Care About

Escrito por Annelise Stengel | Revisado por Pepper

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Capítulo 1.

  - Obrigada, muito obrigada! Não vou desapontá-la, Sra. Brooks! - dizia, agradecendo a mulher. A Sra. Brooks sorriu.
  - Ora, não há de quê. Eu apenas a empreguei! - ela parecia envergonhada, ao mesmo tempo que se encantava com a garota que aparecera naquela manhã. A menina havia vindo à respeito do cartaz de "contratam-se garçonetes", e parecia bem empolgada em conseguir o emprego.
  A Sra. Brooks na verdade se chamava Takahashi Miki, antes de se casar com um inglês chamado John Brooks e tornar-se a Sra. Brooks. Ela deixara o Japão com o marido para vir morar na Inglaterra, e abriu o seu café "Coffie&Coffie", que comandava há apenas alguns meses com apenas quatro ajudantes. Uma das garçonetes da tarde ficara doente recentemente e tivera que se afastar por um tempo, logo, teve que abrir novas vagas.
  A garota que aparecera apresentou-se como , de 19 anos. Ela dissera estar precisando muito de um emprego, mas não conseguia nenhum por ser brasileira. Embora ela falasse o inglês fluentemente e pudesse se camuflar, as vagas sempre eram dadas preferencialmente a ingleses ou pessoas da União Europeia. Ao vê-la, a Sra. Brooks percebeu que ela podia estar passando por dificuldades, e sentiu compaixão com a garota. Empregou-a, pelo fato de que a mesma tivera alguma experiência com restaurantes no Brasil, e porque sentia que ela seria esforçada e seria uma boa empregada.
  - Você pode começar amanhã. Venha direto da universidade e almoce aqui, então já pode começar, certo? - ela sorriu. Ela ainda tinha um pouco de sotaque, o que achava super fofo.
  , ao ver o nome do café e sua aparência adorável, sentiu que precisava trabalhar lá. Estava urgentemente precisando de emprego pra conseguir pagar os livros da faculdade, além de ajudar um pouco nas despesas de casa. Quando a Sra. Brooks a recepcionou com um alegre "bom dia" em japonês, e depois apressou-se em corrigir, a garota queria abraçá-la. Sempre fora meio fã de animes e mangás, então ter uma contratante japonesa era fascinante.
  Miki Brooks não era muito alta, com um cabelo chanel bem preto, sempre solto e esvoaçando. Embora tivesse lá seus trinta e poucos anos, aparentava bem menos, e seu porte delicado ajudava nisso. a vira tratar com clientes enquanto esperava para falar com ela, e Miki parecia ser uma daquelas japonesas bem entusiasmadas, então supôs que o ambiente de trabalho não seria ruim.
  - Obrigada, de novo! - acenou enquanto saía do Coffie&Coffie. Teria que perguntar o por quê do nome depois.
  Foi andando para casa, não era tão longe. O café ficava perto de um metrô, então ela poderia voltar rápido da faculdade. Seu apartamento também não era muito longe de um ponto, o que facilitava seu transporte diário. Mas ela gostava de andar. Principalmente quando não estava com pressa. Parou no caminho e comprou um Cup Noodles, que possivelmente seria seu jantar daquele dia. Precisava se lembrar de no dia seguinte ir ao supermercado, e ao banco. Imaginou se teria tempo depois da universidade. Ainda era terça; talvez por causa do novo emprego, ela só conseguisse parar para fazer compras no fim de semana.
  Chegou na frente de seu prédio e soltou um suspiro. Viver sozinha era bem mais complicado do que esperava.

  - Ah meu Deus, eu não acredito que já estou atrasada! - exclamou, empurrando algumas pessoas na frente do portão da faculdade e saiu correndo até o metrô. Demoraria mais se fosse a pé. Passou seu bilhete e continuou a correr, conseguindo entrar num vagão antes que esse fechasse as portas. Respirou, um pouco aliviada, e conferiu para onde estava indo. Engasgou e começou a bater na porta.
  Pegara o metrô errado, estava indo na direção oposta.
  Choramingando, esperou até a próxima estação e foi a primeira a saltar, correndo para a próxima plataforma e dessa vez pegando o metrô certo. Queria morrer. Seu lado esquerdo já doía de tanto correr, e provavelmente estava descabelada. Seu estômago roncava de fome, mas do jeito que estava atrasada, provavelmente não conseguiria almoçar a tempo. Encostou a cabeça na barra de ferro que segurava e tentou se acalmar.
  Finalmente desceu no ponto certo e subiu rapidamente até a rua. Orientou-se por alguns segundos e então já estava na rua certa, próxima ao café. Passou a entrada e foi até a porta lateral, próxima às latas de lixo, e entrou.
  - -chan! - a Sra Brooks exclamou ao vê-la. achou graça na forma que ela dissera seu nome.
  - Desculpe... o atraso... Sra Brooks. - a mais nova tentava recuperar fôlego. A Sra. Brooks sorriu e fez sinal para que ela sentasse.
  - Não se preocupe. Fica mais movimentado depois da hora do almoço, por enquanto, o -san consegue dar conta lá. Sente, sente, coma tranquila. - a Sra. Brooks quase a forçou a se sentar.
   corou, finalmente obedecendo. -san? Achava que ia trabalhar com outra garota. Seu parceiro então era um homem? Corou com a ideia, e depois reparou no que a Sra. Brooks trazia nas mãos.
  - ISSO É UM OBENTO? - não conseguiu controlar a voz, surpresa, inclusive se levantou da cadeira, olhando o tupperware que a japonesa trazia em suas mãos. - Sra. Brooks... não precisava. - coçou a nuca, embaraçada. A mulher sorriu.
  - Eu não tenho filhos ainda, então é um prazer cozinhar e trazer para alguém! - Ela estendeu a comida e abriu, sentindo um cheiro delicioso vindo de lá.
  - Puxa Sra. Brooks... isso está lindo! Dá até dó de comer! - riu. Seus olhos lacrimejaram. - Obrigada, Sra. Brooks.
  - Pode me chamar apenas de Miki-chan, se quiser. E coma, coma. Depois você ainda precisa se trocar.
  A garota, que já avançava na comida com um apetite voraz, interrompeu-se com o garfo ainda suspenso no ar.
  - Me trocar?
  - Sim. Um dos motivos pelos quais sempre quis abrir um café foi as roupas que as garçonetes usam! - Miki-chan colocou as mãos no rosto e pareceu sonhadora. engoliu em seco, torcendo para que não fosse uma daquelas roupas de Maid. Ela simplesmente não ficaria bem naquilo. Antes que pudesse perguntar, um garoto alto, de cabelo meio bagunçado e olhos , entrou na parte destinada aos funcionários.
  - Sra. Brooks, por quanto tempo mais ficarei sozinho lá? - ele parecia entediado, mas respeitoso. admirou-o discretamente.
  - Não se preocupe, -chan, que vai ser sua nova colega de trabalho, já está terminando aqui e indo lá. - Miki apontou para a garota, que ainda mantinha o garfo suspenso no ar. Ela deu um sorriso fraco, sendo avaliada por aqueles olhos .
  - Hm. - ele disse apenas, parecendo desprezá-la, e deu as costas, voltando para a loja.
   fechou a cara, qual era o problema dele para olhar para ela daquele jeito, como se ela fosse um pedaço de lixo? Que menino metido.
  - -chan, se apresse! Realmente não podemos deixar o -chan sozinho por muito tempo! - Miki a apressou, e ela acordou de seus devaneios à respeito do garoto, concordando e terminando a refeição em tempo recorde.
  - Onde me troco? - perguntou, receosa, enquanto tirava uma escova de dentes da bolsa. Largou tudo num armário que era para as funcionárias e foi indicada um banheirinho. Entrou lá e então Miki jogou para ela uma roupa num cabide. Sem nem ao menos ver direito, escovou os dentes e o cabelo, prendendo-o em um rabo de cavalo. Retirou a roupa que vestia e a embolou num canto, e começou a colocar o vestido. Quando terminou, se olhou no espelho e reprimiu um grito.
  Era um vestido bonitinho, mas aquele laço no seu ombro a deixava estranha. E a meia calça também, nem parecia roupa de trabalho. Ela toda estava estranha, ela não servia para aquele tipo de roupa. Choramingou e arrumou suas coisas, saindo do banheiro.
  - AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA -CHAN! - levou um susto com o grito de Miki e pensou que estava horrível. Corou e quis voltar e se esconder no banheiro para sempre, mas não poderia, porque foi agarrada por uma japonesa. - Você está linda! Eu sabia que ia dar certinho em você!
  - Erm, obrigada, Miki-chan. Acho melhor eu ir ajudar o então.
  - Ah sim, vá lá. Boa sorte!
  - Obrigada! - agradeceu, se sentindo nervosa, e passou pela porta. Agora, era hora de trabalhar.

Capítulo 2.

   se esforçara o dia inteiro para não derrubar nada, ou tropeçar, ou esquecer pedidos de clientes. Fazia muito tempo que não trabalhava como garçonete, e não podia desapontar Miki-chan logo no primeiro dia. Por isso, mal reparou no tempo passando. Só parou quando foi até a porta e virou o aviso, indicando que estavam fechados, depois de os últimos clientes saírem. Ela não trocara nenhuma palavra com ele o dia inteiro, e também não sentira vontade. Ele estava sempre com aquela cara fechada, como se fosse superior, e aquilo a irritava. Esperava mesmo que não tivesse que falar com ele.
  - Puxa, que dia longo! - Miki comentou, sentada na frente da caixa registradora e fazendo contas. - Como está, -chan?
  - Estou bem, obrigada, Miki-chan! - ela sorriu. Espanou um pouco o vestido com as mãos e tirou os sapatos, que começavam a machucar. - Vou me trocar e volto para a limpeza.
  - Hai! - a chefe concordou, meio distraída.
   voltou para a parte dos funcionários, sapatos em mãos. Cantarolou qualquer coisa e empurrou a porta que separava o vestiário do acesso à cozinha, mas interrompeu-se, corando. virou-se para ela, a camisa branca de botões que vestia aberta, exibindo um físico perfeito. tentou não fazer um som de engasgo, embora sua garganta tivesse travado naquela hora. Ela nem tinha reparado no uniforme dele antes, mas era uma camisa branca com calça preta, e uma gravata da mesma cor do vestido que ela usava. Encararam-se por alguns segundos, até soltar um muxoxo e pegar o resto da roupa, seguindo pro banheiro. sentia o rosto arder enquanto andava até seu armário, e pegou as roupas para se trocar. Esperou um pouco, para que saísse do banheiro.
  Não demorou muito e eles continuaram sem se falar. Ela tentou se vestir o mais rápido possível, pra ajudar o quanto pudesse na limpeza. Guardou o uniforme e se descobriu sozinha na parte dos funcionários. Olhou o relógio. Não podia se atrasar muito, já estava tarde. Ela ainda tinha que fazer dois trabalhos pra faculdade, o jantar, tomar banho...
  Afastando esses pensamentos, voltou para o restaurante. Miki ainda estava fazendo contas, e passava pano nas mesas. adiantou-se, pegando a vassoura, e indo para o outro lado do café. Tentava se concentrar, mas sua mente não desligava de tudo que tinha que fazer quando chegasse em casa.
  Devia ter varrido a mesma parte do chão várias vezes, mas nem percebeu. Só parou o que fazia quando, ao se virar para limpar atrás do balcão, deu de cara com . O problema é que levava uma bacia com todos os talheres recém lavados, para serem colocados nos devidos lugares, e quando se virou, bateu nele. Obviamente o menino não estava preparado para aquilo, então tudo foi ao chão.
  - Oh! - Miki (que agora arrumava os pratos), assustou-se, enquanto largava a vassoura para cobrir a boca de susto. A vassoura fez outro barulho incômodo e bufou, provavelmente contando até 372 pra se acalmar.
  - Desculpe! - apressou-se em se abaixar e começar a recolher os talheres. abaixou também, mas apenas para impedi-la. Ela o olhou, confusa.
  - Deixa isso. - sua voz era fria e grave. não olhava para ela. - Vai ter que lavar tudo de novo. Amanhã eu chego mais cedo e faço isso. - era óbvio que aquilo o deixava muito descontente. A garota abanou a cabeça, negando.
  - Eu fico aqui um pouco mais, lavo e já guardo tudo! - impôs-se, colocando todos os talheres de volta. Sentiu que a olhava, mas seu rosto estava corado demais e preferia não sentir o olhar raivoso dele sobre si.
  - Mas -chan... - Miki tentou se intrometer, e a garota levantou-se, com a bacia.
  - Não tem problema. Foi minha culpa. Eu já acabei de varrer. - avisou, e segurando o recipiente, foi para a cozinha lavar tudo de novo. A chefe tentou alcançá-la para ajudar de alguma forma, mas colocou o braço à frente da mesma e a impediu.
  - Ela ta certa, Miki. - ainda pôde ouvir enquanto se afastava. - Ela que derrubou tudo, nada mais justo.
  - -chan...! - a chefe ainda tentou protestar, mas não quis ouvir mais nada. Trincando os dentes, enfiou auditivamente todos os talheres debaixo da água corrente e começou a lavá-los de novo, um por um.
  Seu rosto ainda estava quente por causa do acidente que causara, justamente com , que não parecia gostar dela. Que rapaz mais mal educado e frio! Ele nem lhe dera um "oi" ou algo do tipo. E a tratava como se fosse uma gata borralheira. Ela decidira que também não gostava dele. Não precisava se apegar a esse tipo de gente que despreza os outros.
  Eram muitos talheres, e demorou cerca de meia hora a mais lavando tudo direitinho. Sabia que não precisava de tanto cuidado, mas continuava distraída por causa dos trabalhos que tinha que fazer em casa. Quando terminou, colocou-os espalhados na mesa e jogou álcool por cima, esterilizando-os. Secou-os um por um e, quando voltou para a parte do balcão onde deveria guardá-los, viu a maioria das luzes apagadas.
  - Hm, Miki-chan? - chamou, e a chefe apareceu, sorrindo.
  - Ah, você terminou. Obrigada -chan! Por favor, vá pra casa, você já fez até demais. - Miki disse, tirando a bacia das mãos dela.
  - Desculpe. - murmurou. Miki abanou a mão, para que ela não se preocupasse.
  - Foi muito rude do ter falado daquele jeito com você. Ele sempre foi meio assim, não é pessoal. - a japonesa começou a falar, enquanto guardava os talheres. sentia a parte de trás dos joelhos doerem, e queria sentar logo.
  - Não tem problema. Ele já foi? - perguntou, começando a voltar para a parte dos funcionários.
  - Hai! - Miki concordou.
  "Claro que ele não daria tchau", pensou, rolando os olhos. "Se fosse o contrário, eu também não daria. Garoto idiota". Pegou sua bolsa e suas coisas, e gritou um tchau para a chefe, saindo para o ar frio da noite. Olhou no relógio, gemendo baixinho. Enquanto corria para o metrô, pensou que talvez pudesse comer um café da manhã decente no dia seguinte para compensar a falta de jantar que teria hoje.

  No dia seguinte, acordou atrasada. Tinha ficado até tarde fazendo os dois trabalhos que precisava, depois de tomar banho e comer uma barra de cereais. Voou pra fora da cama, já arrancando a roupa e começando a se trocar. Escovou os dentes e o cabelo ao mesmo tempo e reuniu seu material, antes conferindo se os trabalhos estavam lá.
  Sentia seu corpo dolorido do esforço físico que fora ficar de pé no trabalho no dia anterior, e também cansado por não ter descansado devidamente. Seu estômago roncava, mas ela não teria tempo pro café da manhã decente que esperava. Resmungando qualquer coisa, desceu pelas escadas mesmo, não querendo perder tempo esperando o elevador e, morando no segundo andar, aquilo não era problema.
  Na saída, esbarrou com seu vizinho da frente, . Ele era dois anos mais velho que ela, e trabalhava numa confeitaria. Ela gostava de parar pra conversar com ele, mas só quando tinha tempo pra parar pra conversar, o que não era o caso daquele momento.
  - Desculpa , tenho que ir, estou mega atrasada! - gritou, já se afastando, quando ele tentara lhe dizer "bom dia".
  - Espera, tenho algo pra você! - ele correu atrás dela e deixou em suas mãos uma caixinha pequena e branca. Ela parou, meio afobada. - É um cupcake. Ganhei um monte ontem e guardei um pra você. - corou e sorriu. Seu café da manhã estava salvo. Ficou na ponta dos pés e estalou um beijo na bochecha do vizinho.
  - Obrigada ! Até de noite! - acenou, e voltou a correr.
  A parte mais legal de trabalhar numa confeitaria é que os funcionários - como ele - sempre acabavam levando pedaços de bolos e outros doces pra casa, e como nunca gostara tanto assim de comer doces ( achava que era um requisito pra poder trabalhar num lugar como aquele, afinal, como trabalhar se tudo que quer fazer é comer?), acabava dando muita coisa pra ela.
  Sendo adorável, na maioria das vezes. Tentando engordá-la, nos dias de TPM.
   conseguiu pegar o metrô certo de primeira e, respirando fundo, comeu seu cupcake rapidamente. Deixou a maior parte, porque a cobertura era chantilly e ela não conseguia comer aquilo, mas ainda assim, supôs que aquilo poderia forrar seu estômago até a hora do almoço.
  O dia passou rapidamente, mas ela atrasou novamente pro trabalho. Dessa vez, recusou o almoço de Miki, pra não deixar mais irritado com ela do que o normal. Ignorou-o e foi ignorada enquanto trabalhava, e esforçava-se para ser o mais simpática possível com os clientes. Miki às vezes a olhava preocupada, mas ela estava bem. Pelo menos aparentava estar.
  No fim do expediente, sentou-se por cinco minutos. Sentia-se um pouco tonta, e seu estômago doía de forma incômoda. Ela queria chegar em casa e comer algo, e já adiantar algumas leituras que teria que fazer para a semana. Suspirou.
  - Não vai ajudar a limpar não? - reclamou, jogando-lhe a vassoura. Ela pegou no susto, e depois fechou a cara.
  - -chan! - Miki interrompeu-a, num tom bravo. - Hoje você não vai limpar nada. Você nem almoçou. Vá pra casa, se cuidar! - a japonesa foi autoritária.
  - Mas Sra. Brooks...
  - Não insista! - embora sua voz fosse firme, o rosto de Miki demonstrava preocupação e carinho.
  - Ok... - não teve realmente escolha. Largou a vassoura, sem olhar pra , e foi para a parte dos funcionários. Já tinha trocado de roupa. Pegou a bolsa e voltou pra lá pra dar tchau pra chefe e seu colega de trabalho. Mais para a chefe, já que seu colega de trabalho nem se importava.

  Assim que saiu, Miki suspirou.
  - Estou preocupada com ela, . Ela não almoçou hoje, e já chegou meio pálida. Acho que ela está se esforçando demais.
  - É o segundo dia de trabalho dela, ela tem que estar se esforçando mesmo, pra se acostumar.
  - ! - a chefe brigou. - Não seja tão cruel com ela. Ela é uma garota bem esforçada!
  Os dois entraram na parte dos funcionários e o garoto avistou uma coisa preta em cima de uma cadeira. Rolou os olhos e bufou, indo até o casaco de , que a mesma esquecera.
  - Tão esforçada. - ironizou. Miki fez um sinal para que ele fosse atrás dela para devolver e ele resmungou qualquer coisa.
  Garota idiota.
  Sem pegar suas coisas, correu para fora do estabelecimento e chegou até a rua, segurando o casaco na mão. Procurou a garota com os olhos, tentando reconhecê-la. Ela não podia estar tão longe assim. E não estava. Arregalando os olhos, avistou uma pessoa meio trôpega caminhando lentamente, quase em zig zag. Sabia que era , por causa da bolsa que ela tinha pendurada nas costas. Correu até ela e estava prestes a alcançá-la quando ela tentou se apoiar num poste. O problema é que o poste ainda estava um bom meio metro na frente dela. supôs que ela estava tonta e estava vendo dobrado, e finalmente chegou até ela, ajoelhando-se ao seu lado no chão.
  - Ei, você. - a cutucou, tentando levantá-la. Ela apertou os olhos e se sentou, esfregando a cabeça. - O que há?
  - ? - parecia confusa. Ele rolou os olhos, bufando.
  - Você esqueceu o casaco. - ele mostrou o tecido nas mãos. Ela fechou os olhos e ele respirou fundo. - Vem, levanta. Vamos pro hospital.

Capítulo 3.

  - Eu já estou bem . Podemos ir pra casa. - insistia. Estavam na sala de espera das Emergências no Hospital. Os dois estavam de braços cruzados, impacientes por estarem ali. por ter que acompanhar até lá, e a mesma por ter que estar lá. Ela estava convencida que fora só uma tontura, só precisava comer algo e ficaria bem. Não precisava de um Hospital, aquilo era demais.
  - Claro, aí amanhã você acorda morta e de quem vai ser a culpa?! - ele falou, irritado. A garota fez uma careta.
  - Não precisa exagerar também. Eu só preciso comer algo. Você não quer estar aqui, eu não quero estar aqui, por que diabos estamos aqui?
  - Só fique quieta, guarde suas energias pra falar com o médico. - retrucou. fechou a boca, indignada. Como ele era grosso! Aquela era a maior conversa que eles haviam travado, e mesmo assim fora completamente fria e sem emoção. Ela só queria entender por quê ele estava ali, ajudando-a, sendo que não gostava dela.
  Ficaram em silêncio o resto da espera. Várias pessoas foram chamadas, e começou a analisar quem sobrara. Uma mulher parecendo meio desesperada, que havia chegado depois dela, segurava uma criança contra o peito. não conseguia ver o que havia de errado com a criança, mas pela cara aflita da mãe, não imaginava que era algo leve. Essa mãe levantava-se várias vezes e ia até o balcão, perguntando a todo instante se poderia ser atendida logo. A enfermeira que estava ali no posto só mandava que ela se sentasse e aguardasse como todos.
  - . - uma voz grave a tirou de seus pensamentos, e levantou-se.
  - Vamos. - ele tentou puxá-la pelo braço, mas ela se desvinciliou, fazendo uma cara feia pra ele. Levantou-se sozinha e andou até a mãe.
  - Por favor, vá na minha frente.
  - , o que está fazendo? - começou a brigar e ela lhe lançou um olhar para que se calasse. O médico apenas observava.
  - Mas... - a mulher não sabia o que dizer. sorriu.
  - Por favor, vá na minha frente. - repetiu. - Eu não tenho nada demais. Meu colega só está paranoico e quer que me examinem, mas eu só preciso comer algo. Tenho certeza que não vai ter problema se você for à minha frente.
  A mulher olhou pro médico, que deu ombros e trocou as fichas. Chamou-a pelo nome de Ariadne Smith, e os dois mais a criança no colo se afastaram. , sob o olhar de todos ali, voltou para sua cadeira e se sentou. Um irado também sentou-se ao lado dela, mas ele não falou nada. Ela sorriu de canto.
  Esperaram cerca de meia hora até que fosse chamada novamente. A barriga da garota roncava e ela se sentia um pouco tonta, mas só queria ir para casa e comer algo, sabia que isso seria o suficiente para que melhorasse. continuava com aquela cara de desinteresse, o que apenas a irritava mais e mais.
  Ao ser atendida, fez uma série de exames rápidos e pouco tempo depois estava sentada em frente a um médico, ao lado de , que a esperara todo esse tempo. Esse fato também a irritava um pouco. Ele simplesmente era grosso e não se importava, o que diabos estava fazendo ali?!
  - Bem, parece que a senhorita no geral está bem. Só passou mal por falta de nutrientes, portanto, comer algo deve resolver tudo. - o médico parecia tranquilo, e quase lançou um olhar eletrizante e assassino na direção de seu companheiro de trabalho, se não tivesse se controlado.
  - Foi o que imaginei. Mas ficou preocupado - ela ironizou a palavra - e insistiu em fazer tudo isso. Desculpe por ter tomado seu tempo. - ela sorriu, desculpando-se. rolou os olhos, finalmente se pronunciando.
  - Pelo menos sabemos que não foi nada demais. E se fosse o começo de uma crise que iria te matar? Quem ia garantir que era só algo assim? - ele falou, e fechou a cara. Não gostou do tom que ele usara. Provavelmente iam começar a discutir, se o médico não os tivesse interrompido.
  - Mas já que está aqui, se importa em responder algumas perguntas? - ele ingadou, e hesitou, confusa.
  - Como assim, perguntas? - inclinou levemente a cabeça para um lado e decidiu ignorar o comentário irônico de de "Tipo isso que você acabou de fazer? Idiota". Ela estava tendo que se controlar muito pra não chutá-lo pra fora da sala. Como é que só a presença dele conseguia irritá-la tanto?!
  - Seu nível de cortisol estava um pouco elevado, o que deve resultar em um pouco de stress. Isso, somado ao fato de você não comer, pode levar a problemas graves. Quero apenas fazer algumas perguntas para entender melhor o caso e recomendar algumas prevenções. Dessa forma, você não terá que se preocupar tanto com a saúde. - ele explicou.
  - Ah, certo. Tudo bem. - ela disse, firme, dando ombros. Não tinha nada a esconder de ninguém dali.
  - Você fuma? Bebe? - O médico pegou uma folha de papel e, com sua letra arrastada e ilegível, começou a escrever o que supôs que eram as perguntas. Se tocou que ele já havia feito uma e corou.
  - Não e não. - não achava que ia adiantar mentir só pra parecer legal. Não tinha ninguém que quisesse impressionar ali, e as perguntas eram para ajudá-la de alguma forma.
  - Vi na sua ficha que a senhorita é natural do Brasil, certo? - ela confirmou com a cabeça. estava com os braços cruzados, balançando-se sutilmente na cadeira, parecendo mais e mais entediado. - Quando se mudou para cá?
  - Faz três meses, aproximadamente.
  - Por que veio para cá?
  - Vim estudar. Sempre foi meu sonho. - ela sorriu.
  - Com quem está morando?
  - Hm, sozinha. Toda a minha família mora no Brasil ainda. Os parentes mais próximos são alguns primos que nunca conheci, que moram na Holanda. - ela deu ombros. O médico pareceu surpreso, e foi mais ou menos aí que começou a prestar atenção na conversa. Ela morava completamente sozinha? E se algo de ruim acontecesse, quem iria socorrê-la? Era uma idiota mesmo, completamente despreparada. O médico parecia pensar o mesmo, embora com mais sutileza.
  - E qual é o seu plano caso algo der errado aqui? - ele franziu as sobrancelhas. corou.
  - Tem um amigo da família que mora na França. Ele não pode chegar imediatamente, eu sei, mas é tudo que eu consegui.
  - E amigos aqui na Inglaterra? Da faculdade ou coisas assim?
   pareceu ainda mais envergonhada, e agora estava completamente atento à conversa, embora de forma discreta. Conforme ele ouvia as respostas, seu tédio se desfazia. Não sabia que ela era tão esforçada. Quando a vira pela primeira vez, ela parecia desastrada e idiota. Ele agora podia estar até mudando sua opinião à respeito dela, quem poderia dizer. Sorriu de canto, mas não por muito tempo. Não queria que ela percebesse. Mas ela nem prestava atenção nele, era como se ele não estivesse ali. Ela falava com o médico, apenas.
  - Ainda... não fiz nenhum. - ela confessou. O médico olhou um pouco desconfiado para . - Ele é meu colega de trabalho. Eu o conheço há apenas dois dias; ao meu ver, não posso chamá-lo de amigo ainda. - ela explicou. achou justo. - Porém tenho um vizinho com quem me dou bem, e a chefe do meu trabalho também é bem simpática.
  O médico deu-se por satisfeito nesse tópico e então passou para a próxima pergunta.
  - Como você paga os estudos?
  - Hmm, é meio complicado explicar. Sempre tinha sido um sonho pra mim estudar aqui, e então esse amigo da família que mora na França apareceu e falou que, se eu provasse para ele que eu era uma boa aluna e que conseguiria me manter aqui, ele pagaria o curso inteiro por nós. - coçou a nuca. arqueou as sobrancelhas. Amigo legal. - É por isso que me esforço tanto. Tem muita gente contando comigo para tornar isso tudo real.
  - Entendo. E por que começou a trabalhar?
  - Bem, esse amigo paga apenas a faculdade; e o apartamento é dele também. Mas ainda tenho que pagar o aluguel, que ele colocou bem baixo, e as despesas normais da casa. Meus pais estavam se esforçando pra pagar tudo, mas não acho justo com eles. Então arranjei um emprego pra ter um pouco de dinheiro pras minhas próprias coisas, além de ajudá-los.
  - Você faz alguma atividade física?
  - Eu corro às vezes. De manhã, quando dá tempo, normalmente em fins de semana.
  - Corre atrasada pro metrô? - ironizou, sorrindo. Ela o ignorou.
  - E quais são seus hobbies? - o médico perguntou, a folha já estava repleta de garranchos. deu ombros.
  - Gosto de ler, ver animes... escrevo às vezes. No Brasil eu fazia algo que me deixava muito bem, eu só estou esperando as coisas se acalmarem por aqui para eu poder voltar a fazer.
  - E o que seria? - tentou esconder sua curiosidade, e a pergunta do médico salvara-o de momentos constrangedores.
  - Trabalho voluntário, com crianças principalmente. - sorriu. arqueou mais as sobrancelhas. Aquilo era surpreendente.
  - Bem, acho que é isso, senhorita . - o doutor terminou as anotações e as perguntas e sorriu para ela. - A senhorita é muito esforçada. É belo ver alguém correndo atrás dos seus sonhos dessa forma hoje em dia, não? - ele voltou-se subitamente para , que surpreendeu-se ao ser incluído na conversa.
  - Hm. - falou, meio concordando. fez uma careta, irritando-se.
  - Posso ir então, doutor?
  - Sim sim. Passe na secretaria apenas, para deixar sua ficha. Tente não deixar de comer e arranje um tempo para dormir, por mais que esteja se esforçando, ok? - ele apertou a mão dela e depois voltou-se para . já estava praticamente fora da sala. - Gostaria de falar a sós com o senhor por um instante.
  - Eh? Comigo? - o garoto parecia surpreso, e trocou um olhar com , que franzira as sobrancelhas.
  - Pode ir na frente, não vou demorar, Srta. .
  Ela concordou com a cabeça e saiu da sala, deixando os dois a sós. coçou a nuca, preocupado, e o médico começou a falar com ele.

Capítulo 4.

  - Oi, vamos? - resmungou, aproximando-se de . A garota estava do lado de fora do Hospital, procurando um táxi com os olhos. Virou-se para ele.
  - Vamos pra onde? - perguntou, confusa. bufou e começou a andar em direção à estação de metrô.
  - Pra sua casa, oras. No caminho vamos passar por algum lugar e pegar algo pra jantar. - ele disse, simplesmente. correu atrás dele, trincando o maxilar.
  - E por que está falando no plural? - arqueou as sobrancelhas. - Sei voltar para casa sozinha, ok? E posso muito bem comprar meu próprio jantar.
  - Isso se você não desmaiar no caminho. - seu tom era irônico. imaginava se dava para ver fumacinha saindo de sua cabeça, de tanta irritação que sentia no momento. - Só estou te ajudando, pare de ser tão repulsiva.
  - Não entendo por que você está me ajudando. - murmurou, colocando as mãos no bolso do casaco. Esfriara bastante desde que ela saíra do trabalho. E estava tarde também. Se não tivesse acabado de sair do médico, consideraria deixar de jantar para fazer as leituras que precisava. Talvez ela pudesse perder algumas horas de sono.
   a observava discretamente. Ela parecia perdida em pensamentos, nem ligando para a presença dele ali. parecia não gostar dele, o que não importava muito se ele fosse sincero. Ele tinha essa personalidade que acabava afastando as pessoas, e se acostumara com isso. Mas ainda assim, não é como se não tivesse ninguém que ficasse perto dele. E também, nunca houvera ninguém como , que o repelia tão fortemente. Enquanto encarava as feições sérias da mesma, lembrou-se da conversa com o médico.

  - Hm, o que o senhor precisa? - estava meio confuso. A paciente era .
  - Tenho que confessar que estou preocupado com a Srta. . Admiro-a por ser tão esforçada, mas ela realmente não está se preocupando muito com a saúde. Está trocando um pouco as prioridades, colocando os outros à frente dela. É um tipo raro de pessoa hoje em dia, se formos parar para analisar. - O médico arrumou os óculos no nariz. continuava apoiado na cadeira, esperando o motivo de ele estar ali ser revelado. - Não tem nenhum problema ela ser desse jeito. O problema é que ela está morando sozinha, sem amigos próximos, então não tem ninguém que possa se preocupar com ela por ela. Você entende o que eu digo?
  - Sim, acho que sim. - coçou a nuca, começando a compreender. Suspirou, imaginando onde aquilo ia dar. - Ela se preocupa demais com os outros, mas de menos com ela mesma. Como mora sozinha e a família está longe, ninguém toma conta dela se e quando ela precisar. Não tem um equilíbrio.
  - Exatamente. - o médico respirou fundo. - Você a trouxe até aqui. A Srta. mencionou que não o considera um amigo...
  - Possivelmente ela me odeia. - opinou, sorrindo de canto.
  - ... mas sim um colega de trabalho. - o profissional continuou falando. - As relações entre vocês dois, pelo que pude perceber, são um pouco repulsivas. Mas ainda assim, você a trouxe até aqui, o que mostra que ou você se importa um pouco com ela, ou tem a decência de cuidar de outras pessoas quando elas precisam.
   corou com o comentário. A conversa estava tomando o rumo que ele imaginava que tomaria. Ele teria que tomar conta de por ela, se preocupar com ela por ela, já que ela era inútil para fazer isso sozinha. Arrumando umas pilhas de papel, o médico começava a concluir a conversa.
  - Gostaria que você ficasse de olho nela. Seja opressivo. - arqueou as sobrancelhas, surpreso com a sugestão do médico. - Ela parece se irritar com a sua presença. O que quero que você faça, é que cuide dela. Se preocupe com ela, e deixe isso explícito, nem que tenha que fingir. Pode até exagerar, use qualquer desculpa. Dessa forma, ela vai ficar irritada, provavelmente. E então vai começar a tomar atitudes para combater você, e vai começar a cuidar de si mesma para provar que não precisa de você fazendo isso por ela. A ideia é que isso se torne um hábito. A Srta. vai então crescer como pessoa e conseguir conciliar o próprio esforço de viver sozinha com sobreviver.

   olhou-o abismado por alguns segundos. O médico não era apenas excelente, mas também era um gênio. É claro que ele poderia fingir alguma coisa, e tomar conta da garota para que ela se mancasse e fizesse isso por si mesma. Não era exatamente o que ele estava esperando que o médico recomendasse, mas poderia funcionar. Concordou e saiu dali, correndo para alcançá-la.

  - Então, o que quer comer? - perguntou. Tinham saído da estação de metrô e dirigiram-se para uma rua que, mesmo àquela hora da noite, estava em atividade. Os restaurantes estavam abertos e vários cheiros os alcançavam.
  - Tanto faz. - murmurou, olhando ao redor. - Por que está fazendo isso? - ela o encarou, firmemente. sustentou o olhar, arqueando as sobrancelhas. - Se foi o médico que pediu pra você cuidar de mim, pode parar. Não preciso disso.
  - Ah, como você é fofa. - ele ironizou, pegando o braço dela e a puxando pela rua, olhando os restaurantes. corou. - Pare de me repelir. Estou só cuidando de você.
  - Já disse que não preciso disso! - ela reclamou, soltando-se do aperto dele. - Não preciso de você cuidando de mim por pena ou porque alguém te pediu. Se é por isso que você está aqui, vá embora! - ela cruzou os braços. parou de andar, virando-se para ela.
  Analisou-a, parada ali, respiração levemente ofegante, cabelos um pouco bagunçados. Ela ainda estava meio pálida, mas seu olhar era firme e demonstrava irritação. queria saber por quê a irritava tanto. Ele nem fizera nada demais. Todas essas reações, era curioso observar o jeito que ela o tratava, que o olhava. Percebeu que a olhava por tempo demais e sorriu fraco.
  - Acho que vou pegar um lamén! - anunciou, alargando o sorriso e fazendo joinha.
   o olhou, abismada, enquanto ele dava as costas e seguia para o restaurante de lamén ali perto. Não estava entendendo mais nada. Em um momento a tratava como se fosse lixo, como se não se importasse com ela, desde que fizesse seu trabalho direito, e no outro parecia um pai de tão cuidadoso. Ela realmente não entendia. E o fato de ele agora estar agindo como uma criança, ou como se gostasse muito dela e fossem muito amigos, embora tendo se conhecido há apenas dois dias, a irritava ainda mais.
   queria chegar em casa. Queria comer. Queria estudar e dormir. E não queria envolvido em nenhuma dessas ações.
  Entraram no restaurante, ele parecia realmente animado. Estranhou a atitude dele, mas fez o pedido mesmo assim.
  - Vão comer agora ou vão levar?
  - Vamos levar, por favor. - pediu, já estendendo o dinheiro. arregalou os olhos, segurando o braço dele.
  - Eu pago o meu. - grunhiu, já puxando a bolsa para pegar a carteira. O caixa hesitou, quando percebeu os olhos de brilharem ao olhar para a garota.
  - Não seja teimosa. - o rapaz disse, soltando-se dela e estendendo a nota para o caixa. Apressou-o para que pegasse logo antes que o impedisse novamente.
  A garota fez bico, e não controlou sua vontade de socar o braço dele. sentiu a dor, mas só fez uma careta, puxando-a para o canto da loja. Ela cruzou os braços, virando o rosto para o outro lado, a fim de não encará-lo, e ele apenas suspirou. Esperaram juntos até que os números dos pedidos deles foram anunciados. Depois de pegarem, saíram do restaurante e caminharam lentamente pela rua. A atividade na mesma havia diminuído bastante enquanto estavam dentro do estabelecimento.
  , enquanto caminhava, tentava decifrar o rosto de . O primeiro dia que a vira, ela fora simpática com ele, embora ele estivesse em um péssimo dia e não quisesse falar com ninguém. Trabalharam sem se falar e ficaram dessa forma até ele ter que levá-la no Hospital. Agora ela mal olhava na cara dele, mesmo ele tendo feito tudo aquilo por ela. Ele não entendia a garota. Ela realmente o odiava? Realmente não fazia questão de olhar pra cara dele? Aquilo era de certa forma era surpreendente, e de fato o irritava um pouco. Queria gritar na cara dela "Ei, me olhe!" mas sabia que aquilo não a faria gostar dele ou coisa do tipo.
  Suspirou. O resto do caminho foi musicado apenas pelos estômagos roncando dos dois, ao sentirem o cheiro da comida que emanava das sacolas que carregavam. Ao se aproximarem da avenida próxima à rua da garota, segurou seu braço, impedindo-o de continuar.
  - Eu vou pra casa sozinha, a partir de agora. - anunciou. Ela levantou seus olhos até os dele, e ele arqueou as sobrancelhas.
  - Está escuro. Te acompanho até a porta do prédio. - o garoto insistiu. Ela rolou os olhos e abanou a cabeça.
  - , é sério. Eu não sei por que está fazendo isso. Mas pare, está me irritando. Não preciso de toda essa proteção como se eu fosse de porcelana. Eu consigo me cuidar. - o tom de voz dela era firme. sorriu de lado.
  - Consegue se cuidar tanto que praticamente desmaiou hoje. - ele ironizou. Ela bufou.
  - Foi um caso à parte. Não vai acontecer de novo. Eu não vou ser tão descuidada.
  - Quem vai garantir? Você se importa demais com os outros e não se toca sobre você mesma, ! - ele bronqueou. Começaram a chamar a atenção das poucas pessoas que estavam circulando pela avenida. - Alguém tem que garantir que você vá ficar bem, se você mesma não quer fazer isso!
  - E por que esse alguém tem que ser você?! - levantou a voz, irritada. a irritava tanto e ela nem sabia o por quê, mas queria muito meter a mão na cara dele. Até que ele a respondeu.
  - Porque eu estou apaixonado por você!

Capítulo 5.

   fechou a porta atrás de si. Acendeu as luzes e deixou o jantar em cima da mesa. Ia comer, porque realmente precisava daquilo, mas antes precisava jogar uma água no rosto. Foi até o banheiro e encarou seu reflexo pálido no espelho. Ela não estava muito decente. Olheiras, cabelo bagunçado. Pálida e parecendo febril. Julgou que realmente parecia doente, ou talvez só estivesse abalada. Sacudiu a cabeça, antes que sua mente a levasse pra uma das suas mais recentes memórias e com as mãos em concha, levou a água fria até seu rosto.
  Por que dissera aquilo?!
  Apertou as mãos. Era inevitável não pensar na cena. encarou a água corrente por um tempo.
  Porque eu estou apaixonado por você!...
  Porque eu estou apaixonado por você!...
  Porque eu estou apaixonado por você!
  Levantou o rosto, se olhou novamente no espelho. Respirou fundo e fechou a torneira, depois pegando uma toalha. Escondeu o rosto na mesma, abafando um pouco sua respiração. Quem se apaixonaria por ela? E por que se apaixonaria por ela?
  Eles viviam discutindo. Ele a irritava profundamente só de andar ao seu lado. Ele estava fazendo todas aquelas coisas por ela porque um médico pedira. E ele ainda vinha e dizia que estava apaixonado por ela? Que raios de desculpa era aquela?
  Só que não tinha certeza se era só uma desculpa. E era isso que a deixava tão confusa. Ele parecera realmente honesto ao proferir as seis palavras, e depois corara intensamente. Ela ficara sem reação. Constrangidos, os dois seguiram até a porta do prédio dela em silêncio, desistindo de contrariá-lo. Nem ao menos se despediu dele. Estava confusa, abalada, com fome. Precisava se recompor.
  Voltou para a sala de jantar e tirou o lamén da sacola. Abriu-o e murmurou um agradecimento, começando a comer. Comia lentamente, distraída, pensando em e nesses últimos dias. Ela não imaginava que começar a trabalhar num café mudaria tanto a vida dela. Na verdade, não fora bem o café, e sim , quem deixara sua vida de ponta cabeça. não sabia o que havia de errado com aquele garoto.
  No primeiro dia, ele não só a ignorara como também fora grosso com ela, como se a desprezasse. Era isso que a havia irritado inicialmente, então ela decidiu que podia seguir sem a amizade dele e começou a ignorá-lo também. E agora sempre que estava perto dele, sentia-se irritada, mesmo se ele não falasse com ela.
  E então, dois dias depois, ele confessa que está apaixonado por ela.
  - Será que ele é bipolar? Ou tem um irmão gêmeo? - ponderou, falando sozinha em voz alta.
  Era uma possibilidade não? Ela já vira muitas coisas à respeito de pessoas que têm dupla personalidade, e agem completamente diferente em relação a uma ou outra pessoa específica. Podia ser o caso de . O caso do irmão gêmeo seria mais complicado. Ela teria que ter interagido com os dois, e seriam eles tão iguais assim? Assustadoramente iguais?
  - E ele atendeu pelo nome todas as vezes, então, a menos que os gêmeos se acostumaram a ter um nome só, o que acho improvável, há apenas um . - respondeu à sua mente. Suspirou. Talvez fosse melhor assim.
  Ela não suportaria dois 's.
  Terminou de comer e espreguiçou-se. Podia dar uma lida no que o professor passaria semana que vem. Olhou o relógio e fez uma careta. Estava tarde. Com um arrepio, pensou em atrasar-se de novo no dia seguinte, e ficar meio incapacitada no trabalho. então a cobriria e tomaria conta dela, como se ela fosse uma inútil.
  Não. Aquilo não podia acontecer.
  Deixando as leituras de lado, seguiu direto para a cama.

  Infelizmente, seu plano de não se atrasar não deu certo.
  Cansada de todo o dia anterior, seu corpo se permitiu estender a hora de sono e perder 10 minutos do despertador. Xingando tudo que era possível, apressou-se em tomar um banho rápido, se trocar, revirar a cozinha em busca de qualquer coisa comestível e sair pela porta. Trombou com , que abriu um sorriso ao vê-la.
  - Bom dia! Atrasada de novo? - perguntou, estendendo um sonho rechado de creme para ela. sorriu fraco e pulou no garoto, beijando sua bochecha.
  - É a segunda vez que você salva meu café da manhã, sabia? - ela riu, enquanto ele corava intensamente. - Sim, estou atrasada de novo e preciso correr. E parar para fazer compras. Obrigada, um dia ainda vou conseguir retribuir! - falou, andando até as escadas.
  - Não precisa se preocupar. - ele abanou o ar com a mão e depois acenou para ela, que desapareceu nos degraus.
   correu para o metrô, observando que o dia ameaçava chover e ela não havia trazido uma sombrinha. Despejou mais alguns palavrões mentalmente durante o caminho até a faculdade. Chegando lá, passou direto pelos corredores lotados de gente, sem parar para conversar com ninguém. Às vezes ouvia umas conversas à respeito dela, a estrangeira antissocial, mas ela realmente não conseguia estabelecer vínculos com as pessoas dali. Era educada e falava com quem falava com ela, mas não era capaz de iniciar uma conversa por conta própria. Por enquanto não havia problemas, mas isso não durou muito.
  Logo na primeira aula o professor passou um trabalho em equipe, e ela se viu sozinha na sala enquanto várias pessoas conversavam entre si, animadamente. Corando, permitiu-se pensar só por um segundo que se estivesse ali com ela, ele talvez - contra a vontade dele e dela, claro - faria dupla com ela. Mas ele não estava, e ainda assim, era o , o que ela estava pensando?
  - Ei. - a cutucaram, e ela olhou para trás. Uma garota de cabelos vermelhos compridos, jeans rasgado, blusa preta bem decotada e aberta nas laterais, que revelava seu sutiã vermelho de renda, levantou o queixo pra ela. - Você é a estrangeira antissocial. Que é super inteligente. Deve estar sem dupla, faça comigo. - não foi bem uma pergunta.
  - Hm. - hesitou um pouco. Não tinha muita escolha, porque ninguém mais iria se voluntariar para fazer com ela, e ela não conseguiria chamar alguém para ser a dulpa dela. Porém, a garota a sua frente não seria sua escolha, de jeito nenhum. Provavelmente acabaria fazendo o trabalho sozinha, de qualquer forma...
  - E aí? - ela cobrou, erguendo o queixo novamente e cutucando o ombro de de novo. A brasileira fechou a cara.
  - Pode ser. - resmungou. A outra sorriu e acenou, sem nem ao menos se apresentar ou discutir qualquer outra coisa. a observou se afastar e, com um suspiro, correu para a próxima aula.
  O resto do dia praticamente se arrastou, e pensava e pensava sobre o assunto do trabalho. Já o programava na sua mente, considerando que faria sozinha. Na saída, a garota de cabelos vermelhos a esperava.
  - Esqueci de dizer meu nome. - ela tirou um cigarro, e fez careta. - Sou Ashleigh Morris. - acenou de novo e começou a andar ao lado de . - Por que está andando tão rápido?
  - Tenho que ir para o trabalho. Se quiser discutir alguma coisa sobre o que o professor falou, podemos conversar amanhã. - respondeu, checando o horário. Se corresse podia chegar a tempo. E não ia ficar enchendo seu saco. Ou tentando "cuidar dela". Por um instante pensou novamente nele confessando estar apaixonado por ela, e apressou o passo inconscientemente.
  - Eita, garota, espere um pouco. - Ashleigh segurou seu braço, a impedindo de continuar. Aquilo a irritou.
  - O que foi?!
  - Vamos falar do trabalho.
  - Eu estava na sala quando você me abandonou e poderíamos ter falado lá, mas agora preciso chegar no trabalho. Não me atrase, por favor!
  - Ok, vou com você e conversamos no caminho. - ela deu ombros, e bufou, irritada. Entraram no metrô, inicialmente em silêncio, e depois a garota respirou fundo. - Olha, você sabe que sou uma das piores alunas da sala, não sabe?
  - Imaginei. - resmungou, olhando as paradas. Não queria se atrasar, não podia se atrasar... Ashleigh revirou os olhos.
  - Preciso muito dessa nota. Por isso fiz grupo com você. - A garota continuava falando. "É, eu sei; ninguém gosta ou fala comigo mesmo". - Só que sou horrível nessa matéria.
  - Escuta, Ashleigh. - a interrompeu. - Eu concordei em fazer o trabalho com você porque sabia que ninguém mais faria comigo. E desde o começo imaginei que faria o trabalho todo sozinha e seu nome só apareceria na capa. Então, se veio até aqui pra dizer só isso, está perdendo seu tempo. - foi direta, e olhou a ruiva nos olhos. Ashleigh abriu um sorriso e assim que o metrô parou, se preparou para descer.
  - Que bom que entendeu. - acenou e depois sumiu em meio à multidão, deixando uma espumando de raiva.
  Ela gostava de ajudar as pessoas, sim. Mas odiava, odiava quando as pessoas a usavam para ganhar créditos ou qualquer coisa que precisavam. Ela que teria todo o trabalho, ela que perderia noites de sono pesquisando, redigindo, arrumando, organizando. Não Ashleigh Morris. Mas o nome Ashleigh Morris também estaria no trabalho, porque não era permitido o trabalho individual e não conseguiria achar outro grupo.
  Afastou esses pensamentos da mente, antes que desligasse e perdesse a estação. Não precisava chegar atrasada no trabalho e ainda ter que lidar com depois desse dia que mal começara.

Capítulo 6.

  - E senhoras e senhores, ela chegou na hora! - anunciou, quando a viu entrar pela porta dos funcionários. Ele sorria, já vestido para o trabalho. fechou a cara e correu para o vestiário, encontrando lá Miki.
  - -chan! Chegou cedo hoje! - a chefe sorriu, abraçando-a. retribuiu, meio sem jeito.
  - É o horário que eu normalmente deveria chegar, Miki... - ela falou, embaraçada. Abriu seu armário e pegou sua roupa. Foi pro banheiro e se trocou rapidamente. Quando voltou, uma garota loira e uma morena baixinha guardavam suas coisas em armários.
  - Oh, você deve ser a nova funcionária! - a baixinha disse, sorrindo para . Ela corou e concordou com a cabeça. - Sou Louise, e essa é Tabitha, somos as da manhã. - apresentou-se, apontando para a colega, que acenou.
  - Muito prazer, sou .
  - Deve ser legal trabalhar com o . - Tabitha disse, um pouco sonhadora. Ela devia ter a idade de . A brasileira sorriu e abanou o ar com a mão.
  - É provavelmente beeeeeem diferente do que você está imaginando. - afirmou, fazendo-as rir.
  - ! Você ainda tem que almoçar. - surgiu ao lado dela, e ela fechou a cara. As outras seguraram risinhos.
  - Eu sei disso! - ela brigou, e ele a pegou gentilmente pelo braço.
  - Então vamos. Não vá me deixar com um monte de carga de trabalho, hein? - ele sorriu para ela, e depois para as outras. - Bom trabalho, até mais. - acenou e a arrastou para a parte da cozinha, onde o prato de aguardava.
  - Não precisa me puxar, eu sei andar! - ela reclamou, soltando-se dele.
  - Desculpe. - corou um pouco. - Vou tomar conta de lá por enquanto. Não coma muito rápido, ou vai passar mal. Está tranquilo hoje, por isso não se preocupe.
  - Pare com isso! - ela resmungou, já colocando uma garfada na boca e preparando a próxima. - Já disse que não precisa tanto tomar conta de mim. Eu estou bem.
  - Por enquanto. - ele disse com um sorrisinho. - Não quero você mal de novo. - aproximou-se e ela segurou a respiração, mas tudo que ele fez foi colocar a mão no topo da cabeça dela e afagá-la levemente.
  - O que é isso! - reclamou, afastando-o. - Vai trabalhar logo.
   não disse mais nada, apenas se afastou rindo. encarou seu prato por um tempo, e depois abanou a cabeça, tentando não pensar em nada, apenas no trabalho.

  No fim do expediente, a brasileira sentia seu pé arder. Depois que terminara o almoço, o café estava pouco cheio, mas logo depois lotou. Ela percebeu sempre atento à ela, mas ignorou-o como sempre.
  Restavam apenas um casal em uma mesa, uma morena solitária que parecia bastante interessada em seu celular, e três homens com cara de executivos conversando numa mesa mais no fundo. já começava a limpar as mesas, estava próximo do horário de fecharem. Normalmente era nessa hora que começava a divagar mais, e com essa abertura de sua mente, lembrou-se do trabalho em "equipe" que teria que fazer. Já tinha uma ideia do tema, mas ia dar bastante trabalho. Suspirou.
  - Você parece cansada hoje. - Uma voz ao pé de seu ouvido a arrepiou, e num pulo ela se afastou de . Ele deixara o pano em cima de um ombro e tinha as mãos no bolso. Parecia preocupado.
  - Eu estou bem.
  - Não dormiu direito?
  - Dormi perfeitamente bem, obrigada. - ela foi irônica. - Já disse para parar com isso, não disse? - bufou, voltando a limpar as coisas.
  A morena levantou-se, foi até Miki no caixa e pagou com um sorriso fraco.
  - Já disse que não posso, não disse? - sorriu, sentando-se no banco da mesa que limpava. Ela rolou os olhos e, como já havia terminado, passou para outra mesa. - Você passou o dia todo com essa cara emburrada, exceto quando estava atendendo os clientes. Fiquei preocupado. - ele deu ombros.
   não disse mais nada, e cinco minutos depois os últimos clientes já tinham ido embora. virou a placa, indicando que estavam fechados, e já se dirigia para o vestiário.
  - Bom trabalho, -chan! - Miki a cumprimentou com um sorriso, que foi retribuído.
  Depois de se trocar, despediu-se da chefe, sem avistar , e saiu para a rua pela porta dos funcionários.
  - Não vai me contar por que está emburrada? - uma voz atrás dela a assustou, e pela segunda vez ela afastou-se de com um pulo. Ele segurava sua bolsa preta numa mão, por cima do ombro, e a outra mão estava colocada no bolso. O casaco preto estava aberto, revelando um colete de lã azul marinho por cima de uma blusa polo branca. , observando-o, sentiu a pele arrepiar, e apertou-se inconscientemente no seu casaco fino. Esquecera que poderia esfriar bem mais quando anoitecia.
  - Não é da sua conta! - respondeu, virando-se e caminhando para a rua principal. a seguiu.
  - Não precisa ser rude, só estou tentando ser amigável. - ele falou, inocente. Ela soltou uma risada irônica, fechando o casaco ao sentir o vento atingí-los. - Não ria dessa forma. E que coisa é essa que você está vestindo que você se atreve a chamar de casaco? - ele reclamou, tirando um braço de dentro da manga do próprio casaco.
  - , pare com isso, não estou com frio.
  - Ah claro. - vez de ele rir irônico. Ela corou, enquanto andava energeticamente até o metrô.
  Antes de alcançar as escadas, um tecido preto a atingiu, quase a fazendo perder o equilíbrio. Ela demorou um pouco para se desembolar e identificou o casaco de . Olhou-o e ele não a encarava, as mãos no bolso.
  - Obrigada. - ela resmungou, sentindo-se no dever, e ajeitou o casaco como se fosse um cobertor.
  - Bom, como você vai andar ainda até sua casa, se me recordo - ele começou a ponderar, puxando-a pela mão para descerem. quase perdeu o equilíbrio e sentiu vontade de socá-lo, mas ele continuou falando. - eu te acompanho, para você não roubar o casaco.
  - Eu não faria isso! - reclamou, e eles correram para entrar no trem que sairia dali a segundos.
  Acharam bancos e sentaram-se lado a lado, em silêncio. balançava a perna e , espiando discretamente para o lado, percebeu seu braço arrepiado.
  - Você está com frio. - ela reclamou, tirando o casaco e jogando para ele. arqueou as sobrancelhas.
  - Tudo bem, eu gosto de frio. - ele jogou para ela. bufou e, jogando mais uma vez em cima do garoto, apressou-se em amarrar as mangas da peça de vestuário em volta do pescoço de , como se fosse adiantar.
  - Pronto, fique com isso. - a voz dela era irritada, e gargalhou ao ver a atitude infantil e inútil dela. corou e desviou o olhar.
  - Vamos fazer assim: eu paro de insistir que você use o casaco e você me conta o por quê de estar tão irritadinha hoje. - sorriu travesso e ela o fuzilou com o olhar.
  - Isso não é da sua conta, já falei. E eu sempre estou irritada quando estou perto de você! - ela o cutucou, um pouco forte. Ele fez uma careta de dor. Depois, jogou o casaco em cima dela de novo. o agarrou no ar, quase soltando fumaça pelas narinas, mas parecia um pouco mais distraído.
  - É, mas hoje você estava o tempo todo. Assim me preocupo. - ele suspirou profundamente. trincou o maxilar, ele dissera as palavras que a irritavam ainda mais. Ela quase mordeu o tecido e o puxou com os dentes, controlando-se para não gritar ou começar uma briga de luta livre no meio do trem. Ele não tinha que se preocupar.
  - Era um negócio da faculdade, ok? Tem um trabalho em equipe e eu não tinha grupo, porque não falo com ninguém lá. Então veio uma garota me chamar para fazer com ela, só que ela é exatamente o tipo de pessoa que não faz nada. Ou seja, o trabalho em equipe será feito todo por mim. Só isso. Pare de me encher o saco agora! - jogou o casaco nele. A parada dela se aproximava.
  - Não precisa ser tão violenta...! - ele resmungou, ficando sério logo depois. - Isso não é justo. Você não devia se esforçar tanto num trabalho que devia ser em grupo.
  - Eu preciso da nota. - ela foi curta.
  - Mas a garota não vai ajudar em nada? - ele perguntou.
  - Não. E acho que até prefiro. Ela ia mais atrapalhar do que ajudar. - colocou uma mão no cabelo, desembaraçando-o. - Se eu fizer sozinha, vai dar bem mais trabalho, mas pelo menos tenho certeza da nota que vou receber. - suspirou.
  - Eu posso te ajudar. Dessa forma você não se mata de novo só pra conseguir fazer mais que uma coisa ao mesmo tempo. - ofereceu e ela o olhou, incrédula e com um pouco de raiva.
  - E quem disse que eu preciso da sua ajuda?! - ela rebateu, levantando-se, já que chegaram à sua estação. levantou-se também e a seguiu para fora do trem.
  - Ahhh, deixe-me ver... - ele ia começar a dizer algo, mas ela já havia se afastado. - Ei, espere.
  - Eu já devolvi seu casaco, pode ir embora. - reclamou, sem olhá-lo. bufou, como aquela garota era teimosa! Correu atrás dela e segurou seu braço, virando-a.
  - Eu to falando sério. Eu te ajudo no trabalho.
  - É mesmo? E o quanto você entende da minha matéria? - ela semicerrou os olhos. deu ombros, sorrindo um pouco.
  - Você podia se surpreender. - ele falou, em tom misterioso. rolou os olhos e deu às costas a ele, continuando a andar.
  - Volte para casa, . - ela o chamou pelo sobrenome e ele a olhou afastar-se. Respirou fundo e ao expirar, fumacinha de respiração condensada ocupou sua visão por uns instantes. Ele não imaginava que seria tão complicado assim. A garota era realmente teimosa e se irritava mais do que o normal na presença dele.
  - Ahhhhh , por que você não aprende logo? - ele resmungou sozinho, ajeitando o casaco. Lançou um olhar para onde ela tinha desaparecido uma última vez, e voltou para o metrô.

Capítulo 7.

  Logo uma semana e meia havia passado. na mesma correria de universidade, trabalho, lições e o trabalho em equipe que estava tomando mais do seu tempo do que ela esperava. continuava a cobrí-la e a olhar por ela quando ela se distraía. Ele não brigou com ela quando ela derrubou um prato no café, apenas limpou em silêncio e preocupou-se se ela havia se machucado. Ele também a acompanhava até em casa todos os dias, com a desculpa de tomar conta dela, já que ela era tão avoada que não perceberia um assaltante ou assassino nem que ele dançasse com as armas na frente dela. É claro que ela ainda se irritava com toda aquela atitude protetora dele, mas decidiu que iria ignorá-lo e então ele desistiria. Em algum momento. Ela esperava.
  Era sábado, que era o dia de folga dela e de , e estava jogada no sofá da sala, sem vontade de fazer absolutamente nada. Ela tinha que adiantar o trabalho em equipe, que Ashleigh nem tinha mais demonstrado interesse (ela havia em algum momento?!) em participar, mas queria apenas descansar. Foi preciso que a campainha tocasse duas vezes para que ela criasse coragem para levantar e ver o que era.
  - O que você qu... Ah, ! - corou, por algum motivo imaginando que era que a importunaria mais uma vez, mas deparou-se com o vizinho. corou, sorrindo para ela.
  - Desculpe, eu não queria atrapalhar nada.
  - Não se preocupe, estou só aproveitando o dia de folga. - coçou a cabeça. - O que é que você tem aí? - seus olhos se arregalaram ao ver a caixa que segurava. Ele pareceu desviar sua atenção da garota e lembrou-se do que segurava.
  - Ah, bolo trufado! Vim ver se você gosta... - ele pareceu encabulado e ela sorriu largamente.
  - Eu adoro! Entra, por favor!
  - Com licença. - ele murmurou. , com os olhos brilhando, retirou delicadamente a caixa das mãos dele e levou até a cozinha, e a seguia de perto.
  - Você sabe que não precisa fazer isso, não é? Meu Deus, é o bolo inteiro! - ela admirou-se, vendo o bolo perfeitamente colocado dentro da caixa, sem nenhum problema.
  - Eu gosto de trazer essas coisas pra você. - ele coçou a cabeça, sorrindo. - Você me disse da outra vez que eu salvei seu café da manhã duas vezes. Assim você me preocupa. - ao ouvir aquelas palavras, entortou a boca em uma careta. Lembrou-se de e seu sorrisinho irônico, que era sempre a imagem invocada em sua mente quando pensava nele.
  - Hm, desculpe por preocupá-lo. - ela murmurou, inclinando a cabeça levemente. - Não precisava, sério.
  - Fique tranquila. - acariciou a cabeça dela suavemente e ela corou. - Bem, fico feliz que tenha gostado. Acho que vou indo agora.
  - Tudo bem. Se quiser aparecer mais tarde, podemos comer um pedaço do bolo juntos. - deu ombros e sorriu, aceitando o convite.
  - Até mais, então.
  - Até. - ela fechou a porta atrás dele e voltou para a cozinha. Guardou o bolo na geladeira com um sorriso de canto. Espreguiçou-se e voltou para a sala. A bolsa com o material da universidade chamou sua atenção e, com um suspiro, rendeu-se ao trabalho.

  Anoitecia, e finalmente baixou a lapiseira. O esqueleto do trabalho estava pronto, assim como as pesquisas separadas que fizera durante a semana. Só faltava digitar tudo. Espreguiçou-se, sentada no chão da sala, e olhou no relógio. Poderia tomar um banho para aliviar a tensão. Soltou o cabelo, que estava preso em um coque mal feito, e depois passou a mão por todo ele, desembaraçando os fios. Jogou o corpo para trás, deitando no chão e encarando o teto. Respirou fundo algumas vezes, e então ouviu o rugido que sua barriga soltou.
  É mesmo. Ela esquecera de almoçar.
  Rolou no chão, para que pudesse se levantar apoiando-se também nos joelhos, e assim que o fez a campainha tocou. Sem imaginar quem podia ser, ignorou os ruídos que seu estômago vazio fazia e foi até a porta, abrindo-a.
  - ! - ela surpreendeu-se, e seu colega de trabalho analisou-a por um momento antes de sorrir provocativamente de canto. rolou os olhos, controlando a vontade de dar um murro na cara dele para ele perder todos os dentes e nunca mais sorrir daquele forma. - O que é que você quer?
  - Jantar! - ele respondeu alegremente, passando por ela e colocando umas sacolas na mesa. O cheiro que chegou às narinas de fez o estômago da mesma revirar desconfortavelmente, mas só porque era muito bom e ela estava esfomeada. - Trouxe yakisoba, tempurá e alguns sushis de qualidade discutível. - resmungou, tirando tudo da sacola.
  - Como é que você subiu aqui sem me avisarem?! - ela decidiu ignorar todas as perguntas que passavam em sua cabeça e focou-se na primeira. Depois discutiria por que diabos ele estava fazendo aquilo e por que ele se atrevera a entrar no apartamento dela sem permissão.
  - O porteiro me viu chegando com você todas as vezes que eu te acompanho até aqui, e me reconheceu. Perguntei se podia subir com o jantar para você e ele concordou, logo, estou aqui. Achei que iam avisar. - respondeu, dando ombros. - O que está esperando, pegue alguns pratos. Eu estou com fome e consigo ouvir sua barriga daqui.
  - Ah, cale a boca! - ela deu um tapa no abdome dele, fazendo-o soltar um gemido, e foi até a estante onde guardava as porcelanas.
  - Quanta delicadeza. - ele reclamou, esfregando a área ardida. - Eu te trago jantar e é assim que você retribui?
  - E eu por acaso pedi o jantar? - ela arqueou as sobrancelhas, aproximando-se com tudo que precisava. sorriu um pouco culpado e ela o ignorou, como normalmente fazia.
  - Sua casa é mais arrumada do que eu esperava. - admirou-se, olhando o lugar. - Do jeito que você é incapaz de trabalhar e estudar sem ter um ataque por falta de comida, honestamente eu estava esperando no mínimo roupas jogadas por todo o lugar, um animal de evolução desconhecida guardado no fundo do armário e...
  - Quer calar a boca? - ela reclamou, fazendo-o rir.
  - Desculpe, Srta Estressada . Vamos comer? - ele perguntou, puxando a cadeira para ela.
   trincou o maxilar e sentou-se, já começando a se servir.
  Os primeiros 5 minutos foram bem silenciosos. Como ignorava-o, decidiu comer passando seus olhos pela sala. Viu CDs, livros, uma TV não muito grande. Um quadro ou outro pendurado na parede. E era isso. Não era grande, mas devia ser ótimo para uma pessoa só. Principalmente uma pessoa como , que parecia ser o tipo de gente que não ocupava muito espaço, fazia uma coisa num canto e pronto. Seus olhos fixaram-se no material da universidade na mesinha de centro, e ele apontou com o queixo para lá.
  - É o trabalho em "equipe"? - fez aspas com as mãos e saiu de seus devaneios.
  - O que? - perguntou, focando seu olhar nele. Era uma das primeiras vezes que não usava um tom irônico ou irritado com ele, e isso surpreendentemente o fez sentir estranho por dentro. Pigarreou, olhando para os cadernos.
  - Aquilo ali. É o trabalho em equipe?
  - Sim. - ela revirou o resto do yakisoba que estava no prato. - Já estou quase acabando.
  - O que falta?
  - Digitar, principalmente. Quase tudo está organizado e separado. - ela deu ombros.
  - Quer que eu faça isso? - se ofereceu, e o olhar irritado voltou ao rosto dela. Ele quase se arrependeu de ter dito aquilo.
  - Não. - disse, seca. Terminou o prato e levantou-se, levando-o para a cozinha.
  - Só estava tentando ajudar...! - disse, mais para si mesmo, em um tom de desculpas. Acabou de comer também e seguiu-a até a cozinha. - Não vai lavar a louça? - perguntou, ao ver que ela largara os pratos na pia e agora tomava água, como se não ligasse para eles.
  - Deixa aí, mais tarde lavo, tenho que terminar o trabalho. - respondeu, deixando o copo perto do prato e já saindo da cozinha.
  Sentou-se novamente no chão e abriu o notebook, esperando vir atrás dela. Ele demorou e ela ouviu o barulho de água corrente na cozinha. Franziu as sobrancelhas e levantou-se, correndo até lá.
  - ! - reclamou, ao ver o garoto lavando a louça que ela deixara ali. - Eu disse que depois lavava!
  - Vai que você esquecesse, daí a próxima vez que eu vir aqui tem um castelo de louça suja na sua cozinha. - ele respondeu, ensaboando o primeiro prato. ficou indignada com "a próxima vez que eu vir aqui", mas não falou nada, porque continuou a falar. - E além disso, aposto que se eu não tivesse trazido jantar você nem teria comido. Logo, se tem louça suja a culpa é minha.
  - Ah, cale a boca. - ela o empurrou para longe da pia, tirando a esponja da mão dele e assumindo a limpeza dos pratos. - Não preciso que você seja minha empregada. - resmungou.
  , que secava a mão, sorriu de lado. Foi até ela e pousou uma mão na cabeça dela, acariciando levemente. sentiu o rosto esquentar, e deu uma cotovelada para trás, afastando-o. riu da violência da menina e a campainha tocou.
  - Está esperando visita? - ele perguntou, já indo até a porta. Vendo que ela ameaçava correr à sua frente e abrir a porta, abriu os braços, tapando a visão dela. - Você já está lavando a louça, . Eu ia lavar por você, mas você insistiu. Não deve fazer duas coisas ao mesmo tempo.
  A garota, sem poder retrucar, só continuou a esfregar os pratos com mais força, bufando. Ela estava esperando alguém? Então, com um estalo, lembrou-se de sua visita mais cedo.
  - ...!

Capítulo 8.

  Capítulo focado no favorito
  - Posso ajudá-lo? - já havia aberto a porta, e ela podia ver atrás dele com as sobrancelhas franzidas, tentando entender. virou-se para , na porta da cozinha, arqueando as sobrancelhas para ela. sorriu fraco, levantando o braço como uma saudação, mas parecendo confuso.
  - Oi . Entra. - ela passou por , empurrando-o para o lado para falar com o amigo.
  - Ahn, eu não quero atrapalhar nada. - ele coçou a cabeça, parecendo embaraçado. sorriu.
  - Não se preocupe. , esse é , meu vizinho. Esse é , meu colega de trabalho. - a contragosto e tentando fingir que estava tudo bem, os apresentou, e puxou para dentro. - Vou pegar o bolo.
  - Quer que eu pegue os pratos? - ofereceu e permaneceu calado, observando os dois.
  - Não precisa! Senta, por favor. - ela gritou da cozinha, fechando a geladeira com o bolo nas mãos. Colocou-o num prato melhor e depois o levou para a sala. Correu para os armários, pegou pratos e talheres e arrumou na mesa.
  - Que lindinha! Pegou pra mim também! - disse, num tom baixo e provocativo, e mandou um olhar incendiador em sua direção, calando-o. Porém ele continuou com aquele sorriso brincalhão, enquanto estava um pouco sem entender.
  Depois de servir a todos, se sentou na ponta da mesa, com à sua esquerda e à direita, e soltou um suspiro profundo. No que aquele sábado à noite havia se transformado?!
  - Então... eu estava preocupado com você. - murmurou, depois de um silêncio constrangedor. , com o garfo na boca, arqueou as sobrancelhas para .
  - Ah... desculpe. - ela disse, corando e remexendo o pedaço do bolo que estava em seu prato. Ela estava se sentindo estranha com a presença dos dois ali, e não conseguia comer direito.
  - Não vai bater nele ou algo do tipo? - perguntou e ela o olhou confusa. - Bom, quando eu falo que estou preocupado com você, você normalmente me soca ou me ignor- ai! - ele foi interrompido por um chute dela por baixo da mesa.
  - O seu caso é diferente, . Você me irrita! - ela foi direta. os olhava, em silêncio.
  - Quanta delicadeza. - revirou os olhos, pegando outra garfada do pedaço em seu prato. - Então... ? - o vizinho olhou o outro, um pouco inseguro. - Você que fez esse bolo?
  - Não, na verdade... eu trabalho numa confeitaria, como vendedor... e quando sobra algo eu trago para , já que pelo visto ela é ocupada demais pra parar e tomar café da manhã. - explicou e lançou um sorriso para , que corou e abaixou um pouco a cabeça. arqueou as sobrancelhas novamente. ?
  - Na verdade ela só é tonta demais para isso. - ele disse, dando ombros.
  - ! - rosnou, fazendo-o rir.
  , de novo, pareceu perdido e sem saber como reagir entre aqueles dois. recostou-se na cadeira e finalmente mordeu um pedaço do bolo, sorrindo fraco depois.
  - Está uma delícia ! Obrigada por isso, de verdade. - ela foi doce. brincava com o garfo no prato, fazendo um barulho um pouco irritante. - Mas não precisa se preocupar.
  - De fato! - sorriu largamente. - Eu estou tomando conta dela, já que ela parece incapaz de fazer isso por si mesma. - explicou, e trincou o maxilar.
   levantou-se bruscamente, apoiando as mãos na mesa e não encarando nenhum deles. Respirou fundo algumas vezes e, sem olhar diretamente para , pegou o prato dele.
  - Você já terminou ?
  - Ah-hn, sim... - ele levantou-se. - Eu te ajudo.
  Os dois foram para a cozinha, deixando sentado com o bolo ainda ali, cortado. Ele ouviu o barulho da água corrente e reclinou-se na cadeira. Balançou-a levemente e pensou que era mais irritante que ele. Trazendo bolos e puxando o saco dela, ela realmente gostava daquilo? Era realmente uma idiota.
  Repousou a cadeira e pegou o bolo, para levá-lo para a cozinha. Ao chegar perto da porta, porém, ouviu a voz dos dois que começavam uma conversa e parou para escutar.
  - Ele... é mais que seu colega de trabalho ou...? - perguntou, um pouco hesitante, e quase pôde ver corando e negando fervorosamente com a cabeça.
  - Não! Não, é só meu colega de trabalho. Ele fica enchendo o saco porque um dia passei mal, ele fica todo preocupado por nada. É irritante. - pôde ouvir, e pensou em interromper naquele momento, fazendo algum comentário irônico. Mas algo o segurou, e ele ouviu um pouco mais.
  - Ah, entendi. - pigarreou. Eles ficaram poucos segundos em silêncio, e então o rapaz voltou a falar. - Você... quando estiver mais livre e menos cansada... você... gostaria, sabe... de talvez dar uma volta comigo para... relaxar, descansar... sabe.
   segurou a risada, o garoto era tão enrolado que nem conseguia chamá-la para sair decentemente. Não sabia de quem mais tinha dó, de por ter um cara daqueles gostando dela, ou de , por estar convidando , a garota violenta, ocupada, egoísta e irritadiça, pra sair. Sorrindo, deu um passo em direção à cozinha, mas então ouviu:
  - Ahn, claro. Pode ser.
  Ele hesitou. Ela tinha concordado? Com aquele pedido ridículo e embaraçado? Ainda parado, seus pensamentos se emboloravam. Ele não tinha certeza do que estava achando tão absurdo naquelas palavras. Ela podia sair com quem ela quisesse, não podia? Afinal, nada a impedia. Mas ainda assim, achava que havia algo errado com aqueles dois saindo juntos.
  Sorriu fraco. Ia ser melhor assim. Agora, ele não ia mais precisar continuar com aquela farsa de fingir se preocupar com ela. Ela era lerda e demorava anos para entender e começar a se cuidar, ele estava começando a cansar mesmo. Sim, aquele a convidando para sair seria ótimo. Ele então seria namorado dela, e cuidaria dela, e voltaria à sua vida normal. E não se preocuparia mais com .
  - Esqueceram o bolo! - sorriu, finalmente entrando na cozinha. afastou-se de , que tinha um sorriso envergonhado e as bochechas coradas, e arqueou levemente as sobrancelhas. Por um instante seus olhos se encontraram e ela lhe pareceu normal. Era uma das primeiras vezes que ela não o olhava com irritação. E a primeira vez ainda tinha acontecido naquela noite.
  - Pode deixar na geladeira. - o tom de voz dela era um pouco cansado, e calmo. sentiu um arrepio e concordou com a cabeça, obedecendo-a.
  - , você parece cansada. Acho melhor irmos. - disse, lançando um olhar para .
  - Ah. - ela corou. - Tudo bem. Obrigada pelo jantar, . Obrigada pelo bolo e pela companhia, . - ela sorriu, principalmente para . já estava na porta.
  - De nada, donzela. Não esqueça de ir trabalhar amanhã. - acenou, saindo.
  No corredor, ainda pôde ouvir a voz de "Depois nós conversamos com mais detalhes sobre... quando sairmos", e ouviu concordar. Segundos depois, o vendedor de doces já estava do lado de fora do apartamento, destrancando a porta do seu. surpreendeu-se por ele morar tão perto, logo em frente à ela.
  - Ei, você ouviu? - o elevador tinha acabado de chegar, mas o chamou, e o olhou.
  - Sobre você a chamando pateticamente para sair? Tente gaguejar menos, colega. - ele fez joinha, sorrindo irônico. deu um sorriso curto.
  - É por isso que ela não te aguenta, sabe. É uma pena pra você. Teve momentos que parecia que ela realmente gostava de você, mas você me deixou mais tranquilo. Se é assim que você age sempre que está perto dela, não tenho com o que me preocupar. Ela nunca gostaria de você. - disse, depois acenou com a cabeça. trincou os dentes e correu até a porta dele, impedindo-o de fechá-la.
  O vizinho de arregalou os olhos, um pouco assustado.
  - Cuide bem dela, ouviu. - disse, apenas, se afastando. Correu de volta para o elevador, antes que esse saísse do andar, indo embora.

Capítulo 9.

  Capítulo focado no favorito
  Os dias se passaram normalmente. ocupou-se em terminar o trabalho para a faculdade, e conseguiu a tempo, ao passo que melhorava seu desempenho no trabalho. voltara a agir como no primeiro dia de trabalho, ignorando-a e trocando poucas e breves palavras, o que a confundiu. Mesmo a irritando, ele tinha estado bem mais próximo, e o clima agora estava estranho novamente, o que Miki percebeu. Ela comentou com , mas a garota apenas deu ombros, sem explicar muito mais. Decidiu voltar ao plano que tinha antes: ignorá-lo. E funcionava.
  Não precisava mais que ele ficasse mais atento a ela a cada movimento, embora sentisse um arrepio, um vazio, sabendo que agora ele não a olhava pelas costas para ter certeza que ela estava bem.
  Essa sensação vazia passou logo. Ela ia se acostumar de novo com as coisas do jeito que eram antes. E às vezes se pegava pensando em e em como seria o encontro deles, que ainda estava para acontecer. Ia ser no domingo. Depois de explicar a situação, um pouco encabulada, para Miki, e observar a chefe parecer inicialmente desapontada por ela não estar saindo com , e secundariamente surtar por ela estar tendo um encontro, conseguiu permissão para folgar no domingo. Miki decidiu dar folga para os dois, dizendo que resolveria o que fazer para que eles compensassem.
  - Eu não preciso dessa folga. - reclamou, durante a limpeza de sexta à noite. - Virei amanhã e virei domingo, Miki.
  - , eu vou fechar no domingo. Não vai ter o que fazer aqui, a menos que queira ficar de palhaço lá na frente.
  - Você vai fechar? Por quê? - o garoto estava com uma expressão chocada no rosto. A japonesa sorriu.
  - Também preciso de uma folga! Vai ser meu aniversário de casamento, então vamos passar o dia fora! - ela parecia realmente animada e surgiu ao seu lado, sorrindo e parabenizando. As duas começaram uma conversa empolgada sobre os planos e o rapaz de cabelo apenas bufava enquanto limpava tudo.
  Se Miki não ia abrir no domingo, significa que ele podia arranjar algo pra fazer, sair com amigos ou coisa assim. Mas ele não estava animado para isso. Olhou , que enquanto guardava os pratos conversava com Miki sorrindo. Começou a pensar que podia levar o almoço para garantir que ela comesse, mas interrompeu-se a tempo quando lembrou que ele não tinha mais que fazer isso, e que ela provavelmente almoçaria com em um shopping ou coisa do tipo.
  Sorriu de canto e pensou que podia chamar uma garota para sair também, e atrapalhar o encontro de . Apenas para irritá-la. Fechou a cara ao perceber o que estava fazendo e largou a vassoura encostada numa mesa, quase correndo para a parte dos funcionários.
  - ? - ouviu a voz da chefe, mas apenas avisou que precisava ir, pegou seu casaco e saiu correndo dali.

  Enquanto andava até o ponto de ônibus para pegar o transporte que o levaria em casa, sentia a brisa fria no rosto. Por que estava querendo incluir nos seus planos de folga? Ele podia fazer qualquer coisa que quisesse, de ficar de cuecas em casa jogando videogame e comendo porcarias o dia inteiro a ir para a praia em um bate-volta. Mesmo a Inglaterra, que era pequena, era grande o suficiente pra ele estar em algum lugar diferente de .
  Mas que saco aquilo! Era tudo culpa do médico. Agora ele estava preocupado de verdade se a menina não se cuidasse, e nem sabia o por quê. Ela parecia estar melhor, não tivera nenhuma crise de desespero, não reclamara do trabalho da faculdade e nem parecera extremamente cansada. Ela estava bem. Isso significava que sua missão estava cumprida, certo? podia parar de se preocupar e seguir em frente, e as coisas seriam como sempre. Mas essas "coisas como sempre" seriam antes de ele a conhecer, ou depois?
  Com raiva, deu um soco numa das barras de suporte do ponto de ônibus, cansado de pensar naquilo tudo.

  Era domingo e estava nublado. acordou extremamente cedo e mal humorado. Na noite passada, dois amigos dele ligaram e o convidaram a ir jogar futebol num parque. Precisando descarregar as energias acumuladas, concordou, mas agora parecia uma péssima ideia. Seu corpo mal conseguia sair da cama, quem diria aguentar um jogo de futebol? Mesmo que fosse uma coisa descontraída e simples, ele já se sentia cansado.
  Arrastou-se até o banheiro, trocou de roupa, comeu qualquer coisa e logo estavam batendo em sua porta. O tempo fechara mais, e estava mais frio, então ele colocou um casaco. Não demoraram muito para chegar no parque, e surpreendemente ele estava um pouco lotado para um dia tão feio. Haviam muitas crianças, além do pessoal que ia jogar futebol, e algumas famílias. Parecia que estava tendo algum evento por ali.
  Distração. Diversão. Esse era o mantra da mente de enquanto cumprimentava pessoas que ele conhecia e não sentia vontade de ver naquele momento. Recebeu um colete azul e o vestiu, já seguindo para o campo com seu time. Durante o jogo, conseguiu focar sua mente apenas no jogo, levando seu corpo quase à exaustão. Queria desligar, de tudo.
  Seu time venceu de vários gols a poucos, a maioria feitos por ele. Ofegante e coberto de suor, limpou a testa com a barra da camisa e foi até o bebedouro que tinha no parque, encher uma garrafa de água que lhe deram. Com o peito subindo e descendo rapidamente, olhou em volta enquanto a água ia completando a garrafa. Surpreso, seu olhar interrompeu-se em um casal que andava lado a lado, conversando alegres. , foi o que ele reparou. E o cara dos doces.
   fez uma careta com a boca. Era mesmo verdade, ou ele estava vendo coisas por causa do cansaço? Todos os lugares da Inglaterra para os dois saírem, e eles vinham no mesmo parque que ele viera para se distrair? O que era aquilo? Perseguição?
  Incapaz de se controlar, esqueceu do jogo e seguiu atrás dos dois discretamente, querendo ter certeza. Eram eles, confirmou. Ele reconhecia a voz de . Só que ela nunca usara aquele tom de voz, alegre, descontraído, com . Observando-a, mesmo de longe, ela toda parecia feliz e descontraída. Parecia até brilhar. sorria um pouco envergonhado, mas parecia bem também.
  Todos estavam bem. Felizes. Se divertindo e se distraindo.
  Exceto .
   estava com aquela sensação estranha no estômago, e aquilo o incomodava tanto que parara de os seguir e agora apenas olhava o casal se afastar. O que era aquele sentimento? Era só . Ele não tinha que ficar estranho por nada. Ela finalmente se cuidava, estava saindo com um cara e não ia mais encher o saco de . Era para ser assim, era pra ser só isso. Mas então por que não era?!
   percebeu, com a respiração falha, que esperava que fosse ruim. Que fosse um péssimo cara e que estivesse desconfortável em estar com ele. Que ela se irritasse e brigasse com ele a cada palavra dita, como fazia com . Este queria que fosse pior que um cara legal que a entregava doces e a chamava de "". Mas não era. era bom pra ela, a fazia bem. Deixava-a feliz, e bem.
  Mas o que era aquilo?! Por que sentia aquele aperto todo?
  Fechou os olhos e percebeu que começara a chuviscar. Depois, a chover mais forte. Sua respiração já acalmara e e sumiram havia tempo de seu campo de visão. Nem o repararam. Antes que o aperto doesse mais, ele decidiu assumir para si mesmo o que era aquilo. queria tomar conta de , como fazia antes. No fundo, se preocupava mesmo com ela, ou não a teria ajudado naquele dia que ela passara mal. E depois, passara a se preocupar mais, sem contar que acabava se divertindo com as expressões e reações dela. Mesmo que ela não parecesse feliz ao seu lado, ou que se irritasse com tudo que ele fazia ou falava, não deixava de se sentir bem quando ela estava perto dele.
  - Pare com isso. - resmungou pra si mesmo, levando as mãos até os olhos e pressionando-os de leve. - É egoísmo.
  E era. ficava irritada perto dele. Não gostava da presença dele, e o fato de ele tentar ajudá-la apenas a incomodava. E ele ainda se atrevia a confessar para si mesmo que apreciava a companhia dela? Que gostava de se preocupar com ela? Aquilo era ridículo. Ele não tinha o direito de fazer aquilo.
  Deu as costas ao caminho que seguira, e começou a andar. A vida tinha que continuar. Ele ia seguir em frente, não ia? não ia se importar mais com ele, se é que algum dia se importara. Ela ficaria bem que ele se afastaria dela, e então teria um romance digno de merecimento com , casaria com ele e ele cuidaria dela para sempre. não era mais necessário para ela.
  Mesmo que quisesse.

Capítulo 10.

  O café Coffie&Coffie ultimamente tinha estado com um clima um pouco estranho na parte da tarde. Embora os atendentes fossem prestativos e simpáticos, os clientes podiam perceber uma leve tensão no ar. O garoto e a garota mal se falavam, mesmo quando era à respeito do trabalho. É claro que os polidos ingleses não se atreviam a se intrometer no trabalho dos outros, mas era um pouco surpreendente e desconfortável ter que vê-los trabalhando.
  Miki também reparara no clima que se instalara há um tempo entre e , porém não se atrevia a falar muito sobre isso com eles. sempre fora um rapaz mais fechado, extremamente eficiente, só que ela sabia que aquele não era um lugar que ele gostava de estar e ele apenas era respeitoso com ela por ela ser a chefe. Não esperava realmente que ele surgisse e desabafasse seus sentimentos com ela. E , embora um pouco mais falante e aberta, também não parecia muito à vontade de falar sobre o colega de trabalho e os problemas que estavam passando. Miki já tentara abordar a garota algumas vezes, não resultando em nada.
  A japonesa pensou que deveria fazer algo à respeito dos dois. Eles precisavam sair e conversar. Com essa ideia na cabeça, numa sexta feira fria, avisou aos seus funcionários que tinha que sair mais cedo e que eles tomariam conta do estabelecimento até fecharem. e concordaram, e continuaram o trabalho como sempre.
  Quando a Sra. Brooks saíra, não faltava muito para o expediente acabar, e por estar frio, não tinham muitos clientes.
  - Acho que já podemos fechar. - disse, olhando o relógio. Faltava cinco minutos para fecharem mesmo, e não havia mais ninguém ali além dos dois. Parecia ventar muito do lado de fora, e já estava bem escuro.
  - Tudo bem. - concordou, indo até a porta e virando o sinal. Trancou a porta e virou-se, mas já tinha entrado. Recolheu o que precisava ser lavado, levando para a cozinha, onde a garota já se ajeitava para lavar os talheres.
  - Pode deixar aí. Eu lavo tudo. - ela disse, apontando para o espaço vazio no balcão onde ele poderia deixar os pires, xícaras e pratos. - Acho que tem uma mesa que ainda não foi limpa, a dos últimos clientes.
  - Eu cuido de lá. - ele falou, deixando as coisas onde ela indicara e dando as costas. Estava na porta quando a ouviu resmungar "outch!", e virou-se para ela.
  Obviamente não era um corte muito profundo, mas o fato de estar perto d'água fazia parecer uma catástrofe, e avançou de volta ao ver segurando o dedo.
  - Tudo bem?! - perguntou, aflito. Ela levantou os olhos para ele, corando.
  - Ah, sim. Eu me cortei com uma faca. - riu sem graça, voltando a olhar o dedo. Passou-o embaixo da água corrente e limpou o corte. - Não é nada demais, é só que toda essa espuma e água diluem o sangue e fazem parecer muito pior. - explicou.
  - Quer que eu faça um curativo? - ofereceu, depois pigarreando. O que estava falando?! Ele não tomava mais conta dela. corou um pouco mais e negou com a cabeça.
  - Não precisa se preocupar. - sorriu fraco. Fechou a torneira, mantendo reto o dedo que voltara a sangrar, e foi até os fundos, onde tinha uma caixinha de primeiros socorros.
  - Hm... - ele sentia que precisava falar algo. Os dois não se falavam havia tempo, e provavelmente nunca conversaram tão calmamente. - Eu termino aqui, então. Acho que a mesa não está tão suja assim. - ofereceu, e limpou o sangue dela da pia, recomeçando o trabalho que ela interrompera.
  - Desculpe pelo incômodo. - , concentrada em seu dedo anelar e no curativo, murmurou. fingiu que não escutou, mas sentia leves borboletas em seu estômago. Os dois ficaram em silêncio, terminando o que faltava rapidamente. Ele ouviu o estalar da caixinha de primeiros socorros sendo fechada e julgou que terminara. Secou as mãos, desligando a torneira, e virou-se para ela quando ela voltara à cozinha.
  - Ei... - chamou-a, fazendo-a olhá-lo. - Como você está?
  , surpreendentemente, soube que não estava falando sobre o machucado no dedo. O jeito que ele a olhava, expressando um pouco de preocupação e ao mesmo tempo algo que ela não conseguia identificar, a deixou levemente desconcertada. nunca olhara para ela daquela forma. Era sempre de um jeito arrogante ou convencido, que a fazia ter vontade de respondê-lo de forma abrupta e quase mal educada. Mas pela primeira vez, esse não era o caso. E ela sabia qual resposta que ele queria receber.
  - Estou bem. - arriscou sorrir. - Definitivamente me acostumei com tudo agora, e está mais fácil de lidar com as coisas da faculdade e o trabalho ao mesmo tempo. E sim, estou comendo. - ela rolou os olhos e sorriu de lado.
  - Que bom. Fico feliz em ouvir isso. - ele murmurou. Se olharam por um tempo, um pouco constrangidos. estava interessada em analisá-lo, porque aquele não era o que estava acostumada a ver. É como se ele estivesse finalmente expondo uma face oculta dele para ela. - E ?
  A pergunta dele a pegou de surpresa. Sua boca caiu levemente, entreabrindo-se, e sentiu o rosto esquentar. Não sabia o que responder para à respeito de . Ele pareceu perceber o desconforto dela com a pergunta e sorriu fraco.
  - Vou me trocar. - o rapaz avisou, retirando o avental e passando por ela.
   sentiu sua presença se afastar e foi para o salão, limpar a mesa que faltava. Quando voltou para se trocar, guardava algumas coisas. Estranhou, achando que ele já iria embora. Se trocou rapidamente, conferiu as trancas e saiu pela porta lateral dos funcionários, fechando-a também. Surpreendentemente, a esperava na rua, o vento batendo no rosto e bagunçando o cabelo dele. As luzes da rua e o escuro da noite faziam um contraste e secretamente o admirou, novamente o achando bonito. Balançou a cabeça, lembrando-se de quão arrogante ele podia ser, e andou até ele.
  Nenhum dos dois disse nada, começando a caminhar juntos na direção do metrô que ela pegaria. analisou o casaco quente que vestia, sorrindo de canto ao lembrar-se da vez que eles brigaram pelo casaco dele. Colocou as mãos nos bolsos e seguiu ao lado da garota, até quase se aproximarem do ponto de metrô.
  - ? - a voz dela o surpreendeu, e ele a olhou. Ela o olhava de um jeito estranho.
  - Sim? - perguntou, confuso. Imaginou se ela havia conversado com ele e ele não tinha escutado.
  - Você não pega ônibus naquela direção? - ela apontou para trás, a direção contrária para a qual eles estavam indo antes de pararem. acompanhou com o olhar a rua para qual ela apontava e respirou fundo, soltando uma risada sem graça depois.
  - Força do hábito. - resmungou, voltando a parecer, ao ponto de vista de , com o que ela lembrava que ele era. Se encararam um tempo e ele ajeitou a bolsa sobre o ombro. - Bom, acho que vou ent...
  - Você mudou. - o interrompeu, inclinando a cabeça levemente para o lado esquerdo. prendeu a respiração e franziu as sobrancelhas. - Eu acho, pelo menos. - ela deu um sorriso fraco. - Você está diferente do que costumava ser. - deu ombros.
   não soube o que responder, baixando a cabeça e olhando os pés. Chutou fraco o chão, e depois elevou o olhar, voltando a encará-la.
  - E você parece triste. Mesmo falando que está bem. - ele contou o que notara mais cedo e novamente pareceu surpreendê-la. desviou os olhos, um carro passou buzinando por eles e as luzes iluminaram o rosto dela, ao mesmo tempo que o vento fazia os cabelos esvoaçarem. - Está mesmo tudo bem? - ele insistiu.
  - Eu... - ela começou, depois fechou os olhos e respirou fundo, soltando o ar pesadamente. Abriu os olhos e o encarou. - Não deu certo com . Acho que não era pra ser, no fim. - murmurou, dando ombros e balançou-se para frente e para trás suavemente.
   não soube o que falar por um tempo, uma profusão de sentimentos instalando-se em seu peito e cabeça. novamente sorriu fraco para ele, de uma forma quase conformada, e virou-se para ir para o metrô. Logo que ela deu o primeiro passo, segurou seu braço. Não ia deixá-la ir sem se despedir.
  - Hm, ? - ela perguntou, confusa. olhou para os lados, um pouco embaraçado, e parou o olhar no rosto dela.
  - É sexta à noite. O que... o que acha de comer algo? - convidou.

Capítulo 11.

   analisou aquela situação mais de uma vez em sua cabeça. E ainda não entendia exatamente tudo que acontecera e levara-os até ali, naquele restaurante, em uma sexta-feira à noite depois do trabalho. estava estranhamente quieto e bonito. Seu cabelo estava um pouco desarrumado por causa do vento frio da noite, os olhos parecendo pela primeira vez honestos e sem nenhuma malícia ou ironia nas íris coloridas. Ela não conseguia parar de se pegar admirando o colega de trabalho quando ele estava decidindo o que comeria ou checando a noite. Quando percebia o que estava fazendo, a brasileira corava e desviava os olhos.
  Tudo era muito confuso, quando pensava. Primeiro, eles se odiavam. De repente, ele começa a tratá-la bem e diz-se apaixonado por ela. Ela continua a irritar-se com ele. E então, quando ele conhece , se afasta como se tudo fosse uma farsa (e ela não duvidasse que fosse, embora não entendesse o por quê de tudo aquilo). E aí, subitamente volta a parecer interessado nela, a tratando melhor. sentia que sua cabeça poderia explodir.
  - Então... - chamou sua atenção, brincando com o copo de água que estava na metade. Desde que entraram no restaurante, aquela foi uma das primeiras palavras que ele proferiu. As outras tinham relação sobre o que iriam comer. - Sobre o que quer falar? - percebeu que ele também estava estranhando aquele clima. Sorriu de lado e deu ombros.
  - Você que fez o convite. Achei que tinha algo em mente a ser abordado. - respondeu, pegando seu copo e dando um gole. sorriu fraco, a olhando.
  - Eu sei. Mas é que eu não queria ser muito direto, achei que tentar algum outro assunto seria melhor. Só não sei qual. - ele riu, sem graça. Afastou o corpo e recostou as costas na cadeira, ainda a olhando. arqueou uma sobrancelha. Então ele tinha algo para falar para ela?
  - Essa é a primeira vez, acho, que realmente conversamos sem briguinhas e ironias. - comentou.
  - Sim. Toda vez que eu tentava puxar assunto, você quase me chutava para que eu calasse a boca. - o sorriso de era menos forçado agora, e ele parecia incrivelmente mais bonito.
  - Eu queria muito te chutar mesmo. - ela confessou, rindo e depois tomando outro gole, enquanto a risada dele ecoava a sua.
  - Ainda não entendo o que te fiz. - ele deu ombros e passou a mão no cabelo. - De qualquer forma, isso é passado. Acho. Ou ainda quer me dar um chute? Prefere que eu me cale? - perguntou, olhando pra ela.
  - Não. Hoje não estou com vontade de te bater, incrível. - ela disse, e depois riu de ele repetindo, silenciosamente, apenas movendo os lábios, a palavra "hoje", uma cara surpresa. - Na verdade, estou até com vontade de conversar com você. - contou, desviando o olhar.
  - Converse então. Podia não parecer, mas eu sempre me interessei em saber mais sobre você. - ele voltou a brincar com o copo. o olhou, um pouco admirada com sua honestidade. - O jeito que você agia, colocando outros em mais importância do que você, seu jeito de me evitar e que ainda assim me fazia ter vontade de ir atrás de você. Talvez eu seja masoquista. - ele comentou com um sorriso e riu sozinho. Levantou os olhos para ela. - Pode contar, estou ouvindo.
  - Contar? - ela arqueou as sobrancelhas. levantou os ombros e sua expressão era algo como "sim, por que ainda não começou?". bufou. - Acha que vai ser assim é?
  - O que você quer dizer com isso? - vez de ele encará-la confuso. sorriu.
  - Quero dizer que, se eu contar a minha história, você vai ter que contar a sua também. - ele pareceu surpreso, como se nunca tivesse pensado naquela possibilidade. - Acha que eu não tenho curiosidade em saber quem é você ?
  - Está bem, está bem. Você me conta a sua história e eu conto a minha. Feito? - ele levantou as mãos em sinal de rendimento e ela sorriu, concordando com a cabeça. O garçom chegou à mesa deles, colocando os dois pratos fumegando, e as bebidas que tinham pedido. Arrumaram-se, mas apenas começou a comer. cruzou os dedos na frente do rosto, cotovelos apoiados na mesa, e ficou observando-a quase discretamente. - Pode começar.
  - Eu não sei como começar. - ela riu sem graça, dando ombros. rolou os olhos, parecendo o velho irritante de sempre. Ela trincou o maxilar, involuntariamente.
  - Por que você quer sempre fazer tudo sozinha e não aceita a ajuda de alguém pra qualquer coisa? - ele decidiu ser direto. surpreendeu-se, mastigando lentamente e pegando o guardanapo, para ganhar tempo. finalmente começou a comer o que estava em sua frente.
  - Eu sempre tive dificuldade em fazer amigos. - ela começou, desviando os olhos para a comida que exalava uma fumaça cheirosa. - Eu acabo sempre esperando demais das pessoas ao meu redor, e é bem fácil ser desapontado assim. Comecei então a tentar não depender de ninguém, porque quanto mais você depende de alguém pra algo, menos você conseguirá fazer aquilo sozinha. E parece que tenho uma tendência a acabar sozinha. - fez uma careta com a boca, parecendo desgostosa. prestava atenção em todas as suas palavras. - Por isso sempre tento me virar sem a ajuda de ninguém, assim que quando me deixarem, não vou estar tão desfalcada.
  - Que irônico, quando eu te conheci você já estava desfalcada. - ele comentou, arqueando uma sobrancelha, e sentiu aquela vontade de pegar a faca que estava ao seu lado e atirar em atingi-la. Ela bufou. - Quer dizer que você poderia ficar pior que aquilo? Isso é preocupante.
  - Não importa. - ela reclamou, voltando a comer. analisou-a com um sorriso de canto. - Não vai acontecer. Vou conseguir fazer tudo sozinha.
  - Se quer fazer tudo sozinha, tudo bem. - ele ergueu as mãos em sinal de rendição. - Só não precisa fazer tudo pelos outros também, como você tem mania de fazer.
  - Mas eu gosto de ajudar. - ela corou um pouco. - É bom ver que se é útil para as pessoas e que você pode fazer o dia delas um pouco melhor, nem que seja com uma pequena coisa. Prefiro ajudá-las a fazer coisas que eu preciso, é verdade.
   não soube o que responder. Ficou olhando-a, tentando adivinhar como podia existir alguém nesse mundo que pensasse daquela forma, e ela sustentou seu olhar. Percebeu que era a primeira vez que parava e ouvia realmente o que ela dizia, sem contestar de forma irônica ou irritante. E também, era a primeira vez que ela falava tão calmamente com ele, e contava coisas assim. Provavelmente porque antes ele nunca parecera interessado.
  - O que foi? - decidiu quebrar o silêncio, corando e finalmente desviando os olhos. piscou algumas vezes, percebendo que estava encarando-a por muito tempo, e então também baixou seu olhar para o prato comido pela metade. Deu mais algumas garfadas e ficaram mais um tempo em silêncio.
  - Acho que nós dois mudamos. - ele comentou, depois de tomar um gole da bebida que havia pedido. sorriu de canto.
  - Sim. - foi tudo o que ela disse. Olhou para fora da janela e então voltou a olhar . - Sua vez. - alargou o sorriso.
  - Ah? - ele fingiu não saber do que ela estava falando, tentando fugir ao assunto. arqueou as sobrancelhas apenas, mostrando que não adiantava fazer aquilo que ela continuaria insistindo. suspirou. Ela nunca o vira desconfortável daquela forma, e ele nem demonstrava tanto. Remexeu-se um pouco na cadeira, ajeitou a manga do casaco que vestia.
  - Há uns meses, eu costumava andar com um grupo de colegas - ele disse a palavra de um jeito estranho, contando sem olhar para ela, embora mantivesse seu olhar fixo ao rosto bonito dele. - que não eram a melhor escolha. Numa noite, acabamos nos metendo em encrenca e isso acabou envolvendo a Miki e seu café. Todos os outros fugiram e me deixaram pra trás, e eu fui pego, por isso só eu ia receber punição. - ele batucou levemente com os dedos na mesa. - Mas como você sabe, a Miki é uma pessoa com um coração maior que o corpo, e disse que se eu trabalhasse por seis meses lá, nada aconteceria na minha ficha, nem nada do tipo. Só tinha a ganhar. Eu concordei, meio a contragosto, porque achava o café uma coisa de meninas, e bem, você sabe, - ele deu ombros, lançando um olhar rápido para ela - eu sou o único garoto que trabalha lá.
  - Por que você estava andando com os tipos estranhos? - perguntou, achando aquilo atípico de um garoto como . Ela realmente não o conhecia bem, estava conhecendo-o agora, mas o jeito que ele cuidara dela, mesmo talvez contra sua vontade, não a fazia conseguir enxergá-lo no meio de gangsters ou coisa do tipo. Ele virou seus olhos para ela, depois riu fraco e baixou o olhar. Pareceu um pouco envergonnhado.
  - Meu pai morreu quando eu era pequeno. Não lembro muita coisa dele, mas sempre me dizem que éramos muito chegados. Ele tinha muito orgulho de ter tido um filho homem, e me tratava quase como um príncipe. Minha mãe, ao contrário - fez uma careta com a boca - nunca nem pareceu ter me dado à luz. Às vezes eu imagino se ela realmente o fez. Ela é uma empresária importante, ela e meu pai foram um raro caso de "casamento de nobres" que se casaram por amor. Eu não sei o que aconteceu com a mulher depois que meu pai morreu, mas eu não consigo imaginá-la amando alguém além de ela mesma e do dinheiro. - Contou, trincando os dentes e mantendo o olhar fixo em algum ponto. entendeu que ele não precisava falar mais nada para que respondesse sua pergunta.
  O silêncio abateu-se sobre a mesa e eles terminaram a refeição. Mesmo quando fez sinal para o garçom pedindo a conta, absolutamente nada foi dito. E eles não sentiam como se precisasse. Depois daquele jantar, sentiam-se mais próximos, mais amigos, e aquele vazio de palavras não era desconfortável, na verdade meio que os acolhia e os unia.
  Levantaram-se, deu passagem para que ela saísse na frente e quando ela sorriu para ele agradecendo, o garoto sentiu-se tentado a falar para ela que parte dele sentia falta de cuidar dela, mesmo sabendo que agora ela está bem, que não precisa mais dele. Só que ainda assim, mesmo o plano do médico tendo funcionado, ele queria que ela precisasse dele, nem que ele a irritasse novamente. O fato de se sentir necessitado, que estar lá para ajudá-la ou não fizesse diferença na vida de , era o que o motivara a aceitar o que o médico propusera. Sua mãe nunca precisara dele; sempre tivera criados e o dinheiro. Amigos, vinham e iam. Até os da gangue, ele se surpreendeu ao se ver abandonado. Não que esperasse muito mais daquele tipo de garoto, mas algo brilhava dele como uma leve esperança de que alguém ficaria para trás e voltaria para ele.
   era a única que ainda estava lá. Mesmo não precisando dele, ela estava ali, sorrindo para ele enquanto ele lhe dava passagem. Ela gostava de ajudar os outros, preferia ajudar os outros a fazer coisas para si mesma, como ela dissera. Ela se importava. Pessoas que se importam são importantes. Ele precisava de alguém que se importasse, que o ajudasse, que precisasse dele.
  Tudo isso estava entalado em sua garganta enquanto ela passava em sua frente, com aquele sorriso. apenas sorriu de volta, um pouco desnorteado com tudo que lhe acometera à mente só com aquele curvar de lábios. Mal sabia que na cabeça de , a confusão era quase igual.
  Vendo-o ali, com a mão estendida para que ela passasse em sua frente, um olhar limpo e tranquilo, depois de ouvi-lo contar toda a história, tudo que queria fazer era pular em seu pescoço e dar-lhe um abraço, dizer que tudo estava e ia ficar bem. E aquele jeito dele de agir agora, como se realmente se importasse, pôs em dúvida tudo o que ela pensou dele desde que se conheceram até aquela noite. Sentiu vontade de perguntar se naquela época ele realmente estava apaixonado por ela, ou se era uma desculpa. Ela aceitaria a primeira possibilidade agora com muito mais facilidade. E, quando ele apressou-se um pouco mais para abrir a porta para que ela saísse do restaurante, algo dentro dela estalou e ela entendeu que não queria fazer tudo sozinha. Ela acreditava piamente no que havia contado a no começo do jantar, mas também se conhecia e sabia que no fim sempre acabava se entregando, confiando em outra pessoa. queria confiar em , queria que ele viesse em seu socorro quando precisasse. No fundo, sabia que o faria, e era por isso que sempre se sentira tão tranquila antes. Ela se esforçaria para que conseguisse fazer tudo sozinha, assim não atrapalharia ; todavia, caso falhasse, a queda não seria dura porque ele estava ali para ampará-la.
  Todas aquelas palavras que ficaram rodando na mente dos dois foram sufocadas pelo vento frio. Era tarde, mesmo sendo sexta à noite, eles não deveriam demorar-se no centro. Nenhum dos dois falou o que se passava em suas mentes, e trocaram um olhar.
  - Bom acho que... seria melhor irmos para casa, não? - apontou para trás de si, meio confusa. Queria ficar mais tempo, explorar o novo , explorar os sentimentos, mas sentia que não podia ser agora. Ela teria que ficar um tempo sozinha em seu apartamento, pensar em tudo o que estava acontecendo e aí sim voltar a encará-lo com esses novos olhos que estavam se desenvolvendo.
  - É uma boa. Está uma noite fria. - ele sorriu fraco. - Vou te acompanhar até sua casa.
  - É incômodo. - fez uma careta com a boca. - Você mora para o outro lado.
  - Não tem problema. - deu ombros, pegando gentilmente no cotovelo dela e começando a andar, de forma que ela se viu forçada a acompanhá-lo. não queria que ela olhasse em seus olhos e percebesse o quanto ele queria apenas ficar mais um pouco com ela, por isso virou o rosto para o outro lado. - Não tenho hora para voltar, e ninguém vai se importar mesmo. - achou que era seguro olhar novamente para ela e o fez, e ela também o olhava, como se tentasse ler sua expressão. sorriu fraco e, devido a um vento frio, segurou no braço dele e encostou-se mais a seu corpo, para manter o calor.
  - Vou aceitar a companhia, então. - murmurou, permanecendo abraçada a ele. Sentiu o rosto esquentar, mas não levantou os olhos para ver que as bochechas de também foram preenchidas por uma coloração avermelhada, assim como um mínimo sorriso satisfeito brotara em seu rosto.

Capítulo 12.

  - -chaaaan! - Miki cantarolou, puxando a funcionária para a área dos armários dos funcionários assim que a brasileira pisou na loja. , confusa, apenas seguiu a chefe, querendo entender o que acontecia.
  - O que houve, Miki? - ela perguntou, um pouco preocupada. Mas sabia que não podia esperar coisas sérias, encarando aqueles olhos puxados mas brilhantes de emoção.
  - Você e o ! - Miki disse, quase num sussurro. corou. - Vocês não estão mais com aquelas auras negras em volta de si! - ela quase saltitava enquanto falava, e a garçonete não sabia muito bem como reagir.
  - Errr auras negras, Miki...? Você vê esse tipo de coisa?
  - Na verdade não, mas fico o dia inteiro observando vocês dois, e desde sexta passada, tudo parece tão melhor do que antes! O ambiente está muito melhor agora, nunca esteve tão bom! - Miki disse, alegre, e saiu para ver algo, sem dar tempo de responder.
  - Nos observando...? - perguntou para si mesma. - Você não deveria trabalhar ou algo do tipo? - bateu a mão na testa e depois soltou uma risada. Aquele era o jeito de Miki, e era uma das coisas que mais gostava no local de trabalho.
  Separou a roupa e foi para o banheiro, pensando no que ela havia dito. Realmente, desde o jantar, o clima com melhorou muito mais. Eles agora estavam quase coordenados, vindo ajudar o outro sempre que precisava, mas quase sem trocar uma palavra. Às vezes seus olhares se encontravam e percebia seu rosto esquentar quando arriscava um sorriso para o garoto, e seu coração acelerava ao vê-lo retribuindo. Não, não, não estava apaixonada por ele! As coisas... só estavam melhores. Só isso.
  Suspirou e saiu do banheiro, alisando o vestido e arrumando o rabo de cavalo. Já havia comido algo, e não estava com muita fome, por isso dispensou o almoço que Miki oferecera. Foi para o salão e avistou alguns clientes habituais, indo cumprimentá-los antes. Controlou-se para não varrer com o olhar todo o lugar, à procura de , mas não pôde não fazê-lo quando Louise, uma das funcionárias da manhã, passou por ela e a cumprimentou com um "Oi!" baixinho. , depois de recolher os pedidos, observou tudo e não achou em lugar nenhum.
  Ficou um pouco preocupada. Ele disse no jantar que trabalharia lá seis meses apenas, para cumprir a "pena" pelo que se envolveu com a gangue. E se já tivesse dado os seis meses, e ele tivesse ido embora? Ele não faria isso sem avisá-la, certo? Agora, pelo menos, ela sentia que ele a avisaria se algo assim fosse acontecer. Então ele estava doente? Machucado? Alguma coisa com a mãe dele?
  - Oi, por que está parada aí sem fazer nada? Eu sei que somos pagos por hora, mas você podia ao menos trabalhar. - Ouviu uma voz em tom arrastado e irônico, um pouco divertido, e logo uma mão meio grande pousou no topo de sua cabeça. ergueu os olhos e encontrou os de , que pareciam alegres, um pouco maliciosos. Aquele olhar de sempre que a irritava, mas agora fazia seu estômago dar algumas piruetas.
  - ! - ela tentou não colocar muito alívio na voz, e pra disfarçar, tirou a mão dele à força de sua cabeça e o cutucou na barriga. Ele fez uma careta. - Está atrasado, ! - reclamou, pegando a bandeja e voltando para atender os clientes.
  - Já estava sentindo minha falta, ? - ainda disse, antes de ela sair, e depois soltou uma risada. , ao invés de querer socá-lo, apenas sorriu e aliviou-se por tudo estar bem.

  - Eh? Então você está trabalhando de fins de semana agora também -chan? - Miki admirou-se, enquanto , e ela arrumavam as coisas depois de fecharem.
  - Ahn, sim. - a garota sorriu. - Mas é trabalho voluntário. Estou ajudando numa creche nos domingos que tenho livre. Não é nenhum compromisso fixo e tal, então é bastante fácil de levar. Não vai atrapalhar em nada. - acrescentou, olhando para , como se já esperasse que ele a alfinetasse com algum comentário depreciativo ou provocativo. Ele, sem saída, sorriu de lado e continuou a passar pano na mesa.
  - Que bom! - a chefe comentou animada, organizando os talheres. - Você deve ter jeito para isso!
  - É bom mesmo. Você disse que gostava de fazer isso, no Brasil, não disse? - falou, finalizando e jogando o pano por cima do ombro. o olhou um pouco surpresa, lembrando-se que mencionara isso quando ele a levou no médico. Não esperava que ele lembrasse algo assim.
  - É. - sorriu, corando um pouco. Olhou a chefe, que parecia ter os olhos ainda mais brilhantes. - Chefe, por que eu quase vejo flores rosas rodando ao seu redor?
  - Porque vocês conversaram. Sobre coisas pessoais. - Miki respondeu, apenas, olhando de um para o outro com seu olhar fascinado e animado.
  Constrangidos, os dois evitaram trocar um olhar, e começou a ir para a área dos funcionários.
  - Sra. Brooks, vou indo. - avisou, já tirando a gravata. levantou a cabeça, tirada do constrangimento, e olhou para as costas do colega de trabalho.
  - Mas já? Chega atrasado e vai embora mais cedo? Que autoridade toda é essa, ? - perguntou, indo atrás dele. virou-se, arqueando uma sobrancelha e parando-a colocando a mão em sua testa, de forma que ela não o alcançasse. - Ei! - reclamou.
  - Isso não é nada da sua conta, intrometida! - sorriu provocativamente e a empurrou de leve. encheu as bochechas de ar, sabendo que não podia contestar. Se ele não queria contar para ela, ela não podia fazer nada. - Até amanhã.
  - Não chegue atrasado! - brigou, depois acenando para ele. retribuiu o aceno e saiu. Logo depois, Miki praticamente materializou-se atrás de , sorrindo maliciosa e quase assustando a garota.
  - Então, está preocupada com o ? - a chefe perguntou, um tom de voz meio sombrio. corou e balançou a mão em frente ao rosto, negando.
  - Não é nada disso! Não quero ficar com a carga toda de trabalho, só isso! - falou, rápido, indo para os armários pegar sua bolsa. Ouviu Miki rindo e sentiu o rosto esquentar.
  Quando ia sair, esbarrou em uma caixa em cima de uma cadeira e a derrubou no chão. Miki espiou para ver o que havia acontecido e depois correu até ela.
  - Ahh, desculpe. Consigo me virar sozinha mas não me livro de ser desastrada. - desculpou-se, agachando para ajudar a chefe a recolher os papeis que haviam caído. Reconheceu-os como pastas com informações dos funcionários, com coisas que entregaram logo que haviam sido contratados. Miki riu.
  - Não se preocupe, -chan. Acontece. E isso estava no caminho, comecei a arrumar mas não terminei. Ia guardar melhor. - explicou. levantou a caixa e recolocou-a na cadeira. Miki ainda segurava um.
  - De quem é esse? - perguntou, franzindo as sobrancelhas.
  - Oh! Do . - a chefe sorriu daquele jeito estranho de novo e engoliu em seco.
  - Er, chefe, não acho que você devesse sorrir assim nessa situação, é tão estranho...
  - Vai dizer que não quer ler e saber algumas coisas sobre o Sr. ? - a chefe balançou a pasta na frente de , que fez careta e virou o rosto.
  - Não quero! Isso não é certo, pare... - pediu, corando. Miki riu e abriu a pasta. Depois, arregalou os olhos.
  - Oh! O aniversário do é amanhã! - falou, surpresa, como se não se lembrasse. rolou os olhos, certa de que a chefe só estava a tentando. Ela realmente queria dar uma espiada na pasta, mas aquilo não era certo.
  - Miki, isso não vai funcionar, eu não vou ver. - foi persistente, mas a chefe era imbatível, escancarando a pasta e quase colando-a no rosto de para que ela visse. Quando se afastou o suficiente para pode respirar, a garota viu a data ao lado do nome de e de sua foto 3x4 (incrivelmente bonita), e constatou que a chefe não estava mentindo.
  - Podíamos fazer uma festa! Uma surpresa! Com bolo e chapéus, e balões coloridos! - Miki animou-se e sentiu que, pelo novo amigo, devia impedir aquela vergonha do século de acontecer.
  - Tenho certeza que não ia gostar de nada disso, Sra. Brooks. - foi honesta. A chefe pareceu desanimar. , não querendo ser chata, sorriu sem graça. - E também está bem em cima da hora. Meu aniversário está um pouco mais longe, podemos planejar algo para ele, se você quiser. - ofereceu, sentindo que iria lhe dever por toda a vida por tê-lo safado dessa, mas não pôde ficar realmente chateada ao ver a cara de felicidade da chefe iluminando-se.
  - Aw, -chan! Você é a melhor! - a japonesa saltitou e depois a abraçou. - Daisuki!
   riu, depois pegando sua bolsa e ajudando nas últimas coisas, antes de desligarem as luzes e saírem.
  Ao andar sozinha embora para casa, pensou em , se estaria tudo bem. Ele nunca chegava atrasado, nem saía cedo. Alguma coisa estava acontecendo? Querendo se distrair de pensar naquelas coisas, pensou no aniversário dele. Ele nunca falaria esse tipo de coisa, e ela percebeu que mesmo tendo conversado pouco, sabia muito pouco dele. Descobrira o aniversário por causa de uma pasta de informações sobre ele! O quão mais poderia ter descoberto sobre seu colega de trabalho? O quanto não sabia?
  Decidiu que iria descobrir pouco a pouco. Era assim que as amizades se formavam. As pessoas iam conhecendo um pouco das outras, se interessando, se aproximando. E logo pontes estavam construídas, e a confiança estava estabelecida.
  Ela sorriu com aquele pensamento. A ponte dela e de estava em construção. Passou por uma lojinha de mil (in)utensílios e pensou no que ele gostaria de ganhar de aniversário.

Capítulo 13.

   corria pelas ruas, a bolsa da faculdade balançando nas costas. Estava quase terrivelmente atrasada. Mais dois minutos e estaria catastroficamente atrasada. Era aniversário de , ela perdera a hora de manhã porque tentara cozinhar algo (o que resultou num fracasso) para levar para ele, e agora saindo da faculdade também não conseguira parar em lugar nenhum para comprar algo.
  E ainda por cima estava atrasada.
  Parecia que tudo estava conspirando contra ela. Avistou o Coffie&Coffie e entrou na rua ao lado, alcançando logo a porta dos funcionários e entrando como um furacão lá. almoçava, e parou com o garfo suspenso no ar, surpreso com a garota. apoiou-se na cadeira, ofegante, passando a mão para tirar o cabelo do rosto, sem conseguir falar nada.
  - Pelo menos você se esforça para não chegar atrasada. - ele comentou, provocativo, e ela bufou, sem fôlego para responder. Agora que estava ali, sua ideia de pular em cima dele num abraço e jogar confetinho, cantando "Feliz Aniversário" parecia ridícula. Na sua mente já parecia ridícula, ela nunca poderia fazer aquilo de verdade.
  - D... Desculpe... - foi o que resolveu dizer, afastando-se e indo trocar de roupa, sem comer. Não ia sentar na mesma mesa que ele. Acalmou-se aos poucos e cumprimentou Miki e as funcionárias da manhã que saíam. Trocou de roupa rapidamente e quando voltou, já tinha ido para o salão. Seguiu-o e não teve chance de trocar nenhuma palavra com ele, mas conseguiu que seus olhares se encontrassem e arriscou um sorriso. Ele apenas ergueu um dos cantos da boca, parecendo um pouco alheio ao que acontecia, o que não era costumeiro dele. Normalmente ele estava concentrado nos afazeres.
   mordeu o lábio inferior, um pouco preocupada. Ele estava preocupado pelo aniversário dele? Pensou nos pais dele, o pai já falecido e a mãe que não dava atenção. Como estaria sendo aquele dia para ele? Será que ele havia recebido algum presente, ou a mãe dele simplesmente não se importava a esse ponto? Sentiu a garganta fechar ao pensar nessas coisas. não falara para ninguém de seu aniversário, então como seu dia seria especial? pessoalmente não era fã do próprio aniversário, mas não achava certo quando alguém com quem ela se importava sentia-se mal. Principalmente no dia que deveria ser "especial".
  O dia provavelmente teria passado tranquilamente. Era quinta-feira, não tinham muito movimento. Ainda assim, mantiveram-se ocupados suficiente para que não se falassem. Por volta das três da tarde, o sininho da porta anunciou alegremente novos clientes, e virou-se para cumprimentá-los.
  - Seja bem-vi... - percebeu que a frase do companheiro interrompera-se no meio e lançou um olhar por cima do ombro, tentando identificar o problema. Ao avistar quem estava na porta, sua boca abriu-se em um suave "o" de surpresa.
  A mulher tinha uma aura de poder. E isso não era pelo fato de que havia dois guarda-costas atrás dela e um secretário com cara de nerd ao seu lado. O cabelo dela estavam presos em um coque firme e a maquiagem era leve, mas acentuava seus olhos e deixava-os com um olhar um tanto malvado. Mesmo sendo uma mulher, e sendo vários centímetros mais baixa que o garçom à sua frente, estava muito na cara que aquela parada ali era a mãe de .
   aproximou-se de leve, parando ao lado de que ainda estava parado, surpreso e sem reagir. A mulher lançou um olhar da cabeça aos pés e de volta à cabeça para , fazendo-a se sentir extremamente desconfortável. não devia ser diferente. Ele realmente não parecia bem. tinha que fazer algo. Quando a mãe de abriu a boca para falar algo, apressou-se.
  - Bem vinda! Gostaria de uma mesa para quatro? - perguntou, sorrindo, como se não tivessem se encarando e se estranhando nos últimos segundos. A sra. virou lentamente sua cabeça para a garçonete, que sorria agradavelmente, e depois olhou ao redor do café, com uma leve expressão de nojo.
  - Serve. - resmungou, em uma voz meio autoritária. virou-se para , que agora piscava parecendo acordar de um transe.
  - O que está fazendo parado aí ? Tem outros clientes por aqui. Vá atendê-los. - só tentava agir normalmente. Não queria que soubesse que ela sabia que aquela era a mãe dele. Tudo estava bastante confuso, e ela preferiu fingir que tudo estava bem. Era assim que ela lidava com as coisas.
   olhou-a, um pouco surpreso e em parte desconcertado, e ela lhe deu um empurrão leve para que saísse do caminho, o sorriso ainda brincando nos lábios. Concordou com a cabeça e então inclinou-se respeitosamente para a Sra. e seus funcionários, como sempre faziam com os clientes, e guiou-os até a mesa. Entregou o cardápio e aguardou pelo pedido, que foi apenas um chá de ervas. Aparentemente, era a coisa mais fina do cardápio que podiam oferecer a uma mulher daquele porte.
  Enquanto preparava o chá, pensou se ela estaria ali para uma surpresa de aniversário ou algo do tipo. não pareceu muito animado em vê-la, e o mesmo poderia ser dito a respeito da mãe dele. Era bastante conflituoso, e o ambiente do café parecia ter ficado bastante pesado. Levou o chá para a mesa e depois de depositá-lo com um cuidado um pouco mais exagerado do que o normal, inclinou-se para sair e ajudar no salão com os outros clientes. Esse era seu plano, até ouvir um muxoxo desagradável vindo da mulher.
  - Desculpe... - parou, virando-se para ela. - Há algo mais que gostaria? - perguntou, educadamente. Os olhos da Sra. a analisaram novamente, como se a avaliasse, e depois ela suspirou.
  - Gostaria de saber porque meu filho não está me atendendo, já que só vim até essa espelunca para que pudesse conversar com ele. - ela foi direta e fria. podia sentir atrás dela, mexendo-se e atendendo os outros poucos clientes.
  - Desculpe. está um pouco ocupado agora. A senhora deveria saber que ele está em seu horário de trabalho e não é conveniente que pare o que está fazendo para conversar. Espero que entenda. - sentiu-se na obrigação de responder o mais friamente possível, uma vez que a mulher referira-se ao lugar que gostava de trabalhar como espelunca. - Afinal, até numa espelunca dessas temos a ideia básica de trabalho. Espero que entenda. - repetiu, sorrindo um pouco forçadamente.
  A Sra. deu um sorriso mínimo, fitando-a. não sabia de onde tirara coragem para enfrentá-la, mas não podia deixar mais desconfortável. Ela podia ouví-lo no fundo, gaguejando e pedindo para os clientes repetirem o que pediram. Aquele não era . Ele estava completamente transtornado e a culpa era da presença da mulher sentada na mesa que estava ao lado.
  - Você o está defendendo bastante. - a mulher comentou um pouco irônica. Esticou a mão com unhas vermelhas e compridas para pegar a xícara de chá, mas mudou de ideia, recolhendo-a.
  - Não é exatamente assim... - resmungou.
  - Eu disse que gostaria de falar com o meu filho , e não com o funcionário . - novamente, a Sra. foi direta. - Por favor, retire-se e deixe-o me atender. Não era nem para ele estar aqui, trabalhando num lixo destes, portanto, exijo que ele venha até mim. - falou, num tom de voz suficientemente alto. encolheu-se levemente, mas não podia deixar na mão. Aquela mulher tinha uma aura, um algo que a envolvia que deixava com raiva, algo pior do que o que acontecia antes quando estava perto. Talvez fosse o modo que ela se referia ao Coffie&Coffie, talvez fosse seus seguranças ameaçadores ou seu secretário nerd, talvez fosse o fato de que, de acordo com , aquela mulher nem se preocupava com ele na maior parte do tempo, e agora no aniversário dele surgia e exigia que ele se manifestasse para que conversassem. Não podia lidar com aquilo. Fechou as mãos em punhos, tentando controlar a voz.
  - Sra. , entendo que a senhora tem a necessidade de falar com o , sei que é o aniversário dele mas... - sua voz foi morrendo ao ver a expressão no rosto da senhora, que mudou de repente. Ao ouvir as palavras "aniversário dele", os olhos da Sra. arregalaram-se levemente, surpresos, e aquilo desarmou . A dona murmurou algo rapidamente para o secretário, e este confirmou com a cabeça. De repente, era a Sra. que parecia desconfortável. deixou a boca entreaberta, percebendo tudo. - A senhora... a senhora não lembrava que hoje era o aniversário dele? - perguntou, espantada.
  Antes que a mulher pudesse responder, ouviram o barulho de algo caindo no chão e se espatifando, e voltou a cabeça rápido. já se agachava para recolher os cacos do prato, o rosto completamente vermelho e uma expressão que não soube decifrar. Enquanto o observava, a Sra. levantou-se sem nem ao menos tocar em seu chá de ervas, e ela e sua tropa saíram do Coffie&Coffie sem mais nenhuma palavra. A garçonete queria ajudar , mas ele já estava indo para a parte dos funcionários, jogar os pedaços quebrados, e havia clientes exigindo sua atenção. Pediu desculpas a todos pelo inconveniente e correu para substituir .
  O rapaz não voltou ao salão pelo resto do expediente e supôs que ele havia ido embora. Tentou não pensar muito naquilo, mas seu coração estava apertado e ela queria conversar com ele. Era o aniversário dele, ele não podia ficar daquele jeito! Tinha que ser um dia bom!
  Inesperadamente, o tempo que faltava para ela completar o expediente passou bem rápido, e logo ela se viu fechando o lugar e sentando cansada.
  - -chan. - Miki tinha um sorriso calmo no rosto. - Não precisa fazer a limpeza hoje. Já liguei para Tabitha e Louise e elas virão mais cedo amanhã. Você trabalhou muito por causa... hm, de . - a chefe sorriu, acariciando uma mecha do cabelo dela.
  - Certo. Obrigada, Miki. - a garçonete sorriu e foi trocar de roupa. Suspirou quando se olhou no espelho e ajeitou um pouco o cabelo, mesmo sabendo que logo sairia para o vento e tudo se bagunçaria de novo. Voltou para onde Miki estava terminando de arrumar umas coisas. - Tem certeza que não precisa de ajuda?
  - Hai! Até mais, -chan! - a japonesa acenou, sorridente, e retribuiu.
  Saiu pela porta dos funcionários e respirou fundo o ar da noite. Virou-se para a saída da rua e percebeu a silhueta de um homem ali, ainda dentro do beco, mas bastante próximo da calçada. Apertou os olhos e enxergou o cabelo sendo bagunçado com o vento, e ela sabia que só havia uma pessoa cujo cabelo era daquele jeito.
  - ? - murmurou, mas ele a ouviu, virando-se um pouco para olhá-la.
   sorriu fraco, sem dizer nada, e depois virou-se novamente para a rua. não tinha certeza se estava alucinando, afinal, não comera muito bem naquele dia, mas deveria ser verdade. Aproximou-se dele por trás e segurou a parte das costas do casaco dele, entre o polegar e a lateral do indicador. Era real. mordeu o lábio inferior, sentindo a garganta fechar novamente, e num impulso, jogou seus braços ao redor da cintura de , fechando-os num abraço e apertando as costas dele contra seu rosto. Sentiu-o ficar tenso, talvez com a surpresa, mas não disse nada por alguns segundos. Depois soltou o ar e falou:
  - Hoje é um dia muito importante. É o dia que você nasceu. Nesse mundo, tenho certeza que há inúmeras pessoas que, sem você e sem elas saberem, receberam felicidade através de você. Seja pelo seu atendimento, ou por ter passado por você na rua, ou pelo seu sorriso. Eu... eu sou uma delas. - sorriu fraco, o rosto contra o tecido macio do casaco dele. - Obrigada por ter nascido, . Feliz aniversário. - soprou o final e depois fechou os olhos, esperando que ele a empurrasse ou fizesse algum tipo de piada. Ela quase pedia para que ele fizesse isso, assim ela saberia que ele estava bem. O sorriso morreu em seu rosto conforme os segundos passavam, e não sabia mais o que fazer.
  Ela o sentiu tremer dentro de seus braços, mas não soube o que era aquilo. De repente, as mãos de envolveram as suas, que estavam apoiadas no peito dele, e apertaram levemente.
  - Obrigado. - a voz dele falhou, soando um pouco grave, mas ele parecia estar sorrindo. sorriu também, contra as costas dele, e por uma última vez aspirou o perfume dele. Depois, afastou-se lentamente, deixando as mãos escorregarem por entre os dedos gelados dele. virou-se depois que ela estava um pouco distante. O rosto dele estava vermelho, mas ele parecia bem, e tinha um pequeno sorriso no rosto.
  - Eu... - não sabia bem o que dizer. Porém antes que pudesse terminar, ele estava sobre ela, trazendo-a de encontro a seu peito, em um abraço forte. surpreendeu-se e apoiou as mãos nas costas dele. Ficaram daquele jeito por um tempo, e então foi que se afastou. retribuiu o fraco sorriso que ele tinha no rosto e tirou um pouco de cabelo que estava em sua própria face por conta do vento. - Quer ir jantar? - perguntou, alargando o sorriso e erguendo os ombros, enquanto colocava as mãos no bolso do casaco.

Capítulo 14.

  - O que quer comer? - perguntou enquanto andavam pela rua um pouco apinhada de gente. Mesmo estando um pouco tarde, a atividade ali era grande, maior do que o normal. Os dois andavam lado a lado, observando as lojas que ainda estavam abertas, quase fechando, e sentindo os diversos aromas dos restaurantes que iam surgindo conforme andavam pela rua.
  - Ramen. - respondeu, sorrindo. franziu as sobrancelhas.
  - Você tem alguma fixação por ramen ou coisa assim? - ela disse, lembrando-se da primeira noite que andaram juntos: ele a levando para um restaurante de ramen, para que não desmaisse de fome.
  - Não. Você perguntou o que eu queria comer e hoje quero comer ramen. É tudo uma coincidência. É a segunda vez que quero comer ramen e você já está afirmando que sou fixado por ele? - ele respondeu, alfinetando-a. semicerrou os olhos, trincando um pouco o maxilar. já estava bem assim?
  - Podia só responder não. - resmungou, fazendo-o rir de leve. - Vamos logo! - apressou-o, segurando por dentro de seu cotovelo e puxando-o para que andasse mais rápido.
   não alterou sua velocidade, fazendo o esforço da garota inútil, e então a mão dela escorregou acidentalmente até a mão dele, que a segurou firmemente. parou, confusa, e olhou para ele, mas não a encarava. Apontava pra uma movimentação numa rua próxima a uma escola, que estava bastante iluminada e cheia de pessoas.
  - O que será que é aquilo? - ele perguntou, curioso. , sentindo a mão dele segurar a dela, não sabia bem como reagir. Estava de mãos dadas com ? Isso não ia parecer estranho? Não ia parecer que estavam... namorando? Sentiu o rosto esquentar e tentou se livrar, mas ele não deixou, finalmente voltando seus olhos para ela. - Ei, hoje é meu aniversário. Pare de tentar fugir. Vamos pra lá! - os olhos dele brilharam e ele a puxou pela mão até a entrada, onde finalmente puderam ler num cartaz "Festival escolar".
  - Não sabia que tinha desses aqui também. - ela surpreendeu-se ao ler a descrição. Aparentemente uma escola estava comemorando alguma coisa relacionada ao Japão, e decidiram fazer uma semana de festival escolar japonês, cheio de comida, diversão e atrativos, proporcionados pelos alunos.
  - Parece interessante. - comentou.
  - Isso é o máximo! Eu sempre quis ir em um desses! Vamos ! - comentou animada e empurrou-o para a fila.
  Não demoraram a entrar na escola, que estava cheia de chouchin brancas, iluminadas e pintadas com kanjis e outros enfeites típicos, bastante fiel ao que conhecia dos festivais (basicamente, o que ela via em animes e novelas do país). Os cheiros das comidas japonesas alcançavam os dois, e eles nem sabiam para onde ir.
  - Eles devem ter ramen aqui, não? - se perguntou, sentindo o estômago reclamar um pouco de fome. Olhou para sua companheira, que mal prestava atenção nele, maravilhada com tudo ao redor. sorriu discretamente e baixou os olhos para as mãos dos dois, entrelaçadas.
  - , olha! Algodão doce! - chamou sua atenção e apontou para um adolescente que fazia o doce e entregava principalmente para crianças.
  - Só tem crianças ali, . - fez questão de observar, mas era tarde demais e a garota já soltara de sua mão sem que ele percebesse e corria até lá. Ela sorriu e pagou o garoto que fazia os doces. Parecendo caprichar para , demorou-se um pouco mais antes de entregar o algodão doce, deixando-o maior.
  Em questão de poucos minutos ela já estava de volta ao lado de , que parecia levemente carrancudo.
  - Quer? É bom. - ela sorriu, tirando um pedaço e já levando-o até a boca de . Sem saída, ele pôde apenas abocanhar o emaranhado de açúcar, a menos que quisesse ficar com um bigode ridículo.
  Continuaram a andar, sem estarem de mãos dadas agora, e terminou rapidamente, ficando apenas com o palito e mãos meladas. Achou um banheiro e pediu rapidamente para que a esperasse.
  Dentro do banheiro, olhou-se no espelho enquanto várias garotas passavam atrás dela. Aquilo estava um pouco estranho. O dia começara esquisito, e nem parecia que fazia poucas horas que a mãe de entrara no café e causara aquela confusão. Sorriu fraco. Esperava que estivesse se distraindo assim como ela também estava. Ele tinha que se divertir e ela faria o que pudesse para isso acontecer. Secou as mãos e olhou para a que segurara quando iam até o festival. Tinha... tinha sido uma sensação... boa. Ela não se importaria se... talvez... ele quisesse... de novo...
  Abanando a cabeça para afastar os pensamentos e sentindo o rosto esquentar mais uma vez, jogou a toalha de papel no lixo e saiu do banheiro. Procurou com os olhos, e por um segundo de pânico não o encontrou.
  - Achou que eu ia te abandonar aqui? - uma voz com um tom - um tom específico - que a irritava demais soou ao seu lado e ela virou-se para encontrar o garoto de cabelo encarando-a com um sorriso divertido. - Não precisa fazer essa cara de pânico, . Você me arrastou até aqui, agora vamos aproveitar.
  - Você me arrastou até aqui, . - ela corrigiu, lembrando-se que ele que havia segurado sua mão e a puxado até lá. - Mas tudo bem. O que quer fazer?
  - Vamos ali. Estou morto de fome.
  "Ali" era um concurso de comida. Se o concorrente conseguisse comer um prato enorme de ramen em 15 minutos, ganhava cem libras e um prêmio à escolha do vencedor. Esse prêmio ia de bichinhos de pelúcia a utensílios domésticos novos, provavelmente doados por pais apoiando a causa dos filhos. espiou o tamanho do prato de ramen e arregalou os olhos.
  - Isso é enorme! - proclamou, quase aterrorizada. Olhou para , que já comprara o ticket pra participar do jogo e agora se sentava. - você vai morrer! - ela foi até ele, que agora separava os hashis. Uma aluna de trancinhas veio servi-lo, os olhos brilhando enquanto o admirava.
  - Você está me desafiando, ? - ele arqueou uma sobrancelha para ela, um sorriso travesso surgindo em seu rosto. Ela o encarou.
  - Não sei. Você está se sentindo desafiado? Isso é enorme, como você vai conseguir comer isso? - perguntou, sentando-se ao lado dele. Negou para um outro aluno que ameaçou vir até ela pegar seu bilhete, e voltou a olhar , que conversava com a menina de trancinhas sobre o cronômetro.
  - Se eu não conseguir, só vou ter perdido 25 libras. É o suficiente para pagar uma refeição que vai me encher. - riu e olhou o prato enorme à sua frente. - E se eu ganhar... bom, pode escolher algum desses bichos daí. Não preciso de nada disso. - deu ombros e a menina fez a contagem.
   apenas o observava e quando a competição começou, limitou-se a rir e a torcer pelo colega, que tentava comer tudo sem queimar muito a boca. Mais ou menos na metade do tempo, tinha comido uma boa parte da tigela e começou a chamar a atenção das pessoas ao redor, e três minutos depois já tinha uma boa plateia torcendo por ele. , ainda sentada ao lado dele, ria das expressões e dos olhares que ele lhe lançava ao ouvir toda aquela aclamação, e rindo o mandava se focar na comida.
  - Seu demônio! - ela riu ao ver que faltava pouquíssimo do ramen pra acabar e já estava fazendo caretas. Ainda havia um ou dois minutos.
  - Uuugh eu to tão cheio. - ele reclamou e rolou os olhos.
  - Você não vai desistir agora, ! - ela apontou pra ele e ele olhou pra ela, passando um guardanapo da boca.
  - Eu não aguento nem segurar os hashis mais! - reclamou, começando a brigar. A menina bufou e pegou os hashis da mão dele.
  - Moça, ele que tem que comer até o fim. - a garota de trancinhas se intrometeu. a olhou.
  - Ele vai. Abre a boca, . - a brasileira, acostumada com as comidas japonesas, manuseava bem os hashis e ia pegando o que faltava para terminar o prato, dando-lhe na boca. Ele não parava de encará-la com olhos divertidos, apenas terminando de comer.
  E então, com 26 segundos restantes, terminou de virar o caldo do prato e todos ao redor soltaram exclamações de viva. não parava de rir da careta de e de como ele parecia estufado, mas estava contente também.
  - Aqui está seu dinheiro, senhor. Parabéns! - os alunos entregaram as cem libras sorrindo para , que mal conseguia se levantar, mas sorriu também. - O que você vai querer de prêmio? - apontaram para a estante repleta de outras coisas e encarou-a. Depois virou-se para , que sorria parada ao lado dele.
  - O que você quer, ? - ele apontou e o olhou, franzindo as sobrancelhas. - Escolhe logo, . Acho que preciso ir no banheiro.
  .
  - Pode ser aquele coelho com orelhas enormes. - ela disse, corada, e a menina de trancinhas pegou a pelúcia e entregou para , que estendeu para .
  - Por ter me apoiado e me ajudado até o fim. - ele sorriu e aceitou. .
  - Obrigada. E parabéns, por sinal. Achei que você ia morrer.
  - Eu acho que estou bem próximo disso. Vamos, preciso ir ao banheiro. - a puxou, andando devagar até onde os banheiros estavam e sumindo lá dentro.
   encostou-se onde ele a esperara e analisou o coelho. Ele era bem branco, com orelhas com cerca de 50cm de comprimento. A parte "interior" das orelhas era rosa e preto, xadrez, e o bicho usava um colete nessas cores. Um dos olhos era um botão e o outro era um "x", como se estivesse faltando. Apesar de tudo, era bastante fofinho. Ela sorriu para si mesma.
  . Fora a primeira vez que a chamara pelo apelido. Ela nem sabia por que aquilo estava tendo tanta importância para ela naquele momento, já que a chamara daquele jeito várias vezes antes, e Miki apenas a chamava assim. Mas com era diferente. Ouvi-lo dizer "" ao invés de ou fizera seu coração palpitar um pouquinho mais rápido. Escondeu o rosto no coelho. O que era aquilo?
  - Eu que como um prato monstro de ramen e você se atreve a ficar assim? - Ouviu ao seu lado e visualizou sorrindo. Ele retirara o casaco, apoiando-o num braço, e agora a blusa social branca que vestia parecia deixá-lo mais bonito. percebeu várias garotas passando por eles e cochichando. O cabelo dele também estava um pouco molhado, provavelmente por ele ter lavado o rosto. - O que foi? - ele acenou na frente dela e ela corou.
  - Nada. - apressou-se em negar. Começou a andar, mas deu apenas alguns passos antes que sentisse um peso todo em cima dela. - ?! - perguntou, assustada, vendo o rapaz apoiar os braços compridos nela.
  - Não consigo andar direito. Fique quieta um pouquinho, que tal? - ele murmurou, e encostou a testa contra a parte de trás da cabeça dela. corou e concordou com a cabeça, ficando parada no meio das pessoas que passavam. Imaginou a cena: ela, uma garota não muito alta segurando um coelho de pelúcia, parada com um rapaz e extremamente bonito apoiado em suas costas, os braços compridos dele apoiados nos ombros dela e estendendo-se a frente dos dois. Devia ser muito estranho.
  - Ei, por sinal... - chamou sua atenção e ela virou o rosto para tentar olhá-lo, mesmo que não conseguisse. - Como soube que hoje era meu aniversário? - ele perguntou e ela corou.
  - Miki me disse. Ela queria fazer uma festa surpresa pra você com bolos e balões coloridos. De nada, aliás, porque fui eu que a impedi de fazer isso. - ela respondeu e gargalhou, o corpo chacoalhando e fazendo sentir suas vibrações. Ela sorriu fraco.
  - Obrigado, eu suponho. - ele murmurou divertido e manteve-se naquela posição.
  - Vamos embora? - sugeriu, incerta, depois de um tempo. remexeu-se.
  - Mas já? Você nem comeu nada ainda. Quer desmaiar? Além disso, pagamos pra entrar aqui, então vamos aproveitar ao máximo. - ele sussurrou e finalmente saiu de cima dela. - Já estou bem. Vamos! - e pegou novamente na mão dela, puxando-a para mais barracas.
   comprou takoyakis para comer enquanto andavam, e viu com um semblante animado e divertido. Ele ficava iluminado pelas luzes diversas, e toda hora olhava para ela sorrindo, pedindo para irem para alguma barraca ou perguntando se ela queria algo. Jogaram argolas, pescaram peixinhos e tiraram a sorte num improvisado templo japonês.
  Depois de uma ou duas horas passeando pelo festival, decidiram ir embora, os pés já doendo. decidiu acompanhá-la até em casa. Em silêncio, os dois caminhavam lado a lado, sem se tocarem, e sorria sozinha. Havia sido uma noite muito melhor do que ela esperava. havia se provado uma ótima companhia para divertir-se, e ela esperava que ele estivesse se sentindo melhor dos acontecimentos de mais cedo.
  Não demoraram a chegar na frente do prédio dela, e pararam e se olharam. sorriu e apoiou uma mão no topo da cabeça dela.
  - ... eu... não sei nem o que dizer. - ele falou, corando. franziu as sobrancelhas. Não teve tempo de perguntar ou avisar que ele não precisava dizer nada, porque envolveu-a em um abraço e a apertou contra si. A garota não reagiu, arregalando levemente os olhos. - Achei que esse dia ia ser uma bosta. Todos os meus aniversários sempre foram, então não estava nem aí para ele. Quando minha mãe apareceu no café, ainda por cima, achei que era o cúmulo do azar. - sentia a respiração calma dele, o peito expandindo-se e comprimindo-se contra ela. - Mas aí teve você. - a voz dele soava como um sorriso. a apertou um pouco mais, quase a ponto de fazer a respiração dela fraquejar. - Obrigado. Mesmo. Esse foi o melhor aniversário da minha vida, e é tudo por causa de você.
   estremeceu e sorriu, finalmente o abraçando de volta e afundando seu rosto no peito dele. Aproveitou o calor dele e os cheiros diversos que ele exalava: cheiro de ramen, de água, de peixe, de comidas, de diversão. Cheiros de lembranças, lembranças boas.
  Ela não era idiota. Sabia porque seu coração estava batendo irregularmente desde o começo da noite. Sabia porque ouvir seu apelido na voz dele parecera tão incrível. Sabia porque ouvir aquilo que ele acabara de dizer fazia sua respiração falhar e seu cérebro não conseguir encontrar uma resposta. Arriscou:
  - Não tem o que agradecer, . Vai ficar tudo bem. - foi o que ela sussurrou. Sorriu. afastou-a um pouco, mas manteve os rostos bastante próximos, também exibindo um sorriso.
  - Obrigado. - repetiu, e inclinou-se, colando seus lábios à testa um pouco fria da garota. Ela fechou os olhos, tentando esconder a parte dela que estava decepcionada, utilizando-se dos batimentos cardíacos acelerados e da sensação que era ter perto dela para que tal fim. - Boa noite, . - ele sussurrou, soltando-a.
  - Boa noite... . - acenou pra ele, sentindo-se quente, e virou-se para entrar no prédio em que morava.

Capítulo 15.

  Capítulo focado no favorito.
   não queria parecer muito ansioso, embora estivesse. Já havia limpado a cozinha duas vezes. Quase fora para o salão meia hora antes do seu horário. Miki não estava reclamando, pelo contrário, olhava para ele com olhinhos brilhantes e um sorriso travesso como se pudesse ler na mente dele tudo o que passara com no aniversário dele. Por causa de fim de semana, folga e algum outro infortúnio qualquer, eles não haviam se visto desde aquele dia, embora tivesse pensado diversas vezes em levar o jantar para ela como costumava fazer, ou talvez apenas dizer que estava passando por perto da casa dela e parara para um oi.
  Ela nunca acreditaria naquilo. Ela sabia que ele morava quase do outro lado da cidade.
  Deu a hora do almoço e ele comeu lentamente, como se pudesse prolongar ficar ali sentado e talvez quando ela chegasse, almoçar um pouco com ela. Nunca tinham almoçado juntos no trabalho, já que ela sempre chegava atrasada.
  Apesar de ter admitido para si mesmo que, certo, se apaixonara de verdade pela garota e isso não devia ser uma coisa ruim - e não era, realmente, bem, ele achava que não -, ainda assim as ideias e os pensamentos em sua mente estavam confusos. mal conseguia pensar linearmente e duvidava que conseguisse render bem no trabalho, se ficasse se distraindo com ela toda hora.
  - Certo, vamos focar no que é importante, ! - falou para si mesmo, fechando as mãos em punho, como se aquilo ajudasse. - Primeiro, aja como sempre. - mesmo que tudo tenha mudado. - Segundo, não a deixe desconfortável. - ela provavelmente ia acabar entrando em pânico e voltando a odiar ele. - Terceiro... terceiro... - ele já havia se perdido. Já era hora de ela chegar. Ela ia se atrasar tanto assim?
  - , você já acabou? As meninas já estão saindo. - Miki avisou, e como se aproveitasse a deixa uma das funcionárias entrou na parte deles atrás dela.
  - Claro, já estou indo. - engoliu uma última garfada e correu terminar de se arrumar. chegaria logo e ele esperava que pudesse agir normalmente.
  Era muito esquisito para ele. Uma parte de sua mente dizia coisas para si mesmo em um tom irônico normalmente usava contra , falando para ele parar de ser idiota e apenas agir como sempre agia, porque não era nada demais, e a outra parte ficava focada em "" e embaralhava todas as outras coisas. não sabia bem o que fazer. Normalmente estava sozinho, nem sua própria mãe se importava com ele, por isso sabia que não devia se animar demais em relação à garota. Tudo bem, ele sentia que com ela era diferente, era um pouco como ele, mas ainda assim, não chegava a se sentir completamente bem com a situação.
  Talvez se sentisse. De qualquer forma, onde ela estaria?
  Foi para o salão e cuidou de lá, finalmente conseguindo se focar no trabalho e deixando a menina vagar um pouco de sua mente. Enquanto trabalhava, percebeu uma presença feminina ajudando, mas tentou não se importar tanto, sorrindo de canto em segredo. Quando ia levar algumas coisas para a cozinha, analisou-a e hesitou por um momento.
  Quem estava no salão com ele era Tabitha, uma das funcionárias da amanhã. Não havia sinal de . franziu as sobrancelhas e entrou na parte dos funcionários, junto à cozinha, deixando o que precisava deixar e avistando Miki.
  - Miki!
  - Oh, ! - a chefe parecia um pouco preocupada. - avisou alguma coisa a você?
  - Ela não falou com você que ia faltar? - surpreendeu-se. uma vez precisara faltar ao trabalho, mas ligara avisando. E sempre que ia se atrasar muito, mandava ao menos uma mensagem para a chefe não se preocupar.
  - Eu esperava que ela tivesse dito algo pra você, mas ela simplesmente não apareceu nem avisou. Estou um pouco preocupada. - Miki Brooks expressava aquilo em palavras e emoções, parecendo prestes a chorar. não soube muito bem como reagir. - Pedi para Tabitha ficar pra não deixar tudo pra você.
  - Não fique tão preocupada, Sra. Brooks. - ele tentou consolá-la, colocando um sorriso irônico no rosto, embora a sua vontade fosse sair correndo e ver se estava bem. - É final de semestre na faculdade, ela deve estar um pouco atolada. Você sabe como ela é, deve ter se esquecido de vir pra cá. - falou, depois recolhendo a bandeja. - Vou voltar para o salão. Deve estar tudo bem. - acenou e saiu.
  Tem que estar tudo bem, pensou.

  Ele pretendia passar no prédio dela assim que terminasse o expediente, mas alguns homens de sua mãe esperavam do lado de fora do café. Sabia que não podia deixar que eles soubessem onde morasse, que ela soubesse, principalmente por causa do incidente no dia do aniversário dele. Claro que sua mãe poderia encontrar a casa de bastante facilmente, com todos os seus contatos, mas não seria a pessoa que a levaria até lá, sem saber o que poderia ser feito com . Decidiu ignorar os homens e manter suas preocupações apenas em sua cabeça, indo em direção contrária ao caminho que levaria até a garota, e seguindo para casa.

  No dia seguinte, também não apareceu. Miki já estava estourando de preocupação e não tinha certeza se estava escondendo bem que também estava. Acalmou a chefe dizendo que passaria na casa da garota depois do trabalho para confirmar o que havia de errado. A japonesa nem ao menos surtou quando ele disse que sabia onde era a casa dela, o que considerou bastante preocupante. nem trabalhava havia tanto tempo ali, mas todos já haviam se apegado a ela. Alguns clientes regulares deram por sua falta, e inclusive as garotas da manhã, que a viam poucos dias - já que ela sempre atrasava e elas já tinham saído quando chegava - perguntaram sobre ela.
  Dessa vez não havia nenhum homem de terno esperando por ele na saída, mas ele iria mesmo que houvessem cem deles. Seguiu até o metrô e entrou no trem iluminado, tentando não demonstrar muito nervosismo. culpava-se por não ter ido no dia anterior. E se ela tivesse desmaiado e estivesse lá sozinha? Ela não tinha ninguém ali. Engoliu em seco e desejou que pudesse acelerar o trem e não deixá-lo parar nas três estações entre a casa de e o Coffie&Coffie. Queria chegar logo.
  Ao aproximar-se da rua dela, quase correu até a entrada do prédio. Respirou fundo algumas vezes e foi até o porteiro. O senhor com o uniforme apenas o viu e acenou com um sorriso, lhe dando permissão para subir. Agradeceu com um aceno de cabeça e foi pelas escadas mesmo, sem paciência para esperar o elevador. não morava em um prédio grande e seu andar era o segundo, então chegou rápido. Foi direto para a porta dela e tocou a campainha duas vezes. Esperou alguns segundos e seu coração quase saltou pela boca quando a porta foi aberta.
  - ? - murmurou, franzindo as sobrancelhas, e ele finalmente respirou aliviado. Chegou a apoiar a mão nos joelhos e respirar fundo, baixando a cabeça e fechando os olhos por alguns segundos. Ela não estava desmaiada. Recompôs-se e fechou a cara, empurrando a porta e entrando sem permissão no apartamento dela. - Ei!
  - Você é idiota? Por que faltou esses dois dias no trabalho sem avisar? - brigou, cruzando os braços. - Miki e... - hesitou. - Miki e clientes regulares ficaram bastante preocupados. - completou, murmurando. Sentiu o rosto esquentar e desviou o olhar por um tempo, perdendo um pouco da pose que tentava manter. baixou o olhar e pareceu desanimada. finalmente reparou nela, em como ela estava.
  Usava roupas que pareciam confortáveis, largas, e seu rosto estava avermelhado. Ela tinha olheiras e os olhos pareciam ligeiramente inchados. A respiração parecia um pouco ofegante, e reparando melhor, sua pele estava coberta por uma fina camada de suor, mesmo ela vestindo casacos grandes. Deixou toda a babaquice de orgulho de lado e, sem se controlar, puxou-a de encontro a seu peito e a apertou contra si. retesou-se, parecendo surpresa.
  - Eu também fiquei preocupado. - ele resmungou, baixinho, quase para que ela não ouvisse. - O que é que houve? - afastou-se um pouco e tocou o rosto dela. Arregalou os olhos. - Você está com febre!
  - Só um pouquinho. - ela murmurou, afastando-se de vez dele e retirando a mão dele do rosto.
  - Vou fazer um chá. - avisou, sem pedir permissão, e foi até a cozinha com ela seguindo-o de perto, um leve sorriso no rosto.
  - Não achei que ainda precisasse da sua ajuda. - brincou, sentando-se em uma cadeira. deu um sorriso de lado, mas não disse nada, apenas esquentou a água.
  Permaneceram em silêncio até o chá ficar pronto, e foram para a sala, onde ela se sentou no meio de um ninho de cobertores e se ajeitou. Parecia uma criança, joelhos encolhidos quase colados ao peito, segurando a caneca com uma ilustração do rosto do personagem Totoro, com chá fumegante com as duas mãos e soprando calmamente a fumaça. admirou-a por alguns instantes, sentindo uma leve dor no peito. Algo mais para incômodo do que dor, mas ainda assim, estava lá. Havia algo errado com ela, e não queria que ela ficasse assim.
  - Quer que eu te leve a um hospital? - ofereceu, mas ela apenas negou com a cabeça. tomou um gole de chá, sem encarar , que começava a ficar angustiado com todo o silêncio dela. Ia cobrar que ela falasse algo, mas ela o fez antes disso.
  - Recebi minhas notas da faculdade. Das provas e de trabalhos, inclusive aquele trabalho em equipe. - um sorriso fraco surgiu no rosto dela, mas ela ainda não olhava outra coisa além do chá na caneca do Totoro. - Foram muito boas. Já contei pra todo mundo em casa, por Skype. Estão todos orgulhosos. - mesmo que ela mantivesse um sorriso fraco, não aparecia animada com aquilo. não estava entendendo nada. Não era para ela estar feliz?
  - E qual o problema? - perguntou, sentado ao lado dela, mas não muito próximo. A garota respirou fundo, começando a mexer os polegares como se acariciasse a caneca aquecida.
  - Lembra quando você me levou ao hospital, e o médico fez diversas perguntas? - concordou com a cabeça. - Uma delas era como eu me sustentava aqui. Como eu disse, havia um amigo da família que mora na França que concordara em pagar o curso pra mim. - ele voltou a concordar, lembrando-se. Parecia que tudo aquilo havia acontecido havia muito, muito tempo. - Ele... ligou ontem cedo. Falou que houve uma complicação na empresa dele, e que infelizmente não vai poder continuar me ajudando. - percebeu que ela tinha os olhos marejados, e então ela fungou e deu uma risada breve e sem graça, olhando pra ele, finalmente. O incômodo no peito dele intensificou-se e tornou-se dor, por vê-la daquele jeito, desamparada e triste. Não soube o que falar, ainda absorvendo o que ela acabara de falar.
  - Então... - tentou raciocinar. pareceu ligeramente divertida por vê-lo tão confuso.
  - Então eu vou voltar pro Brasil. - as palavras vieram como água fria para , e embora aquela fosse a solução que ele deveria ter chegado a princípio, foi completamente surpreendente ouvir aquilo. Ele encarou-a. - Não tenho condições para me sustentar aqui e pagar a faculdade. - ela deu ombros, ainda desanimada, e desviou os olhos do rosto dele, voltando a focar-se na caneca do Totoro e tomando outro gole de chá.
   imaginou que ela estava doente por causa do choque emocional. Ela parecia alguém propícia a adoecer por causa do psicológico. Mas ele, também, estava desamparado agora. Ela iria voltar? Iria voltar para aquele país enorme do outro lado do Oceano, longe dele? Como ele poderia deixá-la ir assim? Seus olhos moviam-se, buscando entender e achar uma solução. finalmente achou alguém que se importava, alguém que o fizera sorrir de verdade e o fizera se sentir bem, e agora essa pessoa estava indo embora? Para longe? E o que ele era para ela? Ela iria apenas esquecê-lo, não iria?
  - Pelo menos você vai se livrar de mim. - ela disse em tom de brincadeira, dando outra risada breve e sem graça.
  - Eu não quero. - ele finalmente encontrou sua voz e as palavras, e ela o olhou quando ele respondeu tão rápido. inclinou-se para ela, aproximando-se e segurando uma das mãos dela na sua. Ela era tão pequena e delicada. - Eu não quero que você vá. Não quero você longe.
  - ... - tinha os olhos levemente arregalados, surpresa com aquilo. mordeu o lábio inferior.
  - Eu quero cuidar de você. Como eu fazia antes. Quero te trazer comida para você não esquecer de jantar, e quero lavar sua louça para não haver um castelo de louça suja. Quero te acompanhar até sua casa e quero ir em festivais com você. Quero te ajudar, sempre, mesmo que você não goste de pessoas te ajudando. Quero que você aceite a ajuda, porque sabe que estou fazendo isso porque gosto de você. Mesmo que você não goste de pessoas te ajudando, porque acha que elas vão te abandonar em algum momento e você vai ficar desfalcada, eu quero te ajudar. - ele disse tudo aquilo de uma vez e depois respirou fundo. - Quero te ajudar porque eu não vou te abandonar, em momento nenhum. Não vou te deixar desfalcada. Vou ajudar e vou te deixar saber que sempre vou estar aqui pra ajudar você.
  Dessa vez era quem estava sem palavras, que não sabia como reagir. Ela apenas o encarava, um pouco assustada, a mão que estava entre a dele tremendo levemente. A palma dela estava quente, por ter segurado a caneca, e sentia que ela encaixava-se com a mão dele, embora os tamanhos fossem bastante diferentes. Ele mantinha seus olhos fixos ao dela, e a firmeza que demonstrava neles foi o que provavelmente a privou de rir do que ele havia dito. Em qualquer outra situação, ela acharia que ele estava brincando, riria e então se afastaria dele, bronqueando-o por fazer tal tipo de brincadeira. Mas via nos olhos dele que ele estava sério. não sabia o que dizer, embora sempre esperasse pelo momento em que alguém lhe dissesse algo como o que acabara de dizer.
  Ao ver que ela não lhe respondia nada, soltou sua mão, mas não se afastou dela, pousando sua palma no topo da cabeça dela e acariciando de leve. Sorriu fraco.
  - Vou falar com a minha mãe sobre o dinheiro. Vou conseguir o suficiente pra você continuar estudando aqui até o fim do curso, está bem? - falou, e arregalou os olhos, começando a negar com a cabeça.
  - , é muito dinheiro, isso é um abus...! - ele a cortou antes que terminasse.
  - Então um alguém qualquer para quem você prova que é boa o suficiente para estudar aqui pode fazer isso e alguém como eu não posso? - perguntou, irritado, e novamente ela ficou sem palavras. Baixou os olhos, parecendo envergonhada.
  - Por que é que esse alguém tem que ser você, ? - sua voz era fraca e hesitante. viu-se um pouco surpreso por ela perguntar aquilo. Perguntou a si mesmo: Por que estava fazendo aquilo? Por que era ele a fazer aquilo, e ninguém mais? Mesmo parecendo estranho, ele sabia qual era a resposta que devia dar. Sorriu e levantou o rosto de com a mão que antes estava no topo da cabeça dela. Encarou-a por um tempo, ainda sorrindo, e, com o rosto um pouco corado, respondeu.
  - Porque eu amo você.

✰ Capítulo 16 - Extra ✰

   deu às costas a porta do apartamento de e encarou a madeira branca a sua frente. Havia sacolas em suas mãos, e elas espalhavam um cheiro gostoso pelo corredor do segundo andar do prédio. Tocou a campainha, pensando que talvez fosse hora de ter uma cópia da chave, já que trazer jantar para a garota era quase uma rotina diária. Ainda assim, quando ela abriu a porta, parecendo um pouco afobada, ele fez questão de anunciar:
  - Trouxe o jant...! - ou tentou anunciar, já que foi interrompido na metade.
  - Me salva! - tinha os olhos arregalados e o puxou para dentro do apartamento, quase fazendo-o derrubar todas as sacolas.
  - Ei, cuidado com a comida ! - ele reclamou, depositando as sacolas com cuidado em cima da mesa. - Não ganho nem um oi?
  - Me saaaaaaaaaaalva ! - ela choramingou, puxando-o por um braço até o quarto dela.
  - Você não parece estar em perigo. - decidiu comentar, despreocupado. Ela vestia uma leggin preta e uma blusa branca meio larga que marcava sua cintura. Ela estava bastante bonita, e ele não pôde evitar certos pensamentos enquanto ela o arrastava para o quarto. Riu sozinho com as besteiras que pensava e ela olhou-o, ficando brava.
  - Você acha que é engraçado é? - falou, chegando na porta aberta do quarto e automaticamente pulando para trás dele, como se o usasse como um escudo. - Lá no armário. - apontou, por trás das costas dele. analisou o quarto.
  A cama estava toda bagunçada, como se tivesse decidido dançar tango em cima dela, e roupas estavam espalhadas por todo o lugar. O armário estava uma zona, com cabides, roupas e maquiagens espalhados. O rapaz arqueou as sobrancelhas.
  - Sabe, suponho que essa seja a visão que as pessoas encaram quando chegam nos Portões do Inferno. - falou, e levou um cutucão forte nas costas. - Outch, entendi! O que você quer que eu faça?
  - O armário! - ela insistiu. rolou os olhos. Ficou pensando se tinha algum tipo de presente surpresa, que nem naqueles filmes bobos. Andou até o armário e percebeu que ficara para trás, então voltou para levá-la a força até lá. Ela ofereceu resistência, mas não era tão forte quanto ele.
  - O que você quer que eu veja no armár... Cacete! - interrompeu-se e inclusive chegou a recuar meio passo ao avistar o enorme inseto esquisito que estava entre as roupas. Talvez nem fosse um inseto. Poderia ser um filhote de dragão. - Então você estava mesmo mantendo um animal de evolução desconhecida no armário! - não pôde deixar de comentar, e levou outro cutucão doloroso perto da sua espinha dorsal. Imaginava se poderia ficar paraplégico se lhe acertasse com aqueles cutucões.
  - Se livra dele, por favor. - ela pediu, choramingando. olhou para ela, encolhida atrás dele. Apontou para o resto do quarto.
  - Cansou da 3ª Guerra Mundial que estava rolando aqui? Está declarando derrota? - é claro que ele não podia simplesmente se livrar do bicho como qualquer cavaleiro medieval e heroico. Tinha que tirar sarro da cara da princesa, óbvio.
  - Ai, , como você é insuportável! Só se livre dele logo, por favor! - a garota irritou-se e ele riu. Amava vê-la daquele jeito.
  - Certo, certo. O Sir aqui vai dar um jeito nesse dragão. - falou, em tom pomposo, mas não entendeu porque a frase foi merecedora de outro cutucão em suas costas. Estava começando a doer de verdade.
  Pegou uma revista que estava ali e enrolou-a. Quando estava mirando no inseto - que, durante a discussão dos dois, por incrível que pareça permaneceu no lugar pacientemente - arregalou os olhos e, saindo de trás do garoto, desviou o braço de para que ele não acertasse o bicho.
  - O que foi? Decidiu dar misericórdia? - ele franziu as sobrancelhas.
  - Você ta doido? Você vai esmagar o bicho em cima das minhas roupas, ?! - ela bronqueou, apontando para o pobre inseto com o braço livre. Pobre inseto mas nem tanto, porque assim que a mão de aproximou-se do armário, o animal finalmente se manifestou, batendo suas asas estranhas e deu uma voadinha, parando na mão da garota.
   teve a impressão de uma bomba sonora ter sido explodida ao seu lado, e fez uma careta se sentindo um pouco atordoado, mas assim que chacoalhou a mão freneticamente para tirar aquele negócio dela, o bicho voou para o chão e tudo foi resolvido com uma sola de tênis.
  - Pronto. Guerra vencida. Não morra, . Seja forte! - largou a revista onde estava antes e apontou para o chão e o tênis. - Você se incomodaria de pegar papel higiênico ou um pano? Não gostaria de sair espalhando restos mortais pela sua casa. - a garota, um pouco trêmula, concordou com a cabeça e saiu rapidamente do quarto, voltando logo.
  Ele mesmo limpou a sujeira e, puxando a garota com a mão limpa, saíram do quarto. deixou o pano no banheiro, enquanto lavava as mãos, ainda parecendo assustada. Ele riu baixinho e aproximou-se por trás, encostando seu peito às costas dela, esticando os braços para também lavar as mãos. Ela apenas ficou entre ele, parecendo pequena e indefesa, e ele se sentiu bem por ser ele o cavaleiro medieval a proteger e cuidar dela. Fechou a torneira e pegou a toalha, secando as próprias mãos e as dela também.
  - Agora tudo está bem. - sorriu e ela retribuiu, virando-se e olhando para ele.
  - Obrigada. Você salvou minha vida. - ficou na ponta dos pés, beijando a bochecha dele. soltou um muxoxo.
  - Eu trago o jantar, salvo sua vida sem nem ao menos um ter recebido um "oi" decente na porta, e é assim que você me retribui? - reclamou, e sem perder tempo inclinou-se para roubar um beijo dos lábios dela. Percebeu que ela sorria de leve, e pressionou-a com seu quadril contra a bancada da pia. O beijo apenas foi interrompido porque a barriga dos dois fazia sons que seriam perfeitos para a sonoplastia do inseto-dragão que existia há minutos atrás.
  - O que você trouxe de jantar? - perguntou, saindo do banheiro seguida por ele.
  - Ramén! - disse, animadamente, quase saltitante até as sacolas. resmungou.
  - De novo? - de quatro vezes por semana que lhe trazia jantar, três delas ele trazia ramén. Ela realmente não sabia qual era a paixão por ramén que ele tinha.
  - Estou brincando. Já trouxe ramén duas vezes essa semana, achei que seria bom mudar. - ele riu. Ela sorriu, não muito animada, porque ainda havia outros dias para ele trazer ramén. Ajudou-o a tirar as marmitas das sacolas, e percebeu que dessa vez era comida italiana. O cheiro estava ótimo, e ela logo pegou os pratos e talheres para que se servissem.
  A fome era tanta que eles mal se falaram enquanto comiam, trocaram apenas comentários como "Isso é melhor que ramén", "Nada é melhor que ramén, fique quieta", entre outros. Quando terminaram, guardaram as poucas sobras na geladeira e lavaram rapidamente a louça juntos.
  - Quero sobremesa. - pôs as mãos na barriga, depois de secá-las com um pano ao terminarem a louça.
  - Acho que tem sorvete. - foi até o freezer e abriu, sorrindo. Tirou um pote de sorvete de flocos de lá e já tinha duas colheres na mão, parecendo animado como uma criança. Foram para a sala e se sentaram no sofá, encostada nele e ele passando um braço por volta dela, de forma que ela não fugisse com o sorvete só para ela. Não podia deixar de aproveitar a posição estratégica de sua mão entre a coxa e a barriga dela, mas por enquanto só sorria com a situação. Cada um encheu sua colher - praticamente colocou o dobro do que seria possível na sua - e comeram lentamente, aproveitando o sabor gelado e o calor do corpo do outro.
  - . - chamou, depois de um tempo. Ele soltou um "hmm?" por estar com a colher na boca. - Fui bem no último trabalho que entreguei. - ela contou com um sorriso tímido, ele sorriu também. Levou a mão livre para a cabeça dela e afagou.
  - Parabéns, . Assim você me deixa orgulhoso de ter te mantido aqui. - completou, um pouco irônico, e ela fez bico. Ele riu, sabendo que aquilo a provocaria.
  - Obrigada. - ela murmurou baixinho. sabia pelo quê ela estava agradecendo e rolou os olhos. - Você não precisa me agradecer toda vez que a gente se encontra, sabia? Eu fiz isso um pouco por você, um pouco por mim. Todos felizes. Fim da história.
  Ela provavelmente ia retrucar com algo, mas pareceu mudar de ideia e só pegou outra colherada de sorvete, mantendo um sorrisinho no rosto.
  - Por que você gosta tanto de ramén? - perguntou e chegou a se engasgar um pouco.
  - Pra quê isso do nada? - perguntou, confuso. Ela deu ombros. - Por que você faz perguntas que já sabe a resposta? - ele reclamou, sentindo o rosto esquentar um pouco. voltou o rosto para ele, a ponta da colher na boca, a parte convexa virada para . O olhar em seu rosto era tão inocente e surpreso e a cena toda a fazia tão linda que quase ficou sem fôlego observando-a.
  - Eu não sei a resposta. - ela inclinou um pouco a cabeça para o lado e deu um sorriso mínimo. - Por que você está corado?
  - Não estou. - ele sabia que estava, mas desviou o rosto, como se dessa forma ela não pudesse vê-lo. Ela deu uma risadinha. tinha certeza que ela sabia qual era a resposta, porém o olhar no rosto dela dizia o contrário.
  - Não vai me dizer? - ela o cutucou de leve, inclinando-se e colando os lábios levemente gelados à parte do pescoço dele em que o maxilar começava, causando arrepios por todo o corpo dele. - Me diz ... - ela fez biquinho e ele a olhou, soltando um suspiro derrotado. Voltaram à posição normal.
  - Porque foi a primeira coisa que comprei pra comer com você. - respondeu, envergonhado. - Mesmo que você tenha fugido de mim e ido comer sozinha. - olhou-a e ela agora também estava corada, parecendo surpresa. Ele arqueou as sobrancelhas. - Você realmente não sabia?
  - Não! Eu te disse! - ela retrucou, mas depois sorriu. sorriu também e deixou a colher no pote de sorvete, e ela fez o mesmo. Ele colocou o pote no chão perto do sofá e puxou-a mais para perto de si.
  - Foi depois daquela noite que toda a minha vida mudou, mesmo que na hora eu não soubesse. - ele murmurou, abraçando-a e mantendo o rosto perto do topo da cabeça dela. - Por isso, ramén acaba sendo uma coisa especial pra mim.
  - Entendi. - ela falou, de um jeito fofo, e o abraçou pelo pescoço. apertou-a na cintura, onde sua mão estava estrategicamente colocada.
  - Você é especial pra mim. Mais que ramén. - ele sussurrou e riu, tocando a ponta do nariz dele com o próprio.
  - Agora sim me senti especial. - ela comentou rindo e depois venceu a distância entre os lábios dos dois, iniciando um beijo profundo e calmo.
   adorava quando ela estava perto dele daquele jeito. Era como se ela fosse parte dele de verdade, como se nunca fosse se afastar e deixá-lo sozinho. Ele não queria mais ficar sozinho. Queria que estivesse sempre ao lado dele. E quando ela o beijava daquela forma, acariciando seu cabelo e apoiando-se nele, quase como se se entregasse, ele sentia que ela ficaria. Brincou com a barra da blusa branca que ela vestia, aproveitando que acidentalmente sua mão estava ali por perto, e acariciou a pele macia da garota. Sentiu-a se arrepiar e sorriu com aquilo. Ela lhe deu uma mordida de leve, como castigo. Como se ele não adorasse aquilo.
  Quebraram o beijo e mantiveram o rosto perto um do outro, se olhando. sorriu, parecendo um pouco envergonhada, e ele sorriu também. Adorava o jeito dela. Poderia forçar suas cordas vocais a dizer as três palavras que expressavam o sentimento que crescia e ocupava todo o seu peito quando estava perto dela, e só aumentava quando estava longe, mas sabia que não precisava. Quando olhava daquele jeito nos olhos dela, e via que neles estavam escritos as três palavras, ela não precisava lhe dizer nada. esperava que em seus próprios olhos estivesse claro, para que quando ela o olhasse também percebesse o quanto ele a amava.

You’re my precious baby hajimete mayowazu ni chikaeru kara
Zutto I will love you forever

Você é minha querida baby, pela primeira vez eu posso jurar sem hesitar,
Para sempre, eu vou te amar para sempre
- Forever (NEWS)

Owari ~ Fim!



Comentários da autora


  n/a: Eu não sei o que falar *chora*
  Queria fazer uma n/a imensa maior que todos os capítulos mas ninguém leria. Então quero rapidamente agradecer a TODAS as leitoras de Care About, vocês foram lindíssimas fofíssimas perfeitíssimas e eu ainda não acredito que tanta gente gostou assim da história ♥ obrigada por cada comentário, cada opinião, eu espero que vocês leiam qualquer outra coisa minha futuramente e me chamem no twitter ou falem comigo eu quero abraçar todas juro. Considerem-se esmagadas abraçadas. ♥
  Bom pra falar bem rápido de CA, eu comecei não gostando muito dela, na verdade eu não achava ela nada demais e achava que ninguém ia gostar dela. Tipo, coisas japonesas, sem nenhuma ação quase nos primeiros capítulos, sem pegação até o capítulo especial etc ~ Mas no fim conforme eu ia escrevendo e ia vendo que vocês iam gostando, fui me apegando mais e mais a ela e agora é uma das que mais gostei de escrever.
  Então espero verdadeiramente que tenham gostado bastante dela, e aproveitado o último capítulo bônus (eu adorei ele hue ficarei relendo pra sempre ~). Falando em pra sempre, essa música do NEWS ♥♥♥♥ Recomendo J-Pop para todas as pessoas, estou aberta a falar sobre eles mesmo não gostando há muito tempo -q
  Só aviso que o Kato Shigeaki é meu, bjs a todas ~
  Acho que é só isso.
  Minna-san! Hontoni arigatou gozaimasu! Sayounara! ♥
  xx Anne ~

  Glossário:
  • -chan: Emprega-se Chan para demonstrar informalidade, confiança, afinidade ou segurança com a outra pessoa, não obrigatoriamente do sexo feminino. Para acentuar a informalidade, pode-se atribuir chan à inicial da outra pessoa. (Anne-chan: A-chan) -Wikipedia
  • Obento: "marmita", almoço, lanche
  • Maid: No Japão, são comuns Maid cafés, onde garotas vestidas de empregadas no estilo animê/mangá, servindo chá e bolos.
  • Hai: "sim"
  • Lámen (ou Ramen): é um alimento japonês de origem chinesa composto por filamentos longos de massa alimentícia (macarrão) com ervas e legumes, mergulhados num caldo e temperados com carne de porco ou peixe de água-doce.
  • Yakisoba: é um prato de origem chinesa que, em japonês, significa, literalmente, "macarrão de sobá frito". O prato, conhecido internacionalmente, é composto por legumes e verduras que podem ou não ser fritos juntamente com o macarrão e aos quais se agrega algum tipo de carne.
  • Tempurá: Consiste de pedaços fritos de vegetais ou mariscos envoltos num polme fino. A fritura é realizada em óleo muito quente, durante apenas cerca de dois ou três minutos.
  • Sushi: é um prato da culinária japonesa feito com arroz temperado com molho de vinagre, açúcar e sal, combinado com algum tipo de peixe ou fruto do mar, vegetais, frutas ou ovo. A tradição japonesa é de servi-lo acompanhado de wasabi (pasta de raiz forte) ou shoyu (molho de soja).
  • Daisuki: "eu amo você". A cultura japonesa tem três jeitos de falar "eu te amo", e se você quiser saber mais sobre isso, eu gosto bastante desse post explicando!
  • Chouchin (ou chōchin): lanternas típicas japonesas, normalmente feitas de bambu em espiral e papel para proteger a chama. É pendurada por um gancho.
  • Totoro: personagem absurdamente adorável e apertável e adotável do filme japonês dos Estúdios Gibli, Tonari no Totoro, ou, em português, Meu Vizinho Totoro. Se você gosta de filmes de criança e coisas fofas, eu recomendo assistir. Dá vontade de ter um Totoro pra dormir em cima. *autora que tem camiseta do Totoro e porta celular do Totoro. Ela ama o Totoro*