Billie Jean

Escrito por Natty Darko | Revisado por Natashia Kitamura

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  As luzes cintilavam sobre suas cabeças, de diversas cores e intensidades, mas sempre fracas o suficiente para ocultar a expressão decepcionada cravada em seu rosto. Não tinha forças o suficiente para encarar-lhes de volta, aquelas faces acusadoras e risonhas, rindo de sua desgraça. Culpa não era uma palavra presente em seu vocabulário, ele não a sentia, ele não a conhecia e preferia deixar assim. Não se arrependia de todos os erros que cometeu, inclusive o maior de todos: Confiar nela. A dona dos cabelos ruivos, aquela que carregava sempre consigo o sorriso maldoso nos lábios e o olhar atento. Ela conhecia todos os seus passos, conhecia todos os seus deslizes. Sabia exatamente como manipular ele.
  Estivera ele tão cego para não enxergar aquilo antes? Estivera ele tão entorpecido com os cabelos rubros e o veneno em seus olhos? conseguira o que queria, tirara tudo o que ele um dia tivera. Talvez ele até o merecesse, porque ele fizera pior que ela com tantas outras, fizera da felicidade um mero objeto desprezível, arruinando-a por onde passava. Ela sabia jogar, mas ele não era tão diferente dela, ele não era tão distante dela assim. Onde um joga, dois podem jogar.
  Não estava lembrando-se bem o porquê de estar ali, no covil da cobra, com o veneno suspenso sobre seus olhos, pronta para dar o bote. Então ele a avistou, os cabelos de um fogo tão vivo jogados por cima dos ombros, o mesmo sorriso cruel que ele conhecia, a mesma garota sem nome que o tinha. Sorriu sarcástico, andando até ela, cruzando o caminho de outras pessoas sem realmente se importar o que isso significava. Naquela hora o mais importante era chegar até ela e terminar aquele jogo cansativo de uma vez.
  - Então. – Disse ela, sua voz suave e cuidadosa como o deslizar de uma cobra.
  - Então. – Murmurou ele, distraído com o balançar dos cabelos dela enquanto seu quadril movia-se de acordo com a batida da música.
  - Veio para dar um ponto final? – Perguntou com a voz arrastada, enquanto fechava os olhos e continuava deslizando os pés pela pista de dança. – Ou apenas para começar tudo de novo? – Abriu os olhos novamente, parando de dançar e ficando de frente para ele. – Fale.
  - Difícil. – Resmungou , torcendo o nariz, enquanto levava sua mão direita até a sua nuca e bagunçava os cabelos negros. – O que eu ganho acabando com um jogo tão divertido?
  - Jogo? – Arqueou as sobrancelhas rubras, pousando sua mão sobre a cintura, por cima do tecido prateado do vestido curto. – Acho que entendeu errado.
  Sorriu sarcástico para ela, ele não era assim tão ingênuo e bobo para ouvir aquelas palavras como se fossem algum tipo de verdade. Mas de certo era impressionante o poder que parecia exercer sobre ele. O fazendo ficar preso em um jogo que não tinha um fim agradável, se é que tinha fim. Ela não era sua amante, era apenas uma garota mentirosa. Então ele não tinha que olhar para ela como olhava para uma mulher crescida e verdadeira.
  - Jogo, sim. – Sorriu seco, desprovido de qualquer tipo de sentimentos. – E ele acaba aqui.
  Virou então as costas para ela, deixando as mentiras para trás e seguindo o seu próprio caminho, desprovido de qualquer culpa, como sempre. Não queria mais mentiras virando verdade, não queria mais verdades virando mentiras.

FIM



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