Better Sleeping On My Own

Escrito por Effy Stanfield | Revisado por Ponci

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  Viver uma vida baseada em aparências é um tanto quanto difícil, eu bem sabia disso.
  Por ser um cantor mundialmente famoso e estar sempre na mira da mídia, eu precisava ser sempre muito cauteloso e manter minha vida extremante pacífica; ficar longe de escândalos ou gafes que pudessem colocar meu nome nas primeiras páginas das revistas de fofocas de forma negativa e prejudicar a minha carreira. E sem esquecer, é claro, de estar constantemente perto de pessoas tão quanto ou mais famosas que eu.
  Devido a esse fato, decidi seguir a brilhante ideia de namorar Heather Fox, a atriz com menos de trinta anos mais bem paga dos Estados Unidos.
Conheci-a há quatro anos em uma dessas premiações que apenas adolescentes gostam de assistir e cujas roupas dos convidados são mais importantes que o próprio prêmio em si.
  Ficamos aquela noite e Josh, meu empresário, achou que seria uma boa ideia mantermos contato e, por livre e espontânea pressão, algumas semanas depois começamos a namorar.
  Não posso dizer que foi de todo ruim, pois tivemos bons momentos; ótimos, na verdade. Acho que até cheguei a me sentir apaixonado, mas não durou muito tempo.
  O problema é que Heather é controladora demais. Acha que, por ser a queridinha da América, tudo deveria acontecer exatamente do jeito que ela quer.
  Ela queria mandar nas minhas roupas, nas minhas músicas, nas minhas amizades; simplesmente em tudo que eu tinha ou fazia.
  E eu já estava farto disso.
  Não posso dizer exatamente o porquê de ainda estar mantendo esse relacionamento por tanto tempo. Talvez por comodismo, não sei. Ou pelos benefícios que ambos traziam às carreiras um do outro.
  Eu deveria ter adivinhado que esse relacionamento não daria certo no momento em que minha mãe alegou não gostar dela, o que era praticamente um milagre, visto que ela NUNCA dizia não gostar de alguém, por pior que fosse a pessoa.
  Na noite anterior, tivemos uma pequena discussão. Ela gritou em minha cara que se eu não estava satisfeito com a vida que tinha, então deveria voltar paro o meu "apartamento cafona no meio do nada".
  Com isso ela quis dizer a cobertura que eu tenho à beira da praia, em Long Beach, do qual eu realmente não me recordo o porquê ter abandonado e ido morar com ela em sua imensa e exagerada mansão, em Beverly Hills.
  Como me fazia profunda falta a brisa fresca lambendo o meu rosto ao abrir a janela pela manhã e as incontáveis horas que eu passava surfando naquelas ondas gigantescas e refrescantes.
  Suspiro, frustrado pelas minhas próprias memórias.
  Agora era quase madrugada e eu vagava sem rumo pelas ruas da cidade, tentando de alguma forma pensar em uma maneira de descarregar toda a minha raiva, frustração e mágoa acumuladas durante todos aqueles anos; sabendo que através da música seria impossível, uma vez que todos saberiam sobre o que e para quem seria e provavelmente causaria polêmica acompanhada de uma imensa dor de cabeça. Também não queria que pensassem que eu ainda ligo para essas coisas.
  Decido então entrar no primeiro bar que vejo à minha frente, me sento em um dos bancos rente ao balcão e peço um whisky duplo.
  – Você parece estar precisando não somente de uma bebida forte, como também uma boa conversa – A mulher de cabelos dourados diz ao encher um copo com o líquido.
  – Está tão óbvio assim?
  – Não sei, talvez sim. – Ela empurra o copo em minha direção. – Ou talvez eu seja apenas uma pessoa perceptiva demais.
  – Não quero encher ninguém com meus problemas. – Dou um longo gole na bebida, sentindo o gosto amargo descer por minha garganta.
  – Bom, levando em consideração que sou uma estudante quase formada em psicologia, ouvir os problemas das outras pessoas é o meu trabalho.
  – Você tem alguma noção de quem eu sou? – questiono, irônico.
  – É claro que tenho! – A garota preenche uma taça com cerveja e entrega ao rapaz à minha esquerda. – Porém aqui, agora, não importa se você é Eric Traynor, se é rico ou famoso, e sim que é um cliente precisando de ajuda.
  Suspiro, anuo com a cabeça e alcanço o objeto cilíndrico de vidro sobre o balcão, virando seu conteúdo por inteiro goela abaixo.
  – Se vou ter de contar essa maldita história por inteiro, precisarei de mais dessa belezinha aqui. – Aponto pra o meu copo, que logo é preenchido pelo líquido âmbar.
  – Pode iniciar quando quiser.
  Respiro fundo.
  – Tudo começou quando conheci Heather Fox. Suponho que saiba quem ela é, não? – pergunto e a garota assente. – Engatamos o namoro por influência dos nossos empresários; eles alegaram que a nossa relação beneficiaria nossas carreiras. – Solto uma risada nasalada, rodeando a borda do copo com o indicador. – Mas eu não sabia em que merda estava me metendo. Heather sempre agiu como se fosse minha dona. Ela controlava o meu modo de vestir e me obrigava a usar aqueles malditos óculos escuros em todo lugar que eu estivesse com ela, mesmo em eventos fechados, à noite. Pelo amor de Deus, quem diabos usa óculos escuros à noite? – aponto, indignado.
  – Sempre achei essa atitude sua meio esquisita, mas nunca consigo entender as coisas que ricos fazem mesmo. – A moça dá de ombros e ri em seguida, me fazendo acompanhá-la.
  – Ela também queria controlar minhas músicas. Achava que todas tinham que ser para ela e ela deveria ser a musa de todos os videoclipes.
  – E você realmente escreveu músicas para ela?
  – Algumas, quando pensei estar apaixonado.
  – E não estava? – A bartender pergunta, curiosa, enquanto misturava duas bebidas em um recipiente de alumínio.
  – Sinceramente? Não sei. Talvez sim, mas não durou muito tempo; um ano no máximo. E foi nesse espaço de tempo que ela se aproveitou de mim. Me manipulou e me convenceu de que meus amigos eram más influências, provocando meu afastamento deles. Também me afastou da minha cidade natal e da família. Minha mãe nunca gostou dela, eu deveria ter adivinhado o porquê. Heather sempre se exaltava e gritava comigo, dizendo que foi por causa dela que eu havia alavancado e ficado famoso. – Fecho minhas mãos em punhos, sentindo uma alta quantia de sangue se concentrar em meu rosto, que exalava ódio. – Ela falava como se todo o meu trabalho, todo o meu esforço, não tivesse servido para nada. Ela fazia eu me sentir um nada. Eu deveria...
  – Espere, espere! – A garota me interrompe. – Preciso atender alguém do outro lado do bar.
  Observo-a caminhar sorridente até a outra ponta do bar e atender educadamente uma moça.
  Como ela conseguia ser tão simpática com todos a sua volta?, penso.
  Sinto meu corpo relaxar aos poucos e volto a bebericar o líquido em meu copo.
  Vejo-a entregar uma taça com líquido colorido à mulher, receber uma quantia bem maior do que a bebida custaria e sorrir em agradecimento.
  Logo a garota corria de volta em minha direção.
  – Pronto. Desculpe a demora, pode continuar – Diz ofegante, devido à correria.
  – Sabe, acabo de me dar conta de que eu estou aqui te enchendo com meus problemas, mas nem ao menos sei o seu nome.
  – Grace. Grace Hale – ela responde.
  – Grace. É um lindo nome. Eu gosto dele.
  – Oh, por favor, não me diga que vai dar em cima de mim agora?
  – NÃO! – Balanço a cabeça freneticamente, negando. – É que... É o nome da minha mãe. Ela iria gostar de você.
  – É mesmo? – a garota arqueia a sobrancelha, desconfiada. – Por quê? Por que eu sou a nora dos sonhos dela?
  – Porque você é exatamente como ela: Bonita, gentil, educada, atenciosa e gosta de ajudar as pessoas.
  Grace deixa os lábios entreabertos, parecendo estar sem palavras, e até tenta disfarçar, porém, mesmo com a fraca luz que iluminava o local, consigo perceber suas bochechas coradas.
  – Bom, hum... – A garota pigarreia. – Que tal voltarmos ao seu problema, sim?
  – Claro. – Disfarço um sorriso. – Acho que tudo que eu tinha para falar, já contei. Agora preciso de ajuda para decidir o que fazer.
  – Você é um homem jovem, bonito, rico e famoso. Tem muitas oportunidades e pode ter o que quiser. Já eu, preciso trabalhar nesse bar todos os dias, onde encontro os mais variados tipos de pessoas e tenho que aturar bêbados tentando entrar em minhas calças; para assim poder pagar minha faculdade e mesmo assim o dinheiro que ganho mal dá para pagar a mensalidade e o aluguel do meu minúsculo apartamento.
  "Ouço muitas histórias, ajudo algumas pessoas, mas não é algo que vale realmente a pena, sabe? Porém, não me resta outra saída, pois é uma questão de necessidade.   Então você precisa decidir: Você necessita desse relacionamento? Precisa que sua vida continue do jeito que está? Ou você estaria melhor dormindo sozinho?”.
  A garota termina a sua fala e caminha para outra extremidade do bar para atender outros clientes, deixando-me aturdido com suas palavras. Percebo algumas pessoas sentadas no bar me encararem, parecendo ter prestado atenção em nossa conversa desde o início e agora esperavam alguma reação minha.
  Grace alcança um guardanapo, retira uma caneta de seu bolso e escreve alguma coisa, em seguida volta e empurra o papel em minha direção.
  – Esse é o meu número profissional. – ela frisa bem a última palavra. – Ligue-me se precisar de ajuda ou quiser conversar. Sei que fará a escolha certa.
  Retiro o papel e suas mãos e sorrio em agradecimento. Abro minha carteira e guardo-o ali, retirando uma nota de cem dólares logo em seguida e entrego-a. A bartender arregala seus olhos.
  – E-eu não posso aceitar. Isso é MUITO mais do que dois copos de whisky valem.
  – Aceite, por favor, Grace. Em agradecimento ao ótimo serviço prestado e a ajuda dada.
  – Obrigada, Sr. Traynor – a moça diz, sorrindo envergonhada.
  – Ora, por favor, me chame de Eric. Acho que temos intimidade o suficiente para isso.
  – Tudo bem. Obrigada, Eric.
  – A gente se vê por aí. – Sorrio e aceno, caminhando em direção à saída do bar.
  Sigo o caminho de volta para casa determinado a entrar naquela mansão e nunca mais voltar.
  Começo a empacotar minhas coisas assim que piso em meu quarto o mais rápido possível e tentando fazer o mínimo barulho, para evitar que Heather acordasse e fizesse um escândalo ou tentasse me fazer ficar.
  Encho diversas caixas e malas com minhas roupas e objetos pessoais e, a cada caixa preenchida, um peso parece sair de meus ombros.
  Após acomodar tudo na mala do meu carro e antes de sair definitivamente da casa, deixo sobre sua penteadeira, pois sabia que era o primeiro lugar que ela se dirigia ao acordar, um papel que dizia em letras garrafais a frase "Eu sei que você me odeia" e, sobre ele, aqueles malditos óculos que ela havia me dado. No verso da folha, lhe escrevi uma carta que dizia:
  

"Não tão querida Heather,

  Estou escrevendo esta carta para lhe dizer que estou indo embora. Sim, eu estou te deixando.
  Eu estou farto de ter você mandando em minha vida o tempo todo. Farto de ter de me afastar das pessoas que eu amo por sua causa. Farto de viver uma vida que não gosto.
  Não pense que você partiu meu coração e que vou ficar choramingando pelos cantos, pois eu não vou. Sugiro que não faça o mesmo, pois, se fizer, saberei que é mais uma das suas cenas de atuação.
  Pode me colocar como vilão da história para os seus familiares, amigos e a mídia.
  Foda-se, eu não ligo!
  Minha mãe nunca gostou de você, e olha que ela gosta de todo mundo!
  Eu nunca quis admitir que estivesse errado sobre você e estive tão ocupado com meu trabalho que não percebi o que você fazia; o quanto você é baixa.
  E eu tenho pena de você. Sim, pena.
  Você passou todos esses anos me humilhando e me fazendo sentir menor que você, porque você não se ama. Não é segura de si e precisa rebaixar as outras pessoas para se sentir melhor.
  Então eu sugiro que, se você se acha tão melhor que todos e se gosta tanto da sua aparência, vá se amar. Pois eu e provavelmente ninguém irá fazer isso por você.
  Agora eu sei. Eu estou melhor dormindo sozinho.

Sem um pingo de amor,
Eric."


  Saio da casa e sinto o vento bater em meu rosto. O doce ar da liberdade.
  Percorro os cinquenta minutos de Beverly Hills à Long Beach com os vidros abaixados e o som ligado no último volume, enquanto eu cantava e sorria.
  Ao adentrar meu apartamento, de onde nunca deveria ter saído, largo as malas de qualquer jeito na porta mesmo e corro para abrir as portas da área da cobertura. Respiro fundo e sinto o tão conhecido cheiro da maresia.
  Deito-me na rede ali localizada e suspiro, sentindo a brisa fresca do mar lamber meu rosto e uma grande sensação de felicidade explode em meu peito. Aquela sim era minha casa. Meu lar.
  Penso em tudo que aconteceu durante aquela noite e como um simples encontro com uma bartender tinha mudado a minha vida.
  Grace.
  Uma simples garota havia me ajudado de forma inexplicável e a troco de nada.
  Ela não ligava se aquilo iria lhe trazer status ou dinheiro, ela fazia porque gostava.
  Talvez seja isso que eu esteja precisando. Alguém que esteja longe dos holofotes, alguém que não liga se eu sou famoso ou não. Alguém simples que me amará do jeito que eu sou.
  Com o peito preenchido por felicidade e um sorriso no rosto, me entrego finalmente à letargia.

*******

  Na semana seguinte, após me estabilizar e comemorar com meus amigos a minha volta, decido retornar ao bar e agradecer mais uma vez à Grace e lhe contar minha decisão. Provavelmente ela já havia sido informada através de algum programa ou site de fofoca, visto que meu nome estava estampado em todos eles, porém eu queria que ela soubesse por mim.
  Quando estava a poucos passos de chegar ao bar, Grace sai pela porta com sua bolsa a tiracolo e os cabelos esvoaçantes com o vento.
  – Ei, Grace! Grace! – chamo, correndo em sua direção.
  Ela se vira e, ao descobrir que era eu, sorri.
  – Eric! Oi! Como vai?
  – Estou ótimo. Terminei com a Heather e voltei para casa.
  – É, eu soube o que você fez. Seu nome está em todos os lugares. – Ela ri. – Fico feliz que tenha tomado a decisão certa.
  – É, eu também. Vim agradecer mais uma vez.
  – Você já me agradeceu e com uma gorjeta BEM generosa. – ela ri mais uma vez.
  Agora, sob a luz do Sol, eu pude perceber o quanto seu rosto era bem mais bonito do que eu me lembrava.
  – Mas eu quero lhe agradecer novamente. Quero poder lhe conhecer melhor também. Você aceita almoçar comigo?
  Ela parece surpresa com a proposta e pensa um pouco.
  – Hoje é seu dia de sorte, acaba de começar meu intervalo entre o trabalho e a faculdade.
  – Que ótimo! Então, vamos? – ofereço-lhe meu braço direito para ela apoiar o seu, e ela o faz com um sorriso.

  Talvez seja a hora de eu me amar também e me dar a chance de conhecer uma mulher realmente boa para mim. Talvez eu não precise realmente dormir sozinho.

Fim!



Comentários da autora

  Sei que é muita sacanagem parar a história aqui e que vocês devem estar querendo me matar agora fddhfdhghkgdk. Porém, pretendo explorá-los mais à frente em uma história que pretendo postar em breve aqui no site (eles não serão principais, mas serão importantes). Me desculpe quem prefere o romance e a interatividade, mas realmente não deu para ser, pois o meu foco era a situação dele e não o romance em si. Enfim, espero que tenham gostado e não se esqueçam de comentar e fazer uma autora feliz :)