Christmas in family

Escrito por Danielle | Revisado por Mariana

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  Acariciei os cabelos de Harry e admirei seu rosto perfeito pela primeira vez naquela manhã. Eu havia acabado de abrir os olhos para mais um dia gelado de inverno e tê-lo deitado ao meu lado, o corpo relaxado e o rosto sereno, era tudo o que eu pediria a Deus se recebesse um desejo algum dia. Meu namorado abriu os olhos alguns segundos depois de eu ter repousado minha mão em sua cabeça e sorriu para mim.
  - Eu já te disse que você tem o sorriso mais lindo do mundo? – perguntei sorrindo para ele de volta.
  - Eu já te disse que a sua voz de manhã é a coisa mais fofa do universo? – ele respondeu movendo-se sobre a cama de modo a deitar-se sobre mim.
  - Eu acreditaria nisso se você não fosse o melhor cantor de todos e, portanto, tivesse a voz mais perfeita que eu já ouvi.
  Harry apenas riu e balançou a cabeça de um lado para o outro, do mesmo jeito que fazia sempre que ficava sem graça. Então ele me beijou, delicado e lentamente, da forma mais romântica e controlada que era capaz de fazer. Quando minha pele e a dele entravam em contato, normalmente a situação era análoga a colocar uma centelha de fogo em um fio de pólvora – nós explodíamos, rápido e instantaneamente. A culpa nem sempre era da pegada sensacional dele; às vezes, eu também provocava um pouco. E um Harry provocado... Bom, digamos que eu seria sexualmente feliz para sempre.
  Assim que ele interrompeu o beijo, eu puxei seu lábio inferior com os dentes depositando a mordida que eu sabia que seria suficiente para que ele entendesse meu convite para esquentarmos as coisas. Esperei pela reação natural do senhor Styles – me beijar de novo, desta vez muito animadamente e com as mãos em algum lugar mais excitante do meu corpo -, mas ela não veio. Quando abri meus olhos para entender o que havia acontecido, Harry estava me encarando com a expressão um tanto estranha – na verdade, não consegui entender se ele estava concentrado ou achando graça de algo.
  - Nós precisamos conversar. – ele disse e se levantou antes que eu perguntasse alguma coisa.
  - Não precisamos não. – respondi encarando seu corpo incrível dentro daquela boxer cinza. Levantei-me da cama também e andei até ele. Harry caminhou para o outro lado do quarto, fugindo de mim.
  - Fique aí. Você vai me deixar falar. – ele me alertou e eu estaquei onde estava.
  - Qual é o problema de você falar enquanto me esquenta? Estou com frio, amor. Quero ficar perto de você... – falei com um sorriso safado na cara e voltei a andar atrás dele dentro do quarto.
  - , isso é importante, ok? E se você me tocar, você sabe, eu perco o controle. – Harry disse e riu. Tirou um moletom e uma calça de dentro do meu guarda-roupa e jogou para mim. – Pronto, agora você não vai mais sentir frio.
  - Ah, você quer que eu me vista? – perguntei sabendo que seu tirasse a blusa dele, a única peça de roupa que estava usando, ficaria completamente nua. Na verdade, quase completamente; eu estava de meias, então ficaria com elas cobrindo meus pés.
  Meu namorado parou um instante para pensar em sua ideia genial, mas já era tarde demais. Tirei sua blusa do jeito mais sexy que pude e arqueei uma das sobrancelhas assim que sua expressão mudou de “vamos ter uma conversa” para “peeeeitos!”. Aproveitei-me disso, é claro, e andei novamente na sua direção. Desta vez, Harry ficou parado onde estava, os olhos medindo cada centímetro do meu corpo.
  - Ainda quer conversar? – perguntei ao pé do seu ouvido repousando minha mão em seu abdome.
  - Talvez daqui vinte ou trinta minutos. – ele respondeu e me beijou, exatamente do jeito que eu queria antes.

  - Você é o pacote completo, sabia? – comentei ainda de olhos fechados, completamente exausta depois da sessão de sexo incrível que tivemos.
  Harry soltou uma risada abafada, então ficamos em silêncio pelos próximos minutos, ambos recuperando o fôlego e parte das energias gastas. Meu estômago roncou alto me lembrando de que eu precisava do café da manhã. Mas, antes que eu reunisse coragem para me levantar, Harry voltou com o papo de que precisávamos conversar.
  - Tudo bem. – me rendi. – Conversamos depois do café da manhã. Estou morrendo de fome. – falei e pus-me de pé, andando até o guarda-roupa atrás de uma calça confortável e uma blusa de mangas.
  - Por que você está fugindo do assunto dessa forma? – ele perguntou colocando a calça do pijama azul xadrez que eu havia lhe dado de presente na semana anterior porque ele ficava incrível com aquela cor.
  - Porque eu sei que você vai falar sobre reunir a família para o Natal e blábláblá, e a última coisa que eu quero é ver meu pai, minha mãe ou a .
  - Eles são seus pais e ela é sua irmã gêmea, ! Vê-los não é exatamente uma questão de opção. – Harry disse com o tom repreensivo que só me colocava mais ainda na defensiva.
  Passei a escova nos cabelos e andei até o banheiro para jogar água no rosto. Eu não brigaria com Harry por causa daquilo, já estava decidida com relação a isso.
  - É Natal, . Você precisa incorporar um pouco esse espírito e tentar esquecer os problemas que tem com a sua família nem que seja por um dia... – Harry falou enquanto eu passava o creme demaquilante. Esperei pela frase “se não vai fazer isso por eles, então faça por mim”, mas ela não veio. Essa frase era a única coisa que sempre me apertava quando tratávamos daquele assunto.
  Andei para cozinha com o objetivo de preparar o café e algumas torradas, mas Harry me segurou assim que passei por ele para sair do banheiro.   - Por favor, não me ignore. – ele pediu de um jeito tão fofo que quase me senti mal por não estar dando importância àquela conversa.
  - Não estou te ignorando, Harry. Mas é que... – comecei a dizer e então suspirei alto. Eu estava tão cansada de explicar aquelas mesmas coisas para ele. De dizer que eu tinha motivos para querer tocar a minha vida e pensar o mínimo possível nos meus pais ou na . De falar que ele jamais entenderia porque não viveu nada assim, e que tudo bem, mas eu precisava que respeitasse meu espaço.
  - Eu sei que seus pais não foram os melhores do mundo, ...
  - Eu nunca pedi isso a eles, Harry. – eu o interrompi. – Nunca quis ou exigi que eles fossem os melhores. Eu só queria que meu pai parasse de beber ou de trair a minha mãe e que trabalhasse, como os pais de todos os meus colegas na escola faziam, pra sustentar a família. Eu só queria que a minha mãe não tivesse culpado a mim e à a vida inteira pelos problemas que tínhamos. E eu só queria que a minha irmã não tivesse crescido com tanta inveja ou raiva de mim e nós conseguíssemos trocar pelo menos meia dúzia de palavras sem começar uma briga.
  Harry ficou calado. Ele havia decidido levantar aqueles defuntos, então agora sofreria as consequências. Porque agora eu estava me lembrando de tudo e a minha convicção de não ver nenhum dos meus familiares continuaria cada vez maior. Eu tinha motivos para isso, afinal.
  - Seus pais são incríveis. Eles sempre apoiaram seu sonho, sua carreira. Sua irmã... A Gemma é adorável! Ela morre de orgulho de você. – Harry encarava os próprios pés enquanto eu falava: - E isso é maravilhoso. Ter uma família unida, que se ama como a sua, é a melhor coisa do mundo. Eu entendo porque o Natal é tão importante pra você, e principalmente porque família vale tanto sacrifício no seu caso. Mas você precisa entender que eu não vivo a mesma realidade.
  Harry não disse nada, e eu já havia enjoado daquele assunto, então simplesmente terminei o caminho até a pequena cozinha do meu apartamento e me dediquei a preparar nosso café da manhã durante a próxima hora. Eu entendia que as intenções do meu namorado eram as melhores. Mas estava passando de hora dele entender que eu não estava evitando meus pais e minha irmã à toa, nem fazendo charme.
  Eu era exatamente do tipo de pessoa que coloca tudo que a machuca por debaixo de novidades, que tenta apagar o passado sombrio de todas as formas possíveis, e que vive a maior parte dos dias conseguindo fingir que nunca passou por nada muito traumático. Meus fantasmas dificilmente me atormentavam, e isso era o bastante para mim. Eu estudava Direito na Universidade de Londres e namorava o cara mais incrível da Terra. Eu tinha amigas maravilhosas, um emprego legal, um apartamento no centro de Londres e nunca me faltava nada porque eu conseguia me manter sozinha. Minha vida estava ótima do jeito que estava, então qual era a razão de ressuscitar tudo aquilo que me machucava?
  - O que você acha de assistirmos a um filme? – Harry perguntou enquanto eu lhe servia café. Ele havia me ajudado a colocar as coisas sobre a mesa, mas não havia falado nada desde o momento que encerrei o assunto “passar o Natal em família”.
  - Acho uma ótima ideia. – respondi e sorri para ele, na tentativa de indicar que eu não estava com raiva, que já havia deixado a conversa para trás.
  - Podemos ver aquele do Grinch... – Harry sugeriu.
  - Ou podemos assistir Jogos Vorazes. – falei em contrapartida. Ele deu uma gargalhada.
  - Ok. Vamos ver Jogos Vorazes. – assentiu e me deu um beijo no rosto antes de morder sua primeira torrada.

xx

  No dia 24 de Dezembro, eu estaria de folga, assim como todos os outros funcionários do escritório de advocacia onde eu estagiava. Portanto, não me preocupei em programar o alarme para o dia seguinte quando me deitei para dormir na segunda, e quando Harry me ligou às oito horas da manhã, precisei reprimir a vontade de xingá-lo por me atrapalhar a dormir. Eu adorava escutar sua voz, falar com ele ou qualquer outra coisa do tipo, mas poxa, eu adorava dormir também!
  - O que foi, amor? – atendi no quinto toque.
  - Estou chegando no seu prédio. – ele disse alegremente.
  - Como é? Você não ia para a casa dos seus pais hoje?
  - Eu vou para a casa dos meus pais. Mas decidi levar você vai comigo. Então, pode ir se levantando e arrumando a mala. Quero sair assim que almoçarmos.
  Sentei-me na cama sem querer ser grossa com ele, mas sem conseguir esconder a irritação também. Que merda de ideia era essa agora?
  - Harry, eu não vou para a casa dos seus pais. Isso é... Isso é impossível a essa altura! Eu não comprei presentes pra ninguém e você acha que é simples assim? Faz as malas e pronto? – falei nervosa.
  - Não é preciso levar nada pra eles, ...
  - É claro que é! E nem tente discutir isso porque só vai piorar a sua situação comigo.
  - Ok, ok. Nós passamos em algum lugar no caminho pra você comprar os presentes. Problema resolvido.
  - Eu não consigo fazer as malas até a hora do almoço. – citei o outro problema porque declarar que enfrentar a família dele me deixava nervosa e eu não estava preparada psicologicamente para isso não adiantaria.
  - É claro que consegue. Só vamos ficar na casa deles até o dia 26 de manhã. E eu te ajudo também.
  Suspirei alto.
  - Eu não vou deixar você passar o Natal longe de mim. Você é parte da minha família agora, e será a pessoa mais importante dela no futuro, quando nós nos casarmos. – meu namorado disse.
  Harry e eu estávamos juntos há quase dois anos, mas casamento nunca fora um assunto entre nós. Na verdade, era a primeira vez que ele falava nisso. Eu não era fã da ideia – nós praticamente morávamos juntos quando ele estava na cidade, então não me importava se haveria um papel dizendo que estávamos unidos ou não porque eu já sabia que estávamos e isso bastava. Harry provavelmente não havia tocado no assunto porque com todos os problemas familiares que eu tinha, era bem possível que a ideia de casamento fosse horripilante para mim. E, pra ser sincera, pensar nisso só não me dava mais arrepios porque se tratava dele, e quando o assunto era aquele garoto... Meu cérebro simplesmente não funcionava direito.
  - Certo. – me rendi, por fim, comovida demais com o que ele disse. Eu era uma frouxa quando se tratava de Harry Styles. – Mas ligue para a e diga isso a ela. Eu não vou desmarcar minha presença na ceia dela e da mãe dela a essa altura. Foi ideia sua, então se vire.
  - Tudo bem. Te vejo daqui a pouco então? – Harry perguntou.
  - Tá, seu chato. Venha com café e donuts se quiser ser recebido.
  Meu namorado riu do outro lado da linha antes de encerrar a ligação. Eu, por minha vez, corri até o quarto de hóspedes e peguei uma das malas que estava guardada no armário que preenchia parte do espaço raramente habitado. Pensei em tomar um banho, mas decidi deixar essa tarefa para quando Harry chegasse. Ele teria de passar o próximo mês me recompensando por inventar essa agora.
  Não me entendam mal: Anne é uma sogra adorável – tão adorável que chegava a parecer pura encenação – e Robin me tratava da mesma forma que à Gemma, sua filha. A irmã de Harry tinha ciúmes dele, mas ela era esperta demais para me maltratar – Gemma sabia que isso só colocaria o irmão do meu lado e contra ela, então me tratava com uma educação bastante comedida. O caso é que eu não me sentia à vontade na casa da mãe dele, e provavelmente me sentiria menos à vontade ainda em pleno Natal, quando todos estariam empenhados em compartilhar o amor entre os familiares. Então, eu seria a intrusa sem família no evento que eles estavam acostumados a ter só para si. Não havia forma de aquilo ser divertido.

xx

  A família de Harry nos recebeu tão calorosamente quanto eu imaginava. Sua mãe e sua irmã começaram uma disputa da atenção do meu namorado logo depois de me abraçarem com sorrisos forçados na face e falarem que estavam felizes em me ver.
  - Você precisa ver o quadro que eu pintei para o concurso de artes da escola! – Gemma, a irmã de 14 anos de Harry, disse.
  - Me prometa que você vai me ajudar a cozinhar os muffins. Há tempos não cozinhamos nada juntos. – Anne falou fazendo voz de piedade. Precisei reprimir a vontade de rolar os olhos.
  - Você não teve sorte, não é? Seu namorado tem a mãe e a irmã mais corujas do mundo. – Robin me cutucou enquanto eu encarava as outras mulheres da vida de Harry implorando por atenção.
  - Amor, vou guardar nossas malas no seu quarto, ok? – falei ao pé do ouvido de Harry sem acreditar de verdade que ele me escutaria.
  - Pode deixar que eu levo, meu bem. – ele respondeu pegando minha mala da minha mão e apanhando a sua do chão também.
  - Não, eu faço isso. Vai lá ver a pintura da Gemma e depois ajudar a sua mãe na cozinha.
  - Eu não vou deixar você carregar esse peso todo, . – ele insistiu. Quando olhei para a mãe e para a irmã de Harry, elas estavam me fuzilando com os olhos.

  Passei o resto do dia rodeando a família de Harry. Ficamos a maior parte do tempo na cozinha, e ele parava toda a hora o que estava fazendo para lambuzar meu rosto de doce só para lamber o local em seguida, ou simplesmente para me dar um beijo e dizer que sou linda. Mas a cada vez que ele fazia isso, Anne e Gemma rastejavam mais ainda por atenção.
  Tentei ajudar a preparar alguma coisa, mas Anne disse que eu era convidada e convidados não trabalham. Então, minha véspera de Natal foi um tédio absoluto, que eu tentei preencher usando a internet pelo celular e folheando as duas revistas que havia comprado no caminho para Cheshire. Não funcionou, é óbvio, e eventualmente comecei a reparar na felicidade da família de Harry simplesmente por prepararem a ceia de Natal e a decoração para o evento juntos. Eu nunca tive aquilo, e há muito tempo não sentia vontade de ter, talvez porque havia muito tempo que eu não olhava para as coisas daquela forma, tão de perto, quase como se eu fizesse parte daquilo.
  - ? – Anne me chamou logo que terminei de anunciar que estava indo me arrumar para a ceia. O relógio marcava 7:23 P.M, ainda muito cedo, mas eu pretendia demorar uma eternidade para me aprontar já que não havia mais nada para fazer.
  - Sim?
  - Antes de você ir tomar banho... Tire uma foto nossa, por favor? – ela completou me passando seu iPhone.
  - Ah não, mãe! Estou toda bagunçada e imunda de doce. – Gemma protestou fazendo bico.
  - Deixa de ser fresca, Gemma. – Harry disse passando a mão suja de farinha na cabeça da irmã, que protestou de novo, mas desta vez com um sorriso.
  Anne chamou Robin que estava na sala de jantar organizando a mesa, e eu bati a foto da família reunida. Quando conferi o resultado no visor do celular, tive vontade de ir embora dali, me detestando por ter ido. Eu realmente era só uma intrusa.

  Não fui tomar banho. Enquanto Harry estava distraído com a sua família, eu saí pela porta da frente com o objetivo de caminhar um pouco. E foi isso o que fiz. Andei por alguns minutos sabendo que só estava fazendo isso para voltar de novo para o cenário anterior e viver aquele suplício por mais um dia e meio.
  Por um momento, tive vontade de ligar para a . Minha carência natalina repentina não ia tão longe ao ponto de me despertar vontade de ligar para o meu pai. Mas até para a minha mãe tive vontade de telefonar, de repente. Ela sempre jogava na minha cara que eu só era uma adulta relativamente bem sucedida porque ela havia dado o seu sangue para me sustentar. Mas ela estava certa – eu devia muito a ela. Então, deixei que o impulso me dominasse e selecionei o contato da senhora no celular. Ela não atendeu. A ligação foi para a caixa postal, e por um instante pensei em desligar, mas eu sabia que não teria aquela coragem de novo. Por isso, deixei uma mensagem:
  Oi, . Espero que esteja tudo bem por aí. Eu só estou ligando para desejar um feliz Natal. Então, feliz Natal.
  Boa noite.
  .

  Em seguida, liguei para a , minha irmã gêmea que me detestava.
  - Alô? – ela atendeu no segundo toque.
  - Oi, . – eu disse. – Aqui é a...
  - , eu sei. Sua voz é idêntica à minha, esqueceu? – ela falou num tom de voz que me deu raiva de mim mesma por ter ligado. Respirei fundo tentando me acalmar.
  - Como você está? – perguntei.
  - Desde quando você se importa?
  - Liguei pra desejar um feliz Natal. – sua ingrata, idiota do caralho. Não falei em voz alta esses elogios por mais vontade que tivesse de cuspi-los na cara dela.
  - Ah – disse sem graça. – Obrigada. Feliz Natal. – completou ainda com voz de desdém. Então, desliguei o telefone sem me dar o trabalho de me despedir.
  E aí eu chorei. Chorei porque estava me sentindo a pessoa mais solitária do mundo. Chorei porque eu disse a Harry que preferia passar o Natal na casa de , onde comeríamos peru e conversaríamos sobre amenidades. Chorei porque “ser uma órfã com familiares vivos” era uma situação que ele nunca entenderia, e eu tinha vontade de vomitar só de imaginar que teria que passar o resto da minha vida encarando natais como aqueles somente para agradá-lo. Harry valia o sacrifício, é claro que valia. Mas meus limites provavelmente não iam até tão longe.
  - ? – escutei a voz de Harry me chamando. Tirei as mãos do rosto para olhar em volta, e lá estava ele, correndo na minha direção. – Amor, o que foi? – ele perguntou, e meu choro só aumentou de intensidade. – O que foi, ? O que aconteceu? – Harry insistiu me abraçando.
  - Eu quero voltar pra Londres. – falei simplesmente.
  - Nós vamos voltar. Depois de amanhã, assim que terminarmos de almoçar.
  - Quero voltar agora, Harry.
  - Mas por quê? O que aconteceu? – ele questionou novamente preocupado.
  - Eu não deveria ter vindo. Esta é a sua família. Eu não deveria ter me metido no Natal de vocês assim.
  - Você não se meteu. Eu te trouxe comigo. E é a sua família também.
  - Não, não é. E você precisa entender isso. Você não pode tentar preencher o buraco que não ter família com quem contar deixa em mim. Não é justo tentar fazer isso com a sua mãe, sua irmã e seu padrasto. Me desculpe, mas ver como é o Natal pra vocês só faz com que eu me sinta mais sozinha ainda.
  - ... Você nunca vai estar sozinha. Eu te amo. Eu sempre vou estar aqui.
  - Nós vamos dividir nossa vida por completo um dia, e vamos celebrar o Natal juntos. Mas até que esse dia chegue, prometa que você não vai me arrastar para a sua casa de novo. – pedi encarando os olhos verdes de Harry. – Eu sei que sua intenção é boa, mas eu prefiro ficar com a e a mãe dela.
  - Certo. Eu prometo. – Harry assentiu. Ele me abraçou por alguns segundos, e então começou a olhar por sobre o ombro em direção a sua casa.
  - Vamos terminar este Natal logo. – falei pegando Harry pela mão e conduzindo-o de volta para onde Anne, Gemma e Robin nos aguardavam. Eu não deixaria que o Natal fosse arruinado para ele, como já estava arruinado para mim há 19 anos e provavelmente continuaria por um bom tempo.

  Confesso que a ceia foi muito melhor do que eu havia previsto. Harry me cobriu de atenção e eu decidi ignorar a cara feia de sua mãe e de sua irmã e apenas curtir o carinho do melhor namorado do mundo – o meu namorado. Trocamos presente depois do jantar – não havia crianças no recinto, portanto todo mundo sabia que o Papai Noel não deixaria presentes debaixo da árvore durante a madrugada. E então, por volta das três da manhã, fomos dormir.
  - Sabe o que vai ser lindo? – Harry comentou me abraçando por trás assim que fechei a porta do quarto.
  - O quê? – perguntei feliz por tê-lo exclusivamente para mim pelas próximas horas, ainda que passássemos adormecidos pela maior parte delas.
  - Ver os nossos sete filhotes bisbilhotando pela porta do quarto para ver se o Papai Noel está deixando presentes embaixo da nossa árvore.
  Eu ri alto por causa do “sete filhotes”.
  - Nossos sete filhotes? Eu não vou parir sete crianças, Styles. – falei ainda rindo.
  - Você acaba com o romance das coisas, sabia? – ele comentou tentando parecer desanimado, mas com um sorriso gigante no rosto.
  Coloquei-me nas pontas dos pés e depositei um beijo nos lábios de Harry.
  - Eu te amo. – eu disse acariciando os cabelos no alto de sua testa.
  - Certo, acho que isso devolve o romance. – ele declarou e sussurrou um “também te amo” antes de me beijar e puxar meu corpo para perto do seu exatamente do jeito que eu adorava.
  E foi essa parte da noite que fez com que o meu Natal fosse bom, no final das contas.

FIM



Comentários da autora


N/A: Hello, girls!
Bom, estou aqui pra dizer que esta fanfic foi escrita especialmente para a senhorita Isadora Mariotto. Isa, saiba que fiquei muito feliz quando vi que você era minha amiga secreta. Espero que você goste da história que escrevi com tanto carinho pra você. Beijo grande, e Merry Christmas! <3