Blooming

Escrito por Brubs Mota | Revisado por Pepper

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  O sol brilhava intensa e ainda assim delicadamente naquela tarde de domingo, trazendo a sensação de tranquilidade à maioria dos madrilenos. E esta sensação era tudo o que não sentia um pequeno grupo de rapazes. Nos vestiários do Santiago Bernabeu, ouviam as instruções e mentalizavam tudo o que poderiam de usar dentro de campo para vencer a partida. Nem parecia ser a mesma Madrid onde pessoas se aproveitavam da serenidade para esquecer de todos os problemas. Na verdade, os problemas pareciam ter vindo de encontro a esses rapazes. Era a final da Copa do Rei e seria realizada contra o seu maior rival: Barcelona. Esse jogo seria apenas o mega clássico español.
  Onde está o problema?, você deve estar se perguntando. Ok, eles tinham a chance de ser campeões mais uma vez e não há nenhum problema nisso. O problema se encontra justamente nas estatísticas: dos últimos 5 confrontos, os catalães haviam ganhado 3, havia um empate e uma vitória para o time da capital espanhola. Muitos deles tentavam ignorar as estatísticas, mas tinham consciência de que seria um jogo extremamente complicado e que tinham, todos os jogadores do Real Madrid, sobre suas costas a pressão (para o torcedor, a obrigação) de ganhar em casa.
  Um contido falatório entre os zagueiros se fazia ouvir enquanto do outro lado do cômodo alguns dos jogadores mais antigos no grupo brincavam com os mais novos, na tentativa de aliviar o estresse que era quase palpável. Haviam também os que cantavam e os que permaneciam calados, lembrando-se de não cometer os mesmos erros do último confronto.
  Talvez por estarem extremamente concentrados em suas conversas ou em seus próprios pensamentos, poucos foram os que perceberam o retorno de José Mourinho ao vestiário. Este, procurou por duas pessoas especificamente, não tardando em encontrá-las em pólos opostos do recinto. Assim que se certificou que nenhum dos jogadores se encontrava em estado, digamos, indecente, José Mourinho abriu a porta minimamente, sinalizando para que entrasse. E ela assim o fez, deixando uma brecha para poder vigiar o pequeno espectador que ali estava.
  – Obrigada, professor. - sussurrou a garota e o mais velho lhe sorriu amigavelmente. Ela não tinha ideia de como conseguira convencê-lo a concordar com isso (na verdade, ela só queria telefonar, mas ele a incentivou a visitar o vestiário antes da partida. Beeeem antes da partida), mas não podia estar mais feliz.
  – Os meninos precisam de todo o incentivo possível para dar o melhor de si hoje e, bom... - deu de ombros, ainda com um sorriso nos lábios. - Acho que esse é um baita de um incentivo. - sorriu, surpreendendo o mais velho com um abraço que logo foi retribuído.
  – ? - Xabi, seu irmão, fora o primeiro a notar sua presença e à medida que os outros também o faziam, o silêncio se estabelecia no lugar. Afinal, o que ela estaria fazendo ali quase uma hora antes de um jogo tão importante? Melhor ainda: como Mourinho a deixara estar ali?
  – Ok, prestem atenção! - todos encararam o técnico a espera de uma explicação. Todos menos Iker. Ele fitava a esposa com uma sobrancelha arqueada, um ponto de interrogação estampado em seu rosto. Ele não conseguia nem se perguntar o que havia acontecido por temer a resposta. Ele não tinha a afeição do técnico, então o único motivo possível para explicar a presença de nos vestiários era Xabi, certo? Mas por que ela estava ali? Daria alguma notícia ruim? Havia acontecido algo com algum membro da família Alonso? Iker estava confuso e como estava! Queria saber o que acontecia ao mesmo tempo em que a simples ideia o assustava. - já é conhecida de vocês, então dispensa apresentações. Alonso! Casillas! Por que não se aproximam? - os dois se encararam por um breve segundo, rumando para as proximidades de com os cenhos franzidos. Pararam a alguns passos dela, cada um de lado da sala, fitando-a sem a menor cerimônia. - O que a menina tem pra falar é importante, então, fiquem calados até que ela termine, ok?
  – O que aconteceu? - a pergunta de Xabi era direcionada a José Mourinho, que bufou ao ver suas palavras contrariadas apenas um segundo após serem ditas, mas seus olhos estavam fixos em sua irmã, cuja expressão era indecifrável.
  – Claro. Todos calados, menos o Alonso. - declarou enquanto seguia para junto de Özil e o rapaz murmurou um “Desculpe, professor”. - Quando quiser, querida. - José Mourinho assentiu ao sentar-se perto do alemão e Xabi logo cruzou os braços, encarando a irmã mais intensamente.
  – . - pronunciou solenemente e ela olhou para Iker, que ainda não tinha dito uma única palavra. Pela visão periférica, ela percebeu que não eram apenas os dois que esperavam com apreensão pelo que ela diria, mas também os outros rapazes. Por isso decidiu se apressar.
  – Bom, eu... - por um soslaio, ela olhou para a brecha e sua cunhada, Nagore, que também estava do lado de fora, fizera sinal de que estava tudo bem e isso a aliviou. pigarreou, finalmente encarando o irmão. - Eu vou tentar ser breve, vocês têm um jogo importante hoje e...
  – . - Xabi repetiu, num tom que ela sabia que significava “vá direto ao ponto” e retribuiu com um aceno de cabeça.
  – Há quanto tempo eu conheço vocês? Quer dizer, a não ser pelos meninos que chegaram nessa temporada, vocês já estão cansados de me ver e, provavelmente, até os meninos novos já estão cansados de me ver! Mas os mais antigos já estão acostumados a abusar da minha hospitalidade e, principalmente, da minha paciência. Isso nos faz uma família, certo? - disparou e Xabi franziu seu cenho ainda mais. Que diabos está acontecendo aqui?, repetia mentalmente.
  – Certo. - Marcelo respondeu e todos se viraram para ele por um instante. - Foi mal. Continua aí. - apontou para e para lá os olhares se voltaram.
  – Eu sei que essa notícia poderia ser dada em outra hora, de outra forma... - Mourinho não reprimiu um risinho e, mais uma vez, Xabi Alonso se pegou se perguntando o que estava acontecendo ali. - Mas o professor achou que isso fosse dar um gás a mais e, bom, ele não está errado. - ela franziu o cenho e encarou o chão, falando a última frase mais para si mesma que para os outros. - Pelo menos eu espero que ele não esteja.
  – . - mais uma vez, o nome da garota fora repetido em tom solene, mas desta vez por Iker. Havia sido um pouco mais doce, um pouco mais baixo que da vez que seu irmão dissera, por isso ela sabia que seu marido já não aguentava mais sua embolação. Um sorriso se firmou em seus lábios. Ela precisava contar, agora.
  – Família... - ela riu, encarando brevemente os rapazes que estavam mais próximos de si. - Eu quero apresentar pra vocês o mais lindo madridista desse universo. - lançou seu olhar para a porta, onde os grandes olhos castanhos e curiosos ainda a encaravam com expectativa. Mourinho observava cada movimento da garota com um sorriso no rosto. Ele tinha suas diferenças com Iker Casillas, mas tinha uma certa afeição pela garota. Ela também é uma Alonso, foi essa a explicação que dera a si mesmo quando não hesitou em ajudá-la com isso tudo. Mas não era só por isso. E ele sabia. De certa forma, ele estava feliz por Iker. Estava feliz que, depois de tantas coisas ruins acontecendo com ele, finalmente uma notícia boa chegasse. fez sinal para que o menino entrasse e o mesmo olhou assustado para sua tia antes de fazê-lo. - Conheçam Guillermo Casillas. - declarou com o maior e mais verdadeiro de seus sorrisos e os olhos de Iker se arregalaram, assim como o resto dos rapazes.
  Um pequeno garoto de pele corada, cabelos escuros e olhos míticos (como dizia que os olhos de Iker eram), entrou no lugar trajando uma camisa azulada do Real Madrid que lhe parecia entrar perfeitamente. A camisa número 1 cujo nome atrás, Iker logo veria, era “Papa”. Era o mesmo garoto que, há quase um ano, o casal vinha tentando adotar. O mesmo garoto com quem ele tinha uma conexão inexplicável, uma conexão de pai e filho, como havia definido tantas vezes. Iker levou as mãos à boca, depois aos cabelos e depois as fez cobrir suas bochechas, enquanto lágrimas se formavam em seus olhos. Ele não podia acreditar. Não podia acreditar que eles haviam finalmente conseguido. Que Guillermo era deles. Que Guillermo era, agora perante a Lei, filho deles. Ele não conseguia acreditar que haviam finalmente aceitado o fato de que seu trabalho não afetaria em nada a garantia de uma infância saudável para Guillermo. Uma infância normal. Não conseguia acreditar que eles finalmente haviam entendido que maravilhosa mãe poderia ser. Era surreal demais, incrível demais... Mas ele deveria estar esperando por isso, não? Sim.
  Com um enorme sorriso, Iker correu para abraçar . Depositando um demorado beijo na bochecha da esposa sem dizer uma palavra, ele logo buscou pelo pequeno espectador de todo o acontecido. Guillermo não escondia o sorriso por vê-lo. Ele tinha apenas 3 anos, era pequeno demais para entender a complexidade do assunto, mas compreendia perfeitamente o que aquele sorriso no rosto do mais velho significava. As palavras que era proibido de dizer nos últimos 7 meses quando via Iker ou agora poderiam ser ditas sem nenhum problema.
  – Papa? - ele chamou e o sorriso de Iker triplicou de tamanho, como se fosse possível. Ele logo pegou o menino em seus braços, apertando-o delicada e ainda assim possessivamente contra si.
  – Sim, hijo. - Iker soltou as palavras que esperou tanto tempo para pronunciar, ainda sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Logo os dois foram abordados por Marcelo, Gonzalo Higuaín, Sergio Ramos e Mesut Özil, que tinham sorrisos tão grandes quanto o Bernabeu em seus rostos. Não demorou para que o resto do time se aproximasse para congratular o casal e, claro, conhecer o mais novo membro da família. , que estava concentrada demais em não perder nenhum segundo da reação de Iker, sentiu seu braço ser puxado e logo já estava esmagada contra o tronco de Xabi, sendo o alvo de um abraço de urso que era típico de seu irmão.
  – Eu sou tio? - sorriu ainda mais ao perceber a emoção na voz do irmão, afinal, ele fora um dos que mais apoiara a decisão do casal de adotar uma criança. - Digo, pra valer? Eu sou tio pra valer? - ela se afastou minimamente para encarar Xabi que já não negava o espaço que as lágrimas o pediam e assentiu convicta.
  – Você é tio, Xabi. Agora você, Mikel e Jon são tios. E Jontxu e Ane agora podem dizer que são primos. E eu tenho filhos. - declarou pausadamente, adorando a sensação de cada frase dita, a última principalmente. Se a perguntassem, ela não conseguiria explicar o que sentia no momento. Provavelmente, a mulher mais feliz do mundo ainda seria pouco para definir à si mesma no momento.
  – Espera, . - Iker se aproximou, ainda abraçado possessivamente a Guillermo e o encarou. Pensou ter ouvido errado, mas sabia que sua audição estava em perfeito estado. Pelo menos, era isso o que diziam os exames que fizera há quase quinze dias. - Você disse filhos? - mordeu o lábio inferior, olhando para o sorridente Guillermo nos braços do pai. Quando havia recebido a notícia naquela manhã, logo após Iker sair de casa para a concentração, ela havia prometido a si mesma que não choraria, não derramaria uma única lágrima na frente do marido ou do filho, por saber que o mais velho se desmancharia num choro de alegria e alguém tinha de estar em perfeito estado emocional para sustentar os outros dois. E ela estava se saindo perfeitamente bem.
  Até agora.
  Como se já não estivesse grande o suficiente, o sorriso de se alargou e lágrimas traçavam seu rosto delicadamente enquanto ela levava sua mão até sua barriga. Não eram necessárias palavras para que eles entendessem o que ela queria dizer. As mãos de Xabi seguiram quase que imediatamente para sua boca e Iker se perguntava se aquilo estava realmente acontecendo. Era surreal demais. Impossível demais.
  Um dos membros da comissão técnica apareceu na porta, anunciando, aos gritos, que eles tinham dez minutos para entrar em campo e começar o aquecimento. Quase instantaneamente, todos os olhares se desviaram para José Mourinho que arqueou as sobrancelhas que, por sua vez, encarou . Ela simplesmente assentiu, como se dissesse que se já estava de saída.
  – Guillermo, vem aqui. - Xabi esticou seus braços em direção ao pequeno que hesitou um pouco antes de ir para o tio. já havia levado Guillermo para conhecê-lo alguns meses atrás e o garoto realmente gostava dele. O motivo da hesitação era simples: ele não queria sair dos braços do pai, principalmente depois de descobrir que poderia ficar ali o quanto quisesse. E, só por saber que poderia voltar para lá quando quisesse, Guillermo saiu dos braços de Iker. No instante seguinte, Iker já levava suas mãos aos cabelos, ainda sem acreditar que aquilo fosse possível. Xabi pegou o garoto e o colocou no chão, ajoelhando-se para ficar da altura do menino. - Qual é o melhor time do mundo? - o pequeno encarou o pai e mãe antes de voltar seu olhar, mais uma vez, para o tio.
  – O time do papa. Real Madrid. - ante a resposta do garoto, Higuaín e Marcelo comemoraram com gritos, causando algumas risadas.
  – Guillermo, que tal desejar boa sorte pro papai? - sugeriu e o garoto se virou quase instantaneamente, abraçando as pernas de Iker que não conteve uma risada. Ele pegou o garoto nos braços mais uma vez, beijando-lhe a bochecha demoradamente.
  – Suerte, papa. - o garoto disse, colocando seus pequenos braços em volta do pescoço do mais velho que o apertou contra si. - Eu te amo. - Iker já estava tão acostumado com seu rosto molhado que nem percebeu que mais lágrimas. Em meio ao turbilhão de sentimentos em que se encontrava no momento, ele se perguntava como ainda conseguira se sentir mais feliz ainda ao ouvir aquelas palavras.
  – Eu também te amo, hijo. - ele disse, adorando a sensação que aquelas o causavam ao serem pronunciadas.
  – Boa sorte do jogo. – desejou, virando-se para os rapazes. - E, por favor, acabem com a raça deles. - apontou para Arbeloa e Sergio Ramos e o último deu uma piscadela em resposta. virou-se para o irmão, fazendo menção de abraçá-lo, mas fora puxada antes mesmo de poder fazê-lo.
  – Eu te amo, . - ele sussurrou, depositando um beijo na testa da esposa e outro em seus lábios logo em seguida. - Eu te amo muito.
  – Eu também te amo, Iker. - sorriu. - E vou te amar mais ainda se vocês ganharem esse jogo. - gritou e alguns dos rapazes a acompanharam na risada. - É melhor eu ir antes que Unai reclame que eu não estou deixando ele exercer seu papel de tio. - disse e Iker assentiu, lembrando que seu irmão talvez fosse capaz de declarar uma coisa dessas. - Boa sorte, Iker. - desejou, selando seus lábios uma última vez e se afastou, pegando o filho nos braços. - Boa sorte, meninos! - gritou, recebendo respostas de agradecimento e, antes de sair do vestiário, abraçou José Mourinho, murmurando um “Obrigada, professor”.
  – Estão incentivados?
  – Depois dessa, né fessor? Nossa, chega eu tô até arrepiado! - Marcelo brincou, levando de Xabi um tapa na nuca e piscou para Iker, que ainda tentava parar de chorar.
  – Isso é bom. Muito bom. Agora subam. - tombou a cabeça levemente para o lado, indicando a porta. - E não se preocupem com o outro time. Não agora. - José Mourinho cruzou os braços, como se dissesse que havia encerrado e os jogadores começaram a rumar em direção à saída. Iker que ainda tinha um sorriso, agora bem mais discreto, em seu rosto era um dos últimos a sair. Mas antes mesmo que ele pudesse cruzar a porta, fora chamado pelo técnico, o que o fez parar imediatamente. - Você joga hoje. - declarou simplesmente, dando duas tapas nos ombros do rapaz e saiu. Os olhos de Iker agora estavam esbugalhados enquanto ele tentava entender se realmente ouvira aquilo.

  – Iker é titular? - Unai questionou após cuspir metade do refrigerante que tomava ao ouvir o locutor do estádio anunciar “Camisa 1, Iker Casillas” minutos antes do início do jogo. Os olhos de se arregalaram e Nagore, que estava brincando com Jontxu, Ane e Guillermo, não conteve uma risada.
  – Parece que Mou resolver dar um presente a vocês. - riu.
  O jogo não foi dos mais fáceis, como todos sabiam. Fora um espetáculo digno da grandeza de ambos os clubes. Mas o Real Madrid tinha um motivo bem especial para vencer. Um pequeno e curioso espectador que alguns jogadores chamariam mais tarde de amuleto. Uma torcedora que já era conhecida por suas não tão calmas contestações em todos os minutos do jogo. Um futuro madridista que ninguém conhecia, mas já era tão cercado de amor. Era esse o mesmo trio em quem Iker pensava quando defendera os dois pênaltis que deram a taça da Copa do Rei ao time merengue naquela noite. Era a esse trio que Iker dedicaria todos os créditos possíveis quando fosse perguntado sobre.
  Mais tarde, ainda naquela noite, quando estavam comemorando a vitória do time na sede do clube, alguns jogadores atribuíram a vitória à garota que se recusara a deixar de acreditar que milagres poderiam acontecer. A mesma que creu que floresceria em pleno inverno. A mesma que agora via seus sonhos impossíveis florescendo.



Comentários da autora


Comentários da autora: E aí, galerinha? O que acharam de Blooming? Devo confessar que foi um pouquinho complicado pra decidir como escrevê-la, tive umas 7 ideias diferentes, mas essa foi a que eu mais me apeguei, a que mais me pareceu, hmm, correta. Espero que tenham gostado de lê-la tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Beijos e queijos! Vida longa e próspera e que a Força esteja sempre com vocês!
@ohmymota