Black Stars

Escrito por Rebecca Heloisa | Revisada por Cáa

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Capítulo 1

  - Eu não acredito! – exclamou Cler.
  - Finalmente vamos realizar um dos nossos sonhos – Ana abraçou Cler, empolgada. Corrigiu-se ao lembrar: - Vamos realizar dois sonhos!
  Elas comemoravam no táxi a caminho do show do BlackStars. Ao saírem do táxi riram vendo que o taxista deve ter imaginado que eram fãs fanáticas. Talvez fossem, mas não era igual as outras naquela noite. Ana e Cler tinham várias coisas em comum, como por exemplo, o fato de não gostarem de conjunto de pessoas, lugares públicos, por isso sempre que precisavam sair, juntavam uma quantidade de dinheiro e pagavam um táxi, ao invés de pegar um ônibus. Ana era sempre animada e estilosa. Sempre com lenços, roupas detalhadas e acessórios. Nessa noite especial usou o seu conjunto de roupas favorito e acrescentou uma boina preta que a deixava com ar elegante. Cler era simples, mas ousada. Gostava de mini-vestidos, mini-saias, mini-blusas, mas sabia como usá-las sem ser vulgar. Como naquela noite estava fazendo muito frio, ambas usavam calças jeans. Cler uma blusa de moletom preto e Ana uma blusa de couro acompanhada com um cachecol listrado.
  Entraram no camarim no mesmo instante que os astros.
  - Vocês são? – Perguntou Lucas, o guitarrista.
  Ana olhou para Cler e percebeu que ela estava corada e deu o primeiro passo.
  - Eu sou a consultora de moda Ana Julia, e ela é a maquiadora Claire.
  Lucas soltou um sorriso malicioso para Ana que fingiu não perceber. Ouvi dizer que eles não gostam muito de fanatismo, comentou Cler antes de saírem de casa, Ana não ia dar uma de fã fanática, queria impressioná-los.
  O camarim estava quente. Ana e Cler tiraram as blusas. Cler revelou um leve decote formando um “V” perfeito. Ana estava com uma blusa que ela mesma havia customizado.
  Cler fez a maquiagem em quase todos os integrantes, enquanto Ana escolhia as roupas. Eles diziam que transpiravam muito no palco, isso facilitava ou dificultada de pessoa para pessoa. Faltava a maquiagem de Gabriel, o vocalista. Gabriel e Lucas eram irmãos gêmeos excêntricos, usavam roupas justas e já estavam vestidos para o show. Usava uma blusa fina de manga longa. Ele já estava com o cabelo arrumado também. Arrepiado e preto, tradicional de Gabriel Knight. Ele se deitou e antes que Cler se aproximasse para passar o pó ele segurou a mão dela.
  - Hã... Eu gostaria que você desse cor ao meu rosto, eu sou muito pálido – ele disse com ar estúpido.
  - Pode deixar que eu sei fazer o meu trabalho – ela disse relutante.
  Ana sabia o estilo de cada um, e avaliando as roupas que haviam no camarim, deixou-os satisfeitos. Lucas foi o que pareceu mais satisfeitos com as roupas escolhidas.
  - Você é incrível, Ana!
  Ana o admirou por um momento.
  - Tenho que concordar, ficou ótimo!
  Um homem baixo e calvo, com óculos grossos bateu na porta do camarim e anunciou que entrariam em vinte minutos.
  Uma loura de pele morena e roupas justas entrou no camarim, alvoroçada, ia em direção de Lucas.
  - Querido! Vim te desejar sorte... – ela o agarrava e o beijava, parecia desesperada – você não sabe o que passei pra entrar e...
  - Não viu que estou ocupado? – Lucas respondeu com demasiada estupidez.
  - Mas... – os olhos da moça se encheram de lágrimas.
  - Quer saber? Suma da minha vida!
  A moça saiu chorando e todos do camarim se viraram horrorizados. Gabriel continuou indiferente, só balançou a cabeça e se virou para que Cler voltasse a fazer a maquiagem.
  Ana o fitou incrédula por alguns instantes. Ele realmente não se importava. Então era verdade, ele é mulherengo, pensaram Ana e Cler.
  - Desculpe – ele disse passando a mão pelos cabelos – eu não gosto dessas meninas que vem atrás de mim pela fama.
  - Tudo bem – Ana disse atordoada sem entender porque ele estava dando explicações.
  Cler não entendia porque Gabriel não gostava da cor da pele. Combinava com os cabelos pretos e os olhos também pretos.
  - Terminei – ela disse timidamente se afastando.
  Gabriel se olhou no espelho e passou a mão pelo rosto avaliando o resultado. Cler estremecia a cada movimento dele. Até que ele soltou um leve sorriso:
  - Você é muito boa.
  - Obrigada – Cler disse timidamente, fazendo reverencia.
  - Sem reverências, sim? – ele disse enquanto Cler erguia os olhos castanhos claro.
  Gabriel de maquiagem com certeza ficava mais bonito do que qualquer outra menina que Cler já havia maquiado. Ela sorriu para si mesma contente com o serviço.
  Todos os integrantes se sentaram no sofá de couro branco. Lucas era o mais espaçoso. Esticava os braços e as pernas sem pensar nos demais. Arthur o baterista sentou no braço do sofá. O homem calvo voltou e eles tinham que ir. Ana e Cler foram atrás. A entrada deles foi deslumbrante. O palco ficou escuro e conforme eles iam se posicionando fogos de diferentes cores iam iluminando o palco.
  No fim do show, os gêmeos conversaram num canto reservado.
  - Eu quero a Ana – disse Lucas – eu não sou bom com roupas – ele acrescentou rapidamente.
  - Não comece de novo Lucas!
  - E você fica com a amiga dela, a Claire, não tava precisando de uma maquiadora em tempo integral?
  - Sim, mas eu não sei...
  - Vamos ficar com elas – disse Lucas rapidamente vendo que elas estavam indo embora – Esperem!
  Elas se viraram. Já haviam recebido, não havia mais nada a fazer e estava exaustas, e reconheciam que o sonho acabou.
  - Sim? – disse Ana.
  - Queremos contratá-las! – Disse Gabriel carismático.
  - Exatamente! Pagaremos um preço justo – acrescentou Lucas.
  Ana pensou por um instante. A única coisa que fazia era ficar em casa. Ainda morava com os pais. Pelo menos teria algo para fazer e com certeza não faria muito e estaria recebendo por isso.
  - Eu topo – ela disse empolgada – e você Cler?
  Cler estava na mesma situação que Ana. Só que fazia mais bicos.
  - Eu também – Ela respondeu animada também.

Capítulo 2

  Quase todas as noites eles iam para algum lugar não muito público como restaurantes, praças, cinemas e ligavam para as meninas. Um nunca saía sem o outro. Gabriel e Lucas eram inseparáveis aos olhos de Cler e Ana. Isso as tornava mais unidas. Elas se consideravam irmãs. Fazia duas semanas que elas estavam trabalhando para eles. Mesmo juntos, eles iam em carros diferentes. Os carros eram mustangs, um preto e outro branco. Vez por outra eles trocavam, mas Lucas gostava mais do Preto.
  Cler e Gabriel estavam entrando no restaurante fast-food enquanto Lucas e Ana estacionavam o carro. Quando Ana ia abrir o carro, Lucas disse hesitante:
  - Espera!
  Aquele “espera” trouxe a lembrança do “esperem!” que ele disse antes de contratá-la. Ela se virou sorridente e quando abriu a boca para falar Lucas a beijou.
  Na porta do restaurante Cler e Gabriel esperavam os dois. Ela observava-o discretamente, ele olhava pelo vidro quando finalmente disse pesarosamente:
  - Vamos comendo, vão demorar.
  Cler entendeu o que estava acontecendo e foi atrás de Gabriel. Estava cheia de dúvidas, mas tinha medo de perguntar. Tinha inveja da agilidade de Ana na frente das pessoas.
  Pediram hambúrgueres. Se sentaram numa mesa no canto do restaurante e Gabriel fitava o seu reflexo no vidro. Enquanto Cler procurava não tirar os olhos da comida para parecer indiferente.
  Quando terminaram de comer Cler perguntou com os olhos baixos:
  - Você está com ciúmes?
  Ele soltou uma risada.
  - Ninguém nunca me perguntou isso – ele se virou para ela e a fitou nos olhos – talvez eu realmente esteja com ciúmes – ele apoiou o rosto com os cotovelos – mas também penso na Ana.
  - Ele vai machucá-la? – Cler estava com medo da resposta.
  - Talvez, isso depende da vulnerabilidade dela – ele revirou os olhos.
  Cler estremeceu. Sabia que mesmo firme e agil Ana era tão vulnerável como qualquer outra pessoa. Ela baixou os olhos.
  Os dois apareceram. O batom vermelho de Ana havia sumido.
  - Tivemos um contratempo – disse Lucas calmo.
  - Vamos para uma mesa maior - disse Gabriel mudando de assunto.
  Na frente da casa de Cler o carro de Gabriel se destacava em demasiado comparado aos carros fúnebres que haviam por perto. Gabriel segurou a mão de Cler antes que ela saísse do carro.
  - Cler... Hã... Eu gosto de você – ele baixou os olhos – conversa comigo.
  Cler parou e voltou ao banco e tentou sorrir.
   - Sobre o que quer falar? – Ela se encolheu no banco.
  - Você gosta de chocolate quente? – ele perguntou aleatoriamente.
  - Só do europeu.
  - Você também? Nossa! Eu já tentei fazer, mas nunca dá certo.
  - Eu sei fazer, peguei a receita na internet...
  Cler entendeu que Gabriel era solitário. Apesar de ter o irmão, precisava de outra opinião além da dele.
  Os dois casais chegaram tarde a casa.
  - A Ana é demais! – disse Lucas empolgado.
  Gabriel deu um sorriso torto e continuou a caminhar pela casa em direção a cozinha. Lucas ia atrás. Pararam com cada um de um lado do balcão.
  - Como vai com a Cler? – Perguntou Lucas com ar malicioso.
  - Como assim? – Lucas entendeu que ele queria encerrar o assunto e pelo mesmo motivo ia persistir.
  - Ela tá na sua, e você tá na dela, não tá? – Ele deitou o braço no balcão da cozinha e deitou a cabeça por cima.
  - Talvez – respondeu Gabriel calmamente.
  - Talvez você devesse fazer as coisas acontecerem! – explodiu Lucas batendo o punho no balcão.
  - Talvez você devesse deixar as coisas acontecerem! – disse Gabriel também batendo no balcão.
  Eles se fitaram por um longo instante. Um compreendia o outro, como se eles soubessem o que cada um estava sentindo. Eles trocaram um sorriso e se abraçaram.
  - Eu aprendi a fazer o chocolate quente europeu, que tal?
  No dia seguinte, Cler foi tomar café junto de Ana. Elas estavam diferentes. Cler estava mais arrumada que o normal. De manhã, Ana procurava usar tons claros, ela dizia que tons fortes pela manhã deixavam o dia pesado. Ela estava com uma expressão atenta. Cler não perguntou nada. Conversaram normalmente de coisas aleatórias ou do que fariam o resto do dia até que ficaram em silencio por um longo segundo:
  - Cler... – ela baixou os olhos acinzentados porque estavam marejados – eu estou apaixonada por ele!
  Cler chorou junto da amiga. Sabiam o que aconteceria. Cler torcia pra que isso não acontecesse, mas o destino era inevitável. No final da tarde o celular de Cler tocou, era Gabriel.
  - Vai ter um show amanhã, o que acha? – ele disse empolgado.
  - Seria ótimo. Vou ver com a Ana, ela pegou friagem ontem e tá um pouquinho doente – ela disse piscando para Ana.
  - E eu vou ao shopping, poderia vim? – eles se observavam no espelho, estava diferente, estava mais corado.
  - Tudo bem, mas Ana vai ficar.
  - Tudo bem, eu acho que Lucas também não vai. Só não gosto de ir sozinho. Acredita que Arthur foi viajar e só volta nessa madrugada? Vai estar acabado para o show.
  Ele desligou.
  - Pode ir – disse Ana.
  Cler observou Ana por um instante, não sabia com quem ficava. Ana estava com os olhos inchados. Decidiu que ficaria com Ana. Ligou de volta para Gabriel.
  - Sim? – ele atendeu.
  - Acho que não vou poder ir...
  - Por quê? – Perguntou Gabriel antes que Cler se explicasse.
  - Problemas pessoais, eu...
  - Alguém morreu? – ele perguntou com ar de falsa preocupação.
  - Não, mas...
  - Quero você aqui – Gabriel disse frio, parecia outra pessoa, parecia o irmão na noite do show – eu te pago para que?
  - Entendo – ela disse tentando parecer fria.
  Cler desligou. Sentiu uma súbita raiva de ver o quanto ele era egoísta. Gabriel via que tivera feito uma bobagem. Olhou pela fresta da porta e viu o irmão bem relaxado deitado no sofá sem culpa alguma. Gabriel foi beber água.
  - Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Lucas sem tirar os olhos da TV.
  - Ana está apaixonada por você.
  Lucas desligou a TV e se levantou rapidamente.
  - Mas... – Gabriel não conseguiu decifrar a expressão no rosto de Lucas – Onde ela está agora?
  - Provavelmente em casa, chorando – ele nunca tivera se preocupado com isso depois da primeira noite.
  - Isso é péssimo – ele disse tirando a camisa e indo em direção ao banheiro – ela precisa ser consolAna não entendia ao certo porque chorava. Ela já estava velando o assassinato de seus sentimentos a pouco despertados? Ela se sentia a pessoa mais dramática. Mas decidiu que tinha que continuar a viver. Tomou banho e quando saiu de toalha do banheiro e foi fechar a cortina do quarto viu que ele a esperava encostado no carro preto. Ela desceu as escadas correndo e o fitou sem reação na porta. Era a primeira vez que realmente não imaginava o que fazer ou dizer. Ele a beijou. Ana ficou contente por saber que os pais tinham ido fazer uma segunda lua de mel e só voltariam dali a três dias. O celular começou a tocar, o toque era de Cler. Lucas começou a conduzi-la para o quarto, até que chegaram perto do celular. Lucas o atendeu:
  - Ela não pode falar agora...
  Cler reconheceu a voz imediatamente e desligou incrédula.
  - Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Gabriel atenciosamente percebendo o quão pálida estava Cler.
  - Hã... Não. Está tudo bem.
  Gabriel podia imaginar o que tivera acontecido. Conhecia o irmão, mesmo ele sendo imprevisível.  
  - Quantos namorados já teve? - Perguntou Gabriel enquanto dirigia para o shopping.
  - Poucos. Daria para contar nos dedos – Cler estava com raiva dele e do irmão e queria que ele percebesse isso o mais rápido possível – não sou como você e seu irmão, que nem uma calculadora conseguiria contar.
  - Eu gosto de você Cler, não quero que fique com raiva de mim – ele não desviava os olhos da estrada, vez por outra olhava para o retrovisor – e eu tive menos de cinco namoradas se isso te acalma. O único mulherengo é o Lucas, e eu não posso fazer nada enquanto a isso – de repente, Gabriel estava se concentrando mais no retrovisor – estamos sendo seguidos – ele disse sombrio.
  Nesse instante começou a chover.
  Lucas acomodou Ana nos braços e acariciava os seus longos cabelos que lhe escorriam por todo o corpo. Observavam a imagem destorcida que os pingos da chuva faziam na janela. Não tinham nada a dizer. Eram amantes, e não amigos.
  Cler não entendia o motivo de se esconderem já que eram apenas amigos. Talvez ele não a visse como amiga, sentiu-se um pouco alegre em supor isso. Gabriel dirigiu em alta velocidade até uma rua deserta e escondeu o carro num beco. Eles saíram do carro e foram caminhando até uma varanda coberta de uma casa abandonada que havia na frente do beco.
  Gabriel se virou para Cler e a viu estremecer com o vento e os pingos gelados. Tirou a jaqueta grossa de veludo e jogou sobre ela.
  - Obrigada... – talvez aquela fosse à hora de perguntar – Por que estamos nos escondendo?
  - Hã... Eu não quero te expor – ele revirou os olhos e estremeceu. O cabelo arrepiado já estava murcho e a maquiagem ainda estava quase impecável – eu nunca tive uma amiga tão próxima assim.
  Ele me vê como amiga, concluiu Cler.
  - Eu pensei que você estivesse... – ela não disse o fim da frase.
  - Eu o quê? – Ele sentou no chão da varanda.
  - Poderia estar com vergonha – a voz dela era quase um sussurro inaudível. Ela se sentou ao lado dele e abraçou as pernas.
  - Claro que não!
  Ele a fitou por um longo segundo, a viu tão vulnerável, delicada. Ela usava um cachecol branco de lã com uma blusa decotada preta e uma calça jeans clara com um tênis All Star branco. Pegou um pedaço do cachecol dela e passou pelo seu pelo seu pescoço e a abraçou tentando pegar o calor do corpo dela.
  - Você está tão... Frio – ela comentou sentindo os braços longos dele envolvendo-a. Sentiu-se culpada por não estar quente e poder aquecê-lo.
  - Eu fiz o chocolate quente da forma que você disse, e deu certo! – ele comentou sorridente.
  Gabriel estava batendo o queixo. Cler sentia-se a menor criatura do mundo perto dele. Tinha aproximadamente 1,70 m e ele tinha quase 1,90. Ela tinha a impressão que o Gabriel que foi estúpido com ela mais cedo não existia, e aquele que dividia a visão do albor com ela era o verdadeiro e sensível Gabriel, o que ganhou fama com as suas musicas que contagiam e sua voz que emociona.
  Ele se soltou dela.
  - Ah não! – Ele exclamou com a mão tapando o nariz e a boca.
  - Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Cler tentando parecer calma.
  - O frio... – ele tirou a mão do rosto.
  O nariz de Gabriel estava sangrando. A pele branca dele dava um contraste enorme com o sangue. Ele instantaneamente tirou um lenço branco estampado de um dos bolsos da calça e tentava reter o sangramento.
  - É normal... – ele comentou com os olhos baixos.

Capítulo 3

  Ana não entendia ao certo porque chorava. Ela já estava velando o assassinato de seus sentimentos a pouco despertados? Ela se sentia a pessoa mais dramática. Mas decidiu que tinha que continuar a viver. Tomou banho e quando saiu de toalha do banheiro e foi fechar a cortina do quarto viu que ele a esperava encostado no carro preto. Ela desceu as escadas correndo e o fitou sem reação na porta. Era a primeira vez que realmente não imaginava o que fazer ou dizer. Ele a beijou. Ana ficou contente por saber que os pais tinham ido fazer uma segunda lua de mel e só voltariam dali a três dias. O celular começou a tocar, o toque era de Cler. Lucas começou a conduzi-la para o quarto, até que chegaram perto do celular. Lucas o atendeu:
  - Ela não pode falar agora...
  Cler reconheceu a voz imediatamente e desligou incrédula.
  - Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Gabriel atenciosamente percebendo o quão pálida estava Cler.
  - Hã... Não. Está tudo bem.
  Gabriel podia imaginar o que tivera acontecido. Conhecia o irmão, mesmo ele sendo imprevisível.  
  - Quantos namorados já teve? - Perguntou Gabriel enquanto dirigia para o shopping.
  - Poucos. Daria para contar nos dedos – Cler estava com raiva dele e do irmão e queria que ele percebesse isso o mais rápido possível – não sou como você e seu irmão, que nem uma calculadora conseguiria contar.
  - Eu gosto de você Cler, não quero que fique com raiva de mim – ele não desviava os olhos da estrada, vez por outra olhava para o retrovisor – e eu tive menos de cinco namoradas se isso te acalma. O único mulherengo é o Lucas, e eu não posso fazer nada enquanto a isso – de repente, Gabriel estava se concentrando mais no retrovisor – estamos sendo seguidos – ele disse sombrio.
  Nesse instante começou a chover.
  Lucas acomodou Ana nos braços e acariciava os seus longos cabelos que lhe escorriam por todo o corpo. Observavam a imagem destorcida que os pingos da chuva faziam na janela. Não tinham nada a dizer. Eram amantes, e não amigos.
  Cler não entendia o motivo de se esconderem já que eram apenas amigos. Talvez ele não a visse como amiga, sentiu-se um pouco alegre em supor isso. Gabriel dirigiu em alta velocidade até uma rua deserta e escondeu o carro num beco. Eles saíram do carro e foram caminhando até uma varanda coberta de uma casa abandonada que havia na frente do beco.
  Gabriel se virou para Cler e a viu estremecer com o vento e os pingos gelados. Tirou a jaqueta grossa de veludo e jogou sobre ela.
  - Obrigada... – talvez aquela fosse à hora de perguntar – Por que estamos nos escondendo?
  - Hã... Eu não quero te expor – ele revirou os olhos e estremeceu. O cabelo arrepiado já estava murcho e a maquiagem ainda estava quase impecável – eu nunca tive uma amiga tão próxima assim.
  Ele me vê como amiga, concluiu Cler.
  - Eu pensei que você estivesse... – ela não disse o fim da frase.
  - Eu o quê? – Ele sentou no chão da varanda.
  - Poderia estar com vergonha – a voz dela era quase um sussurro inaudível. Ela se sentou ao lado dele e abraçou as pernas.
  - Claro que não!
  Ele a fitou por um longo segundo, a viu tão vulnerável, delicada. Ela usava um cachecol branco de lã com uma blusa decotada preta e uma calça jeans clara com um tênis All Star branco. Pegou um pedaço do cachecol dela e passou pelo seu pelo seu pescoço e a abraçou tentando pegar o calor do corpo dela.
  - Você está tão... Frio – ela comentou sentindo os braços longos dele envolvendo-a. Sentiu-se culpada por não estar quente e poder aquecê-lo.
  - Eu fiz o chocolate quente da forma que você disse, e deu certo! – ele comentou sorridente.
  Gabriel estava batendo o queixo. Cler sentia-se a menor criatura do mundo perto dele. Tinha aproximadamente 1,70 m e ele tinha quase 1,90. Ela tinha a impressão que o Gabriel que foi estúpido com ela mais cedo não existia, e aquele que dividia a visão do albor com ela era o verdadeiro e sensível Gabriel, o que ganhou fama com as suas musicas que contagiam e sua voz que emociona.
  Ele se soltou dela.
  - Ah não! – Ele exclamou com a mão tapando o nariz e a boca.
  - Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Cler tentando parecer calma.
  - O frio... – ele tirou a mão do rosto.
  O nariz de Gabriel estava sangrando. A pele branca dele dava um contraste enorme com o sangue. Ele instantaneamente tirou um lenço branco estampado de um dos bolsos da calça e tentava reter o sangramento.
  - É normal... – ele comentou com os olhos baixos.

Capítulo 4

  Ana e Lucas passaram a noite juntos. Ana cozinhou para ele e ele ajudou a organizar a louça. Percebeu que ele não era tão esnobe. Mas tinha um jeito tímido, talvez estivesse acanhado de estar na casa dela, concluiu Ana.
  - Obrigada – ela disse sorridente depois de terminarem de lavar a louça.
  - Você cozinha muito bem.
  Ela deu um sorriso radiante. Nunca ninguém além de Cler havia elogiado a comida dela. Sentiu-se orgulhosa. Pensou no que Cler estaria fazendo, se Gabriel estava sendo estúpido com ela. Lucas gostava de ver as expressões de Ana e tentar decifrar o que ela estava pensando. Ela era a garota menos previsível que ele conhecia, mas de alguma forma ela era previsível para Gabriel. Não gostava de ser muito diferente do irmão, mas era inevitável. Ele tirou um maço de cigarros do bolso. Evitava de fumar perto do irmão, já que ele tinha asma e principalmente odiava o cheiro do cigarro preto que Lucas mais fumava.
  Ana o viu fumando e entendeu porque ele tinha aquele cheiro suave que viciava e com certeza não era um perfume. Queria decifrá-lo, mas não queria ser decifrada. Tinha medo de acordar na manhã seguinte e nunca mais o ver, queria guardar a imagem dele para sempre. Ela poderia sofrer depois, mas teria os bons momentos para lembrar.
  - Por que você e Gabriel formaram uma banda? – Perguntou Ana descontraída.
  - Na verdade tudo começou com um problema de Gabriel – ele afundou o cigarro num cinzeiro improvisado – Ele é muito ansioso e isso acaba fazendo mal pra ele. Teve uma época que ele emagreceu doze quilos. E pra ele isso é muito. Internaram-no.
  O olhar de Lucas estava distante.
  - Na verdade, sabe por que quero sempre estar com ele? – Ele se virou para mim com uma expressão de “tente adivinhar”.
  Ana se lembrou de Cler chorando junto com ela. Sorriu para si mesma imaginando o que Cler deveria ter pensado naquele momento:
  - Porque você acha que por mais forte que ele seja, a qualquer momento ele pode cair e se você não estiver perto ele pode não levantar. É isso?
   Ele deixou a expressão surpresa transparecer. Ela me compreende, ele disse relutante. Gostava de não ser compreendido pelas garotas, na verdade era considerado misterioso em partes. Soltou um suspiro e disse:
  - É isso mesmo, a solução dele foi a música, ele tocava piano. Eu decidi formar uma banda quando descobrimos a voz dele. Acho que se não fosse isso, ele estaria raquítico agora – ele explicava orgulhoso – eu sinto culpa por ele ser tão frágil e eu não.
  Ana o abraçou por trás e sentiu a barriga rígida dele. Lucas achava as mãos de Ana tão atraentes, os dedos finos e as unhas grandes e bem feitas. Sem querer ela dava-lhe leves arranhadas e isso o excitava.
  - Desculpe por hoje – disse Gabriel pesarosamente enquanto parava o carro na frente da casa de Cler.
  - Não se preocupe, acontece – disse Cler atenciosa e entregando-lhe a blusa.
  Ao sair do carro, percebia que ele não ia embora. Na verdade ficava fitando-a pegar a chave e abrir a porta. Ela se voltou para ele.
  - Aconteceu alguma coisa?
  - Nada, na verdade estou sem motivação para voltar hoje. Lucas não vai voltar tão cedo – ele disse olhando para a casa.
  - Quer entrar? Meu pai vai trabalhar as 21hrs.
  - Tudo bem.
  Eram aproximadamente 20hrs. O pai de Cler não se parecia com ela. Era alto, calvo e gordo. O nariz era o mesmo que o dela.
  - Pai, esse daqui é Gabriel Knight. Gabriel, esse é Andrew – apresentou Cler com preocupação, sabia que o pai ia querer saber o sobrenome já que achava que conhecia todas as famílias da cidade.
  - Boa noite seu Andrew – ele disse fazendo reverência.
  Rapidamente viu que o pai estranhou o garoto de maquiagem, mas simpatizou.
  - Boa noite – disse o pai de volta.
  Ao irem para a cozinha, Andrew se voltou completamente para a TV. No mesmo instante a TV disse:
  O roqueiro Gabriel Knight vocalista da banda BlackStars e seu irmão gêmeo Lucas Knight o guitarrista, foram vistos varias vezes em restaurantes fast-food e shoppings diversos varias vezes com as mesmas garotas. Serão as namoradas da vez? Vão deixar muitas fãs decepcionadas?
  Andrew mudou de canal, sabia que eles não sabiam de nada. Sabia quem era Gabriel e Lucas Knight e sentiu-se aliviado pela filha estar envolvida com Gabriel e não Lucas.
  - O que você quer? – Perguntou Cler enquanto lavava as mãos.
  - O que mais você sabe fazer além de chocolate? – ele perguntou mexendo num enfeite de fruta.
  - Gosta de brigadeiro?
  - Claro!

Capítulo 5

  Arthur dirigia descontroladamente o seu conversível, novamente. Era mais um dos rachas semanais.
  Eram quatro horas da madrugada. O celular de Lucas tocou inúmeras vezes, até que ele finalmente atendeu:
  - O que?
  Era Gabriel.
  - Você ta aonde? Aconteceu alguma coisa com você? – Lucas perguntava desesperado. Ele sentou na cama e soltou um suspiro de alivio: - Ta, eu estou indo.
  - Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Ana.
  - Arthur bateu o carro – Lucas estava sombrio.
  - E agora?
  - Temos um show hoje em São Paulo, e agora? – ele perguntou enquanto se vestia.
  Ana olhou para uma das fotos na mesa do computador e não sabia se dizia ou não.
  - Eu tenho um amigo que é muito fã do BlackStars, ele sabe tocar as principais musicas. Qualquer coisa...
  - Fale para ele entrar em contato comigo, sim?
  Ele terminou de se vestir, colocou o celular no bolso e saiu às pressas, Ana nem pode responder. Esperaria amanhecer ligaria para ele. Ana e Cler tentaram voltar a dormi, mas não conseguiram. Quando começou a amanhecer Cler ligou para Ana.
  - Você soube sobre Arthur? – perguntaram no mesmo instante.
  - Ah sim, mas eu acho que seria uma boa idéia... – Cler começou a falar.
  - Chamar Ashton – completou Ana – mas será que ele vai querer me ver novamente, depois de tudo que eu fiz?
  - Talvez ele não voltasse a falar com você, mas tocaria para o BlackStars.
  - Tem razão.
  Elas desligaram e Ana ligou para Ashton.
  - Ana? – Ashton tivera ido dormir a aproximadamente duas horas. Estava exausto e com uma ressaca insuportável – o que você quer? Sabe que horas são? E eu... – Ele parou de falar, olhou ao seu redor, mas não via nada. – Ta falando sério? Farei isso por você – ele disse com ironia.
  Não faria por Ana e sim por si mesmo. Poderia ganhar algum dinheiro com musica. Era quase um sonho realizado. Adorou Ana por um instante.
  Marcaram uma reunião no estúdio com Ashton. Concluíram que mesmo que ele não fosse bom o suficiente, ele teria que se encaixar, tinham menos de 12h para achar um novo baterista. Aliás, o show era dentro de seis horas.
  Surpreenderam-se com a habilidade dele. Michel, o baixista, e o mais difícil de convencer, o aplaudiu. Ele não tocava as musicas mais populares, e sim as mais difíceis, tornando as outras fáceis.
  Arthur ia ficar hospitalizado por uma semana. Só tivera tido leves cortes. Mas a traseira do conversível nunca mais seria a mesma.
  Os integrantes ficaram imaginando como Ashton viria para o show. Ana conseguia imaginar. Quando Ashton entrou no camarim, estavam só Ana e Lucas num canto. Ele soltou uma tosse para chamar atenção dos dois que não viam mais nada além deles mesmos.
  Eles se viraram e tomaram posição. Limparam o batom borrado e Lucas o cumprimentou. Ashton cumprimentou Ana de longe, ainda tinha um pouco de receio em relação a ela.
  - Cadê os outros? – Perguntou Ashton sentando-se no sofá e acendendo um cigarro preto.
  - Michel foi comprar cigarros e Gabriel ainda não chegou. Ele prefere vim com o cabelo já arrumado – Lucas revirou os olhos.
  Gabriel chegou vinte minutos depois. Michel, Ashton e Lucas estavam fumando. Todos pararam, menos Ashton que não entendeu o motivo. Michel fez sinal para ele parar. Ele colocou a roupa que Ana tivera lhe dito para usar e saiu do camarim para fumar.
  Gabriel estava usando muitos acessórios, correntes, anéis e braceletes. Ana decidiu que não precisava de mais nada. Mas como ele não dançava e não fazia muitas coisas no palco, colocou uma cartola nele. Pelo menos poderia fazer alguma coisa com a cartola. Estava começando a esquentar. Foi fácil escolher as roupas. Lucas usou uma regata e uma calça preta meio larga. Michel usava qualquer roupa que Ana dissesse que ficaria boa. Não se importava muito. Gabriel era sempre o ultimo a ser maquiado.
  O show foi admirável como sempre. E com certeza repararam no novo baterista. No fim comemoraram com um champanha. Lucas serviu uma taça para cada um e tomou na garrafa.
  Antes de ir embora Ana foi falar com Ashton.
  - Desculpe se fui preconceituosa – ela olhou para o chão – é que você também se apaixonou pela pessoa errada.
  - Tudo bem – ele sorriu – eu não sabia que você gostava dele.
  Ela o abraçou.
  - Qual é a sua com o Lucas? – Ele cochichou no ouvido dela e no mesmo instante ela se desprendeu.
  - Nada, só aconteceu – Ashton via que ela estava perdida.
  - Pra ele eu não sei, mas pra você não aconteceu simplesmente.
  - Eu nem sei como começou – ela estava de olhos baixos.
  Os outros integrantes vieram atrás deles. Cada um foi com o seu acompanhante de sempre e Ashton foi com Michel.
  - Parece que finalmente aquele maldito paparazzi desistiu – comentou Gabriel com Cler – quer conhecer a minha mãe?
  Cler foi pega de surpresa. Já estava tarde. Ainda não tinha nada com ele, mas se perguntava haveria algum mal conhecer a mãe dele.
  O apartamento dele era a cobertura, a mãe morava no andar de baixo. Ele dividia o apartamento com o irmão. O quarto de Gabriel era um exemplo de organização. Cler nem acreditava.
  O apartamento da mãe dele era bem familiar, enquanto o dele era moderno.
  - Quem é ela? – Perguntou simpaticamente quando abriu a porta.
  - É aquela amiga que comentei com você, a Claire – ele entrou e puxou Cler pela mão.
  - Cler? Isso? – Ela perguntou atenciosa. – Eu sou Sandy.
  Gabriel e ela eram idênticos.
  - Hã... Oi – disse Cler desajeitada.
  - Ah! – Exclamou Sandy com os olhos brilhando – ela é uma graça!
  Gabriel falava bastante de Cler para a Sandy. E Sandy comentou tudo com Cler, deixando Gabriel corado a cada cinco minutos. Conversaram até umas 2h da madrugada e Cler ia dormir no apartamento de Gabriel.
  Os dois deitaram juntos na cama, exaustos.
  - Gabriel... – ele se apoiou por um dos braços e a observou. Cler se perdeu nas palavras e resolveu falar sobre Ana – Eu... Hã... Estou preocupada com Ana, Lucas anda saindo com muitas garotas?
  - Ana ainda está em primeiro lugar, relaxa.
  Aquilo não foi um não. Talvez Lucas saísse com outras garotas às vezes. Cler estremeceu só de imaginar. Ela se sentou na cama e ficou de costas para Gabriel, não queria ver a reação dele quando ela o dissesse:
  - Eu te amo – ela disse num sussurro quase inaudível.
  Ele se levantou e a deitou. Apoiou-se pelos braços ficando em cima dela. Cler tapou o rosto com as duas mãos.
  - O que você quer? – Ele perguntou suavemente.
  - Eu não sei, mas eu gosto de você... De verdade. Eu pensei que você também gostava de mim e fiquei esperando você dizer alguma coisa, mas você nunca dizia nada e se eu não dissesse não dormiria hoje e se você não quiser pode ser só amizade, por favor! – ela falava rapidamente e estava com os olhos marejados. Sentia-se uma colegial apaixonada se declarando.
  Gabriel tirou as mãos dela deu-lhe um beijo suave.

Capítulo 6

  Bianca Lorenzo, loira de olhos castanhos esverdeados, - usava lente na maior parte do dia. Era irmã postiça dos gêmeos Knight. Estava fazendo uma viajem pela Europa. Tivera morado por vários meses na Dinamarca, Alemanha, Itália, França e na Suíça, criando assim um sotaque estranho.
  Era esguia. Tivera posto silicone com o melhor cirurgião da Alemanha. Adorava a idéia de ter um pai rico e não precisar trabalhar. Estava voltando para rever o pai que não via fazia dois anos. Odiava a madrasta e os dois filhos gêmeos. Sentiu os dentes rangerem quando viu a madrasta novamente. Não tivera visto os gêmeos ainda, e sentia-se ótima por isso. Lembrava que eles eram duas pestes, iguais.
  O pai de Bianca, Paul Lorenzo, era empresário do BlackStars. Bianca sempre transparecia a melhor filha do mundo, se não podia perder uma parte da gorda mesada.
  - Você ainda não viu os dois desde que chegou? – Perguntou Paul a Bianca.
  - Não – ela tentou transparecer decepção.
  - Eu vou vê-los agora, quer ir comigo?
  - Adoraria.
  Eles subiram as escadas e Bianca nem acreditou quão perto eles moravam. Paul tinha a chave do apartamento, devia ser ele que pagava. Ela se surpreendeu ao ver que era uma cobertura.
  Estavam toda a turma sentada no sofá de doze lugares, alguns estavam no chão. Estavam assistindo algum filme, parecia ser Romeu e Julieta. Havia três vasilhas de pipocas lá. Ana estava abraçada com Lucas e Cler com Gabriel. Michel e Ashton estavam no chão, sentados no tapete felpudo.
  - Lembram da Bianca pessoal? – Perguntou Paul.
  Michel, Lucas e Gabriel acenaram para ela e se voltaram para a TV. Bianca sentiu uma pontada de inveja, Gabriel não estava concentrado no filme e sim em Cler. O rosto infantil de um garoto de dezesseis anos tivera desaparecido – estava mais que na hora, ele já tinha dezenove. Bianca se virou para Lucas e teve a mesma sensação. Agora não eram tão iguais. O cabelo era inconfundível, o cabelo longo e preto de Gabriel jamais seria confundido com o curto e estiloso de Lucas. Michel continuava o mesmo, com um olhar frio e distante. As garotas eram bonitas, mas ela era mais.
  Bianca simpatizou com Ashton, ele devia ser o mais novo dali. Tinha um ar jovial e feições perfeitas. Usava uma touca cinza e estava com um maço de cigarros pretos na mão.
  Bianca foi para a varanda e se apoiou olhando para os carros lá em baixo. Percebeu Ashton no outro canto fumando e se aproximou:
  - Desculpe, mas eu não te conheço.
  - Ashton – ele disse indiferente.
  - Quem são elas? – Bianca perguntou tentando ser indiferente.
  - Ana Julia e Claire, consultora de moda e maquiadora da banda.
  Bianca sentiu mais raiva ainda. Elas não eram ricas, mas o que estavam fazendo ali? Pelo que o pai dizia a banda deles estava progredindo. Ela seria a mulher do baterista e do guitarrista. Estava determinada.
  Ana estava vivendo um terror. Tinha medo de sair de perto de Lucas e ele a tratar como tratou a loira do show. Tinha medo de quando alguma menina bonita passava na rua. Queria que ele só tivesse olhos para ela. Ela pertencia a ele. Antes de dormir, Ana cantava bem baixinho para si mesma alguma musica do BlackStars.
  Cler estava contente. As coisas iam como ela sempre quis. Ela e Gabriel tinham quase as mesmas ambições.
  Arthur sairia do hospital no dia seguinte. Teriam um show. Arthur ainda não ia poder tocar porque estava com a mão enfaixada. Tivera odiado ser substituído, sentiu-se desnecessário na banda. O único que o consolava nesse sentido era Gabriel, mesmo assim se sentia desolado. Nunca tinha visto Ashton.
  No dia em que viu, sua expressão foi de horror:
  - Ele que está me substituindo? – ele perguntou apontando para Ashton com a mão enfaixada.
  - Ele é melhor do que você pensa – comentou Lucas – e tem mais juízo.
  Ashton ficou inexpressivo. Não sabia o que dizer.
  Bianca estava junto. Gabriel e Lucas nunca viram tamanho interesse na banda e neles. Bianca perguntava todo momento se estavam bem. Concluiu que Gabriel seria o mais difícil. Eles tinham uma entrevista. Lucas sempre era o alvo das perguntas mais diretas.
  A repórter era alta e esguia com uma aparência comum e algumas roupas estampadas. As primeiras perguntas foram as de sempre, idade, dia do nascimento e coisas assim.
  - Quem nasceu primeiro? – Perguntou a repórter com precaução. Pensando que poderia criar alguma rivalidade.
  - Eu nasci dezesseis minutos antes – respondeu Gabriel calmamente e Lucas concordou com a cabeça.
  - O que vocês sentem em relação ao outro? – Ela imaginava que eles pensariam para responder.
  - Se não fosse Lucas, eu não superaria nada. Ele sempre esteve ao meu lado. Quando eu estive hospitalizado, ele que me fazia tomar os remédios e comer aquela comida horrível de hospital – disse Gabriel se recostando no sofá.
  Puderam ver a expressão surpresa da repórter.
  - Temos uma ligação sem igual. Sabemos tudo um do outro sem que o outro precise dizer. Gabriel compreende os meus problemas com as mulheres sem eu ao menos dizer – ele se lembrou de quando Gabriel ligou para Cler e descobriu que Ana estava apaixonada por ele.
  Cler observava a entrevista atenciosamente. Ana estava fora do camarim com Ashton.
  - Já que tocou no assunto de garotas – a repórter tirou um celular do bolso – tenho inúmeras perguntas das fãs – os garotos riram. – Isso elas, e eu queremos saber, estão namorando?
  - Não – respondeu Lucas imediatamente.
  - Sim – respondeu Gabriel fitando Cler.
  - Como está sendo Gabriel? Está apaixonado? – Ela queria que ele dissesse se estava amando ou não a menina. Mas concluiu que paixão e amor eram quase sinônimos.
  - Acho que estou sim. Tudo aconteceu de uma forma muito... Inexplicável.
  Cler sorriu para si mesma.
  - Lucas, fizemos uma pesquisa sobre suas antigas namoradas, algumas se queixam de você ser infiel, o que você diz?
  - Não as culpo. Mas não me arrependo. Eu sei que errei, mas todos erram – ele respondeu indiferente.

  - Quantas namoradas vocês já tiveram?   Lucas colocou a mão no rosto.
  - Namoros devo ter tido, no máximo, cinco – disse Gabriel calmo, se virou para Lucas e viu que ele não sabia o que responder – Enquanto a Lucas, parei de contar na número trinta e sete.
  - Trinta e sete? – Repetiu ela incrédula. – Quanto tempo durou seu relacionamento mais longo?
  - Acho que três semanas, se não, um mês.
  Eles riram.
  - Vocês sentem ciúmes um do outro? Tem algum tipo de rivalidade?
  - Não sentimos ciúmes, porque o que sentimos um pelo outro, não sentiremos por nenhuma outra pessoa – disse Lucas. – Rivalidade? Temos as nossas peculiaridades. Gabriel odeia o fato de eu ser melhor que ele em jogos de cartas.
  - Você sempre vai falar sobre esses malditos jogos de cartas? – Perguntou Gabriel empurrando o irmão para fora do sofá – ele não gosta de saber que eu sou melhor em todas as disciplinas escolares.
  - Menos educação física – acrescentou Lucas com ar zombeteiro.
  Gabriel revirou os olhos, irritado. A repórter riu.
  - Outra pergunta das fãs. Vocês acreditam em amor verdadeiro?
  - Claro – respondeu Gabriel radiante.
  - Eu ainda não sei... – Disse Lucas duvidoso – se existe eu nunca o senti.
  Cler sentiu uma pontada de raiva de Lucas.
  Ana estava com Ashton, Bianca e uma ex namorada de Lucas, a loira que tivera entrado no camarim no dia em que se conheceram. Ela não era mais aquela moça bonita e desanimada que entrara no camarim aquele dia, era uma mulher fúnebre com olhos opacos. O nome dela era Ana Paula, para não ficar confuso, chamava-na de Paula. Ashton e Bianca tiveram criado uma pequena amizade e saíram de perto para deixar Ana e Paula avontade.
  - O que houve com você? – Perguntou Ana observando Paula.
  - Ah, como eu o odeio! – ela já havia repetido aquilo antes.
  - Odeia quem? – Perguntou Ana com medo da resposta.
  - Lucas Knight! – Ela disse num sussurro que ecoou na cabeça de Ana.
  - Quanto tempo vocês estavam juntos? – Ela disse tentando não desanimá-la mais.
  - Uma semana e meia.
  Ana sentiu-se culpada por estar com ele há duas semanas e meia.
  Ashton se aproximou.
  - Apresse-se, você ainda nem escolheu as roupas – ele disse indo em direção ao camarim.
  - Você é a moça daquele dia? – Ela perguntou com os olhos marejados.
  Ana fez que sim com a cabeça e virou-se e foi para o camarim. Ela queria chorar, na verdade, precisava chorar, mas aquilo tinha que esperar.
  Mesmo com raiva de Lucas, Cler se impressionava ao ouvi-los falando do amor que tinham um pelo outro. Por isso que Gabriel sempre tinha razão em relação a Lucas. Quando a entrevista terminou, Cler e Gabriel sentaram-se num canto e conversaram sobre coisas banais. Lucas sumiu.
  - Onde está Lucas? – Perguntou Ana para Gabriel ao entrar no camarim.
  - Eu não sei – ele sabia, mas não queria que ela soubesse.
  - Tudo bem, ele deve ter ido fumar – ela concluiu desanimada.
  Ela falou com os outros integrantes e foi à procura de Lucas. O único lugar que não havia procurado era no banheiro. O banheiro do camarim era grande e não havia nenhuma tranca segura. Era misto, mas as meninas usavam outro banheiro que havia no corredor do camarim; isso já havia virado uma regra.
  Ao entrar no banheiro, Ana se deparou com Lucas e Bianca aos beijos. Eles não a perceberam. Ana saiu desesperada. Segurou as lágrimas. Cler sabia que havia algo errado, enquanto Gabriel sabia o que havia de errado.
  Quando o show começou Ana contou tudo a Cler.
  - Vou sumir da vida dele, Cler – ela exclamou entre soluços – nunca mais quero ver o rosto dele – ela se levantou determinada, pegou a bolsa e saiu.
  Cler nunca se sentiu tão sozinha.

Capítulo 7

  Depois de receber o primeiro mês, decidiu que não queria mais ser a empregada dele, ainda mais que agora seriam namorados. E se soubessem que ele paga à namorada? Pensariam que ela algum tipo de prostituta. Ambos já tinham algum tipo de intimidade. Lucas certa vez perguntou de Ana, Gabriel fugiu do assunto; Ana virou um assunto proibido entre eles. Realmente Ana nunca mais viu Lucas. Começou a trabalhar numa revista e se entregou para o trabalho, quase não tinha tempo para Cler. Mesmo trabalhando para uma revista jovem, estava desligada do mundo.
  O trabalho era simples para Ana. Era escolher os looks da semana. Ajudava a vestir os modelos em ensaios fotográficos. Normalmente os fotografados eram os modelos do ano, algumas bandas pop e vezes por outras, atores nacionais e internacionais, sentiu pela primeira vez que seu inglês era útil.
  Cler estava com um relacionamento solido com Gabriel, ela via que era por esse motivo que Ana se afastava. Não sabia o que fazer. Decidiu que deixaria o tempo decidir. Com dois meses de relacionamento, pareciam dois anos. Passavam dias e noites juntos. Às vezes Cler não voltava para casa durante quase uma semana. O tour pela America do Norte estava ficando próximo. Cler estava ansiosa, além de estar fazendo o que gostava, estaria em outro país. Só se lembrava de ter saído do Brasil uma única vez, foi para o México, não lembrava o que foi fazer lá, mas não foi turismo.
  Ashton virou companheiro número um de Bianca. Sabia das intenções dela, mas gostava dela mesmo assim. Arthur voltou a tocar, mas Ashton sempre estava nos bastidores. Ninguém entendia o porquê Ashton estava em todos os shows, no camarim, mas ele estava lá. Na verdade, os únicos que sabiam o motivo eram Arthur e Ashton.
  Numa festa intima na casa de Arthur, Ashton fez questão de embebedá-lo. Serviu a ele todos os tipos de bebidas que havia na festa falando que ele não conseguiria beber um copo cheio porque era forte demais, e é claro que Arthur mostraria que conseguiria. E quando o viu delirando decidiu que era o momento certo. Foi falar com Bianca.
  - Fotografa pra mim – Ele disse entregando o celular, não estava pedindo, e sim mandando.
  - Fotografar o quê? – Ela disse pegando a câmera sem entender.
  - Você vai saber – ele soprou a fumaça do cigarro no nada e jogou o cigarro.
  Ashton pegou Arthur pela cintura e o beijou.
  No dia seguinte Arthur não se lembrava de nada. Ashton fez questão de deitar na mesma cama que ele e tirar-lhe as roupas, assim pareceria mais verídico. Ashton mostrou a foto no celular e Arthur sentiu uma repulsa de si mesmo.
  - Quanto você quer para não contar isso a ninguém?
  - Quero a fama – ele respondeu sem hesitar.
  Arthur faria de tudo para manter a sua imagem e foi então que Ashton começou a seguir a banda em todos os shows.
  Gabriel começou a ficar mais exigente em relação à Cler, e isso às vezes a estressava. Nunca tivera mudado por menino algum, exceto por Gabriel. O calor estava intenso e Cler abusava dos mínimos, mas sem vulgaridade.
  - O que é isso? – Perguntou Gabriel vendo Cler vestir a mini-saia.
  - Isso o quê? – ela perguntou ingenuamente.
  - Você vai sair com uma saia desse tamanho? – ele revirou os olhos, irritado.
  - O que tem de mais?
  - O que tem de mais? O que vão pensar se a namorada de Gabriel Knight sai por aí nos mínimos? – Ele disse se virando para o espelho.
  - Eu não tenho nada com a sua fama – ela disse relutante, pegou os sapatos e saiu.
  No mesmo dia, à noite, ela voltou ao apartamento.
  - Desculpe, eu realmente não devia usar uma saia tão curta – ela disse com os olhos marejados.
  Ele a beijou suavemente como resposta.
  Lucas depois do desaparecimento de Ana tivera tido inúmeros casos. Na verdade, fazia questão de levar pelo menos uma menina de cada show para o motel. Ele não pensava muito em Ana. Na verdade ele evitava pensar em Ana; era do tipo perfeccionista. Tinha medo de pensar demais numa garota e errar novamente. Na noite em que beijou Bianca, acabou chamando-a acidentalmente de Ana; isso, desde então, o deixava constrangido perto de Bianca.
  Certa tarde, Lucas se sentiu solitário. Olhou pela janela e viu algumas fãs – sempre havia algumas no térreo esperando eles descerem -, mas não queria uma amante, uma amiga, alguém para conversar, alguém para contar o que sentia naquele instante. Também não queria Gabriel. Foi conversar com Cler quando Gabriel não estava perto. Desde que Lucas tivera traído a amiga, Cler tivera criado um receio em relação a ele.
  - Cler... Conversa comigo? – Ele disse hesitante. Parecia o irmão naquela vez que ele pediu para eles conversarem no carro.
  - Tudo bem, sobre o que quer falar?
  - Eu não sei bem, mas – ele suspirou – estou tão ansioso. Falta uma semana para o tour começar. Ontem eu passei a tarde toda no shopping comprando coisas novas para levar, e mesmo faltando tão pouco parece tão longe e eu não sei bem como vai ser, alguns artistas acham muito cansativo passar dias na estrada, de lugar para lugar e eu não sei, e se eu me cansar também?
  Cler observou-o por um longo segundo.
  - Não foi você quem tinha dito uma vez que nunca se cansaria de tocar?
  - Foi – ele suspirou – obrigado Cler.
  Ela deu um meio sorriso pra ele.
  Ana estava vendo as tarefas para a semana seguinte quando o fotografo entrou na sua sala.
  - As capas da semana que vem chegaram – disse ele ansioso.
  - Mas eles não iam vim na sexta à tarde?
  - Lembra que foi adiantado para hoje porque sexta à noite eles vão sair do país?
  - Ah sim – ela não se lembrava.
  Ana o observou sair da sala. Não se lembrava quem eram os astros. Eles adiantaram três dias, ela nem tivera visto ainda quem eram e o estilo de cada um e essas coisas que gostava de planejar.
  Foi até o estúdio e se deparou com o inesperado: BlackStars.
  - Ana? – Exclamou Gabriel ao vê-la.
  Todos se viraram no mesmo instante. Lucas ficou inexpressivo.
  Ana agiu profissionalmente. Lucas lançava-lhe olhares maliciosos e às vezes dava algumas piscadas. Quando terminou as fotos, Lucas foi falar com ela.
  - Você continua linda – ele disse pegando-a pela cintura.
  Ela se soltou.
  - Tenho que trabalhar Lucas.
  - Ana, o que acontece? – Ele perguntou.
  Ana sentiu uma onda de raiva afogá-la. Mais uma palavra que ele dissesse, ela explodiria.
  - Desde aquele dia, você...
  - Aquele dia? Você estava agarrando a Bianca no banheiro, eu não quero olhar para você! Você nem se deu ao trabalho de ligar para mim e se explicar. Sai de perto de mim!
  - Quem me agarrou foi a Bianca! E também, depois do show ela veio me dizer que você nunca mais queria me ver, e que não era pra te ligar nunca mais. Não liguei.
  - Mas Cler foi realista, disse que você não perguntava sobre mim e que saia com inúmeras garotas...
  - Eu fazia isso porque não tinha você. Eu sou diferente de Gabriel. Acho que mulher é algo necessário, ah não sei, você não entenderia! – Ele bateu o punho na mesa com força – Vê se me entende, você seria o necessário, se estivesse comigo, como não esteve... Eu... Hã... Não sei! – Ele estava quase berrando.
  - O que está tentando dizer?
  - Sabe por que a Bianca me falou isso? Porque eu a chamei de Ana. Eu não sei o que deu em mim. Eu...
  Ele a agarrou e a beijou.

Capítulo 8

  Mesmo Cler e Gabriel estando próximos. Quando estava com os pais de Gabriel, Cler era a mesma menina melindrosa, que tomava cuidado com cada palavra, sussurro ou pensamento. Ela acreditava friamente na questão “você é aquilo que pensa”. Sandy era sempre gentil, mas Cler ainda tinha receio.
  O rosto de Cler ainda não havia sido mostrado com nitidez. Então não havia problemas quando saia do prédio. Só saia do prédio com Gabriel se fosse de carro.
  Depois do beijo no estúdio, Lucas ligou para Ana varias vezes, mas ela estava com raiva de si mesma e não atendeu os telefonemas.
  Era finalmente o dia da viajem para Miami, assim começaria o tour da banda BlackStars. Os caminhões estavam esperando-os.
  As instalações do Autocarro eram ótimas. Duas camas de casal. Televisão LCD de 42p. Havia um frigobar do lado de cada cama com as coisas nas quais eles mais gostavam. Comiam o dia todo.
  Em Miami o show foi esplêndido. Quando saíram de Miami, iam para Orlando. Foram para a Disney. O show foi muito bem assistido. Foram para Jacksonville, o show foi o maior que já fizeram até aquele momento.
  Ana acompanhava pela televisão o tour deles, sempre observava bem Lucas. Ele já tinha sido visto com uma garota.
  O outro show foi na Pensilvânia – Filadélfia. Foi ainda maior do que em Jacksonville. Todos esperavam ansiosamente para chegar a Nova Iorque. Chegaram em Nova Iorque de madrugada. A cortina da pequena janela do autocarro estava aberta, a luz da cidade acordou Lucas que ficou deslumbrado. Mal podia esperar pelas festas, as garotas. Não conseguiu voltar a dormir. Em Nova Iorque teriam dois shows, porque um simplesmente não foi suficiente para o numero de pessoas lá. As festas eram do jeito que Lucas gostava. Havia garotas bonitas aos montes, e pareciam que todas o esperavam.
  Certa noite, ainda em Nova Iorque, depois de uma festa. Lucas chegou ao autocarro completamente bêbado. Cler estava dormindo na cama de Gabriel e Gabriel estava à procura de Lucas.
  Cler acordou quando sentiu o corpo de Lucas se esfregando no seu.
  - Gabriel? – Ela perguntou, estava escuro.
  Ela sentiu o cheiro de bebida de Lucas e no instante em que abriu a boca para falar, Gabriel acendeu a luz.
  - O que vocês estão fazendo? – Ele perguntou com os olhos estreitos.
  Lucas percebeu o que estava fazendo e saiu de cima de Cler, caindo na própria cama e dormindo.
  - Ele está completamente bêbado – disse Cler num sussurro.
  - Amanhã a gente conversa Cler.
  Cler viu a expressão de raiva estampada no rosto dele, mas não tinha culpa de nada. No instante em que se levantou atordoada para sair do autocarro, ele começou a andar. Teriam que fica ali até a próxima parada que podia demorar. Gabriel e Cler ficaram olhando um para o outro durante horas. Às vezes iam comer alguma coisa; mas permaneciam em silencio.
  Quando amanheceu o silêncio se quebrou.
  - Você bem que estava gostando...
  - Não, eu estava dormindo e ele veio e... Eu não sei.
  - Como não sabe?
  - Eu simplesmente não sei, acha que eu faria algo assim? Com o seu irmão ainda?
  - Eu... Ah, sei lá.
  - Você está duvidando de mim?
  Ele não respondeu. Os dois se viraram quando Lucas acordou. Cler estava com uma raiva imensa dele, queria socá-lo. Lucas lavou o rosto e sentou-se na cama.
  - Que dor – ele exclamou com a mão na cabeça.
  - Ora essa, tomara que... – Gritou Gabriel pegando-o pelo colarinho da camiseta.
  - Mas o que acontece?
  Gabriel o soltou. Tinha certeza de que o irmão não sabia o que tinha feito.
  - Me desculpe Cler – ele disse calmo.
  - Eu te desculpo – ela suspirou – mas não sou mais a sua namorada.
  Ele demorou a captar as palavras. Tinha quase certeza de que tudo voltaria ao normal.
  - Quando pararmos, vou pegar o primeiro vôo pra São Paulo – ela disse pesarosamente – não posso fica com alguém que desconfia tanto assim de mim.
  Lucas só observava a conversa sem entender, a dor de cabeça não o deixava captar o que acontecia.
  - Espere até acabarmos, faltam só três semanas, arranjar boas maquiadoras não é fácil...
  - Eu não tenho nenhum contrato, não sou obrigada a ficar.
  Passaram o resto da viagem silenciosos e Cler fez o que tivera dito ao chegarem em Memphis.

Capítulo 9

  Lucas percebia que o irmão não era mais o mesmo. Ficaram dois dias sem se falar, até que Gabriel resolveu contar o que tivera acontecido e Lucas lhe pediu desculpa inúmeras vezes, sabia como o irmão era sensível. Em Washington, estava frio. Como Gabriel estava se alimentando mal, estava mais vulnerável. Lucas era o único que se preocupava.
  - Coloque uma blusa de gola alta.
  Gabriel se virou e lançou-lhe um sorriso de gratidão. Sabia que a única coisa que tinha naquele instante era o irmão.
  Ana acolheu a amiga. Mesmo que tivessem passado por situações diferentes, sabia exatamente o que a amiga sentia. Elas voltaram a ser inseparáveis.
  Quando voltaram para o Brasil, decidiram tirar férias. Michel, Ashton e Arthur foram para uma ilha paradisíaca. Mesmo sendo obrigado a levar Ashton para todo lugar, Arthur começou a simpatizar com ele; mas só deixava transparecer que queria ele longe; Ashton não se importava com isso. Lucas viu que passaria as férias todas cuidando do irmão que cada vez ficava mais doente.
  De noite a tosse de Gabriel era amparável. Quando conseguia dormir, tinha pesadelos. Lucas começou a dormir com ele. Quando acordava no meio da noite e percebia que Gabriel estava descoberto, o cobria. Forçava-o a comer. Lucas sabia que Gabriel estava ficando dependente dele. Eles quase não saiam.
  Sempre procurava fazer porções com bastante ferro. Gabriel as vezes não tinha força para mastigar e vezes por outra, ele fazia a comida voltar. Até que uma vez Lucas se estressou:
  - Você tem que comer! – Gritou Lucas fechando a porta do armário da cozinha com força.
  - Mas... Hã... Eu não quero – ele dizia com os olhos tristes.
  - Desse jeito você vai morrer – Lucas se aproximou, mas sem abaixar o tom de voz.
  - Por que está gritando comigo?
  Lucas fitou os olhos opacos do irmão e sentiu-se amargo, culpado.
  - Desculpe... – Lucas arrastou uma cadeira e sentou-se na frente do irmão – eu tenho medo de te perder... Por causa de uma garota ainda.
  - Não se preocupe, eu não estou tão mal assim – depois de dizer isso, Gabriel tossiu.
  Lucas viu a pele do irmão pálida, mais pálida do que normalmente.
  - Se você morrer, eu morro junto – Lucas sussurrou.
  - Claro que não! Você não tem nada com isso...
  - Claro que tenho! Nascemos juntos e morreremos juntos, entendeu? Se não for fazer isso por você, faça por mim.
  Gabriel se voltou para o prato e forçou-se a comer.
  Ana e Cler resolveram dividir um apartamento no subúrbio. Era pequeno, mas como elas quase não ficavam em casa, era ótimo. Cada uma recebia a quantia do aluguel de mesada dos pais, assim teriam certeza de que nunca ficariam sem pagar. Ana percebeu que o BlackStars tivera desaparecido, não se ouvia mais noticias deles.
  Mesmo se forçando a tomar os remédios e se alimentar, Gabriel continuava a piorar. Até que um dia ele simplesmente desmaiou. Lucas o levou imediatamente para o hospital. Logo os repórteres foram se acumulando, quando ficou quase impossível sair do hospital.
  Ana e Cler estavam assistindo a telenovela, quando uma noticia urgente interrompeu:
  Noticias recentes mostram que Gabriel Knight acaba de ter convulsão febril. Os médicos deram-lhe medicamentos e agora ele se encontra estável...
  Ana desligou.
   - Não precisamos ver isso...
  Cler se levantou e pegou o casaco preto que estava na cadeira ao lado.
  - Eu quero vê-lo; quero saber o que acontece. Você vem comigo?
  - Mas Ana, eu acho...
  - Vem ou não?
  Ana foi ao quarto e pegou um casaco também. Quando chegaram ao hospital, obviamente não as deixaram entrar. Deram um jeito de entrar escondida; descobrir o quarto não foi problema. Iam em direção ao quarto, quando Lucas apareceu.
  - O que fazem aqui? – Ele perguntou olhando principalmente para Ana.
  Elas não responderam.
  - Venha por aqui – ele as levou até o quarto que havia uma tranca; Lucas teve dificuldade para abri-la – vocês não imaginam o numero de pessoas que entram aqui todos os dias... Tivemos que por isso.
  Cler o viu sem cor e sem vida ali, parecia que estava morto. Sentiu o coração apertar e as lagrimas saírem. Ana e Lucas saíram do quarto.
  - Me perdoe Gabriel... – ela sussurrou.
  Ele abriu os olhos e sorriu. Na verdade não estava dormindo; Lucas sabia disso, por isso saiu do quarto.
  - Gabriel! – Disse Cler, quase gritando.
  - Shiu! Não grite, aqui é um hospital – a voz dele estava fraca, mas o brilho dos olhos voltou. Cler estava sorrindo – e a propósito, eu te perdôo.
  - Ei! Quem tem que me pedir perdão é você! – ela disse com som zombeteiro.
  - Ah... Ta certa. Perdoa-me Claire?
  - Só te perdoarei se você melhorar e sair logo dessa cama!
  Ele sorriu.
  Lucas e Ana estavam sentados no banco que havia em frente ao quarto.
  - Como ele está? – Perguntou Ana de olhos baixos.
  - Agora está bem – respondeu Lucas sorrindo involuntariamente – logo ele vai sair daqui.
  Ana sorriu.
  - Ele ficou doente por causa de Cler? – Ela se virou e o viu fazendo que sim com a cabeça – se você realmente sentiu a minha falta, por que não teve nem um pouco do que seu irmão teve? – Ana se arrependeu de ter perguntado aquilo.
  Ele a fitou incrédulo. Não havia o que responder sem ser estúpido, simplesmente levantou e foi beber água.
  Ana se lembrou de Lucas falando do irmão. Os olhos cintilantes, admirável. O irmão era o que Lucas mais amava, ele mesmo não conseguia explicar o que sentia pelo irmão e mataria quem tentasse separá-los.
  Ashton e os demais integrantes não sabiam que Gabriel estava hospitalizado e como as coisas iam, não seria necessário que soubessem.
  Dois dias depois da visita de Cler, Gabriel saiu do hospital. E as coisas voltaram a ser como eram em pouco tempo. Ana ia ao camarim, mas Lucas agia indiferente, fazendo-a sofrer. Vez por outra, Lucas levava algumas garotas ao camarim, era quando Ana saia.
  Um dia eles ficaram acidentalmente trancados no banheiro da cobertura. Ana usou o banheiro e na hora de sair percebeu que a porta não abria e depois de perceber isso, percebeu Lucas na banheira.
  - Desculpe, eu...
  - Tudo bem, agora tenho que chamar o Gabriel pra abrir por fora – disse Lucas saindo da banheira e enrolando a toalha na cintura.
  - Eu acho que não vai dar... Ele desceu com a Cler para o carro e eles iam comer fora, eu ia junto, mas resolvi usar o banheiro antes de sair.
  - E agora eles vão nos deixar a sós e vamos ficar trancados aqui até eles voltarem – ele disse pesarosamente.
  - Tem razão e eu acho que... – Ana escorregou até perto da banheira, caindo sentada.
  Lucas foi ajudá-la e acabou fazendo-a escorregar para dentro da banheira. Ela saiu encharcada, mas não disse nada. Tinha medo de dizer mais bobagens e nesse instante viu que não era mais a mesma; tivera mudado por ele.
  Lucas se sentou no chão do banheiro e fitou Ana se levantando da banheira. Não se lembrava daquela versão de Ana. A camiseta branca estava transparente mostrando o sutiã rosa e preto. Tê-la de novo era mais forte do que a vontade de fazê-la aprender a não ser mais tão egoísta.
  Ele a agarrou com força e os dois caíram na banheira, ela tentava se soltar, mas ele não deixava. Ana desistiu e novamente pertenceu a ele. A enorme banheira branca, quadrada coube os dois, sem problema algum. A espuma os envolveu, a água ainda estava quente. O cheiro dos sais de banho fez parte do momento – Ana jamais se esqueceria daquilo, aquele era o cheiro de Lucas. Lucas mordiscou o pesco de Ana, deixando-a excitada. Por um instante ela hesitou, mas aquele momento jamais voltaria; o mundo inteiro pertencia a deles, o tempo parou para eles. Lucas sentiu Ana hesitante e isso fez com que a adrenalina tomasse conta do seu corpo. Ela deixou que Lucas a guiasse, ela já não sabia mais o que fazia. O certo e o errado não existiam ali. Ela o amava, e o queria mais que tudo; era nisso que tudo se resumia. Ela começou a despir-se com a ajuda dele e logo sentiu o corpo dele se esfregando com o dela. A toalha de Lucas já havia saído do corpo e ambos nem tiveram percebido. Aquela vez era diferente das outras, para os dois.
  O novo sucesso da banda BlackStars foi a música que contava a história entre Ana e Lucas.

Capítulo 10

  Ashton tivera conhecido muita gente famosa através de Arthur. Na verdade estava envolvido com um e ficou assim por um mês. Foi quando largou de Arthur. Quando viu que não era o que ele queria, largou-o e voltou para a companhia de Arthur. Ashton não era mais petulante como antes, agora eram amigos e falavam de tudo.
  O casamento de Sandy e Paul finalmente tivera chegado. Bianca se corroia de raiva; queria matar a madrasta.
  Cler e Bianca arrumavam Sandy. Seria uma festa bem particular, o vestido era simples. Sandy se sentia maravilhada a cada olhada no espelho. Olhava para Bianca com carinho, achavam que finalmente ela havia se acostumado com a idéia de ter uma madrasta.
  Bianca não dividiria a sua herança; faria o que fosse necessário.
  - Eu vou lá preparar o carro – disse Cler sorridente – Bianca a ajudara a descer.
  Cler saiu. Bianca agradeceu por estar sozinha com a madrasta.
  - Feche a janela para podermos ir, sim? – Disse Sandy terminando de por os sapatos.
  Bianca foi a frente dela e deu-lhe um tapa. Sandy ficou atordoada. Bianca se aproveitou da situação de empurrou-a pela janela.
  Cler conversava com o motorista ansiosa, para ver Gabriel de smoking, quando Sandy caiu cinqüenta metros a sua frente.
  Foi a primeira vez que Lucas chorou depois de quinze anos e o único que estava ali para consolá-lo com sinceridade era o irmão. Lucas se recuperou rápido, Gabriel voltou a não comer; pelo menos tinha Cler.
  Os pesadelos eram mais atormentadores. Cler passava todas as noites com ele, consolando-o. Quando ele acordava desesperado, aos prantos, era Cler quem o abraçava e o aninhava. Era Cler quem o fazia comer. Bianca ficava enojada com tanto amor.
  Estavam todos na lanchonete em frente ao prédio de Sandy, o apartamento estava interditado. As risadas não eram mais as mesmas. Ashton estava entediado e saiu para fumar. Bianca foi atrás; era a única pessoa que podia contar e precisava desabafar.
  - Eu fico enjoada de ver Claire e Gabriel – comentou Bianca com Ashton.
  - As vezes eu também – ele disse com o cigarro entre os dedos.
  - Ash, q que você acha que fariam caso soubessem que eu matei a mãe deles?
  - Ora essa, eles... – Ashton colocou o cigarro na boca; demorou para captar as palavras e quando finalmente entendeu, engasgou com a fumaça – o que você fez? – ele disse tossindo, espantado.
  - É isso mesmo – ela olhou para o céu azul marinho, distante.
  Ashton ficou sem ter o que dizer.
  - Vão precisar do depoimento de todos na delegacia, espero que esteja do meu lado.
  - É claro que estou do seu lado – ele piscou para ela.
  Bianca tinha um aliado.
  Ashton não tinha nada a perder. Se descobrissem, diria que Bianca o obrigou a dizer a verdade.
  Ashton não queria voltar para casa e foi para o apartamento de Arthur. Arthur percebeu que ele estava tenso.
  - O que acontece? – Perguntou calmamente enquanto ligava a TV. Estava passando um filme romântico.
  - O que faria se descobrisse algo muito fatal e que tivesse que manter segredo? – Perguntou Ashton tentando parecer calmo.
  - O que?
  - Não pergunte, só me diga o que faria.
  - Iria me distrair.
  Eles se entreolharam e ambos deram um sorrisinho. Começaram a se concentrar no filme e as coisas fluíram; Ashton se distraiu.
  Cler observava Gabriel dormir e quando estava quase adormecendo, Gabriel acordou soltando um grito:
  - Não!
  Cler despertou e o viu sentado na cama; com a respiração ofegante. O abraçou e o apertou contra si, tentando acalmá-lo. Ele a abraçou de volta.
  - Isso tem que terminar, Gá – ela disse passando a mão no rosto dele.
  - Tem razão Cler, mas eu não sei... Você e o Lucas são as únicas coisas que me restaram e...
  Cler não havia dito nada até aquele momento.
  - Eu entendo como você se sente, mas você tem que voltar a viver, existem inúmeras fãs torcendo por você e... – Ele ainda estava indiferente – como acha que me senti quando perdi a minha mãe?
  Gabriel não sabia que Cler não tinha mãe.
  - Está tarde, vamos dormir.
  Gabriel não conseguiu voltar a dormir. No dia seguinte Cler não pode deixar de perceber o quando Gabriel estava mais corado; voltou a se alimentar e em uma semana recuperou peso. As coisas estavam voltando a ser como eram antes. Gabriel tivera alugado um flat para evitar lembranças da mãe. Cler começou a trabalhar como balconista de uma loja de roupas no shopping. Gabriel vezes por outra comprava roupas lá e a dona da loja adorava isso, porque Gabriel tinha que ter um pretexto para ir ver a namorada e acabava levando inúmeras roupas.
  Quando Gabriel podia – às vezes, até quando não podia – ia buscar Cler na loja. Cler jamais entenderia de onde nasceu todo aquele amor.
  Ana encontrava Lucas às vezes. Evitava ler revistas, jornais e assistir TV e ouvir dizer que ele tinha sido visto com uma garota. Certa vez foi inevitável, estava folheando a nova edição da revista a procura dos looks que tivera feito e viu uma foto de Lucas, na foto era ela. Como estava de costas, ninguém a reconheceria. Naquela noite encontrou Lucas. A confiança em si mesma tivera voltado.
  - Lucas – ela disse observando o vulto que o carro formava na estrada. O carro de Lucas era novo, vermelho e com uma velocidade incomparável – estamos namorando?
  Ele se virou e sorriu.
  - O que você acha que devemos fazer? – Ele perguntou acelerando mais.
  - Eu não tenho que tomar a decisão sozinha, eu não estou sozinha.
  - Tem razão e sabe o que eu acho de você?
  - O que? – Ela pensou que ele iria mudar de assunto e sentiu uma súbita raiva lhe invadir o corpo.
  - Que você é a melhor namorada que eu poderia ter.

Capítulo 11

  O calor estava cada dia mais intenso. Ana já estava acostumada com o frio e sentia muita tontura quando saia do ar condicionado da revista. Todos os colegas de Ana percebiam que ela estava feliz, se interessava mais pelas coisas relacionadas à revista. Era mais ágil e decisiva, e Ana concluiu que isso que juntara ela e Lucas. Encontrava Lucas quase todos os dias.
  Ashton tivera começado a gostar de Arthur. Mas tinha precaução com cada palavra. E depois daquela noite, Arthur estava diferente. Certa noite pediu ajuda a Bianca.
  - Seja mais objetivo, diga alguma coisa a ele!
  E foi o que Ashton fez; mas logo uma nuvem de arrependimento o cobriu, e aquela nuvem viria cheia de raios. Na verdade, tinha certeza que nunca esqueceria aquele dia. Estavam no carro conversando, quando Ashton o disse. Arthur o fitou sem reação e disse:
  - Me dê um tempo para pensar... Isso é demais pra mim.
  - Não se preocupe – disse Ashton abrindo a porta do carro – eu não te envergonharei mais!
  Ashton saiu no carro, e naquele instante, começou a chover. Era uma chuva leve, mas cada pingo parecia uma patada... Uma patada de dinossauro.
  Gabriel e Lucas resolveram curtir o que restava das férias num sitio da família. A vida de Cler só estava melhorando a cada dia. Eles iam participar de um programa de casais. Cler estava nos bastidores, era a primeira vez que ia se expor, pensava no que os outros diriam dela.
  O jogo era simples, eram perguntas e respostas. O único porem era que as perguntas eram pessoais. Cler foi muito bem recebida. O casal concorrente era uma atriz e o namorado.
  Começariam por Cler e Gabriel. Quando errassem a resposta, seria a vez do próximo casal. Cler não sabia se o conhecia tão bem.
  - Gabriel, vamos começar com uma pergunta bem simples, qual a cor da calcinha que Claire está usando agora?
  Gabriel sorriu sem graça.
  - Vermelha – ele disse inseguro.
  Cler soltou um sorriso positivo e a plateia soltou um “uh”.
  Como haviam acertado, iriam para a próxima pergunta.
  - Claire, o que Gabriel pensa sobre sexo? – outro “uh” foi feito pela plateia.
  - Que tal ato só pode ser feito com amor – estava segura da resposta; Gabriel sempre dizia isso.
  Assim foi, o jogo empatou; os dois casais tiveram um erro somente. Cler não tinha certeza sobre a opinião das pessoas, mas achou que a receberam bem. Receberam um convite para fotografarem juntos numa revista – a revista em que Ana trabalhava.
  Ana tivera acabado de voltar do almoço. O sol a tivera deixado tonta e ao entrar no prédio foi direto para o banheiro. Colocou todo o almoço para fora. Ao sair se deparou com a faxineira levando o lixo.
  - Dona Ana, devia procurar um médico, pode piorar.
  - Não se preocupe Marilena, e é só por causa do calor, eu vim do sul, não to acostumada – disse Ana lavando as mãos.
  - Mesmo assim – disse Marilena saindo do banheiro.
  Ana tivera ficado o resto da tarde pensando naquilo e pediu para sair mais cedo porque tinha uma consulta.
  Lucas estava levando Ana para o sitio reformado. Percebia que ela estava nervosa, mas não perguntou nada. Quando chegarem ao sitio, Cler e Gabriel estavam na piscina. Lucas agarrou Ana e percebeu que ela estava soando frio.
  - O que acontece Ana? – Ele perguntou finalmente.
  - Lucas, nós precisamos conversar...
  - Claro, depois, quero te mostrar o meu quarto e...
  - Lucas! Eu estou grávida!
  Lucas a soltou e a fitou por um longo instante. Ele saiu batendo as portas. Gabriel o viu saindo e saiu da piscina. Ao sair da piscina, pode ver pelas portas de vidro, Ana com a mão na boca e a outra na barriga e sabia o que aquilo queria dizer.
  Lucas estava no quarto quando Gabriel entrou.
  - O que está fazendo? – Perguntou Gabriel observando Lucas tocar guitarra.
  - Ana está grávida – ele continuou a tocar, sem se virar para Gabriel.
  - E isso dá uma música ótima, não acha? – Gabriel encostou-se à parede.
  - Acho que nossas mentes realmente estão interligadas.
  Gabriel sorriu. E passaram horas ali, até que uma música saiu.
  Ana pensara que Lucas a pediria para tirar a criança, estava ensaiando o que diria a ele: Claro que não, está louco? É meu filho quero tê-lo com ou sem você e... Uma música invadiu o ambiente, Cler e Ana seguiram o som até chegar à porta entreaberta do quarto. Cler sorriu.
  - Parabéns! – ela disse num sussurro abraçando a amiga.
  Gabriel saiu do quarto e levou Cler, enquanto Lucas puxou Ana e os dois deitaram na cama. Conversaram até amanhecer sobre a criança. Quando viu que Lucas estava quase dormindo perguntou inocente:
  - Lucas, você se encontra com outras?
  - Relaxa Ana, você é a número um, pode ter certeza disso.
  - Como assim?
  - Você está acima delas – ele dormiu depois disso.
  A musica que Lucas tivera feito completou o disco e foi um dos maiores sucessos do BlackStars.
  Bianca estava no camarim, os outros ainda não haviam percebido. Ela começou a ouvir uma conversa e se escondeu.
  - Estou de cinco semanas, nem da pra acreditar, não é? Como o tempo passa. Logo vai nascer e...
  Era Ana e Cler. Bianca saiu de onde estava fingindo que estava procurando o brinco e elas pararam de falar. O assunto ainda era confidencial e elas torciam para Bianca não ter prestado atenção.
  Bianca andava entediada e precisava pensar em algo para se distrair. Iria flertar com Gabriel e depois com Lucas. Gabriel estava se olhando no espelho do banheiro enquanto lavava as mãos. Bianca pegou Gabriel e o recostou na parede, ele ficou imóvel.
  - O que está fazendo, Bianca? – Ele perguntou tentando afastá-la com delicadeza.
  - Gabriel, eu estou apaixonada por você... Eu te quero muito – Ela colocou a mão na nuca dele e ele tentava afastá-la sem ser estúpido.
  Cler entrou no banheiro, viu Bianca apertando-o na parede, puxou-a pelo ombro e deu-lhe um tapa.

Capítulo 12

  Ana e Cler discutiram e viram que não era possível que ela exercesse tanta atração em relação aos dois. Bianca era atraente, mas não era anormal. Cler conversou com Gabriel que disse que Bianca o agarrou. Gabriel e Lucas também conversaram sobre Bianca.
  - Quando ela me agarrou eu não a recusei, fiz errado, mas não sei, recusá-la parecia ofender a minha masculinidade, mas agora acho ela nojenta.
  - Eu não tinha nada contra ela, mas sabe que eu realmente amo a Cler - disse Gabriel pesaroso.
  Lucas tinha um pouco de dificuldade para entender o que Gabriel sentia em relação a Cler. Mesmo não acreditando muito em amor verdadeiro, gostava de Ana, de estar com ela. Até mesmo as discussões com Ana excitavam-lhe. Naquele momento não pensava em outras e se quisesse dormir com outra, simplesmente o faria.
  Ashton e Arthur não se viram mais. Ashton às vezes saía com Bianca. Mas era só o ouvinte, enquanto Bianca falava da raiva que sentia de Ana e Lucas. Ashton tinha vergonha de comentar sobre o que Arthur tivera feito. Às vezes o convidavam para fotografar, tinha uma pequena carreira como modelo, que tivera sido formada pela fama que o BlackStars tivera lhe proporcionado. A época receber cartas de Ashton tivera começado, mas ele nem tinha paciência para lê-las e quando lia acabava rindo sozinho, se sentia atraente, sentia-se desejável.
  Ana sentia cada vez mais ciúmes de Lucas, e isso o irritava. Não irritaria se ele realmente tivesse traído-a, mas como não estava, sentia-se péssimo. Uma noite Lucas saiu sem avisar e voltou de manhã. Ana já estava com três meses e sentia as suas roupas mais justas ficarem apertadíssimas.
  - Lucas... Onde você esteve essa noite? – Ela disse aos prantos.
  - Compondo – ele disse sorridente – desculpe você estava dormindo, não queria te acordar.
  - Ah Lucas – ela correu e o abraçou – eu me sinto tão carente e eu fico tão egoísta, só penso e mim e fico cobrando tudo de você!
  - Não se preocupe – ele disse acariciando-a.
  Ana se sentiu necessária. No dia seguinte, Lucas a levou para comprar roupas novas e eles andaram no shopping de mãos dadas e carícias a todo o momento. Lucas sentia que ela precisava dele e não gostava de vê-la triste. Lucas convenceu Ana a sair do emprego e se depois ela quisesse voltar a trabalhar, ele faria com que ela arranjasse emprego em qualquer outra revista melhor. Lucas podia ser infiel, mas nunca quebrava uma promessa.
  Gabriel percebeu a diferença no irmão.
  - Você está gostando dela – disse Gabriel – eu sempre achei que você se casaria primeiro.
  - Casar? Do que você ta falando? – Perguntou Lucas deixando o controle da TV cair e fazer um estrondo.
  - Nada – respondeu Gabriel calmamente.
  Lucas ficou com aquilo na cabeça. Demorou a dormir. No dia seguinte ao acordar se deparou com Ana preparando o café. Ela tivera feito tudo que ele gostava. Os dois se sentaram juntos e quando terminaram de comer, Ana perguntou timidamente:
  - Lucas... Você apóia o casamento?
  Lucas a fitou. Ela era tão adorável. Ana estava um pouco febril, por isso corada.
  - Completamente – comentou Lucas sorridente, se levantou e disse ainda sorridente: - estava tudo ótimo!
  Arthur estava descarregando a câmera quando viu uma foto de Ashton. Talvez gostasse de Ashton e não queria admitir e não custava tentar, e o resto não importava, pensaria nisso depois.
  Ligou para Ashton.
  - Podemos conversar? – Ele perguntou ansioso.
  - Não – respondeu Ashton rude e imediatamente desligou.
  Arthur tacou o celular na parede com toda força. Ashton fumou a noite toda, queria saber se conseguiria se sufocar com a fumaça. Arthur começou a fumar o mesmo cigarro que Ashton e só conseguiu dormir quando o cheiro de Black invadiu todo o apartamento; isso ocorreu com Ashton também.
  Gabriel estava começando a ficar sempre ocupado. Viajava toda semana, estava começando uma carreira como modelo. Cler não o via fazia um mês e parecia que ele não sentia falta dela, e um dia resolveu simplesmente sumir, trocou de telefone e jogou o numero antigo fora. Não havia o que fazer, ela tinha ido, Gabriel compôs a musica que fez mais sucesso.
  Em um dos shows Gabriel pode ver Cler, na primeira fileira, o fitando, com os olhos opacos. Para não errar a musica, cantou com os olhos fechados.
  Cler saia do show com os olhos baixos. Pensara que Gabriel nem a tivera visto. Perguntava-se se dessa vez ele havia sentido falta. Sorriu em lembrar que ele estava bem. Procurava um ponto de ônibus enquanto caminhava numa rua quase deserta e passou por um beco escuro e sentiu arrepios. Teve a sensação de que alguém a seguia e começou a andar mais rápido. Virou-se e percebeu um homem alto com um capuz e começou a correr e o homem a pegou pelo braço fazendo-a parar. Ela não sabia o que fazer.

Capítulo 13

  Ana estava dormindo calmamente até que ouviu um estrondo. Era Lucas que tivera chegado bêbado e quebrado um vaso. Tentou se manter calma e o levou para a cama; ele estava completamente bêbado, não mentiria nessa situação:
  - Você ficou com outra? – Perguntou ela tirando os sapatos dele.
  - Talvez... – Ele respondeu e depois adormeceu.
  Ela queria saber mais, mas acordá-lo seria impossível. No dia seguinte ela perguntou, mas ele fugiu do assunto. Ana não sabia o que fazer e deixou as coisas como elas estavam. No outro dia, acordou com o café na cama. De noite foram jantar fora e dentro do champanha havia um anel de ouro branco com um diamante enorme. Ela mesma não acreditava.
  Ashton foi tomar banho e levou o som para o banheiro. Afundou-se na banheira e esqueceu o resto do mundo.
  Arthur ligou para ele e a secretaria eletrônica disse:
  Fui me matar, quem sabe mais tarde eu respondo.
  Arthur esperou alguns instantes e pegou carro, tinha que ver Ashton. Passou dois sinais vermelhos e quase atropelou um casal. Chegou lá e bateu na porta, tocou a campainha e só conseguiu ouvir uma musica de fundo bem suave e calma. Arrombou a porta e viu Ashton com a toalha na cintura e a chave nas mãos.
  - Que bom que você está bem, Ash – disse Arthur abraçando-o.
  - Custava esperar eu abrir? – Disse Ashton sem entender.
  - Que mensagem é aquela na sua secretária?
  Ashton desatou a rir.
  - Só queria me desligar do mundo por um instante – ele disse apontando para a porta do banheiro aberta e a banheira cheia.
  - Só em pensar que poderia nunca mais te ver – Arthur passou a mão pelos cabelos bagunçando-os – eu não sei.
  Eles oficializaram o namoro.
  Bianca e Ana estavam no closet, Bianca estava com uma bolsa de bebê amarela, bem delicada.
  - Parabéns! – Ela disse entregando a bolsa.
  Ana abriu a bolsa e a soltou no mesmo instante. Havia uma cobra lá.
  - Ora essa, uma cobra? – Disse Bianca com ironia – cuidado, é uma cascavel, são bem venenosas, mas talvez, como cobras, vocês se entendam, não acha? Isso é pra você aprender a não abusar da fama e do dinheiro dos outros sua idiota!
  Ana não sabia por quê ela estava fazendo aquilo. Ana desmaiou.
  - Agora os gêmeos são meus – disse Bianca saindo do quarto e fazendo um som agudo com o salto agulha.
  Gabriel e Lucas tiveram acabado de sair para o show e não voltariam tão cedo.
  Cler estava desesperada, não havia ninguém na rua. Mesmo que gritasse, a rua era tão fúnebre que parecia que ninguém morava ali a anos. Não sabia porque estava ali. Sentiu algo a segurar pelo ombro e a puxar, eram dedos cumpridos.
  - Eu não tenho dinheiro, tenho só um bilhete de ônibus e por favor... – ela começou a soluçar.
  - Nunca mais saia da minha vida desse jeito! – Ele a agarrou.
  Aqueles dedos frios, finos, cumpridos e aquela mão macia era dele, sem dúvidas.
  - Eu não fui até o show para voltar com você – ela se soltou – só queria te ver, mesmo que fosse de longe – ele permaneceu em silencio e ela se irritou com isso – que era de longe que a gente se falava, quer saber? Nunca mais quero te ver!
  Ela se soltou e correu, mas Gabriel correu atrás. Ele abraçou por trás, ela sentiu a respiração dele ofegante. Ele estava tendo um ataque.
  - Você é louco...
  Ele tentou sorrir, mas a falta de ar não deixava.
  Cler pegou o celular dele no bolso e ligou para Lucas que veio imediatamente e disse a mesma coisa que Cler:
  - Você é louco!
  Ao sair do sítio, Bianca se deparou com uma viatura.
  - A senhorita está presa pelo assassinato de Sandy Knight!
  O policial a pegou por trás e prendeu as algemas.
  - Ta me machucando! – Gritou Bianca.
  - Essas coisas funcionam só nos filmes, senhorita Lorenzo.
  Ela permaneceu quieta. A pericia encontrou marcas fortes das mãos de Bianca no vestido que só poderiam ser feitas com um empurrão forte, e havia DNA de Cler também, mas o foi comprovado que Cler não estava no quarto no momento da queda. Colocaram-na dentro da viatura e entraram na casa que pensaram estar vazia. Um dos três policiais ficaria na casa e esperaria voltarem. O policial começou a andar e ouviu o som do chocalho da cobra vindo do quarto. A porta do closet estava aberta e ele ficou sem saber o que fazer. Pegou o comunicador e chamou o controle de animais e uma ambulância.
  Ana acordou e viu Lucas ao seu lado num quarto de hospital. Só se lembrava da cobra. Lucas a viu acordar e disse calmo:
  - Aquela Bianca – ele cochichou abraçando-a – matou a minha mãe, se ela te matasse, eu a mataria.
  Ana se lembrou do bebê e colocou a mão na barriga.
  - Eles estão bem, afinal você não foi picada. Por que não me contou que eram gêmeos?
  Ana sorriu enquanto passava a mão pela barriga.
  - Eu também não sabia que seriam gêmeos, pedi para o doutor guardar segredo sobre tudo, só me dizer se tava tudo bem...
  - Daqui um mês poderemos ver o sexo – ele comentou sorridente – vão ser dois meninos!
  - Um vai ter que ser menina, lamento muito querido – disse Ana.
  Lucas contou sobre o que tivera acontecido com Lucas e Cler naquela noite e eles estavam esperando-a sair dali. O doutor explicara que ela só tivera desmaiado pelo susto e que a cobra não tivera nem chego perto dela, Ana sentia-se a mais sortuda. Fazia semanas que não via Cler, e quando finalmente a viu deu aquele abraço, abraçou até Gabriel, mesmo não sendo tão próximos.
  No dia seguinte, Ana abusou do bom humor de Lucas e perguntou:
  - Aquele dia, que você chegou aqui... Você sabe, você realmente ficou com outra?
  - Ana – ele acariciou-a – não se preocupe com outras, você é a minha número um, e sabe por que saí? – Ele pegou a mão dela e mostrou-lhe o anel – eu podia ir a uma joalheria e comprar um diamante com o dobro do tamanho desse, mas seria só um anel de diamantes comum. Agora, toda vez que olhar pra esse anel, se lembre que fiz loucuras por ele.
  - Como assim? – Ela se sentou na cama.
  - Uma jogada de muita sorte.
  A moça, dona do anel, era a melhor jogadora. Lucas nunca a esqueceria. Apostou tudo, carros e casas, mas ela se recusava a apostar o seu anel de noivado. Quando finalmente apostou-o, Lucas terminou o jogo e ganhou e a moça passou o resto da madrugada implorando-lhe o anel de volta. Lucas não devolveu e ela simplesmente o roubou. Só sentiu falta do anel depois e com a raiva que estava foi beber. Quando finalmente a viu, mas como estava bêbado, ela pensara que ele nem se lembraria. Ele a seduziu e roubou o anel de volta. Lucas não contou nem a metade a Ana. Gabriel não acreditou quando Lucas lhe contou tudo.
  Gabriel e Cler conversavam ao lado de fora do hospital. Ele a abraçou.
  - Gá... Gabriel. Eu não vou voltar você. Estou aqui pela Ana.
  - Eu gosto quando você me chama de Gá.
  Ela ficou em silencio até a hora que a amiga chegou. Voltou no carro de Gabriel.
  - Eu entendo que você não queira voltar, mas está sendo egoísta – ele disse observando Cler abrir a porta.
  Ela pensou por um longo minuto e fechou a porta.
  - Acho que você tem razão, eu que fui egoísta e esqueci com quem namoro...
  Cler pensou inúmeras coisas para dizer. Mas não podia querer que ele a colocasse acima de tudo; a carreira dele e a realização dos sonhos realmente importavam mais. Uma noite ele comentou que queria ser modelo, e a carreira de modelo dele estava evoluindo, era invejável ver alguém subindo em tão pouco tempo. BlackStars existia faria sete anos, e agora que estava no auge, ele desistiria por um amor que ninguém sabe quanto tempo vai durar? Jamais. Cler decidiu que o curtiria o máximo que pudesse e pensaria em conseqüências mais tarde.
  Ainda não tinham discutido a data do casamento, mas Ana concluiu por si só que seria depois que o bebe nascesse e que seu corpo voltasse, queria estar perfeita para a lua-de-mel.
  Lucas e Ana discutiam com freqüência sobre o sexo do bebe. E discutiam pelos nomes também. As discussões começaram assim que souberam do sexo dos bebês. Era uma menina e um menino. O principal alvo discutido era o nome do menino.
  - Luan!
  - Eduardo!
  - Edwin!
  - Caio!
  - Miguel!
  - Rafael!
  E assim foi até os oito meses de gestação. O nome da menina foi simples.
  - Quero um nome bonito, delicado, diferente...
  - Mirela – sussurrou Lucas.
  Ana deu um sorriso positivo.
  Faltando menos de um mês para o bebe nascer, Lucas e Ana ainda discutiam o nome. Até que um dia Gabriel sugeriu entre uma das discussões deles:
  - Tomas seria melhor do que todos que vocês disseram até agora – ele continuou a servir-se na geladeira, como se não tivesse dito nada.
  Ana e Lucas pararam no mesmo instante. Era aquele nome que eles queriam.
  Aos poucos eles percebiam que se conheciam e se entendiam cada vez mais. Lucas começou a perceber que estava gostando da idéia de ter filhos. Sempre que saia, comprava roupas e as mulheres das lojas ficavam boquiabertas. Algumas se achavam atraentes o suficiente para que ele entrasse na loja e fingisse querer comprar, mas ele as cortava imediatamente.
  - O que deseja? – Dizia a jovem moça insinuante, sentindo-se a vencedora.
  - Eu... Hã... Quero roupa para bebes – ele disse respondendo uma coisa obvia já que naquela loja só haviam roupas para bebes – recém nascidos, menino e menina.
  A moça pegou vários cabides.
  - Temos essas – ela disse espalhando as roupinhas pela nessa de vidro.
  Lucas observou rapidamente escolheu três para cada sexo. No caixa Lucas entregou o cartão para a moça que ficou fitando-o por um longo instante.
  - Será que... Poderíamos... – a moça o fitava com os olhos brilhantes, ele só devia estar tímido – andar logo com isso?
  A moça ficou atordoada, passou o cartão rapidamente. As demais vendedoras riram até a barriga doer.
  Lucas já teve sim o desejo de trair Ana, mas teria que pensar num lugar discreto e também tomar extremo cuidado com os paparazzi e só de pensar em tudo isso, lhe cansava. Todo mundo já sabia sobre Ana, eles moravam juntos e estavam esperando um filho, não havia como desmentir.
  Ana e Cler estavam constantemente juntas. Conversavam sobre a criança e Cler sempre a acompanhava nas idas mensais ao Dr. Singer. Era sempre a mesma coisa que ele dizia:
  - As crianças estão ótimas, mais saudáveis? Impossível! Não se preocupe com nada, mas continue sendo cuidadosa.
  Cler e Ana conversavam descontraidamente até que Ana disse espantada:
  - Eu acho que... Fiz xixi ou a bolsa estourou.
  Cler ficou desesperada. Não havia mais ninguém na casa. Cler não tinha carteira, mas sabia dirigir e tinha bons motivos. Pegou a bolsa com as coisas do bebe e ajudou Ana a entrar no carro. Logo as contrações começaram e os gemidos também. Cler pegou o GMC Yukon Hybrid de Gabriel e dirigiu o mais rápido que pode até o hospital. O Dr. Singer não estava na cidade. Teria que ser outro obstetra.
  - Soube que Bianca foi solta – comentou Lucas calmamente – ela estava grávida de cinco ou seis meses e de alguma forma o advogado conseguiu usar isso a favor dela.
  - Rica maldita! – Disse Gabriel.
  O estilista ficava opinando em tudo. Tiveram que parar de conversar por causa dele.
  Ashton tivera recebido um telefonema da Bianca, e ela jurou vingança a todos. Ashton felizmente conseguiu ficar fora de todo rolo.
  Cler, por não ser familiar, não pode acompanhar a amiga no parto e ficou no hospital desesperada, já tivera gasto mais do que imaginava com as maquinas de suco. Ninguém atendia. Estava desesperada. Resolveu ir até o local do show falar com eles. Quando chegou lá, o show já havia começado e não havia mais o que fazer.
  As crianças nasceram extremamente saudáveis, eram idênticos. O bebe de Bianca nasceu no mesmo hospital, algumas horas antes, mas tinha alguns problemas e havia enorme chance de não sobreviver.
  Bianca passeava pelo berçário a procura de seu bebê – com dificuldade, os pontos doíam muito -, lia as fichas atentamente. Tivera feito cesárea e estava sonolenta no momento, acabou não gravando o rosto da criança. Leu a ficha com os bebes de Ana e o bebe que estava ao lado era o seu. Os bebes de Ana se mexiam rapidamente, eram fortes e gordinhos com as bochechas rosadas e os olhos acinzentados igual ao de Ana. Ela olhou para o seu bebe com desdém, era magrelo e amarelo e mal fazia movimentos involuntários que nem os de Ana. Ela não sabia ao certo quem era o pai e nem queria saber. Tivera dado o nome de Anabelle a sua menina, mas viu que aquele nome não combinava, sentiu uma súbita inveja lhe invadir o corpo.
  A enfermeira entrou atordoada no quarto de Ana, somente com Tomas no colo.
  - Onde está Mirela? – Perguntou Ana retirando Tomas dos braços dela.
  - A outra menina... Está morta.
  Bianca brincava carinhosamente no quarto com o seu bebê.

Capítulo 14

  Ana chorou muito, a menina era o que mais queria, guardou por longos nove meses todo o carinho que daria aquele bebê. Culpou o médico, dizia que se o parto tivesse sido feito pelo Dr. Singer, isso jamais aconteceria, mas Lucas a fez encarar os fatos, nada faria Mirela voltar. Decidiu então se dedicar somente a Tomas. Ao voltar para casa, fazia tudo que podia com Tomas, ele era seu tesouro e tinha ciúmes quando Lucas ficava tempo demais com o filho. Lucas investiu uma fortuna na Porsche Cayenne GTS. Era confortável para Tomas. Lucas sempre o levava para todos os cantos, as vezes queria ficar sozinho com o filho, mas Ana não gostava da idéia de perder Tomas de vista.
  Bianca via a nova filha como uma aliada. Tratava a filha com amor e carinho para mais tarde Anabelle não a odiasse. Mas odiava acordar a noite, pagava uma moça para cuidar do bebe a noite.
  Ashton tivera se tornado mais próximo de Cler e Ana, as vezes sentia arrepios perto de Bianca. No ano novo comentou algumas coisas sobre Bianca para Lucas e Ana.
  - O que você quer dizer?
  - Bem... Elas tiveram os filhos no mesmo dia, ela não me disse nada, mas vai saber...
  Ana e Lucas tiraram a mesma conclusão. Precisavam ver a filha de Bianca.
  Cler e Gabriel juntaram todos e serviram-se. Com champanhas importados. Não fizeram discursos, mas cada um teve a sua opinião sobre o ano.
  Gabriel pensara que mesmo sendo o mais lento, tivera encontrado o amor verdadeiro primeiro que o irmão. Pelo menos era o que ele pensava, não entendia o irmão tão bem como antes. Eles não eram mais a mesma pessoa. O ano seguinte seria muito melhor.
  Ana pensava na alegria que teria com Tomas e na alegria que ele lhe traria. Estava disposta a dar-lhe todo o amor que precisasse. O ano seguinte seria muito melhor.
  Lucas sentia-se grande. Sempre se achara pequeno, incapaz. Mas agora sentia a demasiada diferença. Era adulto e não dependia do irmão como antes. Acreditava friamente que o ano seguinte seria muito melhor.
  Cler amava Gabriel, e ele a amava, não precisava de mais nada. Sabiam que precisavam somente estar juntos e não pertencerem a mais ninguém, assim estaria feliz. Assim, o ano seguinte seria muito melhor.
  Ashton fitava Arthur sorridente, estava tudo bem. O futuro não lhe interessava muito, mas tinha o pressentimento que o ano seguinte seria melhor ainda.
  Arthur olhou a sua volta e viu que estava tudo dando certo. Tudo voltaria a ser como antes, ou simplesmente melhoraria no ano seguinte.
  Todos estavam errados.

FIM



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