Between Rupture And Rapture

Escrito por Dana Rocha | Revisado por Natashia Kitamura

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  - Melhor não se mexer ou eu vou ter que atirar! - O tom imperativo e firme que ela utilizou teria feito o mais terrível terrorista obedecê-la, mas não surtiu efeito algum nele.
  A não ser que sorrir de lado contasse.
  - Calminha coração, vamos resolver isso de um modo civilizado. - disse ele calmamente, levantando as mãos para cima como se se rendesse, enquanto se virava de frente para a policial.
  - Acho que você não é capaz de agir dessa forma. - respondeu, tentando disfarçar o rancor ao dizer aquilo. Ele voltou a sorrir.
  - Que bom que ainda se lembra. - Sua voz suja fez o sangue da mulher ferver e, por consequência, a fez apertar a arma em sua mão com mais força. Ainda a mantinha apontada diretamente para o coração do homem que se encontrava há cerca de cinco metros de distância de si, vestido bem demais para alguém como ele.
  Seu parceiro, um homem que aparentava uns vinte e poucos anos, estava ainda mais distante do que ele e apontava sua própria arma para a cabeça de um executivo de cerca de quarenta anos que, amordaçado e com os braços presos atrás das costas só fazia olhar para a policial implorando por ajuda.
  - Leve-o para o cofre para que ele te faça companhia enquanto você limpa o local, Jorge. - o parceiro assentiu parcialmente, encarando a policial com medo. Achava o outro maluco por ousar encará-la com toda aquela petulância e aquele sorriso presunçoso.
  - Mas...
  - Faça o que eu mandei! - elevou a voz por um momento, desviando seus olhos dos da policial por uma fração de segundo para inclinar o pescoço em direção ao outro. - A policial aqui não vai tentar fazer nada. Nós dois temos contas a acertar.
  Ela queria ter dito algo.
  Qualquer coisa que a sua profissão a obrigava a dizer naquele momento.
  Poderia até aproveitar a distração do comparsa e atirar em ambos. Talvez conseguisse, mas nem sequer tentou.
  Ao invés, ficou parada, a boca semi-aberta e a mão que segurava a arma tremendo um pouco.
  O comparsa olhou para ela mais uma vez antes de obedecer ao outro, fazendo o refém se levantar e empurrando-o para dentro de uma sala na lateral do banco.
  Era estranho que tivesse deixado todos saírem, com exceção de um único homem, mas ela já não se surpreendia com as armações daquele homem.
  O refém também a encarava e ela tentou sustentar seus olhos para lhe passar alguma segurança, mas não foi capaz por muito tempo, de modo que se sentiu, de certa forma, aliviada por não ter mais que vê-lo quando a porta da outra sala se fechou.
  Porém, o alívio durou só por um instante, terminando no momento em que sentiu os olhos dele queimando sobre si.
  - Você mudou... - disse ele, num tom profundo e curioso. O final da frase, no entanto, foi pronunciado com tamanha malícia que fez com que seus pelos da nuca se arrepiassem. - .
  Havia tempos desde que ouvira seu nome ser pronunciado daquela forma pela última vez. Lembrar daquilo não lhe trazia tão boas lembranças quanto gostaria, mas a sensação não mudara.
  - Já você, não mudou nada. - Respondeu com arrogância, guardando a arma de volta no cinturão. - .
  Ele sorriu nasalado, jogando a própria arma sobre o balcão ao seu lado. Ao perceber o olhar assustado de diante de seu ato, disse:
  - Não vamos precisar disso, né?
  - O que você acha que está acontecendo aqui? - Sentiu a voz falhar irritantemente, amaldiçoando-se por isso.
  - Eu ouvi que você tinha se tornado policial. - deu um passo curto para frente, em sua direção.
   sentiu seu corpo enrijecer. Não era desse modo que havia planejado, não podia deixar-lhe se aproximar mais.
  - Estava longe daqui, onde era seguro pra mim. Sabe, caras como eu tem reputação ruim em várias cidades.
  - Você está sendo procurado no país inteiro. - Riu com escárnio. ergueu uma sobrancelha.
  - Mas eu só queria ser encontrado por você. - outro passo e o coração de palpitou mais rápido.
   podia estar com uma aparência mais velha, agora com seus vinte e tantos anos, mas não mudara em nada seu jeito metido e conquistador, aquele mesmo que ele possuía há cinco anos, quando eles se conheceram.
  - Foi por isso que você voltou? - A pergunta soou dura, embora a ideia de que ele estivesse ali por ela fizesse seu coração querer dar um mortal em seu peito.
  Não.
  Não se deixaria levar por aqueles impulsos adolescentes. Ela não era mais aquela jovem boba e iludida que já fora um dia.

  's POV mode on

  - Ok linda, te vejo amanhã! - Mark gritou, abrindo os braços e me jogando um beijo no ar, completamente bêbado. Jordan, o único sóbrio ali fora eu, o segurou quando este cambaleou para cima do meu carro e minhas outras duas melhores amigas começaram a rir como idiotas da situação. Rolando os olhos, acenei para todos e entrei no carro, jogando o celular perto do freio de mão e preparando-me para partir.
  Jordan ficara responsável por levar todos para suas devidas casas, já que meus amigos bêbados eram irritantes demais para o meu gosto e eu sempre acabava irritada quando tinha que lhes dar carona naquele estado.
  - Boa sorte Jordan! - Disse para ele, dando partida no carro.
  Eram cerca de três horas da manhã e as ruas perto do bar estavam completamente vazias e escuras.
  Sabia que de manhã teria de aguentar meu pai fazendo um grande discurso sobre como garotas de 17 anos não deveriam estar sozinhas na rua à essa hora e sorri com sarcasmo ao imaginar o que ele diria se eu não estivesse sozinha.
  Nem bem o pensamento surgiu em minha mente e fui surpreendida por um louco que se jogou na frente do meu carro há cerca de um metro de distância, me obrigando a frear bruscamente.
  Antes não o tivesse feito.
  Porque, logo que parei, percebi a arma em sua mão e o jeito louco como ele me olhava e meu coração foi parar na minha boca quando ele correu para o lado do passageiro, mandando que eu abrisse a porta.
  Pensei em acelerar em disparada, mas os riscos eram grandes e a voz do meu pai repetindo que não se devia reagir a um assalto gritava na minha mente.
  Olhei pros lados desesperadamente, procurando por alguma alma viva para me ajudar, mas não havia ninguém.
  - Vai logo, garota! - Ele gritou, balançando a arma em minha direção. Solucei, destravando a porta e assistindo-o entrar no meu carro numa velocidade impressionante. - Quero que dirija o mais rápido possível para bem longe daqui!
  - Tenho cara de taxista? - perguntei, com uma raiva profunda tomando conta de mim. Ele me olhou como a boca semi-aberta, não acreditando que eu perguntara aquilo.
  A raiva era tanta que nem voltei a dirigir, permanecendo parada com o carro no meio da rua.
  - Anda logo garota, quer levar tiro?
  - Quer guardar essa coisa? Meu pai diz que não se deve dirigir estando sobre pressão. O risco de acidentes é maior. - Ele riu nasalado, provavelmente achando que eu era louca. Jogou a cabeça no encosto do banco e tirou o cabelo do rosto com a mão esquerda.
  - Só pode ser brincadeira! - Disse ele.
  - E é . - completei com a voz fraca, percebendo que ele se virara para mim, incrédulo.
  - ?
  - É, meu nome.
  - Bom, prazer, . - Cumprimentou, com uma simpatia exagerada. - Agora quer fazer o favor de fazer esse carro se mover? - O homem, que não devia ter mais do que vinte e dois anos, cabelos grandes e bagunçados e olhos , elevou a voz. Olhei para a arma em sua mão, não com medo, mas como um sinal de advertência.
  Quando entendeu o que eu queria, suspirou, guardando-a de qualquer jeito dentro das calças jeans surradas de lavagem clara.
  Só então dei partida no carro, dirigindo sem rumo por cerca de dois minutos, até ter a brilhante ideia de perguntar:
  - Pra onde você quer ir? - ele riu, provavelmente de mim.
  - Quero sair da cidade. Você pode me deixar no km 120 da estrada principal.
  - Tá brincando? - Gritei. Ele se assustou um pouco, mas logo recuperou a pose de machão e me olhou sem entender. - Minha gasolina não vai dar pra chegar lá, olha só! - Apontei com desespero para o marcador no painel do carro e ele seguiu meus olhar até lá, rolando os olhos em seguida.
  - Então é melhor passar em um posto de gasolina primeiro.
  - Você acha que eu tenho dinheiro? - Minha vez de rolar os olhos para ele, que me fitava incrédulo.
  - Não espera que eu pague né? - ele perguntou e eu ergui as duas sobrancelhas juntas, como se dissesse que era óbvio que sim. - Querida, eu não sou seu amigo querendo uma carona. Sou um assaltante querendo fugir da polícia. Agora anda logo e encontra um posto antes que eu tenha que pegar a arma de volta.
  - Não, deixa ela guardada. Tem um posto perto daqui que pode estar aberto. - disse, me lembrando de já ter ido lá uma vez após sair do bar em que ia sempre com meus amigos.
  Demorariam cerca de cinco minutos até que chegássemos lá e eu realmente estava preocupada com o lance da gasolina, porque eu não tinha mesmo o dinheiro para pagá-la.
  Mas eu não precisava, certo? Afinal, se o cara estava com tanta pressa em fugir era porque estivera em ação há pouco tempo e deveria ter dinheiro com ele sim.
  Como previra, o posto ainda estava funcionando e, assim que parei o carro perto da máquina, um dos dois únicos funcionários que trabalhavam ali naquele horário veio me atender.
  - Enche o tanque. - Pedi à ele, que olhou de mim ao cara ao meu lado um pouco desconfiado antes de assentir. Tentava parecer tranquila e confiante para o que estava prestes a fazer.
  Esperei por pouco tempo até que o homem voltasse à janela do carro e anunciasse que lhe devia cinquenta dólares. Então, com meu melhor sorriso, virei-me para o assaltante ao meu lado e disse, batendo a mão em sua perna:
  - Paga pra ele, amor. - ele me encarou com os olhos arregalados e depois os virou para os incisivos olhos do funcionário de cerca de dois metros de altura e braços que deviam ter a espessura do meu corpo.
  Sorrindo forçadamente para mim, ele retirou uma cédula de cinquenta do bolso e deu ao outro homem, passando o braço por cima do meu corpo. Tentei ignorar o giro que meu estômago deu ao perceber o quão fortes eram aqueles braços e desviando o olhar, acabei encontrando algo que fez minha boca se erguer num sorriso.
  - Amor, to com fome, me paga um salgadinho? - apontei para o local onde havia uma estrutura de metal em que havia várias marcas e sabores de salgadinho à venda. Os dois me olharam.
  - Que? O que você pensa que eu... - o assaltante levantou a voz num tom um pouco agressivo, mas, ao encontrar os olhos atentos e repreensores do funcionário do posto, suspirou, pegando outra nota de dez dólares e entregando ao homem do lado de fora do carro. - Fica com o troco.
  - Quero um de bacon. - disse para o funcionário, que fez um gesto pedindo que o seu colega pegasse o salgadinho e depois gritando o sabor por mim escolhido.
  - Aqui, moça. - ele me entregou o pacote e eu sorri para ele, acenando antes de deixar o posto de gasolina, voltando a dirigir por ruas escuras e desertas.
  Demorou cerca de cinco minutos até que ele voltasse a falar provavelmente impulsionado por certa raiva quando joguei o pacote de salgadinhos no banco traseiro do carro.
  - O que? Você não... - começou, com um tom alto de frustração - Não vai nem ao menos comer isso dai?
  - Não gosto muito de bacon. - dei de ombros, querendo gargalhar pela sua cara de indignação.
  - Está achando isso engraçado? - ele perguntou, a ira evidente em sua voz. Percebi que ele tremia um pouco.
  - Qual é, eu realmente não tinha dinheiro. Além do mais, como é que você quer ir para o meio da estrada e não eu, é você mesmo quem tem que pagar.
  Permanecemos em silêncio, ele me olhando com uma expressão confusa e eu o ignorando, dirigindo despreocupadamente pelo escuro da noite.
  Passamos por um quarteirão residencial e, por um momento, desejei poder estar em minha própria casa, na minha cama macia e confortável.
  Ao invés disso, estava num carro com um assaltante maluco, levando-o para fora da cidade.
  Tentava encarar aquilo numa boa, mas só então percebi que podia estar abusando da sorte, sentindo meu coração pular rapidamente em meu peito.
  - Você não matou ninguém, matou? - perguntei preocupada. Ele percebeu que meu tom mudara e sorriu com isso.
  - Não. Eu assaltei um banco.
  - Assaltou um banco e tá reclamando por ter gastado sessenta dólares com gasolina e salgadinho?
  - To reclamando porque você nem ao menos vai comer essa merda. - disse, parecendo disposto a controlar a raiva. Sorri de lado.
  - Se você assaltou mesmo um banco, por que não há policiais atrás de você nesse momento?
  - Porque eles só vão descobrir que tem algo errado quando os funcionários chegarem para trabalhar amanhã de manhã. - Foi a vez de ele sorrir, orgulhoso de si mesmo.
  - Uau. - Fingi admiração e ele apenas me olhou.
  - E você? - perguntou. Olhei para ele com a testa franzida.
  - Eu o que?
  - O que fazia sozinha no carro à essa hora?
  - Voltava de uma festa com uns amigos.
  - Ah. - Percebi que seus olhos correram para minhas mãos sobre o voltando e ri pelo nariz, rolando os olhos. Caras.
  - Mesmo que eu estivesse comprometida, não usaria nada como um anel para simbolizar isso. Acho desnecessário e brega.
  - Eu não estava procurando nada disso. - Fechou a cara e só faltou fazer bico, colocando-se totalmente na defensiva. Ri com sarcasmo.
  - Claro que não.
  - Você não faz meu tipo. - Disse ele, ainda na defensiva.
  - A não?
  - Não. - ergui uma sobrancelha para ele, olhando-o.
  - Melhor prestar atenção na rua, não quero morrer aqui. - Ele apontou para frente, parecendo genuinamente preocupado com sua segurança. Fiz o que ele pediu, mas não mudei o assunto.
  - Por que não?
  - Você fala demais. - Disse de pronto, quase até me ofendendo.
  - Oh, você não gosta de garotas que falam o que pensam?
  - Não gosto de garotas que pensam. - Ri alto. Ele realmente falava sério.
  - Do que você gosta então?
  - De um bom oral e nenhum número de telefone. - parei de sorrir no mesmo instante, genuinamente ofendida com suas palavras. Não que tivesse criado algum tipo de expectativa bizarra com o cara que praticamente me sequestrara, mas era nojento que um homem dissesse esse tipo de coisa para uma garota.
  - Ah não, o que foi anjo? Não vai me dizer que você achou que eu era um cara decente. - Rolou os olhos, rindo da minha expressão zangada.
  - Não achei. Você me sequestrou, lembra? Mas eu sou uma garota de família e não tenho que ouvir esse tipo de coisa.
  - O quê? Sexo? Você deveria experimentar um dia. Aposto que vai gostar. - ele disse com voz de galã e eu me virei boquiaberta para ele. O assaltante então piscou para mim e, bufando, voltei a me concentrar na estrada. - Tá bom, sexo não é a sua praia. Me diz do que você gosta então.
  - Por que quer saber do que eu gosto?
  - Estou tentando fazer isso ficar um pouquinho mais agradável para você, deveria me agradecer.
  - Claro que deveria. - balancei a cabeça. Ficamos em silêncio por pouco tempo, até eu perceber que ele realmente esperava que eu lhe dissesse alguma coisa. - Quero ser jornalista.
  - Ahn? - perguntou, surpreso por eu tê-lo respondido. Eu também me surpreendi. - Jornalista? Gosta de escrever então.
  - Gosto.
  - O que você escreve?
  - De tudo um pouco. Gosto de escrever histórias de aventura e mistério.
  - Gosta de romances policiais? - Não entendi o porquê da pergunta até que ele a completasse: - Porque você poderia escrever uma história sobre isso daqui. E é claro que você poderia fazer com que eu fosse preso no final. - sorri com a sugestão.
  Ele voltou a descansar a cabeça no encosto do banco e ergueu o queixo, como se quisesse aliviar o pescoço. Então continuou:
  - Mas só na história, ok? Na vida real meu fim tem que ser bom.
  - Por quê? - Não consegui segurar a língua, vendo-o desencostar-se no mesmo momento e me olhar com aqueles olhos brilhando. Podia ser só impressão, mas eles pareciam mais escuros.
  - Por que eu quero. Simples assim. E também acho que mereço isso.
  - Acha que merece? Tem algum motivo em especial ou só amor próprio em excesso mesmo? - Ele riu.
  - Bastante amor próprio. Mas acho que todos deveriam se dar bem no final. O que posso fazer se sou um romântico? - Aproveitei um sinal fechado para poder olhá-lo quando ele disse aquilo.
  - Você? Romântico? - Ri com deboche. Ele pareceu ofendido.
  - Não me acha romântico?
  - Desculpa, mas você não tem absolutamente nada de romântico! - sorriu com malícia, virando o corpo todo em minha direção, a medida do possível no banco do carro. Engoli em seco com aqueles olhos me encarando daquela forma.
  - Eu poderia ser... - colocou sua mão direita em minha bochecha, fazendo carinho ali com o polegar, enquanto sua mão esquerda seguia diretamente para a minha coxa, apertando-a com força. Segurei um suspiro mais audível mordendo o lábio inferior com força, enquanto torcia para que ele não percebesse nada.
  O que é óbvio que não aconteceu e ele fez questão de rir nasalado, subindo a mão esquerda até a pouco acima da metade da minha coxa direita, levando junto parte do meu vestido preto um pouco solto.
  Dessa vez não pude prender o suspiro pesado que soltei, enquanto ele ainda olhava dentro dos meus olhos, tendo os seus dominados pela luxúria. Sorte ou não, olhei para o semáforo naquele instante, vendo a luz verde apontada em minha direção.
  Com mais força do que o necessário, empurrei-o para longe de mim, voltando a dirigir o carro. Depois disso não nos falamos mais por cerca de meia hora, até que já estivéssemos na estrada.
  Vez ou outra sentia seu olhar sobre mim, mas evitava olhar de volta e acabar caindo na lábia daquele conquistador barato.
  Só relaxei a postura quando avistei a placa anunciando o km 120, ao lado de outra anunciando uma pequena pousada ali perto. Raciocinei que ele ficaria ali até arranjar um outro modo de fugir e por um momento pensei em ligar para a polícia assim que o deixasse ali. Seria fácil e rápido e não estaria fazendo nada mais do que a minha obrigação como cidadã ao colocar um marginal na cadeia.
  No entanto, o pensamento só durou o tempo de parar o carro no acostamento e olhar para ele, que já me encarava com um olhar que não consegui decifrar, mas que arrepiou cada pelo do meu corpo.
  Não disse nada; só inclinou o corpo na minha direção, encostando seus lábios macios nos meus. Fechei os olhos, mas não tenho certeza se ele fez o mesmo. Durou pouco e, inconscientemente, o segui quando ele se afastou, fazendo-o rir fraco. Então voltou a se aproximar, mas não com a mesma intenção de antes. Ao invés disso, encostou os lábios em minha orelha, sussurrando algo que só consegui entender quando ele se afastou novamente e o torpor da proximidade misturada à seu cheiro inebriante passou.
  . Foi a última coisa que ele disse antes de abrir a porta do carro e sair correndo até sumir da minha vista.
  Eu ainda permaneci parada ali por pelo menos mais cinco minutos, tentando me reestabilizar. Lembrei então da minha ideia inicial e mirei o local onde jogara meu celular antes de ser abordada por , mas não encontrei nada lá.
  O filho da puta tinha roubado o meu celular.

  's POV mode off

  - ? - chamou, ligeiramente preocupado com o silêncio da mulher.
  - Por quê aqui?
  - Por quê esse banco? Eu sabia que essa era a sua área, meu bem. - Sorriu para ela, que não fez o mesmo. - Sabe, desde que descobri que você virou uma oficial, tive vontade de te perguntar uma coisa. - deu mais um passo largo, arriscando ficar quase frente à frente com a mulher. Sua respiração acelerou ao ser invadido pelo cheiro dela, que não mudara nada desde a primeira vez que estivera com ela.
  Ele nem ao menos estava convencido de que ela mudara. Estava realmente mais dura e talvez magoada, mas ainda tremia quando ele se aproximava demais e sua voz falhava em momentos inoportunos, deixando-a irritada como nos velhos tempos.
  Só o intrigava que ela agora estivesse tão calada.
  Não, a sua nunca fora tão taciturna assim.
  - O que quer saber? - A pergunta era irrelevante, afinal, ela sabia exatamente o que ele queria saber. Só não achava que estava pronta para respondê-lo.
  - Foi por minha causa? - perguntou, num tom um pouco ferido, franzindo a testa ao fazê-lo. Como ele ainda ousava se fazer de vítima? Era ela quem deveria agir daquela forma!
  Ela quem deveria enterrar uma bala no meio de seu coração, assim como ele fizera com o dela.
  - Será que não podemos esquecer o que houve? - agora estava frente a frente com a mulher, separados apenas por centímetros. Os corações de ambos tentavam se rebelar contra seus donos, que tentavam ignorá-los dentro de seus peitos, batendo com força. - Eu voltei. A gente ainda pode dar um jeito de sair daqui e ir para bem longe.
   segurou ambas as delicadas mãos de entre as suas, envolvendo-as completamente.
  Não conseguia imaginá-la, tão frágil e inocente, colocando bandidos perigosos na cadeia. Queria tirá-la daquela vida antes que alguém pudesse machucá-la, porque ele simplesmente não suportaria que alguém pudesse encostar sequer um dedo em para machucá-la.
  Quis sorrir, tamanha a ironia daquele pensamento: ele, justamente quem mais a havia machucado, querendo protegê-la dos caras maus?
  Principalmente quando ele mesmo era um deles?

  's POV mode On

  Dois anos.
  Dois malditos anos até que eu tivesse coragem suficiente para voltar a procurá-la.
  Minha inércia nesse tempo não poderia ser justificada pela falta de informações sobre ela, porque sabia cada passo.
  Com o seu celular, consegui o telefone de sua casa e, com a ajuda de alguns amigos, seu endereço e todos os seus dados. Soube também que realmente entrara na faculdade de jornalismo, estando agora em seu terceiro semestre de curso.
  Às vezes a via de longe, só para matar um pouco das saudades, mesmo que não fosse capaz de compreender o que estava acontecendo comigo.
  Jamais me sentira daquela forma. Desde a noite em que a conhecera, de algum modo misterioso, tudo o que fazia acabava me levando a pensar nela. Mal conseguiu ficar por muito tempo longe da cidade, sabendo que estaria longe demais. Pensar que ela poderia estar com outro cara me deixava louco, possuído por uma ira que eu nem mesmo sabia de onde vinha.
  Assim que decidi que havia enlouquecido, resolvi procurá-la.
  Quando a encontrei, no entanto, tão dedicada e compenetrada em seus estudos, não quis atrapalhá-la. Afinal, o que poderia um cara como eu acrescentar em sua vida?
  Dediquei-me então a observar de longe, assistindo-a entrar na faculdade, fazer amizades novas e ficar popular entre os veteranos, sempre com uma pontada forte de ciúmes quando a via sair com outros caras.
  Havia um em especial que eu não suportava. Felizmente, parecia não gostar dele também. Pelo menos era o que eu pensava, até o dia em que ela aceitou sair com ele.
  Não podia mesmo deixar isso acontecer. Não, aquele cara tinha uma puta cara de galinha, que só queria levar as garotas para cama (que aliás era exatamente o que ele fazia) e eu não podia deixar que ela se envolvesse com aquele imbecil.
  Assim, armei um plano para que ela definitivamente não fosse àquele encontro maldito.

  Invadir seu quarto no campus não foi nem de longe a coisa mais difícil que já fiz na vida. Deixar seu antigo celular ligado sobre seu criado mudo, tampouco. Esconder-me em seu guarda-roupas, no entanto, foi bastante desconfortável, mas o resultado final faria valer a pena.
  Esperei que ela chegasse, espiando pelo vão aberto do guarda-roupas quando ela tirou a camiseta de algodão cinza que vestia, ficando só com um sutiã de renda preta na parte de trás. Mordi o lábio para segurar um suspiro, lembrando do meu plano de ação e pegando meu próprio celular.
  O aparelho sobre o criado mudo logo começou a tocar, assustando-a. o segurou na mão, congelando. Pude ver suas costas enrijecerem e suas mãos tremulas apertarem o botão para aceitar a ligação.
  - Alô? - ela chamou, com a voz assustada. Poderia jurar que ela estaria pálida.
  - Sutiã bonito o seu, adoraria vê-lo de frente. - Sorri quando ela se virou aterrorizada de frente para o guarda-roupas, olhando de um lado para o outro. Seu rosto estava realmente pálido e, sua boca, entreaberta. - Isso, assim está ótimo.
  Ri, abrindo a porta do meu esconderijo ao mesmo tempo em que ela seguia até ele, de modo que nos encontramos no meio do caminho.
  Derrubou o celular no chão assim que me viu e paralisou completamente quando ficamos frente a frente.
  Tentava desesperadamente olhar em seus olhos, mas ela não deixava, mantendo-os fixos em algum ponto do chão.
  - . - chamei, sem obter respostas. Levantando seu rosto pelo queixo, repeti - .
  - Eu...- começou, mas nada mais fez sentido depois que nossos olhos se encontraram. Minha respiração parou por um segundo e a dela acelerou. Não consegui pensar em mais nada que não fosse beijá-la para compensar aqueles dois anos infernais.
  Envolvi seu corpo pequeno pela cintura com apenas um de meus braços, usando o direito para tirar o cabelo de seu rosto, segurando sua bochecha. Meus lábios buscaram os dela com volúpia, encaixando-se perfeitamente à forma dos seus. Quando nossas línguas se tocaram, a dela quente e macia, tive que me controlar para não jogá-la logo na cama e acabar logo com aquilo.
  Não, teria que estender aquele momento o máximo possível.
  As mãos de buscaram meus cabelos com uma necessidade que me fez sorrir durante o beijo, por me permitir enxergar que eu não era o único que precisava desesperadamente concluir aquilo que deveria ter sido concluído na noite em que nos conhecemos.
  Nossas línguas, emaranhadas uma na outra, ora se acariciavam com suavidade, ora duelavam dolorosamente.

  Era trabalhoso decidir qual situação era mais agradável e isso, misturado ao contato das mãos dela em meu pescoço e cabelo estava me levando a um nível de loucura difícil de ser controlado.
  Passei a beijar seu pescoço, deixando marcas ali sem nem me importar com isso, enquanto ouvia arfar. Sorri com isso, agora com a atenção voltada à seu colo e seios, ainda cobertos por aquele tecido inconveniente, de renda preta. Ele era sem duvidas bonito, mas a preferia sem aquilo.
  Antes de continuar, porém, olhei fundo nos olhos de , perguntando, sem o uso de palavras, se era mesmo aquilo o que ela queria. Assim como sabia que ela era ainda pura, tinha plena noção de que eu não era exatamente o tipo de cara com quem uma garota como ela pensava em passar sua primeira noite.
  Seus olhos, no entanto, me disseram totalmente o contrário. O olhar que me devolveu, talvez mais cheio de luxúria do que o meu, fez com que meu corpo enrijecesse e meus pelos se arrepiassem.
  Era tarde demais para voltar atrás.
  Conclui isso quando puxou meu rosto para trocar um beijo quente e apressado, o qual eu correspondi com o mesmo nível de loucura.

  O dia estava quase amanhecendo e alguns feixes da luz da lua adentravam por entre as persianas, iluminando o rosto adormecido de .
  Eu brincava com seus longos e macios cabelos, aproveitando cada mínimo segundo daquele sonho do qual eu logo teria de acordar.
  Eu a queria mais do que tudo.
  Eu precisava dela mais do que tudo.
  Mas ela não precisava de mim.
  Ela nunca precisou e nunca precisaria de um marginal, que não poderia lhe oferecer nada, a não ser uma vida nômade, fugindo do passado.
   era inteligente, bonita e tinha sonhos demais para serem desperdiçados ao lado de alguém como eu. Por isso eu não poderia ficar.
  Não poderia permitir que ela destruísse seu futuro por alguém que já estava completamente destruído.
  Aquela talvez tenha sido a decisão mais difícil da minha vida.
  Abandoná-la naquela manhã foi o meu pior crime, o único do qual eu sempre me arrependeria o suficiente para aceitar ser punido por isso.

  's POV mode Off

  - Não, . - tirou suas mãos das dele, recuando um passo. - É tarde demais.
  - Não, não é. - Ele franziu o cenho, como se as palavras negativas de atingissem sua alma.
  - Eu jamais vou conseguir esquecer o que você fez. - afastou as mãos de , que prendeu a respiração por um momento.
  Já havia se preparado para a rejeição, mas a dor era maior do que previra. No entanto, aceitaria qualquer consequência que viesse agora. Era para isso que ele estava ali, certo?
  Para ser julgado por seus atos passados.
  - Eu tive que fazer o que fiz, . Nunca mereci estar com você e não podia atrapalhar seu futuro.
  - Então por que apareceu naquele dia? Antes tivesse desaparecido pra sempre! - A voz aumentou pelo menos três tons e uma lágrima grossa escorreu por seu olho direito. Sabia o que tinha que fazer, e teria que ser logo.
  - Por que, meu anjo... - deu mais um passo para frente, voltando a acabar com o espaço entre eles. Precisa pelo menos senti-la junto a si uma última vez.
  - , não. - praticamente implorou, segurando-se para não tender ao impulso infantil de tapar os ouvidos para não ouvir o que ele tinha a dizer.
  - Eu preciso, por favor. - os olhos dele imploravam para ser escutado. Era como se ele dependesse daquilo, como se ele tivesse a necessidade de falar.
  Ela não o interrompeu mais, fechando os olhos com força quando ele disse:
  - Porque eu te amava. Estava completamente apaixonado e não podia te deixar ficar com aquele cara estúpido com que você iria sair. Ele só queria te usar e jogar fora!
  - Quer dizer como você fez? - rolou os olhos com raiva, olhando fundo nos olhos dele. a encarou de volta.
  - Eu não queria ter partido. Foi a coisa mais difícil que eu já fiz, mas, se ficasse, só iria dificultar as coisas para você. Você merecia mais do que eu poderia te oferecer.
  - Você deveria ter me deixado decidir isso! - a voz soou infantil e ela quis se matar por isso.
  - Você pode decidir agora. Meus sentimentos por você ainda continuam os mesmos. Tentei te esquecer por todo esse tempo, mas foi impossível, ! Eu te amo. - seus olhos brilhavam quando ele voltou a segurar a mão esquerda de nas suas e ele inclusive sorria. Ela desviou os olhos dos dele, mas voltou a encará-lo para respondê-lo.
  - Eu já decidi. - um pequeno fio de esperança brotou nos olhos de quando transformou o já pequeno espaço entre eles em cerca de milímetros. Ela ficou na ponta dos pés e aproximou seu rosto do dele, que sentiu o coração bater mais rápido. Suas mãos formigaram e sua respiração acelerou quando tocou seus lábios nos dele.
   envolveu sua cintura com as mãos, fazendo carinho no local. O torpor que sentia enquanto suas línguas se encontravam, acariciando uma à outra era tão forte, que ele praticamente não sentiu nada quando a bala atravessou a região de seu estômago, deixando-o um pouco tonto.
   afastou o rosto do dele, deixando-o ver sua expressão assustada, enquanto lágrimas sem fim escorriam de seus olhos.
  - Me desculpa. - ela pediu, sustentando seu corpo quando ele fraquejou, caindo para cima dela. Seus olhos foram a última coisa que ele viu antes de tudo terminar em escuridão.
   segurou o corpo morto do homem, chorando tanto que mal conseguia enxergar o chão onde o deixara sentado.
  Sabia que precisava se acalmar para ir atrás do outro assaltante e salvar o refém, mas sentia-se tonta demais para isso.
  Olhou para a arma em sua mão e teve de conter o desejo de usá-la contra si mesma.
  Sentou-se ao lado de no chão, encarando seu rosto tranquilo e estático, tentando não olhar para a poça de sangue que manchava o chão e seu próprio uniforme.
  Por dentro sabia que agira exatamente como deveria. voltara para pedir, mesmo sem dizê-lo em voz alta, que ela desse um fim àquilo, um fim à dor que ambos sentiam desde que ele tomara a decisão de abandoná-la.
  E aquela, acima de tudo, fora a melhor vingança que pudera ter por ter sido machucada da forma como fora.
  Ao pensar nisso, deixou que um sorriso satisfeito brotasse por entre as lágrimas, sujando o rosto com o sangue do homem que amara ao tentar secá-las.

Fim.



Comentários da autora


OIIIIEEEEE! Bom, eu sei que essa fic com esse final meio doente não é muito apropriada pra oferecer de presente pra alguém, maaaas não conseguia pensar num final mais adequado pra história do que esse hohoho Portanto,espero que tenha gostado Leeh, porque essa é pra você! hehehe
Não deixem de comentar, tds vcs e me dizer o que acharam dessa versão malvada e vingativa de vocês kkkkkkkk
xx -Dana (@isdanamart)