Cartas de São Félix

Escrito por Maraíza Santos | Editado por Natashia Kitamura

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  Matheus passou como um furacão pelo corredor. Embora debaixo do ar condicionado por 3 horas, o rosto estava molhado de suor.
  – Cuidado, Matheus! Tá que nem doido, é? – exclamou Juliane quando o amigo quase a atropelou.
  O homem entrou no banheiro da empresa com um estrondo. Segundos depois, o barulho de quem vomitava preencheu o pequeno escritório.
  – Caramba, será que o almoço não fez bem a ele? – indagou Juliane aproximando-se da colega de trabalho, Lygia. – Ele comeu tão animado, até repetiu.
  – Acho que foi por outra coisa – disse Lygia, apontando para mesa dele com o queixo. – Ele leu essa carta e saiu xingando antes de botar as tripas pra fora.
  – Carta? Quem manda carta numa época dessa? – Juliane pegou a folha solta com aparente indiferença. – O que diz aqui?
  E leu em voz alta:

  “Querido Matheus,
  Foi difícil encontrar um endereço atual seu. Descobri pela nossa antiga vizinha que você se mudou de Minas para Pernambuco ainda na adolescência. Recife, hein? Você sempre disse que gostaria de morar mais perto do mar, ir para um lugar mais quente.
  Espero que seja tão agradável quanto você imaginava que seria.
  Viajei para São Félix do Tocantins esse final de semana. Faz muito muito tempo que não visitava esse lugar. Continua sendo um dos lugares mais bonitos que já vi. Dessa vez fiz rafting no Rio Sono  com uns amigos e foi uma loucura! Tinha me esquecido como era divertido. Pena que na época que nós fomos você ainda era muito pequeno e não pode participar.
  Tirei algumas fotos na Serra da Catedral que ficaram belíssimas. Envio junto com a carta alguns cartões postais que achei. Adoro esse contato com a natureza e mais uma vez afirmo que as belezas brasileiras dão de dez a zero nas paisagens gringas.
  Mas isso você já sabe, não?
  Dessa vez deu pra dar uma passada no Fervedouro do Alecrim e confesso que fiquei meio decepcionada. Não podemos ir muito longe, pois parte virou mais área de preservação do que qualquer coisa. Houve um incidente recentemente que fez o pessoal ter mais cuidado com os turistas. É uma pena.
  Espero que você esteja bem, meu irmão. Continuarei vigiando e cuidando de você para que viva plenamente.

  Da mulher mais incrível do Brasil, que também é sua irmã,
  Helena.”

De: São Félix do Tocantins - TO
Para: Recife - Pe

  – Putz – murmurou Juliane. – Tem nada demais nessa carta. Que menina antiquada, poderia ter resumido isso tudo é um áudio no zap. Não sabia que Matheus tinha uma irmã...
  – Ele não tem – disse Lygia, pálida de repente. – Você sabe que eu e Matheus nos conhecemos desde criança… A família da gente sempre viajou junta…
  – E...? – perguntou a mulher sem entender.
  – Helena era a irmã mais velha dele – prosseguiu Lydia. – Ela morreu faz 20 anos fazendo rafting no Rio Sono.

FIM



Comentários da autora

  n/a: Um contozinho pequeno desse lugar que nunca tinha ouvido falar, mas agora quero muito visitar! Espero que tenham curtido a história <3 Até breve!