Belong

Escrito por Beatryz | Revisado por Amanda

Tamanho da fonte: |


Maybe I could have loved you

  Violão me acalma. O som que as cordas formam ao serem impulsionadas pelos meus dedos, a melodia formada pela junção de simples acordes penetram meus ouvidos e parecem tirar qualquer problema da minha cabeça. Menos um problema. E eu nem ao menos sei se é mesmo um problema. Mas se a música não tira de minha cabeça, quer dizer então que não é um problema, porque se fosse um problema eu não estaria pensando nisso agora e... Arg! Já nem sei mais o que estou falando, ou o que eu quero tentar explicar com todo esse enrolo. É isso que ela faz comigo, me deixa todo enrolado, desastrado, sem saber o que fazer e ainda piora se ela não está ao meu lado. O que está acontecendo nesse exato momento de tentativa de explicação. Prefiro ficar sozinho nessas ‘fases’ mas dessa vez não vai rolar. , meu irmão, ficou sabendo que eu estava brigado com e contou a nossa mãe que quase me forçou a vir passar o fim de semana com ela. Esse é o nome do meu problema não problema, . .   A dona dos olhos mais brilhantes e sorriso mais encantador desse mundo. Além disso, é dona do meu coração. Mas ela não tá ligando muito pra isso agora.
  - , meu bem, venha! A mesa já está posta.
  - Estou indo!
  Estava sentado na grama com o meu violão quando minha mãe me chamou. Desde pequeno, gosto de ficar assim. A diferença é que o violão costumava ser maior que eu. Enfim, guardei-o dentro da caixa ao meu lado, fechando-a.
  Minha mãe chamou meus irmãos, e todo mundo já estava na mesa me esperando. Frankie devia estar querendo me matar, nunca vi moleque mais comilão que ele.
  Sentei à mesa sentindo os olhares estranhos de e em mim. Minha mãe servia os pratos e Frankie estava vidrado num joguinho barulhento.
  - E então, como vão as coisas dos Super Astros que não tem tempo mais pra mim?
  - Ah mãe, deixa de bobagem. Nos vemos quase toda semana. Todo mês.
  - Isso é pouco, . Ainda acho que deveriam voltar a morar conosco.
  - Você tem o Frankie.
  - Olha só com quem ele fica, . – apontou com as sobrancelhas – Frankie, querido, larga esse joguinho e come direito!
  - Quê? Ah, tá. Eu to comendo, mãe!
  - Em que nível e que fruta você está comendo? – brinquei, arrancando sorriso dos demais – Ainda tem quantas vidas?
  - E você, ? Tem ainda quantas namoradas?
  - FRANKIE! – minha mãe o reprovou, largando os talhares no prato e fechando o punho sem força sobre a mesa.
  - QUÊ? Eu já desliguei. – jogou o aparelho barulhento sobre a mesa
  - Tá-tá tudo bem, mãe. – coloquei os talheres ao lado do prato – Eu só... Só perdi a fome. Se me dão licença... – levantei da mesa
  - ?!
  - Eu juro que só estou sem fome, pai. Tenham uma boa noite!
  Subi as escadas rápido e só pude escutar todos reclamarem sobre o comentário infeliz do meu querido irmãozinho caçula.

  Conheci há três anos na festa de aniversário da Chelsea, amiga minha desde Jonas e amiga dela desde a escola, fomos apresentados e passamos uns 10 meses sendo apenas amigos. Depois de uma festa pós-show nós nos beijamos e passamos uns dois meses e alguns dias sendo ‘amigos com benefícios’ até que eu decidi que queria ela como minha namorada. Mentira. Eu percebi que eu tinha ciúmes dela com outros caras, fiquei meio revoltado com umas cantadas que ela ganhava, a gente discutiu e ela me colocou contra a parede e aí eu entendi que queria ela como minha namorada. Essa segunda faríamos dois anos juntos mas ela não está aqui. Não está no nosso apartamento, não está na cidade ou ao menos no País. Foi pra Vancouver a trabalho à dois dias.

Flashback

  - Vai pra onde? – falei, seguindo-a até o quarto.
  - Vancouver.
  - Canadá?
  - Não. África. Claro que é no Canadá, . – subiu o banquinho arrastando a mala de cima do armário.
  - O que você vai fazer lá?
  - Trabalhar. – jogou a mala na cama - Tá tendo um festival em Vancouver e o chefe me mandou pra fazer a resenha. – falava de dentro do closet.
  - Nunca vi precisando tanto viajar...
  - Você também vive viajando por causa do seu trabalho e, na maioria das vezes, eu nem reclamo. – respondeu analisando algumas roupas e as colocando sobre a cama
  - Viajar é importante no meu trabalho...
  - Há! – soltou um riso irônico e abafado – Então o meu trabalho não é importante? – ela parecia começar a ficar impaciente.
  - Não foi isso que eu quis dizer. Você sabe, . – cocei a nuca – Olha, eu não quero brigar, me desculpa.
  - Tá. Eu só to... Estressada, porque o voo parte hoje de noite e...
  - HOJE DE NOITE? E você só me conta as coisas assim? Em cima da hora.
  - Não precisa gritar, . Eu também não sabia. O Alexi falou e entregou nossas passagens quase agora.
  - Espera aí, nossas? Quem vai mais? Não me diga que é o...
  - Jake? É ele sim.
  - Tá de brincadeira comigo, né ?
  - Você quer que eu faça o quê? É meu trabalho.
  - Quero que você não vá.
  - Só porque você não gosta de fotógrafo?
  - Só porque o fotógrafo gosta de você, também.
  - E?
  - E que eu não quero vocês dois sozinhos!
  - Quando um não quer, dois não fazem.
  - Não sei...
  Ela bufou. Por que diabos eu tive que falar sem pensar. Do jeito que falei, parecia até que não confiava nela. E eu confio. Confio minha vida a ela. Não confio nele. Não confio na malandragem de fotógrafo pegador de modelos desse moleque que fica rodeando minha namorada. Elogiando seus traços e/ou cada parte de seu corpo.
  - Sai daqui! – ela falou baixinho, de cabeça baixa, segurando a porta do quarto.
  - Pequena, eu...
  - , sai daqui. Sai do quarto, por favor?!
  Saí do quarto. Rodeava o apartamento, esfregando as mãos em busca de uma solução ou um controle pra voltar no tempo e pensar antes de falar. Jake, tudo esse Jake. Depois de 30 minutos ela saiu do quarto, já pronta com a bolsa de lado e a mala de rodinhas logo atrás.
  - Eu te levo no aeroporto!
  - Não! Não precisa. – passou rápido em direção à saída.
  - Mas... – a alcancei, segurando em seu braço – ...?!
  - Se você precisa pensar pra saber se confia em mim ou não, é melhor usar esse tempo pra pensar se devemos ficar juntos ou não.
   então desprendeu o braço de minha mão e saiu do apartamento batendo a porta. Da varanda do apartamento pude vê-la olhar pra cima e entrar num táxi, não acredito nisso. Não acredito que ela vai passar algum tempo longe de mim e eu tenho que estragar tudo com esse ciúme besta que toma vida própria e fala pela minha boca.

Flashback off

  Entrei no quarto de visitas que vou passar o fim de semana e me joguei na cama, com os braços por detrás da cabeça, fitando o teto. Já perdi as contas de quantas ligações minhas ela rejeitou e de quantas mensagens já mandei. Eu devo ser masoquista mesmo, peguei o celular e disquei o número dela, de novo. Assim que começou a chamar apareceu nossa primeira foto juntos como amigos, parecia tudo tão mais simples.
  “Oi, aqui é a . Não posso atender no momento mais deixa uma mensagem que depois eu retorno, tá?”   Esfreguei a testa e apertei os olhos, eu não sei mais o que fazer.
  - Oi , sou eu... De novo. Conversa comigo, deixa eu me explicar. Eu confio em você, pequena. Eu confio minha vida a você, é só esse ciúme besta que me consome de sab...
  Aquele toquezinho chato me impediu de continuar, meu tempo tinha acabado, outra vez, e eu não disse quase porcaria nenhuma. Droga! Ela tem que me ouvir, tem que me atender, tem que voltar. Tem que! E eu tenho que deixar de ser um completo idiota e pisar na bola com a segunda mulher mais importante na minha vida – não posso esquecer da minha mãe – e parar de praticamente perdê-la toda vez que arranjo um defeito em alguma coisa. Mania de perfeccionismo idiota. Eu sou um idiota! Um idiota apaixonado. Peguei no sono sem nem perceber, com o celular na mão, e até de sapato.

  Acordei com a cabeça um pouco dolorida, sem sapato, sem meia, sem blusa: Mãe. Tomei banho, troquei de roupa ou o que restou da de ontem e desci as escadas devagar, poupando barulho à minha cabeça latejante. ainda dormia, estava na sala assistindo um filme e meus pais estavam na cozinha com Frankie.
  - Bom dia, Pai! Bom dia, mãe! Frankie.
  Bom dia, ! – responderam em uníssono.
  Me sentei ao balcão da cozinha recebendo o prato de waffers com um copo grande de suco de laranja. desligou a TV e veio até a cozinha, sentando no mesmo balcão que eu só que um pouco longe de mim, recebendo seu cereal, como sempre. Meu pai cochichou alguma coisa no ouvido de Frankie que, emburrado, olhou pra mamãe. Ela, o incentivou a desamarrar a cara. Frankie resmungou: “Fine!” e me olhou.
  - Me desculpa!
  - Oi? – respondi, desatento a voz baixa, e desgostosa da situação, dele.
  - Me desculpa pelo que eu falei ontem sobre a . Eu não pensei antes de falar.
  - Tá tudo bem, Frankie. Não precisava se desculpar.
  - Precisava sim. Frankie anda muito mal educado pro meu gosto.
  - Mas, Pai...
  - Nada de ‘mas pai’, já fez suas tarefas?
  - Droga! – resmungou se levantando do balcão
  - Frankie?
  - Desculpa, Mãe. – resmungou.

  Depois de todos tomados café, até mesmo o dorminhoco do , nos reunimos na piscina. Frankie e faziam guerra de água com umas armas coloridas, mamãe tomava banho de sol lendo uma revista feminina qualquer, e nosso pai jogavam bola no gramado – mesmo que minha mãe reclamasse com eles toda santa vez – e eu fiquei na piscina mesmo, em cima de uma boia em formato de cama, empurrando meu corpo pela água cristalina.
  - 3...2...1... FIRE!
   e Frankie atiravam água em mim dos dois lados da piscina. Sem me deixar ter reação a não ser tampar meus olhos e sorrir impulsivamente.
  - BALA DE CANHÃO! - gritou assim que correu em direção a piscina, pulando dentro da mesma e jogando água por todos os lados, me molhando todo.
  Logo, os três patetas estavam dentro da piscina, me virando da bóia e nossos pais nos assistiam rindo das nossas brincadeiras de criança. Pareciam felizes, todos eles e eu também. É, acho que foi bom vir passar esse fim de semana com meus bocós, minha família. Pena que durou tão pouco, amanhã já voltaremos pras nossas casas. Voltarei ao meu apartamento, onde tudo lembra ela. Ainda mais graças a data, 2 anos. Ela tem manias que deixam marcas por toda casa. O espelho embaçado por causa dos banhos quentes, nunca lava os pratos, o casaco jogado no sofá quando chegava em casa, a cama desforrada e derramar café por fora da xícara.

  Passamos a tarde juntos como uma grande e desengonçada família feliz, bagunçando a casa antes toda arrumadinha. Fui dormir cedo, cansado por conta da bagunça durante o dia e pela primeira vez desde que viajou, não liguei pra ela. Quando acordei, meus irmãos ainda dormiam. Me despedi de nossa mãe, papai, e da casa – porque eu sou retardado – e fui de carro mesmo até em casa, ouvindo rádio com os vidros fechados pra que assim o barulho lá fora fosse inexistente. Cheguei ao prédio já eram 14h.
  - Boa tarde, Dustin!
  - Boa tarde, Mr. Jonas! – tinha um sorriso suspeito no rosto e escondia alguma coisa atrás das costas.
  Subi o elevador mexendo nas chaves. Eu sei que quando entrar ali vou sentir o perfume Victoria Secrets por todo lugar, as roupas que ficaram no closet, os cosméticos no banheiro e as pastas de reportagens dela que já foram publicadas nos jornais, assim como a xícara branca com um desenho de uma boca vermelha tendo em baixo escrito Mrs. Jonas e a sua coleção de livros da Anne Rice na estante, junto aos seus CD’s dos Beatles e Jonas. Mesmo me tendo aqui, pra ela, 24h por dia a dois anos ela ainda assim os tinha, cada um deles, até mesmo gravações sem muita qualidade de Please Be Mine e Appreciate quando erámos menores. Sorri lembrando de quando estávamos todos juntos nos bastidores de Jonas L.A. e ela tinha ido com a Chelly, enquanto Nicole e Adam riam da imitação que ela fazia da quando ela tinha contado que faria o papel de melhor amiga dos Jonas. Fangirling.

  Abri a porta do apartamento 209 e passei direto pro quarto. Deixar a mala lá é bem mais fácil quando me der coragem de arrumar alguma coisa. Mas eu tive uma surpresa que na verdade não sei muito bem como definir. Larguei a mala dentro do closet e ao sair do quarto vi encostado na parede, perto da porta do quarto, a mala. A mala dela. Voltei correndo pra sala, em busca dela mas ela não estava, o que estava era o casaco dela jogado no sofá e a xícara Mrs. Jonas um pouco melada de café em cima da mesa de centro. Cadê ela? Ela voltou? Onde diabos ela se enfiou? Corri pro elevador, apertando freneticamente o botão dessa máquina estúpida que não abri por nada. Desisti de esperar, desci pela escada mesmo, correndo.
  - DUSTIN!
  Abri o portão do térreo, ofegante, talvez fosse esse o motivo do sorriso secreto do porteiro descarado, ele tem que me dizer. Mas assim que levantei o olhar, ele não precisava mais. ! , ela voltou e tá aqui, na minha frente. Ótimo ! Sua namorada volta de viagem e você está com as bochechas vermelha, a testa e o pescoço suados e mal consegue respirar. Abri um sorriso com os lábios trêmulos assim que ela me olhou. Dustin a entregava alguma coisa.
  - ! – saiu abafado.
  - Obrigada, Dustin! – colocou o que recebeu dentro da sacola de compras. Entrou no elevador que a pouco tinha deixado uma senhora. – , não vem?
  - Oh! É!
  Ficamos em silêncio. Meu olhar não parava quieto, uma hora olhava pro chão, outra pra porta, de soslaio pra ela ou apenas pro nada. Ela ficava com os olhos fixos na porta que demorava a abrir como nunca. Entramos no apartamento e eu não sabia o que fazer. O único som era o dela colocando as coisas na cozinha. Quando voltou passou direto pra varanda, colocando água nos jarros de pequenas flores.
  - Como foi lá em Vancouver? – parei na porta da varanda, com as mãos no bolso da calça jeans.
  - Não muito bom.
  - Por quê?
  - Não conseguia me manter concentrada por muito tempo.
  - Sei como é isso. – sorri involuntariamente.
  (Silêncio.)
  - Onde você passou esse tempo? – largou a jarra de água no chão, virada pra mim de cabeça baixa.
  - O fim de semana eu fui pra casa de meus pais. e também estavam lá. – tirei as mãos do bolso – Eu pude pensar.
  - E então? No que andou pensando? – levantou o olhar pra mim
  - Num problema. – ela voltou a abaixa-lo – Tem essa garota por quem estou perdidamente apaixonado – um sorriso se formou na face dela – e ela acha que eu não confio nela, porque eu tenho um ciúme dentro de mim que quando afetado começa a tomar vida própria e conta das minhas cordas vocais.
  - E você confia nela? Acha que vão ficar juntos pra sempre como nos contos de fadas?
  - Um conto de fadas clássico ou o da bela adormecida contado por Anne Rice?
  - Ah, ! Você me entendeu. – Sorriu. Tão lindo esse sorriso. Sorriso mais encantador desse mundo.
  - Confio! Confio minha vida a ela e ela deve saber disso, mas apenas se ouviu as trocentas mensagens que deixei na caixa postal dela.
  - Ela ouviu. – sorriu abafado – Um dos motivos dela ter voltado cedo pra casa.
  - Pra casa... – sussurrei. Fico todo bobo com ela, como pode? Eu sou um adulto caramba. – E qual o outro motivo da volta?
  Ela passou por mim, nossos corpos próximos demais e o perfume dela me deixando bêbado rápido. Foi até a cozinha e ela logo apareceu na sala com um pacote nas mãos.
  - Hoje faz dois anos que eles estão juntos. -Ela lembrou.
  Me aproximei dela com o mesmo sorriso besta que sempre fico, pegando o pacote de sua mão.   -Peço desculpas se ela tenha levado minha atitude de não abrir a caixa mau, mas eu também tinha algo pra ela.
  - Eu também!
  Tirei do bolso a caixinha azul de camurça, e abri. Tinha comprado esse par de anéis à alguns dias atrás, são anéis de compromisso. Não sou muito bom em ter ideias românticas e vi isso num filme. Os olhos dela se arregalaram, brilhando mais que nunca e a boca fora tampada por suas mãos trêmulas. Seus olhos desviaram dos anéis prateados para os meus olhos, seu sorriso estava maior. Pulou em mim, envolvendo meu pescoço com seus braços. Tinha assistido esse filme com ela a uma ou duas semanas atrás.
  - ...
  Senti seus lábios tocarem minha bochecha inúmeras vezes e a sua voz baixinha no meu ouvido.
  - Eu te amo, bebê. -abri um sorriso maior ainda e segurei em seus cabelos.
  - Eu te amo, pequena.
  E a beijei, beijei matando toda a saudade de estar com ela nesses dias passados, tudo o que eu pensei nela e cada beijo que eu pedi pra ter. Podem ser apenas anéis de compromisso, mas um dia ainda tomo coragem pra trocá-los por anéis de noivado e então de casamento. Gabrielle é minha! Não tem Fulano, Cicrano, Beltrano, Jake, nem ciúme besta que mude isso. E espero que nunca mude mesmo. Hoje à noite, quando ela me abraçar por trás, na nossa cama, eu vou dormir melhor, sem dor de cabeça, por que é a esses momentos que eu pertenço, é a ELA que eu pertenço.



Comentários da autora