Casamento Ao Acaso

Escrito por Giuliana Ramires | Revisado por Paulinha

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Capítulo 1

  Acordei com uma dor de cabeça terrível. Como era de se esperar de todas as manhãs em Las Vegas, eu estava de ressaca.
  Levei minha mão até minha testa e alisei-a tentando diminuir a dor, em vão. Em mais uma tentativa falha de menos dor, pude ver que o anel que usava como prova de lealdade a minha irmã mais velha fora retirado, e em seu lugar havia uma aliança, de péssimo gosto para ser exata.
  Levantei da cama em um pulo, notando estar sozinha em um quarto de hotel totalmente diferente do que havia me hospedado na noite anterior. Eu iria matar as irresponsáveis que chamo de melhores amigas!
  Mas que tola... Já iria me esquecendo das devidas apresentações; Tenho 15 anos, com aparência de pelo menos 17. Sou brasileira e me chamo . Mesmo odiando meu nome, achei que deveria me apresentar pelo mesmo. Só peço que nem pense em me chamar por ele se quiser viver, chame-me por meu apelido, .
  Fitei a mesa de cabeceira e vi um bilhete, junto ao meu anel de fidelidade à minha irmã.
  Peguei o anel e o botei no lugar no qual não deveria ter saído. A aliança? Mesmo não me importando com ela, guardei-a em meu bolso de trás. Graças aos céus eu estava vestida.
  "Bom dia, Mrs. ! Se você é como eu, não deve se lembrar de nada da noite anterior. Sim, você está casada. Me ligue para decidirmos o que fazer. Xx "
  Como assim a anta diz, escreve, ou seja lá qual for o melhor termo para se tratar desse assunto levando na brincadeira? Eu me casei com 15 anos! Minha mãe vai me matar e me fazer jurar não estar grávida! Droga, droga, droga. Eu usei camisinha? Aliás, o que eu fiz a noite passada?
  Resolvi ligar para meu marido e fazê-lo ouvir poucas e boas. Quem abusa de uma menina que não está em suas condições normais?
  -Alô?! - Ele atendeu com uma voz rouca, e completamente sexy.
  Sabe quando bate um "choque de realidade"? Foi exatamente isso. Com aquela voz eu consegui assimilar tudo que acabara de acontecer. Ele não era apenas meu marido, ele era meu ídolo. .
  Da mesma forma que meus pensamentos estavam, eles continuariam, ele seria um homem morto.
  Combinamos de nos encontrar no saguão do hotel em que estávamos hospedados. Pelo que pude perceber a anta que chamava de ídolo também poderia ser um pouquinho cavalheiro. Hospedou-se no quarto ao lado, para não me dar susto de manhã.
  Fui até o hall de entrada e vários flash’s me cegaram. As devem ter achado que se casou com uma drogada. Por quê? Digamos que minha aparência não era uma das melhores.
  Senti uma mão me puxando e pode-se dizer "me salvando" da multidão de perguntas que os paparazzis faziam. Era ele, sorrindo como se nada tivesse acontecido.
  - Você está sóbrio? - Perguntei furiosa vendo fitar-me.
  - Por incrível que pareça, sim. - Ele respondeu sem tirar seu sorriso do rosto levando-me até o restaurante do hotel. Minha fome era enorme.
  - Vai querer o que? - Ele me entregou o cardápio e eu apontei para o maior prato que tinha ali. - Tem certeza que não vou ser pai? - Ele perguntou, levantando uma de suas sobrancelhas.
  -Mas que droga, ! Eu não posso nem mais comer? - Disse me exaltando e chamando o garçom novamente. - Troque meu pedido por o menor sanduíche que tiver. - Ele sorriu docemente assentindo. - Obrigada. - Agradeci vendo-o deixar nossa mesa e caminhar até o balcão de pedidos.
  -Você dormiu onde? - Mesmo esperando um "alô?" ao atender meu celular, a voz de ecoou em meus ouvidos me acalmando um pouco.
   era minha melhor amiga, e tinha a mesma idade que eu. Pedi licença a e caminhei até o banheiro.
  - Dormi com meu marido. - Disse sobrecarregada com minha melhor amiga, ironia.
  - Boa piada, ! - Ela disse demonstrando preocupação ao usar meu nome, e não meu apelido.
  - Não é piada, . Eu realmente casei. - Ouvi um toque na porta e perguntei quem era, obtendo a resposta rapidamente. notou minha demora e fora atrás de mim no banheiro feminino.
  - Está tudo bem? - Ele perguntou.
  -Necessidades femininas. - Fora a desculpa mais rápida que consegui naquele momento.
  - Aonde você está? - repetia a mesma pergunta pela milésima vez.
  -The Bellagio. - Depois de sair do banheiro e perguntar para , respondi e logo desliguei, sabia que se não o fizesse, ela faria. E odeio quando desligam em minha cara.
  Nossa comida havia chegado, e graças a Deus comemos sem tocar no assunto de marido e mulher. Por incrível que pareça, poderia ser considerado um amigo.
  -Posso te pedir um favor? - Ele virando um pimentão.
  - Poder até pode, mas não prometo que farei. - Respondi apertando o botão do elevador e virando minha atenção para ele. Só havíamos nós no elevador.
  - Mora em Londres comigo até a poeira abaixar? - Engasguei com a pouca saliva que tinha em minha boca e logo abri minha boca para protestar.
  - Está ficando maluco? - Respondi um pouco alto, me sentando na cama e observando-o fechar a porta.
  - Eu juro que não levo nenhuma mulher para casa. Eu juro que não vou dar em cima de você… - E começou com um discurso que parei de ouvir na metade. Acabei por aceitar o convite, afinal, morar em Londres sempre foi meu sonho.
  - Mas tem um pequeno problema. - Disse. Obviamente o problema não era pequeno, e sim, enorme. Pedir para minha mãe me deixar morar em Londres com um estranho era a mesma coisa que pedir para me matar. Sem chances de escutar um "sim" como resposta.
  - Diga. - Ele disse e a porta abriu, passando o furacão e . Sibilei para um "depois" e comecei a contar para elas tudo. Que eu me lembrava. Ou seja, tudo que havia acontecido hoje.
  - E se você estiver grávida, ? - disse andando em círculos, seu nervosismo estava estampado em sua cara.
  - Sua mãe vai nos matar. - completou e se deitou ao meu lado. apenas nos observava, como se não pudesse interferir. E não podia, afinal, as conhecia há mais tempo que meu marido.
  - Posso roubar a amiga de vocês por um minuto? - Ele perguntou-as e elas assentiram. Idiotas.
  Levantei-me e fui até a varanda com .
  - Você vai ter que pedir para minha mãe. - Era óbvio o que ele queria. O silêncio tomou conta do local. Ele, e todo o mundo, sabia que minha mãe era conhecida por ser "dura na queda". Fluente em inglês e francês, ajudando-a em sua carreira de advogada. Atendia apenas famosos, e provavelmente terá de atender-me quando eu matar alguém, já que agora, sou Mrs. .
  Por sorte, ou azar, minha mãe estava em Londres a trabalho. conseguiu um voo para lá e nos mandou arrumar as malas. Sim, e iriam junto. Não iria levar a culpa toda sozinha.
  - Mamãe! Disse sorrindo ao vê-la e fui correndo a abraçar.
  -Você saiu de Las Vegas mais cedo e me chamou de mamãe, conte logo. - Ela disse séria e ao mesmo tempo brincalhona, uma das coisas que só minha mãe consegue fazer. Respirei fundo e dei a mão para , tentando fingir ser um casal feliz, o que obviamente, minha mãe notaria a falsidade a quilômetros. - Você se casou com ele e quer que eu faça o divórcio? - Perguntou como se fosse normal.
  Encarei e ele me fitava de volta, como se quisesse dizer, mas tivesse medo da sogra. Dei um leve riso e a respondi.
  -Na verdade queria lhe pedir para morar com . - Ela arregalou os olhos e encarou-me por longos minutos. Eu não fazia nada além de respirar, piscar, e massacrar a mão de . Ela suspirou, assentiu e deu seu discurso.
  - Pensei que demoraria mais tempo para isso acontecer. Você era minha menininha. - Uma lágrima solitária escorreu de seu rosto, e involuntariamente, sussurrei "Me desculpe." Ela não ouviu. Já estava embarcando para casa novamente.

  Minhas amigas e me olhavam com dó, um sentimento que eu nunca quis que sentissem de mim.
  - Por favor, me dê o endereço de seu apartamento. - Disse vendo-o escrever algo em um papel e me entregando.
  -Nosso, . Nosso apartamento. - Ele disse e saiu com e , em direção a provavelmente, "nosso" apartamento. Suspirei, suspirei muitas vezes. Coloquei meu casaco e fui rumo a me perder em Londres.
  - Você é ? - Uma menina de provavelmente 5 anos me parou na rua puxando a ponta de meu casaco, encarei-a e dei um leve sorriso.
  - Por favor, só . - Ela assentiu e pediu uma foto. Achei estranho, mas o fiz. Logo ela foi embora, sozinha, saltitando feliz. Corri em sua direção e segurei em seu braço, escutando-a gemer baixinho. - Me desculpe, princesa. - Ela apenas sorriu. - Você está sozinha? - Ela assentiu e eu caminhei com ela até sua casa.
  Seus pais estavam brigando em sua porta e ela deu um longo suspiro sibilando "Me desculpe por isso." Deu-me um beijo rápido na bochecha e sumiu ao entrar em sua casa.
  Caminhei até a casa de , que não era tão longe dali, e olhei nossa foto. Ela era linda, e andava por ai sozinha. Um calafrio percorreu minha espinha.
  Bati a porta do apartamento.
  - Ah, você é a . - me recebeu com um abraço aconchegante.
  Fui direto para o único quarto vago que tinha. Deitei-me e aquela menininha não saia de minha cabeça, acabei fechando os olhos e dormindo.
  Tocaram a porta me acordando, por sorte, de , é claro, já estava de manhã. Espreguicei-me e dei um beijo em seu rosto sussurrando um bom dia. Caminhei até o banheiro e fiz minha higiene matinal. Não havia ninguém em casa, estranhei.
  - , pode vir aqui um instante? - Perguntei chamando-o na mesa do café da manhã. Eu nunca saberia se não tentasse.
   apareceu na sala apenas de boxers, fazendo-me corar.
  - Posso conversar com você? - Ele assentiu. - Gostaria que colocasse uma roupa antes. - Disse rindo de leve, vendo-o corar. caminhou até seu quarto e se trocou. Eu fiz meu achocolatado e voltei a sentar no sofá, deixando um pequeno espaço para .
  - Se você estiver grávida, não precisa disso tudo. - Ele disse se sentando ao meu lado.
  - Não estou grávida, mas é sobre crianças. - Ele fez uma expressão um tanto quanto confusa, prossegui. - Ontem uma fã sua me parou na rua. - Mostrei nossa foto na tela de meu celular.
  - E? - Ele disse pegando minha caneca e dando um gole em meu achocolatado.
  - Ela parecia ser mal tratada pelos pais, além de estar sozinha na rua aquela hora, . - Ele me olhou, ainda não entendendo o ponto em que eu queria chegar. - Quero saber se me deixa pedir para os pais dela para adotá-la. - Disse e sua expressão confusa mudou por um lindo sorriso.
  - É claro que eu deixo, ! Temos de ter uma filha, é bom para imprensa. - Ele disse e eu apenas me calei. Se brigasse com ele talvez o fizesse mudar de opinião. Por tanto, resolvi ignorar o comentário.
  Fui até meu quarto e me vesti, mandando-o fazer o mesmo. Eu iria à casa dela agora mesmo. Tocamos a campainha e uma senhora atendeu a porta com seu chinelo de marca desconhecida por mim na mão.
  - Poderíamos falar com você sobre sua… - olhou para mim buscando saber o que a menininha era dela e eu apenas dei os ombros, não sabia se a menina era sua neta ou filha. Ontem havia a visto de longe, não reparei em sua aparência.
  - Neta!? - Ela gritou algo em uma língua desconhecida por mim e a menininha desceu, sorrindo, como sempre.
  - Conhece eles? - A senhora perguntou e a menina assentiu, encolhida. Parecia ter medo da avó.
  No final, deu tudo certo, a velha hipócrita só queria dinheiro, e a menininha queria se livrar dela.
  - Hey minha linda, ainda não sei o seu nome. - Disse pegando-a no colo enquanto pegava as poucas roupas que ela tinha.
  - Me chamo , mas pode me chamar de , já que você vai ser minha mamãe. - Ela respondeu me dando um abraço que eu nunca esperei sentir. Aquela menininha era mais doce do que se poderia imaginar.
  - Feliz? - perguntou assustado.
  - Agora tenho uma família que vai me amar, por que seria triste? - Ela disse e levei-a até meu quarto, ela dormiria comigo. Não que não confie em mas… Eu não confio em . Ri com meus pensamentos e me acompanhou, apenas para não deixar-me sozinha. Deitei e dormi, na mesma hora. Hoje tinha sido um dia que lembraria para o resto de minha vida.
  Acordei de madrugada com se mexendo demais na cama; Levantei-me e fui até a cozinha pegar algo para comer, como sempre. Voltando para o quarto pude perceber que não estava em casa, resolvi então dormir em sua cama. Depositei um beijo na testa de , apaguei as luzes e deitei na cama de , no quarto da frente. Acordei com berros.
  - está doidão! - gritava de seu quarto enquanto se protegia com um travesseiro em seu rosto. Corri até meu quarto e me deparei com um totalmente bêbado, tentando pentear os cabelos de .
  - Você está ficando maluco? - Ele fitou-me, não entendendo nada. - Ela não é uma boneca para você não, seu gay! - Empurrei-o para longe de e o tranquei debaixo da água fria.
  Caminhei com até a casa de , que de todos os meninos era o que eu mais tinha afinidade, e por sorte, não era nada mal com crianças.
  - Por favor , fica com ela só essa noite. - Disse enquanto ele me analisava.
  - Mamãe, quer que eu vá para casa da vó? - perguntou com um certo tom de medo na voz, apenas entreguei-a para e disse um breve "já venho te ver".
   já estava sóbrio, ou bem perto disso. Batia desesperadamente na porta querendo sair, abri e o encarei séria.
  - Você está maluca de me trancar aqui? - Ele disse apontando o dedo em minha cara.
  - Primeiro: Nunca aponte o dedo em minha cara! Segundo: Você que está maluco de chegar bêbado em casa! Não consegue entender que se casou, e que agora tem uma filha? Mas que caralho! - me encarou sem palavras e sentou-se na cama. Ele estava visivelmente mal. Sentei-me do seu lado.
  -Fiz besteira de novo? - Ele perguntou olhando dentro de meus olhos. Apenas o ignorei, deixando-o repousar seus cabelos completamente molhados em meu ombro. Quem olhasse poderia até pensar que éramos um casal feliz, mas é o que dizem: As aparências enganam.

   havia dormido rapidamente e eu fui até buscar , mas ela era como e fui para casa, como de costume, não dormi nada, passei a noite deitada, em claro. Resolvi entrar no twitter, coisa que há muito tempo não fazia.
  Me surpreendi ao ver meu apelido nos Worldwide Trends. #StayStrong. Era óbvio que eu não sabia o porque dela, e era mais óbvio ainda que minha curiosidade fala mais alto que eu. Cliquei e vi fotos de em uma boate qualquer com uma mulher da mesma qualidade. Junto a minha primeira foto com , postei em meu twitter: "Estou bem. Estamos bem." e logo recebi vários retweet’s. Eu não iria chorar. Não por ele. Não de novo.

  Flashback on

  Era uma manhã comum no Brasil, exceto pelas fotos que haviam vazado de com .
  Eu? Era uma simples fã, que chorava litros por ver meu ídolo se pegando com uma mulher que teria idade para adotá-lo e ser sua avó.
  - Esquece ele . - e tentavam me acalmar.
  -Você ainda vai casar e adotar uma criança, e quando te perguntarem quem é você vai rir e dizer o quão boba você foi. - Minha mãe disse, adentrando em meu quarto e na minha conversa com minhas melhores amigas. Adotar uma criança e casar com um homem que eu ame sempre foi meu sonho, e eu iria realiza-lo.

  Flashback off

  Mas não foi bem assim. Eu casei em Las Vegas com um estranho não tão estranho assim. O cara que eu queria esquecer. O cara que eu só queria como inspiração na música. E agora sou conhecida mundialmente por corna. Essa definitivamente não era a vida dos meus sonhos.
  Lágrimas escorriam pelo meu rosto, e quanto mais tentava secá-las, mais caíam. Eu parecia uma cachoeira ambulante. Meus olhos já estavam vermelhos e ardendo.
  - Por . - Sussurei para mim mesma, largando a gilette que havia pego. Eu não voltaria a me cortar, não tendo uma linda menininha para criar. E além do mais, não merecia meu sofrimento.
  Liguei para , que veio para minha casa o mais rápido que pode. Nem tocamos no assunto "corna mundial", apenas conversamos e tomamos sorvete.
  - Aonde está minha sobrinha que eu nem conheci? - Ela perguntou toda sorridente.
  - Na casa do , achei melhor ela não presenciar uma briga familiar. - Fiquei alguns segundos pensando e logo voltei a falar. - - Se é que nós podemos nos chamar de família. - Ela me olhou e sorriu do jeito mais triste que ela tinha de fazer. Ela sabia que aquilo estava sendo um inferno para mim.
  - Porque não vai embora? - Ela perguntou desligando a televisão e prestando atenção em minha resposta.
  - Não é tão fácil assim. - Ela me encarou esperando uma explicação, e foi o que eu fiz. - Eu assinei um contrato com , só posso ir no final do ano. - abrira sua boca no mais perfeito "o".
   já estava na casa dela. Eu já estava lotada de maquiagem para esconder os olhos inchados e as olheiras da noite não dormida. Busquei na casa de e levei-a para comprar roupas. A teria um show hoje, e pediu que levasse sua filha.

  Flashback on

  - . - me chamou, tirando a minha atenção de para ele. - Hoje temos show, poderia levar minha filha?

  Flashback off

  Se eu discutisse com ele, de novo, colocaria nossa família em algum programa de ajuda, porque as brigas eram constantes e sempre dava um jeito de escutar.
  - Mamãe. - me chamou, apontando para algum lugar, eu só conseguia ver flash’s em minha cara.
  - O que tinha lá, ? - Eu ainda não conseguia chamá-la de filha, ou algo do tipo apesar de ter um carinho enorme por ela. E não era diferente de mim, nunca chamou de pai, e isso sempre é motivo para brigas.
  - Uma escola. - Foi aí que notei que passava tempo demais em casa. Fiz sua matrícula em uma escola e conversei com , alegando que criancinhas não a assediariam por um autógrafo dele, depois de muita discussão, ele cedeu.
   e eu pulamos, literalmente, de alegria e fomos comprar seu uniforme para que pudesse ficar como uma aluna sem tratamento especial. Deixei-a na escola e voltei para casa, vendo só de boxers. Fazia tempo que isso não acontecia.
  - Cheguei. - Dei meu melhor, e falso, sorriso.
  - Podemos conversar? - Ele pediu e eu cedi, não queria brigar duas vezes no mesmo dia. - Se você quiser voltar para o Brasil, tudo bem. Mas peço que deixe comigo. - Ele disse na maior cara de pau. Levantei minha cabeça e o olhei com reprovação.
  - não fala português. não te chama de pai. Você não sabe nem quantos anos ela tem! - Eu disse e ele olhou para os lados tentando achar algo que o fizesse lembrar. Eu ri irônica. - Eu não vou voltar pro Brasil, . Não por falta de vontade. Só quero que pare de agir feito uma criança, porque já temos uma em casa! - Aumentei meu tom de voz e fui para o meu quarto.
  Tocaram três vezes à porta e lá estava ele, devidamente vestido com o rosto inchado e no colo. Provavelmente eu dormi, o que não fazia há uns dois dias pelo menos. Cocei meus olhos e me espreguicei, olhando na direção dos dois com cara de quem não entende nada, porque era isso que eu estava sentindo. Confusão.
  - Fui buscar na escola, você estava dormindo. - Ele disse colocando a pequena mochila dela em cima do criado-mudo que tinha ao lado de minha cama.
  -Obrigada? - Disse com um certo ar de dúvida na pergunta, ele apenas veio até mim e deu-me um selinho.
  - É minha obrigação. - Disse saindo de meu quarto e indo em direção a porta.
  - Tem show hoje? - Perguntei e para minha sorte, foi quem respondeu.
  -Não, temos reunião. Mas pode deixar que trarei seu marido sóbrio para casa. - Sorri assentindo e fui tomar banho.
  "Porque ele me beijou?" Era a única coisa que se passava em minha cabeça enquanto a água quente do chuveiro deslizava pelo meu corpo. Marquei de apresentar para as meninas hoje, arrumei-me e esperei minha pequena se arrumar na sala. Pegamos um táxi e fomos a caminho do shopping.
  - Ela não parece com você nem com o . - comentou e a olhou com reprovação.
  - Não tenho que parecer, eles me amam, e para mim, isso já é o bastante. - respondeu como se fosse normal uma menina de cinco anos filosofar. A olhei de boca aberta e ela disse um simples "O que?" Compramos, muito. Muita besteira para ser exata.
  Quando aparecia "Harry" na tela de meu celular, era sempre algo importante. Ele nunca me ligava.
  - Alô?! - Eu ainda atendia telefones como todo brasileiro.
  - Eu não consigo parar de pensar em você. - Ele sussurrou para o telefone e desligou, na minha cara. Meu sorriso aumentou, foi de orelha à orelha. E é óbvio que as meninas não se calaram até eu contar.
  - Eu sabia! - Eu, e encaramos sem entender. - Quem é que não se apaixona pela ? - Olhamos para ela e sorrimos maliciosas.
  - Não que eu tenha me apaixonado, é só que.. Ah! Vocês entenderam. - Ela disse se rendendo e tirando boas risadas de nós. Adorávamos ver sem jeito.
   e nos deixaram na porta de casa, e deram uma desculpa qualquer, que para ser sincera, não prestei atenção. Não sou a melhor pessoa para ser contrariada.
  - não chegou? - perguntou, já sabendo a resposta. Apenas deixei a pergunta no ar.
  - Cheguei sim, pequena. - Ele respondeu depois de algum tempo, voltando minha atenção da cozinha para sala. O sorriso de era como o meu, nunca saia da cara. Em nenhuma hipótese. - Posso conversar com sua mãe? - Ele pediu e assentiu deixando-nos a sós, indo provavelmente para casa de .
  - Então?! - Disse, esperando que ele começasse logo com a conversa de "marido e mulher".
  - Queria que fosse em uma premiação comigo. - Agora sim, estava tudo devidamente explicado. só estava sendo fofo porque queria uma mulher para exibir e dizer que deixou o posto de galinha. Mesmo não tendo deixado.
  “Respira e inspira .” Ele me encarava com um lindo sorriso nos lábios, esperando minha resposta, dei um longo e pesado suspiro.
  - Nunca mais deixe-me ir para Las Vegas. - Eu disse e ele assentiu rindo. - Quando? - Perguntei fingindo interesse.
  - Hoje à noite.
  Posso até não ser a pessoa mais fresca com roupa que conheço, mais ir a uma premiação com seu marido famoso de calça jeans e uma regata não rola. Encarei-o furiosa e sai com minha bolsa, que continha o cartão de crédito que ele havia me dado para fazer compras com a . Era óbvio que meu dinheiro, eu não gastaria.
  Estávamos todos prontos esperando terminar de arrumar seu amado cabelo, que na minha opinião, já estava mais que arrumado.
  -Isso já está bom demais. - Disse perdendo o pouco de paciência que me restava e arranquei-lhe o pente que ele tinha em suas mãos.
  - Para quem não queria ir está bem apressadinha. - A minha vontade era enfiar o pente goela abaixo desse ser cheio de ego, mas preferi calar-me e ir em direção ao carro que os meninos alugaram. Não queria ser morta por milhares de . Não hoje.
  - Nós vamos entrar por aqui? - Perguntei ao ver que antes de descermos os flash’s já cegavam. Eu estava demonstrando todo o medo que tinha em meu corpo pela primeira vez. Não na vida, mas na frente dos meninos.
  - Relaxa, você vai estar de mãos dadas com o tempo todo. - O segurança deles falou, achando que me tranquilizaria. Entreguei minha mão a e ele fez o mesmo, descendo junto a mim, antes de todos os meninos. E dessa vez os flash’s não estavam para todos os lados, estavam focados em mim. Em mim e meu marido.
   apenas sorria. Eu tentava ao máximo sorrir, porém, meus sorrisos saiam como caretas.
  - Quer beber alguma coisa? - perguntou se sentando ao meu lado, em uma mesa reservada para a banda.
  - Mesmo que quisesse, a mesa é para banda. Meu nome é , não , , ou graças a Deus. - Ele sorriu. - Está sorrindo por quê? - Perguntei tentando olhar para trás, no mesmo local em que olhava. Uma tentativa falha já que ele olhava pra mim.
  - Porque você não disse “Graças a Deus não me chamo .” - O encarei e dei uma leve risada.
  - É óbvio que não… O está bem na minha frente. Ou você tem um gêmeo com o mesmo nome? - Respondi irônica e fui a caminho da área de acompanhantes, me sentando ao lado do segurança. Um segurança que não parava de me observar.
  - O que foi? - Fitei-o com seriedade.
  - Deveria dar uma chance para . - Se fosse só isso que ele tinha para falar, ele havia perdido tempo. Voltei a prestar minha atenção no palco. - Ele te trata assim porque gosta de você, . - Imagina se não gostasse… Os minutos que fiquei dentro daquele inferno, literalmente, pareciam horas. E sempre tinha alguém tentando tirar fotos minhas.
  “Aquela é a mulher do ?” Falaram de longe apontando para mim.
  - Ei. - O cutuquei. - Desde quando meu nome mudou para “mulher do ”? - Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, e obviamente, ele percebeu. Passou um de seus braços em meu pescoço e permitiu-me chorar em seu ombro. Levantou meu queixo com seus dedos e fitou-me mais uma vez.
  - Desde que foi para Las Vegas, . - Dei um longo e pesado suspiro voltando para minha posição inicial, vendo os meninos ganharem mais um prêmio.
  Já estavam todos visivelmente cansados de ver as mesmas pessoas com as mesmas roupas não fazendo nada. A premiação já havia acabado há algumas horas e ninguém havia se movido.
  -Não podemos ir embora? - Perguntei com a paciência totalmente esgotada. Mais uma vez.
  - Claro, vamos. - O segurança me respondeu e foi procurar os integrantes que faltavam. O que não demorou muito. Logo já estávamos a caminho da casa da babá de .
  - Como foi a festa? - Ela perguntou entrando no carro com os olhos brilhando.
  - Ótima, nos divertimos muito. - Disse sorrindo, e obviamente, mentindo.
  Os meninos dormiriam na casa de hoje. Traduzindo, não teria como eu dormir já que todos fazem uma barulheira desgraçada e eu tenho sono leve. Vou tirar férias dessas férias! Ri ao perceber que eu tecnicamente falo sozinha em pensamentos.
  - Rindo sozinha, ? - me parou antes que pudesse entrar em meu quarto.
  - Mais um péssimo hábito. - Respondi antes de dar mais um sorriso sarcástico e entrar em meu quarto.
  - ! - me gritou e eu fui correndo até a sala deparando-me com os cinco no vídeo game.
  - Puta que te pariu, ! Pensei que estavam te matando. - Suspirei puxando ar.
  - E estão. - Ele disse, se referindo ao jogo. Dei os ombros indo para cozinha, o único lugar com cadeiras e sem barulho. Agradeci a Deus por isso e acabei adormecendo apoiada na bancada de biscoitos.
  - Ela dormiu sentada! - Ouvi comentar seguido de várias risadas. Cocei meus olhos, dei uma leve ajeitada em meus cabelos com minha mão e levantei-me. Já era manhã e eu estava completamente destruída.
  - Ela está com dores. - Disse levantando as mãos em sinal de "me pegue no colo". Fiz minha melhor cara de abandonada e levou-me para minha cama.
  - Onde a está? - Até mesmo o Japão seria capaz de ouvir meu berro.
  - Calma mamãe desesperada, levou-a em um parque sei lá onde. - disse enquanto entrava no meu quarto com uma caneca e alguns comprimidos.
  - E você deixou o sair com a minha filha? - Perguntei-o levantando uma de minhas sobrancelhas, demonstrando certa preocupação.
  - Também é filha dele, . - Ele disse por fim, deixando-me sozinha com meus remédios para dor e uma caneca d’água. Me perdi em pensamentos.

   chegou um pouco mais tarde com nos braços. Não sei se era possível, mas ele ficava muito mais bonito com ela em seu colo. Estava na hora de uma trégua.
  - Posso conversar com você? - Pedi e os meninos sentaram no sofá junto a , dispostos a ouvir nossa conversa. - A sós. - Completei meu pedido e ele assentiu, vendo os meninos levaram para algum lugar sem ser aquela sala.
  - Eu queria pedir uma trégua. - Dissemos ao mesmo tempo e na mesma velocidade. Rápida. Acho que nenhum dos dois saberia qual seria a reação do outro e optou por pedir de uma vez. Soltei um leve riso e ele esticou sua mão até minha frente, fazendo-me apertá-la.
  - Finalmente! - Saíram de trás da porta da varanda cantarolando alguma coisa inaudível, fazendo-nos rir e partir para o videogame.
  Depois de perder para todos, inclusive , resolvemos sair para almoçar. No Nando’s, o que obviamente foi uma escolha do e ninguém retrucou. Por algum milagre couberam todos no carro de . Um no colo do outro, para ser exata. Descemos do carro e logo entramos no restaurante sentando na mesa mais longe da porta para evitar paparazzis ou fãs.
  - Não vou comer aqui não. - Disse ao analisar o cardápio e ver que não conhecia nenhuma daquelas comidas.
  - Eu garanto que é bom. - disse já devorando suas batatas fritas que haviam chegado assim que nos sentamos. Provavelmente o duende havia ligado para pedir. Esfomeado!
  - Me dá batata então. - Disse pegando a cestinha que tinha as batatas e iniciando uma enorme guerra com .
  - Parem! - pedia o mais autoritário possível deixando escapar alguns risos de vez em quando.
  - Ela que começou. - Ao ouvir a famosa frase de jogue a culpa em outro fiz minha melhor cara de santa e mexi nos cabelos de . O primeiro que vi para disfarçar minha culpa.
  Ninguém havia mais tocado no assunto "guerra de batatas" quando a comida chegou, exceto pela foto que havia postado em seu twitter.
  - Vamos? Quero dormir. - disse enquanto olhava seu reflexo por uma colher.
  - Você só sabe comer e dormir. - Disse desarrumando seu cabelo.
  - E ser bonito. - Ouvi-o completar enquanto íamos em direção ao carro. Estava entrando na frente quando abriu a porta para mim. Estranhei, e lembrei-me da trégua. Sorri agradecendo e entrei, observando os meninos nos zoarem junto com .
  - Tão levando minha filha pro mal caminho! - disse fazendo uma careta e arrancando boas risadas de todos. Logo estávamos todos deitados em cantos diferentes da sala com a barriga maior que o mundo. Provavelmente eu era a única acordada.
  Resolvi ir até a varanda, escutando passos atrás de mim.
  - Você sabe que eu não pedi trégua só por pedir, certo? - Era óbvio que seria ele. Quem mais me seguiria até a varanda? Apenas o ignorei esperando-o completar seu pensamento. - Eu realmente gosto de você. Não sei como, mas gosto. Muito. - dizia se embolando com cada palavra e corando ao mesmo tempo. Eu não sabia o que falar e fazer.
  - Prove. - Foi a única palavra que saiu de minha boca antes de voltar para sala. Eu não iria me machucar de novo, ainda mais em um casamento de contrato. Deitei novamente no meu canto da sala, fechei meus olhos e dormi.
  Acordei com a claridade da janela que eu havia me esquecido de fechar em minha cara. Não havia mais ninguém em casa exceto e comendo algo completamente improvisado na cozinha. Deduzi ser comida pronta.
  - Eu to com fome mesmo, como adivinharam? - Dei um leve sorriso, um beijo no rosto de cada um e desejei os devidos bom dia.
  Caminharia até ao banheiro para lavar o rosto e pentear o cabelo se eu não estivesse sentindo cheiro de queimado. Só estava esperando um dos dois me contar o que aconteceu, pedir ajuda, ou jogar um de meus perfumes no ar. havia feito a proeza de queimar lasanha de micro-ondas. E obviamente, eu tive que limpar, ou ele sujaria mais. Encarei-o.
  - O que vamos fazer hoje? - Depois de alguns minutos em silêncio, provavelmente pensando, ele resolveu responder-me.
  - ficará com a babá e nós sairemos. - Ele não havia me perguntado. Ele havia afirmado. E eu tinha gostado de sua atitude.
  O que eu sei sobre meu atual marido? Ele é meu ídolo. Com toda certeza já me traiu. É mais velho que eu. E diz estar apaixonado por mim. A pergunta é: Eu deveria acreditar? Deveria dar uma chance?
  Minha cabeça estava a mil, não me deixava fazer nada a não ser pensar. Eu não conseguia se quer escolher uma roupa. Uma roupa para sair com ele.
  "Não se arrume demais, nem de menos" Eu odeio quando uma pessoa diz isso. Sempre odiei, e sempre vou odiar. Tive de optar por uma coisa básica, nem tão básica assim. Vestido e bota. Caipira? Há quem diga que sim. Foda-se também. O corpo é meu, o pé é meu, e o encontro também. Encontro? Eu não deveria chamar isso de encontro. Não deveria, e nem posso. Meus pensamentos foram interrompidos por um barulho de vazo se quebrando.
  - Está tudo bem aí em baixo? - Puxei ar e dei um de meus gritos mais altos para que ele conseguisse escutar.
  - Só não consigo botar a gravata. - Gravata? Não era para não se arrumar demais? Nunca entenderei esse menino… Mas talvez seja essa a graça.
  Desci as escadas, ajudei-o com a gravata tentando o máximo não reparar o quão maravilhoso ele ficava com aquele smoking preto e a gravata borboleta da mesma cor. Catei os vidros do vaso e os joguei no lixo, seguindo-o até o carro.
  - Aonde nós vamos? - Perguntei sentindo minha visão ficar completamente preta. Aquele idiota que eu chamo de marido havia posto uma venda em mim.
  O carro já estava rodando há bastante tempo. Tempo demais para quem apenas levaria a mulher para jantar. Já estava quase começando a pensar que ele me mataria, cortaria meus pedaços e diria para e para policia que eu sumi. Meus pensamentos ruins foram cortados ao ouvir o freio.
  - Nem pense em tirar a venda. - disse e eu obedeci. Eu obedeci? Eu não obedeço nem a minha mãe! O que está acontecendo comigo?
  A porta se abriu e eu me apoiei em para sair. O salto de minha bota estava grudando no chão. Chão? Que espécie de chão faz sapatos grudarem?
  - Onde nós estamos? - E mais uma vez eu fui ignorada. Deveria começar a me acostumar.
  Depois de andarmos por pelo menos uns cinco minutos levantou meu cabelo delicadamente, e retirou a venda deixando-me ver um campo completamente vazio. Exceto por uma cesta e uma toalha. Ele planejava um piquenique de smoking?
  - Isso é lindo. - Eu disse em um sussurro vendo seus lábios formarem um lindo sorriso de canto de boca. Ele parecia satisfeito. Mesmo com meu argumento quase inaudível.
  Estiquei mais uma toalha e me sentei, abrindo a cesta e olhando oque ele havia trazido. Havia de tudo um pouco. De doces a salada. Ele realmente queria passar a noite fora.
  - Não vai se sentar? - Perguntei vendo-o encarar o nada. Sendo mais específica, a paisagem que não continha nada além de grama. Uma grama completamente verde e bonita.
  - Trouxe-te aqui para ver o por do sol. - Ele disse depois de seu momento reflexão, sentando ao meu lado.
  - Por isso o jantar de tarde? - Dei um sorriso completamente sincero.
  - Também queria ficar um tempo com você. Só com você. - Tempos atrás eu diria que queria alguma coisa com esse romantismo todo. Hoje, eu já não posso afirmar. Ele mudou. Amadureceu. Mas, afinal de contas, ele quer algo? Ou ele me quer?
  O encarei e sorri. Afinal, o que mais eu poderia fazer?
  - Não vai responder nada? - Ele disse me encarando, mais uma vez.
  - Me desculpe, , eu não sei o que dizer. - Ele deu um riso abafado.
  - O que foi? - Encarou-me e sorriu vitorioso. - Te deixei sem palavras. - Dei um leve tapa em seu ombro e me deixei contagiar por sua risada.
  Logo estávamos correndo por aquele campo feito duas crianças. Caindo e levantando. Fugindo um do outro. E parando para ver o por do sol.
  - Acredita que eu nunca fiz isso antes? - Dei uma leve corada ao perceber que já estava me abrindo com .
  - Nunca correu em um campo? - Ele perguntou rindo.
  -Não. Quer dizer, também não. Mas eu ia dizer que nunca vi um por-do-sol. - Peguei a primeira coisa que vi para ocupar minha boca. A vergonha que eu sentia era enorme. E sem motivo. Mas eu era assim.
  - Então eu sou seu primeiro? - Dei-lhe mais um tapa no ombro ao perceber o duplo sentido. - Eu vou ficar dolorido se ficar me batendo assim. - pegou a chave do carro e levantou, esticando o braço que eu não havia batido para me ajudar.
  -Eu faço massagem depois, neném. - Fiz uma voz afetada e ajudei-o a recolher o resto do piquenique.
  - Então pode bater mais. E em outros lugares. - Ele sorriu safado e eu dei-lhe mais um tapa no ombro.
  - Seu sujo! - Corri até o carro e sentei-me, recuperando o fôlego.
  - Para onde a madame deseja ir? - perguntou jogando as coisas no banco de trás.
  - Para cama. - Passou a marcha e começou a rir.
  - Depois o sujo sou eu! - Liguei o rádio ignorando seu comentário.
  - Eu não havia falado com duplo sentido. - Virei para janela fingindo-me brava.
  - Sei… - Minutos depois estávamos cantando ao som de Ramones. Éramos dois bipolares.
  - Chegamos! - Ele disse ao terminar de estacionar.
  - Pelo menos estou sem venda dessa vez. - Peguei algumas coisas do carro e retirei minhas botas cheias de grama para entrar em casa.
  - Ei, ei! Espera ai. - me berrou, literalmente.
  - Diga. - soltou as coisas no chão e passou os braços pelo meu pescoço fazendo um torto abraço devido a posição que estávamos. Estanhei, mas retribui.
  - Você achou que eu iria dizer algo? - Ele perguntou, ainda sem sair do abraço.
  - É o que as pessoas fazem quando gritam as outras. - Dei uma leve risada sendo acompanhada por .
  - Prefiro fazer isso. - soltou-se de nosso torto abraço e me beijou. Era como se tivessem um milhão de rockeiros em meu estômago. Borboletas não eram nada comparado ao que eu estava sentindo. Separei dando selinhos por falta de fôlego.
  - Mas já? - reclamava enquanto pegava as coisas que derrubou no chão.
  - Tá reclamando de que? Ainda deu sorte que não sou fumante. - Ele aumentou seu sorriso e abriu a porta deixando-me passar na frente. Joguei tudo no chão de uma vez só, exceto pelas botas, teria de lavá-las.
  - Mamãe! - saiu do nosso quarto me abraçando e fazendo várias perguntas juntas.
  - Sabe que não entendo quando fala rápido assim, não é? - Disse jogando minha bota dentro da banheira.
  - Desculpinha, só queria saber como foi. - Eu não consegui formar uma palavra para descrever como foi minha tarde, mas acho que o sorriso que formou-se em meu rosto respondeu a pergunta dela.
  - Volta a dormir, vai. - Dei um beijo em sua testa e levei-a até sua cama, cobrindo-a. - Boa noite meu amor. - Sussurrei ao sair do quarto. Fechei a porta e dei de cara com um cantarolando alguma música desconhecida por mim.
  - Boa noite, . - Sorri, tentando ser doce.
  - Boa noite, . - Deu-me um selinho e entrou na porta da frente, seu quarto. Entrar ou não entrar? Foda-se, já estou casada mesmo.
  Toquei a porta, mesmo aberta e adentrei, sem esperar a resposta. já estava deitado, com um espaço que provavelmente me caberia ao seu lado. Arrisquei.
  - ? - Perguntou, fazendo-me segurar a risada.
  - A mãe dela. - Seus olhos abriram na mesma hora e tornaram-se arregalados. - Quer que eu saia? - Fitei-o esperando uma resposta que nunca vinha.
<   - Que pergunta mais idiota, é claro que não. - Ele disse me abraçando por trás, fechando os olhos e cobrindo apenas nossos pés. Mania, talvez.
  Acordar com o barulho irritante do despertador alheio é pior que acordar com a claridade em seus olhos, acredite.
  - Não queria te acordar, vou levar na escola e depois vou para uma entrevista. - Esfreguei meus olhos, e o encarei. Meu cérebro demora a funcionar quando eu acordo.
  - Deixa que eu levo, vou só lavar a cara. - Ele me encarou e riu. - O que? - terminou de calçar seu típico all star branco surrado e me deu o espelho de mão.
  Eu havia esquecido de tirar a maquiagem, estava parecendo um primo muito próximo do panda.
  - Para de me olhar! - Disse virando para o lado contrário da cama.
  - Ei, para mim você é linda de qualquer jeito. - Derretida. Era assim que me sentia. Dei-lhe um selinho e combinei de surpreende-lo depois de sua entrevista. A pergunta é: Como? Com que? O segurança!
  Corri até a mesa de cabeceira de e fuxiquei sua agenda telefônica. Muitos telefones que eu pegaria para mim, se não tivesse vergonha na cara.
  - Alô? - Depois da única ajuda que eu precisava resolvi tirar minha maquiagem não planejada de panda.

  - Cheguei! - Escutei chamar da porta de entrada. Corri até o sofá e fingi estar dormindo.
  - ? - Ele me cutucou e eu ri. Não aguentava fingir por muito tempo. A verdade é que sempre fui uma péssima atriz. - Você estava fingindo! - Ele me encarava completamente ansioso. Parecia querer perguntar sobre sua surpresa, mas estar se segurando ao máximo. - Qual é minha surpresa? - Caminhei até o quarto de ainda sem dizer nada, abri seu móvel e peguei as três passagens para Las Vegas.

  - Você tem certeza disso? - perguntou ao ouvir a última chamada para nosso vôo.
  - Mas é claro. - Nós não pudemos aproveitar solteiros, aproveitaremos casados, com nossa filha. Nossos sorrisos estavam enormes. Difícil dizer qual era o maior.
  Adentramos o avião e sentamos todos juntos. Na mesma fileira. Econômica, um pedido meu. Não queria que a primeira viagem da minha fosse junto a riquinhos. Pelo menos assim, estamos juntos. Botei meus fones e apaguei.
  "Ela não é linda dormindo? x" O encarei e ele fingiu não ser com ele. havia postado uma foto minha no twitter. As fãs apenas retweetavam. Eram poucas as que me xingavam, e para minha sorte, nunca liguei para isso. Sempre soube que terão pessoas querendo sua infelicidade.
  - Papai, não vai tirar uma foto com aquela moça? - Ao olharmos para a tal moça que apontava, surpreendi-me. Não era só uma . Era a . Linda de rosto e corpo. Não que eu seja lésbica, ou bissexual, sou completamente hétero. Apenas nunca tinha visto uma mulher tão bonita feito aquela.
  - Não. - respondeu.
  - E por que não? Ela é sua fã. - Ele me encarou com um olhar suspeito. -Confio em você. - Disse por fim, caminhando até o duty free com para esperar .

Epílogo

  Quando dizia confiar em alguém, ela realmente confiava. Nunca achou razões para mentir sobre confiança, ou amor.
  - Pai, me chamou para sair com ele e o filho… - já não tinha mais cinco anos. Ela tinha dez a mais. Seus olhos estavam mais claros, e sua pele, por incrível que pareça, mais escura. Seus cabelos continuavam do mesmo jeito. Lindos.
  - Ele virá te buscar? - a encarava sabendo ter feito um bom trabalho. Sua filha estava linda.
  - Ele já está aqui. - Assim que abriu a boca para falar, o cortou por falta de tempo. - Mamãe está no quarto, acabou de acordar.
  O pai sorriu satisfeito. Sua filha o conhecera muito bem. Levou-a até a porta e esperou que entrasse no carro. Deu um aceno para e , seu filho de um ano a menos que .
   havia se casado com , melhor amiga de , assim que soube de sua gravidez. E estava perdido em pensamentos, de porta aberta no inverno Londrino.
  - Vai pegar um resfriado. desceu as escadas assustando sem querer.
  - Pensei que demoraria a descer. - Cumprimentou-a com um pequeno beijo, envolvendo seus braços aos dela. Caminharam assim até a cozinha, para o café da manhã que não estava pronto.
  - Dei férias para empregada. - disse ao ver a cara de espanto de sua mulher. A cozinha estava uma zona, e completamente sem comida. Afinal, não era para menos, os meninos tinham passado a madrugada ali. abriu um sorriso e correu para a bancada, abrindo-a. Essa era o momento perfeito para provar seus dotes não tão culinários.
  Pegou o leite condensado e um pouco de achocolatado. Passou manteiga na panela e jogou os ingredientes, mexendo.
  - O que está arrumando ai? - segurou o riso lembrando que sua mulher não sabia fazer nem macarrão instantâneo.
  - Brigadeiro! - deu um grito agudo e contente, rindo ao ver seu marido encara-la com uma cara de interrogação. - É um doce brasileiro. - Pegou duas colheres, mergulhando-as no doce. Uma para cada um. fitou o doce marrom por alguns segundos, enfiando a colher na boca o mais rápido possível.
  - Como você está casada comigo há dez anos e só faz isso agora? - Reclamou o marido, abraçando-a por trás.

  “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.” Clarice Lispector

FIM!



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