Como... Como ele pode? Saí de lá, eu só queria chegar em casa o mais rápido possível.
Depois que todas as aulas acabaram, me despedi de o mais rápido possível e disse que se ela quisesse falar comigo, que ela me ligasse assim que ela chegasse em casa pois eu estava muito cansada para falar naquele momento. Meu pai já estava em casa quando eu cheguei, ele perguntou se eu estava bem e eu só fiz responder que estava um pouco cansada e que eu iria dormir um pouco. Joguei minhas coisas em um canto do meu quarto e me joguei na cama pronta para descansar, quando escuto o meu celular tocar, era a .
- Pode me falar o que aconteceu dona pra você sair daquele jeito? O ficou doidinho atrás de você criatura! E quando eu perguntei o que tinha acontecido ele disse que tinha estragado tudo! Eu não estou entendendo mais nada! – como ela conseguia falar tão rápido? Senti minhas orelhas formigarem e os meus olhos queimarem, quando percebi já estava chorando.
- Eu o encontrei hoje com uma garota no jardim de fora da escola – suspirei e me recompus – E o pior de tudo é que eu tinha ido lá justamente para Peter dizer à ele que ele é quem havia me agarrado, mas parece que ele nem se lembrava mais... Eu perdi , eu perdi o meu amigo.
- – ela parecia aborrecida – Até quando eu vou ter que te falar que é louco por você? Talvez ele estivesse apenas tentando sei lá, esquecer a cena que ele viu. Mas eu sei que nada vai mudar esse sentimento de vocês dois... E olha, sei que eu não deveria te falar isso, mas ele está indo pra sua casa.
- Como?! – arregalei os olhos – Não! Eu não quero que ele venha aqui!
- Se acalma – eu a cortei.
- Mais tarde eu te ligo – desliguei sem uma resposta, sabia que ela ficaria me enchendo a paciência e não estava de fim de ser grossa com ela.
(Coloque essa música pra tocar)
Desci as escadas praticamente correndo e perguntei para o meu pai se ele não podia emprestar o carro, ele logo estranhou, mas eu pedi de novo e disse que era uma coisa muito importante e então ele concordou. Eu não sabia para onde estava indo, eu só estava dirigindo sem rumo, quem sabe até eu me perder? Quem se importa? Acho que nem eu me importava naquele momento.
Liguei o rádio na esperança de que as músicas ocupassem minha mente, mas eu estava completamente enganada, pois no momento em que eu ouvi aquela melodia, sabia que era a nossa música. Tudo fazia sentido naquela música pra mim agora, tudo se encaixava.
A primeira lembrança foi quando eu fui à casa de , só que eu é que me sentia culpada e não ele. Eu estava com medo e não ele, eu senti uma grossa lágrima descer, droga eu odeio chorar! Continuei a acelerar, ainda era dia e eu agradeci mentalmente por isso. Percebi que estava perto de uma praia qualquer, eu estava cansada de dirigir, de fugir. Estacionei o carro e percebi que o sol estava começando a se pôr, senti um vento frio bagunçar o meu cabelo e fechei os olhos.
- Não sabia que você viria pra tão longe – estremeci ao ouvir a voz dele – Eu tive que te perseguir com um táxi, você me deve 85 euros.
- Tudo isso? – me virei rapidamente e ele deu um sorriso de lado e assentiu – Você veio por que quis.
- Precisamos conversar – ele repetiu minhas palavras, eu não queria conversar – Sei que você não quer conversar, mas nós precisamos.
- Não quero mesmo – suspirei – Eu realmente não quero conversar com você.
- Mas nós precisamos – ele indagou – Não quero passar a noite em claro me perguntando se você ainda não me odeia, ou se você nuca mais vai querer olhar na minha cara. , só me escuta.
- Estou escutando – ele assentiu e suspirou.
- Quando eu te vi assustada há dois anos, vi que você era frágil e eu confesso que fiquei com receio de trocar alguma palavra com você, eu tinha medo de falar alguma coisa que te machucasse ainda mais, por isso eu só te abracei. Até hoje, eu nunca sei o que falar quando estou perto de você, você dever ser a menina mais incrível que eu conheci e você não faz a mínima ideia disso. Sempre que eu ouvia você conversando com a sobre outros garotos, eu ficava bravo, eu não gostava de saber que você tinha olhos para outros garotos. Eu estou me sentindo um idiota por estar te falando essas coisas, mas é como eu me sinto, e nenhuma outra menina pode mudar isso.
Eu fiquei sem saber o que fazer, por isso fiz o que fiz. Em alguns momentos da nossa vida, temos que tomar atitudes que talvez algum dia nos arrependeremos, mas que talvez tenha sido necessário. Mas com certeza, beijar não seria um arrependimento, talvez um novo começo, eu queria que aquilo fosse um novo começo. Sentir as melhores sensações do mundo ao mesmo tempo é muito bom e poder compartilhar isso com que você gosta é ainda melhor. Quando ele percebeu o que tinha acabado de acontecer, ele abriu um sorriso enorme e foi minha vez de falar.
- Quando eu te vi há dois anos, eu sabia que tinha algo de especial em você . Você proporcionou os melhores anos que eu pude imaginar, você sabe disso certo? Só de imaginar que um dia um garoto tão especial como você olharia para uma garota tão sem graça quanto eu, eu riria de mim mesma. Eu só queria que você soubesse disso, eu não me importo com os seus defeitos , eu quero que você continue sendo esse garoto maravilhoso por quem eu me apaixonei. Você é a melhor parte de mim .
- E você a minha – ele me beijou mais uma vez, e sim, agora eu tinha certeza de que aquilo seria apenas um novo começo. Eu sabia que independentemente do que acontecesse, eu poderia contar com ele, eu sorri e ele me abraçou por trás, quem diria que eu me apaixonaria pelo meu melhor amigo? E que isso daria certo? Eu espero que sim.
- Ah e só pra você saber – o encarei sorrindo – Eu também me senti uma idiota te dizendo aquelas coisas.