Christmas Ice Dreams

Escrito por Thaís M. | Revisado por Luba

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Capítulo Único

  Depois de tanto reclamar da demora que foi pra passar esse ano, finalmente chegou dezembro! Como não amar dezembro? Férias da faculdade; panetone; presentes... Amo todo clima natalino, claro que seria perfeito se ao menos nevasse nessa cidade de calor infernal e também que eu pudesse viver em um daqueles filmes natalinos bonitinhos que passa esse mês na sessão da tarde MAS, cada um é fadado a passar o natal no lugar que merece, apesar de eu ainda achar que mereço pelo menos um friozinho nessa época.
  Aproveitando todo esse clima natalino, resolvi começar minha maratona anual de filmes natalinos; desde Barbie A Canção de Natal a Simplesmente Amor.
  – Caramba , de novo você vendo esses filmes tudo repetido!
  – Ah mãe, eu gosto. É aquela coisa, se não pode acontecer comigo pelo menos posso ver acontecendo com os outros.
  – Isso tudo é carência, filha?
  – Não. Talvez... Um pouquinho só, vai. - Digo pausadamente.
  Continuei minha maratona após ser interrompida pela minha mãe e, como acontece todo verão, começo a escutar os trovões e vejo os clarões dos relâmpagos invadindo meu quarto.
  – Que comece a chover logo e pare de vez com esses raios e trovões. Já não basta ter queimado o roteador ano passado. - Murmuro olhando para a janela do quarto.
  E como se tivesse dito uma maldição, a situação só piorou lá fora. Decido desligar a internet e me prevenir de uma futura bronca. Estava me abaixando para tirar o cabo da tomada quando:
  – Maravilha, esses raios acabando com minha maratona. Podia chover sem raios? Mas, é claro que... - Enquanto estava choramingando com o cabo na mão um clarão invadiu a sala e quando vou levantar a cabeça, a bato na estante. Apaguei.
  Minha cabeça doí, preciso de um remédio urgente. Passando a mão pelo rosto vejo que estou sem meus óculos, nada como ficar parcialmente cega. Abro meus olhos já prevendo ver tudo embaçado. Mas não é bem assim que acontece…
  Abrindo meus olhos vejo que está bem claro já, apesar de me lembrar que a pouco ainda era finalzinho de tarde, estranho.
  – Mas o quê? - Olhando em volta vejo que não estou mais na sala e muito menos em casa. Estou num quarto bem diferente do que eu costumava ver.
  Levanto da cama e me dou conta que estava conseguindo ver bem, muito bem na verdade, mesmo não usando meus óculos, que afinal pareciam ter sumido também.
  – Está tudo bem?
  – Ai! Que susto. - Digo colocando a mão em meu peito e olhando assustada para o homem sorridente a minha frente.
  – Perdão. Mas, você já está a um tempo dormindo...
  – Tudo bem. Onde estou? Como vim parar numa casa estranha e ainda por cima numa cama estranha? - Comecei a fazer perguntas, desesperada.
  – Eu encontrei você caida na estrada, já estava bem pálida. Além de que suas roupas não pareciam muito apropriadas para a neve. - Ele diz me olhando um tanto corado.
  Espera. Ele disse neve? NEVE?
  – Está nevando? - Pergunto desesperada indo até a janela. - Não é possível! - Estou sonhando porque está tudo branquinho lá fora coberto por neve.
  – Já faz um tempo que está nevando aqui. Você não é daqui pelo jeito, né?
  – Não, eu definitivamente não sou daqui. Onde estou?
  – Bom, estamos em Reineal, na Noruega.
  Noruega? Como diabos fui parar na Noruega? E ele não deveria falar alemão ou inglês sei lá?
  – Ok, moço. Olha, não sei teu nome mas, se me sequestraram ou algo do tipo eu devo dizer que fizeram um mau negócio, porque ninguém vai pagar resgate para mim não, mesmo se tivéssemos dinheiro para isso, então... - Comecei desesperadamente tentar alguma negociação com o homem que estava à minha frente.
  – Mas, moça não sei do que você está falando. Não sequestrei ninguém, foi você que me apareceu no meio da estrada e provavelmente iria morrer de frio se não fosse te ajudar. Não me insulte desse jeito.
  – E como me explica eu ter vindo parado na Noruega? E ainda por cima achar alguém que fale português por aqui? Meu Deus, eu só queria tirar o roteador da tomada... - Choramingo a última parte.
  – Eu realmente acho que você teve ter perdido a memória, até porque estamos falando em alemão, que eu saiba.
  Oi? Alemão? Eu falo no máximo um inglês intermediário, agora ele me diz que estamos falando alemão? Eu fui drogada, certeza. Roubaram minha casa e, sei lá, me exportaram para a Noruega para ser escrava desse cara. Eu já vi essa novela sobre tráfico de pessoas... Ai meu Deus! Eu que sou uma pessoa tão boa, se não fui prometo ser mas, me tira dessa pelo amor.
  – Acho melhor nos apresentarmos direito. Meu nome é , e o seu? - Ele pergunta, me estendendo a mão.
  – . Meu nome é .
  – Bom, é um prazer te conhecer. Antes de você pensar outras coisas horríveis sobre mim gostaria de dizer que minha família está toda no andar de baixo. Não tem porque eu querer te machucar. Eu vou buscar algo para você comer. - diz abrindo a porta.
  Ainda estou um tanto confusa com isso. Noruega? Alemão? Não sei quem está mais louco aqui. Logo depois a porta é aberta devagar e entraram duas meninhas idênticas e um meninho que pareciam ter a mesma idade.
  – Olá. - Digo vendo que eles estavam apenas me observando.
  – Oi. O tio disse pra gente não vim aqui te incomodar, mas a gente queria te ver e nem estamos incomodando, né? - Disse uma das gêmeas, sorrindo.
  – Claro que não. Qual o nome de vocês?
  – O meu é .
  – .
  – . - Foram dizendo em ordem e se aproximando mais da cama. - E você? Qual seu nome? - Pergunta .
  – .
  – Como você foi parar no meio da estrada? - Pergunta ou a , não decorei.
  – Nem eu sei.
  – Minha mãe disse que temos que olhar para os dois lados e depois, se não tiver nenhum carro vindo, atravessar a rua. - diz sentando na cama.
  – ? Você olhou para os dois lados antes de atravessar? - Uma das meninas pergunta, fazendo um biquinho muito fofo.
  – Não sei, amor. Não lembro de muita coisa. - Falo com a cabeça baixa.
  – O que vocês estão fazendo aqui, em? Eu falei para não incomodar a nossa visita, certo? Vamos, vamos, saiam da cama. - entra no quarto com uma bandeja de comida.
  – Tchau . - As crianças dizem e saem correndo do quarto.
  – Desculpe. Meus sobrinhos são muito curiosos.
  – Que isso. Crianças são crianças né? Quantos anos eles têm? - Pergunto já me servindo da comida que tinha na bandeja.
  – Tem 5 anos. Trigêmeos.
  – Uau.
  E assim ficamos naquele silêncio constrangedor. , parecendo tão desconfortável quanto eu, resolveu começar a falar:
  – E então, lembra onde fica sua casa?
  – No Brasil. - faz uma cara de desentendido. – Sabe, Rio de Janeiro, Cristo Redentor... - Quanto mais eu falava mais parecia confuso. – Ok, você não conhece o Brasil, então. É meio longe mesmo.
  – Como você veio parar aqui, então?
  – Tá aí uma coisa que eu não faço ideia.
  – Certo. Mas como você vai voltar para casa agora? - pergunta realmente preocupado.
  – Eu... eu não sei. - comecei a entrar em desespero. - Simplesmente vim parar aqui sem dinheiro nem nada.
  – A gente vai dar um jeito. - diz olhando nos meus olhos e segurando minhas mãos.
  Após nossa conversa me leva para conhecer sua família. Seus pais são uns amores de pessoas, sua irmã então até me emprestou umas roupas até que eu tivesse minha situação resolvida… Na casa enorme moravam , seus pais, sua irmã e marido e os trigêmeos.
  Com esse clima todo de Natal a casa estava totalmente decorada e a neve lá fora combinava perfeitamente com tudo. Seria isso tudo um sonho? Eu realmente não sei o que eu gostaria que fosse!
  Fui até a varanda e fiquei observando a neve cair. É um sonho estar aqui, mas, como vou voltar para casa? Sem dinheiro, sem saber exatamente onde estou, sem saber como ao menos vim parar aqui… Respiro fundo e tento manter a calma.
  – Ei, porque está aí ainda? - me pergunta enquanto vejo seus sobrinhos correndo para neve. – Você nunca viu neve, certo? Está na hora de aproveitar esse mal entendido que aconteceu contigo. - Ele diz me puxando para o quintal.
  Se já estava frio da varanda, colocando as botas na neve me surpreendi em descobrir que conseguiria ficar ainda mais frio. me estendeu um par de luvas bem grossas que logo coloquei.
  – Guerra de neve! - grita acertando o tio.
  Meu Deus, quantos anos eu vivi para escutar isso mesmo?
  – Se eu fosse você começaria a correr. - me olha sorrindo com um bolo de neve nas mãos.
  Corro.
  Ficamos um bom tempo jogando neve uns nos outros até eu estar completamente exausta. Minhas pernas já não aguentavam mais, me apoiei em , mas acabou os dois indo para o chão.
  – Des… - Começo a falar, mas ao abrir meus olhos eu encaro os olhos verdes de . Paraliso.
  – Anjos de neve! - Grita , fazendo com que seus irmãos se jogassem na neve também.
  Rolo para lado e começo a abrir meus braços e pernas pela neve. Sorrio, vendo que mais um sonho de infância foi realizado.
  – Crianças! Está na hora de entrar já, vamos. - A irmã de aparece chamando seus filhos.
  Eles se vão e ficamos apenas e eu deitados na neve.
  – Obrigada. - Digo olhando para o lado e vendo que ele também me olhava. – Sempre tive o sonho de conhecer neve e poder fazer isso tudo. No lugar de onde eu venho é mais fácil fazermos guerra com bola de fogo, de tão quente.
  – Uau. - diz sorrindo. – Não tem que agradecer. Já faz um tempo que não brinco com a neve também.
  Ficamos olhando um para outro até eu levantar.
  Entramos e eu fui para o quarto que me emprestaram para trocar de roupa. Foi bom esquecer um pouco das coisas que estavam me acontecendo.
  – ? - A irmã de bate na porta após eu me arrumar.
  – Ei, pode entrar!
  – Desculpa eu incomodar mas, você não vai descer para jantar?
  – Claro, estamos apenas divagando aqui.
  – Vai dar tudo certo, querida! - Ela disse segurando meus ombros.
  Descemos e fomos jantar. Éramos em 9 pessoas, não estava acostumada com tanta gente num dia comum, minha família é pequena mesmo quando estamos todos reunidos.
  Acho que percebeu que estava mais quieta que o normal e perguntou se estava tudo bem.
  – Tô bem, só saudades de casa mesmo.
  E tempo foi passando. Cheguei a Reineal dia 13 de dezembro, hoje já é dia 23. Um dia depois daquele jantar foi comigo até um "aeroporto" minúsculo que era apenas uma pista de pouso praticamente, lá nos informaram que eu só conseguiria embarcar para a capital da Noruega e que no aeroporto de lá poderia encontrar passagem para o Brasil, que no caso ninguém parecia conhecer ali.
  Para não irmos viajar a toa procuramos passagem da Noruega para o Brasil e adivinha? Parecia que a internet da Noruega também desconhecia o Brasil. Estava tudo muito estranho, como vim parar nesse fim de mundo encantador? O ainda jurava que falávamos alemão, mas como? Parece que eu enlouqueci e que no final tudo não passa de uma ilusão. Uma doce ilusão...
  – Desculpa. - diz sentando em minha frente. - Prometi te ajudar e até agora nada. Cada vez mais parece que fica impossível... Merda. - Ele fala frustrado, olhando em meus olhos.
  – Não tem porque pedir desculpas, a culpa não é sua. Eu que te agradeço por ter me trazido para a sua casa e me ajudado de toda a forma possível. - Falo sorrindo. - Agora é só não desistir e ir levando a vida.
  – E o que mais a senhorita gostaria de fazer nessa cidade fria às vésperas do natal? - Ele me pergunta sorrindo e segurando minha mão.
  – São tantas coisas... Sonho com aqueles biscoitos natalinos e, sei lá, tudo que vejo nos filmes natalinos.
  – Acho que podemos fazer algumas coisas, sim. - diz rindo e se levantando. - Sem Grinch ou Rudolph certo?
  – Olha na verdade gostaria sim, se possível. – Ironizo.
  E lá fomos nós realizar meus desejos. No dia seguinte, véspera de natal, comemos uns biscoitos caseiros natalinos fantásticos.
  – Eu vou querer aquele que tem o formato de árvore de natal. - Digo apontando para o biscoito.
  – Achei que iria querer comer o papai noel. - diz rindo.
  – Quê? Piada muito ruim cara, melhore.
  Ainda naquela manhã andamos de esqui também. Ou quase isso.
  – Meu Deus, eu vou cair aqui!
  – Calma, o máximo que pode acontecer é você cair e sair rolando até em baixo.
  – Se isso era pra acalmar, deu errado. - Falo entrando em desespero. Estávamos no pico de um monte de neve.
  – Ok. Prefere escorregar, então? - me pergunta rindo.
  – Prefiro, pelo menos não corro o risco de cair.
  Eu só não sabia que mesmo assim eu poderia cair. Após vários tombos finalmente descemos todo o morro. Já estava ficando tarde, então voltamos.
  – Topa um chocolate quente? - diz assim que voltamos.
  – Claro.
  Fiquei na porta olhando os trigêmeos brincarem com uma bola na neve. Olhando para cima percebi que estava sob o visco, só faltava um beijo agora. Ri para não chorar.
  – Rindo do quê? - pergunta aparecendo com duas xícaras, me oferecendo uma.
  – Olha para cima. - Digo enquanto bebo meu chocolate.
  – Ah. Quer dizer que estamos sob o visco? - pergunta ficando de frente para mim. - O que podemos fazer sob o visco? Cantar uma música natalina, nos beijar...
  Eu quase me engasgo com o chocolate. Beijar? Não que fosse algo que eu não quisesse. Fiquei olhando para assustada enquanto o mesmo se aproximava de meu rosto sorrindo. E logo depois sinto minha cabeça doer. Olho para o lado e vejo os trigêmeos correndo até mim e tudo some.
  Minha cabeça ainda dói um pouco. Meu coração já dispara só de lembrar que estava quase beijando .
  – , sai desse chão, menina!
  Mãe? Abro meus olhos assustada e vejo que estou em casa. Estou deitada no chão de casa e ainda chove… Como? Não, não…
  – Que dia hoje mesmo, mãe?
  – Dia 13, filha.
  Era tudo um sonho, é isso? Não sei porque ainda tinha dúvidas, essas coisas não acontecem de verdade mesmo! Chorando pra não me matar. Os dias foram passando e cada vez mais eu sentia falta do frio, dos trigêmeos e, claro, do . Acabei comentando com minha mãe sobre meu “sonho” que acabou sendo mais uma das minhas fantasias. Toda vez que penso sobre lembro que tudo me pareceu tão real, não faz sentido ter sido só um sonho. Nem beijar sob o visco eu consegui sonhando, imagine na vida real!
  – querida, tem gente na porta, vai lá atender pra mim por favor.
  Fui com minha melhor cara de “minha mãe me mandou sorrir pra vocês” e dou de cara com , o dos meus sonhos.
  – Acho que você ficou me devendo um beijo sob o visco. - Ele diz segurando um visco sobre nós enquanto aproximava seu rosto ao meu.
  Sentir seus lábios nos meus era um sonho. Ainda parecia tudo um sonho. Será que não estou sonhando de novo?
  – Mas menina, não é que ele existe mesmo?! - Caí na real ao ouvir minha mãe falando sobre .

Fim



Comentários da autora


E é isso, desculpa dramatizar a história, mas é mais forte que eu. Perdão. Enfim, Feliz Natal!!