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#002 Temporada

Black Magic
Little Mix




Black Magic

Escrita por B Menezes | Revisada por Songfics

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  Era a sombra perfeita naquela tarde infernal de verão. O calor, ainda que protegido pela árvore, me impedia de manter o foco na leitura. Sentir a gota de suor descendo pelo couro cabeludo foi meu estopim. Fechei os olhos e concentrei as energias em conexão e a primeira brisa soprou.
  Abri os olhos preguiçosos-pós-frescor ao ouvir um leve grito fino de surpresa ao meu lado. Uma moça segurava sua saia rodada, levada pelo vento. Ela sorriu olhando para o rapaz ao seu lado, talvez esperando que o mesmo visse graça na situação tanto quanto ela. Todavia o rapaz parecia mais interessado no conteúdo no celular do amigo. O sorriso desfaleceu no rosto dela, que passou a olhar em volta. Seus olhos caíram nos meus, fixos no dela. Emanou uma energia de surpresa no mesmo instante, energia da qual me alimentei. Seus olhos caíram ao meu colo e então foram levados aos rapazes ao seu lado. Não demorou muito até sentar-se ao meu lado na sombra.
  - Fugindo do sol? - perguntei despretensiosamente.
  - Também. Cansei de ficar em pé, de qualquer forma.
  - São seus amigos ali?
  - Meu namorado e o amigo dele. - o entusiasmo mínimo em sua voz entregou a insatisfação.
  - Parecem bem entretidos.
  - Um joguinho estúpido que descobriram. - revirou os olhos, cruzando os braços abaixo dos seios - Nossa, hoje está realmente abafado. Não passa nem uma brisinha.
  E assim o fiz.
  Ela olhou pra mim espantada, os cabelos voando.
  - Você viu isso? Pareceu até mágica!
  - Você acredita em magia?
  - O ceticismo me tem um pouco.
  - Tudo bem, se você pudesse pedir qualquer coisa, o que pediria?
  Ela olhou instantaneamente para ele, que nem notara seu sumiço. Suspirou quase imperceptivelmente e deu de ombros.
  - Talvez um pouco de reciprocidade.
  - Se eu te der isso, o que ganho em troca?
  Ela riu, desacreditada.
  - É sério? - Assenti - Tudo bem, vou entrar na brincadeira. O que você iria querer, ó grande mestre?
  - Você como minha aprendiz.
  - Ó, que grande honra seria, meu senhor.
  Por mais que o sarcasmo chegasse a ser palpável nas falas dela, e isso era o ceticismo que a tinha, não custava nada começar a manter o legado.
  Tirei de dentro da bolsa uma garrafinha de água, passei os dedos em sua lateral, a água vibrou.
  - Um gole deve ser o suficiente. - e movi a garrafa na direção dele. Ela me olhou assustada em confusa. Sorri. - Não é veneno!
  Tomei um gole para provar, não teria efeito em mim aquele pedido. Tirei do bolso um pedaço de papel em branco.
  - Se der certo, com o prazo de uma noite, um endereço onde poderá me encontrar aparecerá nele. - disse e o coloquei em seu bolso. - Só se prepare para as consequências.
  Reuni minhas coisas e fui embora.

  Estava sentado à janela no primeiro andar de um prédio federal abandonado quando ouvi passos entre os pedaços de concreto, folhas secas e lixos soltos no piso.
  - Olá? - ela chamou - Cadê você?
  - Aqui em cima.
  A garota se assustou, erguendo a cabeça em minha direção. Saltei da janela e me apoiei no corrimão gasto de madeira, projetando minha sombra sob ela com o holofote natural do sol.
  - Deu certo?
  Ela assentiu, o medo do desconhecido emanando dela e me alimentando.
  - Fico feliz que tenha sido honesta o suficiente para vir me procurar.
  - Eu não entendo.
  - Em breve entenderá.
  - Por que eu?
  - Você tem o necessário. Mas terá que se dedicar ou não valerá de nada e as consequências não serão boas.
  - Quem te garante que eu não vá te entregar?
  Ri. Tão previsível! Nada que já não fosse esperado.
  - Se fosse me entregar não estaria aqui.
  - Nem eu sei por que estou aqui.
  Sem muito esforço saltei para o térreo. O corrimão a qual me apoiará ganhou uma curvatura frágil e a poeira se ergueu em volta dos meus pés.
  - Você quer saber o que o fez ter querer mais... Dentro daquela garrafinha.
  Peguei sua mão e ergui seu antebraço até a altura de nossos quadris. Encaixe minha mão no braço dela de modo que a ponta dos meus dedos ficassem em volta da veia principal em seu pulso. Com nossos pulsos voltados para cima ela acompanhou quando minha veia saltou grossa contra a pele fina e fez caminho até o pulso. Ela engoliu em seco e assentiu, dizendo: “quero!”. E então ela fechou os olhos sentindo o prazer do poder entrar por sua veia; sussurrei:
  - É chamado de magia negra.
  E seus olhos abriram, flamejantes.

FIM