Break Up
Escrito por Danielle | Revisado por Natashia Kitamura
Day 1: Crying
"Eu gostava muito de você. Era tão bonito, era tão intenso. Acreditava no pra sempre. Imaginei uma casa, uma família, uma coisa só nossa. Um esconderijo, um refúgio, um paraíso. Cada vez que eu pensava em você me dava um calorzinho no peito. Cada vez que abraçava você o mundo parava de rodar por um segundo. E eu achava que aquilo era amor, achava que aquilo era o certo, achava que a gente era certo um na vida do outro. Mas não foi. Não fui. Não fomos. Não somos."
- Clarissa Corrêa
Olhei meu rosto no espelho e perceber o quanto a minha aparência estava deplorável fez com que minha vontade de chorar aumentasse ainda mais. Meus olhos estavam tão vermelhos e inchados quanto possível, meus cabelos embolados em um coque mal feito, e parecia que eu havia envelhecido anos em horas. O pior de tudo nem era minha cabeça doendo como se meu cérebro estivesse inchando progressivamente e prestes a estourar meu crânio. O pior era o vazio que eu sentia crescendo no meu peito e aumentando a cada minuto que passava.
A campainha do meu apartamento tocou, então lavei meu rosto para ir atender. Eu sabia que provavelmente era ou – elas eram as amigas que eu e tínhamos em comum e que provavelmente tomariam o meu lado naquela situação.
- Oi, . – me cumprimentou. – A queria ter vindo também, mas ela precisava ir para o trabalho. – ela falou como se estivesse pedindo desculpas.
- Tudo bem. – respondi indicando o interior do apartamento para que ela entrasse e então me arrastei para o sofá esperando que fechasse a porta depois que passasse.
- O que aconteceu?
- O que eu devia imaginar que aconteceria mais cedo ou mais tarde, né? – eu disse. – O terminou comigo.
- Mas por quê?
- Porque nosso relacionamento estava uma droga, flor. Brigamos todos os dias na última semana, ele não é mais o cara carinhoso, atencioso e fofo que eu conheci... E, convenhamos, o que eu me tornei? Uma pessoa extremamente carente que precisa da opinião dele até mesmo para respirar! – falei um tanto exaltada, com raiva de e principalmente de mim mesma, e suspirei alto antes de prosseguir: - Eu sabia que nós não duraríamos muito tempo mais. Mas confesso pra você que ainda assim me surpreendi com a decisão dele. Você sabe, eu não teria feito isso.
- Eu sei. Você continuaria insistindo, não importa o quão ruim as coisas estivessem ou ficassem entre vocês.
- Eu sou uma idiota. – coloquei minha cabeça entre as pernas e deixei as lágrimas rolarem. Não adiantaria tentar segurar o choro agora, e eu também não via por que fazer isso na frente de . Ela era minha melhor amiga, e e eu passamos quatro anos juntos. Eu tinha o direito de sofrer, certo?
- Você não é uma idiota. Você só não sabe desistir das coisas que ama. – disse e afagou minha cabeça. O carinho dela fez com que minha vontade de chorar ficasse ainda maior, e em segundos eu já estava chorando alto e soluçando com a cabeça no colo de . – Chora mesmo, flor. Coloca pra fora. – ela me incentivou ainda afagando meus cabelos.
Então eu chorei. Chorei até perder o fôlego. Chorei até cair no sono. Chorei até que meu corpo estava desidratado o bastante para que eu não conseguisse chorar mais. Chorei até que a vontade de chorar passou. Mas essa vontade voltou, é claro. E junto com ela veio a saudade.
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Day 34: Missing
“Mas eu sinto falta, mesmo sabendo que não deveria sentir absolutamente nada.”
- Promisse
Olhei para o meu iPod sobre a mesa e cogitei a possibilidade de levá-lo comigo para a caminhada daquela vez. Então me lembrei que a primeira música da minha playlist era a nossa música e desisti. Ouvir minhas bandas preferidas estava fora de cogitação por enquanto.
Andei ao redor do lago próximo ao meu prédio tentando pensar no meu dia a dia, na minha vida, no que só incluísse a mim. Mas não consegui, é claro. estava em cada centímetro daquele lugar, e eu sabia que não importaria se eu estivesse caminhando em Marte – eu ainda me lembraria dele para onde quer que olhasse.
Será que nós estávamos num estado tão deplorável assim, afinal? Nós fizemos funcionar por quatro anos. Eu sabia que ele havia me amado tanto quanto eu o amara. Tanto quanto eu o amava. Como foi então que tudo despencou diante dos nossos olhos? Como foi que eu deixei a melhor pessoa que conheci sair da minha vida com um simples “é melhor terminarmos, ”?
Cada um desses pensamentos fazia com que o meu desejo de ligar para ele, nem que fosse para ouvir sua voz, aumentasse. Então, minha caminhada calma e que serviria para me relaxar recebeu um ponto final e lá estava eu, correndo para casa. Assim que entrei apartamento à dentro, meu celular tocou. Meu coração disparou como todas as outras vezes nos últimos dias, porque a puta da esperança de que ele ainda me procuraria dizendo que havia cometido um erro e me queria de volta, existia dentro de mim, não importava o quanto eu tentasse miná-la.
- Oi, . – atendi desanimada porque não era com ela que eu gostaria de falar.
- Oi, . E aí, como você está?
- Bem. – eu disse desejando colocar um fim naquela conversa logo. Minha coragem não duraria para sempre e eu precisava falar com .
- Hum, sei. – ela respondeu desconfiada. – O que você acha de vermos um filme hoje?
- Eu tenho aula à noite, flor.
- Hoje é sábado, .
- Ah.
- , está tudo bem mesmo? Você está estranha... Não te atrapalhei a fazer nenhuma loucura, né? – perguntou cautelosa. Tinha que ser ela quem me ligaria! me conhecia melhor do que eu a mim mesma, e se ela quem estivesse na minha situação, eu também não deixaria que ligasse para o ex.
- Eu ia ligar para o . – confessei já que sabia que ela certamente havia chegado a essa conclusão e estava prestes a me perguntar.
- , meu bem, não faça isso. – me aconselhou.
- Nós combinamos que seríamos amigos, não combinamos? Não é como se ele tivesse me traído ou algo assim. Eu não tenho por que odiá-lo ou não querer falar com ele nunca mais. Antes de sermos namorados nós éramos amigos e... E eu não sei se aguento perder tudo isso. – admiti para o que estava relutando em admitir para mim mesma.
- Eu entendo, , mas acho que está recente demais para que vocês consigam engatar uma amizade. Se aproximar do agora só vai te machucar.
Suspirei alto me rendendo porque eu sabia que ela estava certa.
- Olha, vou tomar um banho. Acabei de chegar da caminhada e estou toda suada. Pode vir mais tarde com o filme e deixa a pipoca e os chocolates por minha conta, tá?
- Tá certo. Vou ligar pra pra falar da festinha do pijama. Fica bem, ok?
- Ok.
Mas eu não fiquei. Porque assim que desliguei o telefone acabei seguindo meu impulso anterior que ainda não havia desaparecido e selecionei o número de na agenda do celular. A foto dele fez com que meu coração se apertasse e a vontade de ouvi-lo dizendo “alô” ou simplesmente escutar sua gravação na caixa postal se tornaram sufocantes. Então eu apertei o símbolo verde na tela e sofri a pior decepção que poderia desde que ele saiu pela porta da minha casa dizendo que queria que fôssemos amigos. Porque eu simplesmente ouvi aquela mensagem que dizia que o número chamado não existia.
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Day 40: Rage
“Vou escrever um texto com o título ‘Você’ e te xingar até não poder mais. E essa, querido, será a última vez que tocarei em seu nome.”
- Forgotten-Voices
Encarei meu próprio olhar refletido no espelho e me odiei profundamente por ter deixado que a situação chegasse naquele ponto. Nem se eu usasse todo o corretivo facial do planeta conseguiria tampar aquelas olheiras!
Perceber que trocou seu número de telefone me despertou uma primeira reação muito estúpida: eu chorei. Chorei feito uma imbecil porque doía demais ver que ele mentiu pra mim, ver que da boca pra fora ele queria amizade, mas na realidade ele mudou seu telefone para não falar mais comigo. “Talvez ele tenha feito isso como uma forma de superar o nosso fim porque ele está sofrendo também” – repeti isso para mim mesma o tempo todo durante a última semana. E então eu acordei para realidade e entendi que a razão para que ele tivesse feito aquilo nada tinha a ver com estar machucado. O idiota trocou o telefone porque não queria mais falar comigo. O discurso da amizade foi simplesmente a forma que ele encontrou de me chutar com mais classe. E eu era uma retardada porque havia acreditado nisso.
- Quero conhecer o Caleb. – falei assim que vi . Ela estava sentada a uma das mesas da lanchonete da faculdade comendo um cupcake e quase se engasgou com o doce quando ouviu o que eu disse.
- QUÊ? – perguntou tossindo. – Você não está bêbada, está?
- Não, , claro que não. – respondi com uma risada. Ela arregalou os olhos de surpresa de novo; há quanto tempo mesmo eu não ria de nada? Pelo menos, não sóbria.
- Então por que essa decisão repentina?
- Não foi repentina. Estou pensando nisso desde o dia que você me falou dele.
- Uhum, sei. – ela respondeu cética.
- Ok, não desde aquele dia porque você mencionou o garoto pouco tempo depois de eu ter sido chutada. Mas estou pensando desde o momento que eu me cansei de chorar por causa de um filho da puta que não me merece e decidi tocar a minha vida.
- E quando foi mesmo que esse momento aconteceu?
- Ontem de manhã. – falei orgulhosa de mim mesma.
- Você não está em nenhuma fase bitch, né? Sair dando pra todo mundo não vai fazer você se sentir melhor, . – disse e mordiscou seu cupcake.
- Quem disse que vou sair dando pra todo mundo? Você me conhece muito bem e sabe que eu não vou fazer isso. – respondi ofendida.
- Certo. – concordou ainda um pouco desconfiada. - Vou ligar pro Caleb então.
- Pois qual é o problema em ficar com outros caras? Acho que isso só tem a capacidade de ajudar. – disse enquanto jantávamos sushi juntas aquela noite matando as últimas aulas da noite.
- Ah, claro, ficar arrependida no dia seguinte vai mesmo ser de grande ajuda pra quem ainda está recuperando a confiança em si mesma. – defendeu seu ponto.
- , a precisa desintoxicar do . Ele foi a primeira vez dela, o único cara com quem a garota transou nessa vida. Não tem jeito de quebrar a imagem de perfeito que ele tem sem isso.
- Sabia que a ia ficar do meu lado! – cantarolei vitoriosa.
- Pode ser. Mas tenha certeza da sua decisão antes de fazer qualquer coisa, hein? – me alertou.
- Não se preocupe, flor. Eu vou.
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Day 67: Self-love
“Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o ‘alguém’ da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas… é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você…”
- (500) Dias Com Ela
Acordei de manhã com o sol tornando a claridade dentro do quarto quase insuportável. Olhei ao redor e então as lembranças da noite anterior começaram a surgir uma a uma. Caleb estava deitado do meu lado, as costas nuas, o lençol tampando seu corpo da cintura para baixo. Ele era lindo, interessante, divertido e a noite havia sido muito melhor do que eu imaginara. Mas era isso – as coisas não passariam de uma noite.
Catei minhas roupas pelo quarto e não calcei meus sapatos para não fazer barulho. A chave estava na maçaneta da porta do apartamento dele, então eu não teria trabalho para escapar. Bom, foi o que eu pensei até que ele chamou o meu nome enquanto eu girava a chave.
- Já vai? – ele perguntou assim que me virei para encará-lo. Sua cara de sono e aquela boxer preta não estavam colaborando para a minha resolução de ir embora, tenho que admitir isso.
- Vou. Eu trabalho e preciso passar em casa antes pra me vestir. Mas a noite foi ótima. Obrigada pelo jantar. – sorri para ele e continuei parada onde estava.
- Ok. Também gostei muito de ontem à noite... – Caleb respondeu. Virei-me para terminar de destrancar a porta e ir embora, mas ele voltou a me interromper: - Nós vamos nos ver de novo?
- Olha, Caleb, - comecei a dizer voltando a encará-lo – eu não quero me envolver em nenhum relacionamento agora. Acabei de sair de um bem longo... Espero que você entenda. – falei me desculpando com os olhos.
- Eu entendo. Mas se precisar aliviar o stress, me liga.
- Certo. Bom, vou indo mesmo... Tchauzinho! – acenei sem graça para o garoto e fugi dali, antes que a parte carente de mim me convencesse de que um rolo com ele era uma boa ideia.
- E então? Algum traço de arrependimento? – questionou depois que terminei de contar sobre meu encontro com seu colega de trabalho.
- Nenhum. A estava certa: eu precisava de outra experiência para apagar a imagem de perfeito que criei do na minha cabeça.
- E você vai sair com o Caleb de novo?
- Não, não posso, flor. A última coisa de que preciso agora é me apegar a outro cara. Tenho que investir no projeto . Manter o foco na minha vida.
- Caramba, aquele livro te ajudou mesmo, hein? – caçoou de mim.
Na última semana, eu havia lido “Por que os homens amam as mulheres poderosas”, e, bom, eu tinha que admitir: o livro me deu uns bons e merecidos tapas na cara. Eu, a garota independente, feminista, que havia prometido tanto a mim mesma que nunca deixaria um homem decidir se eu estava feliz ou triste, me tornei uma perfeita mulher boazinha, que vive para agradar ao namorado e sofre feito uma imbecil se ele a magoa. Terminar o namoro foi ótimo para que eu tivesse tempo para aprender com esses erros e me preparar melhor para um relacionamento, se algum acontecesse no futuro.
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Day 82: Disaffection
“Eu te superei já faz tempo. Mas, sabe, até que eu gostaria de recomeçar contigo novamente, só para ter o prazer de te encarar e dizer ‘Não estou mais afim, terminamos aqui. Faz assim: supera aí.’ ”
- Allax Garcia
Desde o dia em que minha chamada para o telefone de não completou porque ele havia trocado o número, eu não derramei uma lágrima por ele. O orgulho foi o sentimento que predominou no início, e progressivamente, a vontade de chorar desapareceu. Agora eu estava bem, feliz por estar sozinha e ter as rédeas da minha vida de volta. Bom, era isso o que eu pensava até aquela manhã.
Havia uma Starbucks em frente ao escritório onde eu estava trabalhando desde o início do último mês – minha professora de Direito Penal II viu como eu estava me destacando na disciplina e me convidou para estagiar em sua empresa. Portanto, larguei meu emprego de garçonete no restaurante próximo a minha casa e comecei a fazer o que eu gostava de verdade, embora eu ainda não recebesse tarefas tão complicadas. Assim, como todos os dias às 08 A.M, entrei na cafeteria e pedi um cappuccino, que eu esperava que me despertasse o bastante para manter o corpo em movimento pelas próximas 12 horas.
E foi da fila da minha Starbucks preferida que eu os vi. estava sorrindo do jeito mais feliz possível – eu o conhecia muito bem e sabia quando ele realmente estava no seu máximo de alegria – e Carly, uma das amigas que tínhamos em comum, aquela que estudara conosco no colégio e quem ele dizia ser legal, mas por quem não se interessaria nunca, estava junto com ele, as mãos dos dois entrelaçadas. Eles trocaram um beijo rápido e então se levantaram juntos. Foi então que o olhar dele cruzou com o meu.
Eu não sabia o que estava mais evidente no meu rosto: a raiva pela traição ou a incredulidade. Porque eu ainda não conseguia acreditar que ele fora capaz de se envolver com uma das minhas amigas nem três meses depois de ter terminado um longo relacionamento comigo! Porque não era justo que ele estivesse feliz com alguém tão cedo, quando eu ainda estava juntando meus pedaços. Porque Carly sabia o quanto eu o amara (e ainda amava, na verdade). Ela acompanhou o início do nosso namoro um ano e meio antes de terminarmos o High School, ela me escutou chorar e desabafar várias vezes sobre o meu medo de irmos para faculdades diferentes e nosso namoro terminar por isso, e ela comemorou comigo quando eu disse que ambos fomos aceitos no mesmo lugar e minha vida era perfeita por isso. Carly estava no grupo de amigos com quem e eu saímos tantas vezes. Depois de e , ela era exatamente quem eu diria que ficaria do meu lado após o término, quando uma barreira foi colocada entre nós – não apenas entre mim e , mas entre nós e nossos amigos mais próximos também, como se quem ficasse do lado de um não pudesse ficar do lado do outro. Como eu podia ter me enganado tanto?
- Oi, . – me cumprimentou e sorriu amarelo.
- Hey, . Como você está? – Carly acenou para mim. Ela normalmente teria se aproximado para me dar um beijo no rosto ou me abraçar, mas algo na minha expressão deve tê-la alertado que manter distância era mais seguro.
Não me dei o trabalho de responder. Tirei meu celular de dentro da bolsa e selecionei qualquer opção no menu, ignorando completamente os dois. Então, chegou a minha vez de ser atendida no caixa, e pela visão periférica vi os dois saindo da cafeteria.
Consegui reprimir o ódio e a mágoa que eu sentia de e de Carly durante todas as seis horas que passei no trabalho e as próximas quatro em que fiquei na faculdade vendo minhas aulas. A prática em pegar a dor e colocá-la por baixo das tarefas me ajudou bastante neste quesito; dois meses atrás eu teria corrido para casa e chorado até minhas glândulas secarem. Então, minha capacidade de sufocar aquilo se esgotou e passei no barzinho mais próximo à casa de que eu conhecia. Tomei dois shots de tequila e liguei para .
- Oi, flor. – ela atendeu no terceiro toque.
- O ainda mora na West 115? – perguntei. Eu não estava bêbada, mas as duas doses de bebida alcoólica foram boas para me dar a coragem que precisava para cuspir na cara daquele idiota tudo que estava engasgado.
- Mora... Por quê?
- Depois eu te conto. Obrigada, . – respondi e desliguei antes que me cobrisse de questionamentos. Ela me ligou de volta, mas não atendi. Eu não deixaria que ninguém me impedisse de fazer aquilo.
Peguei um táxi até o prédio de e o porteiro me deixou entrar apenas com um “boa noite”. Ele me conhecia desde que meu ex-namorado se mudou para lá, e embora provavelmente tenha desconfiado que terminamos e já estava com outra, Jeffrey não me tratou como uma estranha proibida de ir até o apartamento do rapaz.
Toquei a campainha com a raiva transbordando. atendeu poucos segundos depois. Sua expressão ao me ver foi de choque.
- Nós não terminamos do jeito certo. – falei quando ele abriu a boca para me cumprimentar ou falar a merda que fosse que estava pretendendo.
- Como?
- Aquela conversa pacífica, em que você diz que acha melhor darmos um tempo e eu falo que não quero que acabe, mas não vou te impedir de fazer isso... Essa merda toda... Isso não está certo! Aquela conversa fiada de que vamos ser amigos, que está tudo bem e vamos ter carinho um pelo outro pelo resto de nossas vidas, é só isso: conversa fiada. E é por isso que eu me afetei mais cedo quando te vi com a vagabunda da Carly – trinquei os dentes ao me lembrar da cena. – Porque eu não gritei com você. E eu quero muito gritar com você agora! – completei já gritando.
- Tudo bem. – respondeu de um jeito condescendente que me fez ficar com ainda mais raiva.
- Você é um idiota! – berrei reprimindo a vontade de chorar. – Eu desperdicei quatro anos da minha vida com você: um imbecil que desistiu de mim na primeira crise que enfrentamos! E o pior nem é isso. O pior é que você foi mesquinho o suficiente para se envolver com uma das minhas amigas pouquíssimo tempo depois de termos terminado! Eu diria que quero que você morra, , mas isso não é verdade. Eu quero que você ainda viva o bastante para sofrer do mesmo jeito que me fez sofrer. – cuspi por fim e dei as costas para ele. Eu havia chegado no meu limite, e ele não podia me ver chorando. Então, eu fugi dali, sem sentir sequer um pingo daquele alívio pós-desabafo. Porque agora eu sabia que até então não havia me desapegado, seguido em frente ou qualquer coisa parecida. Eu só havia pegado meus sentimentos e jogado um monte de coisa por cima deles. E lá estavam todos agora, fazendo com que eu me sentisse no fundo do poço novamente.
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Day 122: Moving On
“Um dia você vai encontrar alguém que te lembre todos os dias que a vida é feita para ser vivida. Alguém que é perfeito de tão imperfeito. Alguém que não desista de você por mais que você tente afastá-lo. Naquele dia que você não estiver procurando por ninguém, naquele dia que você não ia sair de casa e acabou colocando a primeira roupa que viu pela frente. Quando você não estiver procurando, você vai achar aquela pessoa que faz você sentir que poderia parar de procurar.”
- Caio Fernando de Abreu
Encontrei meu assento indicado na passagem dentro da aeronave e fechei os olhos assim que me sentei. Eu estava exausta! A última semana do ano letivo sempre faz isso: esgota totalmente as energias de qualquer universitário esforçado. Tudo o que eu queria era que o voo passasse rápido e, depois de abraçar meus pais e minha irmã mais nova, eu pudesse finalmente despencar na minha de solteiro no segundo andar de nossa casa no subúrbio de Chicago e dormir pelo menos pelas próximas oito horas. Um cochilo no avião nunca seria o bastante para me recuperar de quase uma semana insone.
Meu cochilo, no entanto, foi interrompido quando aquela voz chamou o meu nome. Abri os olhos imediatamente porque eu não devia estar delirando – eu havia prometido a mim mesma que nem nos meus delírios voltaria a aparecer.
- Oi. – ele me cumprimentou sem graça e se sentou ao meu lado.
- Hey. – respondi sem acreditar que a vida estava fazendo aquilo comigo. – Jura que a sua passagem indica esse assento? – perguntei massageando as têmporas quando a dor de cabeça fraca que eu estava acostumada a sentir se transformou em um latejo chato.
- Juro. – ele falou e ficou em silêncio. Fechei meus olhos novamente e repeti na minha mente várias vezes que fingiria que ele não estava ali. Com sorte, conseguiria me convencer disso ou pegaria no sono antes. Não eram nem duas horas de voo; eu sobreviveria. – Eu e a Carly terminamos na mesma semana que você descobriu que estávamos juntos. – disse.
- Não me importa, . – falei ainda de olhos fechados.
- Eu deveria ter te contado. Eu sabia que tudo pareceria um grande mal entendido...
- Não foi um mal entendido. – eu o interrompi decidindo encarar seu olhar para deixar isso bem claro. – Vocês começaram a sair pouco tempo depois de nós terminarmos. Ela era minha amiga. Vocês são dois filhos da puta. Simples assim. – sorri amarga.
- Eu sofri, . Eu ainda sofro porque não tenho você na minha vida mais. Por isso eu e a Carly terminamos. Eu tentei te substituir como uma forma de superar as coisas, mas é claro que não funcionou. – ele falou e meu estômago revirou-se instantaneamente. Eu estava ficando literalmente enjoada daquela conversa sem sentido.
- , você pode dizer o que quiser, mas a verdade é que eu não consigo acreditar em sequer uma palavra que sai da sua boca.
Com isso, coloquei meus fones nos ouvidos e só tirei no momento da decolagem, quando a comissária de bordo pediu que os aparelhos eletrônicos fossem desligados. Minhas energias para lidar com ele haviam se esgotado por completo, e qualquer conversa que tivéssemos de agora para o resto de nossas vidas só seria isso: completamente sem sentido.
O final de semana na casa dos meus pais foi ótimo. Percebi que sentia mais falta das coisas simples – como comer a comida da minha mãe, contar uma história para Lucy dormir e ouvir as piadas sem graça do meu pai – do que imaginava. É claro que eu chorei quando tive que me despedir deles na segunda de manhã, mas eu precisava voltar para a vida real em Nova York. De qualquer modo, fiquei feliz simplesmente por me lembrar de que nos veríamos de novo dali menos de um mês, quando eu ficaria 15 dias de férias do trabalho.
Entrei no escritório equilibrando minha mala pesada em um dos braços e minha bolsa no outro. Quem me recepcionou foi minha chefa imediata, Jane.
- Bom dia, .
- Bom dia!
- Como foi o fim de semana com a família?
- Maravilhoso. Como foi o seu fim de semana?
- Basicamente o mesmo de sempre. Depois falamos disso melhor. Vá lá guardar suas coisas. Essa mala parece estar pesada...
- É, está. Minha mãe sempre exagera nos doces e bugigangas.
Coloquei minha mala em um canto da minha pequena sala e liguei o computador. Estava abrindo a primeira pasta que deixaram sobre a minha mesa naquela manhã com um clips identificando-a com meu nome quando bateram à porta. Interrompi o que estava fazendo para atender e não pude acreditar no que estava vendo quando ele se materializou na minha frente, 1,93 metros de pura sedução.
- ?! – falei com um sorriso de orelha a orelha.
- ?! – ele ecoou meu tom de voz e minha expressão.
- O que tá acontecendo? Vocês já se conhecem? – Jane perguntou.
- Sim, sim. Nós fizemos o High School no mesmo colégio! – respondi enquanto e eu trocávamos um abraço. Deus, ele cheirava tão bem quanto aparentava!
- Sua escola foi boa em produzir bons advogados então. O está começando a trabalhar conosco hoje.
- Eu não sabia que você estava estudando Direito aqui em Nova York. – eu disse.
- Vou deixar vocês colocarem o papo em dia. Vá até a minha sala daqui dez minutos, ok, ? A vai te treinar, então vocês poderão conversar melhor depois. – Jane concluiu sua participação na conversa e se retirou. Ofereci uma cadeira para e me sentei também; eu estava realmente surpresa e feliz em vê-lo ali.
- Eu estou um ano atrás de você no curso. Entrei na Universidade de Chicago com uma bolsa de estudos para atleta, mas meu joelho parou de funcionar adequadamente no primeiro semestre que passei na faculdade da nossa cidade. Não é como se eu não conseguisse caminhar ou viver, mas não posso praticar esportes num ritmo tão puxado mais. Daí eu decidi tentar a Universidade Columbia para fazer minha segunda opção depois do futebol, que é Direito.
- Caramba, deve ter sido difícil pra você passar por isso. Eu me lembro do quanto você gostava de ser quaterback.
Não pude evitar encarar os ombros largos dele tampados pelo terno. era simplesmente o sonho de consumo de todas as garotas da escola, e o meu sonho de homem também, até que conheci , o primeiro namorado que me tirou de órbita por anos. nunca foi do tipo de cara marrento, que tocava o terror nos corredores do colégio e enfiava a cabeça dos nerds na privada. Ele nunca tirava notas ruins também – beleza e inteligência sempre andaram juntas no caso dele. Por isso, naturalmente, todas as garotas suspiravam por . Além de bonito e popular, ele também era uma pessoa sensacional, que tratava a todos bem e sempre estava metido em alguma campanha de caridade ou algo do tipo.
- É, foi meio difícil de aceitar no início, mas eu me empolguei bastante quando li sobre a Columbia U. E quando cheguei na universidade... Não consigo enjoar daquele lugar. – riu.
- A universidade é fantástica mesmo. Bom, estou feliz porque vamos trabalhar juntos! – falei sinceramente sorrindo para ele.
- Podemos conversar melhor na hora do almoço. O que você acha de comermos juntos? – sugeriu sorrindo para mim de volta.
E, minhas amigas, foi neste dia que eu realmente entendi o que significa seguir em frente.
The End