Boys Do Cry
Escrito por Fe Camilo | Revisado por Natashia Kitamura
When the girls don't need your love
Who says boys don't cry?
(Boys don’t cry – Anitta)
Brooks é uma mulher forte e decidida que não se abala por pouco, nem permite que tentem atrapalhar seu sono. Capaz de conquistar todos os seus objetivos com garra e determinação, conseguiu construir um império invejável na área de moda. Atualmente é CEO de uma das maiores empresas de criação de roupas customizadas do país, e quem a conhece jamais imaginaria que ela iniciou sua carreira como uma simples costureira de bairro.
Sua maneira pragmática de lidar com a vida e com os problemas é o que a mantém tranquila enquanto estaciona o carro na Suprema Corte do Condado de Nova Iorque. Não era como se fosse uma novidade, já estava acostumada a participar de diversos tipos de audiência por conta de processos feitos por clientes ou ex-funcionários. Essa era a quarta vez, no entanto, que precisava comparecer à uma por processo de um ex assistente pessoal.
checa o horário em seu celular e colocar os óculos escuros, saindo do carro pronta para a guerra. Ela não tinha dúvidas de que – como nas outras vezes – venceria o caso, afinal, sua mente estava tranquila com relação às suas atitudes. Não é culpa dela se as pessoas, e principalmente os homens, esperavam demais dela.
O motivo de precisar se encontrar novamente com a juíza Rogers, a qual deveria estar cansada de ver sua cara, era simples. Seu ex assistente, , a está acusando de assédio sexual e uso abusivo de poder para forçá-lo a ter relações sexuais com ela, além de tê-lo demitido quando se recusou a continuar tal relação. Era uma tentativa estúpida e desesperada de chamar a atenção da mulher que já o dispensara há tempos.
No auge dos seus quarenta anos, é o que poderia ser facilmente considerada uma “cougar” e ela não tinha o menor problema em concordar com isso. Há alguns anos ela já havia percebido que casamento e filhos não era seu destino, e não tinha vontade nem tempo para investir em relacionamentos românticos e duradouros, por isso procurava homens somente para o que - em sua percepção - eles serviam: sexo.
A princípio procurava pelos bares por homens minimamente interessantes com quem pudesse passar a noite, mas quando contratou Andrew, um rapaz de vinte e sete anos com belos olhos verdes que a seguia como um cachorrinho sem dono e não fazia questão de esconder o interesse que tinha, ela logo mudou sua estratégia. Andrew passou a ajudá-la não somente profissionalmente, se é que me entendem. Todas as vezes que tinha vontade de ter uma companhia, bastava chamá-lo e ele estaria pronto para servi-la.
O problema é que, diferente dela que tinha aversão à romance, Andrew logo começou a demonstrar interesse por algo a mais. Fazia visitas surpresas com “mimos” completamente desnecessários, insistia em passar a noite e lhe preparar um café pela manhã, e logo ela precisou terminar o caso que tinham. O rapaz ficou tão arrasado que se demitiu no dia seguinte, alegando que não poderia continuar convivendo com ela como se nada tivesse acontecido.
Sem nenhum remorso, logo contratou um novo assistente e o mesmo padrão se repetiu. Ela nunca tomava a iniciativa, simplesmente seguia seus dias naturalmente focada no trabalho, mas eles sempre caíam como patinhos em sua armadilha. não sabia ao certo se era por conta de sua beleza e sensualidade natural, se por sua atitude autoritária e independente ou um mix de tudo isso, mas o resultado era sempre o mesmo: eles a queriam, demonstravam seu interesse, ela cedia e assim iniciava mais um affair.
Para era uma questão de praticidade, não precisava perder seu tempo a procura de homens aleatórios e era muito mais fácil encaixar seus momentos de prazer em sua rotina. Depois de Andrew, outros seis assistentes seguiram seu legado, mas três deles a processaram alegando os mais variados motivos que conseguiam imaginar, e ela venceu em cada uma delas. Agora tentava fazer o mesmo e ela permanecia confiante de que não havia com o que se preocupar.
Assim que entrou na sala notou o olhar suplicante de do outro lado da mesa, mas se recusou a lhe dar qualquer atenção. Sentou-se ao lado de sua advogada e assim iniciaram a sessão. estava tão entediada depois de ouvir todos os autos do processo que divagou o pensamento organizando mentalmente quais estampas se encaixariam melhor no lançamento de inverno, até que uma leve cotovelada de Bridget, sua advogada, a fez voltar para o presente.
- Pelo que posso ver nessas fotos, Sr. Williams, o senhor procurou pela Sra. Brooks incontáveis vezes com o intuito de ter relações sexuais com a supracitada, o que se configuraria como um assédio da sua parte. No entanto, ela admite que ambos se envolveram consensualmente e não deseja prestar queixas contra o senhor. – a juíza informou.
- Sim, vossa excelência. – Philips admitiu relutante.
- Com relação à acusação de demissão, as fotos também evidenciam que ela terminou a relação com o senhor, e desde então o senhor passou a insistir na volta a ponto de se configurar uma vez mais como assédio. Mais uma vez, ela não deseja prestar queixas.
ficou em silêncio por um segundo e tentou buscar o olhar de que permanecia distante. Ele colocou as mãos sobre o rosto, tentando dissipar de alguma maneira a frustração. Não conseguia entender onde havia errado quando tudo que fez foi para satisfazê-la, e ela simplesmente o rejeitou como se fosse um verme em seu sapato.
- Sr. Williams, entendo que o senhor não tenha gostado do fim da relação, mas preciso reiterar que um “coração partido” não configura crime em nenhuma instância. – a juíza concluiu.
notou que, exatamente como previra, a juíza determinaria o processo como indeferido e ela poderia voltar para a empresa cedo o suficiente para participar do novo processo seletivo para um novo assistente. Um sorriso de agradecimento surgiu em seus lábios assim que o resultado foi anunciado e todos foram dispensados.
Ela caminhou apressadamente com sua advogada em seu encalço e estava prestes a sair do prédio quando sentiu uma mão segurar seu pulso a puxando em desespero.
- , por favor, me dá só mais uma chance. Eu juro que não fiz por mal, eu só queria te ver de novo, poder falar com você, chamar sua atenção, sei lá. – Philips falava rapidamente, tropeçando nas palavras, enquanto lágrimas se acumulavam em seus olhos.
- , meu querido, já deu. Sugiro que você procure uma terapia para aprender a desapegar. – disse com o rosto impassível, desvencilhando suas mãos da do rapaz.
- , você não entende. Eu te amo, não posso viver sem você. – o rapaz suplicou, dessa vez as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. o olhou com desprezo e colocou seus óculos escuros novamente, se virando e seguindo para o carro enquanto pedia à advogada.
- Bridget, por favor, dê entrada no pedido de uma ordem de restrição. Não quero mais ter que me preocupar com esse rapaz.
- Sim, sra. Brooks.
deu partida em seu carro sem se importar com o rapaz que ainda chorava nas escadarias do Supremo Tribunal. Ligou o rádio e sorriu ao reconhecer o som que tocava no alto-falante: How to be a heartbreaker.
“Nobody's taking control all over me.”