Comeback

Escrito por Brubs Mota | Revisado por Júlia

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  Os tons amarelados e quase marrons das folhas eram o alvo dos olhares admirados dos visitantes do Central Park. O outono em NYC era uma das coisas mais bonitas da Terra. Não para Clint. Há exatos 5 anos ele já não prestava mais atenção à paisagem estonteante da cidade, sua tristeza superava isso. Há exatos 5 anos, Clint Barton deixou sua razão atrapalhar o que sentia nesse mesmo parque.

  Flashback

  - Então, é isso? - perguntou com um olhar marejado, o que não anulava a raiva em sua voz. Estavam sob um velho salgueiro, a árvore favorita de , observando o movimento do lugar. - Aparece para dizer que vai embora?
  - É - respondeu seco, mas estava desmoronando por dentro. assentiu e seguiu para a saída do parque, não olhando para trás sequer uma vez, com os braços envolvendo seu tronco.

  Flashback Off

  Clint olhou mais uma vez para a árvore e seguiu sua caminhada xingando em sussurros ao colocar seus óculos escuros. No dia em que a viu pela última vez, ele tinha acabado de voltar de uma missão no sul da Ásia e já estava designado para outra, que mudaria sua vida pra sempre. Clint Barton agora seria um dos responsáveis pela segurança e execução do projeto Tesseract, mas é claro que não sabia disso. Para , primeiramente ele havia dito que era um comerciante autônomo e que viajava muito para encontrar mercadorias boas a um bom preço. Mas é claro que ela não engoliu, principalmente porque ele colecionava arranhões e cicatrizes. Então inventou que era um detetive contratado da CIA. E nisso ela acreditou.
  Não demorou muito para que Clint alcançasse um dos lagos do parque, onde a mesma barraquinha de cachorro quente ainda funcionava. E, como se pudesse ser diferente, mais uma lembrança o atingiu em cheio.

  Flashback

  - Com licença, senhor - Clint ouviu uma voz suave atrás de si e se virou minimamente, encontrando uma mulher com roupas de ginástica e um dálmata ao seu lado. - Vai pedir ou não? - franziu o cenho e só então percebeu que estava na fila para comprar cachorro quente e sua vez havia chegado.
  - Ahn, não. Ainda estou escolhendo, podem passar - sorriu, sendo logo retribuído pela moça que tomou o seu lugar no instante em que ele deu um passo para trás.
  Clint se afastou, sentando em um dos bancos próximos, totalmente imerso em seus pensamentos. Sua última missão tinha mexido completamente com a confiança que Nick Fury tinha nele e isso fez com que ele fosse afastado do trabalho de campo por tempo indeterminado. Mas Clint não estava nem um pouco arrependido do que fizera. Não podia matar a tal Romanoff, ela era só uma garota indefesa (ou não tão indefesa assim) que queria viver do que sabia fazer de melhor. Por mais fatal que aquela garota russa fosse, ele sabia que ela tinha conserto. Só precisava de alguém para lhe mostrar o caminho certo.
  - Ficou bravo comigo? - Clint estava tão focado no que pensava que acabou não percebendo que a mesma moça da fila estava sentada ao lado dele e seu cão, sob suas pernas.
  - Por que pergunta isso? - franziu o cenho e finalmente encarou a moça, que lhe estendia um cachorro quente. - Não precis...
  - Eu acabei te fazendo desistir do cachorro quente. Era o mínimo que eu podia fazer. - deu de ombros e Clint sorriu, pegando o cachorro quente.
  - Obrigado.
  - De nada - a moça sorriu de volta e, após alguns segundos de silêncio, se levantou. - Bom, vamos deixar você em paz. Já atrapalhamos demais o seu dia - estalou os dedos e no instante seguinte, o dálmata já estava de pé ao seu lado.
  - Não precisam ir. Quero dizer, vocês não me atrapalharam em nada. Até deixaram meu dia interessante!
  - Nossa. Sua vida está tão caída assim? - ela deixou escapar junto com uma careta de compaixão e, ao ouvir a risada de Clint, percebeu o que tinha falado. - Não me entenda mal! Por favor! Eu só... Sabe? Quer dizer, se eu e Dante somos o ponto alto do seu dia, então você deve estar curtindo uma fossa leg... Ai, falei de novo! Desculpa, moço! Desculpa!
  - Tudo bem - declarou ainda risonho. - Minha vida está caída mesmo.

  Flashback Off

  Clint não pôde evitar um sorriso ao lembrar dia em que conheceu (e, claro, Dante). Sempre acreditou que se não estivesse em NYC naquele dia, provavelmente, teria se matado. Não demorou muito para que eles se tornassem amigos e bastaram dois meses de convivência para que Clint percebesse que não poderia viver sem ela. A vida sem não fazia sentido, não era vida. Por mais dolorosa que a fosse longe dela, era um preço justo a pagar para que nada de ruim acontecesse a . Lembrou-se do mantra que repetia toda manhã após tê-la deixado: Ao menos ela está viva. Ao menos ela está bem.
  Acontece que, logo depois que Clint a deixou, houve toda aquela confusão e a execução da Iniciativa Vingadores, onde a Terra quase foi dominada e você já conhece o resto da história. Mas o que você não sabe é que Clint se sentiu aliviado por não estar com naquela época. Seria perigoso demais. Ela estava melhor sem ele.
  Recobrando sua consciência, Clint percebeu que já havia cruzado o parque inteiro e que à sua frente estava ao antigo restaurante onde trabalhava, na esquina da 105th Street com a Central Park West Avenue.

  Flashback

  Mais uma missão. Mais uma dor de cabeça. Mais uma mentira que teria que inventar para . Clint descansava deitado no sofá de um apartamento que alugara para não depender da casa da namorada quando viesse para New York. Já passava das 5 da tarde e isso significava que logo chegaria com Dante e o jantar.
  - Ai, meu Deus! Clint, o que aconteceu? - Clint abriu um olho e percebeu que o encarava horrorizada. Lembrou então que estava só com uma calça moletom, o que deixava grande parte dos seus novos ferimentos à mostra.
  - Não está tão ruim assim - sorriu na tentativa de confortá-la e balançou a cabeça negativamente, rumando até a janela. Clint logo se levantou da cama e a segurou pelos ombros, virando-a para si. mantinha os olhos fechados e algumas lágrimas já haviam deixado rastros em seu rosto. - Não chora, . Eu já passei por piores - ele depositou leves beijos por todo o rosto da moça até chegar aos seus lábios, roçando-os suavemente, o que a fez abrir os olhos.
  - Não aguento te ver assim - confessou com a cabeça deitada no ombro de Clint, que a envolveu num abraço delicado. - Odeio não poder fazer nada para impedir que isso aconteça. - passou dos dedos delicadamente sobre o enorme curativo no braço esquerdo do homem, que depositou um beijo em sua testa.
  - Isso não é culpa sua, . - ela o encarou e Clint selou seus lábios antes que ela replicasse. O beijo se aprofundaria se não fosse pelo latido de Dante na cozinha. - Eu já disse o quanto odeio esse cachorro? - Clint sussurrou e riu, dando-lhe um selinho juntamente com um tapa leve no rosto e rumaram para a cozinha logo em seguida.

  Flashback Off

  Seus pensamentos agora oscilavam sobre qual seria a decisão certa naquela época: deixá-la ou ficar com ela. Poderia cuidar dela, protegê-la sem precisar deixá-la. Ou não? E se acontecesse o pior enquanto ela estivesse com Clint? Ele jamais se perdoaria.
  Suspirando e com uma ridícula vontade de chorar, Clint deu meia volta e continuou caminhando. E quanto mais caminhava, mais observava e mais percebia que cada elemento daquele lugar se referia a de alguma maneira. Barraquinhas, flores, animais... Era impressionante como até as pipas que algumas crianças soltavam o faziam se lembrar de . Crianças... Não havia como esquecer que a última memória feliz que tinha de se referia à crianças.

  Flashback

  - Uma casa de campo? - Clint repetiu as últimas palavras de , que estava deitada sobre seu peito nu e ela assentiu. - Tem certeza que é nova-iorquina?
  - Absoluta - voltou a assentir.
  - Então por que vamos morar numa casa de campo? - perguntou e se sentou na cama, puxando metade do lençol consigo.
  - Acha mesmo que vamos criar nossos filhos no caos de NYC? - os olhos de Clint se esbugalharam com tal pergunta e expressou um certo arrependimento por ter feito tal pergunta. Estavam fazendo planos para um futuro não tão distante e é claro que Clint pensava em ter filhos com ela, mas a menção do assunto o deixou surpreso. Principalmente porque nunca havia deixado claro sua opinião sobre ser mãe de alguém que não fosse Dante. - Você não quer... - balbuciou e Clint logo se sentou, colocando o dedo indicador em seus lábios.
  - Shhhhhhh! Se você quer criar as crianças no campo, vamos criar as crianças no campo. Assunto encerrado - declarou firme e abriu o maior de seus sorrisos, beijando o namorado que deitou novamente, puxando a moça para deitar sobre si. - O que acha de Ben? - encarou a namorada que franzia o cenho.
  - Ben?
  - É o apelido de Benjamin. Ben Barton... - sorriu sonhador. - Soa bem.
  - Não posso negar. Mas eu prefiro Dean. Ou Frank.
  - Ben é melhor.
  - Também não deveríamos pensar em nomes de menina? - arqueou uma sobrancelha e Clint mordeu o lábio inferior, pensando seriamente na resposta.
  - Charlotte Barton - declarou convicto com um sorriso orgulhoso.
  - Charlotte Elise Barton.
  - Nada mal - concordou e sorriu. - Que tal se...? - Clint não chegou a terminar a frase. já havia selado seus lábios.

  Flashback Off

  Cansado de ser atingido por lembranças e, principalmente, ser abalado por elas, Clint resolveu se sentar sob uma árvore próxima e observar as pessoas indo e vindo no parque. Não conseguia acreditar que a havia deixado, não conseguia acreditar que havia feito planos com ela, não conseguia acreditar que estava conseguindo viver sem ela... Seu único consolo era sua segurança (até mesmo a de Dante). Por dentro, ele ainda torcia para que esbarrasse nela pelo parque, mesmo sabendo que isso não era a coisa mais sensata a se fazer, vê-la de novo...
  Clint suspirou, percebendo que sua visão agora estava embaçada por conta de algumas lágrimas. Lembrava-se muito bem de quando tinha chorado pela última vez e tinha certeza de que era pelo mesmo motivo: . Melhor dizendo, a ausência dela. Também sabia que não podia se dar ao luxo de repetir essa cena (principalmente em público), mas no momento isso já não mais importava. Já não tinha mais , lamentar era tudo o que lhe restara.
  Decidiu ir embora quando percebeu que não aguentava mais o efeito que aquele lugar tinha sobre si. Mais alguns instantes ali e, ele sabia, acabaria pegando um táxi rumo à casa de . Se ela já não morasse mais lá, pediria para localizarem e iria atrás dela no instante em que descobrissem onde ela estava. Clint seguiu para fora do parque, ainda atordoado, mas ciente de que precisava esquecer tudo aquilo para ficar são até a próxima missão.
  Não demorou para arrumar um táxi e isso o lembrou do que lhe dizia - “Você tem sorte para isso, não negue!” –, já que ela sempre sofria para conseguir um táxi. Voltar àquela cidade não foi tão ruim quanto ele imaginava. De certa forma, isso fazia bem à Clint. O fazia lembrar o motivo pelo qual ele lutava e se sacrificava, o motivo pelo qual ele não abandonava tudo. Valia a pena lutar por , ele sabia disso. E ele continuaria lutando por ela, sem problema algum, desde que ela estivesse a salvo. estaria bem, continuaria a passear com Dante, a encher o pobre cachorro de junk food, a cozinhar somente aquilo que sentia vontade de comer, a reclamar do tempo... Ele adorava quando ela reclamava do tempo!

  Flashback

  - Meu cabelo está uma merda, tudo por causa dessa porcaria de chuva! Qual é? Não tinha melhor hora pra cair, não? – Clint ria à medida que corria com para se abrigar na fachada de uma lanchonete. Tinham acabado de deixar Dante (a contragosto de , é claro) num petshop para receber “cuidados especiais”, já que não era capaz de dar banho nele sem que molhasse a casa toda.
  - Está linda, como sempre – ele virou a garota para si, abraçando-a fortemente.
  - Linda como uma boneca de cera perto de uma fornalha, você quis dizer – Clint riu, beijando-a apaixonadamente em seguida. Toda vez que a beijava, parecia a primeira vez. Não sabia explicar, mesmo que soubesse exatamente como seria, beijá-la era algo completamente inédito! Mas então o seu momento perfeito foi interrompido por um zunido e uma vibração no bolso de sua calça bem conhecidos: Nick Fury estava convocando os Vingadores. Clint terminou o beijo num selinho enquanto vagarosamente se afastava de . – O que houve?
  - Preciso ir – sussurrou próximo ao rosto da garota, que sorriu gentilmente segurando o rosto de Clint em mãos. Sabia exatamente o que aquelas palavras significavam.
  - Mas você sempre pode voltar – Clint sorriu ao ouvir isso. sempre conseguia fazê-lo sorrir nos momentos em que ele queria estourar os miolos de seus superiores, sem ao menos saber disso!
  - Você tem certeza disso?
  - Nunca estive tão certa – declarou convicta, selando seus lábios mais uma vez antes que Clint fosse embora. – Não se machuque, ok?
  - Vou tentar – Clint beijou sua testa e então saiu rumo ao outro lado da rua, ouvindo um “Sortudo!” assim que o primeiro táxi para o qual acenou parou à sua frente.

  Flashback Off

  Por mais que o objetivo central da visita de Clint Barton ao Central Park tenha sido auto-martírio através de suas lembranças, ele não conseguia deixar de sorrir com cada uma delas. Era esse o efeito que tinha sobre ele. E ele sabia que assim continuaria: lembraria dela a cada segundo se fosse necessário para continuar vivendo. E sabia também que, quando suas lembranças não fossem mais o suficiente, ele poderia voltar. Ele sempre poderia voltar.

FIM



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