Casa da Árvore
Escrito por Ray Dias | Instagram | Twitter
Revisado por Natashia Kitamura
“If time were still, the sun would never never find us... We could light up the sky tonight.”
— !
Mamãe gritou meu nome e imediatamente abri meus olhos, assustada. Ele ainda estava ali, com os olhos fechados, os lábios pousados aos meus.
— ... — chamei entredentes, já que ao mesmo tempo que precisava, eu não queria separar nossas bocas.
— ! O que vocês estão fazendo aí em cima?
A voz de mamãe, ainda mais alta me fez despertar e então empurrei . Ele caiu deitado no chão da casa da árvore, e eu me levantei indo diretamente a portinha, sem ao menos pensar o quanto deveria estar rubra por meu recém-dado-recebido primeiro beijo.
— Oi mãe! A gente se distraiu com o telescópio!
— Ah... sei! — Mamãe falou em tom desconfiado abaixo da árvore — Desçam para jantar, seu pai vai levar o para casa logo em seguida!
— Estamos descendo!
Entrei novamente, e ainda estava estatelado ao chão, olhando para o telhado da casinha. Nós estávamos observando estrelas, como fazíamos nas noites de quinta-feira, quando disse ter visto um meteorito passando. Eu queria ver também, mas ele não deixava, em uma habitual e pequena implicância nossa, empurrei-o. caiu deitado ao chão e eu tomei o espaço do óculo do telescópio, mas, como sempre paciente e cortês, meu melhor amigo voltou a sentar-se ao meu lado e permitiu que eu vislumbrasse as estrelas.
era daquele jeito comigo: gentil, mesmo que quisesse a maior e última bola de sorvete do nosso sabor preferido. Sorri por notar que ele me deixou, mais uma vez, ganhar uma disputa entre nós, mas me sentindo culpada o propus que dividíssemos, e então, quando ele se aproximou da lente e sorriu largo por ver algo fantástico, tal como eu vendo o seu sorriso lindo, beijei sua bochecha. me encarou sobressaltado por meu impulso de carinho, e em seguida, beijei seus lábios. Eu nunca havia beijado um garoto, nem garota, na boca. Mas era o que eu queria beijar desde que parei de pensar em bonecas e passei a pensar em como perderia o meu BV.
— É a segunda vez que você me empurra hoje! — Ele murmurou se levantando, sentado à minha frente falou: — Eu gostei muito disso.
Ruborizei e senti um constrangimento que jamais pensei ser possível entre nós.
— Mas, sua mãe não gosta de chamar três vezes, então é melhor a gente descer, .
— Espera! — Toquei seu punho quando ele fez menção de se levantar e me olhou — A gente... A gente.... Pode fazer isso de novo, depois?
sorriu tímido como era, e coçou a nuca dizendo:
— Acho que sim. Você... você gostou?
— Gostei. Teve gosto de sorvete de menta.
Na mesma hora fez careta arregalando os olhos.
— O que significa que você mentiu e tomou o sorvete sem mim, hoje!
— Desculpe, , mas não dava para esperar até a outra quinta-feira e se eu não tomasse, mais uma vez, você ficaria com a última bola e você não divide comigo só para me irritar!
— Tudo bem... — falei rumando para as escadas da casa da arvore com logo atrás de mim: — Mas você me deve um sorvete, e... Outro beijo.
O sorrisinho cúmplice que demos um ao outro, ficou para sempre cravado em nossas memórias.
“If it's you and me forever. If it's you and me right now, that'd be alright... Be alright...”
Desde que e eu tivemos o nosso primeiro beijo, nós nunca mais paramos de nos beijar. Ela era... Como ela dizia mesmo? Ah, claro! BFK: Best Friend Kisses, ou seja, melhor amiga de beijos. era dada a inventar cargos e relações que não faziam muito sentido, mas eu gostava. Gostava de tudo nela.
Era o primeiro dia dos namorados em que eu estava decidido a não ser mais BFK dela. Logo iríamos para o terceiro ano colegial e me atormentava a ideia de nos separarmos na faculdade, apesar de ter sido contundente quando disse que “nós iremos para a mesma universidade”.
— , tem certeza que a vai aparecer no jogo? — Joe perguntou olhando para todos os lados.
Era a final do campeonato estudantil de basquete, eu não jogava e nem Joe, mas o Peter Johnson sim, e eu havia dado uma grana para ele fazer a última cesta do jogo e dedicar para em meu nome. Apesar de não gostar muito de praticar esportes, ela gostava muito de assistir ao Basquete com o pai dela. E já estávamos quase no final do jogo e ela ainda não tinha aparecido.
— Tem algo estranho mesmo, já era para ela estar aqui!
— Olha lá! Mais um casal formado no telão da escola! O diretor não deveria proibir essas coisas? — Joe ria apontando para Elizabeth e Ashley se beijando em pleno pedido de namoro no dia dos namorados.
— Droga! Acho que não fui muito original tendo a ideia de pedir ela em namoro hoje!
— Claro que não! – Joe disse óbvio — É dia dos namorados. Ela já respondeu a sua mensagem?
— Disse que estava a caminho, mas já faz dez minutos!
— Por que ela não veio assistir ao jogo antes?
— Tem uma prova essa noite do cursinho, disse que se não estudasse estaria frita e me mandou assistir e gravar o jogo, mas que chegaria na final, já que eu dei um jeito de dizer para ela que a Thompson ia fazer uma revelação.
— E a nunca perderia uma fofoca, ainda mais com o nome de sua arquirrival, Ângela Thompson! — Joe murmurou em tom de narrador de filme infantil.
— Vamos! Eu preciso encontrá-la!
Não era estranho imaginar que estaria na biblioteca ou no gramado do pátio estudando, já que a escola estaria toda concentrada ao jogo. Joe e eu nos direcionamos primeiro à biblioteca. E ainda não sei dizer se foi melhor ir direto para lá, ou para o pátio.
— Er... Tem certeza de que ela vai estar... — A voz de Joe parou exatamente no momento em que ele encarou o mesmo ponto que eu.
guardava seus livros, apressada, quando Richard apareceu ao seu lado e tocando seu ombro sorriu. Ela o sorriu de volta, e de repente, lá estavam as mãos dele na cintura dela, com um cartão na outra, e seus lábios grudados.
— ?
— Vem, vamos embora antes que o PJ faça a maldita cesta de 100 dólares!
— Pagou 100 pratas para ele fazer o que sempre faz e apontar para uma menina? — Joe perguntou abismado.
— Cala a boca, Joe!
Saí em disparada para fora da escola. Tudo o que eu queria naquele momento, era chorar.
Um pouco mais tarde, apareceu na minha casa, soltando fumacinha pelas ventas por eu tê-la deixado esperando no pátio.
— Como terminou o jogo? — Perguntei, um pouco curioso embora estivesse com raiva.
— Perdemos! Peter Johnson tropeçou na última cesta.
— Quê!? — Fiquei revoltado! Pelo menos, eu poderia pedir meus cem dólares de volta.
— Se não está com essa cara de quem deixou a última bola de sorvete cair porque perdemos, o que houve, então?
— Não enche o saco, .
— ? — Murmurou surpresa e chateada: — Você nunca falou assim comigo...
— Eu só não estou legal, tá. Você veio falar comigo?
— É, não entendi que você saiu antes de mim. O Joe disse que a gente precisa conversar quando passei por ele lá embaixo, o que foi? Descobriu que a Ângela ia te pedir em namoro?
Então minha cabeça girou.
— Quê?
— A revelação. Há uma semana que eu soube o que era, mas eu não podia te contar... vai que estragava uma surpresa que você quisesse. — Ela deu de ombros fingindo indiferença — Sempre notei o jeito que você olha para a Thompson.
— Está maluca?! Eu nunca olhei desse jeito para a Ângela Thompson!
— Hm... Em todo caso, ela estava te procurando no final do jogo. Certamente iria mesmo te pedir em namoro!
— Ah que droga! Tudo que eu não precisava agora... — reclamei e observei sacudindo as pernas sentada à minha cama, e encarando o chão: — E você? Nenhum pedido de namoro hoje?
— Richard! Acredita nisso? Ele apareceu na biblioteca quando eu estava saindo, com um cartão chinfrim e me tascou uma beijoca sem aviso ou pedido!
— Ah é? Ele te beijou? E você...
— Dei-lhe uma bofetada, claro! — me interrompeu: — Nenhum homem me arranca uma beijoca sem que eu conceda! Nem mulher!
e seus rompantes que me surpreendiam. Naquele momento, eu fiquei aliviado. Tudo não havia passado de um mal-entendido. No entanto, eu perdi a coragem. E sem coragem seguimos por muito tempo. Até que no último ano colegial, nossos caminhos se perderam. Não pedi em namoro, e ela me cobrou aquilo quando Peter Johnson a chamou para sair e eu quis cobrar algo dela. No fim, estava certa, se eu não a queria namorando com outro, por que nunca fiz o pedido?
Nunca soube responder algo que não fosse: covardia. E bom, o último ano colegial foi um ano cheio para nós dois. Permanecemos amigos, lógico, ela namorando com o PJ e eu.... Eu me tornei o cara tímido que as mulheres queriam, mas que não queria compromisso com elas, então foquei em estudar. Uma pena que a não me escutou e estudou menos do que namorou, e no fim não conseguiu entrar na mesma universidade que nós sempre planejamos. E foi ali que nossos caminhos divergiram.
“Now the past, is coming alive and give it meaning, and a reason... To give all I can To believe once again...”
Nós nunca deixamos de ter contato, o e eu. Apesar de certa distância imposta por nossos cursos, que eram em cidades diferentes, uma vez por mês nos encontrávamos. Meu namoro com o PJ não durou mais que um ano depois da escola. E o ... eu nunca sabia porquê ele não namorava, ou não me contava sobre aquilo.
— Que bom que você e voltaram à cidade um pouco! Desde que foram para suas faculdades nós não só vemos pouco aos dois, como também não os vemos juntos! — Mamãe falou risonha colocando a mesa do jantar.
e eu decidimos que naquele mês iríamos nos encontrar em nossa cidade natal e observar as estrelas como não fazíamos há alguns anos. Então, os pais e irmãos dele iriam jantar em nossa casa. Ajudava mamãe a pôr a mesa, e conversávamos sobre a nostalgia que aquele momento representava.
— Realmente, mamãe. e eu não nos reunimos como antigamente há muito tempo! Mesmo quando a gente se vê uma vez por mês, é sempre rápido.
— Seu pai e eu sempre achamos que vocês seriam namorados.
— É, no fundo, eu também...
— O que houve que isso nunca aconteceu? — Mamãe perguntou.
Escorei na janela da sala de jantar e olhei para a casa da árvore, do lado de fora no quintal.
— Eu não sei, mãe. Sei lá, acho que nós perdemos o timing.
— Bem, então, pode ser que ainda o encontrem.
— Ele foi meu primeiro beijo, mãe. — Confessei nostálgica olhando para a casa na árvore e minha mãe jogou o pano de prato em mim, revoltada por eu não ter dito na época: — Ali na casa da árvore.
— Vocês passavam mesmo muito tempo lá.
— Mas juro que foi só isso! — Falei logo desfazendo a expressão de preocupação dela, e mamãe riu.
, Joe, Nicholas e Frankie — agora maior — entraram em casa, junto de seus pais Denise e Paul. Nós nos abraçamos quando nos vimos e meu melhor amigo e eu, fomos direto para a casa da árvore observar no velho telescópio as estrelas, como era a promessa daquele reencontro.
— Contei hoje para mamãe que aqui foi o meu primeiro beijo com você.
— ! — exclamou sem jeito: — Por isso ela estava me olhando daquele jeito de quem sabia um segredo!
— Oras, ! — Gargalhei — Você contou para alguém também?
— Todos lá em casa sabem desde aquele dia. Cheguei nervoso em casa gritando: “Mãe, pai, eu beijei uma garota!”, antes de entrar no meu quarto correndo e aí... Foi fácil sacarem quem era a garota.
Comecei a rir, mas fui logo bronqueada pelo meu amigo:
— Não ria! Isso foi piada interna na minha casa por anos!
— Mamãe me disse que ela e o papai esperavam que a gente fosse namorar.
— Todo mundo esperava isso!
— Até você, ? — Perguntei e ele soltou o telescópio me encarando, quase repetindo a cena de muitos anos atrás.
— Até eu.
— E por que a gente não namorou antes, ? — O tom de frustração era nítido e eu não queria esconder. Aquela era uma mágoa que eu carregava.
— Eu ia te pedir em namoro naquele jogo em que o Richard te beijou. Eu paguei cem dólares para o PJ fazer a cesta da vitória e dedicar a você. Mas então, fui te procurar na biblioteca e vi o Richard te beijando.
— O quê?! — Empurrei que caiu ao chão, sentado e me olhando surpreso — Não acredito que não me contou! Não acredito que não me pediu, ! Eu esclareci tudo para você naquele dia!
— Perdi a coragem. E depois, toda vez que eu pensava em tocar no assunto, eu não sabia se você diria “sim”. Não depois de ver que você achava que eu ficaria com a Ângela Thompson! Logo eu, que nunca tive olhos para nenhuma garota senão você...
dizia aquilo tudo rindo, como se a cena passasse em frente aos seus olhos. E no mesmo impulso de anos atrás, eu o beijei de novo. Dessa vez, era um beijo mais maduro.
— ! — Mamãe gritou e então nos separamos aos risos.
— Já vamos! — Gritei de volta e e eu nos levantamos.
Ele guardava o telescópio e de repente perguntou:
— Que dia é hoje?
— 12 de Fevereiro, Valentine Day’s.
— Então, quer namorar comigo ou estou muito atrasado? — Perguntou simplesmente.
— Olha só quem teve coragem!
Minha resposta foi outro beijo. E como era bom beijar . Meu melhor amigo. Meu BFK. Meu primeiro amor. Eu sentia falta daquilo, e como sentia! Mamãe me gritou mais uma vez, e e eu rimos do quanto aquela noite parecia uma volta ao tempo. Começamos a descer as escadas, quando uma dúvida me surgiu:
— Espera! — Toquei seu punho, e riu pela nostalgia que estava até mesmo nos nossos trejeitos — Os cem dólares, você pegou de volta? O PJ perdeu aquele jogo!
— Não. Ele não devolveu e ainda te pediu em namoro. Ou seja, pelos meus cálculos, você me deve cem dólares e... Três anos em beijos.
— Te pago no dia que me pagar o sorvete de menta.
— Hey, eu paguei o beijo que você queria.
— Fico te devendo só os cem dólares. Aliás, não fico não, você conseguiu a garota no fim das contas.
Descemos rindo e encontramos mamãe parada ao pé da casa da árvore.
— Afinal, o que vocês faziam lá em cima, hein? — Olhou desconfiada.
— Reavendo aquele timing perdido. — Falei e ela arregalou os olhos demonstrando felicidade.
— Estou muito atrasado para pedir permissão para namorar a sua filha?
— Finalmente, ! — Mamãe o abraçou e em seguida saiu nos puxando para dentro de casa: — Agora, vamos! Sabem que eu não chamo mais de duas vezes para jantar!
E o encerramento daquele momento, foi com , meu agora namorado, entrando na minha casa gritando:
— Mãe, pai! Eu beijei de novo uma garota!
FIM
Nota de Autora: Estava sentindo saudades dos Jonas Brothers, então peguei a minha lista de músicas para escrever songfic, e resgatei “Fly With Me”, que é o tema dessa história e então, nasceu “Casa da Árvore”. Espero que vocês gostem ♥