Castelo de Cartas



Escrito por Ray Dias | Instagram | Twitter
Revisado por Natashia Kitamura

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  Nota inicial de autora: Olá amoras, tudo bem? Essa fanfic tem uma playlist temática especial. Cada capítulo aqui, é o título de uma música que inclusive, relaciona-se com o “espírito” ou “clima” do enredo do capítulo. Por isso, para uma imersão profunda na leitura, para sentir-se no universo de CDC, eu aconselho bastante que ouçam enquanto lê. Faz a tentativa, e me conta nos comentários, tá? Ouvir a playlist aqui.

Prólogo

Lament for Boromir
Lamento por Boromir

  A chuva caía como se lavasse a alma dos súditos que seguiam ao cortejo. A rainha com postura impávida seguia arrastando seu longo vestido preto, suntuoso, pelas poças lamacentas da estrada. Sob o véu escuro, ninguém podia ver as lágrimas que escorriam extensas e pesadas, e nem ouvir ao choro doloroso, afinal, não demonstrava sentimentalismos.
  Jang-Hyuk e Gong-Yoo caminhavam ao lado da mãe, como dois pequenos príncipes comportados que eram, mas atentos à postura dela. Olhavam-na, vez ou outra inexpressiva, com olhos vidrados ao caixão, e sabiam que ela sofria. Os pequenos príncipes eram apaixonados pela mãe, passavam tanto tempo com a rainha que sabiam exatamente como o silêncio dela era ensurdecedor.
  O campo verde e vasto pelo qual aquele velório acontecia, o enterro no campo mais alto do reino, donde a vista permitia enxergar a torre do castelo, propositalmente escolhido a dar de frente à longínqua janela do quarto real. Era ali, que nenhum homem ou mulher passaria sem reverenciar ao grande homem que ali, jaz estaria. Enquanto o corpo era transladado de volta da Guerra, as duas colunas de madeira talhadas com o juramento heróico nas línguas estrangeiras dos dois reinos, os distintivos honrosos e o cavalo. O cavalo dele, que bravamente o acompanhou em sua última batalha.
  Nenhum rei lutou com tanta bravura como ele. Nenhum cavaleiro. Nenhum homem. A rainha foi a primeira a entrar no templo, ao seu lado, as crianças. Os meninos deixaram sob a pedra sepulcral a flor do mediterrâneo, e o incenso do oriente. A rainha depositou sob o caixão, o simbólico jarro da dinastia , que estava vazio de cinzas fúnebres, pois era vontade do falecido ser enterrado como um cristão. No lugar de cinzas, encheu o jarro com óleo de mirra, para manter o sepulcro sempre perfumado.

Capítulo I.

Long ago and far away…
Muito tempo atrás e longe...

Cinco anos antes do tempo atual...

  — Bom dia Senhora.
  Aretusa adentrou ao quarto da princesa com a mesma cautela de todas as manhãs. Posicionou a bacia de água, e a toalhete1 na pequenina mesa de higiene ao lado da penteadeira. Junto, colocou também o prato com ervas de sálvia2, e o pequeno cálice de rum.
  Enquanto a princesa se espreguiçava e levantava-se vagarosa, Aretusa abria as cortinas do quarto, de maneira cuidadosa. O humor de sua senhora era medido pelo seu despertar, pela forma como reagia aos primeiros raios do dia.
  Aretusa acreditava que naquela manhã, ela estaria feliz e ansiosa, entretanto ao notar a indiferença dela para com a luz solar e seus movimentos silenciosos até sua mesa higiênica, Aretusa tornou-se curiosa.
   esticou delicadamente as mangas de sua camisola, e molhando as mãos em concha higienizou o rosto. Aretusa, sua dama de companhia, já estava ao seu lado para auxiliá-la naquela tarefa mediocremente simples. Esticou-lhe a toalha e enquanto a princesa secava o próprio rosto, a outra dama lhe esticava o prato com sálvias. o pegou e depositou as ervas em sua boca mastigando-as, Aretusa apressou-se a pegar a cuspideira. Logo que a princesa as cuspiu, sua dama já lhe entregava o pequeno cálice do qual virou o rum em sua boca, bochechou o líquido e o cuspiu. Ainda em silêncio, ela seguiu para seu biombo3 e iniciou a troca de roupas.
  Aretusa, após entregar-lhe suas peças de roupas e auxiliar sua senhora no vestir direcionou-se à penteadeira. , sentou-se à poltrona de sua penteadeira, encarou sua face no espelho, e parecia devanear por seus pensamentos. Aretusa começou a pentear-lhe os cabelos, e ansiosa pelo silêncio atípico daquela manhã, ela pôs-se a falar:
  — Está uma linda manhã, não é mesmo Senhora?
  Após um breve silêncio, , séria, olhou para as grandiosas janelas abertas de seu quarto e espiou as pradarias à frente. Volveu novamente o olhar seco e distante para o espelho, encarou-se e ao notar que Aretusa havia parado de escovar-lhe os cabelos, encarou diretamente sua dama. A mulher assustou-se e arregalou os olhos voltando a encarar as madeixas de sua senhora e o serviço que fazia. De certo, o humor da princesa não estava nada bom aquela manhã.
  — Aretusa… — Ela a chamou aguardando que a dama lhe encarasse, para então, desviar o olhar para sua própria imagem no espelho antes de continuar. — Aretusa, preciso que ouça atentamente minhas ordens.
  — Cla-Claro, Senhora.
  — No dia de hoje, antes do grande evento... Nem tão tarde que já o tenha se aproximado o horário, e nem tão cedo que possa levantar suspeitas. Você deverá avisar ao Sir. que o esperarei nos labirintos do jardim para tratar de um importante assunto.
  — Senhora… — Aretusa pronunciou-se de maneira duvidosa, e a princesa encarou-lhe categórica.
  Ela perguntaria à sua princesa se aquilo seria seguro, mas, ao notar sua face intrépida4 decidiu não a contestar. Aquele seria um dia dos mais complexos para todo o reino.
  — Senhora, em que momento especificamente devo avisar ao Sir ?
  — Logo que terminar suas tarefas em meus aposentos. Obviamente, tu não deve esperar o crepúsculo para isso.
  — Claro, Senhora.
  — Como estão os preparativos?
  — Tranquilos. Urgentes, mas tranquilos.
  — Que sorte lânguida5 não ter sido importunada por ninguém até agora.
  — Na verdade, a Senhora Rainha Yang Mi a aguarda para o desjejum.
  — Certo... Lânguida sim, sorte nem tanto. — Ironizou a princesa desgostosa pelo anúncio de sua dama.
  — Ela está ansiosa por vós, princesa.
  — E quando ela não está ansiosa?
  Aretusa fez uma pausa silenciosa, e seu olhar compadeceu-se em pena por sua senhora. detestava aquele olhar, e não o admitiria nem mesmo de sua dama fiel.
  — Não há motivos para esta face compadecida, Aretusa! Está entre os deveres de uma princesa subtrair-se do luto para cumprir suas responsabilidades reais. Estou preparada desde que nasci para tal momento.
  — Me desculpe Senhora, mas… É cruel até mesmo para uma princesa criada sob os deveres da Coroa, submeter-se a um momento de festança quando… Há poucos dias faleceu vosso pai.
  — O rei está morto Aretusa, não é como se adiar as obrigações do reino fosse trazê-lo de volta do mundo dos aflitos.
  — Entendo Senhora… Mesmo assim…
  — Penosa não é a morte, e sim as minhas atuais circunstâncias.
  Aretusa observou a face rígida de sua senhora no espelho, e não se conteve a perguntá-la:
  — A senhora está referindo-se ao casamento?
  Então, direcionou seu olhar para o próprio vestido de noiva ao canto do quarto. Iluminado fracamente pela luz do sol. Passou a noite observando-o à luz da lua, reluzindo os cristais em seu longo tecido. E talvez alegraria-se por vesti-lo se não estivesse tão contrariada com tudo aquilo. Tantas coisas aconteceram até aquele momento, que mal podia acreditar que de fato, perdera o controle de tudo. Entretanto, não desistiria facilmente.
  — Eu seria hipócrita em negar. O que mais me incomoda é saber que dentro de instantes, eu terei que suportar minha futura sogra à mesa do desjejum.
  — A Rainha Yang Mi parece-me gostar da senhora.
  — Como não gostaria, Aretusa?
  A dama de companhia então sorriu. E prendeu duas mechas frontais do cabelo da princesa, com seus grampos de esmeralda.
  — Tem razão. A senhora é mesmo adorável.
  — Não minta para mim, Aretusa.
  — Não, Senhora. Eu falo a verdade. Sinto apenas, por… Não saber se posso compartilhar de vossa felicidade neste dia.
  — Podes se felicitar por mim. É o suficiente.
  — Senhora… Não sentes mesmo, nada, pelo príncipe?
  — Sinto. Um carinho gradual, talvez. Mas, não diria que desejava casar-me com ele.
  — Com quem desejaria então?
  — Não é algo que importe a esta altura dos fatos. é um bom príncipe. Será um bom rei comigo ao seu lado, evidente. Um tanto quanto excêntrico, mas com modo subterfúgio6 de lidar com assuntos importantes. Não é incompreensível que a rainha insistira tanto pela minha mão. Ela sabe o quanto uma rainha forte pode decidir por um reino.
  — Desculpe-me princesa, mas se algum dos dois a ouvissem agora… Certamente estariam a bradar7 por tal indelicadeza.
   pegou um pouco do rouge8 em sua penteadeira e com leves batidas em sua face, com a ponta de seus dedos, deu-lhes um pouco de cor. Levantou-se e puxou a saia de seu vestido, a fim de não o pisar. Ajeitou-o no corpo e deu às costas para Aretusa, encarou-a antes de virar-se totalmente e respondeu:
  — Indelicadeza têm eles. Se pensam que com a morte de meu pai, o reino cairá nos domínios de Gangwon, ambos estão enganados. A província deles é que me pertencerá. Este casamento está longe de ser uma aliança.
   direcionou-se até a porta de seu quarto, e com leves batidas informou aos guardas do lado de fora, que lhe abrissem a passagem. E quando ambos o fizeram, a princesa pôs-se a sair, porém, retornou a falar com Aretusa, que já preparava o quarto para que as arrumadeiras viessem.
  — Aretusa.
  — Sim, Minha Senhora. — disse voltando a atenção para ela, e parando o que fazia.
  — Não esqueça das minhas ordens.
  — Cla-Claro.
  E assim que a dissera, a princesa saiu.

Capítulo II.

The Innkeeper
O Estalajadeiro

Quinze anos antes do tempo atual...

  O jovem Geomsa9 cavalgava com celeridade10 e astúcia pela sinuosa e perigosa trilha abismal11. Alguns de seus companheiros vinham mais atrás, tão astuciosos quanto, entretanto menos ágeis. Havia a necessidade de uma chegada imediata àquele reino. Vinte dias de cavalgada bruta e exaustiva, e agora pelo cume12 daquele monte já podiam avistar as torres do castelo.
  Quando a cascalhosa13 estrada se desfez aos cascos dos cavalos, dando-lhes conforto pela terra macia que iniciaram a trotar, pôde desapressar o seu galope. Logo os companheiros o alcançaram. Estavam silenciosos, até que um deles pôde observar a estalagem14 próxima.
  — Sir .
  — Hm?
  — Há uma estalagem próxima, não seria prudente que parássemos para dar água aos cavalos?
  — Aos cavalos, ou às nossas gargantas secas, Sir ?
  Os três homens riram cúmplices, e logo puseram-se a dirigir à estalagem. O crepúsculo ainda não chegara, mas se aproximaria logo. Os três amarraram seus cavalos, e puseram água nos cochos15 externos, onde nenhum outro animal havia. Passaram pela porta do estabelecimento, e uma baixa música de lira16 era tocada por uma bela mulher, no canto do lugar. Poucos homens se encontravam no local. O estalajadeiro17, observava-os enquanto retornava de uma mesa servida para o balcão.
  Eles se aproximaram e apresentaram-se:
  — Senhor. Paramos para dar de beber aos nossos animais. Teria uma bebida a nos servir?
  — Temos rum, água e leite de cabra. O que querem?
  Os três se entreolharam confusos, por não conhecerem nada além de água. , o mais convencido, quis mostrar dominância, e perguntou ao homem:
  — O que eles bebem? — Apontando para uma mesa onde dois grandalhões bebiam silenciosos os observando.
  — Rum.
  — É o que queremos.
  — … — sussurrou — Não estamos em Gangwon. Apenas recorde-se.
  — Gangwon? — O estalajadeiro perguntou, já os servindo.
  — Sim. Somos geomsa, ou melhor... Como dizem aqui no ocidente, cavaleiros, da Província de Gangwon, servidores da rainha de Yeongseo. — disse em resposta.
  — Certamente que estão aqui pela princesa .
  — O que faz o senhor crer nisso?
  — Cavaleiros de todos os lugares têm vindo apresentar-se ao rei Arthus, desde que o nosso rei anunciara o interesse em desposar a princesa.
  — E acaso o rei já nomeou alguém?
  — Não houvera nenhum comunicado real, ainda.
  — Bem haja18! — exclamou aliviado, provocando olhares reprovadores de .
  — Aqui está. — depositou algumas moedas de prata no balcão e aguardou o homem confirmar-lhe se aquilo era suficiente, assim que o homem mordeu as pratas e assentiu, os três saíram.
  Puseram-se a sair sem encarar as poucas pessoas no local. A não ser por que demorou a olhar durante sua saída, sobre a figura discreta e bela da mulher que tocava a lira. Enquanto desamarravam os cavalos, os repreendera:
  — ! Não é prudente que demonstremos o motivo de nossa viagem.
  — Perdão, , mas meu refrigério19 foi imediato ao saber que todos os dias de cavalgada não foram em vão.
  — Entendo.
   afirmou compreensivo, e montando seu cavalo pôs-se a galopar para fora dali, um pouco mais rápido do que vieram. A noite se aproximava, e precisariam chegar logo. , no caminho, pigarrou algumas vezes. E , não pode deixar de notar sua garganta seca.
  — E ! Da próxima vez, não nos obrigue a beber do que não conhecemos.
  — Sim, .
  — Ainda tenho sede. — respondeu olhando para de maneira bravia.
  — De certo, não nos negarão um cálice de água quando chegarmos ao castelo.
  — Ela deve ser uma bela mulher.
  — Não é o que nos interessa aqui, .
  — Não, de fato. Mas, o príncipe ficaria muito grato caso desistíssemos ao notar que lhe faltasse algum agrado.
   e riram entre si pela piada feita. Certamente não aceitaria a vontade de sua mãe, a rainha, caso tivesse que desposar uma princesa sem atributos. Kim , preocupava-se mais em convencer o rei a aceitar a pretensão do príncipe do que, se a princesa seria bela ou não. Para ele, pouco importava.
  As relações da Província de Gangwon, com o antigo reino da Babilônia jamais seria possível. Dentre a história do Império Coreano, nenhum descendente da dinastia permitiria uma mescla desonrosa como aquela. Principalmente com babilônios, pior ainda, com descendentes Caldeus. Na mente de Kim era um mistério compreender os motivos da rainha Yang Mi em desejar desposar com aquela princesa.

Capítulo III.
The Fair Maiden

A Justa Divina

  O salão do castelo exibia uma miscelânea20 de dançarinos valsando ao som de flautas e harpas diante do rei e da princesa. Aretusa, e algumas criadas encontravam-se escondidas observando as danças. Estavam todas eufóricas para saber qual daquelas composições a senhorita princesa escolheria por sua valsa. O músico oficial do rei fora designado a compor as mais belas opções líricas para sua filha.
  Aretusa, curiosa como de sua natureza, saiu sorridente e encoberta pelos cantos do salão. Como uma ratazana astuta entre as cortinas, conseguira se aproximar furtiva dos tronos a fim de espiar a face de sua senhora. Poderia por sua expressão saber quais composições a agradariam.
   que já estranhava a demora de sua dama, em, tolamente, surgir fofoqueira como se pudesse ser invisível, ao olhar de soslaio à direita de seu pai, pôde vê-la espreitar. Aretusa arregalou os olhos, receosa se havia feito mal, e sorriu discreta por sua dama ser tão previsível.
  — O que achaste, minha filha? Acaso agradou-se de alguma composição de Calebe?
  O rei segurou a mão da filha, cortês, a olhando curioso. Os dançarinos haviam parado de dançar e a orquestra silenciou. O músico do reino encontrava-se à frente das realezas.
  — Gostaria primeiramente, de agradecer ao senhor Calebe por tamanha dedicação.
   referiu-se ao músico, que em um gesto de respeito abaixando a cabeça, agradecia-a.
  — E dentre todas as cançonetas21, tão bonitas, eu ainda tenho dúvidas. Entretanto, como poderia uma princesa decidir a sonhada valsa de seu célebre momento se ainda não lhe fora apresentado o noivo?
  — Oras, . É só uma valsa. — suspirou cansado, o rei.
  — Perdão majestade, mas creio que a princesa tem razão. As mulheres têm tamanha devoção ao matrimônio, tudo deve ser feito com cautela e fulgor22.
  
  — Obrigada por vossa compreensão Calebe. Embora haja dúvida em meu peito, afirmo-te que a primeira e última sinfonias tocaram-me com mais afinco23. Contudo, até conhecer o meu futuro rei, não poderei apresentar tanta tenacidade24 em questões como essa.
  — É claro, princesa. Estarei a postos para eventuais mudanças que desejares.
  Quando o músico terminou de falar, o anunciante do rei se pôs ao salão, seguido por um guarda.
  — Vossas Majestades… — reverenciou-os — Perdoem-me por tamanha interrupção ao evento tão importante da princesa…
  — O que houve Anrão?
  — Há três cavaleiros nos portões do castelo, majestade. Afirmam ser da Província de Gangwon, enviados pela rainha Yang Mi e trazem uma mensagem honorífica25 ao rei.
  — Deixe que venham.
  O rei afirmou, e então Anrão e o guarda se puseram para fora. Em seguida, Arthus dispensou os músicos e dançarinos. As criadas que ainda estavam escondidas foram repreendidas por Aretusa para que voltassem aos seus afazeres. E a própria dama da princesa saíra do salão.
  Ela apressou-se a preparar os aposentos de , pois certamente ela se recolheria logo após o jantar, já próximo de ser servido.
  — Meu pai, creio que não seja necessária mais a minha presença. — levantou-se e o reverenciou.
  — Fique onde está . Se bem conheço Yang Mi, os cavaleiros trarão um pedido por sua mão.
   surpreendeu-se pela fala do pai, que logo colocou-se ao lado dela, de pé. A princesa ajeitou sua postura também. E com a mão sobre a do pai, ao lado dele, olhava fixamente para frente no aguardo dos cavaleiros.
  — Achei que o senhor já tivesse um favorito. — A princesa sussurrou cautelosa.
  — E tenho. Mas, estou curioso para conhecer o príncipe de Yeongseo.
  — Oras… O senhor brinca com minha mão.
  — Não sejas petulante .
  Assim que ambos terminaram de se olharem, discretos, a porta fora aberta. Novamente Anrão pôs-se à frente com dois guardas e os três visitantes.
  — Majestade Arthus I, princesa , apresento-lhes os cavaleiros Sir. , Sir. e Sir. , da província de Gangwon. Nordeste da Ásia Oriental.
  Os três homens se aproximaram respeitosos, sendo seguidos pelos guardas reais. Pararam com prudente distância das realezas e os reverenciaram.
  — Majestades. — dissera como porta-voz: — Com honra, vos agradecemos por nos receberem. E entregamos os corteses cumprimentos da rainha Yang Mi, e do príncipe .
  — O que os traz ao nosso reino? — disse o rei de maneira cortês.
  — Eu ouvi Anrão afirmar que todos os três se chamam ? Que excêntrico! Ou seriam irmãos?
  O rei encarou a filha de maneira descontente, e os três cavaleiros se puseram a encará-la sem nenhuma expressão significativa. observava o olhar avaliativo da mulher sobre si, concentrava-se em averiguar, de modo discreto, o quão agradável a aparência dela poderia ser. Não levou muito tempo a descobrir a resposta. E , mantinha seu olhar direto ao rei. Não admitiria, mas a postura da princesa o assustara um pouco.
  — No bom sentido da palavra, é claro. Perdoem-me se lhes pareci indelicada. Apenas, achei um tanto quanto curiosa a coincidência.
  — Não há o que vos desculpar princesa.
   respondeu-a e ela apenas acenou afirmativa, levemente.
  — é um tanto quanto atenta aos detalhes. — O rei dissera, em tentativa de justificar a impetuosidade da filha.
  — Majestade… Viemos em nome da rainha Yang Mi, que gostaria de apresentar-lhe a intenção do príncipe em desposar a mão da princesa, vossa filha.
  — Hm… O que faria uma rainha provinciana, descendente de uma dinastia tão longa e tradicional interessar-se em uma aliança com um reino Babilônico?
  — De certo, a dinastia de Vossas Majestades também é longa e tradicional. Entretanto, os interesses da rainha em unir-se ao reino Caldeu são desconhecidos para nós. Por isso, prezo para que em nome de nós, os cavaleiros geomsa de Yeongseo, Vossa Majestade aceite receber o príncipe e nossa rainha para um Conselho26 amistoso.
  O rei silenciado, observava os olhos diretos e límpidos27 de . Aqueles olhos demonstravam uma honra pouco encontrada nos homens. , olhava para o pai de maneira furtiva28. Já estranhava a demora do rei em responder uma pergunta tão comum nos últimos tempos.
  — A rainha Yang Mi deixou-me bastante curioso para compreender a destemida decisão em apresentar seu filho a um reino tão distante do vosso.
  — Obrigado Majestade. — respondeu .
  — Como visitantes longínquos29 de nosso reino, ofereço-lhes a hospedagem de meu castelo para que possam pernoitar30 até a vossa partida.
  — Será uma grande honra e irrealizável negar vossas comodidades.
  — Ótimo. Sejam bem-vindos ao reino de Amitísia! Anrão, chame algumas criadas e as peça para que preparem os aposentos dos nossos visitantes. E disponha-os um criado para atendê-los no que precisarem.
  — Sim, Majestade.
  Anrão logo pôs-se a cumprir sua ordem.
  — .
  — Sim, meu pai?
  — Mostre-os o castelo, sim?
  — Claro Majestade.
  — Com licença senhores, há alguns assuntos que tenho a tratar. — disse o rei Arthus.
  — Obrigado, Majestade.
  Os três cavaleiros reverenciavam-no enquanto o rei saía. os cumprimentou com um leve aceno e os indicou que a seguissem. Ela caminhava à frente dos homens, e logo que encontrou uma criada pediu-lhe que dissesse à Aretusa para encontrá-la na sala dos antepassados.
  A mulher se distanciou respeitosamente, e prosseguiu seu caminhar silencioso pelos corredores do castelo. Os três cavaleiros olhavam-se curiosos entre si.
  — De certo, vieram de muito longe. Fizeram uma boa viagem, cavaleiros?
  — Sim princesa, obrigado.
  — E nunca antes estiveram em Amitísia?
  — Não, Senhorita.
   era o único a responder às falas reais.
  — Bem, então gostaria de apresentar-lhes primeiramente a história de meu reino.
  — Como preferir, princesa.
  Ela os direcionou a sala dos antepassados. Empurrou as pesadas portas adentrando primeiro. Sorrindo como uma simpática dama, entretanto, com seu fascinante e perigoso olhar sobre eles, se colocou frente a um grandioso quadro.
  Os homens olharam a pintura, curiosos.
  — Este é Sumulalel. O grande imperador da qual se destina a criação de todo o Império Babilônico. Antes dele, vieram outros, entre amoritas, sumérios e semitas que contribuíram para que o Império se formasse também. Entretanto, Sumulalel, poucos sabem… É um dos nossos antepassados semitas. O precursor de nossos reinos. Na época de seu reinado, a Babilônia era um único reino.
  Andou mais alguns passos à frente, passando ao próximo quadro:
  — Hamurabi, seu filho, tornou a nossa dinastia ainda maior…
  Entre breves explicações de quedas, reinados gloriosos, povos em guerra, tomadas de poder e outros nomes, chegou até seus antecessores mais próximos.
  — Meu avô Belael Arthus e minha avó, a rainha Joquebede. Meus pais, Arthus I, e minha mãe… A rainha Amitis…
  Ela demorou-se um tempo a observar a pintura da mãe.
  — Perdão princesa… Mas, Amitis não fora o nome da rainha que vossa majestade dissera ser casada com Nabucodonosor II? — perguntou curioso .
  Sem retirar os olhos da fotografia de sua mãe, explicou-lhes:
  — Amitis fora considerada uma rainha muito especial. Muito bela, mas muito melancólica. Dizia-se que Amitis fora infeliz por ter deixado sua terra… Nabucodonosor então, criara os secretos Jardins Suspensos para ela. E como forma de fazê-la sentir-se importante ao nosso reino, mudara o nome do reino para Amitísia. Em sua homenagem. Mamãe me contava que, quando viera da Assíria sentia-se um pouco como Amitis. E, portanto, seu nome de rainha fora dado como igual… Amitis II.
  — O que houve com a rainha Amitis II? — perguntou sem notar a falta de delicadeza, apenas dando-se conta de seu erro quando lhe pisara o pé. — Perdão princesa, eu não quis ser indelicado e…
  — Tudo bem, Sir . De certo, seus companheiros também estão curiosos… — Ela virou-se de frente para os homens e encarando terminara: — Apenas não tiveram coragem como o senhor.
  — Com licença, princesa ?
  — Oh, sim Aretusa, entre.
  Aretusa aproximou-se.
  — Cavaleiros. Esta é a minha dama de companhia, senhorita Aretusa.
  Os homens a cumprimentaram em um meneio31, discreto, de cabeça.
  — Aretusa. Confirme se as servas já prepararam adequadamente os aposentos de nossos hóspedes.
  — Claro, senhora. Se me permite, princesa… O jantar está prestes a ser servido.
  — Obrigada Aretusa, pode ir.
  — Com licença. — A mulher reverenciou-os e saiu.
  — Sir . — A princesa retomou a atenção dos homens: — A rainha Amitis II, minha mãe, falecera na última guerra de nosso reino. Bem… Creio que após a longa viagem estejam cansados e famintos. Sigam-me, por favor.
  Os três a acompanharam silenciosos. Até o momento do jantar nada mais fora pronunciado. Fartaram-se com a boa comida servida de modo educado, beberam confortavelmente o delicioso vinho oferecido. E depois que o Rei Arthus I se recolheu aos seus aposentos, os três homens levantaram-se da mesa em honraria. Ficaram novamente a sós com a princesa.
  — Senhores, é a serva designada a atender vossas necessidades. O que vós precisarem podem solicitá-la.
  Eles olharam para a mulher de cabeça baixa ao lado de Aretusa. E assentiram à princesa.
  — , os acompanhe até vossos aposentos.
  — Sim, Senhora.
  — Cavalheiros, com toda licença, eu irei me recolher. Tenham um bom pernoitar.
  — Obrigado, princesa. — Os três responderam juntos.

Capítulo IV.
Troubadour

Trovador

   saíra do local acompanhada por Aretusa. E assim que ela se foi, os três homens seguiram que lhes indicou o caminho de seus quartos. Ao entrarem, cada um no seu próprio cômodo, puderam notar que o conforto ia além do que julgavam necessário. , retirou suas pesadas vestes ficando apenas com suas calças de baixo e uma leve camisa de linho fino. Caminhou por seus aposentos, observando uma sacada chamativa. Estava aliviado por ter conseguido a permissão do Rei, em aceitar a visita da rainha e do príncipe, mas algo ainda o inquietava...
   acabara de dispensar Aretusa de seus aposentos. Fizera sua troca de roupas estando apenas com a fina camisola de linho branca. Seus cabelos soltos e os pés em confortáveis pantufas de lã de ovelha. Caminhou calma até a suntuosa32 sacada de seu quarto. Lembrar-se de sua mãe e revisitar sua pintura, a fizera sentir-se solitária de novo. Por que ao invés dela, não deveria ser o Rei a desposar novamente outra rainha? Um breve tempo pensando nisso e logo concordou em ser ultrajante outra rainha tomar o trono que um dia fora de sua mãe. Entretanto, algo ainda lhe indagava por quais seriam os motivos de seu pai em quebrar as tradições e, ao invés de casar-se novamente, impôr a responsabilidade da Coroa à sua única herdeira, uma mulher.
   estava abismado com o que via. Era beleza demais para que ele desviasse os olhos. Os medianos seios delicados daquela mulher bem à sua vista, empinados sobre o fino tecido, tão fino que se mostrava transparente... O brilho da noite a lhe iluminar a pele, e a brisa suave a colar-lhe o restante do tecido ao corpo. Por mais desrespeitoso que pudesse ser espiá-la daquela maneira, ele não conseguia desviar o olhar. Apenas sentia-se no dever de admirá-la. Ele não poderia negar, estava hipnotizado e desejoso daquele corpo.
  A noite estava convidativa demais para que a princesa apenas deitasse, e tentasse fechar os olhos para adormecer. Há muito não reparava numa abóbada celeste33 tão brilhante e bela como aquela. E a brisa suave a lhe colar o fino tecido de sua camisola à pele… Sentia-se confortável como há muito não sentia. Como se sentisse sua pele queimar, a princesa olhou para baixo e pôde flagrar seu nem tão oculto, admirador. a prescrutava34, com um brilho voluptuoso35 em sua íris. E gostara daquilo. Daquela sensação de tê-lo a observando daquele modo. Na sacada de baixo, encarava-a imóvel, e apenas quando lhe sorriu de modo provocante e atrevido, que o cavaleiro se dera conta de que a mulher na suntuosa sacada, lateralmente acima da sua, havia o surpreendido em atos tão repreensíveis. Sem reação, ele apenas a encarou, assustado. A princesa virou-se em direção ao seu quarto e antes de sair completamente do campo de visão de , ela novamente o sorriu com um olhar provocante e então, entrou ao próprio quarto.
   como última visão pode admirar as nádegas36 redondas e perfeitas da princesa sob o fino pano. Atordoado com o que lhe acontecera, caminhou de volta ao seu quarto. Alguns pensamentos promíscuos37 o rodeavam. Ele chacoalhava a cabeça como se os pudesse afastar, entretanto, algo os mantinha firmes em sua mente. A longa viagem, e a falta total de uma companhia feminina desde que deixara Gangwon deixaram-no vulnerável. Deitou-se em sua cama, e ao olhar para o lado, em sua mesa de cabeceira, a serva havia deixado algumas frutas e jarros de água e vinho. Entendendo que a visão perturbadora não o deixaria dormir, completou um cálice com vinho e virou-o de uma só vez.
  Pouco tempo após deitar-se olhando para o teto já podia sentir o efeito, não apenas daquele cálice, mas dos anteriores ao jantar lhe trazerem torpor38. Puxou sua camisa, sentindo a pele suar. E ao fechar de seus olhos, a deleitável imagem da princesa na sacada tomara a negritude de sua cegueira. Ele arfava à medida que em seus pensamentos a mulher se aproximava em passos lentos, retirando aquela peça, tão desnuda quanto poderia desejar. Desejou beijar-lhe os castos lábios, delicados, anunciando nunca terem sido antes tocados. Nem os lábios, nem mesmo o corpo. Viu-a sorrir provocante novamente, e compreendeu ser uma afirmativa ao seu toque. E então a tocou. Passou a mão por seu rosto, puxando ávido39 seus lábios contra os seus. Tomou-lhe a cintura nua, e sentiu o peso fraco do corpo dela sobre o seu. Massageava os seios e quando encarou novamente o olhar dela, viu-a descer com os lábios sobre o corpo dele. Depositando ósculos40 pela extensão do corpo dele, até chegar ao seu membro rijo.
  Aquele gesto parecia rude demais para uma princesa, gesto próprio das doidivanas41 de estalajadeiros, mas não havia forças para fazê-la parar. Perguntava-se mentalmente, aonde a princesa teria aprendido tais maneiras. observou a mulher lamber sua glande e depositar seu membro vagarosamente por sua boca, sentindo a língua quente dela. Fechou os olhos e reprimiu um gemido. Novamente os abriu, no desespero de enxergar a luxúria que deveria estar estampada na face da princesa. Aquela face que permeava entre o angelical e o demoníaco. E ao abrir os olhos, qual não foi sua surpresa, ao notar que ela não estava em seu quarto, e sim, que sua própria mão o masturbava. E na busca de alívio para o que sentia, continuou os movimentos de subida e descida sobre seu membro ereto. Sua mão escorregava com facilidade devido ao viscoso líquido que escorria ali e quanto mais fácil tocar-se, mais rápido o fazia. Não pôde perceber o ápice de sua ejaculação, pois, a cada vez que imaginava a princesa o tocando, aquilo parecia ser insuficiente. Cansado e infeliz com a noite, ele largou seu membro e arfou. Até que pegou no sono, sem perceber.

←←← ♠ →→→

  A manhã chegara, e levantara-se apressada. Aretusa já estava nos aposentos reais, auxiliando a princesa.
  — A princesa parece-me ansiosa para o dia que já vem.
  — Sim Aretusa. Não posso negar-lhe que a chegada destes visitantes deixou-me um tanto quanto curiosa.
  — Algum deles é pretendente à vossa mão, Senhora?
  — São apenas cavaleiros da Província de Gangwon, Aretusa. Mas, não posso fingir que não há entre eles, um que me tomou alguns desejos.
  Aretusa encarou sua senhora pelo espelho, e embora assustada, sorria curiosa. A princesa mantinha o olhar travesso, e um riso contido para sua dama.
  — Senhora… Eu poderia… Atrever-me a perguntar qual deles?
  — Ora, Aretusa! Acaso não vê que não consigo me conter? Estou ansiosa para compartilhar o que houve!
  — E o que houve, Senhora?
  — Ontem pela noite, pouco antes de dormir, eu fui à sacada pensar sobre as razões pelas quais o futuro me parece adiantado… Quando abordei Sir , à sacada de seus aposentos observando-me de modo… Predador.
  Aretusa pôs as mãos à boca e observou a princesa levantar-se apressada e sentar-se em sua cama. Indicou que Aretusa a fizesse companhia. A dama, cautelosa, sentou-se ao lado de sua senhora para ouvir-lhe.
  — Senti algo diferente com o olhar dele sobre mim, Aretusa… Quem dera ele fosse o homem que me desposaria…
  — Ele é realmente bonito, Senhora. Todos eles… , e outras servas ficaram um pouco eufóricas.
  — Oras vocês… Todas pervertidas42 doidivanas.
  — Não princesa, não nos entenda mal… É só que…
   sorriu, pois, Aretusa não compreendera seu tom de zombaria.
  — Não te preocupe Aretusa. Com exceção de , vocês podem satisfazê-los como bem entenderem.
  — Imagine Senhora, nenhuma de nós…
  — Aretusa!
  , interrompendo o raciocínio de sua serva amiga, se levantou iluminada por uma descabida43 ideia. Caminhou até sua escrivaninha, e puxando um pedaço de papel, escreveu algo em risos.
  — Aretusa!
  — Senhora?
  — Entregue este papel ao Sir , logo que findarmos o desjejum. Depois me encontre nos labirintos do jardim com um balaio balneário44.
  — O que pretende, Senhora?
  — Apenas faça o que eu lhe ordenei. Agora vamos, estou faminta!

Capítulo V.
Lantern’s Lodge

Cabana da Lanterna

  Ainda à infância de , Ruth, a serva fiel da rainha Amitis engravidara quase ao mesmo tempo em que a rainha. Ambas eram mais do que rainha e serva, eram amigas. Aretusa e cresceram juntas e foram destinadas por suas progenitoras à mesma relação que suas mães. Amitis, apesar de ser rainha, delegou na educação de sua princesa que encarasse a sua serva escudeira, a pequena Aretusa, como a uma irmã. E assim ambas tratavam-se, dentro do decoro de suas funções hierárquicas.
   já havia descido e encontrou aos cavaleiros já dispostos à mesa de desjejum na companhia de sua Majestade, o seu pai.
  — Bom dia, senhores. Papai.
  Os homens corresponderam e logo todos foram servidos. , astuta e alegre como era, observava atenciosa – mas, discreta – aos trejeitos e comportamentos dos visitantes. De um, em especial.
  — Sir , como líder da cavalaria gostaria que me contasse mais sobre o reino de Yeongseo.
  O rapaz assentiu limpando brevemente, em um lenço de refeições, a sua boca, enquanto os seus dois colegas se entreolharam discretos, acompanhando ao seu líder nos gestos.
  — Claro, mas exatamente o quê Vossa Majestade deseja saber?
  — Estou bastante curioso ao quê faria Yang Mi tomar tal interesse, mas como disseste não saber, porque não me conta como é o reino Yeongseo? Com certeza, encontrarei a resposta em pormenores que só um Rei pode encontrar.
   assentiu, mas não lhe passou despercebido desde que ali chegara, a maneira como o rei Arthus parecia conhecer à rainha Yang Mi.
  — Yeongseo é um reino pequeno em tamanho, mas imponente em domínio. Somos uma força poderosa dentro de um lugarejo sutil. Nossos inimigos subestimam-nos por nossa capacidade, até que nós os vencemos no campo de batalha.
  O orgulho na voz de e no olhar de todos os três cavaleiros eram notórios, ficou um tanto quanto interessada a mais no diálogo.
  — Quando o rei Eun He faleceu, a rainha Yang Mi governou Yeongseo com punho forte e ardil. Com a força de um poderoso exército, e um ardil próprio às mulheres... — falou discreto, e o rei sorriu.
  Arthus sabia exatamente do que falava. Não se tratava de um ardil malicioso, mas do dom ardiloso da manipulação feminina. Dom, cujo Arthus reconhecia há tempo na rainha Yang Mi.
  — Não deve ser fácil a uma mulher governar.
  E novamente, a fala de seu pai aguçara os sentidos de . Se ele sabia daquilo, por quê expunha a ela o peso da Coroa através daquele casamento?
  — Certamente. Mas, em nosso reino o poder matriarcal ganhou respeito e honraria, desde a nova era da dinastia pelo governo da rainha Yang Mi. — respondeu novamente orgulhoso.
  — Percebo que Yang Mi soube conduzir bem a Coroa, quando tem súditos tão fiéis e orgulhosos como vós. — Arthus respondeu sorridente e encarou à sua filha como se dissesse que ela deveria conquistar também aquele tipo de fascínio de seu povo.
  — Mas, perdoe-me Majestade... — pronunciou-se — Parece conhecer a rainha Yang Mi...
  Não somente os homens estavam curiosos, como também a princesa. Havia notado que o pai ficou deveras desconfiado quando os homens anunciaram de onde vinham, e principalmente por qual motivo vieram. Calada, ela continuou a comer, atenciosa ao pai que também havia lhe dado razões para ficar interessada na conversa.
  — Vós não dissestes que vosso reino é imponente em domínio? Digamos que Yang Mi já tentara dominar também, meus territórios.
  Todos se espantaram com a informação.
  — Não me recordo de nenhum embate ao vosso reino, Majestade.
  — E não houvera. — respondeu Arthus.
  O rei terminou de comer e novamente pediu licença a todos os presentes. Direcionou-se à filha e pegando-lhe a mão beijou-a casto e carinhosamente.
  — Faça boa companhia aos nossos visitantes.
  — Como queira, Majestade. — A filha respondeu.
  Após sua saída, os cavaleiros observaram atenciosos a princesa, que notara: eles haviam parado de comer para dar atenção ao Rei. Por isso, ela lhes deu permissão a voltarem a fartar-se, e agradecidos eles sorriram obedientes. e trocavam olhares curiosos e perigosos entre si, por mais cuidadoso e respeitoso que ele fosse, não conseguia ignorá-la. foi primeira a terminar seu desjejum e pedir-lhes licença. Os cavaleiros puderam então conversar entre si com mais conforto antes de também se retirarem.
  — , não achas que o rei Arthus parece ter alguma relação com Yeongseo? — perguntou.
  — Também acho estranho o fato de, não termos nunca antes sabido nada a respeito de Amitísia, além desta única missão. — respondeu.
  — O que o rei teria tentado dizer por “Yang Mi tentar dominar seus territórios”?
  — Não faço ideia , antes de nós, os geomsa do general Go devem ter tido algum tipo de embate com o exército de Arthus. Ao retornarmos, tentarei descobrir algo.
  — É deveras estranho...
   e conversavam atenciosos entre si, e o silêncio de foi por eles notado. Ao encararem o amigo, este que bebia seu licor de amoras não tirava os olhos das servas que passavam lentas e risonhas pelo salão de jantares.
  — ? — o chamou risonho.
  — Estranho é estarmos aqui e não nos deleitarmos com o calor extenuante da Babilônia.
  — O calor da Babilônia ou das mulheres da Babilônia, ?
  O mais calado dos três olhou para seu amigo e sorriu como se não precisasse mais respondê-lo.
  — Se pretendem algum divertimento, sejam rápidos, cuidados e cautelosos, pois partiremos o mais breve possível, e tão discretos como chegamos. — disse .
  Todos eles sorriram e se levantaram da mesa após terem se fartado. , a serva da cozinha que ali havia acabado de entrar para retirar a mesa, ao passar por trocou olhares rápidos com o rapaz.
  Aretusa andava apressada em direção aos jardins, onde sua princesa a aguardava. Assim que a encontrou, as duas puseram-se a sair dali imediatamente. , caminhava até seus aposentos ao lado de seus companheiros.
  — Partiremos hoje, ? — perguntou.
  — Nós iremos. Mas, antes eu tenho algo a fazer…
   sorriu malicioso, e não compreendera.
  — O que está acontecendo?
  — Acaso não viste , quando a dama de companhia da princesa entregou ao um pequeno bilhete assim que nos colocamos em direção ao desjejum?
  — Oras… Nós apressados para partimos, e o Sir preocupado em aliviar-se de sua tensão masculina após longa viagem.
   sorriu tranquilo quando percebera que seus companheiros acreditaram que a princesa nada teria a ver com aquilo.
  — Bem, nós o aguardaremos voltar . — dissera cortês — Aproveite por nós, já que a mulher pela qual me interessei está pelo caminho.
  — Do que está falando? — perguntou .
  — Da donzela garbosa45tocando a lira na estalagem. — respondeu .
  — A filha do estalajadeiro.
  — Como podes saber, que é filha do estalajadeiro, ?
  — É óbvio. Nós vimos a maneira como o estalajadeiro encarou-lhe ao notá-lo fitando a mulher… — encarou os dois à sua frente, e despediu-se: — Bem, eu tenho que ir. Não podemos demorar à partir.
  — E eu irei conhecer um pouco mais deste curioso castelo. — disse saindo.
   notando-se só, partiu em direção ao seu cavalo e decidiu conferir um pouco mais da bela donzela da estalagem. Certamente eles não retornariam ao lugar em seu caminho de volta.
   caminhava calmo pelos corredores do palácio, com seus olhos atentos a tudo. Sentiu um aroma chamativo e embora, houvesse quebrado seu jejum há pouco, não poderia evitar seguir aquele aroma tão bom. Caminhou entre alguns corredores, e logo ouviu vozes femininas e risadas. Escondeu-se observando um pouco as mulheres na cozinha do palácio:
  — Eu não posso mais servir a estes senhores!
  — Ora , contenha-se! Parece que nunca viu cavaleiros no castelo!
  — E não vi mesmo ! Não como estes.
  — Certo, se não queres os servir mais, então deixe que Mirian o faça!
  — Eu adorarei! — Mirian respondeu risonha a passar com uma bacia de água pelas mulheres.
  — De forma alguma! A princesa delegou tal obrigação a mim, e não posso ir contra uma ordem real. — reclamou .
  — Oras, então pare de gralhar46 e faça o vosso serviço.
  — Tu não entendes , pois, há muito fechara vosso coração para os homens e não percebes os quão atraentes são os cavaleiros.
  — Fechastes o coração e as pernas, !
  Dissera Mirian gargalhando acompanhada por . que estava escondido a observar conteve uma risada.
  — Oras, suas atrevidas! Apenas não sou uma depravada como vós.
  — Claro que não, já tivera um homem em posse de invadi-la. Enquanto nós aguardamos aquele que nos tomará por sua!
  — Calem-se e vão cuidar de seus afazeres!
  As duas mulheres saíram pela porta dos fundos, e assim que saíram Lucas surgiu à porta. Carregava um pesado tambor de leite, recém tirado das vacas.
  — Mamãe, aqui está o leite.
  — Obrigada meu filho. És mesmo um rapaz digno. Logo, terás boas mulheres interessadas, mas há de me prometer que não encontrarás mulheres depravadas como Mirian e !
 &esmp;— Depravadas?   — Ah, esqueça meu filho. — A mãe sorriu beijando o rosto de seu filho e dizendo: — Apenas, lembre-se das palavras de tua mãe no futuro quando fores escolher vossa esposa.
   sorriu para o filho ainda criança, e afagou seus cabelos. Pegou o tambor de leite e o colocou sobre a mesa.
  — Com licença?
  — Oh sim, senhor. O que desejas? — surpreendeu-se ao ver um dos cavaleiros que as moças tanto falavam.
  — Na verdade, nada. Senti saboroso aroma e o segui.
  — Ah sim, é apenas um guisado47 que preparo para logo mais.
  — E este rapaz forte, quem é? — comentou se aproximando em passos silenciosos e um sorriso simpático ao garoto.
  — Este é Lucas, meu filho. Cumprimente o cavaleiro… — olhou para o homem a espera de uma apresentação.
  — Sir . — O coreano respondeu.
  — Sir , meu filho.
  Lucas o reverenciou com um aceno de cabeça. Em seguida saiu discreto e educado para os fundos do castelo.
  — Em que posso servi-lo, Sir?
  — Eu gostaria de um pouco de água, por favor.
  — Claro, claro…
   apressou-se em servi-lo. Estava nervosa. Não era comum que entrassem em sua cozinha, menos ainda que ela tivesse qualquer diálogo com visitas ou moradores do castelo. Salvo os momentos em que a própria princesa direcionava-se à cozinha.
  — Então é de vossa responsabilidade as apetitosas ceias e desjejum que nos serviram?
  — Sim… — Ela dissera estendendo-o um cálice com água fresca.
  — Devo parabenizá-la. Tão bela dama e tão abençoadas mãos…
   sentiu-se um pouco sem graça.
  — Por favor, não te acanhe. Não foi minha intenção deixá-la constrangida. — pediu ao notar o semblante rubro da mulher.
  — Claro... — sorriu desviando o olhar para as próprias mãos ao justificar extremamente sem graça: — Apenas não estou acostumada a visitas em minha cozinha, senhor.
  — Estou a incomodando?
  — De maneira alguma. O senhor fique à vontade… Eu apenas preciso dar continuidade às minhas tarefas.
  — Por favor, prossiga… Estou apenas conhecendo o castelo.
  — Certo… É curioso que queira conhecê-lo. Aposto que já estivera em tantos outros como este. — comentou um pouco mais tranquila, dando-lhe as costas e retomando o seu posto ao fogão de pedra e lenha.
  — Não são iguais. Nunca são… Há sempre, uma pessoa ou alguma curiosidade para nos surpreender.
   sentiu-se estranha quando notou a presença próxima demais do homem atrás de si. Ele aproximou-se por trás dela, e tocou-lhe a mão que mexia o guisado. Puxou a colher, pingando um pouco do caldo em sua própria palma, e experimentou o sabor. pode senti-lo invasivo demais, perto demais, e seus corpos próximos demais. Um calor subiu-lhe às pernas e por um momento perdera suas ações.
  — Está mesmo delicioso.
   disse deixando ainda mais muda e nervosa.
  — O-Obrigada Sir.
  — E o pai de seu filho, o que faz? — Ele perguntou se afastando naturalmente.
  — Ele faleceu quando o menino tinha um ano. Era um guerreiro do reino.
  — Lamento.
   assentiu silenciosa, e afastou-se do fogareiro quando recuperou o domínio de suas pernas. Caminhou até a outra ponta da mesa a fim de pegar os legumes e encarou furtiva e envergonhada, ao homem que a analisava silencioso.
   sorriu despedindo-se e agradecendo-a pela cordialidade. Ao passar por ela, pegou-lhe a mão e beijou. Logo que ele saiu, voltou a picar os legumes com velocidade e agressividade incomuns a ela.

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  A estalagem não era tão distante do palácio quanto parecia na noite anterior. Ou estava ansioso demais para chegar.
  Assim que avistou o tronco onde amarravam os cavalos, desceu de sua montaria e prendeu firme o animal ali. Entrou à estalagem com cautela. Estava vazia.
  — Ainda não estamos funcionando.
  Ouviu uma voz forte, ao mesmo tempo feminina, lhe falar. E lá estava a mulher que tocava Lira.
  — Perdão, é que sou um estrangeiro e…
  Ela o olhou com desdém, mas, ao notar sua diferente figura indicou-lhe, com o olhar, uma mesa para que ele sentasse. Ela pegou um caneco que enxugava e o serviu de rum, sem ao menos perguntá-lo o que desejava beber. Olhava-o com curiosidade e desconfiança. Caminhou até a mesa onde ele sentou e o serviu. Em seguida retornou para trás do balcão.
  — Onde está o estalajadeiro?
  — Ele chegará logo mais… — Ela dissera para não levantar suspeita.
   não se continha em manter distância. Pegou seu caneco e caminhou até o balcão, onde sentou-se.
  — A senhorita toca lindamente.
  — Obrigada.
  — E não é muito de falar, não é?
  — Vi a maneira como olhaste para mim ontem à noite. E se pensa que deixarei meu pai vender-me a vós, tu estás enganado!
  — Vender-te a mim? — arqueou a sobrancelha com um sorriso duvidoso que expunha as covinhas de seu rosto.
  Ela percebera então, que o homem estava confuso com o que dissera.
  — Esqueça!
  — Qual é a vossa graça, senhorita?
  A mulher o encarou novamente com desconfiança, mas algo no olhar dele a fazia se sentir bem.
  — .
  — É uma grande estima, … — Ele pronunciou o nome dela com um sorriso prazeroso — Eu sou Sir. .
  — Um cavaleiro?
  — Sim.
  — Destes que salvam donzelas em apuros?
  — Sim. Há alguma donzela que eu deva salvar?
  Ela desviou-lhe o olhar e retomou suas tarefas. percebeu o quanto ela era arredia, e passou a mão no próprio queixo ao pensar de que forma puxaria algum assunto, para melhor introsar-se com a mulher que tanto lhe chamou a atenção.
  — … — Ele chamou cauteloso, mas ela não o olhou de volta, então prosseguiu: — Vós mencionaste que o estalajadeiro é o vosso pai?
  — Sim.
  — Então meus companheiros tinham razão… Eles acreditaram que fosse o seu pai pela maneira como, ele aparentemente não gostara de me ver lhe admirando ontem.
  — Duvido muito que não tenha gostado, ele apenas analisava que tipos de bens vós poderiam ter. Se seria o suficiente para mim.
  — Acaso, tu estás anunciada a ser desposada?
  — Não.
  Um silêncio se fez e a mulher saiu de trás do balcão para limpar algumas mesas. aproximou-se dela um tanto aturdido. Havia compreendido a mensagem subliminar nas recentes frases trocadas, mas não queria acreditar, então encorajou-se a perguntá-la:
  — Está me dizendo que o estalajadeiro aceita honrarias para que os homens se deitem contigo?
  — O que o senhor cavaleiro faria se essa fosse a verdade? — perguntou de volta, com jocoso tom de ironia em sua voz.
  — Roubaria-te para mim e jamais nenhum outro tocaria em ti. A não ser aquele que tu der a permissão.
   o encarou assustada por um momento. E correu até a porta da estalagem, trancando-a com um ferrolho48.
  — E eu poderia confiar em vós? — Ela perguntou agora em postura totalmente desesperada, como se aquele diante de si fosse a sua esperança que invadiu a porta da estalagem.
  — Como não confiaria em um homem que está propondo lhe dedicar a própria alma? — respondeu sério, embora, com um sorriso de notório flerte em seu rosto.
  — Salve-me.
  Disse ela ansiosa, com olhar aflito para aquele estranho que se parecia tanto com o salvador que ela tanto esperou. Só então, compreendeu que a mulher não estava tentando o assustar. Ela dizia a verdade! Estava sendo abusada em troca de dinheiro e posses. Ela estava lhe implorando ajuda. E ele, tal como o geomsa honroso a quem foi condecorado pela própria rainha, sob o juramento da katana sagrada, não poderia negar um pedido de ajuda. Ainda mais, quando este, provinha dos olhos mais suplicantemente lindos e sedutores que ele já conhecera.
  — Em breve partirei. Não sei a hora, mas passarei por este caminho entre hoje ou amanhã. Façamos assim... Entrarei para pedir uma bebida, e se acaso vosso pai estiver aqui, antes que eu saia, dê um jeito de ir para fora e esconder-se atrás das pedras na estrada. Quando eu sair, a encontrarei. — falou suspirando passando as costas de seu dedo indicador pela bochecha da mulher: — Se queres ser salva, precisará fugir comigo. É a sua única chance.
  — Certo! Eu darei um jeito de o encontrar! Ficarei pronta!
  — Mas, tenho uma pergunta.
  — Sim?
  — Por que não fugistes agora, por exemplo? Está sozinha todo este tempo desde que cheguei, e já poderia ter deixado esta estalagem.
  — Acaso viveis em qual mundo, cavaleiro? Eu sou uma mulher, e por mais asco49 que eu tenha do que me façam aqui… Sabes quantas coisas piores poderiam fazer-me se eu estivesse a vagar sozinha por aí?
  — Entendo…
  Eles se olharam cúmplices.
  — Preciso retornar agora donzela, logo mais virei. Esteja pronta.
  — Sim!
  Ele distanciou-se a caminho da porta, e antes que a abrisse escutou o chamar:
  — Sir ! — Ele encarou-a atencioso a ouvir: — Obrigada. E por favor, não se atrase.
   apenas assentiu-a e seguiu à galope de volta ao castelo. Pensava na tamanha loucura que se metera. Roubar uma donzela? Ainda que fosse para salvá-la? Uma mulher que avistara somente uma vez? Certamente, pior do que roubá-la seria explicar aos seus companheiros o que estava prestes a fazer.

←←← ♠ →→→

  Aretusa caminhava curiosa atrás de sua princesa, e aos poucos foi reconhecendo o local para onde iriam.
  — Senhora! O que faremos na Caverna da Lanterna?
  — Aretusa, preste atenção. Eu entrarei e tu vigiará a entrada até que surja. Então se esconderá com o balaio e não retornarás à Caverna até que ele saia.
  — Senhora! Isto é uma loucura!
  — Acaso está contestando a ordem de vossa senhora?
  — Não… Jamais, princesa.
  — Ótimo. Agora, fique aí até que ele surja.
   ordenou travessa, sorrindo maliciosa e adentrando a caverna rapidamente. Sua dama, no posto em que foi colocada ficou, à espera do cavaleiro, e absolutamente, ansiosa, é claro.
   havia chegado no lugar onde o bilhete descrevia. Não compreendia por que viera tão distante. Era correto que o assunto no bilhete, se fazia necessário de segredo, mas ainda não entendia porque tão longe do castelo.
  “Precisamos falar sobre o que tu fizera ontem, cavaleiro”.
  Cada vez que relia a primeira frase do bilhete, sentia-se imensamente culpado. E apavorava-o a ideia de seu senhor, o príncipe descobrir como seu súdito desejou à sua futura rainha.
  Ao chegar na entrada da caverna, depois de deparar-se com Aretusa nervosa, apontando-o  que passasse entre os arbustos da entrada, uma escuridão longa se fazia até que ele avistara uma luz. Como se houvesse uma lanterna acesa ao fundo. Seguiu em frente, e quando atravessou a passagem entre as rochas, vislumbrou um límpido lago azul no interior da caverna. E uma fresta no topo dela, que iluminava todo aquele espaço. Era de fato como uma lanterna ao fim da escuridão.
  — Olá? — Ele chamou e mesmo em tom baixo, podia-se sentir o eco.
  — Sir .
  — Princesa ? Onde a senhorita está?
   caminhava curioso e lento, até o interior da caverna, aproximando-se do lago, mas não havia visto-a ainda.
  — Tu espionaste-me ontem em um momento do qual eu estava vulnerável.
   parou de caminhar e falou:
  — Quanto àquilo, princesa, rezo para que me perdoe! Foi um momento desrespeitoso e do qual não pude dominar os meus atos.
  — Sabe o que o rei fará se souber disso? Ou pior… O que o seu príncipe fará se souber que olhaste com tamanha cobiça para sua pretendente?
  — Senhorita… Eu gostaria de me redimir, sem que fossem necessárias intervenções graves.
  — Certo… O senhor pode se redimir. — falou escondendo um riso entre as mãos. Ela podia vê-lo, mas ele ainda não era capaz de ver ela. A face aturdida do homem a olhar para todos os lados da caverna procurando-a, não foi melhor do que a expressão dele ao ouvir a curiosa ordem dela: — Tire suas vestes, Sir , e entre na água fria.
  — Um banho gelado? É a maneira como…
  — Faça o que eu mandei! — disse cortante, o impedindo de continuar.
   se sentia ridículo, principalmente por conversar com ela sem ver onde ela estava escondendo-se, mas fizera o que aquela princesa fora de si, o pedia. Ou melhor, ordenava. Retirou suas roupas e entrou na água.
  — Nade até a rocha alta.
  — Princesa… Onde a senhorita está?
  — Até a rocha alta, eu disse.
  Ele fez o que ela ordenou, e ao virar-se pela rocha avistou a imagem da princesa à sua frente. Dentro da água, nua, com os cabelos molhados. E o mesmo olhar e sorriso provocantes da noite anterior.
   não conseguira dizer nada, apenas observá-la se aproximando de seu corpo nu. Quando percebeu os olhos dela junto aos seus, e os lábios dela tomando os seus, sentiu a mão da princesa sobre seu membro. Estaria sonhando de novo? Não poderia deixar passar a oportunidade de senti-la mais uma vez, ainda que em sonho. Grudou-a sob seu corpo. Enquanto a princesa masturbava-o delicadamente, chupava seus seios tão desejados na noite anterior. Sugava-os com força e os massageava, ouvindo o leve arfar da princesa.
  As mãos dela movimentavam-se com mais domínio em seu membro. E sentia vontade de cada vez mais afundar-se nela, tocou a entrada dela com delicadeza, e sentiu-se ansiosa. Tomou a boca do cavaleiro na sua à medida que os dois brincavam com seus corpos. Ela foi o empurrando aos poucos até o alto do lago, de modo que ficassem mais próximos da margem, e posicionando-se sobre ele, a princesa não esperou para tocar o membro ereto, forte e alvo50 de com seus lábios macios. O homem gemeu e aquilo fez com que ela o enfiasse cada vez mais para dentro. Lambeu toda a extensão do pênis dele e chupou-lhes os testículos apertando-os delicadamente em sua boca.
  Ninguém além de Aretusa sabia que a princesa já houvera feito algo parecido antes. sentiu dor, mas uma dor prazerosa. O suficiente para puxá-la pelos cabelos e inverter suas posições. Ele abriu as pernas da princesa com voracidade, e colocou-se a chupar também seu clitóris, e com os dedos invadiu-a ansioso. gemia, arfava e pedia por mais e antes que sentisse-a enfraquecer, posicionou seu membro na entrada dela e a estocou uma única vez. Diretamente, e foi então que a princesa gemeu alto com a dor sentida. Ela era apertada para ele. Mas, quanto mais sentia-a tencionar sob seu pênis, mais o cavaleiro estocava-a fortemente.
  Ao fim do orgasmo mútuo, o cavaleiro encarou-a com luxúria nunca antes sentida e agarrou-lhe a cintura selando um beijo ardente. , não se opôs ao gesto. Ela correspondeu e sorriu.
  Só então, no findar de todo aquele tesão selvagem e irracional, é que deu-se conta do que havia acabado de fazer.
  — Princesa! Por Deus! Não deveríamos…
  — Tome como uma punição, Sir . — Ela o interrompeu tranaquila, enxergando a culpa no rosto dele — Afinal, tu não devia ter me espionado daquela forma.
  — Princesa!
  — ! Entre nós, vou deixar que me chame pelo nome.
  — Eu prefiro manter a formalidade.
   o olhou, indignada. Ela estabelecera uma informalidade entre os dois a fim de soar gentil, mas mostrava-se arrependido do que aconteceu, sem ao menos notar que a própria, não se importava nenhum pouco com quaisquer consequências. Não era aceitável que uma princesa fosse rejeitada daquela forma, tampouco suportaria ferida tão grande em seu ego. Principalmente sabendo que ele fizera aquilo com tanto desejo quanto ela.
  — Como queira. — respondeu séria, modificando sua postura.
  — Isso tudo foi um completo despautério51! Uma sandice que jamais eu deveria tê-lo cometido! Por céus... O que foi que eu fiz! — saiu da margem do lago, buscando desesperado suas vestes.
  — Fez o quê queria fazer desde que me viu descomposta em minha janela, cavaleiro. E não o fez sem o meu conssentimento, então deveria ao menos dizer que gostou ao invés de agir como se tivesse desvirginado a própria mãe de Cristo! — , um tanto ultrajada falou certeira e provocante, sentando-se sedutora à margem do lago e o observando.
  Então ele virou-se de frente para a princesa, tentando redimir-se do ocorrido, ainda nu e com os olhos e sorriso malicioso dela, atentos ao corpo esbelto do cavaleiro.
  — Como eu dizia… Acredito que meu deslize mereça, de fato, uma punição. Mas, não posso aceitar-te como tal. O que aconteceu aqui fora indecoroso52 e certamente…
  — Certamente, se o rei souber, o senhor será um cavaleiro morto . Na verdade, são muitos os riscos não é mesmo? Estão envolvidos também a rainha Yang Mi, e o príncipe
   encarou o cavaleiro com seu olhar vingativo e pronunciou–se em tom ameaçador. Ela deixaria bem claro que não aceitaria desculpas por algo que ela desejara ter e ele também.
   a olhava atencioso às reações da princesa. Compreendia que ela se sentia ofendida com sua represália ao que ocorrera, mas não poderia afirmar o quão bom fora aquilo. Ele era um cavaleiro real, afinal.
  — Portanto Sir. , ponha suas vestes, retorne ao seu palácio e não dê nenhum pio sobre o que aconteceu. Pois, já aconteceu. E nada adiantará pedir desculpas por algo que lhe foi ordenado fazer. Tampouco bancar o ofendido, ou o culpado por desejar o corpo da princesa prometida a outro homem e ainda assim, o tê-lo.
  — Lamento se a ofendi, princesa.
  — Me ofende em continuar falando e agindo como se tivesse sido torturado a isso. Apenas vista-se e saia. Se preferir, esqueça o que viveu aqui, embora... — o encarou de modo sedutor de novo antes de declarar: — Eu tenha a certeza de que nunca poderá apagar essa lembrança.
   saiu da água e pôs-se a vestir-se enquanto a princesa, mergulhava tranquilamente pelas águas do lago. Quando ela retornou à superfície, olhou-a envergonhado e pôde ler no reflexo do olhar dela, o quanto ela detestara a expressão dele.
  Certamente, se antes a princesa nada faria pelo erro do cavaleiro, agora, temia pela vingança de uma mulher com o ego ferido.

Capítulo VI.
Young Squire

Jovem Escudeiro

  Novamente submergiu a fim de esfriar os ânimos que não apenas sua mente mostrava, quanto Aretusa que surgiu afoita53 pela caverna, com o balaio em mãos. A dama de companhia da princesa avistou-a mergulhando nua e rapidamente pôs o balaio ao chão. Pegou o lençol de banho e a princesa saía de dentro da água, com placidez54 na face. Aretusa a cobriu com o tecido, ajudando-a a se enxugar. Em seguida puxou as roupas de sua princesa e ajudou-a a se vestir. A mulher estava assustada com o que teria acontecido, e ainda mais pela princesa parecer tão feliz.
  — Princesa?
  — Hm?
  — O que acontecera aqui… Não será por demais danoso?
  — Aretusa. Nada aconteceu aqui, eu apenas vim banhar-me. Entendido?
  — Claro Senhora!
  — Aretusa… Tenho-te por amiga durante todos teus anos de servidão. E falarei agora com a minha confidente, não com a serva…
  — Pois sim, Senhora.
  — Eu creio estar apaixonada.
  A princesa girou o corpo para encarar sua serva, que com os olhos arregalados encarava silenciosa à mulher em sua frente. O sorriso desmedido55, e o olhar fulgurante56 da princesa confirmaram o que Aretusa já desconfiara. Não pôde evitar o rubor em sua face.
  — Oras, não me olhes assim! Foi realmente maravilhoso!
  — Mas senhora… Ele é um cavaleiro ao qual foi incumbida a missão de…
  — Pedir minha mão em nome do príncipe a que serve. Eu sei disso, Aretusa. — interrompeu a princesa — E isso só faz com que, a certeza de aceitar a oferta seja maior.
  — Senhora!?
  — Jamais poderia me desposar por um cavaleiro, por mais nobre e subserviente57 que fosse. Mas, aceitando a proposta da rainha Yang Mi, eu estaria próxima de Sir. . Convencer o rei a aceitar é que será complicado.
  — Pronto, Senhora.
  Aretusa afirmou terminando de pentear os cabelos de sua senhora, que já estava sentada sobre uma pedra há algum tempo. Ambas se dispuseram a voltar ao castelo, e antes de saírem da caverna por completo, a princesa parou o passo, sendo incisiva com sua dama:
  — Por mais que eu lhe confie… Ordeno que nenhum pio seja dito sobre o que houvera aqui.
  — Fique tranquila, minha princesa. Eu sou totalmente leal à vossa majestade.
  — Eu sei disso, e por isso lhe estimo. Agora vamos, demoramos o suficiente.

  Ao retornarem ao castelo, não avistaram nenhum dos cavaleiros. Eles encontravam-se em seus aposentos. , repousava em sua cama, e já portava suas vestes de partida. Ele repensava o feito daquela manhã.
  No outro quarto, contava a Taehyung sobre o ocorrido da manhã dele, também.
  — Estás a cometer um desatino58, !
  — Dei minha palavra à que a salvaria, Taehyung!
  — Céus… E depois? O que fará com a moça?
  — Não pensei no depois. Ao vê-la ali… Tão bela e desesperada…
  — Sei! — interrompeu bravo, o companheiro: — Agiste com a parte do teu corpo que não raciocina!
  — De fato! … De uma maneira totalmente desconhecida a mim, perturba meus instintos.
  — Oras, ! E o que diremos ao ?
  — A princípio, penso em não dizer nada. Seguiremos o caminho e próximo à taberna do estalajadeiro eu me separarei de vós.
  — Como quer que eu convença a permitir que prossigamos sem tu?
  — Se eu soubesse não estaria aqui a pedir-lhe apoio!
  — É bom que penses bem nisto, : se trouxeres a moça convosco, terás de a desposar. Ou ao invés de salvá-la, a condenará ao próprio infortúnio59!
  — E quando eu lhe disse que desposar não é o meu desejo?
  Taehyung olhou ao amigo, de maneira curiosa. Sorriu-lhe e balançando a cabeça negativamente, o disse:
  — Está louco! — ambos riram entre si.
  — E tu? O que fizeste toda a manhã?
  — Vaguei pelo castelo, e arredores. É um reino de fato, admirável. E abundante! Entendo agora as proposições da rainha.
  — E encontraste alguma dama?
  — Sim. A cozinheira do rei.
  — A cozinheira? Ora, ora, Taehyung. Jamais poderia imaginar que as robustas senhoras faziam o vosso gosto.
  — Robusta… Podemos dizer que sim. De um modo muito positivo, aliás. Já senhora, não. Adulta, porém não tão mais velha que nós.
  — Então, eu não fora o único a aprontar…
  — De maneira alguma! É uma mulher respeitável e tem um filho.
  — Taehyung…! Estás a se meter numa confusão maior que a minha.
  — É viúva.
  Antes que pudesse responder qualquer coisa se ouviu um bater à porta do quarto de Taehyung. Eles a abriram, e os dissera que estavam de partida.
  A princesa, que descia as escadas daquele andar, surgira no fim do corredor no momento em que os três parados à porta falavam em partir.
  — Os cavaleiros não aguardarão por uma refeição digna na companhia do rei? — os surpreendeu.
  — Princesa.
  Os três abaixaram a cabeça em reverência e uma troca discreta de olhares fora notada por Aretusa, entre a princesa e o cavaleiro.
  — Se for indispensável ao rei que aceitemos o convite, é com prazer que ficaremos. — disse Taehyung.
  A princesa apenas abaixou a cabeça levemente, em afirmação ao cavaleiro. E silenciosa prosseguiu. Aretusa, tão silenciosa quanto, se pôs a segui-la.
  — É uma mulher envolvente, a princesa . — dissera .
  — Com certeza. O príncipe não deixará que outro lhe roube esta chance. — disse Taehyung.
  — Eu não deixaria. — falou risonho para seus companheiros, mas apenas Taehyung sorriu. ainda encarava o caminho que a mulher havia passado, e os outros dois perceberam: — E você, ?
  — Hã?
  — Deixaria passar a oportunidade de ter a princesa como tua? — perguntou Taehyung.
  — Cuidado com o que dizem. Ela é a prometida de .
  Assustado, mas contido, encaminhou-se adiante. Os companheiros riam da reação polida do homem que lhes indicava que, não exporia seus pensamentos sórdidos por devido respeito. Por virtuoso cavaleiro que era.
  A princesa foi ao encontro do rei, e comunicou-lhe que os cavaleiros se preparavam para partir. O rei exigiu que aguardassem a refeição do meio-dia. Logo, Aretusa pusera-se a correr até os cavaleiros para lhes informar. Ela chegou à cozinha e perguntou onde estava a serva dos cavaleiros para as demais serviçais presentes ali.
  — Eles estão de partida, e pediram que a serva lhes levasse algumas providências para a viagem. — disse Dalila.
  — Onde estão eles?
  — Preparando os cavalos.
  Aretusa seguiu em direção ao pátio dos cavaleiros.
  — Sir ! Sir !
  Ela o gritava à medida que se aproximava, apressada ao vê-lo pedindo a um servo que encaminhasse os animais às entradas do castelo. Os três cavaleiros olharam-na confusos e aguardaram em silêncio sua aproximação.
  — Não podem partir. O rei ordena que tomem a refeição do meio-dia com ele.
  Eles se olharam e dirigindo-se ao servo, pediu:
  — Pedirei a alguém que o avise depois para levar os cavalos à entrada, obrigado.
  O servo saiu e tomando as rédeas dos animais os retornou aos cochos.
  — Por favor, me acompanhem. — pediu Aretusa.
  Seguiram ela até o salão de jantar real, onde rei e princesa já estavam à mesa. Ao adentrarem o local, reverenciaram as majestades.
  — Acaso partiriam com fome? Acaso nosso alimento não é saboroso o suficiente a vós? — perguntou-lhes, brando60, o rei.
  — De maneira alguma majestade, apenas preparávamos os animais para a partida. A viagem é longa, mas certamente não sairíamos sem as vossas bênçãos.
  — Sentem-se! E fartem-se.
  Obedeceram, comeram e em seguida despediram-se.
  — Majestade, com lustroso brio61 nos despedimos e agradecemos vossa imensurável62 generosidade em nos hospedar.
  O rei sorriu à :
  — Aguardo a comitiva da rainha em breve e espero rever tão honrados cavaleiros. , peça à serva que os providencie o que lhes for necessário a um bom retorno.
  — Já providenciei tudo meu pai. — Ela o respondeu e direcionou-se aos homens: — Vossas providências já foram levadas às vossas montarias. Peçam o que lhes faltar.
  — Agradecemos, mais uma vez, majestades.
  Reverenciaram o rei, e a princesa uma última vez. E retiraram-se das presenças reais, sem mais delongas. , friamente observou o cavaleiro partir.
  Quando subia a seu quarto, o rei que lhe acompanhava em silêncio chamou a filha para um diálogo. Adentraram aos aposentos reais, e posicionou-se até a janela. Do quarto do rei era possível ver a estrada do Sol poente, longínqua e num alto cume. Por ali ela poderia ver os cavaleiros irem embora se permanecesse ao quarto por mais um tempo. Mas, não poderia dar desconfianças ao pai, por isso daria um jeito de manter por perto de outra forma.
   olhou para seu pai que sentado numa poltrona real, retirou a coroa a colocando na mesa e suspirando profundo, ele sorriu para a filha a observá-la:
  — É como ver tua mãe a admirar as colinas.
  — Recordo-me que este era o lugar favorito dela no castelo. E acho que é um pouco meu também… — A princesa sorriu nostálgica pela mãe e encarou a colina discretamente antes de sentar-se à cama do pai e indagá-lo: — Ainda sentes a falta dela como eu, papai?
  — Para sempre. E a cada vez que se aproximam assuntos de vosso casamento, sinto ainda mais por tu não tê-la aqui, minha filha.
  — Ela sempre está comigo, pai. Em meu coração.
  Arthus felicitou-se a ouvir aquilo e ajeitou o corpo, confortavelmente à poltrona indo direto ao assunto:
  — O que achaste dos cavaleiros de Yeongseo?
  — Cavaleiros são cavaleiros em qualquer reino… — Ela desdenhou: — E o senhor, papai? Não compreendi ter aceitado a visita de cortejo da rainha.
  — . Yang Mi é uma rainha muito, muito ardil. Ela pode destruir nosso Império com poucos movimentos quando eu não mais reinar. Eu preciso ouvir o que ela terá a me dizer, mas creio que eu saiba. Por isso, minha filha, gostaria que preparasse-se para a possibilidade de aliançar-nos ao Reino deles, embora eu vá tentar tudo o que puder para isso nunca acontecer.
   encarou ao pai com extrema curiosidade. Ela não achava que seria fácil convencer ao pai de aceitar o pedido de . Havia algo não dito mesmo entre os dois reinos.
  — Eu não me importo sobre aceitar o noivo, embora espero que eu possa fazer uma união de amor como fora a do senhor e de mamãe, mas… Papai, por que eu? O senhor ainda pode se casar!
  — Minha filha, eu já lhe disse, quando sua mãe faleceu eu a prometi que não me casaria novamente, e te faria uma rainha feliz. É por tua felicidade que espero não precisar unir-te a , confie em vosso pai. Tu terá a escolha final sobre quem desposá-la.
  — Eu sei Papai, e por isso tranquilizo-me. Mas, o que houve entre os reinos para o senhor saber tanto da dinastia , e ainda, desejar não aliançar-nos?
  — Quando for a melhor hora saberás, mas Yeongseo já foi um reino inimigo ao nosso.
   sentiu-se ainda mais necessitada em descobrir até onde o caminho em direção ao poderia levá-la.

Capítulo VII.
Legerdemain

Domínio do Exército

  A tarde punha-se quente e bela por entre as estradas que os distanciava do reino. acenou para Taehyung, num claro sinal de que o momento de raptar havia chegado.
  — ! — gritara ao cavaleiro mais à frente, e o mesmo o olhou atento, então fora direto: — Preciso parar um momento na taberna da estalagem, mas podem prosseguir que os alcançarei logo.
  — O que houve?
  — Creio que precise despedir-se de uma bela citarista63. — defendeu Taehyung.
  — Podemos aguardar, não é seguro que tu viajes sozinho.
  — Não , mas eu prefiro que não nos atrasemos.
   olhou desconfiado para . Taehyung prevendo a complicação, prosseguiu com seu cavalo gritando ao amigo:
  — Não demore !
  Logo, o seguiu. aguardou os companheiros afastarem-se minimamente e estudou à sua volta se havia companhia na estrada. Adentrou pelo caminho paralelo que levava à estalagem. Aproximou-se da rocha marcada e apeou seu cavalo.  Caminhou espreito às proximidades da taberna, e observou que o estalajadeiro já estava de volta. O homem que carregava tonéis de fora para dentro da taberna, não o viu se aproximar. Então, o cavaleiro amarrou seu cavalo na entrada da taberna. Quando o dono do local, virou-se para pegar outro barril, deu-se de face com .
  — Cavaleiro? Em que posso ajudar? — perguntou desconfiado o homem.
  — O senhor teria rum a me vender para viagem?
  Passaram um tempo em silêncio. O homem olhava o cavaleiro com dúvida, por estranhar a não presença dos demais.
  — Entre. — por fim dissera à .
  Quando adentrou à taberna, avistou escondida, espiando-os de um cômodo atrás do balcão que parecia ser uma espécie de dispensa. A garota arregalou os olhos ao notar ser realmente, e discretamente, ela desaparecera dali. O estalajadeiro serviu um cantil de rum ao cavaleiro e recebeu as moedas de prata. Cordialmente, despediu-se e saiu. O estalajadeiro observou-o sair montando em seu cavalo e calmamente se distanciar. Retornou para seus afazeres, carregando os tonéis de volta à estalagem.
   aproximava-se da rocha marcada, e quando imaginara que algo havia impedido a moçoila de sair, a avistou correndo apressada em sua direção. Portava uma capa que lhe escondia bem o rosto, sua cítara e um cantil de água amarrado ao corpo. Sem descer de seu cavalo, ele puxou-a pela mão e logo a mulher estava montada junto de si e ambos cavalgavam em direção aos demais cavaleiros.
   parara de trotar e Taehyung o encarou em dúvida.
  — está demorando. — disse olhando para trás.
  — Ele logo estará aqui, . Não há com o quê preocupar-se.
  — Taehyung, é tão péssimo mentiroso quanto é galanteador. O que ele foi fazer?
  Taehyung sentia um frio lhe percorrer o corpo.
  — Creio que despedir-se da moça da estalagem.
  — Ficaremos aqui até que ele nos alcance. — afirmou descendo de seu cavalo.
  — Certo… — Taehyung concordou observando a estrada a fim de que estivesse vindo — ?
  — O que há?
  — Como foi a tua manhã?
  Taehyung perguntou sorrindo sugestivo e bebendo um gole de sua água. , embolou-se em como responder àquela pergunta quando avistou aproximar-se cavalgando. E notara a presença de mais alguém no cavalo. Assim que ele emparelhou aos outros dois, pôde ver a moça da estalagem atrás de sobre o equino.
  — Despedir-se? — olhou aos amigos cúmplices, de maneira reprovadora.
  — Comprei rum para a viagem! — disse-lhes mostrando o cantil e ignorando a expressão de que montava seu cavalo assim como Taehyung no outro.
  — E a citarista veio com o rum? — perguntou .
  — Sei o que estou fazendo, .
  — É bom mesmo que saiba.
  — Bem! — disse Taehyung interrompendo as provocações entre os olhares dos dois: — Diante da presença inesperada de nossa convidada, é melhor que nos apressemos. Não é como se não fossem dar falta da bela jovem.
   deu rédeas ao cavalo pondo-se a cavalgar em corrida pela estrada. Os dois que ficaram para trás se entreolharam e correram também. sabia que não lhe cabia julgar . Afinal, ele mesmo cometera desvario64 muito maior, do que o de raptar uma jovem.
  Durante grande parte daquele trajeto, se propôs mentalmente a passá-lo calada, respondendo ao que lhe fosse perguntado, mas os homens galopavam incansáveis e apressados a chegar em qualquer destino por ela desconhecido. Quando fizeram a primeira parada para dormirem na estrada, mostrou-se atencioso e preocupado com ela, o que não foi suficiente para ela não perceber que reprovava sua presença ali.
  Enquanto os cavaleiros deitaram para dormir, ficaria acordado em vigília, e assim revezariam pela noite. estava deitada enrolada em sua capa, próxima à fogueira. Ela ergueu sua cabeça discretamente para olhar os homens, parecia dormir e Taehyung também, já farfalhava a fogueira atiçando mais fogo. Cautelosamente, ela o chamou, e quando a notou acordada ele prestou atenção, ainda sério.
  — Ele me salvou. Por favor, não o puna.
  — Salvou-te de quê? Percebes que se ele não mais a quiser, terás um destino muito pior do que o anterior? — perguntou ele.
  — Não digas o que não sabes. Meu destino anterior era tão horrível que eu não ousaria ser uma mulher só e livre se não pudesse defender-me.
  — Do que ele salvastes!?
  — Dos homens que pensam serem as mulheres seus objetos.
   respondeu brava e virou-se de costas a para dormir.
  — E se ele tomar-te como objeto dele?
   perguntou sábio, como se tentasse provar que ela foi imatura em ter seguido com . Mas, era esperta e ele não imaginaria isso.
  — Primeiramente, cavaleiros tem honra e ele não me tomará como objeto se eu não quiser. Por dois simples motivos: eu sei defender-me como lhe disse, e porque, caro cavaleiro… Donzelas em perigo, para livrar-se do próprio perigo podem ser mais astutas do quê os heróicos homens pensam.
  — Eu sei. Por isso acho um erro ele tê-la trazido, suas intenções não são ficar com ele. São?
   também era astuto como ela não imaginou.
  — Entre ele e eu, não houvera promessas de ficarmos um com o outro. — respondeu — Descanse cavaleiro.
   sorriu ao notar que teria um grande desafio de conquistar aquela mulher acaso desejasse ficar com ela. E soube no exato momento, pois sorrateiro, ouvia a tudo atentamente. Se fosse aquele um desafio, conquistá-la, as coisas só se tornariam melhores. não gostava de vitórias fáceis.

Capítulo VIII.
Song of Kings

Canção dos Reis

  A comitiva de Yeongseo pôde ser avistada por Arthus da janela de seu quarto a cruzar o cume poente. Como se estivesse preparando-se para um desafio, ele retomou sua coroa em mãos a vestindo à cabeça. Estufou o peito e pôs-se para fora de seus aposentos. Encontrou-se com Anrão, o mensageiro que já o aguardava na sala do trono.
  — Receba-os com amizade, e peça ao general Tardif que deixe os homens a postos.
  Ordenou Arthus, e Anrão saiu. Seu conselheiro, Misaquias, preocupava-se com aquele encontro após tanto tempo.
  — Majestade, não devemos falar do acordo. Deixe que a rainha Mi fale primeiro. Certamente ela o dirá.
  — Misaquias, prometa-me cuidar de se eu faltar-lhe.
  — Majestade, eu prometo, mas o senhor não a faltará hoje por nenhum desvario da rainha, nosso exército não é mais tão fraco. Do contrário ela não estaria aqui pelo interesse que a trouxe.
  — Preocupa-me apenas faltar à em protegê-la deste casamento.
  — Faça como lhe aconselhei se necessário for, Majestade.
  O rei Arthus pôs-se a acariciar a sua barba, pensativo. Teria de contar toda a história passada, a se tudo desse errado. E aquelas memórias do passado o faziam sentir-se culpado em muitos aspectos possíveis!
  Quando o jovem príncipe Arthus I foi designado a representar o seu reino no Conselho de Paz das províncias Meso-Asiáticas, numa tentativa de propor trégua entre os territórios da Mesopotâmia, sob a dinastia de Nabucodonosor, e os territórios da Ásia sob a dinastia , o príncipe não imaginaria que teria as linhas de seu destino tão entrelaçadas com as linhas de Yang Mi, a terceira princesa na linha sucessória da dinastia .
  Yang Mi era jovem, bela, de aparência doce, mas gananciosa o suficiente para tentar fazer com que Shun'ya seu irmão mais velho, e Li Chao, seu segundo irmão, não assumissem ao trono. As batalhas de Gangwon precisavam ganhar força e assim, os príncipes não só lutariam, como seriam motivação ao pequeno exército do reino. E aquele acordo de trégua só teria a atrapalhar. Mas, a presença de Arthus I fez com que todos os planos de Yang Mi mudassem, assim que o avistara.
  A dinastia jamais permitiria quem quer que fosse de seu casto e puro sangue misturar-se aos mesopotâmicos da Babilônia. Entretanto, a dinastia não se importaria de sacrificar a terceira sucessora, numa aliança matrimonial se isso permitisse trégua de guerra e domínios de novos territórios, ao mesmo tempo. Por isso, Yang Mi arquitetou todo o plano de desposar-se com Arthus I, naquele Conselho. Shun'ya ainda poderia assumir a Coroa, mas, Yang Mi queria mais do que ser esposa de Arthus I sendo rainha de Amitísia. Ela queria governar tudo.
  Por mais que pudesse pensar em formas de depois tomar o trono de sua dinastia, Yang Mi não poderia lutar contra uma aliança já firmada: entre Arthus e a princesa Namira, que futuramente tornaria-se Amitis II. O Conselho de Paz aconteceu, Yang Mi jurou um dia tomar tudo de Arthus, por sua negativa a ela. Mas antes precisaria chegar onde queria. E conseguiu: Shun'ya manipulado pela irmã enviou Li Chao, seu outro irmão que tornou-se general do reino, também por estratégia da caçula, em uma batalha fatal. Armadilha de Yang Mi, assim como o envenenamento progressivo do rei Shun'ya. Sendo a única sucessora, os anciãos dinásticos providenciaram que a Coroa recaísse para Yang Mi, e por isso ela deveria se casar. Assim, ela e seu primo de quarto grau, Eun He, tornaram-se novos imperadores de Gangwon até a morte de Eun, aonde ela pôde finalmente estar onde gostaria.
  Seus filhos, — , o mais velho e , o caçula — eram os únicos herdeiros de seus feitos, e com bravura, perspicácia e sedução, Yang Mi tornou-se a maior rainha da dinastia, e a primeira a governar sozinha. Depois de tantos anos havia chegado o momento de sua última cartada, aquela que jurara vingança a Arthus.

  Aretusa adentrou ao quarto de apressada informando a chegada da comitiva. A princesa deixou a escova que usava para pentear os cabelos sob a penteadeira, e se colocou de pé a fim de sair, mas foi interrompida por sua dama.
  — Senhora, o rei pediu que aguardássemos o chamado para descer à sala do trono.
   estava eufórica, não para conhecer os reis, mas para ver novamente o rosto de que certamente liderava a comitiva junto aos outros cavaleiros. Ao ouvir a ordem de seu pai, ela retratou confusa:
  — Por quê? Acaso meu pretendente não chegou!? Devo recebê-lo como a todos os outros, ao lado do rei!
  — Ainda não cruzaram as entradas do palácio. Senhora, o senhor Misaquias pareceu-me preocupado ao me repassar as ordens do rei, por favor, não desça.
  Aretusa temia pela impetuosidade de , praticamente a suplicando para não desobedecer. Mas a princesa compreendia que seu pai a estava protegendo. Caminhava de um lado a outro do quarto, pensativa. Arthus estava acuado, sabia disso! O casamento já tardio para uma princesa de vinte e sete anos era por tal razão explicável, mas quando soubera que seu pai apressava-se também por uma aliança segura ao Reino, não acreditava em quaisquer motivos para não ser ele a se casar. Até dias antes, em que o pai a confessara a promessa feita para a mãe de . Logo, compreendia que seria total e inteira responsabilidade sua assumir a Coroa. Sem dúvidas, ela não se opunha a nada daquilo, principalmente por seu pai mostrar-se tão disponível às flexibilidades e mimos de sua princesa. Contudo, aquela postura do rei, de estar acuado diante da rainha oriental era tão curiosa quanto amedrontadora. sabia que deveria temer por um segredo.
  O som dos cascos dos cavalos batendo ao solo da estrada e o trepidar de sua carruagem, já estava deixando estressado. Por isso, o jovem rapaz abriu a cortina de sua janela. Avistou a mata verde e o rio que corria ao lado, estavam em um lugar muito alto, ele notara. Mas era também um lugar muito lindo por sua natureza. Yang Mi observou o filho entediado suavizar sua expressão sutilmente ao avistar a paisagem, e sorriu. Ele era tão parecido com ela, em sua vida de juventude! E também carregava a seriedade de sua vida adulta. não era de sorrisos, ocultava-os e sorte daqueles que pudessem vê-lo sorrir verdadeiramente. Era como avistar parte dos segredos do céu. A expressão sombria e diabólica do príncipe, quando sorria verdadeiramente transfigurava-se na figura de um Deus. Era perigoso a quem visse, e uma arma poderosa da beleza do príncipe. Tal qual sua mãe. Yang Mi puxou a cortina de sua janela também e soubera onde estava. Observara ao cume da visão do castelo, mas ao contrário de seu filho sua expressão não suavizou. Tão fria como passara a ser por anos, Yang Mi percebeu as suas últimas memórias de ter estado ali tomarem-na os olhos, mas não se abalou. Encarou o castelo ao longe, e puxou seu monóculo para observar melhor, então enxergou ao Arthus. Parado à janela de uma torre observando ao longe, certamente sabia que eram eles. Se não fosse a lupa ela não viria o rei, tampouco saberia de sua presença sutil ali. Yang Mi não sorriu, embora quisesse.
  — . — chamou o filho que encarou à mãe, com expressão séria e sobrancelha arqueada e a ouviu atento: — Eis vosso futuro castelo.
   olhou pela janela, deparando-se com uma vista surpreendente do reino. Mas não se abalou, a sua mãe já havia o convencido de que não haveria chances dele desposar outra que não fosse a princesa de Amitísia. Por aquele acordo antigo, ele não esperava ter destino diferente, e exatamente por isso que sua curiosidade e preocupação moravam em como seria a princesa. Seus súditos fiéis e homens leais de sua cavalaria havia o certificado de que a princesa seria uma das mulheres mais belas e envolventes que o príncipe um dia tivera a chance de encontrar. Confiava nas palavras deles, sabia do bom gosto dos cavaleiros , e até mesmo , que pouco dissera-o sobre a princesa. Mas, precisava certificar-se daquilo com os próprios olhos.
  — Aretusa! — dissera urgente, com o lampejo de ideia que pairou à sua mente ao observar a paisagem pela janela de seu quarto: — Desça! Espreite em torno do conselheiro e do rei, sinto que há algo que eu não possa saber…
  — Mas princesa…
  — Ouça tudo! E suba para me alertar, sei que sabes espiar como uma serpente silenciosa!
   interrompeu a prévia reclamação de Aretusa com os olhos duros e sua ordem. A dama de honra da princesa pôs-se para fora do quarto, puxando as grandes portas com a cabeça baixa, e antes de fechá-las completamente, encarou sua senhora. estava de pé, ereta em sua postura real, de queixo erguido e olhar diretivo à paisagem de seu quarto que não mostrava a estrada inteira de entrada do castelo, apenas parte dela. Seus braços cruzados sob os seios em forma de auto abraço. Aretusa entendia sua princesa em seus gestos todos, estava preocupada, e era bem mais do que uma ansiedade para ver o cavaleiro.
  Aretusa desceu apressada e silenciosa na direção do salão real. Pôde ver pelas brechas das longas cortinas fechadas, entre um paredão de pedra e outro, que havia uma atmosfera de tensão em torno do rei e do conselheiro, Misaquias.
  — Uma ratinha a espreitar! — sussurraram em seu ouvido a causando espanto.
  Aretusa virou-se de imediato e tranquilizou em seguida, ao ver o rosto de Petrus. Um dos guardas reais.
  — Petrus! Silêncio! Sigo ordens da princesa! — sussurrava ela atenta em não ser vista ou ouvida.
  — Venha comigo.
  O homem pegou a mão de Aretusa arrastando-a para o corredor que dava ao salão, por onde antes ela tinha passado. Ali poderiam falar com mais tranquilidade.
  — Preciso ouvir o que dizem Misaquias e o rei.
  — A princesa deve ter visto o general Tardif alocar os homens ao redor das torres, não é?
  — Não sei, mas ela está preocupada Petrus. Também pudera, esta vinda deste pretendente está por demais, misteriosa… Acaso sabes algo?
  — Que não digas à princesa que fora eu quem lhe contara isto, mas a rainha Yang Mi é inimiga do rei. Recebemos ordens de estarmos atentos a qualquer ataque.
  — Inimiga? Por quais razões aliançariam então, os reinos neste matrimônio? Céus… o que o rei pretende?
  — Preciso ir. Devo me pôr a postos da entrada externa ao salão. Espreite na cortina atrás dos tronos, de onde tu sempre espreitas, aliás.
  — Oras, seu… — Aretusa sorriu vendo Petrus afastar-se.
  A dama seguiu para o lugar onde melhor poderia escutar: as cortinas atrás dos tronos. Esgueirando-se entre um vão de cortinas abertas nas laterais do salão, e outra fechada, conseguiu chegar ao seu ponto. Observou os corredores e ninguém caminhava por ali.
  — Misaquias, eu sinto que Mi irá aceitar qualquer das nossas propostas.
  — Rei, isto é impossível! Ela não entregará Gangwon aos inteiros comandos de ! Isso é o que a fará desistir, sabes que pelo Conselho, temos o reino maior e com maior apoio.
  — Yang Mi não pretende uma aliança, não é o reino e os territórios de Amitísia que ela quer. É vingança.
  — Mas, rei… Que tipo de vingança teria em casar os príncipes deixando a ordem dos reinos na mão de ?
  — A vingança de eu não poder impedir que a única coisa que Amitis temia, que acontecesse.
  — Há algo ocorrido na última guerra, sobre este momento de que o rei não tenha me contado?
  — Se der sua última palavra a favor deste matrimônio, eu não poderei impedir, prezo que em minha ausência, sejas tu Misaquias o braço forte de minha filha.
  — Senhor, a princesa é muito esperta, ela não entregará o reino a Yang Mi, mas precisará saber de todo o passado.
  — E vós também. Caso seja esta aliança uma realidade, quebrarei os selos secretos sobre a última guerra.
  Aretusa não pôde mais ouvir nada, Anrão surgiu pelo portal do salão, informando a chegada da comitiva. A dama correu para o quarto da princesa a fim de contar-lhe tudo.

Capítulo IX.
Road to Camelot

Estrada para Camelot

  — Segredos da última guerra? Pedidos de minha mãe? Vinganças? Ora, ora Aretusa… Meus instintos estavam certos afinal!
   caminhava ao redor de seu quarto, ainda mais pensativa.
  — Senhora, em breve a chamarão para descer. Queres que eu faça algo?
  — Ajude-me a trocar o vestido! Pegue aquele vermelho aveludado.
  Enquanto a dama de companhia seguia a ordem da princesa, e ajudava-a ao vestir, seguia um raciocínio cauteloso. Iria pedir que Aretusa fosse os seus olhos e seus ouvidos ao redor do rei, quando ela não pudesse estar. E avaliaria as personalidades de seu pretendente e da Rainha Mi. E claro, sorrateiramente, iria ver o cavaleiro pelo qual estava disposta a ser conivente com o matrimônio. Embora soubesse agora, que apenas aceitar o matrimônio por conta de um romance proibido não fosse mais prioridade: havia algo a descobrir com seu pai.
  Logo que Misaquias pediu a uma serva para chamar a princesa, olhou pela janela de seu aposento real e pôde ver os soldados de seu reino a postos, aos fortes do castelo, observando a entrada do palácio. A princesa observou a comitiva na estrada calçada e apressou-se a descer à companhia de seu pai. Aretusa, tal qual fosse ela a ser desposada, encontrava-se extremamente ansiosa.
  — Já estão a atravessar as entradas do palácio majestade. – Anrão informou ao rei que estava à sala do trono.
  Arthus manteve-se calado e apenas acenou com a cabeça. Misaquias observou a expressão do rei, era plácida, mas ele sabia que por dentro da mente de Arthus o passado lhe rondava.
  — Senhor Misaquias... Majestade... — A voz de a surgir no salão se fez ouvir.
  Posicionou-se ao lado de seu pai, sentada ao trono, com a mão sobre a dele. Misaquias notou pelo sorriso que o rei dera a filha, que ele faria o que pudesse para protegê-la de Yang Mi. E aquilo era um tanto quanto perturbador ao conselheiro do reino. A princesa observou diretamente a Misaquias após trocar um sorriso com seu pai, e a diretiva de seu olhar indicara ao conselheiro que ela estava atenta aos segredos que aparentemente se colocavam entre ambos.
  — Meu pai... — A voz dela soou suave, e o rei Arthus a observou atento: — Espero que não demores a situar-me dos perigos ao qual queres me proteger.
  — Como?
  — Eu sei ler os vossos olhos papai, mas ainda que não o soubesse, há uma atmosfera densa aqui. Meu sexto sentido me diz.
  O rei não dissera nada, apenas sorriu e apertou a mão da filha. Novamente voltaram o olhar à frente das portas do salão real, à espera dos visitantes. A comitiva adentrou pelo calçamento do palácio com os cavaleiros à frente. Foram reconhecidos por alguns servos reais e assim que os portões foram abertos, Yang Mi, silenciosa em sua carruagem deixou um sorriso de escárnio lhe tomar a feição. Aspirou profundamente o ar fresco das árvores de mirras do castelo, e tocou a mão de seu filho o encarando já com sua expressão vitoriosa.
   permaneceu sério, mesmo com o brilho dos olhos de sua mãe. Ele sabia que ela já tinha em sua mente tudo pronto para que o reino de Amitísia fosse dele. Não havia nada a preocupar o príncipe, senão conhecer a sua — para ele, já então — futura rainha. observou cauteloso, com seus pequenos olhos que lhe davam um ar misterioso, aos fortes do castelo. Alguns cavaleiros e soldados se encontravam preparados com arcos e flechas, bestas e até dispostos a alguns canhões.
  — Creio nunca ter sido recebido de forma a me sentir tão poderoso em reino algum. — pronunciou sério à sua mãe, com curiosidade e certo tom de ironia.
  A rainha sorriu largamente, e orgulhosa atestou:
  — Arthus é perspicaz. Não é que nos tema de fato, pois apesar de saber do nosso poder crescente, ele teria a vitória por uma guerra contra nós. Nisso estaríamos em desvantagem.
  — Então acaso de quê tanta proteção, como se estivéssemos prestes a atacar?
  — Por que ele sabe que estamos prontos a atacar. Mas, não como pensas, meu filho.
  — Não deveria eu estar ciente dos vossos planos, minha mãe?
  — No momento em que tu fores o cavalo deste tabuleiro, saberás. Por enquanto, permaneces como o bispo.
   suspirou profundamente. Não reclamaria se sua tão manipuladora mãe lhe pudesse contar o que havia acontecido há tanto tempo e o que ela pretendia agora. Contudo, ele nunca poderia controlar por si só às atitudes da rainha, mesmo sendo sua mãe. A carruagem parou, o lacaio desceu abrindo a portinhola e estendendo a mão para que a rainha descesse. Yang Mi saiu primeiramente, com a ajuda do servo e ajeitou suas vestes enquanto descia ao lado dela. À frente deles, os cavaleiros de Yeongseo que haviam acompanhado a comitiva, já estavam enfileirados e prontos para escoltá-los para dentro do castelo. As majestades de Gangwon deram seus passos lado a lado, e seguiram à sua frente, sir e sir e à vossas retaguardas, os cavaleiros, sir e sir .
  As portas do salão real se abriram, e quando iria levantar-se, seu pai a segurou pela mão indicando-lhe a quebra do protocolo: os receberiam sentados. Aquilo significava para ela que seu pai deixava claro à rainha, o quão não a tinha respeito. A princesa decidiu que ainda naquela noite, descobriria as razões para tudo aquilo. Yang Mi adentrou e sorria ladina, observando com fervor aos olhos cor de mel do rei Arthus. Ele notara o brilho sombrio do olhar da rainha de Gangwon e sentiu o arrepio, que sentia toda vez que a ela, encontrara em sua vida. De cenho discretamente franzido, observava ao embate entre os olhares de seu pai e da rainha coreana, mas logo seu olhar foi magnetizado à presença do cavaleiro que ali reverenciava a ela e seu pai.
  — Cavaleiros bem vindos novamente. — Arthus pronunciou aos já conhecidos rostos — E rainha Yang Mi, bem vinda ao meu reino. O reino de Amitísia.
  — Rei Arthus... — A voz doce e o sorriso simpático, para logo lhe soaram como verdadeiramente eram: falsos — É uma honra poder estar em terras tão belas! Já faz algum tempo desde que não sentia o frescor da mirra Ocidental!
  Silenciosamente, Arthus ergueu-se e deu a mão à vossa filha para que ficassem de pé, e não respondeu ao cumprimento da rainha, apenas apresentou sua princesa:
  — Esta é , princesa de Amitísia e minha estimada e preciosa filha.
  A princesa reverenciou séria, mas educada à presença da outra majestade. Yang Mi aproximou-se um pouco dela, e — como pedia a educação real — com a aproximação de outra majestade, também foi de encontro à rainha. Yang Mi observou minuciosamente ao rosto de , e sentiu-se invejada por um breve momento. Mas logo, seu sorriso emoldurou-se novamente em seu rosto e ela tocou com ternura às mãos da princesa dizendo:
  — Muito bela. Tal qual vossa mãe... É como se eu pudesse ver a própria Amitis em minha frente.
  — A rainha foi amiga de minha mãe? — perguntou direta .
  — Não. Nem um pouco amiga.
  O tom de voz tão direto quanto o dela, logo anunciara para a princesa o tão dito “ardil” de Yang Mi, que seu pai e os cavaleiros haviam dito tempos atrás. E cautelosa, Yang Mi, logo se pôs a amansar sua voz e num breve sorriso explicar:
  — Não poderíamos ser amigas, nossos reinos eram inimigos até um pouco antes de vossa mãe falecer, princesa.
   sorriu falsamente, e deu às ordens para que aquela situação fosse o quanto antes, dispersada.
  — Aretusa! — chamou a princesa com altivez educada em sua voz, e a dama logo se apresentou próxima reverenciando a todos os presentes: — Como da outra vez, peça a que se apresente aos cavaleiros de Yeongseo e os guie aos aposentos.
  — Claro. Com vossa licença, majestades.
  — A rainha deseja se encaminhar aos vossos aposentos? — perguntou esquecendo-se do principal: seu suposto noivo.
  — Oras Arthus! — Yang Mi bradou em postura excêntrica e riu divertida antes de dizer: — Tens uma princesa tão dedicada e pronta à coroa, que tua atenção como anfitriã é impecável ao ponto de mal importar-se em conhecer aquele que a pretende desposar! Será uma rainha forte, .
  — Não tenho dúvida majestade, agradeço aos elogios.
  — Pois bem Yang Mi... Apresente-nos ao candidato. — Arthus falou descendo do trono em direção às duas mulheres, mas já atento ao rapaz que ali permanecia observando a tudo com seriedade.
  — . — Yang Mi apenas o chamou.
  O jovem aproximou-se com postura principesca e nenhuma alteração nas expressões de seu rosto. O rei Arthus enxergou em exatamente as mesmas características de Yang Mi quando jovem, contudo, ele poderia assegurar que o brilho nos olhos baixos do rapaz era bem mais sereno do que os da mãe. Quase... Preguiçosos. A aura de para Arthus soava muito melhor e mais branda do que a de Yang Mi.
   encarou diretamente ao príncipe, que sorriu de lado, discreto, assim que percebeu o quanto a princesa era petulante. Nunca havia sido encarado por igual daquela forma, e não poderia reclamar de nada que estava notando nela: nem o rosto, nem a personalidade e nem seus atributos físicos. Era perfeita para ele. Podia assentir. reverenciou primeiramente ao rei, que lhe direcionou o olhar de pai zeloso em proteger a filha, com certa desconfiança. E em seguida reverenciou e pegou à mão da princesa, beijando-a.
  — É de grandiosa estima conhecê-los e sinto-me honrado por visitar tão vasto reino. — Aquelas foram as únicas palavras pronunciadas por ele.
  Pelo menos até que o jantar lhes tenha reunido à mesa com conversas curiosas sobre suas personalidades e curiosidades, e após o jantar, quando Arthus sugeriu que a princesa apresentasse ao seu pretendente o castelo. Aretusa é claro, acompanhando à certa distância ambas a majestade. E assim, Yang Mi e Arthus puderam reunir-se à sala real para terem a conversa que apenas os dois sabiam que teriam. Misaquias aguardava preocupado ao momento em que Arthus o solicitaria.

♦ Na Sala Real ♦

  — Conseguiste reinar muito bem sem sua amada rainha, Arthus.
  — Tal como vós, em seu pequeno reino.
  — Ainda desdenhas de minha Yeongseo... — Ela balbuciou sarcástica andando em círculos no ambiente.
  Arthus permanecia parado ao lado da porta que dava acesso aos jardins laterais. Observava Yang Mi mover-se como uma serpente.
  — Não desdenho de reino algum, tenho respeito por todos, e não minto ao pronunciar-me. Vosso pequeno reino não pode se comparar a vastidão do meu, por acaso não foi esta a vossa justificativa anos atrás, quando sorrateiramente empunhou-me uma espada imaginária?
  — Arthus... — Ela murmurou irônica e nostálgica — Nunca irás perdoar a minha inteligência estratégica? Por favor... Estou aqui a propor a nossa tão esperada aliança! Não somos mais inimigos... Não foram estas as palavras da vossa amada antes da morte?
  — Ousas falar da minha rainha? Recolha-se em sua rejeição Yang Mi. Eu não estou totalmente de acordo com o quê pretendes. Tenho condições.
  — Já as conheço todas. Não pretendo que meu filho preocupe-se com o trabalho pesado de um reinado, vossa filha terá autonomia para liderar Amitísia.
  — Como posso ter confiança em vossas... Astuciosas palavras?
  — Eu não sou uma rainha que falta com sua palavra, deverias saber Arthus! — Yang Mi zombou.
  Arthus então sorriu astucioso também e gritou por Misaquias, que logo adentrou em reverência.
  — Apresente à rainha Yang Mi as proposições do Conselho.
  — Já as conheço. — Ela desdenhou.
  Misaquias olhou para o rei e o mesmo lhe fez um sinal com o olhar para que pudesse insistir.
  — Perdoe-me majestade, mas estas são as novas proposições do Conselho.
  — Novas? — O olhar de Yang Mi estava um tanto quanto surpreso.
  A rainha puxou o pergaminho das mãos do conselheiro de Amitísia e leu-as. Mal pôde acreditar o quanto o Conselho dava agora vantagem ao reino de Arthus. Mas, não era como se ela não esperasse por tal retaliação. Anos atrás, em meio à Guerra, Yang Mi conseguira atingir ao reino babilônico, mas sabia que haveria possibilidade de em todos aqueles anos, Arthus reagir junto ao Conselho Geral Meso-Asiático.
  — Pois bem... Então, a última palavra é a dela. Aposto que isso foi desejo de sua querida rainha...
  — Eu a disse que faria a vontade de Amitis mesmo após sua morte.
  — Tudo bem. Tenho certeza que irá gostar de e aceitá-lo. E quanto à governança total de vossa princesa... Podemos atribuir a ela tal poder em Gangwon, após a minha morte. — enfatizou e esbravejou em tom duro: — Eu ainda sou rainha da minha província, Arthus!
  — Ao momento que o sucessor da Coroa se matrimonia, a ele são dados os poderes de todos seus reinos. deverá governar pela ordem natural, mas como pôde ler Yang Mi, o Conselho apoia que seja rainha onipotente de nossas terras, já que nossos domínios foram muito maiores ao longo dos anos. E claro... Por vosso histórico de... Inimizades aos meus aliados, não é mesmo?
  Arthus não poderia sentir-se mais feliz ao notar que a presunção com a qual a rainha ali chegara estava caída por terra. Yang Mi nunca esperou que fosse ser traída por aqueles que a ela se aliaram contra Arthus na última guerra. É claro que ela armara tudo aquilo, mas imaginava que o Conselho honraria o primeiro acordo, e não fora o que aconteceu. Amitísia tinha muitos mais aliados do que Yeongseo.
  — O que há Yang Mi? Acaso, queres retirar a proposição de vosso filho a desposar ?
  — Não sorria como se houvesse vencido Arthus... Eu nunca desisto do que quero, e neste momento, o que mais quero é fazer de vossa preciosa filha... — Ela retesou a fala.
  Estava começando a descontrolar-se em sua raiva e inveja, e os olhares atentos de Arthus e seu conselheiro a tentar captar as verdadeiras intenções dela, logo a despertaram ao próprio tom.
  — É fazer de vossa preciosa filha, a minha querida filha também.
  A rainha pronunciou e pediu a licença para se recolher aos seus aposentos.

Capítulo X. Beauty of Dawn

Beleza do Amanhecer

  Colibris de uma distante terra que foram dados como presentes aos jardins do castelo, revoavam entre as grandiosas árvores perfumadas de mirra, e de outras flores. Ressoavam uma melodia tranquila em seu canto e sentia como se nunca mais, aquela canção mais lhe soaria como antes. Não depois da chegada dos reis de Gangwon. Apesar da companhia de não lhe causar nenhum tipo de repulsa, mas até curiosidade por seus trejeitos misteriosamente polidos, era a presença da rainha Yang Mi que lhe trazia à tona aquele sentimento: o sentimento de alguém que vê se aproximar a tempestade, sem saber se o abrigo que tem é seguro o suficiente.
   caminhava ao seu lado, silencioso e contemplativo aos jardins. Eram belos, sem dúvida. Ouvira a história dos jardins suspensos da Babilônia terem sido erguidos para o bel-prazer dos antepassados de , e a própria princesa acabara de lhe dizer que a procedência da maioria das plantas ali, provinham de lá. E também, de presentes de outros reinos.
  , assim como , não era de falas desnecessárias e aquilo o cativou. Estava farto das princesas que houvera conhecido antes, todas falantes e pouco autênticas. Mas, com a princesa de Amitísia não. Em poucas horas desde que ali chegou, observou-a educadamente lidar com a rainha Yang Mi por igual, assim como com ele. Indagava-se se ela estaria agindo daquela maneira contida e legante por ser ele e desejar sobressair-se ou, pelo tal segredo que ele sabia existir e desconhecia a forma.
  — Por que queres casar-se comigo? — perguntou-o direta enquanto eles caminhavam pelos jardins depois de longo silêncio.
   sorriu ladino, quase imperceptivelmente, e encarou com baixos olhares à princesa ao seu lado perguntando-a:
  — E por que não casar-me?
   ponderou sobre a resposta. Ele não parecia conhecer a raiz de tudo aquilo.
  — É próprio pelas atitudes de sua mãe que é desejo dela esta união, mas... Acaso tens o direito de manifestar-se? Ou é refém das decisões dela?
  — Por que me ataca? Mal nos conhecemos, princesa. — Ele perguntou agora parando de andar e se prostrando erguido e meticuloso à frente dela — Não és tu também fiel às obrigações do teu reino?
  — Em meu reino... — olhou-o com expressão de deboche, um sorriso de vitória e proferiu: — A minha voz equipara-se à voz do rei quando assim convém. E no caso deste matrimônio, príncipe ... A minha voz tem grande peso. E a vossa?
  — Abdico de gastar o meu vocábulo naquilo que está selado e decidido antes mesmo da vossa majestade nascer. É perda de tempo quando o destino já está posto. — disse tão certeiro quanto ela.
  Entretanto revelaram-se desconhecidos fatos: ele não sabia da importância da decisão dela naquela união, uma vez que a mãe o garantiu ser aquele matrimônio algo acordado há anos. E ela não sabia, que estava prometida àquilo, como ele dissera: antes mesmo dela nascer. suspirou observando o olhar especulativo que lhe lançara e virou-se dando as costas à ela e seguindo pela caminhada que faziam.
   se manteve alguns minutos parada a encarar as costas um pouco encurvadas do príncipe. Para um príncipe, aliás, ele se movimentava de um modo tão despojado quanto um plebeu vez ou outra. Naquele momento, por exemplo.
  Aretusa seguia atrás dos dois com um pouco de distância e ao notar que a princesa ficou para trás, aproximou-se preocupada.
  — Majestade?
  — Aretusa. Retorne ao castelo, por favor. — pensativa ordenava sem tirar os olhos dos movimentos do príncipe: — Tente ouvir algo em torno de meu pai e da rainha.
  — Mas senhora... — Aretusa iria contrapor quando o olhar firme de a fizera desistir — Como queira princesa.
   observou por sobre o próprio ombro a direção que a serva tomava, e quando desviou brevemente os olhos para um dos arbustos do lugar, pôde dar de cara com o cavaleiro os espiando. Ela lhe lançou um sorriso de sarcasmo, um sorriso incompleto, mas que ele entenderia tratar-se de uma zombaria. E tão cruel quanto o sorriso foi o seu olhar cheio de uma não esquecida raiva pela rejeição que ele a fizera.
   observou a princesa parada a fitar o nada e logo atrás dela a serva que antes os acompanhava distanciando-se cada vez mais. Olhou ao redor tão discreto como ele o sabia ser, e percebeu seu cavaleiro ocultado entre folhagens de um arbusto, com a expressão séria. sempre era o mais sério, sem perder a doçura de sua face. o encarava e em silêncio enxergou que a princesa parecia intimidar o homem.
  Então era do feitio dela tentar soar intimidadora ao sexo oposto? Sem muito o que analisar da cena, ele retornou a caminhar para perto dela, e percebendo, sem muito disfarçar para o quê ou quem encarava direcionou seus olhos ao príncipe .
  — Aonde foi a serva? — Ele perguntou indicando com seus olhos entediados o portão dos jardins.
  — Preparar-me um banho. Podemos retornar, ou há algo mais que queiras conhecer no castelo, príncipe?
  — Nada que eu não vá ter toda a vida para conhecer. — respondeu ele indiferente e gentilmente estendendo o braço para a princesa.
  Gentilmente, mas sem o parecer por sua face. tinha de confessar: era o príncipe mais excêntrico, curiosamente misterioso, e com uma beleza original a lhe surgir ali em interesse.
  Sentia que com ele, ela estava falando de igual para igual sem que parecesse ofendê-lo, ou sem que tivesse de disfarçar que as suas intenções eram de atrevimento. Ou como diria Arthus, seu pai... Impetuosidade. Ela aceitou o braço que ele lhe ofereceu e pondo sua mão ali, como o primeiro contato entre seus corpos, ela o guiou em companhia de volta ao castelo.
   observava à cena fingindo que não havia abalado-se pelos olhares dela ao lhe descobrir, ou mesmo pelo modo como os dois príncipes pareciam se entender. Havia cometido um grande desatino ao deitar-se com a princesa, mas não poderia negar: se pudesse faria novamente.
  Algo nas memórias daquela manhã passada tempos atrás, e no modo como o olhar da princesa lhe caía sedutor em todos os momentos, impediam que pudesse esquecê-la. O cavaleiro mais correto e fiel ao novo reinado de Gangwon, vivenciava o grande dilema de não saber quanto tempo poderia ser leal ao futuro rei, na presença tão sinuosa da futura rainha.

♣ Há mais anos atrás.
Última guerra dos reinos Meso-Asiáticos ♣

  A chuva forte que recaía sobre as pedras de um reino que ainda revelava um pouco de destruição parecia querer lavar a alma dos Amitísios. Houveram baixas, perdas estimadas pelo rei entre seus soldados, cavaleiros, súditos leais. Mas nenhuma seria tão cruel e pesarosa quanto à morte de Amitis. Naquela noite, os cavalos estavam agitados por quaisquer partes dos reinos próximos que lhes fossem postos a galopar. As chamas de várias flechas flamejantes dos ataques já não resistiam à chuva. O cheiro do sangue se misturava ao cheiro de terra molhada. Não se viam pessoas pelos campos mais devastados, e muito menos pelos vilarejos. As pessoas todas, camponeses, súditos, guerreiros, todos estavam envoltos pela atmosfera do luto. Mas no castelo de Arthus, um lampejo de vida se fazia presente para combater àquela vitória do reino tão marcada de mortes, principalmente inimigas. Amitis dava à luz.
  Arthus estava cansado da batalha, mas ao chegar ao castelo e lhe avisarem que a rainha havia entrado em trabalho de parto, suas energias renovaram-se. Pôs-se aos aposentos reais, para aguardar à porta já que sabia que não poderia entrar. E ali no corredor encontrou sua filha , que ao vê-lo correu até seu pai o abraçando. Do lado de fora do castelo, a guerra retornava. Ou melhor, o inimigo. Sendo carregada em sua carruagem que sacolejava irritantemente, Yang Mi e a frota de aliados que havia conseguido para seu reino naquela batalha, adentravam ao reino de Arthus. Sem poder ficar no corredor de seus aposentos ao lado da filha a esperar o nascimento do novo herdeiro ou herdeira, Arthus pôs-se de volta ao salão do trono. Martin, segundo conselheiro-mor de seu pai, junto ao primeiro, Misaquias, lhe havia surgido informando a nova invasão inimiga.
  Quando pensaram em impedir, já era tarde. Yang Mi surgia tempestiva e ensanguentada pela sala do trono de Arthus. As vestes completamente cheias de sangue deixaram o rei um tanto quanto assustado, principalmente pelo estado de gravidez da rainha inimiga à sua frente. Ela aproximou-se de Arthus e seus conselheiros, com a tropa de outros representantes reais atrás de si.
  — Como repararás Arthus?! — gritou — Como irás reparar a morte de meu marido?
  — Yang Mi, numa guerra... Todos sabemos o que pode acontecer. Lamento que Eun tenha perdido a vida por se tornar inimigo do meu reino.
  — É isso o que fazes, Arthus! Domina o Conselho, convence os pequenos reinos de que estarão sob tua proteção, mas devasta a todos na guerra! — Yang Mi bradou num tom dramático, como se ela não fosse a inimiga dele, e levando a todos os outros representantes reais presentes, a crerem nela.
  — Não sejas ardilosa Yang Mi! Acaso não prostrou-se ao fronte de batalha inimigo contra nós? — Arthus aproximou-se da rainha suficientemente possível de olhar em seus olhos e em seguida direcionou-se aos outros: — Amirah, Nicolau, Bartolomeu... Acaso não são aliados de Amitísia? Por que sois ingênuos ao ponto de enrredarem-se às mentiras de Yang Mi?! Acaso faltei-lhes com minhas promessas?
  Arthus estava extremamente chateado, sentia-se traído. Os demais representantes argumentaram. Disseram sentir-se tão traídos quanto ele quando o reino de Amitísia apesar de destruído pela guerra, ainda mantinha-se firme enquanto os pequenos reinos deles estavam devastados. Arthus garantiu-lhes a proteção e apoio, mas os outros sentiam-se assustados. Entre os oito representantes reais ali, os que eram mais influentes a convencerem os outros, eram os reis Amirah, Nicolau e Bartolomeu. Eles poderiam ser porta-vozes dos outros cinco príncipes que ali estiveram. Mas, Yang Mi conseguiu plantar a discórdia.
  Um grito estridente ouviu-se ressoar ao longe, e Arthus surpreso olhou para a direção onde seus aposentos davam. Amitis estava dando a luz a mais um herdeiro, e eis que ele não poderia estar ao lado dela. Yang Mi percebeu que se tratava do nascimento, e levou a mão à sua própria barriga que não faltaria muito a nascer também e direcionou dura a Arthus:
  — Daqui cinco dias retornaremos para um Conselho urgente! Ou declararemos guerra eterna entre nós ou nos aliançamos. Uma coisa pode saber Arthus: eu, Yang Mi, rainha de toda a província de Yeongseo, não permitirei perder para vós, nunca mais!
  — Desfaça teu ódio Yang Mi. A vós sempre fora mais proveitoso ser minha aliada, mas tu vestiu o manto da vingança por não lidar com a minha rejeição.
  — Tu não é tudo isto que pensa, Arthus. — Ela zombou, olhou para seu ventre e dramática dissera alto para que todos ouvissem: — Vá para Amitis! Sua rainha está dando a luz, e eu... Tenho agora um funeral do meu rei para organizar. Deixaste meus filhos órfãos Arthus, e deverás cumprir com tal responsabilidade.
  Ela vociferou e deu às costas para o rei saindo pelas grandes portas. Um sorrisinho de satisfação por seus planos seguirem como planejara, disfarçadamente, pôs-se ao rosto dela enquanto a mulher se afastava de todos os demais presentes.
  — Não caiam na lábia de Yang Mi. Ela é uma serpente capaz de sacrificar ao próprio filho para não perder o poder. — Arthus avisou aos presentes.
  — Em cinco dias nos veremos novamente Arthus. Espero que o Conselho possa dar fim às vossas desavenças e obrigá-lo a cumprir tua palavra com nossas pequenas províncias.
  Bartolomeu falou e estendeu a mão para Arthus.
  Apesar das diferenças políticas tinha de admitir: Arthus era um excelente rei, e nunca deixara de ajudá-los. Pode ser que aquela guerra tenha sido uma infeliz fatalidade no curso de seus passos. Ele não poderia mesmo salvar a si, e a todos. Aquela era a esperança de Arthus: o lampejo da sabedoria de Bartolomeu, que tal qual seu pai era um rei devotado aos súditos e aliados.
  Quando Arthus retornou aos seus aposentos, a rainha havia dado a luz a um menino. Rapidamente a felicidade tomou sua face e aquela névoa deixada pela presença de Yang Mi dissipou-se. Sua filha estava ao lado de sua mãe, sorridente com o irmãozinho. As servas ainda limpando a tudo, mas Arthus notara que Amitis estava fraca. A parteira real aproximou-se dele com semblante preocupado.
  — Meu caro rei... Temo pela saúde da rainha. Ela foi muito forte para dar a luz ao herdeiro, e está fraca. É melhor que chames aos físicos65.
  — Providencie isto. Ela... — ponderou o rei: — Ela sobreviverá?
  A parteira olhou delicadamente e disfarçada para a rainha que parecia agora ter caído em sono e sem muitos rodeios dissera ao rei:
  — Somente eles dirão. Estamos fazendo o possível para impedir que ela continue a sangrar.
  O rei sentiu um nó em sua garganta. Imediatamente chamou as servas ordenando-as que enviassem homens atrás dos físicos. Recebeu os cumprimentos por seu herdeiro e deitou-se ao lado da esposa e dos filhos. sorria ingênua, deslumbrada com o bebê ao moisés66 disposto ao lado da cama.
  — Como ele se chamará papai?
  — Seth Arthus II.
  — É um belo nome. — A menina falou e logo sorriu acompanhada pela dama de companhia de sua mãe.
  Arthus temia não conseguir salvar à rainha.

Capítulo XI. The Council Of Elrond

O Conselho de Elrond

  Yang Mi ainda caminhava em círculos em seus aposentos. Precisava pensar numa forma de fazer ser escolhido por , ou então desfazer aquele novo acordo do Conselho. Caminhou tensa até a sacada do quarto de hóspedes ao qual lhe fora dado e visualizou as planícies belas daquele reino. Aquele reino deveria ser seu! Fechou os olhos demonstrando, como nunca fazia, certo cansaço e sua mente a levou às memórias do passado.

♦ Anos atrás, no Conselho após a última guerra ♦

  — Rainha Yang Mi, este Conselho compreende que por ser uma mulher, agora viúva, e com a responsabilidade de encaminhar teus herdeiros ao trono, numa província devastada pela guerra, é de responsabilidade do maior reino oferecer-te a aliança.
  — Objeção! — Arthus disse firme aos conselheiros do alto escalão, em desacordo: — O rei Eun entregou-nos aos inimigos! Se não puderam defendê-los, à Amitísia não cabe responsabilidade disso! Eles nos traíram! Yeongseo nunca fora nosso aliado!
  — Rei Arthus! Contenha-se! Yeongseo pertence aos domínios deste Conselho! Não daremos as costas às nossas terras, ainda que essas tenham se aliado ao continente inimigo! A rainha será punida por tal traição, mas acaso não é Amitísia o maior e mais poderoso reino de uma longa linhagem dinástica? É vossa responsabilidade zelar pelos grandes territórios que conquistou, mas também aos pequenos territórios independentes para que outros inimigos de outros continentes não invadam nossos impérios!
  O sumo sacerdote do Conselho, que representava à região imperial da Mesopotâmia dissera de forma dura em repreensão a Arthus.
  — Creio que... — A voz rouca e intrépida do ancião mais velho do Conselho, e que representava à Ásia Oriental, tal como a dinastia , ecoou a favor de Yang Mi: — A rainha tivera motivos... Pouco, políticos, é claro, para permitir que o rei Eun caísse em desgraça.
  — O que dizes conselheiro? — Arthus encarou ao ancião tão velho que seus olhos mal podiam ser vistos abertos, o perguntando: — Que motivos seriam?
  — Yang Mi sempre governou por trás de Eun. — Os demais homens olhavam curiosos para a única mulher presente: — E não nos é esquecido que havia um grande interesse dela em se tornar a rainha de Amitísia...
  O velhote parou de falar e acariciou sua longa e fina barba quase de mago, e Arthus perguntou-o novamente:
  — Não serias tão imprudente, não é, Yang Mi? Sei bem que cada passo teu é friamente calculado. Se tu colocaste à mente do falecido rei Eun nos trair, tens algo a tirar proveito disto.
  — Peço que mantenha o respeito e o decoro, e não acuse-me falsamente rei Arthus! — Ela falou sem demonstrar qualquer reação sentimental: — O que o ancião Hyang está a dizer é que eu posso não ter impedido o meu rei por achar justo que vós pagásseis por não aceitar-me... Mas... — Ela olhou ao ancião justificando-se: — Não me tomes como uma mulher desiludida, ó senhor. Se não permiti que Eun desistisse do apoio aos continentes inimigos é porque a palavra de um rei não se sobrepõe à de uma rainha.
  Arthus sabia que ela mentia. E sabia que o ancião também acreditava naquilo. O velho Hyang riu baixinho e debochado e dissera:
  — Ah Yang Mi... O cumprimento de minha barba. Sabes por quê? — Ela não fez menção de responder e o velhote então continuou: — Para que verdades que só um ancião pode saber escondam-se sob ela.
  Naquele dia, o Conselho achou oportuno findar com as diferenças daqueles dois reinos unindo suas gerações futuras em matrimônio. Arthus não poderia ir contra a uma decisão do alto escalão. Os conselheiros não podiam permitir que Yang Mi, em sua astúcia e beleza colocasse mais reis uns contra os outros. Bem sabiam que a mulher poderia destruí-los se usasse de suas armas femininas e inteligência. Afinal, para derrubar um castelo de homens basta uma mulher.
  Infelizmente, apesar de todo o Conselho tentar evitar a presença de uma mulher ali por todos aqueles anos, a rainha Yang Mi conseguira destruir um a um de sua coroa para estar onde estava. Então, o que ela não poderia fazer com os demais? E Yang Mi, soubera mais uma vez que havia conquistado o que queria. Arthus saíra derrotado daquela reunião. Não desejava que sua filha fosse dada como moeda de troca ao Conselho. Mas, ao menos tinha agora um herdeiro primeiro à Coroa. Enquanto o seu filho Seth estivesse vivo, a coroa estaria segura de Yang Mi. Mas, Arthus não se preocupou que poderia haver a possibilidade de Seth não governar.
  Yang Mi estava hospedada em seu castelo aquela noite. Por estar grávida de seu segundo filho não era prudente que a deixassem retornar imediatamente após a reunião por longa distância. Quando Arthus contou a Amitis o que ocorrera, a mulher lhe fizera prometer que a última palavra para a decisão de casar-se ou não, seria de . Ainda que o reino explodisse em guerra, Amitis não poderia permitir que sua filha fosse vendida e não se casasse por amor. Arthus concordou.
  Amitis ainda estava fraca, sangrando pouco, embora constante, ao longo daqueles cinco dias desde o nascimento e sabia que iria morrer, mas Arthus não perdia as esperanças. Mandava os mensageiros do reino todos os dias assuntarem se os físicos aproximavam-se. Estavam em terras longínquas quando a eles chegou o chamado, e por mais que soubesse que não teria tanto tempo, Amitis alimentava a esperança do marido.
  Yang Mi bordava um lenço em seu quarto quando uma das servas adentrou.
  — Com licença senhora rainha. — A serva dissera e sem a olhar, Yang Mi permitiu-lhe entrar — Apenas vim avisar-lhe que o jantar está posto. A senhora descerá? Precisa de algo?
  — Descerei, mas não preciso de nada por enquanto... — E por fim parou o bordado para olhar à serva: — Como está Amitis?
  — A rainha ainda convalesce.
  — Oh... Que lástima que Amitis esteja tão fraca... Mas, ela se recuperará, não é? — perguntou em falso tom de compaixão.
  — Com fé em Adonai que ela logo estará boa, senhora.
  — Escute... — Yang Mi sorriu analisando o perfil da serva.
  Yang Mi era boa em analisar as pessoas por suas posturas e maneiras.
  — O herdeiro do rei, como está?
  — O príncipe está bem ao lado da mãe, senhora Rainha.
  — Oh... Sei que Arthus não me permitirá vê-lo, mas ainda assim... Uma criança não deveria ser posta em diferenças políticas não acha? — perguntou doce e ingênua, e a serva apenas sorriu assentindo, então a rainha continuou: — Vê este lenço?
  Yang Mi levantou-se e mostrou-o para a serva com um largo sorriso. A serviçal estranhava a postura, havia sido informada para ter cuidado, pois a rainha oriental era um tanto quanto rude, mas naquele momento ela não via aquilo. A mulher olhou o lenço de senda, às mãos da rainha sendo bordado em fio de ouro.
  — É um presente que faço para o jovem príncipe. Da seda mais pura da China, que recebi em agrado do imperador, e em fios de ouro. Simboliza em meu reino, a sorte, dar um lenço assim aos recém-nascidos. O terminarei após o jantar, poderias tu entregá-lo ao príncipe?
  — Oh... — Como se entendesse as boas intenções da rainha, a serviçal sorriu e assentiu: — É claro que sim senhora, a rainha Amitis ficará agradecida.
  Yang Mi assentiu ainda mais risonha e retornou à poltrona em que estava. Deixou os aparatos de bordar ali e foi acompanhada pela serva até o salão do jantar.
  Após o jantar, ela pediu que a serva batesse em seu quarto antes de dormir, pois o lenço estaria pronto. O bordado terminou, e Yang Mi sorriu para o artesanato perfeito que havia feito. Não se esqueceu de salpicar a água de cheiro perfumada para o bebê.
  A serviçal buscou o lenço, levou-o aos aposentos da rainha a entregando o presente da rainha. Amitis surpreendeu-se com aquilo, mas sabia que Yang Mi não era uma rainha que faltava com os bons modos e costumes de uma coroa. O lenço era lindo, havia um sutil perfume das águas de cheiro do Oriente, e após pegá-lo o deixou no moisés de Seth.
  Na manhã seguinte, Yang Mi despediu-se de Arthus, estimando as melhoras da rainha e os cumprimentos pelo príncipe e após o desjejum saiu com sua comitiva de volta a Gangwon. E foi ao meio dia daquela manhã nublada, que Arthus recebeu a notícia de que os físicos estavam a caminho, mas demorariam ainda dois dias para chegar. E frustrado pela demora sentou-se ao trono pensativo, com as mãos às têmporas de sua face. Não imaginava que um grupo de servas se aproximariam eufóricas, lideradas por Ruth, a real dama de companhia, e os conselheiros Misaquias e Martin a invadirem a sala do trono.
  — Majestade! — gritou Ruth e Martin tomou a voz, uma vez que a mulher estava abalada. Arthus ergueu-se no susto, atento ao que ouviria.
  — Lamento Arthus... Amitis e Seth estão mortos.

♣ •

  Yang Mi abriu os olhos com um largo sorriso. Ter se recordado do que o Conselho havia feito anos atrás, e de como ela se livrara da rainha e do príncipe modificaram o seu humor. Arthus e mais ninguém imaginara como a rainha Amitis e seu herdeiro morreram, e segundo tivera notícias em Gangwon, os físicos ao chegarem ao castelo de Arthus não puderam diagnosticar a causa. Os corpos estavam embalsamados e enterrados, e foram dadas como a causa da morte de ambos: a fraqueza da rainha e um parto difícil.
  Yang Mi observou às planícies uma última vez, tendo a resposta que precisava: morte. Precisaria novamente se livrar de alguém por ela, e este alguém seria Arthus. Uma vez que o rei fosse morto, a princesa se desestabilizaria e aceitaria o casamento com urgência. A própria rainha Yang Mi faria questão de garantir àquilo.
  Enquanto Yang Mi planejava em seus aposentos uma forma de prender a princesa em sua teia de vingança, Arthus e Misaquias se encontravam à sala do trono. Naquela tarde, enquanto sua filha e o príncipe viajante passeavam pelos jardins reais, o rei dissera que devia ao conselheiro uma confissão. Misaquias não conseguia imaginar sobre o que se trataria, mas sentiu pelo semblante de seu rei que não era algo fácil de ouvir.
  — Misaquias... — O rei iniciou após ter certeza de que estavam trancados e sós — Estou com a doença dos ermitões.
  — Ora, mas como, senhor!? — Misaquias perguntou-lhe assustado: — A lepra?
  — Tomou-me rapidamente os órgãos genitais e agora está tomando todo o tórax. Não conseguirei esconder mais tempo de tal situação e por isso tenho estado empenhado para que ela se case logo. Se se casasse antes de minha morte, e sem que Yang Mi soubesse eu não me preocuparia. Mas dar um golpe a uma decisão do Conselho é tão ignóbil67 quanto ineficaz. Enfim... Eu não conseguiria... Agora... Eu preciso que decida por si diretamente ao Conselho, já que o alto escalão em respeito ao meu prestígio como rei, reavaliou o acordo. Entendes Misaquias, a minha preocupação? Se torna-se rainha sem a minha presença por perto, Yang Mi poderá mostrar suas garras e tomá-la tudo.
  — Majestade, tu sabe que é de suma importância a proteção da Coroa perante este matrimônio, e se acaso ele ocorrer com o príncipe , assim também é importante que saiba de toda a verdade, não é? Inclusive para a proteção dela.
  O rei assumiu que o conselheiro estava certo. Antes de chamar a princesa ao diálogo, Arthus ordenou que novamente chamassem os físicos para que assim que Yang Mi voltasse a Gangwon, ele pudesse buscar algum tratamento. Esperava que pudesse salvar-se a fim de manter-se ao lado de por todo o tempo em que ela precisasse. Misaquias saiu da sala do trono, a fim de compor os preparativos para aquela ordem, e a princesa foi chamada.
  Quando escutou tudo aquilo sobre os anos passados, de quando ela ainda era uma criança, sobre as preocupações de sua mãe quanto ao matrimônio, quando descobriu a força de seu reino perante o Conselho, a princesa entendeu que precisaria se preparar para derrotar Yang Mi, sendo ela sua sogra ou sua inimiga.
  A rainha Yang Mi, que já havia traçado um plano de derrota para o rei, caminhava pelo castelo à procura de . O príncipe encontrava-se fora dele, precisamente na coxia dos cavaleiros, a conversar com o seu melhor amigo sobre as suas suposições acerca da princesa. Mas Yang Mi não continuou a procurá-lo, quando passando pela sala do trono viu a serva da princesa espiando. Então era por aquela greta nos corredores que elas escondiam-se sob as cortinas do salão para tudo ouvirem? Yang Mi, como uma rata, como uma serviçal, colocou-se à espreita também, assim que viu Aretusa correndo para outro canto. Aparentemente havia sido flagrada.
  A rainha oriental também se pôs ao mesmo local e ouviu tudo: descobriu que Arthus contara sua história com ela para a princesa, e agora teria de se colocar atenta aos comportamentos de . E principalmente, agora sabia que Arthus estava doente. Não conseguiu saber o quão doente, mas ao ver a princesa cair de joelhos ao chão, aos prantos, soubera que era grave. Talvez, Yang Mi não precisaria fazer nada. Mas sim, . Seu filho precisava conquistar o coração de , o quanto antes.

Capítulo XII.
Refined Enlightenment

Iluminação Refinada

   estava caminhando pela coxia dos cavalos junto a , seu melhor amigo e fiel escudeiro. Os dois observavam os belos cavalos do reino de Amitísia e no momento em que o servo do reino se afastou, carregando as palhoças de feno, os dois ficaram sós. observou o modo como cada serviçal do reino lhe prestava a veemência respeitosa por sua posição, sempre com sorriso em suas faces, e notou o quão fáceis eram aqueles súditos. , em seu silêncio trocou olhares ao amigo apontando a parte externa das coxias, mais ao fundo, e que demonstrava uma bela visão do reino. assentiu, ainda em silêncio e caminharam lado a lado. com seu andar sorrateiro e braços unidos atrás do corpo, e com a postura de cavaleiro e a mão à bainha de sua espada.
  — É de fato um reino maravilhoso, não senhor? — perguntou sem o encarar.
  — Certamente. A rainha é bastante ambiciosa e não desejaria um reino pequeno em troca de minha mão. — disse o príncipe sem dar o braço a torcer em elogiar a terra em que estava.
   observou o semblante de . Apesar de amigos, a hierarquia entre eles ainda era necessária, portanto, por mais que o conhecesse, não poderia indagá-lo diretamente. O cavaleiro sabia que estava preocupado com algo.
  — Há algo que me diz, príncipe, através de seu olhar distante, que não são as pradarias do reino ou as longínquas montanhas a prendê-lo em pensamentos...
  — Conhece-me bem. — suspirou finalmente olhando de “rabo de olho” — Há uma atmosfera de conspiração neste enlace.
   ao ouvi-lo, pensou e recordou-se de quando viera pela primeira vez ao reino. Recordou-se da postura do rei Arthus à notícia de Yang Mi interessada pela mão de para seu filho.
  — Algo contra vós?
  — Não. Algo entre os reis... A rainha não me esclareceu a razão pelo interesse deste matrimônio, apenas foi contundente de que é importante, de que há um acordo antigo. Como não sou de ir contra aos seus desejos, afinal ela é a minha mãe e a mim sempre preparou o melhor... — interrompeu seu raciocínio indo direto ao ponto: — Entretanto, a princesa parece-me inquieta e arredia demais.
  — Compreendo. De fato, quando viemos para pedir sua mão, o rei Arthus demonstrou preocupação. Pude observar que há de fato um passado entre os reinos.
   encarou mais diretamente, e percebendo que não falaram muito sobre a vinda dele para o reino, pôs-se a perguntar:
  — O que mais descobriste quando vieste aqui, ?
  — Não ficamos por muito tempo, questão de um pernoite apenas. Mas, a princesa nos apresentou a história de seus antepassados... É realmente uma dinastia forte e nada do que nos foi dito ou mostrado revelava uma relação entre o rei e a rainha. A não ser uma certeza: não são aliados.
  — Entendo... — voltou o olhar para as montanhas e recordou-se do momento anterior ao jardim: — E sobre a princesa?
  O silêncio a seguir, quase foi acusador se não fosse astuto, e compreendesse como o príncipe sabia ser esperto e sorrateiro.
  — Exatamente o que queres saber a respeito de sua dama, príncipe?
  — Conversaste com ela?                                                                                                    
  — De algum modo sim, fora ela a anfitriã que nos recebeu e alocou ao castelo.
   estava dando rodeios, pois já era notório que o príncipe o sondava. era um homem direto. Característica do seu sangue. Caso tivesse alguma pergunta faria diretamente e antecipando-se aos possíveis passos do príncipe, deu-se a fugir de alguma armadilha:
  — Mas, queres me perguntar algo, príncipe? Eu não tive com a princesa um contato tão próximo a ponto de descobrir quaisquer curiosidades sobre os interesses políticos da mesma.
  — Sei que não. — volveu novamente o olhar à direção de : — Mas percebi que ela lhe encarava de uma forma um tanto quanto impertinente, algo que não fizera aos outros cavaleiros.
   engoliu a saliva espessa que se formou em sua garganta.
  — A qual momento tu notaste algo assim, príncipe?
  — Quando tu se colocou sorrateiro a nos espiar nos jardins.
   viu a face meticulosa de analisando sua reação, então suspirou fundo sorrindo e disse:
  — Eu devo espreitar pela segurança do meu príncipe, certamente a princesa não deve ter gostado de sentir-se vigiada dentro de seu próprio reino. Principalmente... Em momento íntimo.
   meneou a cabeça num aceno afirmativo, sem sorriso ou qualquer leveza em sua expressividade, e constatou:
  — Deve ser. O fato é que noto quão amável a princesa é com seus servos. E não foi diferente aos outros cavaleiros, contudo... Há algo no olhar dela contra vós . Espero que tenhas pela princesa o mesmo respeito que tens a mim caso este matrimônio ocorra.
  — Ainda que não ocorra, príncipe.
   concordou e logo ambos sentiram passos em vossa direção. Um servo veio a mando da rainha Yang Mi pedir que o príncipe a ela se apresentasse. disse que iria atrás de seus cavaleiros, e observou o príncipe afastar-se com o servo. Sentiu o peso da mentira e da deslealdade sobre os próprios ombros, praguejando-se e nutrindo asco pela princesa que o levara a ser seduzido e trair a amada coroa de Gangwon.
  Noutro ponto do castelo, Park , um dos cavaleiros reais que viera nesta comitiva, explorava ao novo reino. Cavalgava pela estrada dos campos de cultivo, e avistou um moinho ao longe. Recordou-se de sua infância, onde seu pai camponês o ensinara o cultivo do arroz. Era desejo de seu pai que o filho tornasse-se o maior camponês de arroz no reino de Gangwon, que ele fosse o principal fornecedor do império, mas tivera sonhos maiores. Queria servir ao seu reino de outra forma: entrando para o alistamento dos cavaleiros reais.
  A escola de samurais do reino não era de acesso a qualquer um, era necessária a linhagem familiar de uma longa dinastia de samurais reais. Mas, nunca deixou de crer que conseguiria, pelo contrário, ainda jovem fugiu e procurou o líder dos cavaleiros reais. Mas, foi rejeitado. Durante anos treinou escondido para ser um samurai, e quando achou que estava pronto novamente foi de encontro ao líder da cavalaria, o general Go. O general percebeu que o rapaz havia crescido, estava um pouco mais forte do que antes, mas ainda não passava de um mero camponês. Contudo, a persistência dele fora notada e por isso o general concedeu a a chance de convencê-lo: duelaria com o seu discípulo líder, , e acaso vencesse poderia adentrar à academia. Logicamente, perdeu. era o melhor entre os cavaleiros samurais além de sua linhagem, portanto, o cargo de futuro general por direito seria dele. Mas, Go sentiu o que poderia se chamar de “o desejo da honra” no olhar de Park . Enquanto retornava cabisbaixo e arrasado aos seus campos de arroz, o general Go o observava.
   entrou na cavalaria após ser notado. O general pediu ao rei Eun uma permissão para dar a exceção e a chance daquele jovem provar seu valor junto aos cavaleiros. Como era de extrema confiança a seu general, o rei Eun sabia que Go jamais apostaria num erro, e concedeu-lhe permissão. Houve burburinhos, logicamente. Entre os cavaleiros, servos e até mesmo na coroa, e por isso, foi delegado à cavalaria de liderança de . O futuro general era respeitado por todos, e trazia em sua alma todas as grandes qualidades de um líder, e por isso, saberia conduzir o cavaleiro “plebeu” à honra necessária do serviço.
  Suas memórias trouxeram no seu rosto um sorriso, e sentiu saudade do pai, que logo após perder o filho para a cavalaria, não conseguiu trabalhar por muito mais tempo. cuidou de seu pai até o último respiro da velhice, onde a morte fez-se presente. Não tinha mais família, não tinha ninguém, exceto, seus amigos leais: , e . Os quatro eram uma verdadeira irmandade, e por eles, daria a vida.
  Cavalgou tranquilo no meio dos campos até o moinho, sentindo o trigo passar por suas pernas, trazendo a nostalgia das sensações em sua pele. Quando chegou ao moinho, grandioso e barulhento, aproximou-se apeando do cavalo e o explorando. Mas, dentro dele, onde se guardavam as sacas de trigo, uma mulher cantarolava uma canção. Sua voz era forte e sensual, quase como uma voz propositalmente criada para seduzir. E sua aparência não era ruim, tinha longos cabelos cacheados e loiros, volumosos, e sua pele bronzeada e castigada pelo sol. escondeu-se atrás de uma pilha de sacas, enquanto espreitava a mulher em seu trabalho de espalhar o trigo recém-lavrado pelo moinho à secagem. Poderia ficar ali um longo tempo a observá-la, mas o soar do sino ao meio dia, fizera-a encarar o lado de fora.
  — ! — gritou-lhe um servo — Vamos!
  A mulher retirou o avental, e bateu as mãos ao vestido limpando-as, e saiu após dar uma última checada no ambiente de trabalho. saiu antes que a própria lhe trancasse ali dentro, e sorrateiro alcançou ao seu cavalo. Estava escondido na parte de trás do grande moinho quando a viu sair fechando a porta e indo até uma carroça velha, onde um homem ajudou-a a subir, entregou-lhe um grande chapéu de campo e os dois saíram rumo ao castelo. sentiu que necessitava saber mais sobre aquela mulher, e atordoado retornou também ao castelo.
   por outro lado, não se comedia a se aproximar de a cozinheira. Estava sentado à mesa da cozinha enquanto as servas cozinhavam em absoluto silêncio. novamente sentia-se extremamente envergonhada pela presença do homem. conversava animado com Lucas, o filho da serva, enchendo ao garoto com histórias das aventuras cavalheirescas de seu reino e amigos. Foi interrompido pela chegada abrupta de , que gargalhava melodiosamente a adentrar pela cozinha. A loira sentiu-se surpresa ao dar de cara com o cavaleiro ali, e trocou olhares duvidosos com as servas após um discreto cumprimento ao homem.
  — O que tanto a faz rir? — perguntou em baixo tom de voz, quando a outra se aproximou dela, de forma ansiosa.
  — Simão... Ele estava novamente tentando convencer-me de dá-lo uma chance, mas... — correu os olhos de soslaio para Lucas e o cavaleiro, ambos não paravam de conversar — O que ele faz aqui, ?
  — Eu não sei bem, mas... Sir Kim gosta demasiadamente de passar um tempo na cozinha...
   olhou-a desconfiada e espreitou a figura do homem com o menino, e então notara o óbvio. Não tivera tempo para falar nada, a pediu que fosse imediatamente preparar a mesa dos nobres. A loira saiu e , surgiu pela porta dos fundos da cozinha ao ouvir a voz de . Fez um gesto para o amigo, sem adentrar ali, apenas fazendo-se notar pela porta e silenciosamente o chamando para fora dali.
  — Bem Lucas, eu termino de lhe contar minhas aventuras noutro momento, pois agora preciso ir. — sorriu para o garoto lhe bagunçando os cabelos e seguiu até a porta sem deixar de sorrir também, porém sedutor, à cozinheira que sentiu o rosto enrubescer.
   lavava o rosto numa fonte que havia ali ao lado de fora, enchendo as cumbucas de água e jogando ao rosto quando se aproximou.
  — O que há ?
  — Estou apaixonado. Mas, seria isso possível? — disse o amigo sorrindo de forma travessa.
  — Ora... — sorriu apoiando-se na fonte e constatou: — Bem, é possível... raptou uma dama, eu... Bem, o reino é mesmo encantador. Mas, acaso a vi?
  — A serva que entrou há pouco.
  — Ahn... A loirinha... Já ouvi minha... Digo, a dama cozinheira chamar-lhe .
  — ? — pronunciou satisfeito e arqueou a sobrancelha de forma desafiadora pondo-se a zombar : — Uma noona68 cozinheira, então?
  — E com um filho encantador...
  — Uwa! — alarmou-se: — , por Deus!
  — Vamos logo adentrar, algo me diz que estará a nossa busca.
  Os dois caminharam de encontro ao castelo, bem a tempo de ouvirem os chamando.
  Já dentro do castelo, nos aposentos de Yang Mi há algum tempo, a rainha conversava com seu filho que a escutava atenciosamente.
  — Você precisa conquistar a princesa!
  — A senhora permite-me indagar por qual razão vejo tanto afinco em teu olhar, para que conquistemos este reino?
  — Sabes que sou ambiciosa, não sabes? — Yang Mi devolveu a pergunta não muito certa se queria dar espaço ao filho de lhe encher de questões.
  — Sei. Mas preciso compreender se estás atrás de uma suposta vingança, ou se ages pelo meu melhor.
  — Se por vingança ou não, o teu melhor sempre estará como prioridade, meu filho.
  — Ommoni69. Exijo ao menos estar a par dos motivos pelos quais se faz tão indispensável que eu conquiste a princesa.
  — Acaso não gostaste dela? — Yang Mi perguntou tentando fugir do assunto o encarando, com seus braços cruzados à janela do quarto, estando a rainha imponente a uma cadeira do quarto.
  — Não gostei. Achei a melhor dentre todas vistas. — O filho disse sem muitas emoções, mas Yang Mi soube que para admitir aquilo era por que de fato, ele ambicionou a princesa: — Apenas percebo que ela é uma mulher um tanto quanto...
  — Impetuosa. — A rainha dissera o interrompendo — Mas extremamente dependente das orientações de Arthus.
  — Mãe. Sei que há o firmamento deste matrimônio desde muitos anos, mas também sei que não é somente isto que a trouxera aqui. Logo, quero saber quão longe vai a tua vingança para me pedir que conquiste a princesa a fim de fazer tal situação ocorrer.
  — Certo ... Ouça-me bem! — Yang Mi levantou-se e aproximou-se do filho segurando a barra de seu vestido para caminhar apressada.
  A rainha parou à fronte do filho encarando os olhos dele, tão predadores quanto os seus e foi enfática:
  — Ela não vai se dobrar a ti, afinal, somos inimigos. Mas, temos de dar um jeito de fazê-la escolher-te, pois a escolha dela é o que determinará o acordo ou não. Arthus conseguira que o Conselho alterasse o documento... Se tu queres saber a razão por trás de tudo, saiba que é sim uma vingança antiga. A maior que eu poderia dar a este reino: tomá-lo com o próprio consentimento do rei. Você será o rei de Amitísia, e ao lado de governará todas estas terras! Influenciará o reino mesopotâmico do oriente, e fará o nosso reino crescer!
  A força nas palavras de Yang Mi explicavam a as dúvidas que ele já trazia internamente sobre tudo aquilo.
  — E o que lhe garante que o rei permitirá que, mesmo escolhido por ela, eu tome posse das decisões? Ele ainda sendo o ancião terá o poder de refutar decisões minhas ou dela.
  — Arthus está morrendo. — Yang Mi dissera com um sorriso largo em sua face e demonstrou como pouco fazia perto da mãe, suas emoções, tal como demonstrou a surpresa pelas palavras: — Ele não durará muito e uma vez que morto, os conselheiros do reino serão aqueles que o rei nomear. Não pense que será fácil . como vós, foi criada a cumprir um papel de rainha onipotente. Ela não será submissa a vós, ao menos, não completamente. Ela tentará manipulá-lo e...
  — Assim como a senhora. — Ele falou dando as costas à mãe que suspirou pesadamente e antes que pudesse ouvir sua repreenda, interrompeu novamente a mãe: — Assim como a senhora manipulou ao meu pai, e desejas manipular-me.
  — Ouça bem, . — Ela aproximou-se com voz calma e tocou ao rosto do filho com uma ternura que pouco lhe surgia: — Você é meu primogênito. Eu não quero torná-lo meu escravo ou servo, apenas quero que tenhas sucesso como o maior rei de nossa dinastia. E até desta! Por hierarquia da coroa, este papel é teu! Sabes que estaria disposto a isso, não sabe?
  O mais velho acenou de forma tranquila e a rainha beijou-lhe a face e sorriu continuando:
  — Falta a vós a gana sedenta de teu irmão, mas sobra a vós a sabedoria de saber que eu, sua mãe e rainha suprema de Yeongseo sou a melhor pessoa para mostrá-lo como vencer sem muito esforço. És meu maior orgulho até então, , e de ti não espero decepções. Eu o tornarei grandioso.
  E com o abraço de sua sempre fria mãe, espiou por sobre o ombro dela as planícies longínquas de Amitísia por aquela sacada.
  — Eu me tornarei o rei conforme seus desejos, minha mãe.
  — Ótimo! Assim que se fala!
  Yang Mi disse ao afastar-se dele e caminhou em círculos no quarto, com uma mão sobre o queixo. Pensativa virou-se para o filho lhe apontando o indicador num último conselho:
  — Arthus é carta fácil agora. A morte por doença é iminente a ele, mas... Com certeza não lhe aceitará sabendo que o pai está doente, e provavelmente seguirá seus desejos... Precisas conquistá-la à força, ! Descubra algo que coloque em tua mão. Faça o que for preciso.
   pensou rapidamente e a mãe trocou o olhar de sua direção para a cama atrás de si. a compreendeu. Ela dizia-lhe para seduzir a princesa nem que preciso fosse usar de força, mas para ele, aquilo era um tanto quanto absurdo. não chegaria tão longe para cumprir seu papel, buscaria outra forma de encurralar a princesa, e era necessário observá-la primeiro para saber como executar seus planos da melhor forma.

Capítulo XIII.
Roads Go Ever On

As Estradas Continuam

  Dois dias se passaram desde a ordem de sua mãe, e vinha observando com cautela os passos da princesa. Os dois puderam passar mais tempo juntos naqueles dias, caminharam juntos, cavalgaram juntos, conversaram a fim de conhecerem-se. já havia feito uma boa leitura da personalidade de . Frio como a mãe, meticuloso em seus gestos e observações, quase uma serpente capaz de matar por sufocamento, mas nunca envenenando. Ao contrário do que ela já julgava da rainha Yang Mi. Também o notara submisso à sua mãe, e aquilo a preocupava.
  Enquanto observava e delineava a personalidade do príncipe, fazia o mesmo com . Ele havia notado que a mulher além de impetuosa, era forte e corajosa. O tipo de mulher que não aceitaria perder, que sabe impor o seu lugar e inteligente demais. Uma exímia rainha que poderia casar-se com qualquer paspalho, pois não precisaria de nenhum homem para governar em seu lugar.
  Apesar de não conhecer a antiga rainha, ele ouviu pelo castelo que parecia-se com sua mãe, contudo, a princesa trazia em seus olhos uma honra de peso, própria do pai. Era leal a seus súditos, ao Rei, e principalmente à sua dinastia. Uma cavaleira, se não fosse rainha. Uma grande mulher que por poucas percepções já acendera a chama da cobiça ao príncipe.
   notara naqueles poucos dias, que seria a sua batalha mais difícil até então. E linda... Como era linda a sua futura rainha! O que começou com um desejo de sua mãe e um senso de dever por sua parte, estava a caminho de ser um desafio para sua própria honra, uma batalha de fogo na qual desejava vencer a todo custo, e assim poder ir além do simples fato de se tornar o rei de Amitísia: queria vencer também como o dono daquele corpo, sorriso e olhares.
  Pensava em como estava voluptuoso naquela noite, pensando sem parar em sua princesa, a qual ele já sabia: seria sua! E a brisa que correu em seu quarto não fora suficiente para fazê-lo acalmar-se de seus desejos carnais. vestiu-se novamente, caminhou até a porta de seu quarto e pôs-se a buscar por algum servo, ou serva, que fosse capaz de dizer-lhe se a princesa estaria em seus aposentos. Contudo, ainda ao descer as escadas, ele escutou os passos nem tão fortes que demonstrassem pressa, e nem tão fracos que demonstrassem vagar. Escondeu-se em uma fenda da escada onde se colocavam as lamparinas, com certa dificuldade pelo espaço, mas sendo suficiente para não ser notado. Era a princesa. descia as escadas de forma sutil, oculta de fato. a seguiu e percebeu que a princesa direcionava-se aos jardins do castelo. Mas, o que ela faria ali? O príncipe escutou-a dizer e pôs-se a espreitar ainda mais:
  — Então o cavaleiro gosta de andanças noturnas?
  Curioso, e até mesmo enraivecido por notar que ela fora atrás de algo ou alguém. E qual não foi a sua surpresa ao perceber ali.
  — Princesa! — O cavaleiro alarmou-se se levantando do chão, onde recostado a uma árvore observava a noite, e fez a ela a reverência necessária: — Precisas de algo?
   observou a com o mesmo desejo de quando o viu pela primeira vez, contudo, estava ali, um tanto quanto magoada ainda por sua rejeição.
  — Apenas vim tomar ares perfumados pelas flores do jardim. — respondeu.
   caminhou lenta, insinuante entre arbustos e notou que não a seguiu, então respirou fundo perguntando-o, quase impaciente por notar a nula aproximação do cavaleiro:
  — E o cavaleiro, o que faz aqui?
  — De certo, também vim tomar ares e observar a lua.
  — Entendo... A noite está um tanto quanto quente, não? — perguntou sem o encarar brincando com algumas flores da roseira.
  — Bem, se a princesa não se importa, devo colocar-me a me...
  — Ai! — A interjeição de dor solta por fizera com que parasse de falar e se aproximasse preocupado.
  — Princesa, o que há?
  — Não foi nada. Apenas um espinho. Pode recolher-se cavaleiro.
   dissera de forma amena enquanto observava o seu dedo com um corte não pequeno, mas também nada profundo, a sangrar um pouco. aproximou-se retirando um lenço de suas vestes e pedindo-lhe licença enrolou o dedo da mulher sob o fino tecido. admirava a face de , lutando para não demonstrar que estava gostando do que via.
  — Seria este cavaleiro também honrado cavalheiro, ou isso é servidão de súdito? — disse sem sorrir ou denotar qualquer intenção, mas não afastou o olhar profundo aos olhos dele.
   respirou fundo, controlando-se para não ceder aos seus mais ínfimos desejos e disse em tom objetivo:
  — Apenas a obrigação de um servo para a futura rainha de meu reino.
  Sem aguardar qualquer resposta, pediu licença educadamente e saiu da zona de visão da princesa. Antes que ele afastasse totalmente, o alcançou e puxou-lhe pelo punho. observava escondido à cena, e sentiu um bolo em sua garganta ao notar a aproximação da princesa para o cavaleiro. Ao sentir a mão da princesa em seu punho, retesou um passo atrás a encarando assustado.
  — Como ousas oferecer-me menos do que seda, cavaleiro? — Ela cuspiu palavras enraivecidas a ele, devolvendo-lhe o seu lenço.
  — Dou-te aquilo que tenho e posso oferecer, perdoe-me por ter menos do que mereces, princesa.
   queria odiá-lo, mas não estava conseguindo. A cada passo de dignidade de , a princesa sentia-se mais e mais atraída a ele.
  — Tu é um honrado cavaleiro, Sir .
  — Obrigado, senhorita.
  No olhar de um para o outro estava nítida a emoção de quererem-se mutuamente, mas cada qual, não poder. Ela não poderia lançar-se aos braços dele humilhantemente, e ele não poderia tomá-la deslealmente, mais uma vez.
  — Será uma honra que eu o tenha ao meu lado, como grandioso súdito que és ao príncipe e fiel servo que se tornará de meu reino...
   disse e se aproximou poucos passos de , fazendo-o retesar ainda mais a sua postura. Sem que aquela aproximação denunciasse qualquer coisa, ela encarou os olhos do coreano e percorreu analiticamente pela face dele. As lágrimas queriam tomar-lhe os olhos. A princesa sabia que devia renunciar àquele matrimônio pela paz de seu pai, mas como poderia afastar-se daquele cavaleiro que tanto lhe fazia desejar pertencê-lo.
  Antes que dissesse mais alguma coisa, virou-se abrupta, embora caminhando com pose e vagar, fugindo para longe dos jardins e  sabendo que era melhor retornar aos próprios aposentos e tentar dormir. Só assim ela conseguiria pensar numa forma de ganhar tudo: a paz por seu pai, e o amor daquele homem.
  O cavaleiro a observava sair e então fitou ao lenço em sua mão. Suspirou pesadamente, e quase poderia confessar à Lua a loucura que lhe surgia de desejar a princesa quando ouviu os passos de alguém a sair pelas folhagens. Empunhou sua espada e assustou-se ao ver a mão do príncipe a segurar a ponta afiada de sua katana, quase tão afiada quanto o olhar que ele o direcionou.
  — Príncipe?
  — O que sentes pela princesa? — disse frio, em tom obscuro em sua voz.
  — Nada. — respondeu nervoso: — Eu a respeito como vossa rainha.
  — Suas palavras e atitudes são condizentes , mas seu olhar... Seus olhos vacilam perto dela. Seria isto medo da princesa? Como devo encarar o fato de ver nos gestos e palavras dela, um interesse incomum por ti?
   engoliu novamente a saliva espessa. de certa forma o amedrontava, não por medo realmente de uma punição, mas porque para , também era um amigo. Decepcionar seu príncipe ia além de decepcionar a coroa.
  — A princesa age de forma um tanto quanto impetuosa para mim, mas creio que não posso controlar o que sai dela, senhor. Mas posso controlar aquilo que sai de mim e, portanto, continuarei a manter-me afastado. Não se preocupe senhor.
  Sem querer, revelava a o interesse de sobre si.
  — Sei que ela não teve motivos por sua parte de sentir-se esperançosa, não é ? Princesas podem desejar aventurar-se em amores vassalos, por ego, obviamente. Sendo uma futura rainha, ela não teria o que desejar num simples cavaleiro se não a diversão de dominar seus sentimentos.
  — Está certo, príncipe, e sei disso. Tanto quanto sei o meu lugar. O que quiseres, eu farei.
  — Ótimo. Quando ela novamente lhe espreitar... Diga que... Irá afastar-se definitivamente, por ordem da rainha. Diga-lhe que apenas se eu casar-me com ela, eu o quererei ao meu lado.
   ordenou. Compreendeu que estava tentando seduzir ao cavaleiro, mas acreditou que não havia a permitido perceber algum tipo de domínio sobre ele. Afinal, ele era o cavaleiro mais honroso e jamais se submeteria a uma desonra como traição.
  — Como queira, príncipe. — proferiu sem que o menor vestígio de injustiça ressoasse em sua postura.
   assentiu afirmativo e deu-lhe as costas a sair em direção do castelo, mas antes, virou parcialmente seu corpo para o cavaleiro e por cima de seus ombros o dissera:
  — Tenha cuidado . Um brinquedo novo para uma princesa prestes a se casar pode ser como uma faca ao peito desavisado de um vassalo... Batalhastes por muitas guerras, mas aquele tipo de mulher não é como uma batalha que alguém como você pode vencer. Se não estiver atento, irá se deixar guiar por ilusões daquilo que não estará à sua altura.
   manteve-se calado e então esboçou um meio sorriso confortando-o:
  — Falo-te como futuro rei, mas também amigo. — E sem que demonstrasse postura diferente da que aguardava, o príncipe virou-se tirando de sua face o meio sorriso e deixando a cólera do ciúme tomar seu rosto.

• ♣ •

  No dia seguinte, estava pensativa em seus aposentos. A revelação da doença de seu pai era algo que estava a tirando o sono. bateu à porta de seu quarto, e entrou ao ouvir a voz altiva da princesa ordenando-a que entrasse. A princesa permaneceu observando as planícies pela janela de seu próprio quarto.
  — Em que posso servir-te princesa? — A serva perguntou um tanto surpresa por ser ela chamada e não Aretusa.
  — Preste atenção no que lhe direi, pois não pretendo repetir, . Quero que reúna o máximo de informações que conseguires dos cavaleiros. Entre eles, algum, provavelmente irá olhar-te com interesse. Seja discreta, não pedi este trabalho para Aretusa, pois seria muito óbvio colocar minha dama como espiã.
  — Sim senhora... — A mulher confirmou embora ainda estivesse confusa quanto àquilo — Mas, que tipo de informações a senhorita deseja saber?
  — Tudo o que envolver o estado do atual reino de Yeongseo, bem como informações sobre a rainha... O príncipe... Enfim, qualquer coisa. Não os conheço, e não posso neles confiar.
  — Claro senhora.
  — Podes ir, e não é necessário que eu diga que é sigiloso, certo? — virou-se finalmente para ela com olhar duro.
   saiu e a princesa permaneceu confabulando só. Não poderia demonstrar nenhuma fraqueza, e precisava ludibriar o príncipe para que ele achasse que ela estava se apaixonando. Por mais que desejasse negar aquele pedido, diante a situação de seu pai, não poderia apenas o negar. Era necessário outro pretendente. O Conselho não admitiria que ela assumisse a coroa em caso de morte de seu pai, sozinha. Sentiu pela primeira vez o peso real do que sua monarquia significava.
  Observou as montanhas de seu reino, e tomada pelo desejo indestrutível de jamais deixar que seu pai morresse desonrado, respirou fundo apertando a correntinha que pertencia à sua mãe, e que estava em seu punho. Em seguida levantou a barra de seu vestido e seguiu aos aposentos de Misaquias. Foi anunciada e logo adentrou, causando surpresa ao conselheiro.
  — Vejo que a princesa já começou a compreender as circunstâncias.
  — Eu devo dar uma resposta ainda esta semana, não é?
  — Eles já estão aqui há um bom tempo e Yang Mi não demorará mais do que dois dias, a pressionar-te pela resposta. Indago-me inclusive, qual a causa para que ela esteja paciente até agora.
  — Achas que a Rainha pode saber a respeito da saúde do Rei, senhor Misaquias?
  — A se tratar de Yang Mi podemos esperar qualquer coisa, princesa. Mas, diga-me o que tens em mente?
  — Os físicos devem chegar após a partida da Rainha, e com isso as notícias podem ser boas ou más. Torço pelas boas, mas... Se acaso o Rei... — suspirou criando coragem para verbalizar aquilo — Se o Rei morrer antes do meu matrimônio, o Conselho jamais me permitirá assumir a coroa sozinha, temo que negá-lo agora sem outro pretendente melhor à vista, seja uma manobra de risco.
  — Está certa! Então pretendes negá-lo? Vosso pai e eu podemos encontrar outro candidato. Não é o único interessado. Basta que o rejeites.
  — Providencie isto, senhor Misaquias. Mas, quero ainda sigilo. Acho que pretendo negá-lo, entretanto... — pensou em e em como poderia mantê-lo consigo — Preciso avaliar algumas questões.
  — Tens a sorte de poder escolher pelo amor, princesa. Foi esta a condição que Yang Mi não pôde prever, então seja sábia. Se o amas, não o rejeites pensando apenas como Rainha... Às vezes, manter os inimigos perto é melhor do que afastá-los, e tu foste criada para comandar este reino, diferente de que é apenas um servo da Rainha Yang Mi empunhando um cetro de ouro. Uma rainha forte como a senhorita será capaz de manipular um Rei que a vida toda, foi assim tratado pela mãe.
   ouviu ao conselheiro e sorriu-lhe agradecida. Necessitava pensar uma maneira de testar a lealdade de e descobrir se o cavaleiro ficaria consigo em seu reino, mas não poderia expor-se. Caso ele dissesse aquilo ao príncipe, seu plano falharia. A princesa fechou a porta do salão do conselheiro, e esbarrou em Martin II, o conselheiro mais novo e aprendiz de Misaquias.
  — Perdoe-me majestade! — O rapaz dobrou-se diante dela, e sorriu.
  — Acaso seus vitrais70 não funcionam mais? — perguntou ela em tom debochado, vendo o outro ruborizar, e então ela estendeu seu lenço a ele: — Pegue. Limpe-os, estão embaçados.
  — Oh... Me perdoe!  Eu estava à biblioteca e talvez o pó dos livros...
  — Não precisa justificar-se Martin. — interrompeu — Onde está sua irmã?
  — Vi Aretusa adentrar aos jardins.
  A princesa agradeceu num meneio de cabeça e sorriu. Martin II era irmão de Aretusa, e estava sempre com seus óculos — ou como dissera a princesa — seus vitrais, sujos ou embaçados por pó dos inúmeros documentos e pergaminhos que incessantemente estudava. Ele estava desde a infância sendo preparado a servir , como conselheiro real, tal como sua irmã, à dama real. Mas, apesar disso, a princesa também o via como um amigo. Lamentou junto a ele e Aretusa, quando Martin I, seu pai e segundo conselheiro-mor do Rei,  faleceu precocemente.
   saiu rumo a encontrar Aretusa, mas antes precisava saber o paradeiro do príncipe e dos cavaleiros, já que soubera que a Rainha estava descansando para o passeio que teria, logo mais, pelo reino com parte de seus guardas e com . Assim que a futura rainha adentrou à cozinha notou , como sempre ao fogão.
  — Princesa!
  — Acaso vistes os cavaleiros, ?
  — Ah... Não, não sei de seus paradeiros, senhorita.  — falou envergonhada a cozinheira.
  — Hm... Precisa sair desta cozinha um pouco. Faz-se necessário novas ajudantes? Posso providenciar que Aretusa traga outras serviçais.
  Apesar da pose séria, era sempre muito atenciosa aos seus servos e súditos. lhe sorriu negando a necessidade de ajuda, mas a princesa encarou ao cômodo pensativa sobre aquilo.
  — Como está o Lucas? — perguntou atenciosamente arrancando um sorriso orgulhoso de ao responder:
  — Bem, senhora. Ainda mais desejoso de seguir os passos do pai após conhecer os cavaleiros.
  — Hm... — A princesa achou interessante a informação, e portanto indagou a cozinheira: — Acaso algum deles em especial?
  — Sir Kim . Ele tem estado aqui algumas vezes, e contou histórias ao Lucas. Crianças são... Facilmente cativáveis, não é mesmo?
  — É verdade. Percebo que cavaleiros e cozinheiras talvez também o sejam.
  O sorriso malicioso era também discreto no rosto da princesa, embora capaz de ruborizar a serva que não soube esconder.
  — , preciso que prepare mais chás de aloe vera ao Rei, sim?
  — Claro senhora. Mas, devo preocupar-me?
  — Não. Deve apenas manter segredo. — falou contundente e saiu sutil.

• ♣ •

  Aretusa estava nos jardins colhendo mais ervas-de-bicho, uma planta medicinal cicatrizante dos antepassados do reino para o preparo de unguento71. Assim como servia à princesa, a dama também tomara o posto de sua mãe Ruth, servindo ao Rei. Logo, quando Arthus acordou indisposto e com dores naquela manhã, solicitou à serva que preparasse-lhe um macerado das ervas, e aconselhou que mantivesse Yang Mi distante. Já estava sendo difícil para o Rei esconder seus gemidos de dor, pela doença.
  O que Aretusa não notara, foi a chegada de que ajoelhou-se diante de si, a ajudando a colher as plantas.
  — Por Deus! Príncipe! — exclamou e em seguida desculpou-se reverenciando-o.
  — Não quis assustá-la, serva. Apenas fiquei curioso... — Ele sorria sedutor à Aretusa, que embora admitisse a beleza exótica de , não era facilmente levada às emoções daquele tipo, e perguntou a ela enquanto pegava na folhagem: — Isto é erva-de-bicho. Conheço a erva das feridas... Acaso a princesa se machucou?
  — Não preocupe-se, príncipe. Ela está bem, é na verdade para um de nossos servos.
  — É uma quantidade grande. A princesa ou Rei estão mesmo bem?
  — Um acidente com um servo, por isso a quantidade, preciso macerá-las. — Aretusa falou firme, embora se sentisse trêmula em seu estômago.
  — Claro... Não irei mais atrapalhar tão bela dama de companhia da princesa. — O sorriso sutil, e a força de seu olhar, fizeram Aretusa quase sentir-se nua diante de .
  Pela primeira vez em toda a sua vida, a dama real sentiu seu coração falhar. Manteve a cabeça baixa enquanto via o príncipe afastar-se tranquilo, silencioso como uma serpente que espreita.
  Quando Aretusa entrou à cozinha, contou-a da presença de e a mesma foi até a sua senhora, assim que terminou de macerar o preparado para o rei. Primeiro adentrou ao cômodo da Majestade e lamentou a demora, então, pôs-se a ajudá-lo em suas feridas junto com sua filha, que ali se encontrava. A princesa fizera questão de cuidar dos ferimentos do pai de forma oculta.
  — Preciso que suportes papai, hoje decidirei meu destino e o destino do Reino, mas é importante que Yang Mi não note nada. Então, dissemos que o senhor não está no castelo. Sei que dói, mas, suporte mais um pouco, sim?
  — Não te preocupes, minha filha. Apenas seja coerente com seu coração. Não quero que tome uma decisão ruim.
  — Ruim para o reino ou para mim? — perguntou sorrindo, a fim de fazê-lo distrair um pouco.
  — Aquilo que for ruim para ti, será ruim para o nosso reino. A sua felicidade é também a felicidade dos súditos, minha querida.
  A mulher sorriu ao pai e suspirou ainda mais preocupada, embora não o fizera notar aquilo. Depois de cuidarem dele, a princesa chamou sua dama em seu quarto onde deu-lhe uma missão:
  — Não posso confiar este passo a , seria perigoso mostrar alguma relação minha com o cavaleiro. Então Aretusa, preciso que sondes a lealdade de . Pergunte-o até onde ele seria capaz de ir por um romance proibido.
  — Princesa... — Aretusa suspirou como se soubesse a resposta: — Ele certamente não iria se opor ao príncipe. Talvez o que a senhora sinta, não seja o mesmo que ele.
  — Ainda assim. — não se zangou. Entendia o que a sua amiga queria alertar: — Ainda assim preciso ter certeza do tamanho da lealdade dele.

Capítulo XIV.
The Lament For The Rohirrim

O Lamento pelos Rohirrim

  Aretusa temia que a princesa estivesse mergulhada num sentimento cego e ilusório por aquele cavaleiro, e que aquilo a levasse à ruína da própria felicidade. Por tais questões, Aretusa não era dada a sentimentalismos amorosos. Tivera um grande exemplo de amor entre seus pais, mas não conseguia crer que seria algo possível a ela, e quando o pai faleceu precocemente, deixando sua mãe inconsolável, ela notara que amar era também sofrer por escolha própria. Novamente, percebia tal masoquismo nas atitudes da princesa.
  Mas, quem era ela para agir contra uma ordem de sua futura rainha? Era apenas uma leal dama de companhia. Tão leal quanto ela julgava que também seria, ao próprio reino. Apesar de suas certezas, ela se encaminhou até o cavaleiro, antes do passeio que ele acompanharia Yang Mi, e .
  — Posso falar-te Sir ? — A voz dela soou baixa ao lado do homem que ajeitava a sela de seu próprio cavalo.
  — Senhorita Aretusa? — estranhou, mas sabia que havia dedo de naquilo.
  — Gostaria de saber se podes acompanhar-me em um passeio...
  — A senhorita e eu?
  — Não é algo que, minha senhora, tenha pedido, Sir... — esclareceu falsamente a dama real.
  — Então o convite vem da senhorita mesmo? Interessa-te por mim, é isso?
  — Se for?
  — Creio que sua senhora não saiba, certo?
  Aretusa notou o modo como os olhos dele a inquiriam um julgo de traição.
   achava que ela estava errada em vir até ele por suposto interesse pessoal?
  — Não vejo o porquê de minha rainha precisar saber dos interesses de meu coração, Sir... Ela está prometida ao vosso príncipe.
  — Ela está. Mas sinto que rompes com a lealdade que tem a ela, ao esconder que está aqui manifestando suposto interesse em mim, senhorita.
   estava bravo, embora contido. Não sabia Aretusa se por seu senso de lealdade, ou pelo fato de imaginar que não lhe quisesse. Então, a mulher jogou um pouco mais profundo: aproximou-se dele e tocou o seu rosto de modo singelo, vendo o homem segurar a mão dela.
  — O que está tentando fazer, senhorita?
  — És comprometido?
  — A senhorita deve saber que, logo tu, não é alguém a quem devo... enfim, sabe bem!
  — Logo eu? Por que? Por ser a dama real? Por acaso, há algo que nos impeça? Oras, Sir... Não somos ambos os leais escudeiros dos príncipes? Não vejo casal mais adequado. Não achas?
  — Eu não devo me comprometer a ninguém até que este enlace seja concluído, senhorita.
  — Tu amas a princesa, não é?
  Aretusa foi tão direta que deixou o cavaleiro assustado, e não deu tempo para ele a responder.
  — Sei o que houve na gruta, eu a ajudei a arquitetar tudo. Então, não mintas para mim Sir . Se não amas a minha senhora, eu não tenho porque escondê-la que me beijaste...
  Aretusa aproximou dele ameaçando o beijar e o homem segurou-a impedindo. O rosto de Aretusa era mesmo muito bonito, mas para ele nenhuma comparava-se à princesa, e quão presunçoso era ele por crer que podia pensar aquilo!
  — Eu não a beijei, tampouco beijarei, senhorita!
  — E isso responde a minha pergunta. Tu amas a minha senhora.
  Aretusa confirmou aquilo quando tentou novamente, ao silêncio dele, beijá-lo, mas ele a afastou novamente assentindo calado. Ela suspirou e se afastou de sendo diretiva como a princesa gostaria que ela fosse:
  — Então ouças cavaleiro! Tu precisas dizer isso a ela, pois o futuro deste reino depende disso!
  — O que queres dizer, Aretusa?
  — Qual a melhor forma da princesa tê-lo ao lado dela? Se há uma forma, precisa dizê-la!
   não compreendia as intenções de Aretusa, mas a bela dama sorriu ao lhe dizer antes de sair:
  — Parece-me que és mesmo mais leal à princesa do que ao príncipe. És honroso cavaleiro. Um homem que não tem lealdade ao próprio coração é alguém que o venderia por um punhado de ouro de tolo.
  Aretusa deu as costas a ele, e pôs-se a caminhar lentamente de volta ao castelo saindo da estrebaria. Quando chegou perto do palácio, com seu olhar sempre baixo e semblante calmo, a mulher notou que o príncipe estava à janela de seus aposentos e a encarava. Ela fez uma breve reverência discreta, e o homem de cima da sacada sorriu ladino. Um sorriso tão mínimo, mas que a deixava preocupada com o quê aquele gesto escondia.
  Rapidamente caminhou até o quarto da princesa, mas não chegou a tempo de lhe contar o ocorrido com o cavaleiro. já estava rumando para a carruagem junto com Yang Mi. As duas encontraram , ao sair de seu quarto. Aretusa escondeu-se em um dos corredores a espreitar. Não queria que ele visse que a mulher estava indo de encontro à princesa.
  — Estás mesmo muito bela, . Sinto que a cada vez que nos encontramos, há mais razões para eu querer desposá-la.
  — Seus olhos também continuam a mostrar-me um enigma de fácil desejo a desvendar, príncipe. Não que isso seja algo positivo. — disse direta e saiu à frente.
  Yang Mi e trocaram olhares e silenciosos acompanharam a princesa com os guardas à sua frente.
  Enquanto seguiam pelo reino, observando a tudo, as majestades de Yeongseo não deixaram de notar como era querida e respeitada por seus súditos. Por onde sua carruagem passava, o povaréu acenava e lhe gritava o nome a fim de arrancar um cumprimento ou outro da princesa.
  Yang Mi encarou ao filho como se o mostrasse que de fato, aquela seria a rainha perfeita e claro, junto à aquisição de um farto e leal reino.
  — És muito querida em Amitísia, não é? — Afirmou a ela.
  — Você não é o príncipe querido de Gangwon?
  — Com certeza sou. Diferente de meu irmão, . — Ele respondeu um tanto presunçoso enquanto sua mãe Yang Mi os observava, de modo felino.
  — Hm... — Murmurou a princesa parando de olhar para fora da janela da carruagem e concentrando-se ao príncipe: — Tens um irmão, então.
  — Infelizmente.
  — Acaso não são amigos?
  — é um tanto... — Yang Mi interrompeu pondo-se a justificar: — Impetuoso. O que o torna para nós, às vezes, um problema à reputação da Coroa.
   sorriu de forma ladina e presunçosa tal como fizera há pouco:
  — Um príncipe rebelde.... Gostei. Certamente, há nele a coragem que falta em para desafiar decisões, não é?
  Apesar do modo falsamente simpático que dissera aquilo, os outros dois compreenderam que ela estava insultando , e os olhares entre princesa e rainha não se separaram nem por um respiro. Yang Mi via em a figura da antiga Rainha de Amitísia, entretanto, havia fogo nos olhos da princesa. O mesmo fogo que ela via nos olhos de Arthus, ou em seus próprios. seria uma grande e perigosa rainha, e precisava estar atento aquilo.
  — Apenas é coisa de irmãos, querida. Não pense que terá um inimigo dentro de seu próprio castelo, por conta de . — A rainha sorriu falsa, e afirmou desviando os olhos para fora.
   não se intimidou com o modo cortante como a rainha à sua frente separou seus olhares.
  — Eu penso sempre que posso estar cercada de inimigos, senhora Yang Mi. É isso que faz uma rainha e um rei, diligentes.
   notou o modo como desafiava à sua própria mãe e sentia-se orgulhoso e até um pouco ultrajado. Invejado. Queria ele, ter tido ímpeto de tomar suas próprias decisões algumas vezes, e talvez, ao lado de aprendesse como.
  — Tens sorte de não ter irmãos, . Às vezes, eles servem apenas para atrapalhar.
  — Ela tivera. — Yang Mi falou reconhecendo que tocaria numa ferida, e devolveria o insulto que engoliu, à altura: — Um irmãozinho recém-nascido que não passou de algumas horas... Teria a idade de , mas quis o destino que ele não atrapalhasse o fardo de ser a rainha do próprio reino.
  A princesa expirou profundamente em sinal de quem controlava seus atos, e felizmente, fora interrompida pelo cocheiro real.
  — Majestades! Chegamos ao pátio mercante do Reino.
   viu o homem abrindo a portinhola da carruagem e colocando os degraus ali para que descessem e antes de ser ela a primeira a sair, disse:
  — Se estão curiosos para conhecer o meu Reino, o pátio mercante é o lugar onde encontraremos todo o tipo de súditos, além das produções de Amitísia. Espero que não se importem, mas apesar da guarda real, eu tenho bastante contato com a plebe.
  — Chegada a vassalos72, tal como a mãe. — Yang Mi murmurou ao filho, logo que a princesa havia descido.
  De fato, ao verem-na pisar no pátio, cercados de guardas reais, todos os súditos gritavam “Salves e Vivas” em nome da princesa, seu pai e, portanto, ao reino de Amitísia. Quando vislumbraram Yang Mi descer atrás de , alguns cochichos podiam ser notados pela princesa. A rainha asiática caminhava imponente, com um sorriso quase vitorioso ao lado de , e , também ao lado da princesa, ficou igualmente curioso por alguns súditos que pareciam reconhecer sua mãe.
  — Ommoni. — Disse o príncipe olhando à sua mãe, que estava ao lado de , em sua língua de origem: — Acho que alguns súditos a reconhecem.
  — Porquê não reconheceriam? Pertencemos à aliança dos reinos Meso-asiáticos. Que valor fazes de tua mãe, ?
  — Claro! Apesar da distância dos reinos, é esperado que não sejamos desconhecidos.
  — Além do mais, tenho certeza de que os cavaleiros já andaram levando nosso nome por aí, afinal, é o que eles fazem: se misturam com os servos, tal como são.
   sentiu-se incomodada pelo tom da rainha, e mantendo seu sorriso tenro73 em direção aos cumprimentos que recebia dos súditos, ela encarou e disse:
  — Ou talvez, seja por que os meus súditos se lembrem de que até há algum tempo, eram vós os nossos inimigos.
  Yang Mi arqueou uma sobrancelha quase perdendo a paciência com a impetuosidade de que muito lhe lembrava . Trocou olhares com o filho, que nada pôde dizer, pois uma criança gritava o nome da princesa e tentava adentrar ao cordão de proteção formado pelos guardas. lhe olhou e deu permissão para que o menino passasse.
  — Olá, criança. O que queres da princesa? — Ela perguntou sorrindo amável ao garotinho, que um pouco teso74 de constrangimento, após reverenciá-los olhava aos três, de forma tímida.
  — É verdade que a mão da senhora está a desposo75?
   sorriu um tanto divertida pela pergunta.
  — Sim, é verdade. Afinal, uma hora eu teria que me tornar Rainha, não é?
  — E como eu posso me candidatar, princesa? Eu quero ser o seu Rei!
  O garotinho falou com tanta vontade e ímpeto, que achou adorável. Yang Mi revirou os olhos em deboche, sorriu afagando o rosto da criança e antes que lhe respondesse foi interrompida por :
  — Você é esperto e corajoso, jovenzinho. — O príncipe falou ao garoto ainda o olhando de forma entediada, mas com seu sorriso sarcástico no rosto.
  Da altura da criança, olhar para tornava o príncipe mais alto e ainda mais excêntrico. Ele usava roupas diferentes, algumas linhas pareciam feitas em ouro, tinha um longo cabelo loiro pendurado num rabo de cavalo, e uma faixa à testa. Era diferente de todos os homens que o garoto já vira no reino. E não era coisa da imaginação de ninguém dizer que, o menino se sentiu intimidado e até amedrontado à presença das figuras reais, asiáticas.
  — Como é seu nome? — A princesa perguntou ignorando a presença e fala do príncipe.
  — Adramalec, seu criado. — O garotinho respondeu e novamente, prostrou-se em sinal de reverência.
  — É um belo nome. — destacou: — Sabes que seu nome significa “aquele que aconselha”?
  O garoto assentiu e então abaixou-se um pouco à altura dele.
  — Não podes me desposar, Adramalec. Embora eu veja que tens o coração bastante honroso para isso. — queria dizer também, que certamente, o menino seria uma pessoa melhor do que seu possível rei, mas apenas pensou aquilo — Contudo, podes se tornar um conselheiro. É claro que, nós temos uma dinastia de conselheiros em nosso reino, mas existem outros lugares e situações que um sábio se faz necessário. Quem são vossos pais?
  — Baltimore e Lilith. Papai e mamãe são pastores, a melhor lã do reino é a nossa! — Adramalec disse com o peito cheio de orgulho e sorriu abertamente.
  — Entendo. Pedirei que meu conselheiro, Martin, os procure se tu quiseres aprender algumas coisas com ele. Queres?
  — Eu poderia conhecer o castelo, princesa?
  — Oras, mas é claro! — Respondeu animada ao ver a altivez do menino diante a possibilidade: — Será meu convidado!
  — Princesa ! Isto seria realmente uma grande honra para minha família!
  — Então, temos um acordo real, Adramalec.
   falou e ergueu-se, deu a mão para o garoto que a pegou e beijou. A princesa sorriu e, antes de despedir-se do menino, ele olhou novamente para , o perguntou um pouco mais corajoso que antes:
  — E o senhor, quem é?
   ergueu uma sobrancelha um pouco surpreso, e notou esconder um sorriso de satisfação pelo menino e sua mãe olhando a criança com desdém.
  — Eu sou o príncipe de Yeongseo, e serei o rei a desposar a tua princesa. — Falou um tanto quanto implicante.
  O garotinho cerrou o cenho, contrariado, olhou para e Yang Mi, um tanto incomodado e desconfiado. Reverenciou aos três, e sorriu apenas para a princesa, dizendo a ela:
  — Serás a melhor rainha de todos os reinos, princesa ! Obrigado por sua atenção!
   sorriu e viu o garoto se afastar, singelo, para dar-lhes passagem, e quando passou ao lado dele e o olhou, o menino lhe estendeu a língua e saiu correndo. A princesa viu aquilo e sorriu satisfeita, o que também notou.
  — Não ria princesa, espere até eles me conhecerem e verás que seus súditos me amarão bem mais que a vós.
  — Eu duvido muito. — Ela respondeu animada: — Até porque, eu não dei a minha palavra de escolha.
  — Ainda. — Enfatizou — Não irás me negar, tu não podes.
   o encarou preocupada com a forma como ele disse aquilo, em tom de quem sabia algo. Como se soubesse que também estava às mãos dele.
  Yang Mi caminhava mais à frente, impaciente com a criança que os havia parado e dando, claro, a deixa para que seu filho estreitasse laços com a princesa. Enquanto caminhava, atenciosa à conversa dos dois, ela também observava o quão próspero estava o reino. O pátio mercante realmente, era o centro de todas as negociações do reino, e não faltavam gente de todo o tipo ali, e por isso, não quis demorar-se muito. Apesar de fingir não ser afetada pelo comentário de , Yang Mi não podia negar: a princesa tinha razão ao dizer que eles eram inimigos, e que seu povo se recordava daquilo.
  Retornaram ao castelo em tranquilidade, descansaram e seguiram seu fim de dia, até que Aretusa pôde finalmente se ver sós com a princesa em seus aposentos para lhes dizer o que ela queria ouvir.
  — Como papai passou a tarde? — Ela perguntou, preocupada.
  O Rei para evitar mais burburinhos entre Yang Mi, esforçou-se para mesmo com dor, estar à mesa de jantar. O corpo coberto de roupas grossas e compridas que lhe tampassem as feridas, e o cheiro forte que exalava, de um perfume de ervas macerado por Aretusa, foi notado por todos. No entanto, o cheiro forte de perfume, era melhor do que o cheiro das feridas e disfarçava que, o Rei vinha utilizado unguento medicinal. Então, logo disse estar indisposta pelo dia de passeio, e encerrou rapidamente o jantar, pensando em dar ao pai uma excelente justificativa de ausentar-se.
  Yang Mi sabia de tudo, mas divertia-se em ver o quão os servos, a princesa, e Arthus se desdobravam para esconder a situação dele. Estava doente de algo que ela ainda não reconhecera, mas sabia que logo o levaria para o inferno em que ela tanto desejava que ele fosse.
  — Não há melhora, princesa. Infelizmente, Os Físicos não mais demorarão a chegar... A cavalaria de Petrus informou que os avistaram próximos as fronteiras da região de Elam. Misaquias e Martin acham que, o quanto antes deres uma resposta, mais tempo o Rei terá de recuperar-se.
  — Elam... — refletiu a princesa lembrando-se dos mapas antigos estudados.
  — Então, em dois ou três dias estarão adentrando em Acad... Logo chegarão aqui.
  — Sim, e é por isso que precisas dar logo uma resposta, princesa. Petrus guiará a comitiva de Yeongseo dando a volta por Asur, sob a desculpa de ser mais rápido e seguro. Felizmente, Os Físicos não estão vindo de Mádian.
  — O que ele te disse, Aretusa? O cavaleiro. — falou de uma só vez, desconsiderando todo o falatório geográfico de sua dama.
  — Bem, na verdade ele não disse. Eu tentei testar a lealdade dele, propondo que eu estivesse interessada nele. E assim, que nós teríamos que nos unir já que somos os braços direitos do príncipe e da senhora.
  — E o que isso resultou? — A pergunta escondia o medo de Aretusa falar a ela que cogitou a hipótese de se envolver com sua dama.
  — Negou-me. Negou meu beijo, mas, também não revelou em palavras que ama a senhora. Entretanto... eu tenho certeza que ela a ama, e que entre o que sente e escolher o reino de Gangwon, o cavaleiro não negaria se pudesse ter os dois.
   pensou um pouco nervosa sobre aquilo.
  — A reação dele não foi como eu pensei. — Revelou: — Achei que ele seria mais diretivo em te dizer sobre desejar estar ou não aqui. Eu preciso vê-lo. Onde estão os outros cavaleiros?
  — Avistei Sir pajeando76 por Estér, na fogueira noturna. Os servos da cozinha reuniram-se após o jantar em volta à fogueira, está lá, então, certamente Sir também. Ele tem a cortejado.
  — E ?
  — Não o vi na fogueira. Mas, o príncipe , ele... Está acordado. Eu o vi caminhando pelo quarto quando passei ao corredor. A porta estava aberta.
  — Este príncipe tem me saído uma bela pedra no sapato.... Negá-lo seria tão mais fácil! — queixou, impaciente, a princesa.
  — Mas se negá-lo, perdes o cavaleiro, senhora. Eu não acho que ficaria aqui, e julgo que... talvez o próprio príncipe o matasse se soubesse de tal traição.
   sentiu a cabeça pesar. Num rompante, ela saiu de sua cama onde estava sentada e caminhou até a sacada abrindo a porta em busca do ar fresco da noite. Pôde avistar tal como a primeira vez que o vislumbrou, à janela de seus aposentos, mas desta vez, ele não a encarava. Estava com os olhos fixos ao horizonte.
  O coração de apertou-se em seu peito, num desejo de sentir os braços do homem ao seu redor. As lamparinas do quarto de , que era logo ao lado do seu no mesmo andar, estavam também acesas conforme ela vislumbrou pela penumbra das cortinas.
  — Aretusa! — Falou ao voltar-se ao quarto: — Vá aos aposentos de , e diga-lhe que eu estou curiosa a saber em que dia ele retornará. Puxe assunto com o príncipe, e... Quando entrares, feche a porta do quarto dele, para que eu possa passar. Precisarei de alguns minutos, apenas.
  — Se-Senhora o que eu... O que eu direi para prender a atenção do príncipe por tanto tempo?
  — Oras, não sei! Enfim, dê seu jeito! Conseguiu enrolar , não conseguiu?
  Aretusa engoliu a saliva de forma espessa. Detestava mentir, mesmo que sob as ordens da princesa, mas odiou muito mais ter que estar na presença do príncipe. Ele a deixava bastante desconfortável, contudo, que escolha ela tinha?

Capítulo XV.
Seven for a secret not to be told...

Sete por um segredo que não deve ser contado...

  A dama real caminhou ansiosa até o cômodo ao lado do aposento da princesa, e notou as portas ainda abertas. Espiou, mas não viu o príncipe em lugar algum, percorreu ao cômodo com olhos atenciosos e viu a sombra dele sendo refletida da sacada, então fez sinal para que a princesa passasse. Aretusa entrou fechando a porta do quarto, e ajeitou sua postura enquanto pensava no que diria. Tão silenciosos eram os passos de , como os de sua mãe Yang Mi, que Aretusa foi surpreendida pelo príncipe surgindo em pé diante de si.
   observou a figura da dama real com as mãos ao peito e os olhos fechados; ela parecia nervosa e pensativa e ele constatou que a serva realmente estava ao notar o decote dela que subia e descia numa respiração descompassada.
  — Se não está prestes a fazer algo que não deveria, porque está nervosa serva? — Ele perguntou baixo, em pé diante dela que abriu os olhos surpresa e assustada.
  — Ma-Majestade! Eu, eu...
  — a mandou aqui? — perguntou ele interrompendo-a.
  Aretusa não conseguia ler as intenções e reações do príncipe, tal como era capaz de ler a princesa. Ele mantinha seu tom de voz limiar, assim como seus gestos e o olhar sempre frio, cortante e até entediado.
  — Sim senhor! A princesa pensava em vossa proposta, e gostaria de saber quando pretendes partir...
  — Hm... — caminhou para mais próximo da dama real, e circundava-a com seus passos lentos, leves, seu olhar de raposa, um tanto analítico, e certo... divertimento num brando sorriso — Ela pensava em uma resposta?
  A pergunta retórica obteve um aceno de Aretusa como confirmação.
  — Devo ir até os aposentos dela e dizer o que queres saber? — murmurou próximo ao ouvido de Aretusa: — Ou estás aqui como uma desculpa?
  — Desculpa? — retesou o corpo mantendo controle de sua voz, não poderia entregar o ato falho da princesa — Acaso que razões eu teria para vir aqui como uma desculpa, senhor?
  — Talvez... — aproximou-se ainda mais, com o rosto próximo à orelha da dama, notando a rigidez do corpo dela, e o peito que subia e descia ainda tentando controlar sua respiração — A princesa queira que eu vá visitá-la para fazer uma pergunta tão inútil dessas... Ou, ainda pode ser que a senhorita dama real, esteja usando o nome de sua senhora para visitar o príncipe com outras intenções...?
  Aretusa percebeu seu rosto quente ao sentir o hálito fresco dele em sua orelha; estava ofendida com o que ele lhe insinuava, mas, não poderia fugir dele. A sensação era sempre aquela desde que ele pisara no castelo: fugir do homem de olhar faminto. E só piorou quando, dias atrás, ele a olhou daquela forma no jardim levando-a sair correndo com o unguento do rei.
  Por mais que quisesse escapar, e dizer o quão equivocado era o pensamento do príncipe em achar que ela seria capaz de o seduzir, não poderia até que obtivesse algum tempo seguro à princesa.
  — Príncipe! Por quem me tomas? Apenas vim aqui por ordem de minha senhora! Ela deseja de fato saber quando vós partirão!
  — Pois eu irei pessoalmente dizê-la o óbvio! — não elevou sequer uma nota de seu tom de voz, virou-se gracioso como uma pluma que plaina ao ar, mas não deu mais de três passos sem que a dama real estivesse em sua frente. Arqueou a sobrancelha para ela, desconfiado: — Senhorita?
  — O óbvio? Acaso o príncipe quer dizer que...
  — Só partirei quando ela disser sim. — Ele interrompeu a dama, e começou a mostrar-se ainda um tanto desconfiado e impaciente, ao dizer: — Que queres, de fato, ao vir até aqui, serva? Não sou tão tolo quanto posso parecer aos olhos de sua senhora!
  Aretusa não tivera outra opção a não ser entrar naquele jogo perigoso. Deu passos lentos e mais ousados em direção ao corpo do príncipe. Manteve seu, fixo, olhar libertino — o mesmo que em segredo, Petrus dizia-lhe ser dona —, aos olhos meticulosos de . “Teus gestos não condizem com o fulgor libertino deste seu olhar, Aretusa”... Petrus, o apaixonado cavaleiro real dizia aquilo com certa frequência quando estavam sós.
  A dama entreabriu os lábios delicadamente e controlando o tremor de suas mãos, estendeu-a para tocar os braços do príncipe. , impávido, não sentiu nem um pouco do descontrole e desejo de tomar a mulher para si, como sentia ao lado de . Aretusa era bela, muito bela para uma serva simplória, contudo, era incomparável. Desde que lhe pusera os olhos, ele desejou que tivesse a oportunidade com a princesa que agora tinha com sua serviçal. O príncipe encarava os gestos de Aretusa, com um olhar tão cortante que achou que a mulher desistiria do que estava à fazer.
  — Príncipe... Permita-me, por um instante... — dizia em sussurro sensual e com fingimento ingênuo — Sentir a maciez de sua tez, antes que torne-se o rei da minha rainha?
  — O que faria convosco se soubesse de sua afrontosa entrega e promiscuidade, serva?
   sorriu mínimo, ladino, e dissera as duras palavras tocando com as costas de seu indicador no rosto quadrado da mulher.
  — Certeza que ela me perdoaria, uma vez que tu ainda não tens uma resposta...
  — És assim de tanta confiança dela? — Outra pergunta retórica enquanto seu dedo tocava agora o cabelo de Aretusa — Devo constatar que tua vinda é uma armadilha sedutora de ?
  — Se não queres tocar-me, apenas me retirarei de sua vista senhor. Não desejo que penses que minha senhora tenha algo a ver com minha vulgaridade.
   sorriu soltando um muxoxo de ar pelas narinas, que foi sentida por Aretusa em seu rosto, tamanha era a proximidade que estavam.
  — Seu tom de vassalagem e devoção equipara-se igualmente ao de . Diante de figura tão leal assim, só posso compreender que a princesa tem intenções perigosas aqui.
   soltou os dedos sutis da mecha de cabelo de Aretusa e, calmo pôs-se a caminhar para fora de seu cômodo. Aretusa apertou os olhos e franziu o cenho em preocupação. Poderia pressentir que a princesa estaria aos braços do cavaleiro.
  — Ela o quer! — disse de uma vez em busca de parar o príncipe, e deu certo, o mesmo a olhou por sobre o ombro sem perder a calmaria com a qual saía do quarto — Ela dirá sim a vós, por tal razão, não poderei entregar-me tão despida de vergonha diante de ti novamente Senhor! Será o rei, e isso, eu não faria. Mas agora, enquanto pode... Por favor, toca-me príncipe!
  Mal podia acreditar no que estava dizendo! Aretusa virou-se afastando seus cabelos por seus ombros, dando a vista de suas costas e de seu vestido a ser aberto pelo príncipe. não esperava que aquela encenação fosse real. Mas, tão longe iria a serva? Não em sua entrega física, mas em dizer-lhe uma resposta afirmativa da princesa?
  Ele caminhou ao encontro de Aretusa, tocou finalmente o ombro destampado da mulher e percorreu os dedos ao pescoço dela. Aretusa não só sentia a maciez da pele de seus dedos, os toques tão delicados quanto todos os demais gestos daquele homem — que aliás, pareciam-lhe muito leves — como sentiu, o frio do metal. O anel de ouro grandioso, pesado e gélido em seu indicador a roçar em sua jugular e a fazia notar os indícios de que era um nobre a tocando, realmente.
  — Devo beijá-la se me atiça desse modo, mulher...
   sussurrou, um pouco tomado pelo desejo de fazer valer o poder que pairava em si. Ele era o nobre, e ela, uma subordinada prestes a deixá-lo subjugá-la como ele quisesse. Aquilo lhe dava certa sensação de controle em um fogo brando que, com a princesa ele não experimentaria. Sabia disso, afinal, era dominante em tudo, e portanto, os dois estavam fadados a competirem pelo poder e domínio não só do Reino, quanto um do outro.
  Não houve resposta da serva. Ao olhar do príncipe, Aretusa estava inebriada pelo momento. Talvez, nervosa ou ansiosa para que ele girasse sua cintura colando-se nela, e chupando seu pescoço finalmente. Invadindo seus lábios com toda a vulgaridade que ela merecia e pedia-lhe. E assim o faria. apertou o maxilar dela virando-o para seu rosto, e sua mão livre já dedilhando a cintura dela a virá-la quando a voz de ecoou no corredor, frente à porta.
  — Aretusa! Aretusa! — A princesa dizia em tom alto o suficiente para parecer um chamado.
  De repente, a serva se afastou dele. Fingiu-se assustada e com medo de ser pega.
  — Cedrec! — disse ao guarda que naquele instante punha-se a postos em seu corredor — Encontre Aretusa e mande-a ao meu quarto!
  A ordem da princesa, providencialmente em frente à porta do quarto de , foi escutado por ambos. Logo, seu plano não seria descoberto e poderia dar sinal à sua serva.
  — Senhor! Perdoa-me! — Aretusa reverenciou ao príncipe se afastando dele e puxando a barra de seu vestido para correr para fora do quarto.
  Nem um pouco sorrateira quanto ao entrar, Aretusa saiu do cômodo deixando o príncipe um tanto impaciente e comovido. viu a porta se fechar, a mulher sumir, e seu corpo dar sinais de que animava-se. Bufou, e retomou à sacada de seus aposentos, onde o vento da noite viria a calhar para que ele afastasse os pensamentos impuros que tivera. Naquela noite, ele deveria ter aqueles pensamentos na prática, como dissera sua mãe. Deveria forçar a não ter escolha. Mas e quanto à fala da sua dama real? Poderia confiar naquilo?

  ... Nos aposentos de ...

  Assim que Aretusa adentrou ao quarto de , observou o corredor antes de pôr-se a caminhar furtiva ao quarto do cavaleiro no andar debaixo. Desceu as escadas, feliz que, não havia guarda posto ainda em turno por ali.
  Bateu à porta de que não demorou a atendê-la, e espantado ao abrir e vislumbrar sua figura real em sua frente, o homem olhou para os lados a puxando pra dentro.
  — Princesa! Que fazes aqui? Não sinto-me despreocupado com tal aparição, obviamente!
  Embora estivessem dentro de seu quarto, ainda falava sussurrando, e cauteloso se colocava a certa distância dela. Distância esta que o sorriso desvirtuado e o olhar de desejo de lhe denunciavam que não se manteria. Rápida e ágil, a princesa aproximou-se encurralando o cavaleiro à parede de pedra, ao lado da porta do quarto, e tocando seu rosto com ambas as mãos puxou o rosto dele de encontro ao seu. O beijo que se iniciou urgente por parte dela, e resistente por parte dele, logo encontrou uma harmônica permissão de ambos. As mãos de tocaram a cintura de com vontade e a mulher pressionou ainda mais seu corpo ao dele.
  — Princ...
  — ! — interrompeu ela, o ordenando — Se fizer eu repetir esta ordem de novo quando estivermos a sós, eu serei obrigada a fazê-lo gemer o meu nome!
  Com aquela simples frase, o calor tomou o corpo do cavaleiro, que sentia a princesa beijar seus lábios e descer os beijos para seu pescoço, permitindo-o arfar e concluir o que diria:
  — ! Tua ousadia ainda levará nós dois a perdemos a cabeça!
  — Está muito covarde para um cavaleiro de tua alçada, Sir ! — sussurrou ela passando a mão pelo corpo dele e o beijando.
  — Hm... — murmurou afastando-a levemente para apartar os lábios — Temo mais por vós, acredite! Não quero vê-la morta!
  — Morrerei se não puder o sentir de novo... — disse e tocou o membro dele sem nenhum pudor, com sua mãozinha ainda acima das roupas dele.
  — ... Por Buda! Por teu Deus! O que queres aqui é perigoso!
  — Raios!
  Ela reclamou por fim, ofegante e desgostosa da maneira como ele resistia, apesar de seu corpo dizer a ela que a qualquer momento ele a tomaria. Porém, não estava ali para aquilo, precisava ser rápida.
  — Eu paro. Mas veja... — A princesa pegou as duas mãos dele em sua cintura e levou aos próprios seios dela o obrigando a massageá-los — Eis o que eu quero toda vez que o vejo, cavaleiro!
  — Como pode uma princesa ser tão devassa? — A pergunta dele continha um tom de admiração, surpresa e humor. — Não pense que eu não gostaria , mas não devo. Não devemos! Principalmente porque meu príncipe já está desconfiado de suas maneiras diante de mim!
   parou de esfregar-se no corpo do cavaleiro, e de guiar as mãos dele que apertavam seus seios, e afastou-se, tomada por um impulso preocupado.
  — Certo, vamos ao que mais importa agora! — informou-o enquanto ele retomava seu fôlego e controle — , ficará ao lado deste tão querido “seu príncipe” aqui em meu reino? Ou ficará em Yeongseo?
  — O que a faz pensar que se eu estiver aqui seria conivente com isso? — Ele perguntou indicando o caso oculto dos dois.
  — Não foi o que lhe perguntei! — endureceu ela o tom de sua voz, sem aumentar.
  — Não é uma decisão que dependa de mim, e sim do príncipe.
  — Podes esforçar-te para mostrar a ele a necessidade de tê-lo ao seu lado, não?
  — ... Se não o queres assim, porque não o rejeita logo?
  — E de que outra forma poderei ter você!?
   sabia que não poderia. O que ela mais almejava era também o que ele queria, mas entre os dois, apenas uma relação de amor proibido seria possível e só aconteceria se ele pudesse ficar ao lado dela.
  — Pretende sacrificar seu reino por um cavaleiro inadequado, desleal e indecoroso?
  — Não sacrificarei nada. Fui criada para ter tudo aquilo o que eu quero! Sou Amitis II da Babilônia, não me reduza a uma princesa de enfeite como as de seu pequeno reino, !
  — Oras... Quanta grandeza em vossa coroa... — ironizou ele — E insisto ainda mais: por quê arriscar-te por um ...
  — Não sacrificarei meu reino e nem minha vida, mas se tiver de arriscar algo... — Ela o interrompeu duramente sendo incontestável em suas palavras: — Arrisco meu pescoço pelo homem que estou amando!
  — Esta abnegação não combina com você... — Ele murmurou sutil, um tanto emocionado pelo que ela disse e acariciando a face dela.
  — Não mesmo. — se aproximou dele de novo o beijando calidamente — Portanto, não é abnegação. Chamaremos de soberba real. És tu o meu capricho, . E agora que sei que me quer tanto quanto eu a ti, lide com isso, pois, eu me casarei com , e não permitirei que fiques em Yeongseo.
   avançou sob os lábios de de forma intensa, avassaladora e apalpou mais uma vez entre as pernas dele, o deixando em fulgor e, ao mesmo tempo, em fraqueza. Antes que pudesse gemer, ela se afastou saindo veloz e ágil como uma raposa de seu quarto.
  Não lhe restou nada além de imaginar de novo, de tocar-se como na primeira vez em que por força do vinho, a ilusão lhe fez pensar na mão da princesa no lugar de sua própria.

  ... Nos aposentos da princesa...

   já estava composta, e desnudando-se de suas roupas comuns para vestir sua camisola de dormir, após ter encenado que procurava e esperava por Aretusa bem em frente ao quarto de . A dama real entrou no quarto da princesa um tanto esbaforida, fechando rápida e bruscamente a porta, e ajeitando seu vestido que mal havia saído do lugar em seu corpo, já que não tivera tempo do príncipe fazer nada.
  A princesa olhou por sobre o ombro analisando a figura de sua dama de companhia, e um sorrisinho ladino se esboçou em seu rosto ao ironizá-la:
  — Ora, ora... Que tipo de distrações gerou ao príncipe, a minha dama real?
  — Por Deus, princesa! Colocaste-me em uma situação aterrorizante!
  — O que? Ele é tão ruim assim? Ao menos achei que para algum divertimento ele prestaria! Afinal, o maldito é mesmo belo, não nego.
  Aretusa pôs-se a desamarrar o vestido da princesa de forma automática e descontrolada, sem saber o que dizê-la. , preocupou-se e virou-se para Aretusa, um tanto analítica ao perguntar:
  — Conte! — ordenou e enfim perguntou: — Ele a machucou? O que disseste a ele?
  — Não... Ele não foi bruto comigo, na verdade... O príncipe me causa calafrios... Ele é tal como uma serpente, discreta e silenciosa...
  — Igual à mãe. Mas... O que aconteceu lá, diga-me de uma vez!
  — Princesa, eu cometi um desatino! Ao ver que ele percebeu tua intenção de o distrair, o príncipe viria ao seu encontro... — arqueou a sobrancelha surpresa — Mas... Então eu me ofereci a ele como uma desculpa de que estava ali para o seduzir!
  Aretusa tampou os olhos, um tanto constrangida, e um tanto irritada pela falta de desculpa melhor no momento passado.
  — Hm... Tu és boa nisso, sei bem.
  — Princesa! — arfou ofendida.
  — Aretusa... A mim não enganas. És discreta, mas sabe bem como deixá-los à sua mercê. Petrus que o diga!
  — Assim constrange-me, ! — proferiu ofendida, de um modo que poucas vezes ela punha-se a falar com a princesa. Como amigas de infância aquele comportamento não era condenado por .
  — E ele a tocou? Ele fez algo que seja? Diga-me logo para que eu saiba que tipo de qualidades esperar deste maldito príncipe!
  Aretusa suspirou e contou tudo, focando na parte que ela julgava a pior.
  — Custei o atrair, ele é realmente muito esperto; quando ele decidiu se aproximar a senhorita me chamou. É astuto, muito astuto! E creio que enganar o príncipe não seja tão simples como a senhorita pensa... Mas não é nada disso que me preocupa princesa, afinal, foste tu que me mandaste lá pra segurar o homem como desse.
  — Por mim, tu podes o devorar inteiro.
  — Princesa! — Aretusa fortaleceu a atenção da princesa que já escovava os próprios cabelos — Eu disse a ele que a senhorita o vai aceitar! Perdoa-me, princesa! Mas se eu não dissesse ele não teria baixado a guarda para mim!
  — Não se desespere. Eu o aceitarei.
  Aretusa piscou confusa. A futura rainha falava mesmo sério?
  — Isso é por conta do...
  — Sem dúvida. Mas não suportando a megera de Yang Mi, será prazeroso tomar o reino dela também!
  — Senhora, tens certeza de que...
  — Eu não mostrei dúvida, mostrei? — de novo interrompeu sua dama e perguntou retoricamente.
  — Bem... Então, o príncipe partirá logo. Ele disse que só sairiam daqui após o teu sim.
  — Melhor confirmá-lo o quanto antes, então. Quero que pela manhã as coisas deles estejam prontas a partir logo após o desjejum. Desça e ordene isso aos criados, e depois vá descansar. Passarei eu mesma ao quarto dele pra avisá-lo.
  — Claro, mas... Ao quarto dele...?
  Obviamente Aretusa preocupava-se com a reputação da princesa, mas não acreditava nem um pouco na possibilidade de ousar a tocar. Era um frouxo, em sua concepção.
  Depois de alguns minutos em que sua dama havia saído, levantou-se findado o escovar sem fim de seus fios escuros, e caminhou rumo à sua porta. Não precisou, sequer sair do quarto. A porta aberta mostrou a figura de parado diante dela, com as mãos quase tocando a argola de bater.
  — Príncipe?
  — Aonde uma princesa prometida iria com estes trajes, a esta hora? — Ele perguntou genuinamente curioso, fitando o corpo dela de cima à baixo.
  Controlou-se para engolir à seco, a visão. A seda nobre, escorregava pelo corpo da princesa com nenhum pudor em mostrá-lo os bicos dos seios acesos, ou a grossura das coxas redondas de e que , apenas esquadrinhava com os olhos e desenhava em sua mente. A imaginação fervilhando o desejo de descobrir o que havia por baixo.
  — Será mais perigoso que eu fique à sua frente vestida assim do que sair pelo castelo, posso supor... — ironizou ao sentir o homem lhe devorando cada parte por onde o olhar passava.
  — Não me disse aonde ias... — respirou profundamente tomando a postura elegante de novo — Não acho adequado que ande sozinha, posso a acompanhar. E sugiro que se vista de um robe...
  — Não sou tua prometida. Não sou tua esposa, e ainda que fosse... Por onde caminho, a que horas e com que trajes, eu quem determino, ...
  — Uma rainha não deveria...
  — Uma rainha... — revirou os olhos o interrompendo de forma ligeira: — Deveria e pode o que ela bem entender. Você já não se acostumou com isso? Tua mãe é este tipo de rainha, que manda despreocupadamente. Inclusive, no filho.
   suspirou e deu um passo para diante dela.
  — Vai se arrepender se achar que serei o teu capacho, ... — sorriu debochado, encarando os lábios dela.
  — O que veio fazer aqui, ? — Ela perguntou igualmente olhando os lábios dele.
  — Diga-me tu primeiro, não respondeu.
  — Eu ia até você, para lhe dar a resposta.
  — Tua dama já contou-me.— Desdenhou ele como se já soubesse e não estivesse de fato, afetado por certa felicidade vitoriosa — E não é como se eu não soubesse que acabaria assim. Afinal, sei bem qual o seu interesse em nosso matrimônio, ...
  Por um momento ela se preocupou se, acaso desconfiava mesmo de . O sangue era do tipo de sangue frio que o faria se casar com ela e mataria , logo no instante do matrimônio, apenas para dar-lhe uma lição.
  — Sabes, é lógico. Como reinos inimigos eu não poderia negar tomar tudo o que é vosso!
  — A única coisa que será tomada aqui, , é o que vim buscar...
  E com aquela afirmação forte, puxou o corpo dela, bruscamente. Diferente de todos os modos que ele tivera com Aretusa, com , ser tão consensioso e delicado não funcionaria. O braço direito dele rodou a cintura dela, enquanto sua mão esquerda, fizera o mesmo percurso que antes com a outra mulher; e tocou o maxilar da princesa segurando seu rosto pronto a guiar um beijo. E por incrível que lhe parecesse, deixou-se provar o sabor e o tônus da língua dele.
  Se ele pensou que ela o afastaria, surpreendeu-se. A princesa na verdade segurou em sua nuca, depois de descobrir naquela noite, pelas roupas despojadas dele, que os cabelos do príncipe eram negros e um pouco curtos, mas suficientemente grandes para cair sobre os olhos dele, e não longos e loiros como parecia por sua apresentação.
   sentiu os fios de cabelo dele, escorregadios de tão lisos, em seus dedos e pressionou ainda mais sua mão à nuca do homem o deixando aprofundar a língua em sua boca, e apertar sua cintura com certa efemeridade.
  — Ai! — Ele murmurou em dor ao sentir os dentes dela cortando seu lábio. — O que está fazendo!?
  — Impedindo-te de empolgar! Apenas deixei este beijo acontecer porque fiquei curiosa... — explicou o afastando e saindo de seus braços — Afinal, ainda posso desistir se descobrir que não gosto do sabor de seu beijo.
  — A princesa parece entender bem de beijos, huh? — acusou ele — Tua sorte é que não ligo para o que fizeste antes de mim, . De mim, tu não escapa.
  — Eu não sou mulher de fugir à própria palavra. Agora volte ao seu quarto, príncipe, e parta logo para o seu reino... Sua mãe certamente terá pressa em tentar dominar as minhas terras...
  — Ela não dominará, ela terá. Afinal, você é só uma mulher. E uma rainha com um rei ao lado, não é tão importante quanto uma rainha soberana sozinha.
   sorriu sacana ao ouvir aquilo e o ver se arrumando em sua túnica de dormir, pronto a retomar o corredor.
  — Não me dê tão audaciosas e boas ideias assim, príncipe... — debochou ela ao pé do ouvido dele.
   virou-se para trás, de forma contida e sério. Esticou minimamente um sorriso sorrateiro, e retomou o caminho de seu quarto. fechou a porta e lentamente, caminhou pelos aposentos pensativa. Analisava o que havia feito, com os dedos passeando pelos próprios lábios.
  — Canela... — sussurrou ela para si sobre o sabor do beijo dele. E sorriu ao dar-se conta de que o príncipe estava mesmo comendo em sua mão, e comeria ainda mais: — Ser tua dona será divertido, cachorro .

Capítulo XVI.
Far Over the Misty Mountains Cold

Muito além do frio das Montanhas Sombrias

  — Oh, finalmente ! — Yang Mi exclamou em tom de satisfação, entretanto, com maneiras contidas.
  Apesar das maneiras de Yang Mi, para Arthus e , a mania que era comum à rainha asiática de movimentar os dedos das mãos como se estivesse esfregando algo em sua palma como uma bolinha, deixava clara a sua ansiedade.
  Ela tinha em suas unhas, longas jóias postiças de metal, que sobrepunham-se às unhas naturais dela. Este tipo de jóia era comum de ser utilizada pelas Imperatrizes e concubinas nos reinos asiáticos. Simbolizava a riqueza e o poder de comando das mulheres que não faziam trabalhos pesados, e portanto, era também um sinal de “alto status ou nobreza”. Mas toda vez que a princesa via aqueles longos apetrechos de pedrarias, metais e afiados como navalhas nas pontas dos dedos de Yang Mi, ela não conseguia deixar de pensar que na verdade, era a maneira mais implícita da Imperatriz coreana demonstrar a raiz de sua animália77: as jóias de unhas postiças eram como as garras da fera.
  A realeza estava reunida à mesa de desjejum e havia recém-anunciado para todos, a sua decisão de aceitar o desposo por . Arthus já sabia da resposta dela, pois, fora o primeiro junto ao conselheiro Misaquias a saber naquela manhã antes do anúncio oficial da princesa.
  O rei, é claro, não estava tão contente, porém, decidiu confiar que a filha sabia o que estava fazendo. E cansado, sentindo cada dia mais as suas forças se esvaírem, Arthus I não poderia deixá-la iniciar o seu governo sem um matrimônio, já que temia que em sua ausência, mesmo com a longa parceria do Conselho, alguém viesse a deturpar as intenções sinceras do reinado de .
  Na grande mesa do desjejum, sentados, estavam apenas os nobres. E em pé ao lado de Arthus, o conselheiro Misaquias; ao lado de , Aretusa, que evitava os olhares curiosos e divertidos do príncipe à frente da princesa. Na outra ponta da mesa, a imperatriz Yang Mi, observando vitoriosa o rosto nada amigável, porém sutilmente afrontoso de , que ouvia as felicitações da mesma:
  — Finalmente, ! — repetiu, com um olhar embevecido78 de conspirações — Você não se arrependerá desta união, minha querida! é de fato o melhor príncipe que você poderia encontrar!
  — Bem, a senhora é mãe, não é? Certamente, não posso levar em consideração a vossa crítica. Creio... — O tom da princesa além de um pouco jocoso era tão falso quanto o da rainha — que defenderia os atributos do príncipe quaisquer que fossem, mesmo os defeitos.
  — Ora, ora... — Yang Mi sibilou com um sorriso entredentes e devolveu a provocação: — Tens razão, querida. Certeza que Arthus ou sua amada mãezinha falecida também mimaram-te a acreditar nos teus defeitos como virtudes...
  Arthus pigarreou e, que até então achava graça das duas mulheres trocando farpas, de modo muito discreto, olhou de soslaio ao rei percebendo pelo pigarro que aquilo era um sinal para que ele intervisse.
  — Ommoni. — A voz oca e grave de soou baixa e elegante — Acho que a senhora não precisa mais convencer a princesa de nada, afinal, se aceitou, algum crédito eu devo ter, não é princesa?
  — Claro, príncipe! Eu não sou hipócrita em negar que a sua beleza realmente muito me agrada. A alvura de sua pele parece porcelana e eu adoraria tê-lo como um bibelô de louça oriental rara.
   piscou e trincou o maxilar rangendo os dentes. Arthus e Misaquias esconderam o desejo de soltarem um risinho. Como era petulante e astuta! Chamar ao futuro marido de boneco de porcelana daquela maneira descarada e contraditoriamente entrelinhas! Mas, o olhar mortal de Yang Mi queimando sobre a pele de , fizera o rei intervir:
  — , não provoque o seu noivo. De agora em diante vocês devem cultivar mínima harmonia, mesmo que isso possa demorar um pouco. Esforcem-se, afinal, a escolha foi tua minha amada filha.
  — Claro, majestade... — A princesa suspirou concordando com o pai e sorriu para ao se desculpar: — Eu me esforçarei para provocá-lo menos, querido noivo. Mas, como deves ter notado, eu gosto deste nosso joguinho.
  — Sim, eu notei, princesa. Em certas doses é até bom para aquecer nossa relação que se construirá...
  — Hrrrm... — Arthus pigarreou para cortar o assunto que passou a agradar um pouco mais a imperatriz, afinal, os dois poderiam até fingir, mas havia um potencial de flerte entre eles. — O que mais me preocupa neste enlace, senhor e senhora Miin... É que está entrando com o maior quinhão. Tu dizes que seu filho é o melhor príncipe para ela, Yang Mi, mas ainda preciso de algumas provas de que terá capacidade suficiente para reinar um Império grandioso, e não um província.
  — Pedirei que tragam os pergaminhos com as contabilidades de nosso reino, Arthus. Embora, não creio que terás tempo de o ler... — Ironizou a rainha sobre a saúde do rei, embora logo desse outra conotação ao que dissera: — Afinal, me parece que havia pressa neste matrimônio da princesa, não é? Ou talvez, daria tempo até mesmo de recebermos a futura rainha em Yeongseo?
  — Não! — disse altiva diante todos, e tal como Yang Mi, deu a justificativa que não denunciasse preocupação à saúde do pai: — Eu não tenho tempo para visitar a tua província agora, senhora. De fato, a majestade e o Conselho requerem meu coroamento no prazo que já foi definido. Ademais, ao que me falou, a senhora não pretende deixar a governança de Gangwon nas mãos dele tão logo. Por isso, não tenho pressa em tomar teu trono, rainha.
  Yang Mi soltou delicada ao cálice de suco de uva depositando-o na mesa, escondendo o quanto ficava possessa com as respostas na ponta da língua da jovem princesa. A bebida mal descia em sua garganta, tamanha era a petulância daquela princesinha!
  — Pois bem Arthus! A própria princesa não preocupa-se com os ganhos do belo, histórico e próspero reino que irá unir-se ao dela, portanto, tua preocupação não será sanada a tempo do matrimônio. De qualquer modo, eu não me oponho a enviar ao teu conselheiro nossos pergaminhos.
  — Majestade... — pronunciou diretamente para Arthus — Dou-te minha palavra de que governarei este reino ao lado de , com profunda confiança e ombridade. Além do mais, pretendo fazê-la a rainha mais feliz de todo o Império continental, assim, jamais ousarão criticar meu interesse e enlace junto a ela.
  As palavras de não só pareceram sinceras ao rei, como de fato eram. Arthus acenou a ele, positivamente, sério, e terminaram todos de comer em paz. Hora ou outra, trocava olhares intensos com , e escapava sorrisos travessos à serva dela logo atrás.
  — Aretusa. — manifestou baixo para que a dama se aproximasse quando a princesa estava prestes a acabar o desjejum — Suponho que já tenha providenciado o necessário à comitiva real de Yeongseo.
  — Sim senhora, todos os provimentos estão apenas ao aguardo do senhor príncipe e da senhora rainha. E os cavaleiros, aguardam na cozinha do castelo.
  — Certo. Então, vá e diga a eles que preparem-se, Yang Mi e precisam retornar logo.
  — Pressa para nos ver longe, princesa? — Yang Mi ironizou.
  — De forma alguma, rainha. Mas, a senhora com certeza tem tanto quanto eu a preparar para o matrimônio de seu filho, certo?
  — Meus filhos, queres dizer. — Yang Mi corrigiu-a, sorrindo como uma serpente que estava prestes a abrir a boca em bote — Agora, tu és minha filha também.
  — Ainda não é. — Arthus mencionou desgostoso, por saber que a provocação de Yang Mi era para ele e não para sua filha — Ela ainda não pode ser considerada assim por ti, Yang Mi.
  O rei levantou-se da mesa, e e repetiram o gesto em respeito, exceto a imperatriz que esparramada na cadeira, continuou a esfregar os dedos e sorrir provocativa a ele com nariz empinado. Antes de sair, Arthus dispensou Misaquias e proferiu ao príncipe:
  — , siga-me.
  O príncipe assentiu trocando olhares curiosos com sua mãe, e seguiu ao rei, deixando também curiosa. Após a saída dos dois, a princesa deixou o lenço guardanapo sobre a mesa e virou-se à rainha falsamente dizendo:
  — Acompanharei a senhora até a carruagem.
  — . — Yang Mi mencionou levantando da cadeira e impedindo a mais nova de prosseguir após ela tê-la lhe dado as costas. A princesa virou-se olhando para a rival que concluiu o que tinha a dizer, sem desfazer o contato visual afrontoso: — Pelo seu próprio bem é melhor que aceites a minha oferta de paz, e se torne de fato uma boa rainha e filha ao lado do meu . Afinal, não será fácil para tu acaso Arthus lhe deixe, não é? Ele é a sua única família restante, então por quê recusar a minha família como vossa optando por ficar sozinha em tudo?
  — Acaso está a praguejar pela morte precoce do rei Arthus I, imperatriz? — evocou com certa raiva: — Ou... Devo dizer... Está a conspirar para isto?
  — Oh querida, o quê é isso! — A outra riu e desconversou esfregando os dedos da mesma mão, fazendo as unhas postiças tilintarem ao bater uma nas outras — Apenas precisamos pensar no futuro. Vida longa ao rei! — Ironizou e logo voltou a soar ameaçadora e sarcástica: — Mas, nem Arthus, nem eu somos eternos, não é? Felizmente, acenderemos incensos ao Buda de nosso templo para que o histórico de mortes precoces em sua família, não se torne um carma a lhe acompanhar. A se tratar de Deus, parece que o vosso tem pouco apresso por ti, não é querida? Deixe que dessa maldição de perdas reais deste castelo, eu, e meu sagrado Buda, cuidaremos.
  Yang Mi sorriu e saiu, arrastando seu longo vestido vermelho, e deixando quase sufocada de raiva, e boquiaberta com o tom de ameaça e escárnio que tudo aquilo soou-lhe. A princesa respirou fundo, e demorou-se a seguir a maldita rainha coreana.

♣♣♣

  Os cavaleiros estavam na cozinha, e haviam acabado de tomar seu desjejum quando Éster, uma das servas, adentrou ao lugar. As damas e serviçais internos do castelo estavam ajeitando as coisas, e os cavaleiros à mesa destinada aos acompanhantes reais e servos mais nobres. não deixou de sorrir na direção dela quando a mesma passou o olhar sobre eles e logo se aproximou de falando baixinho:
  — Os provimentos acabaram?
  — Sim , já enviei todos. Faça o que faz de melhor e vá espiar no salão de jantar real se acaso estão a terminar. A presença desses cavaleiros aqui na cozinha, me oprime um pouco... — , a cozinheira, murmurou baixinho também.
  — O que nos oprime não é a presença deles, são estes olhares que parecem nos tirar pedaços! Sir tem demonstrado interesse em mim, e estou a ponto de cometer um desatino, pois, outro dia eu o flagrei a se lavar no rio e...
  — Vá espiar o que vos mandei! Por Deus, ! — interrompeu o cochicho audacioso da outra antes que aquela história fosse escutada por algum deles.
  Assim que estava a caminho do corredor, Aretusa a surpreendeu trocando olhares repreensivos. A dama real já sabia que estava a caminho de fofocar.
  — Com licença senhores. — Aretusa aproximou-se da mesa onde os cavaleiros conversavam baixo terminando suas bebidas — Mas, venho avisá-los que vossos príncipe e rainha estão prontos a partir.
   e se olharam cúmplices, pois, sabiam que precisariam deixar as mulheres por quem se interessaram sem saber quando retornariam. Já olhou para Aretusa, um tanto curioso e preocupado. fora taxativo de que apenas iria embora após convencer a princesa, e a mesma deixou subtendido que aceitaria o príncipe para que pudesse viver um romance proibido com o cavaleiro. Entretanto, aquela ideia soava-lhe um perjúrio79, uma brincadeira caprichosa de princesa mimada. Por isso, ao notar o olhar um tanto curioso da dama real sobre si, se viu em dúvida sobre como a situação teria se resolvido.
  — Aretusa... — Ele se aproximou dela, depois que todos se levantaram da mesa e estavam prestes a sair para a entrada do castelo, onde carruagens e cavalos estavam aguardando — Acaso podes me dizer o que foi decidido?
   murmurou baixinho para que só a dama real escutasse. E ela viu que os outros cavaleiros, assim também, e , olhavam para eles como se os dois estivessem de segredinhos próprios.
  — Ela o aceitou. Haverá casamento. Agora, com licença, Sir .
  Apressada a dama real se pôs a caminhar pelo castelo, apenas a fim de sair de qualquer cenário que gerasse um mal entendido logo com aquele cavaleiro proibido.
   fez um sinal com a cabeça para quando saía da cozinha e a serva, surpresa, abriu a boca em dúvida olhando para que não parava de mexer uma caldeira. A cozinheira não a notou e que olhava para com um sorriso travesso, viu ela ficando sem graça com o olhar dele, e fez sinal com a mão para que a loira saísse. Ele parecia suplicá-la que deixasse-o a sós com a cozinheira.
  , no entanto, achou que estava só na cozinha assim que notou a cabeleira loira de saindo pela porta, e foi surpreendida com a voz aveludada e grave do cavaleiro atrás de si.
  — Senhorita. — murmurou ao pé da orelha dela e , imediatamente, largou a colher de pau do caldeirão e se virou de frente para o homem, ruborizada — Eu sinto muito que tenha chegado meu momento de retorno, sem saber quando poderei vê-la de novo.
  — Ah... Imagine, Sir...
  — . — Ele interrompeu-a delicado a corrigindo — Por favor, combinamos que poderia me chamar por meu nome.
  — Cla-claro... Bom, eu... Sinto muito que tenham que ir, mas fico muito grata por toda a sua companhia enquanto estiveram aqui. Principalmente sua atenção com o Lucas. Ele... Certamente gostou muito de brincar convosco.
   abaixou o olhar, passando uma mão atrás da orelha ajeitando os fios de cabelo e , sentindo que se não a beijasse ali se arrependeria, aproximou-se ainda mais da mulher e ergueu o rosto dela pelo queixo.
  — Seu filho é adorável. A senhorita é adorável. E certamente, dentre todas as coisas as quais esperei ao vir para este reino, encontrar aquela que me daria razões para voltar o quanto antes, não estava previsto. — O olhar tímido da serva encontrou o olhar admirado dele — Permita-me dizer que quero estreitar mais os nossos vínculos quando eu retornar. Aceita-me como seu, ?
  O que poderia dizer diante daquilo? Ele não só era lindo e parecia esculpido em carrara, quanto era elegante, respeitoso, e sedutor em suas palavras também. Naquele instante, perder seu marido em idade tão jovem, não lhe pareceu uma tragédia, mas sim, uma bênção, pois, estava diante dela um cavaleiro nobre que apesar de um pouco mais jovem, era maduro e suficientemente decidido de suas ações.
  — Senhorita ? — sibilou ainda segurando o queixo dela, sem desfazer o contato visual.
  A cozinheira parecia hipnotizada, mas a resposta que ele esperava, surgiu quando fechou seus olhos de modo entregue e o cavaleiro compreendeu que era um sinal positivo. Com um sorriso ladino e satisfeito, aproximou-se mais dela e beijou a mulher de um jeito calmo, mas profundo. E apesar de não fazer muito para aquecer seus corpos ou corações, os dois sentiram-se quentes como quando em meio ao inverno excruciante80, um andarilho encontra abrigo.

♣♣♣

  Quando saiu, ela viu o cavaleiro sorridente parado perto do poço dos fundos, o qual os serviçais usavam para coleta de água para tarefas diárias. Ele estava escorado ao poço com aquelas roupas diferentes e longas, de tecido fino, e com aquelas espadas muito diferentes e fininhas penduradas no cinturão.
  — Posso saber por que não vestem armaduras? — Ela perguntou serelepe logo que se aproximou de .
  — São mais difíceis de tirar. — Ele respondeu zombeteiro percebendo o bico que ela fez, constrangida — Quando retornar lhe conto sobre nossos hábitos de luta e cavalaria que são diferentes. Vê esta arma? — apontou a própria katana na cintura e continuou explicando quando sacudiu a cabeça em afirmativa: — É mais mortal que as espadas ocidentais. E se chama katana, utilizada por muitos samurais japoneses e outros espadachins de nossa Ásia Oriental. Sem falar que nossas roupas... São bem mais elegantes, não é?
   comentou risonho e fez uma expressão de falsa soberba, mas sorriu para ele ao fim.
  — Por que chamaste-me, cavaleiro?
  — Quero lhe fazer uma promessa.
  — Uma promessa? — Ela perguntou confusa.
  — Sei que bela dama como tu, tem outros homens a cortejando. Mas, eu sou determinado, acredite. E tudo o que eu quero, eu consigo. Por isso, espera-me voltar e eu quero entregar meu coração a ti.
   arregalou os olhos extremamente surpresa. Em seguida, não evitou a gargalhada que ecoou de repente, ultrajante e vergonhosa ao rapaz coreano que havia sido sincero.
  — Fazes piada de mim, senhorita?
  — Ora, Sir... — segurou o riso se contendo — Sir... , certo? Não é que eu lhe faça troças81, mas... Como pode uma serva simplória como eu crer em tais palavras de um cavaleiro nobre? Aliás, um que... A cada taberna visitada deve encontrar um “bela dama como eu” a esperá-lo...
   não era boba. Era astuciosa até demais às vezes, e logicamente não confiaria no que diria um visitante tão rapidamente. , percebendo que a loirinha era um tanto desconfiada, acalmou-se e tentou convencê-la:
  — Eu não sou este tipo de cavaleiro. Pertenço à ordem mais nobre de Gangwon! Além do que, um subordinado da esquadra de Sir , tem uma reputação alta, sabia? — dizia com tom de soberania para a mulher, e o olhava de rabo de olho, desconfiada. Mas ele permaneceu esclarecendo: — Como és uma estrangeira que não compreende a nobreza de um homem como eu, não irei me ofender, senhorita. No entanto, rogo pelo teu voto de confiança. Eu retornarei e quando o fizer, quero que aceite ser cortejada por mim.
   deu de ombros, com um bico no rosto e decidiu que aceitaria aquilo como um “sim”.
  — Estou considerando que a senhorita está de acordo. Tens palavra, senhorita? — A última frase soou para a serva, como um desafio, o qual, a atiçou.
  Ester levou as mãos à cintura e altiva o respondeu:
  — Não encontrará mulher neste castelo com mais palavra do que eu, senhor cavaleiro de Ganion!
   riu da audácia dela e do erro com o nome de seu reino, e desarmando-a por completo, ele puxou a mão dela em direção aos próprios lábios. Depois de beijar as costas da mão de , piscou e saiu rumo ao local em que a cavalaria estava a postos.
  — Por Deus, todo misericordioso... — sibilou sozinha vendo-o se afastar — Estou a me meter em encrenca...

♣♣♣

  Ao mesmo tempo, em outro ponto do castelo...
  Arthus guiou para o salão real, a fim de trocarem rápidas palavras a sós, e não fez rodeios. Sentou-se em seu trono e o príncipe estava de pé diante dele, aguardando que o mais velho falasse primeiro.
  — . O que o motivou a estar aqui, foram os conselhos de sua mãe, mas o que sentes agora que conheceu ?
  — Senhor... Logicamente não posso dizê-lo que sou apaixonado, pois, conheci a princesa há pouco tempo e ela tem sido bastante geniosa e tentou dificultar nosso entendimento desde que cheguei. Porém, é justamente o gênio impetuoso da princesa que me faz desejar ganhar o coração dela.
  — Está a dizer-me que não se interessa pelo domínio da Ásia Ocidental mais do que desejas dobrar o gênio de minha filha?
   sorriu ladino, pois, era óbvio que não tentava enganar o rei ou convencê-lo do contrário ao que ele pensava.
  — Eu desejo tudo. — respondeu frio como a sua mãe — O poder do reino, e o coração da princesa.
  — És de fato um Miin. E nota-se que foi criado de perto por Yang Mi para este momento... — murmurou insatisfeito, o rei.
  Entretanto, um elogio ele poderia fazer ao encarar os olhos predadores do rapaz que diferente dos olhos da mãe, diziam algo mais genuíno ao rei:
  — Contudo, há aparente verdade em seus olhos, gestos e palavras, que me agradam.
  — Obrigado, majestade... Se não o compreendi errado, este é um motivo para eu sentir-me honrado, certo?
  — Talvez. Se eu não estiver errado... Yang Mi é como uma víbora, . — O rei ergueu uma mão para pedir a ele o silêncio de quem estava prestes a, respeitosamente, contestá-lo em defesa da mãe — Sinto dizer tal coisa de sua mãe. Mas, permita-me perguntá-lo: conhece a lenda do nascimento das víboras, ?
  — Na-não, majestade...
  — Então estude isso ao retornar ao seu reino. E se concordares comigo, ter em sua matriz o sangue de víbora nas veias, significa um grande perigo não só à quanto a si próprio. Afinal, tens um irmão, não é? Até onde sei, ele almeja a coroa tanto quanto vós, mas não é páreo para a vossa mãe... Yang Mi arquitetou esta vingança vil contra mim há muito tempo, esta vingança de unir minha filha a um filho dela... Há um passado entre nós e certamente sabes disso, pois, maquiavélica como Yang Mi é, deve tê-lo feito crescer ouvindo muito sobre nós, estou certo?
   sentia-se incomodado. Engolia a seco tudo o que ouvia, pois, o rei não mentia. E Arthus sabia que o próprio príncipe reconhecia ao menos, parte da verdade.
  — Ouça bem, Miin . Não estou convencido da escolha de . E infelizmente, não me resta muito a fazer. Entretanto, eu apreciaria se tu fosse mais digno de ter o poder do meu reino, do que a vida inteira lhe disse a tua mãe. Yang Mi preparou-te muito bem para este momento, mas se engana se pensas que ela fez, para tua honra e glória. Até mesmo notou que tu és o bibelô da sua progenitora, e por mais que possa soar ofensivo, é isso o que ela faz: manipula. Manipula com o conhecimento de uma serpente que encanta outras serpentes, e isso a faz perigosa. A imperatriz manipula com apego ao egoísmo. Foi assim que ela fizera com vosso pai, tentou fazer comigo, com o Conselho, e faz com você, assim como fará com o seu irmão acaso tu se vires contra a sua mãe algum dia.
  — Estás dizendo, rei Arthus, que a minha mãe a quem me preparou para este momento, poderia trair-me um dia?
  — Estou.
   não acreditava na firmeza com a qual Arthus lhe dizia aquilo, e em silêncio, concatenando82 pensamentos e argumentos para responder ao rei, ele foi surpreendido com a continuidade do discurso da majestade sentada ao trono:
  — Ela preparou-te para que ela governe através de você. Ou vai dizer que isto ainda não lhe ficou claro? — A pergunta do rei Arthus era dispensável de reposta, portanto ele continuou: — Se há em ti, um traço maior de seu pai, o falecido rei Eun, do que há de sua mãe, eu prezo que ouça e considere meu pedido de pai e de soberano experiente...
   assentiu calado, pronto a ouvi-lo, com respeito.
  — Não permitas que a minha filha precise entrar em um embate pela coroa com a vossa mãe, tampouco que meu duro reinado, e o reinado de meus ancestrais pereçam diante à ganância vingativa de Yang Mi. Ela continuará tentando usá-lo como o “filho preferido” que ela, a tua vida inteira, lhe fez acreditar ser, para os próprios desejos de poder dela. E ela não hesitará em ceifar qualquer que seja a sua autonomia diante dela. Então, se não puderes enfrentá-la em algum momento, peço ao menos, que devote-se à . Ela é esperta, foi criada para governar tudo isso sozinha, assim como tu. Entretanto, tem um trunfo que tu não tens, : a princesa não teme o embate com a imperatriz de Gangwon. é como a mãe dela que não cedeu sequer um centímetro à sua.
   ficou confuso ao ouvir o rei falar da relação entre as duas mulheres, a antiga rainha Armitísia e a rainha Yang Mi.
  — O que me pedes... — murmurou ele, baixo e rouco, pela surpresa do que o rei conversava com seu futuro genro — É que eu dobre a minha lealdade à minha futura rainha, mais do que já tive por minha mãe a vida inteira?
  Arthus sorriu de modo sábio e misterioso, como quem encurralava , e o disse tranquilo em sequência, naquela tranquilidade que apenas o acusado que não cometeu o crime tem, ao ouvir as testemunhas:
  — Exatamente. E se pesquisares as histórias de como nascem e se comportam as víboras, como eu lhe disse, entenderá porque esta é tida como a pior espécime de serpente da natureza. E certamente, entenderá o que eu quero alertá-lo ao mencionar que ao seu redor, há pessoas que também podem ser víboras.
  O príncipe assentiu, um pouco perturbado como poucas vezes ficava, e ainda assim, desconfiado.
  — Quando eu retornar para o casamento, o rei me permite ter uma conversa melhor sobre a tua versão do passado entre nossas famílias?
  A pergunta do príncipe foi respondida com um sorriso e um aceno do rei. reverenciou-o, ciente de que Arthus não acompanharia a ele e sua comitiva até a saída do castelo e antes de dar as costas completamente ao nobre futuro sogro, fez questão de prometê-lo:
  — Não sei quais as vossas intenções como rei ao me abordar com todo este discurso, senhor, mas sobre suas intenções como pai eu posso garantí-lo que... — então ergueu os olhos de modo lento e certeiro, faiscando a fagulha de decência em seus olhos que Arthus já havia visto — eu protegerei a princesa, e serei devotado à rainha que desposarei, se acaso eu descobrir que é ao lado dela que não serão despejados os venenos.
  Arthus sorriu satisfeito, no silêncio daqueles que, conhecedores da verdade, não a precisam confirmar perante os mentirosos. E entendeu aquilo.
  O príncipe saiu do salão real, um tanto aturdido. Não era de se sentir acuado e até não havia sido esta a questão, quanto à conversa com o rei, no entanto, algumas “pulgas” foram plantadas atrás de sua orelha. Víboras... O que Arthus I queria lhe dizer com aquilo era nítido: traição. Mas, embasado em que infomações o rei levantaria uma acusação daquelas?
  Caminhava pelos corredores em direção ao fronte do castelo, quando Aretusa cruzou-se em um dos corredores por seu caminho, fazendo-se trombar ao futuro rei. não a viu chegando, e portanto, não conseguiu desviar. Segurou a mulher pelos braços sentindo o olhar assustado e arregalado dela a encarar sua face. Estavam de novo muito perto, e embora ele não tivesse esquecido-se da provocação da noite anterior que a serva lhe incutiu, o príncipe não sentiu o mesmo desejo de beijá-la. Aretusa permanecia tesa, calada e o encarando apavorada, e foi recuperando a calma e consciência.
  — Não andes apressada deste modo senhorita, podes se machucar.
  — Pe-perdão, príncipe! — Aretusa enfim olhou para baixo desfazendo o contato visual e ruborizando. analisou o rosto dela notando a diferença de personalidade para quem o provocou anteriormente.
  — Lamento muito não ter atendido o pedido da minha primeira súdita neste reino. — Ele mencionou, sério, mas com total intenção de devolver a ela a provocação.
  — Desculpe príncipe, não o compreendo...
  — Ontem uma serva pediu-me que a tocasse, e como futuro rei, não seria ela minha súdita? — A pergunta retórica dele fizera Aretusa o encarar de novo, envergonhada — Portanto, lamento, senhorita. A tua rainha de fato me aceitou e ao retornar, serei o rei. Não poderei atender o vosso pedido.
  — Príncipe, peço que perdoes a minha audácia! — Aretusa imediatamente pôs-se a justificar — O motivo para minhas ações é que... Eu bebi um pouco a mais de vinho do que o habitual ontem e... Saí de meu juízo! De forma alguma eu teria tanta audácia ou deslealdade para com a prince...
  — Mentirosa. — a interrompeu, mas não utilizou de entonação grosseira. Pelo contrário, ele sorria ao dizer a ela: — Sei exatamente a razão que a motivou. Não minta para mim, senhorita.
  A dama real ficou absolutamente preocupada e amedrontada por ouvir aquilo. Será que o príncipe tinha mesmo, a real noção de suas motivações? Ou aquilo era um jogo? Em todo caso, não seria ela quem abriria a boca para falar qualquer outra coisa que pudesse entregar a sua amiga, e futura rainha.
  — Bem, eu me desculpo novamente... — Aretusa enquanto dissera aquilo, afastou-se finalmente das mãos do príncipe que seguravam ainda os seus braços e deu um passo atrás. Ergueu as saias, dobrando educadamente os joelhos e abaixando-se levemente em reverência comum para uma pessoa da nobreza. — Agora, se permitires, a princesa me aguarda para a vossa saída, senhor.
   assentiu encarando a dama de companhia de , sem nenhum sorriso ou autoritarismo. Era apenas a sua expressão inelegível, que na opinião de era o trunfo perigoso de . Afinal, ler os pensamentos de alguém perpassa às expressões faciais e ao que pode-se ver refletido nos olhos da pessoa. , porém, tinha o dom de, em uma grande “face vazia”, não permitir que fizessem leituras de seu comportamento ou ações.
  — Até a vista, serva. — Ele mencionou após vê-la de cabeça baixa dizendo que precisava retirar-se, e foi o primeiro a sair do local.
  Aretusa virou um pouco e discretamente, a cabeça para o lado acompanhando os passos que o príncipe dava, apressados, pelo corredor rumo à saída. E mesmo com maior velocidade, surpreendeu-se que as passadas dele, não o denunciavam. Era como se ele estivesse a caminhar sobre nuvens, sempre. A dama real suspirou longamente, aliviada, quando já há uma boa distância do príncipe, pôs-se a correr pelo corredor a fim de alcançar a princesa na saída, antes que o mesmo saísse.
  O príncipe retornou para a entrada do castelo, onde todos o aguardavam, inclusive sua mãe, bastante pensativo sobre a conversa com o rei. Antes de descer as escadas, ao topo, ele tocou a mão da agora, sua princesa, e beijou-a dizendo para ela:
  — Cuide de seu pai, pois, quando retornar eu cuidarei de você.
  Aquela frase, diferente do que sentiu com a última fala da imperatriz Yang Mi, não soou para como ameaça, mas sim, como promessa. A princesa acompanhada de sua dama real, permaneceu imóvel, curiosa, e ao cruzar o olhar sobre , também se sentiu temerosa pelos próximos passos de sua vida. esperava que não fosse o seu futuro, malfadado, pela escolha que fizera.

♣♣♣

  Seria uma viagem de dez dias e onze noites, sem quaisquer paradas no deserto do Oriente Médio ou quaisquer outro lugar da região entre o Tigres e o Eufrates, onde localizava-se o reino Mesopotâmico de Amitísia. E teria bastante tempo para refletir nas palavras do rei, contudo, não deveria dar indícios de preocupação na frente de sua mãe. E apesar de estarem há duas horas daquele longo trotar dos cavalos pelas estradas, com a imperatriz tentando dormir desde que saíra calada e sorridente do castelo, a carruagem sacolejante impedia que a rainha descansasse.
  — O que Arthus queria dizê-lo? — Yang Mi perguntou de supetão surpreendendo que já havia estranhado o fato de ela não o alvejar de perguntas logo após saírem. — Esperei que digerisse quer o que fosse, afinal, você relaxou e me deixou notar o vinco em tua testa. O que lhe deixou preocupado?
   que estava de olhos fechados, assim como a mãe, lentamente os abriu percebendo o quão Yang Mi era de fato ardilosa. Ela farejou algo estranho, e mesmo sendo seu filho a quem destinava-se a pergunta, ela esperou o momento em que ele baixasse a guarda para o interrogar. “Víboras”. A palavra na voz do rei Arthus ecoou em sua mente novamente. E após um pigarro sutil, respondeu-a:
  — Conversa de pai para futuro genro. Está preocupado com a felicidade da própria filha.
  — E achas que acredito que isto o deixa preocupado, ? — Yang Mi por fim, abriu os olhos tão lenta quanto era o jeito dele, e virou o rosto para encarar nos olhos do filho — A felicidade da princesa?
  — Não. — precisava ser astuto também — Não me preocupo com isso, porque eu realmente a farei feliz. Pode não ter notado ommoni, embora... — Ele olhou de volta a ela com um cretino sorriso ladino — Nada lhe escape aos olhos, não é mesmo?
  A imperatriz sorriu da mesma forma, e continuou:
  — Podes não ter notado, mas a princesa realmente me agrada. Quero domar o amor dela, e isso exigirá que eu a faça feliz. E foi isto que eu disse ao rei. Como pai, ele também me pediu para protegê-la de ti. — Yang Mi então ergueu a sobrancelha com expressão de vitória e zombaria — Sim, ele acredita que a senhora, imperatriz, tem razões para vingar-se dele através da filha. E não está errado, não é?
  Yang Mi riu, um riso maldoso e fino.
  — Não deixou de me contar nada, ommoni?
  — A vingança já está acontecendo, meu querido. Arthus é o responsável pela morte do seu pai, . E nós estamos devolvendo na mesma moeda! Ele perderá a única filha para mim, que serei a mãe dela através de ti. E de quebra, o reino que se opôs a nos ajudar por tantos anos... Será nosso.
  O tom de conspiração, vingança e malícia que a voz da imperatriz ecoava era o mesmo escutado por desde a infância. Ele sempre estivera ciente daquela profética vingança da mãe, mas por quê razão sentia que as palavras do rei eram tão mais reveladoras? O que Yang Mi realmente desejava era que o reino fosse dele, ou dela? Era ter a princesa como filha, ou escrava? E se o rei, doente como sabiam que estavam, partisse... O que seria de nas mãos da imperatriz Miin?
  — Entretanto... — Yang Mi retornou o tom investigativo sobre o filho: — Acho que não poderia ser isso que o preocupas... Está mesmo contando-me tudo, Miin ?
  — Não achas penoso meu dilema, ommoni? Estou entre a mulher que desejo fazer apaixonar-se por mim, e o pedido desesperado de um pai que acha que a minha mãe será um perigo para minha futura esposa.
  — Hm... — Yang Mi murmurou percebendo que era bem próprio do filho estar pendurando aquele dilema em uma balança, então, logo deu a resposta que ele precisava: — Não há dilema. Estás a criar algo em tua cabeça, ... Mas não deveria. Eu nada de mal intencionaria fazer contra , apesar da petulância dela. Ela será sua mulher, mãe dos seus herdeiros, e vejo que... Será a mulher que você se esforçará para devotar também o seu amor. Por que me colocaria entre isso tudo? Contudo, é bom que saibas que as intenções dela convosco podem não ser verdadeiras, e sendo ela uma inimiga tua, tu não deveria estar ao lado de quem realmente lhe protege e ama?
  — É claro. — Ele respondeu conforme sabia que ela esperava: — Entre a rainha mãe e a minha esposa, é claro que eu sei exatamente qual o lugar de cada uma. Não preocupe-tes também, ommoni. Não serei obrigado a escolher lados, pois estamos agora, todos no mesmo navio.
  A imperatriz sorriu satisfeita e voltou a fechar os olhos recostando-se na poltrona da carruagem. Seria uma longa, exaustiva, mas feliz viagem para Yangi Mi. Já para , seria uma longa, exaustiva e desconfiada viagem.

Continua...

Glossário

  1 Toalhete: Toalha pequena.
  2 Sálvia: Planta aromática, utilizada por algumas civilizações para amenizar o mau-hálito.
  3 Biombo: Tabique móvel que resguarda parte de uma habitação.
  4 Intrépida: Que não tem medo = audaz, corajoso, resoluto.
  5 Lânguida: Desfalecido, abatido, frouxo.
  6 Subterfúgio: Meio artificioso ou sutil que se emprega para sair de dificuldades. = evasiva.
  7 Bradar: Dizer ou reclamar com brados, berros.
  8 Rouge: Cosmético, geralmente avermelhado, destinado a dar cor às maçãs do rosto = Blush
  9 Geomsa: Os Geomsa eram cavaleiros que serviam ao rei e à nação, enquanto os Gibanggwan eram cavaleiros que serviam como guarda-costas de oficiais de alto escalão.
  10 Celeridade: Qualidade do que é célere, rápido. = agilidade, presteza, rapidez, velocidade.
  11 Abismal: Referente a abismo.
  12 Cume: Alto ou topo de uma montanha.
  13 Cascalhosa: Referente a cascalhos, pedregosa.
  14 Estalagem: Pousada, albergaria, hospedaria. Casa humilde onde se alojam muitas pessoas de baixa condição social.
  15 Cocho: Espécie de vasilha onde se coloca água para o gado.
  16 Lira: Instrumento de cordas dedilhado na antiguidade.
  17 Estalajadeiro: Aquele que tem ou administra uma estalagem.
  18 Bem Haja: interjeição antiga como se dissessem “Graças a Deus”.
  19 Refrigério: Alívio, conforto, consolo.
  20 Miscelânea: confusão, variedade.
  21 Cançoneta: pequena canção.
  22 Fulgor: brilho intenso, energia, expressão.
  23 Afinco: Insistência em que há perseverança e tenacidade.
  24 Tenacidade: Apego obstinado a algo, grande persistência.
  25 Honorífica: Que honra; que torna distinto ou presta homenagem.
  26 Conselho: Corpo deliberativo superior, reunião entre um grupo consultivo de hierarquia administrativa.
  27 Límpido: Que apresenta clareza, limpeza, reflete luz.
  28 Furtiva: Feito de forma oculta.
  29 Longínquos: Que está demasiadamente distante.
  30 Pernoitar: Passar a noite em algum lugar, dormir.
  31 Meneio: Aceno.
  32 Suntuosa: Que é de um luxo extremo.
  33 Abóbada celeste: Céu, firmamento.
  34 Prescrutar: Observar.
  35 Voluptuoso: Dotado de volúpia.
  36 Nádegas: Bumbum.
  37 Promíscuos: Que é obsceno.
  38 Torpor: Inação de espírito. Estado tórpido de alguma parte do corpo.
  39 Ávido: Que não se farta, insaciável, que tem avidez.
  40 Ósculo: Beijo.
  41 Doidivanas: Extravagante, perdulário. Nome pejorativo dado para mulheres que se prostituiam ou eram libertinas.
  42 Pervertidas: Corrompido, depravado, imoral.
  43 Descabida: Inoportuna.
  44 Balneário: Relativo a banho.
  45 Garbosa: Elegante, qualidade do que é charmoso, belo.
  46 Gralhar: O som do grasnado de uma gralha, no sentido figurado utilizado = gritar, berrar, falar muito.
  47 Guisado: Prato que consiste em alimentos, geralmente carne, peixe ou legumes, cozinhados em recipiente fechado, com alguma gordura e pouco líquido, em fogo brando.
  48 Ferrolho: Ferro corrediço que se fecham portas, janelas.
  49 Asco: Nojo, repulsa.
  50 Alvo: De um branco reluzente.
  51 Despautério: Grande disparate, tolice de marca maior.
  52 Indecoroso: Indecente, vergonhoso, obsceno, escandaloso.
  53 Afoita: Arrojo, ânimo.
  54 Placidez: Sossego, tranquilidade, serenidade.
  55 Desmedido: Que excede as medidas, excessivo, enorme.
  56 Fulgurante: Que fulgura. = Brilhante.
  57 Subserviente: Que se presta servilmente às vontades de alguém.
  58 Desatino: Desvario, falta de tino.
  59 Infortúnio: Sofrimento, azar.
  60 Brando: Suave, fraco, pouco enérgico.
  61 Brio: Sentimento que induz a cumprir o dever ou a fazer algo com perfeição ou sentido de responsabilidade.
  62 Imensurável: Que não se pode medir.
  63 Citarista/Lirista: tocadora do instrumento chamado Cítara ou Lira.
  64 Desvario: Grande disparate, ato de loucura.
  65 Os físicos era como chamavam aqueles homens que detinham maior conhecimento acerca do corpo humano. Não havia posto ainda o conceito da medicina moderna, e aqueles que cumpriam ao papel de “médicos” na Idade Média, assim eram chamados.
  66 Moisés é o nome dado ao cesto que equiparava-se a um berço, antigamente, e ficava ao lado da cama da mãe.
  67 Ignóbil: Que causa repugnância, especialmente se for estética. Referindo-se a uma pessoa, que tem pouco caráter ou comportamento baixo.
  68 Noona: pronome coreano para indicar uma mulher próxima (amiga ou irmã) mais velha que um homem.
  69 Ommoni: Escrita completa de "mãe" em coreano. Também há a variação "Omma". É como "mamãe" e "mãe".
  70 Vitrais: na história, nome dado aos óculos no tempo antigo.
  71 Unguento: Gordura misturada com perfumes especiais que lhe dão características muito desejáveis. Na Bíblia, era utilizado para ungir os pés dos hóspedes, simbolizando a alegria pela chegada daquele hóspede, e desejando-lhe boas vindas. Também é mencionada como um preparo de pomadas para feridas, feitas na mistura de ervas, gorduras ou ceras, por povos antigos.
  72 Vassalos: aquele que é súdito muito devotado de um soberano
  73 Tenro: em sentido figurado, delicado, suave ou mimoso.
  74 Teso: que se inteiriçou; hirto, imóvel, tenso.
  75 Desposo: Tomar (a alguém) para consorte, Ajustar casamento, Casar-se.
  76 Pajear: cuidar de, vigiar.
  77 Animália: animal sanguinário, fera; animal irracional, besta; referente a “animal, animalesco”.   78 Embevecido: encantado.   79 Perjúrio: relativo a perjurar; falso juramento; renunciar, abjurar; quebrar juramento, faltar à promessa.   80 Excruciante: que excrucia ou causa muita aflição; lancinante, pungente, aflitivo;   81 Troça: Atitude ou dito em relação a algo ou alguém, com a intenção de provocar riso; Chacota, escárnio, mofa, zombaria.

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