Blood Ties

Escrito por Fe Camilo | Revisado por Lelen

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Prólogo

   pagou o taxista e desceu do carro um tanto quanto desagradada com o local, sentia um pouco de frio e não trouxera nem um casaco. Olhou para a grande casa de madeira á sua frente, onde seu namorado provavelmente estaria, já se perguntara inúmeras vezes porque ele nunca a convidara para ir ali, mas agora olhando para trás e vendo apenas a estreita estrada de terra por onde viera e uma densa floresta, tinha absoluta certeza de que jamais aceitaria o convite.
  - Bom... É isso. Já que estou aqui, vou fazer o que vim fazer e voltar o mais rápido possível pra casa. - comentou consigo mesma, decidindo que não iria lamentar o fato de estar naquele fim de mundo, precisava falar com John, portanto não importava o lugar e sim que ele soubesse a verdade.
  Caminhou resignada até a entrada da velha casa e bateu levemente à porta. Esperou alguns minutos, mas após não ouvir qualquer sinal do rapaz testou a maçaneta descobrindo a porta aberta. O rangido que provocou a abertura da velha porta a fez franzir a testa e quando se encontrou na sala de estar sentiu um arrepio lhe tomar o corpo.
  - Que casa esquisita. - murmurou ao não ver nada além de um sofá de estofamento rasgado e uma estante aparentemente vazia. Pelo silêncio sepulcral do lugar diria que aquilo era uma casa há muito abandonada. - John! John!
   andou pela casa á procura de John se perguntando se não estava na casa errada. Pensando ouvir algo na cozinha foi até a mesma.
  - John? - chamou ao chegar no cômodo que ao contrário da sala de estar e da copa era muito bem mobiliado, mas sem qualquer sinal de seu namorado. Pensou ouvir um sussurro atrás de si e se virou assustada sem encontrar ninguém. - Droga. 
  Ao tentar voltar á sala a porta que levava aos fundos da casa se abriu fazendo aquele mesmo barulho irritante de quando entrara, a garota respirou fundo procurando se acalmar, não lhe faria nada bem ficar nervosa. Forçou suas pernas que não paravam de tremer a se mover para a porta, mas antes que chegasse à mesma o copo que jazia em cima da pia se espatifou no chão. Gritando desesperada começou a correr de volta até a entrada da casa, sentiu algo lhe puxando pra trás e ao tentar impulsionar-se pra frente caiu, batendo a testa na quina da mesa da copa.
  Respirando descompassadamente e pálida pelo susto, voltou a correr sentindo o sangue escorrer pela testa, chegando novamente a sala de estar não pensou duas vezes antes de abrir a porta, mas foi impedida por um corpo indo de encontro ao seu. Em gritos horrorizados e lágrimas de medo distinguiu a face de seu namorado que a olhava confuso. Respirando aliviada a garota abraçou John fortemente, o rapaz percebendo o estado de sua namorada retribuiu lhe acariciando os cabelos.
  Nervosa e assustada como estava, não reparou no rosto temeroso de John, e menos ainda na roupa que ele usava, suja de terra tal qual suas mãos e sapatos enlameados. A garota apenas se deixou acalmar em seus braços tentando esquecer da experiência digna de um filme de terror.


Capítulo 1 - 13 de Julho

  John afagou os cabelos da namorada uma última vez e lhe sorriu reconfortante.
  - Está melhor agora? - perguntou um pouco preocupado. reparou nas olheiras escuras em volta dos olhos azuis.
  - John, tenho de falar uma coisa. - começou um pouco incerta sobre como dar a notícia.
  - O que foi, meu amor? - perguntou estranhando o tom indeciso de , ela geralmente não era assim.
  - Eu... Bem...Nós... hã... Vamos ter um bebê. - anunciou com a cabeça baixa.
  John esboçou uma expressão de desespero por um segundo, mas acostumado como era a disfarçar emoções logo se recompôs esboçando um grande sorriso.
  - Mas... Isso é ótimo, minha vida. - disse impondo uma animação na voz e beijando em seguida.
  - Que bom ouvir isso. Eu fiquei com tanto medo que você não gostasse da notícia, quero dizer, eu queria que você ficasse feliz, eu amo você. - a menina disse atropelando as palavras, mas sorrindo pelo alívio.
  - Eu não poderia estar mais feliz. - sussurrou em seu ouvido enlaçando-a fortemente em um abraço. - Te amo.
  Assim que as palavras foram pronunciadas um estrondo forte pôde ser ouvido no andar de cima.
  - O que foi isso? - a garota perguntou com os olhos esbugalhados em espanto.
  - Deve ser uma porta que fechou com o vento. - respondeu simplesmente.
  - Vamos embora daqui. Esse lugar não está me fazendo bem... E parece que a você também não. - comentou afagando o rosto cansado do rapaz.
  - Hã... Tudo bem, vem. - pegou as delicadas mãos entre as suas e a guiou até a frente da casa. - Espera aqui, já volto.
  Vendo a garota apenas assentir sussurrando um 'volte logo', John deu a volta pela casa e entrou pela cozinha para pegar o casaco e as chaves da caminhonete. Quando caminhou até a porta viu uma sombra na sala de estar, voltou até o local, mas nada havia por lá. Pensou ter visto uma pessoa...
  - Impossível... - murmurou consigo mesmo antes de sair pelos fundos e ligar a caminhonete levando para longe dali.

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  - Onde você está indo? - perguntou ao ver John vestindo o casaco e pegando algumas roupas do armário.
  Depois que chegara no apartamento em que moravam juntos, simplesmente dormira exausta, e acordando três horas depois surpreendeu o namorado se aprontando para sair.
  - Preciso voltar pra casa na floresta. Eu esqueci umas coisas lá. - respondeu sem virar para encara-la.
  - O que pode ser tão importante pra fazer você voltar pra lá a essa hora? Não pode esperar até amanhã?  - perguntou começando a se estressar. Fazia uma semana que ele se enfiara naquela casa e não dera sinal de vida, a fizera ter de ir até aquele mausoléu mal assombrado pra falar com ele e agora ia deixá-la de novo?
  - Eu estou reformando a casa, terei de ficar lá por uns dois dias... - começou a se explicar, mas ao ver bufar de raiva mudou de ideia - Amor, olha... - John sentou-se ao lado da namorada lhe acariciando - Eu estou pensando em vender a casa, por isso a reforma. Se eu conseguir restaura-la ela valerá um bom dinheiro e assim poderemos nos casar e cuidar do nosso bebê. - explicou lhe dando um beijo.
  - Sério? Quero dizer, mas você ama aquele lugar, como fará com seus passeios de caça? - perguntou espantada com a mudança de atitude do namorado. Não imaginava que sua gravidez implicaria em algo do tipo.
  - Bem... Sabe o que eu amo mais do que aquela casa velha ou caçar? - perguntou a vendo abrir um grande sorriso - Vocês.
   gostou de ouvir o namorado incluir o bebê na equação, apesar de não querer se afastar do namorado, entendia suas motivações. Por isso, pôde deixa-lo partir em paz com a promessa clara da parte dele de que em dois dias voltaria para ver como ela estava passando. Suspirou aliviada, John sempre fora um ótimo namorado, mas costumava sempre sumir nos momentos mais inoportunos fugindo para aquela cabana velha ou correndo pra casa da irmã maluca. Mas agora finalmente estava feliz e podia respirar aliviada, tinha ele para si.
  - Para nós... - se corrigiu tocando a barriga que ainda não aparentava qualquer sinal de uma nova vida.

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  John dirigiu até a antiga casa de família com alguns pensamentos perturbadores na cabeça, um deles era a namorada e o bebê que ela dizia esperar, sentiu-se mal pela mentira que inventara, jamais venderia aquela casa, era ali que se mantinha sua vida, o lugar era mais do que importante para ele, quando o avô morreu se tornou o lugar onde poderia fazer o que tivesse vontade, onde se livrava das aparências que mantinha o tempo inteiro, ali podia realmente respirar. Com esses pensamentos chegou ao local e estacionou o carro na garagem aproveitando para observar o jardim, ao menos conseguira manter tudo sob controle antes que aparecesse. Guardou a pá e a escavadeira e entrou na casa retirando o casaco e subindo as escadas em direção ao antigo quarto da irmã. Observou o ambiente monótono e sem vida e sentiu um aperto no coração ao ver uma foto da garota sobre a cômoda, um arrepio o fez lembrar-se dela, quase podia ouvir os seus gemidos de dor. Retirou o sapato e deitou sobre a cama olhando atentamente o retrato e se deixando invadir por recordações, sentia o cheiro de sangue e os gritos femininos o excitou. Sem raciocinar longamente desabotoou a calça e se desfez rapidamente da mesma tocando-se e pensando tocá-la ao mesmo tempo, seus olhos azuis desviavam-se para os olhos azuis que pareciam observá-lo através da foto. Deixava-se relaxar e seu cérebro se embotava em lentas memórias e ávidos desejos misturando-se, desejava-a com tanta avidez que a viu ali sobre si o olhando, aqueles belos olhos felinos lhe cortando por dentro, suas mãos foram substituídas por algo mais macio e molhado, seus lábios era um convite á perdição, e ele aceitou. Simplesmente se entregou ao ato proibido mergulhando em um prazer volupto, não queria que o sonho acabasse, real demais para que quisesse qualquer coisa que não seus lábios lhe levando ao ápice tão próximo. Percebeu uma dor leve ao sentir os dentes lhe mordendo delicadamente no início e com um pouco menos de gentileza em seguida, logo gritou de dor e viu sorrindo maliciosamente, os lábios manchados de sangue. A dor lancinante que lhe acometeu antes de desmaiar o fez entender que aquilo não era apenas um sonho.

Capítulo 2 - 14 de Julho á 07 de Setembro

  Acordou desnorteado e olhou ao redor do quarto, estava vazio. Suspirou aliviado, devia ter sido apenas um pesadelo, mas quando decidiu se levantar, gemeu de dor e percebeu que realmente havia se machucado; um curativo lhe demonstrava que alguém cuidara dele enquanto estivera inconsciente. Levantou-se lentamente e vestiu-se com cuidado saindo do quarto e caminhando pela casa, olhou pelos outros quartos e nada encontrou, um barulho no andar de baixo o fez andar decidido, apesar de temeroso, até a cozinha. Quando chegou ao local viu em pé preparando algo no fogão, aquilo era extremamente incompreensível pra ele, ela estava morta.
  - Ah, te acordei. Essa porcaria de liquidificador estava me irritando, eu meio que joguei na parede. - explicou-se simplesmente. John observou o objeto quebrado em vários pedaços no chão, seria preciso muita força pra acontecer algo do tipo. - Senta aí. A sopa está quase pronta. - ordenou com um sorriso no rosto mais pálido do que habitual.
  John virou-se sentando na copa com um olhar vago e distante. Que merda era aquela? Ela estava morta! Como aquilo poderia acontecer? Ele poderia achar que estava alucinando, mas a dor em seu pênis o lembrava que aquilo realmente acontecera. A única explicação totalmente irracional era de que ela virara um fantasma! Será que isso tinha a ver com os rituais estranhos que ela fizera enquanto viva?
  - Aqui está. -  estendeu o prato diante de si. O cheiro não agradava, pensou John, e  muito menos a consistência percebeu ao remexer a sopa com uma colher.
  - Vo...cê não vai comer? - perguntou inquieto pela presença do que parecia ser um fantasma.
  - Não estou com fome. - respondeu com um estranho sorriso no rosto. Os lábios vermelhos eram tão convidativos apesar do medo pelo incidente anterior.
  - Eu também não. - disse afastando o prato de si.
  - Ótimo. - murmurou cerrando os olhos.
  - Você está bem? Não se sente... Dolorida, talvez? - perguntou John tentando extrair algum pensamento da irmã gêmea.
  - Por que me sentiria? Eu já estou mais do que acostumada com nossas brincadeiras, agora você em compensação... - disse se inclinando em direção ao garoto, as mãos passeando por suas coxas.
  John tentava se lembrar a todo momento que precisava tomar cuidado, afinal não seria muito inteligente irritar um fantasma, apesar de uma certa dificuldade pra acreditar que se tratava mesmo de algo do tipo. De repente o garoto pulou da cadeira, algo se clareou em sua mente.
  - Hey! O que foi? Te machuquei de novo? - perguntou com um falso pesar.
  O rapaz ignorou a pergunta se afastando e caminhando em direção aos fundos da casa, observou a terra intacta que havia sido revirada pela manhã, a pá se encontrava no mesmo lugar onde deixara. Droga! Droga! Droga! Droga!
  Mãos geladas tocaram seus ombros o fazendo sentir um arrepio pela espinha.
  - O que fez aqui? Está plantando algo? - perguntou o virando pra si.
  - S... Sim. - sussurrou com dificuldade, apesar de não querer admitir o medo tomava conta de si.
  - Sabe? Eu estou com fome sim na verdade... - a garota sussurrou maliciosamente no ouvido de John - mas de uma outra coisinha...

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  John conseguira se esquivar com muita dificuldade da irmã e ao invés de fazerem sexo durante toda a noite como era o usual, eles conversaram por horas, antes do mesmo cair no sono. Quando o garoto acordou pela manhã com um peso sobre si, abriu os olhos ainda sonolento e despertou rapidamente com o susto; estava sobre si com uma enorme e afiada tesoura em mãos e um sorriso maléfico no rosto olhando para John.
  - Que... O que você está fazendo? – perguntou assustado.
  - Observando você dormir, estava sem sono. – respondeu com um enorme sorriso.
  - E essa tesoura? – John estava ligeiramente desconfiado, a irmã voltara totalmente diferente, a garota doce e meiga parecia uma versão feminina de Freddy Krueger.
  - Ah! São objetos muito úteis as tesouras. – murmurou parecendo fascinada. John desviou a atenção do rosto assustador da irmã e reparou em um resquício de sangue na tesoura, apavorado o garoto se sentou desequilibrando a irmã e olhando aparvalhado para seu próprio corpo tentando descobrir se estava ferido, mas nada havia pra se ver.
  - , o que você fez com essa tesoura? Você machucou alguém? – o rapaz perguntou desesperado segurando seus pulsos firmemente e ao ver um brilho diferente no olhar da mesma sua mente viajou para ... Será que ela fora procurá-lo? – Foi a ? O que você fez com ela ?
  O olhar da garota mudou, as sobrancelhas se arquearam em descrença e seus lábios se repuxaram com sua raiva.
  - Era só o que me faltava! O que essa idiota ia vir fazer aqui? Vocês combinaram isso? Chamou aquela perua pra ficar com você bem embaixo do meu nariz? – gesticulava nervosa para John que percebeu ter sido um belo idiota.
  - Eu... Sei lá, eu... Ela veio aqui ontem, pensei que tivesse vindo novamente... Eu só... – gaguejou nervoso.
  - O que ela veio fazer aqui ontem? – perguntou irritada.
  - Você... Você não... Ela veio falar comigo, nada demais. – desconversou. –Porque não tomamos café? – desviou o olhar.
  - O que ela queria com você? Ela não viria aqui á toa e você está tentando esconder algo de mim, eu te conheço. – observou brava. Era ridículo o irmão ainda achar que pudesse engana-la, ninguém o conhecia como ela e é por isso que era quem mais o amava.
  O rapaz suspirou, podia continuar tentando mentir ou podia dizer a verdade apesar de achar que isso seria o estopim para que a irmã quebrasse toda a casa e inclusive ele.
  - Ela está grávida. – disse decididamente olhando uma chocada ficar sem palavras. Esperando uma reação inflamada John se surpreendeu quando a garota nada fez, e mais ainda quando ela começou a sorrir encantadoramente, quase parecia a de antes.
  - Isso é ótimo! Um bebê! – murmurou alegremente. – Um bebê! – e sem pensar o abraçou. John sorriu e comentou:
  - Pensei que sua reação seria diferente, que ficaria brava.
  - Por que ficaria? Teremos um bebê. – sussurrou fazendo o rapaz entranhar a escolha de palavras, mas ignorar a aflição que se acomodara em seu peito.

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  Quando o carro desapareceu floresta adentro imediatamente se arrependeu de tê-lo deixado ir. Haviam combinado, ela e o irmão, lidar tranquilamente com a gravidez de , afinal agora poderiam formar uma família, mas quando começou a pensar sobre os carinhos que seriam dedicados á outra, as palavras de amor, as confidências, uma dor a acometeu. Ficou horas caminhando pela propriedade da família, visitou o jardim que não dava sinal de plantação alguma apesar do que o irmão dissera, pela casa procurando por antigas lembranças e finalmente se deu por vencida quando não aguentava mais ficar sem o que fazer. Pegou o celular pensando em ligar para a amiga com quem dividia o apartamento, a mesma poderia estar preocupada com ela, uma vez que havia mais de mês que não dava sinais de vida. Alana atendeu ao segundo toque:
  - Quem está falando?
  - Alana, é a ... – iniciei o discurso sem saber exatamente o que dizer, mas empolgada por conversar com algo que não as paredes.
  - Alô, quem é que está falando? – ouviu a amiga perguntar de novo.
  - Alana, sou eu , eu quero dizer que...
  - Olha, sinto muito, mas vou desligar esse barulho estranho está atrapalhando minhas ondas neurais. – e ouviu o clic do outro lado sem entender o que diabos acontecera. Devia ser mau sinal, conclui ao fim. Mas apesar de estar há dois dias sem dormir não se sentia absolutamente cansada, muito pelo contrário uma energia enorme a impulsionava a fazer algo, assim a garota saiu exatamente como estava, pois não sentia frio apesar das árvores se moverem moderadamente com o vento de outono. sabia de cor como andar por aquela floresta, desde pequena fazia excursões com o irmão, sabia que teria pelo menos três quilômetros pela frente, mas não se importava muito com isso. Porém algo realmente estranho aconteceu, se esqueceu do caminho!
  Qual não foi sua surpresa ao reparar que andava em círculos! A garota caminhava determinada pelo caminho que acreditava ser o correto e acabava se perdendo na densa floresta até chegar ao mesmo lugar novamente. Quando reparou o céu escuro se deu por vencida e voltou à antiga casa, com uma certeza, havia algo de errado com ela...

Capítulo 3 – 07 de Setembro a 25 de Setembro

  Flashback on...
  John sorriu para a irmã que com um olhar raivoso e um sorriso nos lábios se debatia debilmente em baixo de si, as mãos amordaçadas à cabeceira da cama, ela estava irresistivelmente sexy e mais uma vez o rapaz se entregou aos seus desejos sádicos. Com um capuz feito especialmente para a ocasião John cobriu a cabeça da irmã, ele possuía uma corda que ajustava-se ao corpo do rapaz também e era ele quem controlava a força do mesmo que se fechava cada vez mais sobre o pescoço da mesma a cada investida de John. 
  Quando a irmã começou a se debater sob si como sempre fazia John a penetrou violentamente, não era apenas desejo carnal o que sentia por , a amava completamente, sua necessidade de possuí-la era além do comum, sabia disso. Por isso suas investidas eram feitas com todas as suas forças, queria penetrar cada vez mais fundo, se fundir à , ser um mesmo ser e não apenas dois seres idênticos.
  Quanto mais contorcia-se em desespero mais se excitava John, seu ápice chegava aos poucos e enquanto seu corpo estava próximo de relaxar percebeu que o de sua irmã também o fazia, como sempre, se entrosavam de forma tal que até mesmo o orgasmo era em conjunto, sentiu quando o corpo da mesma relaxou e deixou-se entregar também com um longo suspiro.
  Ainda dentro da mesma desatou o capuz de sorrindo amplamente para a irmã e com espanto percebeu o rosto inexpressivo da garota. Assustado levantou-se e observou sua pulsação constatando o óbvio e inaceitável: ela não respirava.
  Mas como? Como isso acontecera? Já fizeram tantas vezes antes, será que fora muito longe? Errou em algo?
  Perguntas afloravam por sua mente a todo momento, os olhos despejando lágrimas sobre o corpo desfalecido, ele a abraçou fortemente, alucinado. Com palavras desconexas John sussurrava ensandecido "me desculpe, por favor, me desculpe", e com gritos desesperados implorava que ela voltasse para ele.
  Em um momento de ira descomunal o rapaz afastou o corpo de si com brutalidade, sentia-se furioso, como aquilo poderia acontecer? Como sua , sua amada se fora? Não aceitava a verdade, ela poderia estar brincando consigo, é claro que estava ela adorava vê-lo descontrolado.
  Sorrindo enlouquecidamente, algumas lágrimas ainda se esparramando pela superfície de seu rosto, John se aproximou do corpo inerte e o tocou, primeiro os lábios que beijou com delicadeza, depois os seios e por fim o sexo da irmã. Percebeu seu corpo reagindo instantaneamente á proximidade, seu membro rijo pelo contato. Com um sorriso animalesco nos lábios o rapaz voltou a penetrar o corpo inerte, dessa vez com ainda mais vontade, a raiva extravasando em seus movimentos enquanto violava o corpo de sua irmã gêmea, pedidos desesperados pra que ela reagisse o faziam gritar a todo instante.
  Não podia perdê-la, não viveria sem ela. Grite comigo , vamos. Bata em mim, eu mereço.
  O gozo dessa vez veio com um grito de amargura, agarrou-se ao corpo desejando mais do que tudo estar junto dela novamente... E adormeceu.
  Flasback off...

   abriu os olhos assustada e olhou ao redor constatando que o irmão ainda não voltara. Demorou alguns segundos até perceber que grossas lágrimas se esparramavam por seu rosto delicado.  Não dormira, mas ainda assim sonhara, um relapso, lembrara-se do que havia acontecido, e foi então que finalmente entendeu o que havia de errado consigo: estava morta.

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  Gael Hockman, o xerife do pequeno departamento de polícia de Sudden Valley desviou os seus olhos do romance policial que lia para as duas estranhas garotas que se encaminhavam em sua direção.
  - Posso ajudá-las? - Gael disse prestativo acenando para que elas se acomodassem enquanto ele próprio tratava de se endireitar na cadeira afastando o livro para um canto.
  - Esperamos que sim. Nossa amiga está desaparecida, queremos que a encontre. - disse Nain com a aparência extremamente calma.
  Gael arqueou uma das sobrancelhas observando-as desconfiado, pareciam duas malucas que acabaram de fazer um ritual satânico em algum cemitério com as roupas pretas e maquiagem pesada.
  - Desde quando a amiga de vocês desapareceu? - perguntou assumindo uma postura séria e profissional, ainda que as duas garotas bizarras não fossem tão dignas de confiança precisava fazer o seu trabalho.
  Elas entreolharam uma para a outra e a outra garota, Gwen, respondeu:
  - Dois meses. - Gael estava descrente. Ele já conhecia as duas moças de vista, eram o que se poderia considerar 'as estranhas do bairro', junto com sua trupe faziam coisas bizarras e não eram aceitas pela população local, mas ainda que fossem duas malucas não poderiam ignorar um desaparecimento por dois meses!
  - Por que não deram queixa antes? - fez a pergunta óbvia.
  - Bom... Ela fica fora por um tempo às vezes - Nain disse com um sorriso no rosto - Gosta de um tempo sozinha.
  - Todos precisam de um tempo sozinho, se voltar pra dentro de si mesmo, acumular sua energia interior. - comentou Gwen olhando para a amiga.
  Gael assumiu uma postura estressada.
  - Se ela costuma desaparecer assim... Por que acham que é sério dessa vez? - interrogou tentando se controlar.
  - Não por um tempo tão longo... Ela não demora tanto pra voltar, além do mais ele... - deixou a voz morrer.
  - Ele? - Gael insistiu, mas tudo que a garota fez foi olhar para ele inexpressiva e logo depois desviar o olhar.
  - Xerife demoramos tanto pra contar porque só agora percebemos que ela poderia desejar um enterro decente, pra que a alma dela vá em paz, sabe como é? - Gwen explicou com um olhar sofrido.
  - Enterro? Peraí... Vocês não disseram que ela estava desaparecida agora mesmo? Que merda é essa de enterro? - perguntou se descontrolando.
  As duas se mantiveram em seu lugar inexpressivas, com exceção de Gwen que ainda mantinha os olhos tristes enquanto dizia:
  - Eu senti... O espírito dela, quero dizer. Ela não está em paz.
  - Sentiu? O que? Você é um tipo de médium? - perguntou cada vez mais descrente.
  - Eu sinto o que está no outro mundo, senti , você tem que encontrar o corpo dela! - a voz de Gwen estava um pouco esganiçada, podia perceber que o xerife não engolia sua estória.
  Respirando fundo Gael se recostou na cadeira e pegou um papel e uma caneta sobre a mesa.

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  Estacionando a velha viatura em frente ao endereço dado pelas amigas de , Xerife Gael esperou por um tempo antes de sair e caminha em direção á casa. Segundo Nain aquela era a casa do irmão gêmeo da garota desaparecida, eles eram muito próximos, portanto ele provavelmente ele saberia de algo.
  - Bom dia. - John apareceu na porta terminando de vestir a camisa. - Gael! - o rapaz se assustou ao ver o sheriff e educadamente o convidou a entrar e tomar um café. Eles se conheciam há tempos.
  - John, infelizmente o que me traz aqui não são boas noticias. Você tem alguma ideia de que sua irmã está desaparecida há dois meses?
  John arqueou a sobrancelha olhando para o amigo á sua frente, o que ele poderia dizer? Fingir que estava tudo bem ou se espantar pelo 'desaparecimento' da irmã? Ele deveria ter imaginado que isso aconteceria, há quase dois meses os dois se encontravam na velha casa e claramente não foi vista por mais ninguém desde então.
  - Bem... Eu não a vejo há algum tempo, isso é verdade. Costumávamos passear juntos, mas ultimamente tenho estado tão ocupado reformando a casa da floresta que...
  - A casa de caça? - perguntou Gael com um sorriso ao se lembrar dos passeios em grupo para caçar.
  - Sim, essa. Eu vou vendê-la, cara. - John mudou propositalmente o rumo da conversa, não era muito difícil se tratando de Gael.
  - Sério? Por quê? - o sheriff estava realmente espantado, o amigo parecia gostar tanto daquela casa.
  - está grávida. É a oportunidade pra eu me aquietar e me tornar um homem de família.  - John respondeu com um meio sorriso.
  - Nossa, cara. Parabéns, entendo como deve ser. Há quantos meses?
  - Quatro. Ela só descobriu há dois meses, mas já está há quatro meses. - John pensava em como despachar o sheriff sem que ele desconfiasse de nada, mas Gael se lembrou do que o levara até ali.
  - John, desculpe-me, preciso saber há quanto tempo não fala com a sua irmã...
  - Bem... Acho que há duas semanas e meia, talvez... Ela me ligou, parecia um pouco aérea, mas estava bem.
  - Aérea? Como... Drogada, talvez?
  - Possivelmente. - John abaixou a cabeça com um falso pesar. - Gael, eu queria poder ajudar, mas não acredito que algo tenha acontecido, ela adora sair por aí de vez em quando e desaparecer por um tempo. - respondeu pegando sua pasta de trabalho e caminhando até a porta.
  - Claro, claro, entendo... Eu só precisava me certificar, as amigas parecem preocupadas.
  John se despediu rapidamente se dirigindo ao seu carro e parou ao ouvir o chamado do outro.
  - Cara, sua irmã passava um tempo na velha casa não? - Gael perguntou ao se lembrar de tê-la visto por lá algumas vezes.
  - Sim... Mas ela claramente não está lá agora, eu fui lá ontem mesmo.
  - Claro, mas... Será que eu poderia passar por lá? Dar uma olhada? - perguntou o xerife um pouco relutante.
  John olhou para Gael por um instante, os olhos aparentando uma impassibilidade não sentida.
  - Claro, por que não? Eu vou trabalhar agora, quando sair do expediente vou passar por lá... Às 5 está bom pra você?
  Viu Gael assentir e sem esperar mais entrou no carro dando a partida. O sheriff observou o amigo virar a esquina e suspirou resignado, ainda precisava fazer algumas visitas para tentar encontrar e não parava de imaginar que tudo aquilo poderia dar em um grande nada.

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   relaxou sobre o corpo de John, ambos ofegantes. Acendeu um cigarro sem sair do lugar e ofereceu ao irmão que recusou, os dois se olharam sorrindo e a garota iniciou uma conversa intercalando entre acaricia-lo e queima-lo com o cigarro aceso.
  - Como você acha que deve se chamar nosso bebê? - perguntou.
  - Hum... Não sei. - o rapaz disse meio incerto, não levara muito a sério a proposta que lhe fizera alguns dias atrás, mas a cada vez que a garota tocava no assunto parecia mais obstinada e mais medo o garoto tinha de discordar.
  - Bem... Acho que se for garoto, pode se chamar Rupert como o vovô. Mas se for garota, devemos chamar... Perséfone.
  - A deusa...? - perguntou John, as sobrancelhas arqueadas.
  - Sim, ela será tão bela quanto. Imagine só! E terá todos os rapazes aos pés dela...
  - ... – o garoto respirou fundo criando coragem – Como você pretende... Como... Quero dizer, você não pode sair dessa casa... – a voz falhando ao terminar a frase mal feita.
   o olhou com os olhos cerrados por um instante.
  - Está querendo desistir do plano, meu amado irmão? – perguntou amargamente fazendo com que o rapaz engolisse seco.
  - Não... É só que... Não há plano, certo? Pelo menos não há um exato... Eu só...
  - Há um plano. Quando estiver próxima de ganhar o bebê, você a trará para cá e nós pegaremos o bebê. – respondeu incisivamente.
  - E o que faremos para que simplesmente aceite dar o filho dela sem pensar duas vezes?
   apenas sorriu docemente para o garoto e lhe beijou calmamente os lábios antes de se levantar e deixar o quarto. John atordoado por um instante não compreendeu, mas logo entendeu o que aconteceria, não viveria para contar a história. Desnorteado o rapaz saiu da cama atrás da irmã, mas não a encontrou em lugar algum da casa. Merda!

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  - Senhora O’Callaghan, desculpe incomodá-la, mas preciso fazer algumas perguntas sobre sua filha , ela está desaparecida há pouco mais de dois meses e...
  - Trouxe um mandato? – foi a resposta hostil que Gael recebeu da mãe de antes que pudesse terminar de explicar a situação.
  - Hã... Não. Eu ainda não sei se posso considerar como um crime ou apenas...
  - Bem, então quando tiver certeza, não volte. – disse a mesma e fechou a porta em sua cara com um olhar ameaçador. O xerife já conhecia a senhora O’Callaghan, e assim como todos da cidade estava cansado de saber de seu fanatismo religioso, mas nunca a vira tão arredia e lhe causava grande estranhamento a falta de interesse da mulher pela própria filha. Pensou em bater novamente, mas algo lhe dizia que ela não atenderia, e ela estava correta afinal ele não tinha mesmo um mandato. Quando chegou ao carro já decidira esquecer o acontecido, nem sabia se a garota fora sequestrada mesmo, e a bem da verdade acreditava que não. Ligou o motor da viatura e decidiu ir encontrar-se com Ezac, um dos ‘amigos’ de .

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   observou a viatura estacionar em frente a casa e o lindo xerife sair da mesma com um olhar vago, a garota sorriu divertida, adoraria brincar um pouco. Quando ouviu as batidas na porta se encaminhou até a mesma, mas uma mão firme em seu pulso a fez estancar.
  - O que pensa que está... ?
  - Shhh! É o xerife Gael, ele está aqui para investigar seu desaparecimento por isso você tem que se esconder. – sussurrou firmemente para a irmã.
  - Se eu cala-lo, ele não investigará mais nada. – comentou com o sorriso enviesado.
  - Se calá-lo, teremos outra investigação sobre nós. – John disse com sorriso sarcástico.
  - Não. – murmurou . – Não sobre nós. Sobre você. – disse antes de desaparecer deixando o rapaz melindroso a respeito do que ela faria a respeito.
  Mais batidas incessantes e alguns chamados por seu nome o fizeram caminhar resignado até a porta.
  - Gael, por favor entra, desculpa a demora, eu estava no andar de cima. – explicou-se.
  O xerife adentrou o local sentindo um leve frio transpassar sua espinha, o local parecia infinitamente mais sombrio do que quando fora a ultima vez, há dois anos.
  - Fique a vontade, pode revistar tudo, eu vou preparar um café. – John disse apesar de relutante em deixá-lo inspecionar todo o local – Qualquer coisa, é só me chamar.
  Quando se encontrou sozinho, Gael sentiu um olhar insistente sobre sim, mas ao revistar o local nada encontrou decidindo então procurar no andar de cima. Caminhou até o local onde sabia ser o quarto de e deparou-se com uma moldura sobre a cômoda, a foto de estampada com um sorriso largo. Achou-a incrivelmente bela e não se lembrou detê-la visto sorrindo daquele jeito em nenhuma das ocasiões que a vira, sempre com roupas escuras, olhos frios e vazios. Abriu algumas gavetas não encontrando nada e quando pôs-se a sair do quarto um barulho lhe chamou atenção, caminhando de volta até a cama, encontrou um chicote caído, pegou-o verificando que o mesmo fora usado recentemente.
  - John – chamou intrigado.
  - Sim? – o mesmo respondeu do andar de baixo.
  - Pode vir aqui um instante? Estou no quarto da sua irmã! – sem responder nada John caminhou até o local. – Você reconhece isso? Sua irmã era adepta desse tipo de... Coisa? – perguntou Gael.
  - Bem... – John afastou os olhos azuis do xerife e coçou a cabeça pensando no que dizer – Eu não fui totalmente sincero com você Gael, quero dizer... Eu omiti algo.
  - O que é? – o xerife perguntou tentando imaginar.
  - Quando eu recebi o telefonema de há duas semanas, ela estava como eu disse, um tanto quanto aérea... A ligação foi muito rápida, ela não parecia ter algo a dizer especificamente, mas ela mencionou estar aqui na casa. Eu fiquei preocupado, não falava com ela há um bom tempo e ela parecia mal, então eu vim até aqui. – John disse tudo com um ar pesaroso e arredio, uma sinceridade inventada muito convincente.
  - E? Ela estava aqui? Ela contou alguma coisa? Você sabe...
  - Não. Ela estava aqui, quero dizer, mas não tivemos tempo de conversar exatamente. –e ao ver o olhar indagador de Gael continuou – Ela estava com um cara, um desconhecido que eu nunca vi, meio estranho... Eu fiquei possesso, quem era ele? Porque ela trouxera um cara como ele pra casa do nosso avô? E se drogar com ele ainda por cima! Eu acabei me descontrolando e dizendo algumas coisas... ruins, coisas que eu não deveria ter dito. Ela ficou magoada e foi embora com ele. Não a vejo e nem falo com ela desde aquele dia. – terminou com um olhar distante.
  - Tudo bem John, acalme-se, você não teve culpa, só...
  - Só a fiz desaparecer, você quer dizer? – perguntou irônico.
  - Foi uma reação normal a que você teve e não sabemos se ela já pretendia ir pra algum lugar antes disso. Depois de você ter me dito isso tenho mais certeza de que ela foi embora por vontade própria. É comum sabe? Garota cansada de uma vila pequena e pacata decide ir embora com o namorado pra cidade grande. – comentou tentando consolar o amigo.
  - Me desculpe Gael, eu gostaria de ficar um pouco sozinho, será que você pode...? – deixou a pergunta no ar, mas não demorou muito para que Gael entendesse assentindo veemente.
  - Claro, claro. Eu estou indo embora. Depois do que você me disse, não vejo mais sentido pra continuar procurando por aqui. Sinto muito, John.
  John apenas suspirou com os olhos marejados e direcionou Gael até a porta. Despediram-se silenciosamente e quando o som de motor pôde ser ouvido do lado de dentro da casa, o rapaz ouviu um animado bater de palmas ás suas costas.

Capítulo 4 - 02 de Outubro à 23 de Outubro

  - Ted, eu quero que você procure informações de O’Callaghan em todas as saídas da cidade: rodoviárias, porto, aeroporto, qualquer lugar em que ela pudesse achar um meio de sair da cidade, descubra o que puder a respeito. Aqui está uma foto dela. – o xerife comandou estendendo a foto da garota ao policial á sua frente. estava desaparecida há mais de três meses e não dera qualquer sinal de vida a ninguém que conhecia, ela precisava aparecer a qualquer hora! Gael quase deixara de lado a investigação, mas teve de lidar com uma realidade evidente: a garota deixara todos os pertences pra trás, não havia movimento na conta bancária há quatro meses, não informara qualquer coisa aos amigos, e segundo sua colega de quarto, agira normalmente antes do desaparecimento, além do que ninguém parecia fazer a menor ideia de quem era o cara que a acompanhava no dia que o irmão a vira pela ultima vez! Logo, o melhor a se fazer era continuar procurando incertamente por aí.
  - Sim, senhor... Creio que até o fim da semana terei os resultados, esse lugar é um buraco, não tem como sair daqui sem ser percebido. – o policial respondeu se afastando.
  - Daniel! Você vai procurar no Hospital Central, nos postos de saúde e no necrotério. Procure por O’Callaghan ou apenas por uma garota com essa fisionomia – disse entregando uma outra foto á Daniel, que se limitou a assentir.
  - E eu o que faço? – disse Brendom, seu assistente.
  - Por enquanto, não há nada o que fazer a não ser pensar em alguma forma de achar essa garota. – Gael respondeu.
  - Ela é tão linda, né? Como uma moça bonita desse jeito simplesmente desaparece e ninguém sabe como? Deve haver alguém que sabe de alguma coisa. – comentou Brendom coçando a cabeça, mais parecia um moleque do que alguém capacitado a trabalhar em uma delegacia, mas Gael dera uma chance para o garoto ao menos tentar.
  Gael começou a pensar nas relações da garota, não conseguira descobrir porque a senhora O’Calaghan reagira tão mal á menção da filha, mas segundo Nain a mulher cortara as relações com os filhos e quando os via por perto sempre começava a rogar pragas e rezar como uma louca.
  - Deve haver... Mas quem? – perguntei mais pra mim mesmo do que para Brendom.
  - Não sei exatamente quem, mas com certeza deve ser a mãe, a amiga ou o irmão... Ou mesmo os três! – Brendom respondeu com um ar sério. –Se o senhor me permitir, eu posso fazer uma visita á eles... Sabe, do modo não convencional?
  Gael espantou-se com a proposta do garoto, Brandom já levara várias advertências por invasão de propriedade, e mesmo assim ainda tinha a cara de pau de pedir para fazer novamente! O primeiro pensamento do xerife, portanto foi uma bela negativa, mas logo em seguida os pensamentos tomaram outro rumo e surpreendeu a si mesmo quando respondeu:
  - Tudo bem, você tem uma semana, nada mais do que isso, pra conseguir achar algo em suas “visitas”, mas depois disso você deve se reportar a mim e nunca mais fazer isso, me ouviu bem?
  O garoto abriu um sorriso enorme e saiu da delegacia gritando algo como ‘é melhor eu começar logo então...”.

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   subiu em cima do irmão beijando-o avidamente, recebendo as carícias relutantes do garoto. Nos últimos meses a garota demonstrara um apetite insaciável, além da vontade de controlar os jogos que sempre fizeram, algo estranho para John que sempre fora o que procurava a irmã quando queria se divertir e tinha a necessidade de estar comandando o tempo inteiro.
  - Parece chateado, meu amor. – comentou intercalando beijos pela face de John.
  - Não estou. – respondeu distante, mas com o olhar da irmã suspirou. – Só estou preocupado com... – , era o que queria dizer realmente – a investigação.
  - Ele não vai descobrir meu amor, é um idiota. As pessoas enxergam o que elas querem ver, e as pessoas não querem ver algo tão monstruoso quanto o que sentimos um pelo outro. – disse amargamente.
  - Sim, mas suas amigas estão preocupadas com você, portanto uma delas pode acabar contando, uma vez que você teve a brilhante ideia de compartilhar nosso segredinho sujo. – contrapôs John, os olhos ainda distantes.
   bufou irritada e sai de cima do irmão pulando da cama e jogando o abajur ao lado da cama com toda a força na parede fazendo-o cair em pedacinhos ao chão. John não se assustava mais, estava acostumado com os rompantes da irmã. Suspirando segurou sua mão e a puxou para si.
  - Vem aqui. – ele murmurou a fazendo deitar-se calmamente repousando a cabeça em seu peito. – Vamos só ficar assim... Sentindo.
   inspirou profundamente sentindo o cheiro almiscarado do irmão, sentia falta daquilo, parecia que não o via dessa forma há anos! A garota percebera que após sua ‘não vida’ (ainda era difícil se definir como morta), estava extremamente irritadiça, enérgica e violenta. Não entendia muito bem o que acontecia, simplesmente não conseguia raciocinar muito, os sentimentos á flor da pele a todo instante. Elevando um pouco o rosto ficou a observar os olhos azuis do irmão sobre si, tão claros e meigos naquele instante, agora via muitas coisas ali como sempre fizera: amor, proteção, medo, confusão, desejo... Enterrou novamente a cabeça em seu peito ouvindo as batidas lentas de seu coração, ela o amava! Como poderia esquecer-se disso? Porque esquecer fora tudo o que fizera por meses. Era como se uma parte dela odiasse John por tê-la matado, apesar da outra parte, a que o amava, tê-lo perdoado e aceitado o fato como um acidente. No fundo, o que ela queria era machucá-lo também, de alguma forma atingi-lo em cheio, fisicamente não lhe parecia o suficiente! Ela sabia muito bem que o chicote estava muito bem guardado durante a visita do Xerife Gael, fora ela quem o colocara á vista, uma parte dela precisava fazer qualquer coisa para acabar com John, e ela havia deixado essa parte domina-la, o machucara inúmeras vezes! Sentindo uma lágrima escorrer por seu rosto e ser limpada por John que encaminhava seus pensamentos para os da irmã, que sentia exatamente o que ela sentia, que conseguia entendê-la e até concordar com ela, a garota fechou os olhos inspirando seu cheiro antes de murmurar:
  - Eu te amo.
  John sentiu uma paz no coração ao ouvir as palavras da irmã, um sorriso se formando em seus lábios, finalmente ela o perdoara. Ele sabia que desde o momento em que voltara de sua morte, o detestava pelo que fez, mesmo quando ainda não sabia a verdade, e ele entendia isso, apesar de ama-lo, ela estava brava com ele justamente. Mas ao menos por esse instante, deixou-se apreciar pela sensação de estar tão próximo dela novamente, tão próximo como não ficava desde a sua morte. Sentia que podia tocar seu coração, sua mente, sua alma, nesse instante, tudo que ele sempre quis. Beijando-lhe o topo da cabeça e abraçando-a com mais força, ele sussurrou:
  - Eu te amo.

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  Gael observou a entrada desajeitada de Brendom no Departamento com um sorriso apreensivo, sabia que não era certo o que permitira, mas precisava de informações e o único meio de consegui-los lhe parecia esse, uma vez que ninguém parecia se dignar a falar toda a verdade.
  - E então? – perguntou nervoso quando o garoto acenou pra ele e se serviu de um pouco de café lentamente com toda a calma que o xerife não poderia ter.
  - Bem... – o garoto olhou ao redor para detectar se havia alguém ouvindo. – Deu quase tudo certo. Na casa do John não tem nada, eu consegui revistar tudo, ele fica fora de casa o dia todo e a namorada dele não parece gostar muito de ficar sozinha. Aliás... Faz dois dias que ele não vai á casa dele...
  - Ele me disse que está reformando a Casa da Floresta, deve ser por isso. – Gael respondeu automaticamente as indagações silenciosas do garoto.
  - Talvez. De qualquer forma, não esperava encontrar qualquer coisa lá, a não ser que ele fosse muito burro, porque a namorada podia facilmente descobrir.
  - Muito bem, e a amiga? – o Xerife perguntou impaciente.
  - Bem... A gótica estranha é muito estranha. – Brendom comentou recebendo um olhar estressado do chefe sobre si – Enfim... Não havia nada lá a não ser muitas fotos de infância, com o irmão e com o avô principalmente. Provavelmente ela deve ter muitas coisas naquele computador que ela guarda por lá, mas infelizmente minha especialização de invadir propriedades e não computadores. – terminou desolado.
  - Ainda bem que não. – o desconforto de Gael era evidente, sua ultima cartada parecia ter sido inútil. – E a mãe dela?
  - Ah! Aí é que jaz o maior mistério – o garoto disse com ar de suspense. – A velha é medonha, cara! Ela só sai daquela casa para ir no banco, e isso acontece apenas uma vez por mês! O filho do sr. Pablo leva as compras do mercado até a casa dela toda semana por encomenda. Quase todos os dias ela recebe fanáticos da igreja pra ficar orando quase toda noite, e é a isso que se resume sua vida, acredite se quiser. – disse ele mesmo com um ar descrente. Gael suspirou derrotado, de nada adiantara, estavam na mesma!
  - Obrigado Brendom, pelo jeito paramos por aqui, não há nada mais a fazer. Ted e Daniel não encontraram nem um sinal dela em qualquer lugar, se ela foi para outra cidade pela floresta e pegou algum transporte por lá, jamais saberemos, então...
  - Espera um pouco xerife, eu não terminei de contar! – Gael o olhou com as sobrancelhas arqueadas – Eu disse que a velha quase nunca sai, mas eu sou expert em entrar em casa, inclusive quando as pessoas estão lá dentro. Enquanto ela dormia, eu consegui entrar na casa dela e revistar o local, não encontrei nada suspeito, exceto uma porta.
  - Porta?
  - Sim, a mulher tem uma porta de madeira rosa que está trancada á sete chaves, literalmente! Algumas correntes presas á suportes nas paredes, uma coisa muito sinistra...
  - O que será que ela esconde lá dentro, você conseguiu ver?
  - Não. Eu encontrei onde ela guarda a chave, em um porta joias no quarto dela, ela fica olhando fixamente para ele o tempo todo, mas eu achei melhor não entrar, afinal não sou policial e qualquer prova que eu conseguisse seria desconsiderara, pois foi pega de forma ilegal, então...
  O Sheriff se espantou por ouvir Brendom falar com tanta maturidade, sentiu um orgulho crescente no peito e alguma felicidade por ter dado uma segunda a chance ao menino, ele fizera valer á pena.
  - Muito obrigado, Brendom, você foi de grande ajuda. Afora o fato de ter invadido três casas essa semana, você está pronto pra ser um policiar garoto, vou providenciar isso nessas férias de fim de ano. – decidiu causando uma agradável surpresa ao garoto que o abraçou. – Bem, eu vou ligar pro juíz e pedir imediatamente um mandato de busca e apreensão.
  - Yeah! – o garoto comemorou terminando de tomar seu café já frio.  Gael apenas sorriu desejando acompanhar o garoto, parece que finalmente começava a chegar a algum lugar. Sentia que estava cada vez mais próximo de encontrar a verdade.

Capítulo 5 - 12 de Novembro à 05 de Dezembro

  - John, nós vamos nos atrasar, anda logo! – gritava de dentro do carro para o namorado que trancava a porta da casa.
  - Calma, meu amor, é só uma consulta de rotina... – John disse tranquilamente, um sorriso nos lábios e os olhos azuis escondidos por trás dos óculos escuros. A garota bufou um pouco irritada enquanto olhava o relógio e constatava que acabariam se atrasando. Calmamente seu namorado entrou no carro colocando o cinto e acariciando sua barriga que estava gigante antes de ligar o carro.
  - Vamos nos atrasar. – ela comentou um pouco mais tranquila quando o carro andava.
  - Não tem problema, amor. – o rapaz disse em um sorriso confortante. – Você parece tão preocupada.
  - Sete meses, John. Eu já estou grávida há sete meses! Logo estarei dando á luz, estou um pouco assustada, sabe? Um pressentimento ruim... Eu nem sei se vou ser uma boa mãe, eu... – a menina foi calada por um beijo rápido de John enquanto o semáforo os mantinha parado.
  - Vai ficar tudo bem. Você será uma ótima mãe. – disse tentando passar confiança á namorada, apesar de não senti-la absolutamente. Mentir para John sempre fora muito fácil, era uma necessidade que mantinha para esconder seus segredos, porém não estava tão confiante como sempre para fazê-lo tão naturalmente. Sabia que pretendia matar e isso lhe fazia sentir-se mal. Nunca amara verdadeiramente sua namorada, só precisava dela para continuar com as falsas aparências, mas ainda assim tinha um enorme carinho por ela, ela era a mãe de seus filhos! Sim, filhos, porque John descobrira há três meses que esperava gêmeos, mas não tivera a coragem de contar para . Sua esperança ainda que remota era preservar a vida de , mantê-la distante depois do nascimento dos filhos com a proposta de que cada uma ficasse com uma criança, era ridículo ele sabia, mas não conseguia pensar em nada melhor e definitivamente não conseguiria machucar sua namorada.
  - Hey, John! – desviou o rapaz de seus pensamentos – Está dormindo ao volante? Eu ia dizer que você será um ótimo pai, mas estou mudando de ideia agora que vi você dormindo enquanto dirige! – a garota disse com um enorme sorriso. John estacionou o carro em silêncio e pousou os olhos sobre a namorada, apreciando seu sorriso alegre. Ela era totalmente diferente de ! Os cabelos claros lhe davam um ar jovial, mas tinha olhos verdes que pareciam cheios de maturidade e experiência. Tinha um sorriso sincero como raramente via em sua irmã, que sempre matinha uma leve tristeza no olhar.  – O que você está olhando? – Mas sem responder, John apenas se aproximou da namorada lhe dando um beijo longo e afoito. 
  Quando se separaram o olhava com uma agradável surpresa no olhar e ele sorria pensando que o beijo dela não trazia a mesma paixão que o de sua irmã. Não havia o mesmo desejo doentio, mas era calmo, carinhoso.... Balançando a cabeça para espantar os pensamentos John saiu rapidamente do carro ajudando a namorada com um pouco de dificuldade e caminhando de mãos dadas até o consultório médico.

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  - Está tudo bem com os bebês, inclusive eles estão inteiramente formados e na posição exata do nascimento, parece que não terá que esperar muito para ter os bebês em seus braços, . – a doutora falou com um sorriso confortante á futura mamãe que suspirou aliviada apertando a mão de John ao seu lado.
  - Tem alguma ideia de quanto tempo isso pode demorar, Doutora? – John perguntou levemente preocupado.
  - Eu diria que menos de um mês, duas semanas, talvez três... 
  - Ótimo. – disse alegre – Não vejo a hora de vê-las.
  - Bem... Você ainda quer ficar no escuro ou já quer saber o sexo dos bebês? – perguntou a Doutora para .
  - Ainda não, Doutora. Prefiro saber só quando nascerem. – respondeu firmemente.
  - Presumo que o papai também pretende não saber?
  - Eu vou esperar também, Doutora, já que é a vontade dela.
  - Muito bem! Então é isso por enquanto. Em duas semanas eu entro em contato para que possamos marcar a data do parto, já sabe o que fazer caso a bolsa estourar ou sinta as contrações...
  - Sei Doutora, está tudo bem.
  - Hã... O parto será normal? – John perguntou curioso.
  - Sim. – a doutora respondeu rapidamente – Eu pensei que diante das circunstâncias fosse necessário fazer uma cirurgia cesariana, mas quando me comunicou a preferência pelo parto normal, fiz alguns exames necessários e decidimos que o parto será normal.
  John apenas assentiu silenciosamente e os três se despediram aos risos.
  Lágrimas dolorosas escorriam pela face de enquanto a mesma observava o cenário á sua volta.  Todos os objetos de vidro quebrados num ímpeto de raiva. Ela não conseguia entender o que acontecia de errado, mas sabia que havia algo.  Duas semanas! Duas semanas John não dera ao menos notícia, não aparecia.  Um peso se alojava no peito esquerdo da garota, ele havia desistido dela! Havia abandonado a mesma para que ficasse ali sozinha para sempre, era o que pensava. Por quê? Por que ele fizera isso com ela? Ele a prendera ali e agora ia embora sem pensar duas vezes? Com um grito de ódio a garota levantou-se secando as lágrimas e caminhou até a parte de trás da casa pegando uma pá e comelando a cavar a terra.
  Mesmo distante, ela ainda acabaria com a vida dele.
  Finalmente com o mandato em mãos Gael saiu da delegacia sendo acompanhado por Brendom. Por motivos burocráticos idiotas, segundo sua definição, o xerife tivera de esperar três semanas até conseguir finalmente o mandato que o permitira entrar na casa da Sra. O’Callaghan, o pensamento que o incomodava era não encontrar nada por lá. O que faria então? Seria obrigado a deixar o caso de lado, mas seus instintos o diziam que havia algo de muito errado nisso tudo, que ele precisava descobrir o que era. 
  A Sra. O’Callaghan ouviu os pneus cantando quando a viatura policial parou á sua porta freando bruscamente e já estava á porta, o rosto impassível, quando Gael saiu de dentro do veículo com seu assistente ao lado.
  - Sra. O’Callaghan – chamou mostrando o papel – Tenho um mandato de busca e apreensão pra entrar na casa da senhora.
  Em silêncio ela apenas entrou na casa deixando a porta aberta. Gael olhou para Brendom ao seu lado e entrou dando de ombros. A casa era muito bonita e bem cuidada, uma daquelas grandes casas que um casal compra quando deseja formar uma família. Olhou ao redor e encontrou a senhora caminhando em direção á uma sala aos resmungos. Ao segui-la se deparou com uma sala toda branca sem nenhum móvel a não ser a figura de Maria, mãe de Deus entalhada na parede, algumas velas acesas aos seus pés e a senhora O’Callaghan acendendo uma ultima vela.
  - É melhor estar preparado xerife... – disse a velha em um tom de aviso, os cabelos brancos presos no alto da cabeça tinha vários fios se espalhando como se não tivessem sido presos com firmeza.
  - Preparado para quê? – perguntou imaginando inúmeras possibilidades.
  - Para encontrar a sacerdotisa de Satã... É o que você está procurando. Ficar cara a cara com o mal encarnado.
  - Me desculpe, mas do que a senhora está falando so... – foi interrompido pelos sussurros incoerentes da senhora, que ajoelhada no chão em frente a escultura rezava.
  - Santa Maria, rogai por nós... Santa mãe de deus, rogai por nós... Santa virgem das virgens, rogai por nós... Mãe puríssima, rogai por nós... Mãe castíssima, rogai por nós... Mãe Imaculada, rogai por nós...
  - Sra. O’Callaghan! – Gael tentou chamar sua atenção.
  - São os próprios filhos do Satã... Merecem queimar no fogo do inferno... Degenerados! Impuros! – a senhora continuava falando incoerentemente, a cada momento o xerife tinha mais certeza de que ela era louca.
  - Xerife! Vem aqui! – ouviu Brendom lhe chamar, e ao perceber que a senhora á sua frente não sairia do lugar por um bom tempo, o rapaz foi até onde o garoto estava: um quarto. Gael direcionou um olhar indagador ao assistente.
  - Esse é o quarto que estava trancado! Encontrei as chaves onde havia lhe dito. – o garoto respondeu revistando algumas gavetas. – É o quarto dela!
  E então Gael percebeu as algemas no chão, e o quarto todo pintado de um rosa bebê era definitivamente muito romântico e feminino. Sem pensar duas vezes começou a busca por alguma informação relevante. Perdeu um bom tempo revistando papeis desnecessários e só reparou que Brendom achara algo quando o mesmo se agitou sobre a cama praguejando.
  - O que foi?  O que tem aí? – perguntou observando um pequeno caderno marrom  nas mãos do garoto.

  Flashback on...
  Diário, hoje eu a toquei pela primeira vez, foi indescritível. O poder que senti sobre ela, o comando em minha voz sendo acatado como de um senhorio ao seu vassalo (estou estudando a Era Feudal na escola), não pode ser descrito em palavras.
  Ela estava no parque brincando na terra, sozinha como sempre, uma vez que não desejava fazer contato com as outras crianças.  Caminhei até ela com um saco em mãos, há pouco havia pegado uma minhoca e guardado dentro do mesmo. Pensava em assustá-la, mas quando cheguei á sua frente uma nova ideia percorreu minha mente.
  - Duvido que você tenha coragem de comer essa minhoca. – disse estendendo o pacote á minha irmã.
  - Eu comeria se eu quisesse. – ela respondeu irritada.
  - Coma. – ordenei colocando o pacote perto de seu rosto.
  - Não quero.
  - Coma!
  - Não.
  - Sua medrosa. – afirmei sorrindo a fazendo me fuzilar com o olhar enquanto pegava o saco de minha mão com força tirando a minhoca de dentro e colocando na boca.

  Fiquei fascinado por um instante a observando mastigar o animal que ainda estava vivo com a maior facilidade. Os lábios rosados movimentavam-se com tanta graça e eu tive vontade de beija-la naquele instante. Continuei observando os lábios me aproximando cada vez mais e a vendo parar de mastigar com uma careta, desviei meu olhar de sua boca para seus olhos e fechei os olhos instintivamente ao sentir o cuspe do que acabara de mastigar em meu rosto. Com uma raiva descomunal me dominando a segurei com força pelos braços a vendo se debater até que encostei nosso lábios de vez. Ela se debateu por alguns instantes tentando se soltar, mas quando percebeu que minhas mãos ao redor de seus pulsos não afrouxaria nem um pouco desistiu mantendo a boca fechada com força, tentei forçar a passagem de minha língua, mas ela manteve postura rebelde. Sem piedade mordi seu lábio a fazendo abrir a boca em um grito abafado pela minha língua entrando em contato com a sua sem espera. Senti o gosto do sangue de seus lábios em minha língua, mas o sabor agridoce deixava tudo muito mais gostoso, tentou se soltar mais algumas vezes tentando me bater, mas logo se rendeu.
  Ah Diário! O gosto da vitória é inestimável. Ela tentou de todas as formas, mas no fim não conseguiu mais resistir! Acho que isso foi a melhor coisa, ir minando suas forças aos poucos até que ela não tivesse mais força nem vontade de resistir, simplesmente aceitando em submissão.
  Bom, tenho que ir agora, mamãe está chamando para o jantar.

  P.S. O lábio de ficou inchado, mamãe ficou brava com ela, pois segundo nossa explicação ela caiu do balanço. Mamãe disse que ela tem que prestar mais atenção no que faz. Tentei defendê-la, mas não podia contar a verdade. De qualquer forma, a ajudei a fazer um curativo.
  Flashback off

  Gael terminou de ler o relato com um gosto amargo na boca, como ele não percebera antes o pervertido que John era? Observou melhor o diário e percebeu que datava da época em que ele e a irmã tinham treza anos! Finalmente tudo se encaixou as lacunas no que as amigas diziam, a mãe maluca difamando os filhos e... Droga! O chicote! Se havia sido usado recentemente deveria ter sido John que usara na irmã! Ela poderia estar machucada! Será que ele a mantinha em cativeiro?Com mil perguntas em mente o garoto saiu da casa apressado com Brendom em seu encalço.
  - O que faremos agora? – o assistente perguntou preocupado.
  - Nós não faremos nada, eu vou até a casa dele procurá-lo, você vai até a delegacia chamar por reforço. – Gael respondeu já entrando na viatura.
  - Mas... – o garoto ia protestar, mas Gael simplesmente lhe lançou um olhar confiante e pisou no acelerador.

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  - John anda logo, liga pra doutora! – gritou pelo que lhe parecia a centésima vez com o namorado.  Ela sentira a bolsa romper fazia pelo menos dez minutos e sentia dores insuportáveis, avisara para o namorado que só o que fazia era andar de um lado para o outro extremamente desesperado.
  - Droga! Droga! Droga! – John dizia com o celular na mão sem decidir se ligava para a doutora e marcava o parto ás pressas ou se fazia o que planejara com . Havia mais de duas semanas não aparecia na Velha Casa, não sabia o que fazer! Queria ficar com a irmã mais do que tudo, mas sabia que ela não o aceitaria de volta sem o bebê, mas ele não queria machucar , o que realmente aconteceria se ele fizesse o que houveram combinado. O cansaço lhe pesava a cabeça e o impedia de pensar direito, tinha profundas orelhas sob os olhos, explicara para sua namorada que era preocupação com a vinda dos filhos e a venda da casa na floresta, mas na verdade era porque não parava de pensar em sua irmã. Ela estava todos os dias em seus sonhos,perseguindo-o, quase todas as noites ela o matava e ele acordava assustado sem qualquer vontade de fechar os olhos novamente. Na verdade, desde que deixara a irmã presa na casa, sozinha, a única coisa que tinha vontade era correr de volta para seus braços. Sentia tanta falta dela! Precisava estar com ela, sabia que não conseguiria ficar longe dela por muito tempo, mas a fixa negativa em matar não lhe saía da mente.
  - John! – ouviu o grito esganiçado da namorada já deitada na cama tentando controlar a respiração.
  Sem saber exatamente o que fazer o garoto pegou as duas bolsas dentro do armário, a bolsa em que usaria caso levasse para o hospital e a outra caso fizesse o caminho reverso, ainda não decidira o que fazer.

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  O carro passava pelas ruas em uma velocidade incrível, John não pensava duas vezes antes de passar por semáforos, faixas, avenidas, o que deixava sua namorada extremamente assustada com a atitude insensata do rapaz, mas a dor que sentia a impedia de falar qualquer coisa, preferindo fazer concessões. simplesmente fechou os olhos recostando a cabeça no assento e tentando manter a respiração calma enquanto o namorado dirigia até o hospital. A garota havia treinado inúmeras vezes, pensado em como seria toda a situação, já sabia exatamente como proceder, portanto logo foi se tranquilizando, controlando a dor que sentia.

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  Quando a viagem tranquila tornou-se turbulenta como se o carro passasse por pedras e lama, a garota abriu os olhos assustada percebendo estar na floresta e não na estrada á caminho do Hospital.
  - John, o que você está fazendo? Nós precisamos ir até a Dra. Eu vou ter bebês não dá pra brincar de passear agora! – disse alterada. Que palhaçada era aquela agora? Nunca vira o namorado tão estranho.
  O rapaz não respondeu apenas manteve um sorriso no rosto e quando o carro parou em frente a casa a família que continuava exatamente (se não, pior) como quando fora a primeira e ultima vez. Assustada a garota recuou quando o namorado se aproximou da mesma como para dar-lhe um beijo. Mas John apenas lhe acariciou o rosto com uma tristeza no olhar.
  - Sinto muito. – o garoto murmurou antes de injetar em seu braço uma pequena dose de sonífero que a faria apagar por apenas alguns minutos, tempo suficiente para adentrar a casa, mas pouco o suficiente para não causar qualquer dano aos seus filhos.
  O rapaz sentiu o olhar penetrante sobre suas costas e quando olhou para a irmã saindo de dentro da casa, sabia que estaria encrencado, mas o rosto de suavizou-se ao ver a barriga gigante de . Acariciando a barriga da namorada de seu irmão com um sorriso bobo nos lábios, a garota se esqueceu de que estava brava com John e simplesmente o ajudou a leva-la para dentro da casa e amarrá-la na cama.

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  Gael tocou a campainha pela quarta vez e sem obter resposta, ele simplesmente empunhou a arma dando um chute na porta trancada logo em seguida, a fazendo abri com um estrondo. Não havia ninguém lá dentro e o xerife se preparava para sair quando escorregou em um líquido viscoso e assustado constatou que a namorada de John estava prestes a ter o bebê. Encontrou sobre a cama o cartão de uma médica que provavelmente faria o parto e saiu da casa entrando novamente na viatura e ligando para o número do cartão.
  - O suspeito principal agora é o irmão, que abusava ou abusa ainda da irmã. O xerife Gael pediu para que o encontrássemos na casa dele e de sua namorada. – Brendom explicou rapidamente para Ted e Daniel sobre o ocorrido. Não precisou muito tempo até que os dois estivessem prontos para sair em ajuda do patrão. Brendom fez menção de ir também, mas foi barrado por Ted.
  - Você não, assistente. – disse lhe empurrando.
  - Para com isso Ted. Gael precisa de nós, agora não é hora dessas briguinhas infantis que vocês sempre fazem. Deixa o garoto vir, Ted. – Daniel disse incisivamente.
  - Alguém tem que ficar na delegacia para atender os chamados – Ted afirmou vitorioso, terminando o assunto – E esse é o seu trabalho, assistente.
  Brendom bufou irritado vendo os dois saírem rapidamente do local.

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  - John! John! Por favor, para com isso, John, por favor, me leva para um Hospital. – gritava com o namorado, as contrações cada vez mais fortes.
  - Não posso, eu não posso, me desculpe por isso, mas...
  - Chega de conversas, vamos querida cunhada, deixe logo o bebê vir ao mundo, vamos! – disse impaciente.
  - , por favor, não piora as coisas – John disse irritado. – Fica quieta por um instante, eu cuido disso. A garota estreitou os olhos tentada a dizer não, mas pensou no bebê e se controlou saindo do quarto.
  - Amor, tudo vai ficar bem, está me ouvindo? Eu estou do seu lado – John murmurou tentando tranquiliza-la apertando sua mão.
  - Por que está fazendo isso comigo, John? Por quê? O que eu fiz pra você? DROGA! QUE MERDA EU FIZ PRA VOCÊ? – a garota gritou descontando a raiva e frustração que sentia.
  - Explicações não vão adiantar. Eu sei que você está me achando um monstro agora, e talvez eu seja mesmo, mas eu vou te ajudar. Eu quero quer os bebês nascem tão bem quanto você quer, então, por favor... Concentre-se nos bebês agora. – disse acariciando-a com firmeza.  – Tudo bem? Você pode fazer isso por eles?

   ficou em silêncio, as lágrimas escorrendo por sua face enquanto apenas assentia cuidadosamente. Respirando fundo como a medica lhe ensinara e sob o auxílio de John que estivera presente em todas as explicações, a garota iniciou os empurrões em intervalos contínuos. Depois de dez minutos ineficazes de pura dor, apareceu ao seu lado, um pano em mãos lhe enxugando a testa carinhosamente. não entendia nada do que acontecia ali, não entendia o que John queria com aquilo tudo nem a maluca da sua irmã odiosa, e não conseguia raciocinar direito com a dor que sentia, a fraqueza lhe tomando os músculos enquanto concentrava toda a força que tinha em empurrar o bebê.
  - Vamos, vamos, continue, eu já posso ver a cabeça, amor. – John incentivava entusiasmado. o olhava de esguelha a cada vez que ouvia a palavra ‘amor’ ser mencionada, mas tentava manter a calma tentando confortar da melhor forma possível.

  Depois de gemidos e gritos desesperados por parte de que já não acreditava que conseguiria fazer aquilo sozinha e implorando para que John a levasse para o Hospital, um choro baixo e entrecortado pôde ser ouvido. Os três suspiraram aliviados, cada qual por seus próprios motivos e saiu do lado da cunhada com um enorme sorriso em seu rosto, pegando uma toalha limpa em uma das bolsas pegou o bebê com delicadeza e o levou consigo para limpá-lo.
  - Cadê ela? O que ela está fazendo? Aonde ela vai com o meu bebê, John? – continuava gritando confusa enquanto John tentava acalmá-la problematicamente, uma vez que ele mesmo todo manchado de sangue e cheio de lágrimas nos olhos já não sabia mais como agir.
  - Ela só está cuidando dele, amor, seja forte, ainda falta mais um.
   deixou um choro esganiçado sair por sua garganta enquanto voltava aos empurrões dolorosos para que o segundo bebê nascesse. A garota já começava a se arrepender da decisão tomada, não aguentava mais e sentia que desmaiaria a qualquer momento.
  - Só mais um pouco, vamos lá, está vindo...
  Ouvia o som distante da voz de John, mal podia enxergar ou ouvir qualquer coisa, sua mente parecia estar em pane, seu corpo também parecia inerte, já não sentia mais dor alguma, como que anestesiada depois de tanta dor.  Ouviu pouco distintamente mais um choro, dessa vez mais alto e mais esganiçado que o outro antes de tudo escurecer.

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  - Como? A senhora está me dizendo que ela não foi pro Hospital? Tem certeza? Não houve nenhuma ligação ou tentativa de contato? – perguntou Gael á beira do desespero enquanto falava com a medica pelo telefone tentando manter o controle no volante.  – Tudo bem, obrigado.
  Gael desligou antes que a Dra. Começasse a fazer perguntas, ele mesmo tinha muitas não resolvidas. John era um maníaco que violentava e abusava da irmã há oito anos, mas o que ele faria com uma mulher grávida? Para onde a levaria? Parado no acostamento o rapaz era incapaz de pensar com clareza, mas em um lapso de memória ficou mais do que claro para onde a levaria! Dando a marcha ré e indo para o caminho oposto ao Hospital, Gale acelerou pedindo a todas as divindades existentes que conseguisse chegar á tempo.

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   ouviu o choro de outro bebê e seus olhos arregalaram em descrença, John não falara nada sobre gêmeos! Mas logo a irritabilidade foi substituída pela calma advinda do pequenino em seus braços, embalando-o lentamente a  garota pegou uma enorme faca sobre a pia indo em direção ao quarto onde jazia desmaiada sobre a cama. John percebeu quando a irmã apareceu com o bebê nos braços, um aspecto meigo e tranquilo, mas ainda assim ameaçador.
  - , veja, há dois bebês. Podemos dividi-los, ficamos com um, fica com outro e assim não precisamos machucá-la, nós não...
  - Do que está falando? Você sabia que ela teria gêmeos? Você planejou tudo isso? – perguntou irritada. Com cuidado caminhou para fora do quarto com o bebê em seus braços, foi até o quarto ao lado e deitou o bebê delicadamente no berço que mandara John fazer meses atrás. –Fique quietinha, meu amor, a mamãe já volta, está bem?
  Respirando fundo e lançando um beijo para a pequena antes de sair do quarto com a faca em mãos, foi até o irmão.
  - Meu amor, agora seremos uma família de  verdade. Eu, você e as meninas... – disse lhe dando um beijo demorado nos lábios dando a entender que não iria dividir.
  - , não precisamos fazer isso, nós não...
  - Shh – a garota o silenciou colocando uma faca frente ao seu pescoço – É isso que você planeja, não é meu querido irmão? Muito cômodo para você ter duas lindas mulheres te esperando, e quando você se enjoar de mim, é só me deixar aqui sozinha mofando junto com essa casa velha. – murmurou simulando compreensão.
  - ... Para com isso, você sabe que eu jamais te abandonaria. –John disse tentando afastar as mãos da garota de seu pescoço.
  A garota balançou a cabeça em ume negativa veemente apertando mais a faca contra o corpo do irmão.
  - Nós ficaremos juntos, meu amor, para sempre... – sussurrou decidida – Mas primeiro vou me livrar daquela ali. – disse mais alto ao perceber que acordava confusa.
  John não teve tempo de esboçar nenhuma reação, assim como que com os olhos esbugalhados se debatia presa á cama.
  - Por favor, eu...
  - Não, minha querida, não se preocupe, eu cuidarei bem deles pra você. – prometeu com o olhar triste sobre a cunhada, lhe acariciando os cabelos claros como os da bebê que deixara no outro quarto. John atônito observava a cena sem saber o que fazer e o choro da criança ao seu lado preencheu o quarto prendendo a atenção de todos sobre ela. Os olhos azuis como do pai brilhando pelas lágrimas e os cabelos escuros ralos ainda sujos do parto.  sorriu ao perceber que uma das garotas se parecia muito com ela e o irmão, como uma filha. Emocionada a garota desviou a atenção de permitindo que John tomasse a faca de suas mãos rapidamente.

  - Ora, ora, o que pretende fazer meu amado irmão? Vai me matar? De novo... – perguntou sem o menor medo. – Como foi que pensei que você teria coragem de formar uma família? Você é um covarde, como sempre foi... – suspirou resignada. – Acho que terei que te ajudar com isso... Depois que você ficar preso nessa casa como eu, não haverá meio de se esconder... – terminou se aproximando do rapaz assustado e lhe empurrando com força vendo-o bater as costas com força na janela rachando-a. Caminhando lentamente até o mesmo ela pegou novamente a faca sem prestar atenção no eco do choro das duas meninas, os gritos de a fez sorrir antes de com um olhar vidrado cortar-lhe a garganta lentamente e vê-la se contorcendo, engasgando em seu próprio sangue antes de revirar os olhos e dar o derradeiro suspiro.

  O xerife Gael estacionou na estrada dentro da floresta, alguns metros antes da casa para não chamar a atenção, e andando foi até a parte de trás da casa decidindo que provavelmente chamaria menos atenção se entrasse por ali. Asco e fúria lhe vieram à mente quando espantado encontrou a terra escavada e o corpo de O’ Callaghan dentro do buraco cavado. Enojado, Gael se aproximou observando o corpo nú e extremamente pálido todo machucado, bichos nojentos saindo por sua boca e a causa da morte foi inegável ao ver a marca evidente de um estrangulamento.
  - Desgraçado! – murmurou para si mesmo antes de empunhar a arma e entrar silenciosamente na cozinha da casa ouvindo barulhos de coisas quebrando e vozes alteradas no andar de cima.
  - Você! É tudo culpa sua, John! Por que fez isso comigo? Agora eu vou ter que matar você! – ouvia uma voz feminina gritar. Poderia ser ?  Choros esganiçados de recém-nascidos também fora ouvidos por Gael que lembrou-se imediatamente que a namorada estava grávida, provavelmente dera á luz na casa. Mas se fosse o caso, estaria muito fraca para falar tão energicamente fazendo ameaças... Quem estaria lá então?

  Passos apressados na escada o fizeram ficar em alerta até ver John descer correndo com um bebê em mãos, sendo perseguido por alguém que não parecia ter pressa alguma. John não viu o xerife na porta, tão desesperado estava para tentar fugir de sua irmã que nada se assemelhava a garotinha que sempre amara no momento. A bebê em seus braços o fazia lembrar-se que precisava fugir para tentar salvá-la a qualquer custo. Quando chegou á porta da entrada estacou ao dar de cara com sustentando um sorriso cínico no rosto, mas espanto maior foi ouvir uma exclamação surpresa atrás de si, virando-se e dando de cara com o xerife.
  - Gael! – gritou entre desespero e alívio.
  Gael não conseguia pronunciar uma palavra, mas que diabos era aquilo? Acabara de ver o cadáver de , como ela podia estar á sua frente e viva agora? O olhar dela pousou nele por um instante e mais do que a raiva descomunal que se mostrava ali, ele também pôde ver dor. Ela não se importou com ele, ao invés disso pegou o irmão pelo colarinho e o levantou com facilidade como a um boneco. Gael agiu rápido correndo até os dois e tomando a bebê que chorava em seus braços pouco tempo antes de jogar o irmão até o outro lado da sala. Preferindo salvar os bebês antes de tudo, o xerife subiu as escadas rapidamente encontrando morta em um quarto, os olhos abertos e sangue por todos os lados provavelmente vindo do parto. Seguiu o choro até encontrar a outra bebê no quarto seguinte, o quarto de , não pensou duas vezes antes de ajeita-la no outro braço e descer as escadas lentamente observando onde estariam os outros dois.
  John estava na sala de jantar, a mesa ao seu lado pegando fogo depois de tê-lo jogado justamente sobre a mesma fazendo com que a vela caísse alastrando facilmente o fogo sobre a madeira. Os olhos do garoto estavam inchados pelos socos que levara da irmã sangue escorrendo pelo nariz e boca, além de cortes por todo corpo e uma dor descomunal em suas costelas, o garoto mal conseguia se mexer.
  - Você deveria ter me ouvido, John, deveria ter feito o que eu disse. Teríamos finalmente uma família feliz como nunca tivemos, realizaríamos os nossos sonhos, mas você não quis. – a garota murmurava chorando, lhe doía machucar o irmão era como bater em si própria, mas ela precisava fazê-lo. Se ele morresse, ficaria preso na casa e os dois poderia ser felizes juntos por toda a eternidade.

  Gael observava a cena extremamente confuso, não havia mais o que fazer, era aparentemente um fantasma, algo que custava a acreditar e estava se vingando. Se ele tentasse ajudar poderia machucar as pequeninas em seus braços, portanto o xerife tomou a difícil decisão de deixá-los a própria sorte. John merecia o que estava acontecendo, foram anos de um relacionamento abusivo com a irmã e ela agora pagava morbidamente na mesma moeda! A segurança dos bebês, para ele, era o que mais importava agora, e a fogo que antes queimava as mesas se alastrava rapidamente pela casa de madeira. Não demoraria muito para que a casa estivesse totalmente em chamas e a sala em que estavam era ao lado da cozinha, assim que o fogo atingisse o botijão de gás tudo explodiria. Preocupado, Gael pensou duas vezes e com um pouco de dificuldade conseguiu pegar a arma e atirar em , a troca de olhares com John fez o rapaz entender e levantar lentamente sentindo dores seguindo-o, enquanto a irmã jazia no chão aparentemente desmaiada.

  O xerife não esperou para ver o que aconteceria saiu correndo do local sem olhar para trás e quando próximo da floresta olhou para trás vendo John correndo atrás de si com muita dificuldade, provavelmente estava todo quebrado, Gael pensou.
  Chegando ao carro, o xerife colocou cuidadosamente, porém rapidamente as crianças acomodadas na viatura e sentou-se no banco do motorista ligando o motor, pretendia esperar até que John conseguisse alcança-los, mas ao olhar por entre as árvores não o via. Saindo do carro novamente para procurar o criminoso, apesar de não achar que ele merecesse qualquer ajuda, Gael caminhou até a entrada da floresta e viu o garoto correndo, a casa quase toda em chamas e quando viu a sombra atrás de John tentou gritar para o rapaz, mas as palavras ficaram entaladas na garganta e tudo que pôde faze foi assistir impassível enquanto John dava um ultimo grito sendo arrastado para dentro da casa.

Epílogo

   e Laurie Hockman brincavam no gramado enquanto o pai escrevia dentro da casa,  observando vez ou outra as meninas, muito preocupado com a proximidade da piscina.  O xerife Gael O’ Callaghan adotara as gêmeas que salvara no dia do maior crime que já acontecera em Sudden Valley, a pacata cidade de Washington, tornando-se assunto frequente do vilarejo, mesmo sete anos depois do acontecido. Era por essa razão que Gael decidira se mudar com as filhas, antes que elas entrassem na escola e tivessem que ouvir as histórias macabras que rodeavam seu nascimento. O ex-xerife dera o nome de a uma das garotas, em homenagem á garra que a mesma demonstrara e como uma lembrança de que alguém se importava com seu sofrimento. Desde o fatídico dia, Gael se dedicara a investigar assuntos sobrenaturais e coisas do gênero, deixara de lado a carreira na polícia e se dedicara a trabalhar em um instituto de pesquisas metafísicas, tendo escrito três livros sobre o assunto e escrevendo agora um quarto. Levantando-se da escrivaninha onde escrevia em busca de café, Gael passou rapidamente pela janela para observar as garotas.

  Laurie era loira e tinha olhos verdes como a mãe, estava sempre sorridente e  brincava rente a piscina banhando suas bonecas. tinha cabelos escuros e olhos azuis como o da tia, era na verdade a cópia exata da tia em sua infância, mais um dos motivos para a escolha de seu nome, ela olhava para a irmã com os olhos cerrados no momento, escrevendo descompassadamente em seu caderno sem olhar para o mesmo como em um transe. não gostava de sua irmã, ela era  muito mais bonita e alegre e as pessoas sempre a elogiavam, estava sempre sorridente e chamando a atenção, ela era uma chata, pensava. Como acordando de um transe a garota arregalou os olhos sentindo um arrepio transpassar seu pequeno corpo e ao olhar para o caderno observou os pingos vermelhos da caneta  que quebrara e se espalhavam pela página branca, dando uma aparência assustadora a combinar com a  frase que a garota escrevera:
  Livre-se dela

   não entendia porque escrevera aquilo, não se lembrava, mas os pingos na página lhe lembravam sangue e ao olhar para os cabelos esvoaçantes da irmã que se inclinava sobre a piscina para pegar uma boneca que se afastava na água, uma raiva instantânea se apossou de que em um impulso  se esticou com as mãos estendidas em direção a irmã.
  Os céu estavam azul celeste naquela tarde e o sol brilhava dourado em sua imensidão, a piscina que parecia refletir o céu em sua cor azulada e cristalina borbulhava aos olhos atentos de uma garotinha.

FIM



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