Cabelo Ruivo Tingido
Escrito por Stelah | Revisado por Lelen
Pensei no quão bom seria dar uma volta contigo em pedregulhos holandeses. Ver a luz do Sol que ainda resta iluminar seu cabelo ruivo tingido – fora uma confissão e tanto. Sentados no banco de alguma praça, admirando quão belo o cair das folhas no outono, que parecem dançar ao vento, numa apresentação única e especialmente para nós.
Quão bom seria estar com você agora. Eu iria desejar que fosse o momento mais longo de minha vida, para que pudesse me perder em seus olhos e me encontrar em seus braços. Para que pudesse traduzir a nossa língua comum, e comumente mal falada o significado que me tem você. Ah, é tão difícil de dizer que me calo, resumo a silêncio tudo que palavras não podem significar, que não o farão compreender e se o fizerem, não acreditarás, mas é. Bom de sentir, como nunca me foi amar?
E você me viria, naquele sotaque estranho que tens, vestindo sua camiseta do Batman – que foi o que me fez te notar - e me convidaria pra um Pub no centro, que costumava ir aos fins de semana tomar umas garrafas de Heineken e reclamar da confusão de não ter um lar fixo quando se tem pais separados – um dia você mora com uma velha, outro com um chato.
Me apresentaria seus amigos, pálidos e bizarrinhos – entre nós, como você - em seu tecido em comum, xadrez. Cabelos bagunçados e olhos claros, como bonequinhos indie personalizados, e eles tentariam ser simpáticos com sorrisinhos falsos e todo o papo de garota estrangeira quando na verdade me julgariam a vadiazinha de terceiro mundo.
Cairíamos num papo de "como Middleharris é tão pequeno como cá", e o dono do lugar invadiria a conversa os chamando pra tocar. Você iria abrir mão de mim, para que suas mão pintadas debaixo da luva branca fizessem o que elas fazem de melhor – talvez fizesse algo a mais, mas até aí só você saberia.
Então subiria ao palco se achando o próprio Jack White* e com as luzes brincando em seu rosto delineado tocaria aquela sua composição. Em seguida, cochicharia aos outros músicos e me ofereceria algo do Radiohead sem uma tradução muito romântica, mas que para nós serviria como nosso som. De novo aquele sotaque, um sorriso fofo e eu me derreteria junto das outras garotas da plateia enquanto se perguntava se aquilo era o suficiente para agora a SUA fantasia realizar.
Aquele dia sonhara – deves ter passado a noite a pensar - em eu trajando uma lingerie cinza rendada, em meio ao edredom azul da sua cama no sótão, enquanto você me abraçava de forma que meu nariz tocasse seu peito. Você pediria um beijo – forjando timidez ou realmente o sentindo - e depois de ter ido tão longe – em quilômetros e falta de vergonha na cara - eu não o negaria, sequer dormiria se não o fizesse. Então selaria seus lábios e o deixaria entrar. A tal ponto era provável, que a coisa se esquentasse e tomasse o fim que em comum segredo desejávamos, agora não nos compensa até tal ponto imaginar. Seria um bom desfecho pra história, e eu voltaria totalmente vazia para de onde vim. E se amor à distância prevalece, já não faria tanta diferença. Você ficaria no seu mundo e eu no meu. Sem beijos, sem conversas, sem Radiohead, sem meu mau humor e sem seu cabelo ruivo tingido. Porque foi assim que nós viemos, foi assim que nos encontramos e assim acostumamos ser. Você sem eu, eu sem você.
FIM
Você ficará no seu mundo e eu no meu. Mas ainda pensarei em você ouvindo Radiohead, secando um ruivo-tingido na rua, comprando uma lingerie cinza de renda ou vendo fotos do Jack White. São coisas pequenas eu sei, mas a distância é tão grande pra gente a vencer.