Bird With A Broken Wing

Escrita por Natty Darko | Revisada por Lelen

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  Ele estava distraído com alguns rascunhos escritos à mão, encostado na mesa do estúdio, onde estavam esparramados vários papéis com borrões e letras de músicas a muito esquecidas. Era estranho relembrar os fatos que ocasionaram a produção daquelas letras de músicas, porque há tanto que ele não pensava naquilo. Há tanto que ele não sentia aquilo. Não era algo a ser compartilhado com ninguém, era algo para ficar fechado em sua mente, mas ela não deixaria isso ser fácil.

  - Fale-me sobre ela. – Pediu a garota de cabelos repicados, segurando em suas mãos um papel amarelado com letras perdidas no tempo e emoções guardadas num cofre sem chave.
  - Realmente preciso? – Questionou-lhe , um vinco formando-se em sua testa para provar que ele estava aborrecido com aquela insistência em contar sobre aquela garota de tanto tempo atrás.
  - Sim, eu quero saber. – Sorriu para ele, mostrando os alinhados dentes brancos e o suporte que ele precisava para falar sobre aquilo que pensava ter esquecido.
  - Ela era tudo. – Resmungou ele, sem vontade de tocar no assunto, ainda receoso de falar sobre isso na frente de sua namorada. – era mais que um rostinho bonito, ela era inteligente, tinha um futuro promissor e parece que apenas eu via isso. – Torceu o nariz, descontente. – Eu era o único que via algo de bom nela.
  - Talvez porque ela realmente não tivesse nada de bom para ser visto. – Interrompeu a morena, cruzando os braços e encostando-se na parede bege. lançou-lhe uma careta. – É apenas minha opinião.
  - Tanto faz. – Afirmou, voltando a forçar sua memória mais longe. – Enfim, a era muito cabeça dura, e geralmente escutava apenas os seus amigos riquinhos. – Torceu novamente o nariz, enfezado. – Eu até gostava dela. – A outra o encarou com uma careta sarcástica. – Tá, eu gostava muito dela. Mas acontece que eu estava muito ‘abaixo’ do que ela desejava para si. Então eu fui chutado.
  - Ainda não consigo entendê-la. – Resmungou, mexendo nos cabelos negros com as mãos inquietas. – Por que não podia ter te dado uma chance? – E então ela se tocou do que havia acabado de falar. – Aliás, melhor que ela não tenha te dado essa chance mesmo.

  Um pequeno sorriso se formou no rosto de , aquela menina conseguia ser engraçada nos momentos mais inoportunos que apareciam. Sentou-se na cadeira, voltando a revirar os papéis até que viu o olhar severo que a garota lhe lançava, indicando que ela definitivamente queria uma resposta.

  - Eu era apenas um garoto alienado e excluído da sociedade. – Fechou os olhos com a recordação, a muito que ele mudara. – Tudo o que eu ouvia sair de sua boca era um ‘te vejo depois garoto’. – Passou as mãos pelas têmporas, massageando-as. Aquilo  de recordar dava-lhe dor de cabeça. – Como se eu não fosse bom o suficiente para ela. – Bufou, irritado. – Como se algum daqueles playboys tiveram algum futuro melhor que o meu. Como se algum deles fosse tão especial assim. Como se algum deles sentisse algo por ela e não pela droga do dinheiro da família dela.
  - Você é mais que o suficiente para ela, e você sabe disso . – A garota sorriu-lhe reconfortante, sabia o quão bom aquele homem ela. – Não deixe garotinhas mimadas dizer a você o quão bom você é ou o que você vale. Você é muito mais que um skatista, você é um bom homem.
  - O pior de tudo é saber que ela foi embora sem nem ao menos falar tudo aquilo na minha cara, simplesmente não contar nada, apenas guardar tudo para ela. – Suspirou, frustrado. – O que eu sentia por ela ia muito além de um preconceito.

  A namorada sorriu tristemente para ele, indo até o mesmo e abraçando-lhe forte, um abraço que só ela sabia dar e que espantaria qualquer dos males que lhe rondavam ou qualquer tristeza que lhe derrubasse. Ela sim era muito melhor que qualquer outra, a não chegava aos pés da , porque ela não era tão verdadeira e boa quanto sua namorada.

  - Ela era uma garota muito burra para não ver o homem maravilhoso que você sempre foi, ela jamais te mereceu. – Tocou a cabeça dele com a ponta dos dedos, afagando-o.
  - Você é tão estranha, . – Um sorriso alegre tingiu-se em meio à morbidez de seu rosto tomado pelos fantasmas do passado, apenas tinha a capacidade de afastá-lo do inferno torturante que ascendia sobre sua cabeça quando essas memórias lhe dominavam.

  A qualidade que mais apreciava nela era que era uma boa ouvinte, uma ótima ouvinte. E ela o respeitava, respeitava seus sentimentos por uma mulher que nem ao menos conhecia e que o tratara mal. Ela adorava saber o que se passava por sua cabeça, ela não se importava de ouvir aquela história toda vez que mexia nos velhos papéis amarelados com canções nunca completadas sobre uma garota que o rejeitou.
  Era isso o que mais amava em , a capacidade de ela amar-lhe tanto a ponto de suportá-lo compartilhar a dor de um amor do passado dele. sabia que não se importava de ajudá-lo a carregar sua dor, e eram simples atos de suporte e amor que os faziam tão perfeitos um para o outro. Um pássaro com a asa quebrada e alguém para ajudar-lhe a voar.

FIM



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