Boulders & Starbucks

Escrito por Stelah | Revisado por Natashia Kitamura

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  O Sol iluminava a terra da rainha. A vida continuava e não podia parar para apreciar tamanha beleza divina.
  Verão em Londres. Passos de salto para um lado, resmungos de dor para o outro. Talvez, se ela tirasse as sandálias, tomaria vergonha e sentaria um pouco, devido aos tamanhos calos.
  Não era pra pouco. Desde quando conciliar o sucesso financeiro e a elegância feminina era tão fácil?
  Num pequeno pedregulho, ela tropeçou. Sorriu e aproveitou para olhar a volta. Descansou um pouco ali, em pé.   - Starbucks. - Ela leu alto.
  Desde quando uma cafeteria era boa pedida no verão? Mesmo assim, ela entrou no estabelecimento.
  Seus olhos e cheios de vida procuravam por uma mesa vazia.
  Um moreno bonito e bem vestido convidou-a para acompanhá-lo. O gesto agressivo dela com o dedo foi o suficiente para ele entender que isso não fazia parte dos planos dela.
  Ajeitou-se em uma mesa qualquer e garantiu que sua “poupança” estaria confortável. Rindo de sua mania estranha, limitou-se a erguer a mão para chamar um barista.
  Segundo a segundo, a acompanhava o relógio. Vendo passarem cerca de cinco minutos, ela pensou em ir embora. Mesmo irritada, ela resolveu uma segunda tentativa:
  - Ô barista! - gritou.
  Um garoto franzino, de rosto bem pálido com um óculos de grau redondo se aproximou dela, que suspirou aliviada. Mas ele ficou limpando a mesa à sua frente.
  - Como eu sou idiota, aff... - Ela virou os olhos. – É só o carinha da limpeza, por isso é o único de preto.
  Paul, como dizia seu crachá, deixou o pano na mesa e direcionou seu olhar para :
  - Na verdade, eu sou “Coffee Master”.
  - De que adianta esse nome chique, se ele se resume a: limpador de mesas? - Ela pareceu se exaltar.
  - Bem, ”Coffee Master” não é isso... - Ele fez cara de confuso.
  - Tá legal, Sr. Coffee Master. Então, por que não me atendeu, hein?
  - Me desculpe, não a ouvi chamar.
  - Nem você, nem os outros baristas!
  O jovem soltou uma curta risada:
  - Desse jeito eles nunca iam te atender!
  - Por quê? Qual o problema em mim? - Parece que o garoto atingiu o ponto fraco de . Por que uma garota como ela se sentia tão inferior?
  - Não tem nenhum problema em você! Quer dizer, se fosse pra eles acharem um problema em alguém, com certeza não seria em você! - Ele corou, e por mais que tentasse consertar, não conseguiria.
  - Segura os hormônios, tá legal? - Entre nós, ela gostou. - Senão vou falar pro seu chefe que anda cantando as clientes!
  - Me desculpe, não tive a intenção... - Ah, teve. - Quer dizer, não que você não seja digna... – Ele não sabia onde se esconder.
  - Acabou? Agora dá pra me falar qual era o problema? - interrompeu.
  - Ah, claro! É que você estava os chamando de baristas, e na verdade é “Partners”.
  A fez força para não rir, mas não foi o suficiente:
  - Tá legal, garoto... Me dá um Latte clássico mesmo!
  - Na verdade, você está fazendo o pedido de forma errada. - Paul estava ficando cansado de corrigir a garota, mas no fundo ria de seu jeito de ser.
  - Olha a minha cara de quem se importa com isso! - A cliente, dez anos mais velha, fez o garoto de aparentemente 17 anos sorrir. - Me trás qualquer coisa logo!
   olhou a volta, ainda confusa e perdida. Precisava mais alguma coisa para que ela provasse que não sabia nada sobre cafeterias? Afinal, Starbucks não é pra qualquer um.
  O garoto voltou com um Frappuccino de doce de leite em mãos, e ela fingiu saber “que diabos” era aquilo. Ao menos não era a única a beber um daqueles na cafeteria.
  Arrumou o canudo e sugou o líquido. O gosto era horrível e embora ela fizesse cara de quem estava “gostando”, tudo o que ela queria naquele momento era uma lata de Guaraná Antártica, sua bebida favorita.
   se levantou da mesa com o Frappuccino ainda cheio e pagou a conta. Definitivamente a cafeteria não foi uma boa pedida, mas ela não estava arrependida. Tinha algo nos olhos daquele tal de Paul que compensava qualquer bebida de gosto estranho e receita duvidosa.

***

  Depois de mais um dia de trabalho, ela finalmente se deitou em paz. Estava livre de qualquer stress.
  Talvez aquela não fosse sua vocação, talvez ninguém poderia ter aquela vocação: viver apenas pela obrigação.
  Lá estava ela, diante da TV.
  E algum tempo depois ousou fechar os olhos, e ousou sonhar, ela nunca o fez antes:

  “Lá estava ela, outra vez no Starbucks. Outro dia, um novo Sol.
  - Veio buscar o Frappuccino que deixou inteiro na mesa ontem? – Paul perguntou, sorrindo.
  - Na verdade, vim buscar o amor que aqui encontrei. - Dava pra ver apreço em seus olhos, e era isso que deixava toda a alienação de lado.
  - Pois é, este lugar trás sensações incríveis... O que vai querer? - Ele queria não acreditar no que ouviu e fez o possível pra isso.
  - A única coisa que quero é... - Ela disse puxando o crachá do garoto. - Paul Dano.
  Eles se fitaram, olho a olho. Dava pra ouvir seus corações cantarem e ameaçarem sair pela boca.
  Paul acariciou levemente o rosto dela, aproximou seu rosto, puxando-a levemente pelo queixo, e a beijou suavemente.”

  Dava pra ouvir o suspirar de . Mas ela sabia que era apenas um sonho.
  Com tantos compromissos e metas que ela mesma se impusera, ela esquecia o mais importante. Não tinha tempo para ser feliz.
  Mas o destino jogaria um novo pedregulho em seu caminho...

  E o sol iluminava a terra da rainha outra vez.
   se via correr para os lados, sem rumo, mas com pressa.
  Num pequeno (outro) pedregulho, ela tropeçou. Seus olhos seguiram o Outdoor:
  - Starbucks. - Ela leu alto.
  Naquele instante, a imagem do garoto da cafeteria veio à sua cabeça. Ela sentiu um aperto no coração e um sufocar na garganta.
  Mas ela tomou a decisão certa...
  - Veio buscar o Frappuccino que deixou inteiro na mesa ontem? - Paul disse sorrindo, enquanto se sentava numa das mesas.
  Ela retribuiu o sorriso com um brilho raro e intenso no olhar:
  - Na verdade, vim buscar o amor que aqui encontrei...

  Starbucks: É a empresa multinacional com maior cadeia de cafeterias do mundo.
  Coffee Master: Funcionários que alcançaram alta pontuação durante sua certificação. Treinados não apenas no preparo e degustação como também no cultivo, torra e compra de café. Podem ser identificados por seus aventais pretos.
  Frappuccino: É um café com gelo e outros ingredientes... Bebida exclusiva da Starbucks.

FIM



Comentários da autora

  A felicidade está nas coisas mais pequenas do nosso dia-a-dia. Num café no fim de tarde,no sorriso de um amigo... Mas muitas vezes nós não a vemos,pois estamos ocupadas demais nos enchendo de compromissos e objetivos que talvez nunca nos façam felizes. E é por isso que não enxergas o Sol iluminando sagazmente a paisagem,e muito menos enxerga a bondade. Todas nós presas nas aparências.
  São os tropeços e as eventuais quedas que nos fazem ver o quão nossas vidas são boas,por mais que reclamamos. Quem sabe se abrirmos os olhos não encontramos um grande amor de Starbucks? Ou será que vocês já encontraram?