Blame

Escrito por Viviane Santos | Revisado por Naty

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  E lá estava ela mais uma vez, observando-o de longe, contemplando sua beleza em silêncio, suspirando a cada sorriso que ele dava. , ou apenas , como gostava de ser chamada, tinha plena consciência que nunca atrairia a atenção de para si, o garoto mais popular do colégio. Porém, isso não a impedia de sonhar todos os dias desde o primário com o garoto, todos enxergavam-no simplesmente como o garoto de olhos mais lindo do colégio, mas o via como o garoto dos olhos mais encantadores que já havia visto em toda sua vida, seu sorriso era o mais belo de todos e ela sabia que o coração de era bom, sabia que ele era um menino doce. Foram esses pequenos detalhes que a fizeram apaixonar-se por ele.
  E por que ele nunca a notaria?
  Porque nunca se considerou uma garota bonita, sua pele era pálida demais, seus cabelos claros formavam um emaranhado sem sentido em sua cabeça, nunca fora de usar roupas chamativas e nem muita maquiagem e acima de tudo, não era nem de longe popular no colégio. Isso mudava tudo para ela. Era como se ele fosse um príncipe e ela uma plebeia, como se ele fosse o fogo e ela o gelo, como se fossem incompatíveis... Era isso que todos pensariam quando soubessem de sua paixão secreta por . E fora esse último pensamento que passou por sua cabeça quando viu o garoto aproximar-se dela com um sorriso torto nos lábios extremamente atrativos para .
  - Olá. - Sua voz rouca ecoou pelos ouvidos de como se fossem acordes de sua melodia favorita. - Posso sentar-me com você?
   apontou para o lado de , que estava sentada na arquibancada do colégio, esperando o sinal do fim do intervalo bater para poder finalmente entregar-se aos estudos novamente.
  - C-claro. - A voz de tremulou e ela achou-se uma idiota por isso, afinal, precisava passar boa impressão para o garoto de olhos à sua frente que lhe encarava com uma expressão divertida.
  - Não que eu pense que você não saiba quem eu sou, mas me chamo . - Ele sorriu largo e teve uma vista privilegiada da perfeita fileira de dentes brancos de . - Você é a...?
  - . Sou . - Tentou novamente, dessa vez com mais firmeza.
  - ... - testou o nome em sua boca, saindo melódico em sua voz. - Posso te chamar de , então?
  - Até prefiro assim.
  - Perfeito, . - Ele a olhou, ainda sorrindo, e ela pôde retribuir o sorriso. - Você gosta de filmes?
  E essa foi à primeira conversa de e . A conversa com que sonhou por metade de sua vida, e que finalmente estava acontecendo.

xx

  - . - A voz de sua mãe soou do outro lado da porta, que foi imediatamente aberta após duas batidas. - Tem um garoto na porta esperando por você. Disse que se chama .
  - Oh, sim. Obrigada, mãe. Diga a ele que já estou descendo, por favor. - colocou mais uma camada de gloss em seus lábios e por fim, colocou sua bolsa no ombro.
  Olhou-se no espelho e concluiu que havia feito um ótimo trabalho. Seu vestido com estampa floral e sua sapatilha branca davam todo o ar delicado que queria buscar, e o coque em seus cabelos combinando com a pouca maquiagem que passara foram apenas a cereja do bolo. A garota que nunca fora de arrumar-se e vestir-se bem, pela primeira vez sentia-se bonita. Não que isso fizesse diferença para ela, mas ela esperava que fizesse diferença para , que a havia chamado para ir ao cinema assistir a um filme que havia estreado há poucos dias. não sabia o porquê daquele aproximamento repentino, só sabia que estava sendo muito bom.
   desceu rapidamente para a sala e encontrou a esperando na porta com mais um de seus sorrisos encantadores nos lábios.
  - Oi. - disse sorrindo. - Por que não entrou?
  - Não queria incomodar. - Deu de ombros, e depositou um beijo na bochecha de em seguida, fazendo-a soltar um suspiro fraco. riu. - Vamos? Meu carro está logo ali.
  - Claro.
  Eles caminharam em silêncio até o carro luxuoso de que estava parado no fim da rua, já conhecia aquele carro dele, mas isso não a impediu de ficar boquiaberta ao aproximar-se do carro. notou a reação da garota e a encarou com uma expressão divertida.
  - Ele é meu favorito. - Disse contemplando seu carro e viu sorrir.
  - E o escolheu para me levar para sair?
  - E por que não escolheria? - Ele riu e abriu a porta do carro para que ela pudesse entrar. - Por favor.
  - Obrigada. - disse corando e entrando no carro depressa, para que não pudesse ver. Isso era simplesmente inacreditável para ela.
  O garoto deu a volta no carro e entrou no mesmo, dando a partida em seguida. encostou sua cabeça no vidro do carro e a olhou de soslaio. Ela era uma garota realmente bonita, não entendia o motivo de ser tão isolada e desprezada no colégio. Ele parou em um sinal e aproveitou para ligar o rádio que começou a reproduzir de onde ele havia parado.
  - Echo? - levantou uma das sobrancelhas enquanto a voz de Jason Walker ecoava pelo carro. - Você gosta?
  - Digamos que essa música me resume. - apertou o volante virou-o para a esquerda.
  - Você não me parece ser um garoto solitário, como o da música.
  - Apenas não pareço.
  Depois disto, não disseram mais nada, deixando apenas a voz de Jason dizer o que sentiam.
  Algum tempo depois, parou em frente ao cinema que não estava tão lotado como achavam que estaria. Ambos desceram do carro e foram comprar os ingressos, riu ao ver dizer que iriam assistir a um filme que não parecia nada com ele. permitiu-se rir também e piscou para ela quando estavam entrando na sala do filme.
  - Comédia romântica, uh? Clichê! - deixou escapar e viu o garoto sorrir maroto.
  - O que foi? Sou um homem romântico, tudo bem?

xx

  Já era noite quando parou em frente à casa de . Ele desligou o carro e fixou seu olhar no fim da rua, fez o mesmo enquanto pensava no que dizer. Estava ao lado do garoto que sempre disse amar, havia acabado de sair com ele e não tinha a mínima do que dizer para despedir-se. Optou por falar o que achou ser apropriado:
  - Obrigada por hoje, . Foi incrível, de verdade.
  - Não precisa agradecer. - Ele olhou para e sorriu.
  - Você, hum, quer entrar?
  - Não. Não é preciso. Obrigado. - Ele soltou o cinto e desceu do carro, dando a volta no mesmo. Abriu a porta para e deu a mão para que ela saísse.
  Ele a acompanhou até a porta e a viu sorrir sem jeito.
  - Então, boa noite. - disse, novamente sem saber o que dizer.
   assentiu fracamente colocando uma das mãos no bolso de sua calças jeans escura, e com a outra mão, puxou pela cintura, fazendo com que a menina desse pulos para frente por causa do susto, e colocasse as mãos no pescoço de , para apoiar-se. olhou nos olhos de e desviou seu olhar para a boca da menina, colando seus lábios logo em seguida.
   sempre imaginara que o beijo de fosse selvagem, que fazia as garotas irem até o céu e o inferno sem sair do mesmo lugar, que fosse uma coisa única, de momento. Mas não era. O beijo dele fora delicado, deixando com que sua língua explorasse a boca de com calma, como se estivesse em uma dança lenta. Ela pensou no paraíso, pensou se ele era tão bom quanto o beijo do .
  Quando se separaram e olharam-se nos olhos, ela pôde perceber que os olhos de estavam tão brilhantes como nunca havia visto. Aquilo encheu o coração de de uma forma que ela não achava ser possível. Ele aproximou-se novamente para dar um selinho demorado nela como uma forma de despedir-se.
  - E a propósito, você está linda. - Depois de dizer isso se afastou e caminhou até seu carro, entrando no mesmo. Deu uma piscadela para a garota que o observava da porta com largo sorriso nos lábios e deu a partida no carro.

xx

  - Sabe que eu nunca fiz um piquenique na vida? - perguntou alegremente ao ver sair e descer do carro para pegar a cesta de comida no banco de trás do carro e uma toalha xadrez para colocar na grama.
  - Sério isso? - soltou uma gargalhada e assentiu, rolando os olhos. Ele pegou a cesta e a toalha desajeitadamente, quase os deixando cair e xingou baixinho. - Poderia me ajudar aqui, senhorita?
  - Mas é claro, senhor . - disse pegando a cesta de suas mãos e começando a caminhar a procura de um lugar que tivesse com a sombra de uma árvore. Parou debaixo de uma árvore grande e rica de folhas e apontou para que colocasse a toalha ali. Ele o fez e ela sentou-se primeiro para arrumar a comida na toalha. - Hoje o dia está lindo, não é?
  - Mas é claro que está! Eu tive que pesquisar muito para estarmos aqui hoje. - sentou-se ao lado de na toalha e pegou uma uva, levando-a até a boca. - Nunca vi lugar para chover tanto como aqui. É chato.
  - Pare de resmungar, garoto. Eu gosto daqui.
  - Não estou resmungando, só estou dizendo a verdade, oras! Também gosto daqui, depois que me mudei para cá, senti como se minha vida pudesse se acalmar.
  - Está falando sobre o quê? - franziu o cenho e sentiu a tensão que emanava de . - Por que se mudou para cá, afinal?
  - Porque minha irmã morreu. - Ele suspirou e pegou outra uva. - Eu tinha dez anos quando aconteceu, ela tinha dezessete. Ela havia saído para ir a uma balada com alguns amigos e estava sem carona, já que todos iriam para beber. Foi por volta de duas da manhã quando resolveu ir embora e havia um ponto de táxi a dois quarteirões da balada onde ela havia ido. Só precisava atravessar algumas ruas...
  - , não precisa falar se não quiser.
  - Eu nunca falei isso pra ninguém, . Sempre guardei para mim por anos. Eu tenho que falar. - Suspirou e olhou para as mãos, como se elas fossem atrativas naquele momento. - Ela saiu e foi para o ponto de táxi, mas quando foi atravessar a rua um carro passou em alta velocidade e a atropelou. A pancada foi muito forte, . Minha irmã foi tão forte que ainda aguentou até chegar no hospital. - Riu sem humor. - Depois disto, minha mãe se isolou em seu próprio mundo, meu pai nos abandonou e eu fiquei sozinho. Claro que depois do luto, minha mãe se tornou mais protetora em relação a mim, ela pensava que poderia acontecer à mesma coisa comigo. Não deixava eu sair, eu vivia trancado em meu quarto, ela ia me deixar e pegar na escola até eu completar quinze anos.
  - Por isso você disse que se sentia solitário... Oh, !
  - É. Por isso. Eu não tenho amigos, . Aqueles que você vê comigo no colégio não são meus amigos. Eu não tenho ninguém.
  - Você tem a mim. - tocou o rosto de e o viu levantar o olhar para ela e sorrir verdadeiramente.
  - Obrigada, . - entrelaçou seus dedos nos cabelos da menina e a puxou para mais um de seus beijos que faziam-na sentir o coração disparar e que deixavam suas pernas moles como gelatinas. segurou a nuca de com as duas mãos e o garoto a deitou em cima da toalha, enquanto distribuía beijos em seu pescoço e por fim, finalizando com um selinho casto. - , eu... Essas últimas semanas com você foram incríveis.
  - Fico feliz em ouvir isso. - Ela sorriu deixando os dedos passearem pelos cabelos do garoto. - Posso dizer o mesmo em relação a isso.
  - Que bom. - deitou ao lado de e ambos fixaram seu olhar no céu. - Tá vendo aquela nuvem ali?
  - Sim, o que tem ela?
  - Parece um cachorro, não é?
  - Meu Deus! - gargalhou e levou às mãos até o rosto. - Você não existe mesmo, .
  - Ah, eu existo sim. E sou perfeito, olhe só para mim. O garoto mais lindo do país.
  - E o mais convencido também.
  - Como disse? - ficou por cima de e viu a garota arregalar os olhos. - Eu perguntei o que a senhorita disse, seria capaz de repetir para mim, ?
  - Não me chame assim! E eu disse que você é o garoto mais convencido da cidade, irá fazer o quê? - Ergueu o queixo e viu sorrir de forma maliciosa antes de levar às mãos até a barriga da menina, que começou a gargalhar alto com as cócegas que fazia. - P-para! !
  - E agora, ? Eu ainda sou convencido? - Perguntou aumentando as cócegas em , rindo junto com a garota.
  - Não! , não é! - Ela afastou as mãos dos meninos que agora ria dela. - Mas que saco, .
  - Você é uma graça quando está rindo, . - Ele sentou-se e pegou mais uma uva jogando em sua boca. também pegou uma uva e jogou para que pegasse com a boca, o que o menino fez com êxito. - Sua vez. - Disse e pegou outra uva e jogando para , que não obteve sucesso como ele. - Não tá com nada, .
  - Cale a boca, .
  - Por que não vem calar, ? - Arqueou uma sobrancelha e a ouviu gargalhar.

xx

  Dois meses haviam se passado desde o piquenique que e fizeram no parque. Cada dia que passava era um aprendizado para os dois, mas nada tirava da cabeça de o motivo de ter se aproximado dela de forma tão repentina. Sem contar o fato de ele nunca ter denominado o que eles realmente eram. Namorados, talvez? Ela não sabia, mas seu coração clamava por uma resposta do garoto.
   olhou para que estava sentado na carteira ao lado da sua, com os braços em cima da mesa e a cabeça baixa. Ela passou a mão pelos cabelos macios do garoto e ouviu o sinal para o intervalo soar.
  - , vamos lá, acorde. - o chamou e o viu levantar a cabeça ainda com os olhos fechados, resmungando algo sem nexo algum. - Ei, vamos.
  - O que houve? - Sua voz saiu arrastada, o que fez a garota rir.
  - O sinal soou, foi isso o que houve. Agora levante seu traseiro dai e arrume suas coisas. - Disse guardando seu material e levantando, vendo que fazia a mesma coisa de uma forma mais lenta.
  Os dois saíram da sala e logo foi chamado pelos amigos fazendo-o franzir o cenho e lançar um olhar inquisidor para , que assentiu fracamente.
  - Está tudo bem. Estou indo para a cantina. - Deu um selinho nos lábios do garoto e saiu rapidamente, deixando-o para falar com os "amigos".
   bufou e caminhou até os garotos a passos largos, quanto mais rápido falasse com eles, mais rápido se livraria também e poderia ficar com . Ele parou com os braços cruzados na frente deles e os encarou firme.
  - E ai, , quando vai querer ganhar o prêmio? - Um dos garotos perguntou, apontando para uma loira curvilínea perto do armário que conversava com outras duas garotas.
  - Eu não quero mais. - começou a andar para a quadra e foi acompanhado pelos outros. - Aquilo foi erro da minha parte.
  - Como assim, ? Não estou te entendendo. - Pararam em baixo da arquibancada e o outro cruzou os braços na altura do tórax. - Se me lembro bem, você estava morrendo para pegar a Eve. Agora que pode ter o que queria vai dar para trás?
  - Você realmente acha que eu sou homem de dar para trás, Erick? Quando foi que dei para trás em algo que me pediram ou fui resignado para fazer?
  - Nunca, cara. E é exatamente por isso que estamos estranhando essa notícia repentina. Sabe que a Eve está louca para te ver, não sabe?
  - Já falei que não vai rolar. Peça desculpas a ela por mim, ou melhor, deixe que eu mesmo peço. Mas estou com a agora e ela é incrível. - bufou e olhou com firmeza para Erick.
  - Como é? - A voz de um dos outros garotos soou alto. - Estou ouvindo bem ou você disse que está namorando sério com a babaquinha? , aquilo era só uma aposta, não era para ser levada a sério.
  - Eu não deveria ter feito aquela aposta. Eu fui um idiota e vocês também estão sendo uns imbecis agora. É um erro brincar com os sentimentos de alguém, cara. Foi ridículo, mas acabou.
  - Oh, sim, mas é claro. - Erick voltou a dizer. - E por acaso ela sabe que tudo não passou de uma aposta? Que você, , foi o primeiro a rir quando dissemos que ela era totalmente caída por você, que lambia o chão que você passava?
  - E dai que eu ri? Já falei que estava sendo um idiota. Vocês não entendem mesmo, não é? - Riu sem humor e balançou a cabeça. - E se quiserem saber, eu não ligo se entendem ou não.
   deu de ombros e saiu, indo em direção até a arquibancada, onde falou pela primeira vez com . E foi então que a viu. Ela estava sentada em um dos bancos, a mochila em suas pernas e a cabeça baixa, seu corpo descendo e subindo, como se estivesse soluçando. correu até ela e ajoelhou-se em sua frente, jogando sua mochila no chão e segurando o rosto de , fazendo com que ela olhasse para ele com olhos vermelhos e marejados.
  - Ei, o que houve? - secou uma das lágrimas que escorriam pela bochecha da menina e sentiu seu coração apertar-se. - ?
  - E-eu ouvi. Ouvi tudo, . - Disse entre os soluços, fazendo com que o menino congelasse onde estava. - Era tudo uma... Uma aposta?
  - Oh, . - Ele sussurrou deixando os braços caírem ao redor do corpo. - Você disse que ia para a cantina.
  - E eu fui! Mas isso não vem ao caso agora, ! - Ela falou mais alto, mais lágrimas rolaram por seu rosto. - Por que fez isso comigo? Quem você pensa que eu sou, ? Você não tinha direito algum de fazer isso! Eu... Eu passei anos da minha vida obcecada por você, achando que você era o príncipe encantado que eu deveria achar para ser feliz e agora descubro que não é nada disso!
  - , me desculpe! Eu agi de forma inconsequente, não pensei nas conquências, não pensei em você... Mas eu mudei, você precisa acreditar em mim!
  - Ninguém muda da noite para o dia, . - Ela riu sem humor, enxugando algumas lágrimas.
  - Eu mudei, . Você fez isso comigo. - Ele suspirou. - Esses últimos meses que passei com você foram os melhores para mim. Eu me apaixonei por você.
  - Não, não diga isso, por favor. Passar esse tempo com você foi tudo que eu sonhei por um longo tempo e agora que tive, acho que foi tudo uma ilusão. Não era você, não é?
  - O quê? Claro que era eu! Não está me ouvindo? - já sentia os olhos começarem a arder. - Eu estava feliz com você, . Isso foi uma ilusão para você? Porque para mim não foi. Para mim valeu cada momento, cada segundo ao seu lado, cada risada, cada palavra.
  - Não é suficiente.
  - Suficiente? - Ele deixou as lágrimas começarem a escorrer e bagunçou os cabelos. - O que seria suficiente para você então, ? Vai mesmo jogar tudo o que passamos no lixo?
  - Me dê uma razão para não jogar. - Ela deu ombros, frustrada, exausta, arrasada.
  - Eu te amo. - falou alto, já estava fora de controle todo aquele sentimento. - Eu te amo com todas as minhas forças, .
  - Você nunca disse isso quando estávamos juntos e vem dizer agora que eu descobri tudo? Eu não sou uma palhaça, . Posso até parecer uma, mas não sou. Não diga que me ama por quê você não é capaz de sentir isso. Você não é capaz de amar. E mesmo se guardar algum sentimento por mim ai dentro - Ela apontou para o peito do garoto, que ouvia tudo calado, chorando. -, o que eu duvido muito, merece toda a dor que está sentindo agora. Merece toda a dor que ainda virá para você. Você é um monstro, . Um monstro da pior espécie, que brinca com o sentimento das outras pessoas, que os usa para diversão própria. Nunca mais quero olhar para você... Você morreu para mim agora, .
  Ela disse por fim, saindo e deixando o garoto ali, sozinho com os próprios fantasmas. sentou-se no chão da arquibancada, abraçando suas pernas, enquanto soluçava e chorava em silêncio, enquanto as palavras de ecoavam em sua mente, como facas acertando em cheio seu peito, fazendo-o sangrar cada vez mais. desejou não sentir tudo aquilo, desejou poder voltar no tempo e dizer eu te amo mais cedo para ela, desejou ter passado mais momentos juntos, desejou poder ter dado mais gargalhadas ao lado dela e desejou, também, nunca ter feito aposta alguma. Queria ter se aproximado da forma natural de , deveria ter cortejado-a do modo certo, chamado-a para sair como todos os outros garotos fazem. Mas ele não o fez. Ele realmente merecia toda aquela dor.
  Ele ficou ali por horas, deixando-se entregue às lágrimas e soluços, até que o sinal indicando o fim das aulas soou e ele levantou-se rapidamente, limpando as roupas sujas e pegando sua mochila de qualquer jeito, e então caminhou até a saída, ouvindo sussurros sobre o motivo de chorar. Ele os ignorou e dirigiu-se até seu carro, entrando no mesmo.
  Deu a partida e olhou no retrovisor, tendo a visão de uma menina linda olhando para ele com o rosto vermelho e olhos magoados. . mordeu o lábio inferior para controlar a dor em seu peito e saiu cantando pneus, sem rumo algum. Ele tinha o costume de fazer isso quando precisava pôr os pensamentos em ordem. E foi o que fez daquela vez. Dirigiu até perder o rumo, até não saber onde estava, até... Tudo acontecer.

xx

  Quando chegou, trancou-se em seu quarto e abraçou seu travesseiro, enquanto chorava baixinho para sua mãe não ouvir. Ela simplesmente não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Sonhou durantes anos em ficar com e quando isso finalmente acontece, ela descobre que tudo que viveram não passou de uma farsa. era uma farsa. E era por causa dele que estava se sentido daquela forma. Estava magoada, destruída, inconformada, machucada e sentindo-se mais fraca e mais exposta que nunca. Ela cresceu achando que nenhum homem poderia fazer uma mulher sentir-se assim, mas ele fez. Ah, ele fez. E isso era o que mais doía.
   precisava esquecê-lo, precisava esquecer aqueles sentimentos horríveis, precisava de uma distração e foi pensando nisso que ligou a TV de seu quarto, mal esperando que o veria ali. Daquela forma.
  Enquanto a jornalista dava a notícia de que um carro havia capotado em uma das pistas na saída cidade, sentia como se seu chão estivesse desmoronando. Era o carro de que havia capotado. Era quem estava deitado naquela maca, pálido, com os fechados. Ela desejou nunca poder ter visto aquilo, desejou mudar depressa de canal, mas seus olhos continuavam fixos ali, e seus ouvidos continuavam atentos ao que a mulher disse sobre o pequeno garoto de olhos , sobre o que ela disse sobre ele estar morto. estava morto e desejava mais do que nunca, estar também.

xx

  O clima úmido e chuvoso no cemitério fazia com que as pessoas pouco se importassem com as palavras que eram proferidas pelo padre, e sim em manter seus guarda-chuvas sobre suas cabeças, para que não caísse uma gota sequer de chuva sobre eles, como se fossem feitos de açúcar. Porém, aquilo lembrava a que não gostava daquele clima, muito pelo contrário, ele achava aquela estação do ano um saco. Ela permitiu-se sorrir fraco enquanto olhava para o menino que embora fosse alto, parecia pequeno dentro daquele caixão. Ela sentiu lágrimas inundar seus olhos e tratou de enxugá-las rapidamente, não gostaria de ser vista chorando no meio daquela gente. Aquelas pessoas não estavam ali por vontade própria, elas não gostavam da família de e eram hipócritas por estarem ali. Elas estavam no enterro dele, mas nunca estiveram presentes em sua vida. Elas não mereciam estar ali.
   também não merecia.
   só estava morto naquele momento por sua causa. Fora ela quem dissera palavras horríveis para ele, ela quem o matou. Era ela quem deveria estar ali, não ele, era isso o que pensara nesses últimos dias. Ela era a causa de tudo.
   engoliu em seco e abaixou-se até o túmulo do menino, após todas as pessoas saírem de lá e ela finalmente pôde se ver livre para chorar sua perda em paz. Olhou para a lápide que possuía uma foto dele sorrindo, seus olhos brilhando e sorriu também, com algumas lágrimas descendo.
  - Ei, meu amor. - Ela sussurrou, entre os soluços. - Me desculpe. - Mordeu o lábio inferior. - Você não deveria estar ai. Isso foi minha culpa. Eu sei que não é possível voltar no tempo, mas se fosse, eu escolheria refazer tudo novamente. Escolheria não ter tido aquilo para você. Você é o garoto mais maravilhoso que eu já conheci em toda minha vida, seus olhos os mais brilhantes, seu sorriso o mais encantador. Então me desculpe por fazê-lo sofrer. O monstro na verdade, sou eu. Você é o anjo. Definitivamente o anjo agora. - Riu entre as lágrimas e tocou a lápide de . - Eu te amo, . E odeio saber que nunca mais irei ouvir sua voz me chamar de novamente.
  Ela levantou-se e olhou uma última vez para o túmulo do amado. O pensamento de que ele nunca mais voltaria, ecoava em sua mente quando deu as costas.

FIM



Comentários da autora


Eu sei que estão querendo assassinar minha pessoa agora, mas quando eu comecei a escrever Blame eu já tinha esse fim em mente. E vão me chamar de hipócrita se eu disser que fiquei super arrasada com a morte dele e até derramei algumas lágrimas? Então obrigada à minha super amiga, Anne, por me aturar quando eu fui toda chorosa dizer para ela que havia o matado e também obrigada por concordar que eu sou uma assassina em série, foi muito legal da sua parte, Anne!
E se mesmo com esse final trágico vocês tenham gostado da fanfic, não deixem de comentar, tá bom?
Beijinhos hehe <3