Cheerleader



Escrito por Maru Ferrari
Revisado por Natashia Kitamura

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Capítulo 1 - Tan Sola

Canadá
— Ottawa

  POV.

  Virava meu oitavo copo de tequila enquanto escutava Alex tagarelar pela milésima vez - só naquela noite - sobre o maldito gringo que ele havia conhecido e queria nos apresentar. Eu não aguentava mais ouvir a palavra atleta, o crush de Alex já deveria ter chegado a meia hora, e graças ao seu atraso não fizemos outra coisa a não ser beber todo o bar enquanto esperávamos o indigesto, uma vez que Alex se recusava a se mover dali.
  E o problema em ficar no bar, é que cada vez que eu pedia uma bebida nova, eu temia que o barman descobrisse minha identidade falsa, eu era péssima em mentiras e toda vez que eu bebia acabava falando demais. Eu era uma língua solta.
  Depois de virar um martini de uma vez emendado com a nona dose de tequila, arranjei a desculpa perfeita para sair dali. Por que eu não pensei antes em dizer que precisava ir ao banheiro?
  Desci do banco e ajeitei o vestido preto de paetês que teimava em subir cada vez que eu me sentava, um ordinário. Guardei o falso RG no bojo do vestido e deixei minha bolsa com Laila, que sorriu disfarçadamente ao perceber que eu estava mentindo.
  Conforme eu me afastava dos meus amigos, me mesclava a multidão dançante que tomava conta da maior parte do lugar. Eu gostava de pubs, era um dos poucos lugares onde eu me sentia confortável para dançar as vistas de outras pessoas. Não sei se pelo álcool, pela energia do lugar ou simplesmente pelo fato de que os únicos conhecidos eram meus amigos, mas me sentia extremamente confortável.
  Assim que me vi longe das vistas nervosas de Alex que buscavam alguém, deixei a música me levar, dancei sozinha, com estranhos e sozinha novamente. Devo ter ficado lá por mais de uma hora.
  Quando meus pés ameaçaram doer, eu decidi que era hora de descansar e voltar para o bar onde estavam meus amigos, mas infelizmente eu havia me afastado demais do setor onde eles estavam. Bom o bar da frente teria que servir, o que seriam mais alguns minutos depois do perdido de uma hora que eu havia dado neles.
  Infelizmente meus planos foram interrompidos quando um rapaz da altura de um poste trombou comigo e virou toda a sua bebida no meu vestido. Eu jurava que aquele tipo de coisa só acontecia em filmes.
  Os pequenos pedaços de gelo da bebida caíram no decote do meu vestido e agora faziam cócegas em minha barriga, claro que se isso fosse acontecer com alguém, seria comigo.
  Sacudi o vestido tentando me livrar do gelo. Quando vi uma das pedrinhas cair no chão, reparei no par de pés que ainda estava na minha frente.
  - Você vai ficar parado aí ou vai pegar um papel pra me ajudar? - Questionei rindo, enquanto ajeitava o vestido novamente, limpando as mangas que nem sequer haviam sido molhadas.
  Ri sozinha mais uma vez enquanto outra pedra de gelo caia, ainda sem obter resposta do desastrado.
  - Você é mudo? - Questionei, buscando seu rosto pela primeira vez.
  Naquele momento não sabia se ele era mudo, mas eu com certeza perdi minha capacidade de falar quando meus olhos cruzaram com os seus.
  Parecia assustado, estava estático e perdido, mas nada mudava o fato de que ele tinha um dos rostos mais bonitos que eu já vi.
  Tudo parecia feito para se encaixar, era perfeitamente moldado. Seu maxilar era bem marcado, tinha lábios finos, olhos que faziam uma ótima combinação com as sobrancelhas naturalmente bem desenhadas, bochechas com um tom levemente rosado e um narizinho de dar inveja.
  Eu deveria estar olhando de boca aberta.
  Escutava Travesuras de Nicky Jam tocando ao fundo, a música ecoava nos meus ouvidos, meu corpo queria dançar, mas meu cérebro não parecia estar dando ouvidos, ele não queria dançar, ele queria beijar. Eu queria beijar.
  - Perdóname, yo no... - escutei o par de olhos castanhos falar à minha frente. Não prestei atenção no resto da frase, me perdi no seu sotaque.

"No me puedo contener"

  Ele ainda falava quando eu dei um passo à frente e me estiquei para grudar os meus lábios no seus. Ele permaneceu estático por 5 segundos até que cedeu passagem para minha língua.

"Yo sé que acabo de conocerte
Y es muy rápido pa' tenerte"

  Escutei o tinir do copo de acrílico se chocando com o piso, logo depois senti um par de mãos agarrando minha cintura com firmeza.

"Yo lo que quiero es complacerte
Tú, tranquila, déjate llevar"

  Sua língua se enroscava com a minha, no e dando uma dose alta de energia.

"Dime si conmigo quieres hacer travesuras
Que se ha vuelto una locura"

  Eu poderia passar o resto da noite ali, mas infelizmente fui obrigada a quebrar o beijo devido a necessidade de respirar, o ambiente abafado não queria colaborar comigo. Minha mãos passaram do seu rosto para seu pescoço, soltei uma risadinha fraca quando ele me fitou mordendo os lábios. Ele logo acompanhou meu riso, mantendo o mesmo tom baixinho. Suas mãos permaneciam na minha cintura, porém de forma mais suave agora.
  - - ele se apresentou, olhando para a minha boca.
  Ficava difícil me concentrar com aquele par de olhos em cima de mim e aquelas mãos me segurando. Eu deveria dizer meu nome, mas estava sem palavras até para o básico.

"Y llevo rato queriéndote hablar, y me pone mal verte bailar tan sola ahí, tú bailando tan sola ahí"

  Sem conseguir falar, minhas pernas inquietas começaram a se mover no ritmo da canção. Tocava Tan Sola, e elas sempre reagiam positivamente a um bom reggaeton.

"Voy a acercarme sin permiso a ti, pero es pecado dejarte bailar tan sola ahí, y yo bailando tan solo aquí"

  Sorri contente quando ele acompanhou o ritmo da minha cintura. Eu me virei de costas, ainda mantendo seu corpo junto ao meu com suas mãos ao meu redor.

"Paso a paso yo te guío, baby"

  Meu corpo estava colado ao seu, o cabelo preso em um coque bagunçado deixava meu pescoço exposto o suficiente para que ele pudesse me beijar. E ele sabia exatamente onde beijar.

"Y piénsalo menos y pégate más, piensa que somos tú y yo nada más.
Si este besito te empieza a gustar
Un mordisquito se puede escapar"

  Suas mãos continuavam acompanhando minha cintura. Estávamos bem debaixo da luz, podia observar algumas pessoas parando para nos olhar, mas eu não me importava. Não estávamos fazendo nada demais, e eu estava envolvida demais com a música e seus lábios em meu pescoço.

"Y eso que yo no quería salir. Ni en un sueño había bailado así, tan rico así. Pegadito, tan rico así"
...
"Lo único que hacemo' es bailar, lo único que quiero es bailar"

  Quando a música acabou e começou outra mais calma, fomos parar no canto da pista de dança. Eu não sei se ele me guiou para lá sem que eu percebesse ou se foram minhas próprias pernas, mas era um ambiente melhor. Não haviam tantas pessoas grudadas e era mais amplo. Já que estávamos em um espaço melhor, por que não aproveitar? Sem perder tempo, aproveitei a deixa e acabei pressionando o rapaz contra a parede para beijá-lo novamente. Sorri quando seus lábios se encostaram outra vez nos meus, ele retribuía o beijo com a mesma intensidade. Ele me causava arrepios incríveis.
  Agradeci mentalmente por estar com um dos maiores saltos que eu tinha, o rapaz era relativamente mais alto e mesmo assim se curvava para me beijar. Ele, no entanto, não parecia incomodado com a minha falta de tamanho, parecia gostar, principalmente quando sua mão deslizava pela minha coluna. Percebi que ele realmente estava empolgado quando senti suas mãos passarem da minha cintura para a barra do meu vestido, mas colocar a mão por dentro da minha roupa em público já era demais.
  Ele era parecido com o vestido que eu usava naquele dia: bonitinho, mas ordinário. Ou não…Estava quase quebrando o beijo quando senti a barra da minha única peça sendo puxada para baixo. Ele não queria subir a mão pelas minhas pernas, queria arrumar minha roupa para que eu não mostrasse demais. Era isso mesmo?
  Foi quem quebrou o beijo, ele se afastou com uma risadinha tímida limpando a garganta. Eu ainda não havia dito meu nome.
  Ele definitivamente era meu número, um pouco tímido, voz bonita, educado e latino.
  - As pessoas me chamam de - falei, de forma divertida.
  Depois de fazer uma expressão de confusão, ele riu novamente, dessa vez um pouco mais alto, e era um som delicioso de se ouvir. O acompanhei quando suas mãos foram novamente para a minha cintura, me puxando para mais perto.
  - Por que uma garota como você tava dançando sozinha? - Perguntou no meu ouvido, depois de mais alguns beijos. Senti os pelos da minha nuca se arrepiarem.
  - Meu melhor amigo me arrastou pra cá, ele tinha marcado com um amigo dele - falei um pouco mais alto que o normal, para que ele pudesse me ouvir sobe a música alta - mas eu acho que o idiota não apareceu, fiquei muito tempo no bar esperando com ele e uma amiga, mas eu cansei e fugi pra dançar.
  O loiro começou a rir outra vez, como se tivesse ouvido uma história muito engraçada.
  — Me desculpa, eu... — ele não conseguiu terminar sua frase, uma vez que começou a rir de novo.
  Não entendia o que era tão engraçado, mas sua risada era tão melodiosa que eu acabei rindo junto.
  Quando o riso cessou, ele me encarou novamente, quase como se tentasse me decifrar.
  - Você realmente é muito bonita, .
  Sorri em forma de agradecimento.
  Ele abriu a boca três vezes pra dizer algo, mas acabou desistindo. Cômico.
  Eu conhecia aquele olhar, os caras sempre faziam quando queriam algo mais depois da balada. Mas, para o azar deles, eu não dormia com qualquer um.
  , no entanto, soava mais tímido do que qualquer um que eu já havia beijado. Fiquei curiosa se era realmente aquilo que ele queria.
  - Pode falar - incentivei. - Sem medo.
  Ele riu de cabeça baixa, olhando para os próprios pés. Quando levantou a cabeça, ele umedeceu os lábios diversas vezes antes de falar, como se estivesse procurando as palavras certas.
  - Eu tô aqui faz uma semana e... você foi de longe a pessoa mais interessante que eu conheci - ele falava calmamente, não sei se era apenas sua forma de falar ou se tentava não se perder no idioma. Suas mãos permaneciam na minha cintura. - O que é estranho porque a gente passou mais tempo se beijando do que conversando.
  Foi minha vez de rir.
  - É verdade - concordei. - Você quer sair daqui, não quer?
  Ele sorriu, confirmando com a cabeça.
  - Não é o que você tá pensando, eu juro - soprou em meio a uma risada. - Eu tô num hotel a vinte minutos daqui...ou se você preferir a gente pode ir pra um lugar mais calmo com mais pessoas, um café, o que você pre...
  Sua fala foi interrompida por um estalo seguido por meu desequilíbrio. O meu salto havia quebrado, que momento inoportuno. me segurou assim que eu ameacei cair, sorte a minha que eu já segurava seus braços antes.
  - Tudo bem? Machucou? - Perguntou, parecendo preocupado.
  - Seu hotel me parece uma ótima ideia - respondi a sua pergunta anterior, tirando os sapatos. Aquela já seria minha resposta de todo jeito, não ia transar com ele, mas fiquei interessada demais pra deixar ser só um beijo. Quando fiquei descalça, observei então a diferença de altura, era gritante agora, ainda assim, ele parecia não se importar.
  - Quer avisar seus amigos?
  Neguei com a cabeça e o loiro arqueou a sobrancelha numa pergunta muda.
  - Digamos que eles estão acostumados com meus sumiços. Eu sempre dou um perdido neles e vou embora pra casa antes de todo mundo.
  Normalmente com um outro alguém, completei na minha cabeça.
  - Tudo bem. - Respondeu, me estendendo a mão para sair dali. - Cuidado com os pés.

...

   se recusou a dirigir, disse que havia bebido um pouco e não era do feitio dele ser irresponsável, principalmente se não estivesse sozinho no carro. Ele pediu um Uber e logo depois me ofereceu seu celular, insistindo para que avisasse pelo menos um dos meus amigos aonde eu estava indo. Acabei ligando para Laila, vendo que ele não deixaria de insistir, não admitiria, mas era fofo de sua parte.
  Como eu havia imaginado, Laila me contou que Alex havia levado um bolo do atleta, ele tinha enviado apenas uma mensagem a alguns minutos atrás informando que teve um imprevisto. Imagina só se eu estivesse encostada no bar até agora.
  - Melhor agora? - Brinquei, enquanto devolvia seu celular.
  Não dei tempo para que ele respondesse, juntei meus lábios com os seus assim que ele pegou o aparelho de volta.
  O caminho que deveria durar cerca de 20 minutos, acabou levando apenas metade do tempo, uma vez que não havia trânsito. Conversamos rapidamente durante o trajeto e eu descobri que ele era Argentino, o que eu já havia desconfiado pelo seu sotaque. Quando chegamos na porta do hotel, ele abriu a porta para que eu saísse, assim como fez na hora de entrarmos, no entanto dessa vez me pegou no colo antes que eu pudesse pisar no chão.
  - Não precisa fazer isso - falei, mesmo que minhas mãos já estivessem em seu pescoço enquanto eu segurava meus sapatos. Eu amava cavalheirismo, homens gentis eram meu fraco. Mas ao mesmo tempo eu não gostava de incomodar, e sentia que estava dando um trabalho desnecessário ao rapaz que havia acabado de conhecer.
  - Seus pais não te ensinaram que faz mal andar descalço? - Brincou, enquanto caminhava para dentro.
  Dei um sorriso sem vida, meus pais não haviam me ensinado muita coisa. Eles nunca tinham tempo para mim.
   vendo que eu tinha ficado quieta de repente, deu um pigarro para chamar minha atenção. Infelizmente ele escolheu uma péssima hora para fazer isso, pois quando dei por mim, estávamos quase entrando em um elevador.
  - Não não não não - chacoalhei minhas pernas enquanto tentava me afastar do corpo dele.
  - O que foi? - Ele respondeu parando de andar, assustado com a minha atitude repentina.
  - Eu não vou entrar nessa armadilha do satanás.
  - Tá com medo do elevador? - Ele seguiu meu olhar até a caixa metálica e logo começou a rir. - Tem medo de elevador mas não tem medo de sair com um estranho?
  Ok, ele tinha um ponto. Talvez eu não tenha juízo mesmo.
  - Se essa coisa despencar ou a gente ficar preso...
  - A chance disso acontecer é mínima. - Respondeu, entrando comigo no elevador. - Fecha o olho, são só 14 andares, passa rápido.
  - SÓ 14 ANDARES? - acabei gritando, chamando atenção de algumas pessoas que passavam por ali. Senti minhas bochechas corarem.
  Pensei em descer do seu colo, mas infelizmente era tarde demais, as portas já haviam se fechado e a armadilha do diabo já começava a se mover.
  Enterrei meu rosto em seu pescoço e apertei o máximo que pude, tentava aliviar meu nervosismo, no entanto acabei encontrando mais conforto no cheiro que ele exalava, um aroma suave, atrativo e levemente sensual. Uma mescla perfeita que emanava dele.
  Infelizmente, chegamos rápido demais ao seu andar e eu me vi na obrigação de me desenroscar do seu pescoço tão convidativo. Nunca pensei que fosse ficar triste por sair de um elevador.
   não encontrou dificuldade alguma em pegar o cartão de acesso mesmo comigo no colo, ele parecia ter uma agilidade muito boa. Me perguntei o que ele fazia da vida.
  A suíte era ampla e bem completa, ao entrarmos demos de cara com uma pequena sala e uma mesa de jantar. Ao fundo era possível ver uma enorme cama e a porta do banheiro do lado.
  - Onde você quer ficar? - Perguntou me olhando.
  - Cama. - Respondi de uma vez, ele mal tinha terminado sua pergunta. Droga, porque eu não disse sofá? Acabei rindo do meu constrangimento e ele me acompanhou, enquanto me colocava sentada na cama macia - na qual eu fiz questão de deixar os meus pés sujos de balada pendurados para fora.
  - Eu não vou dormir com você - comecei, ainda rindo, enquanto colocava os meus sapatos no chão e soltava o meu cabelo.
   se sentou nos pés da cama, observando a cena.
  - Eu disse que não era o que você estava pensando. - Ele não me olhou, mexia em seu celular agora, mas pude ver um sorriso se formando em seu rosto. - Tá com fome?
  Balancei a cabeça em negação. Eu havia bebido metade do bar, a chance de comer algo e vomitar na frente dele seria enorme.
  - Tudo bem. Eu preciso ir até a recepção, o carro que eu deixei no pub é alugado e tenho que pedir para alguém buscar. Você espera?
  - Alguém consegue negar alguma coisa pra você quando você fala assim?
  - Assim como? - Perguntou rindo.
  Com essa voz macia que dá vontade de ficar de joelhos pra você, pensei.
  - Vai, eu espero.
  Aproveitei enquanto ele foi até lá embaixo para ir ao banheiro. Quando me dei conta de que precisava ir, já estava quase fazendo xixi nas calças. Depois de dar paz a minha bexiga, decidi limpar os meus pés que haviam passado por todo tipo de bactéria.Por último, passei uma toalha molhada no decote do vestido, limpando qualquer rastro de bebida. Voltei para o quarto logo depois.

...

  Tive a impressão de dormir por longas horas enquanto esperava o argentino voltar, mas claro que aquilo não poderia ter passado de um cochilo. Eu não estava tão cansada assim.
  Pelo menos foi o que eu achei, mas a luz que penetrava as cortinas me dizia o contrário. Me irritei imediatamente, eu não gostava de acordar com o sol na minha cara, por acaso existia algum imbecil que gostava?
  Eu estava deitada de bruços apoiada em um travesseiro, ia usar para proteger meus olhos do sol, mas vi que era melhor usar uma das cobertas.
  Engraçado, eu não me lembrava de ter me coberto ontem a noite. Na verdade eu nem lembro de como dormi exatamente. Bom, pelo menos eu ainda estava vestida.
  Desisti de lutar contra o sol e me sentei na cama, procurando pelo motivo de eu estar ali, mas percebi que estava sozinha no quarto. Ele não havia voltado?
  Quando olhei para a mesinha que ficava perto dos pés da cama, reparei em alguns objetos que não estavam lá na noite anterior; uma caixa branca, uma folha de papel e um celular, o celular dele na verdade.
  Fazendo justiça a pessoa curiosa que eu era, me levantei da cama e fui olhar mais de perto.
  A folha trazia meu nome em letras grandes, seguidas de algumas palavras em letras menores, antes de ler, não pude deixar de admirar sua caligrafia.

  "Eu acabei demorando um pouco na recepção, me desculpe. Você estava dormindo quando eu voltei e preferi não te acordar.
  Achei melhor pegar outro quarto essa noite, você estava apagada e não queria que tivesse a impressão errada de mim. Talvez meu único atrevimento essa noite tenha sido te ajeitar na cama, mas uma pessoa como eu não suporta ver pessoas dormindo em má posição.
  Na caixa tem um par de sapatos novos, achei que você não ia querer chegar em casa descalça. Eu posso te levar, mas você me deve um café da manhã antes, eu quero te conhecer melhor.
  Me liga quando acordar, a senha do meu celular e o ramal do quarto estão no final da folha.
  Bom dia, McKay."

  Sentei na cama, segurando a carta. Aquele cara existia mesmo?
  Reli suas palavras diversas vezes, me encantando todas as vezes com seus detalhes. Na última vez, no entanto, algo chamou minha atenção, ele havia me chamado de McKay, eu não tinha dito meu sobrenome a ele, também não tinha perguntado o seu. Imaginei então que o meu RG falso deveria ter caído do meu vestido, mas ele ainda estava lá quando enfiei a mão no bojo. Aquilo era estranho, como ele sabia meu sobrenome?
  Meus pensamentos foram interrompidos pelo som irritante do celular vibrando na mesinha, eu não iria atender mas podia olhar quem era.
  Me aproximei do objeto e imediatamente desejei não ter feito aquilo, não estar naquele quarto e nem ter pisado naquele pub ontem a noite. Desejei não ser eu quando vi a foto de Alex na tela.
  O argentino era o gringo de Alex, o maldito atleta de quem eu havia reclamado o tempo todo… e infelizmente, era também quem eu havia beijado a noite toda.

CONTINUA...



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